UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O aprender à luz da Neuropedagogia, refletindo a importância dos estímulos para o desenvolvimento das habilidades humanas em sala de aula. Por: Graça Maria Andrade de Peixoto Orientador Prof.ª Marta Pires Relvas Rio de Janeiro 1º/2011 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O aprender à luz da Neuropedagogia, refletindo a importância dos estímulos para o desenvolvimento das habilidades humanas em sala de aula. Apresentação Candido de Mendes monografia como à requisito Universidade parcial para obtenção do grau de especialista em. Neurociência Pedagógica Por: Graça Maria Andrade de Peixoto 3 AGRADECIMENTOS ...À Deus e a meus familiares que sempre estiveram presentes em minha vida, me dando força, alegria coragem para vencer. e 4 DEDICATÓRIA A meu esposo Clodoaldo Itamar pelo incentivo e dedicação para que almeje meus objetivos na vida intelectual e profissional. Ao meu filho que sempre esteve ao momentos, meu me lado em apoiando todos como os um anjinho. Agradeço de forma especial a minha mãe Elba e avó Maria José que sempre se dedicaram para que a educação estivesse presente em minha vida. E aos meus irmãos (Armendes e Diego), sobrinhos (Monique e Flavio), tias, tios, amigos e mestres pelo carinho... 5 RESUMO Neste trabalho, busca-se apresentar uma melhor visão à luz do processo histórico da Neurociência, abordando a questão do cérebro humano, neurônios, redes neurais, memória, emoção, plasticidade cerebral, a Neuropedagogia aplicada na aprendizagem e em sala de aula. Considerando aspectos discursivos e científicos, que contribuíram para produzir essa pesquisa, que visa apontar ferramentas necessárias para uma prática pedagógica iluminada pelos conhecimentos da neurociência, associada com considerações teóricas da pedagogia, sobre o aprender com prazer, embasada na sensibilidade e afetividade. Parceria positiva, que oferece ao professor, oportunidade de repensar a sua atuação no contexto educacional, como também, sua interação direta com seres humanos em desenvolvimento, que trás consigo marcas profundas do seu contexto social, cultural, cognitivo e psicológico. Para melhor desenvolvimento, faz-se necessário educadores pesquisadores, que valorizem a importância dos constantes estímulos, sejam visual ou auditivo, interação direta com objetos ou com seu meio, e também, desperte o desejo de romper com o fazer sem sentido e sem significado, partindo para uma atuação mais encantadora e significativa. Palavra chave: Neuropedagogia, estímulos, aprendizagem, afetividade. 6 METODOLOGIA Para melhor esclarecimento e direcionamento da pesquisa, os métodos utilizados como ferramentas de coleta foram às informações de artigos científicos, livros, revistas com abordagem sobre estrutura e fisiologia cerebral, a importância dos estímulos para o desenvolvimento humano, aprendizagem, emoção e a neurociência pedagógica nas práticas educacionais. 7 SUMÁRIO Introdução ----------------------------------------------------09 Capítulo I -----------------------------------------------------15 A História da Neurociência e Evolução Humana 1.1 Breve histórico dos estudos científicos no Brasil ---20 1.2 Evolução humana, adaptação e aprendizagem para a sobrevivência -----------------------------------------------------21 Capítulo II-----------------------------------------------------25 Neurônios e Impulsos Nervosos 2.1 Plasticidade cerebral e aprendizagem ----------------32 2.2 Memória -------------------------------------------------------34 Capítulo III----------------------------------------------------38 Aprendizagem, Emoções e Sentimentos 3.1 O Sistema límbico ------------------------------------------42 3.2 A Neuropedagogia, um novo olhar sobre as práticas pedagógicas -------------------------------------------------------45 8 Conclusão ----------------------------------------------------48 Referências Bibliográficas -------------------------------50 9 INTRODUÇÃO Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses quer-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (Paulo Freire) As palavras de Paulo Freire destacam a importância da busca por novos conhecimentos, da aprendizagem imbricada com a pesquisa e especialmente em práticas pedagógicas voltadas para a reflexão e estímulos. Contribuindo para o desenvolvimento das habilidades humanas associada com a sensibilidade, afetividade e conhecimentos científicos necessários que permita ao educador compreender que as interações dos espaços escolares perpassam por aspectos biológicos, psicológicos, históricos e sociais. A Neurociência da aprendizagem oferece para o profissional da educação, conhecimentos científicos fundamentais para a reflexão sobre a parceria entre a Pedagogia e a Ciência Neurológica, e suas contribuições para a educação. Essa interdisciplinaridade objetiva proporciona ao professor, olhos mais sensíveis, segurança na prática pedagógica e determinação diante da escola, sala de aula e no processo de aprendizagem dos educandos. Pois para 10 atender a sociedade contemporânea, compreende-se a necessidade de pesquisar o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade como pontua Paulo Freire. Devido o ser humano possuir um cérebro complexo, que aprende, ensina, senti, armazena informações, vive em constante transformação, necessita de estímulos que proporcione aprendizagem constante. Aprendizagem é uma mudança comportamental relativamente permanente que resulta experiência. É Através da reflexão constante que o educador amplia seus conhecimentos, busca novas possibilidades para reverter à educação que mais exclui do que inclui em nosso país, na esperança de um dia, ver circular o respeito à singularidade de cada ser, o livre pensar. Como destaca Madalena Weffort (1996, p.41), “é nessa tarefa de reflexão que o educador formaliza, dá forma, comunica o que praticou, para assim pensar, refletir, rever o que sabe e o que ainda não conhece; o que necessita aprender.” Pensar no funcionamento cerebral, nas interações entre as estruturas mentais com o meio ambiente, na possibilidade de inclusão social que a Neuropedagogia poderá favorecer para a educação, são os principais fatores que contribuíram para a articulação do processo empírico-teórico de uma investigação. Segundo Maria Teresa Esteban (2002, p.20). A teoria funciona como lentes que são postas diante de nossos olhos, nos ajudando a enxergar o que antes não éramos capazes. Assim, as questões gerais que permeiam esta pesquisa se inserem no campo da investigação que vêm buscando respostas significativas no que diz respeito aos conhecimentos da Neurociência e sua contribuição para uma sala de aula mais encantadora e significativa, rompendo com o fazer sem sentido e sem significado. Já é tempo, [...] que os pesquisadores que se dedicam ao processo de investigação qualitativa reflitam sobre sua própria experiência e a façam acompanhar das trajetórias da 11 investigação, aliás, como dos autores acima citadas vêm fazendo. [...] As inúmeras pesquisas qualitativas que se desenvolvem no Brasil, em especial na área de educação de professores, mostram metodologia vem que a crescendo, teorização sobre acompanhada de esta uma significativa prática investigatória. São importantes as recentes contribuições neste sentido, em especial as de Haguette (1987), André (1987 e 1995), Fazenda (1992 e 1994), Minaio (1993) e tantas outras. Foram elas as principais responsáveis pela difusão e construção de um referencial teórico hoje presente na maioria das dissertações, teses e pesquisas educacionais brasileiras. (CUNHA, 1996, p.01) Nessa perspectiva, analisar é permitir buscar caminhos, para reverter essa realidade excludente, idealizando construir uma nova história nos espaços escolares, nas práticas pedagógicas ancoradas nos avanços científicos, permitindo compreender que o ser humano possui um cérebro que é constituído de hemisférios, lobos, rede neurais, emoções, memória, plasticidade, potencial e muitas habilidades, que através da tomada de consciência contribua para uma formação reflexiva e libertadora, vise formar cidadãos autônomos, sensíveis, capazes de tomar decisões e pensar coletivamente. Exercendo de forma ativa os conhecimentos e habilidades adquiridas em suas práticas sociais. A neurociência é o estudo da realização física do processo de informação no sistema nervoso humano animal e humano. Engloba três áreas principais: a Neurofisiologia, a Neuroanatomia e a Neuropsicológia. A Neurofisiologia é o estudo das funções do sistema nervoso. Ela utiliza eletrodos para estimular e gravar a reação das células nervosas ou de áreas maiores do cérebro. Ocasionalmente, os neurofiosiologistas separam as conexões nervosas para avaliar 12 os resultados. A neuroanatomia é o estudo da estrutura do sistema nervoso, em nível microscópio e macroscópio.(MARTA RELVAS, 2009 p.75) Compreender os aspectos que perpassam a espécie humana seja nas estruturas biológicas, psicológicas e sociais, como também a sua capacidade adaptativa sensório-motora que os seres vivos desenvolveram ao longo da sua ontogênese, permitiu o ajuste para a continua e constante adaptação ao meio ambiente. Compreende-se que faz necessária a busca por conhecimentos, reflexões, estratégias e atividades que favoreçam aos seres humanos aprendizagens significativas e a homeostase com o meio ambiente inserido. ESTEBAN (2002, p.15) aborda que pesquisar pode dar a partir de um questionamento, de uma pergunta, de uma idéia fixa, articuladora de um processo empírico-teórico de uma investigação. O nosso Machado de Assis já advertia por trás do espírito crítico de Brás Cubas “Deus te livre, caro leitor, de uma idéia fixa”. É que as “idéias fixas” deixem de permanecer “encarapitadas no trapézio da mente” e passem a exigir respostas, leituras, discussões, reflexões e, portanto, pesquisa como nos ensina. A pesquisa também pode ser uma forma de “letrar” o professor. Investigar permite o educador conhecer a realidade atual, buscando ferramentas para desenvolver a sua “estética educativa” de forma ética, para que um dia não tenha que se discutir sobre exclusão, fracasso e evasão escolar Weffort (1996, p. 39) afirma que “o ato de refletir é libertador porque instrumentaliza o educador no que ele tem de mais vital: o pensar.” Colocar nas mãos do professor a compreensão sobre a neurociência é dar subsídio para uma atuação mais significativa e afetiva. Celso Antunes (2006, p.5) pontua que a afetividade é um conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob forma de emoções que provocam sentimentos. A 13 afetividade se encontra na “escrita” na história genética da pessoa humana e deve-se à evolução biológica da espécie. A pedagogia do afeto visa proporcionar ao indivíduo uma vida emocional mais equilibrada. Aprender com a afetividade também oferece ao educador a oportunidade de desenvolver olhares mais sensíveis, percepções e conhecimentos necessários para compreender que recebemos em sala de aula educandos que estão com os órgãos dos sentidos estimulados, com conexões e ampliações de redes neurais em constante transformação. A partir da tomada de consciência parte-se da suposição de que para transformar as escolas desencantadoras em escolas vivas, harmoniosas, com indivíduos, humanizados, conscientes e transformadores do seu contexto social, há necessidade de ressaltar o papel do professor investigador, responsável pela mediação da informação. Como também a formação continuada para que a pesquisa e a reflexão seja a seta direcionadora das práticas de ensino. A aplicação dos recursos e atividades mais eficazes permiti a potencialização do cérebro humano para além da sala de aula, de modo que o indivíduo possa construir adequadamente os conhecimentos a partir de suas habilidades mentais, emocionais, contextos sociais e culturais em que estão inseridos. oferecer a todos o direito a uma escola democrática, focada numa aprendizagem equitativa que atenda as necessidades de cada educando é o que move o sentimento dos pesquisadores da educação. Assim, justifica-se que a atividade de pesquisa é uma teia que entrelaça as várias áreas do conhecimento, com o objetivo de despertar a constante busca do saber cada vez mais. Então, vale apena ressaltar a necessidade de repensar a importância da Formação continuada de profissionais que enfrentam os desafios postos à educação pelas profundas mudanças que caracterizam a sociedade contemporânea. Como a busca de conhecimentos e estratégias que contribuam na transformação da sala de aula em espaço dinâmico, lúdico, de vivências, com troca de saberes, sensibilidade e muita afetividade. Só então, teremos uma educação inclusiva, pautada nas 14 pesquisas, indagações, constatações... ”Constatando, intervenho intervindo educo e me educo” 15 Capitulo I – A História da Neurociência e evolução humana “Se você quer ensinar sobre a ciência, não é uma má escolha ensinar como nós chegamos aqui.” Mitchell Glickstein Desde a antiguidade o ser humano já correlacionava a mente com a cabeça, pois quando alguém sofria pancada nessa área do corpo e desmaiava a relação aparentemente estava evidente, levando-o a questionar-se: O que é o cérebro? Esta parece ser uma questão que desde há muitos séculos caminham com os seres humanos. A partir das vivências do cotidiano e experimentos o homem foi tomando consciência que era capaz de agir, de sentir e de pensar. Isso despertou nele a curiosidade de saber o que era essa capacidade e onde estava situada. Então, desde as civilizações anteriores, a curiosidade e as observações, contribuíram para que o mesmo relacionasse a mente com a cabeça ( cérebro). Dando origem a varias teorias e descobertas cientificas que permeiam gerações, transformam vidas, sociedades e consequentemente a humanidade. A primeira e mais longa teoria de localização das funções mentais no cérebro nasceu provavelmente no século IV d.C., quando o clero associou com a Santa Trindade algumas idéias de Galeno. Era a doutrina ventricular, que defendia a localização das funções mentais em três câmaras no centro do cérebro. Consideravam as partes sólidas do cérebro sujas e terrenas, os espaços vazios eram puros e nobres que tinham a responsabilidade de serem intermediadores entre o corpo e alma, os chamados receptores dos espíritos No período Clássico na História Antiga, duas doutrinas com reação a localização da mente foram postuladas: A de Hipocrates que destacava que a mente estava no cérebro, idéia que contribui para o aprofundamento da teoria 16 do Galeno. E a de Aristóteles que relatava que a mente tinha sede no coração e o cérebro tinha a finalidade de resfriar o sangue. O século XVI foi marcado pela rejeição da teoria de localização das funções mentais nos ventrículos, o maior anatomista do Renascimento Andreas Versalius, natural em Bruxelas, refuta a idéia de Galeno, relatando que outros animais tinham ventrículos e não possuíam as mesmas capacidades intelectuais. Abordava que o espírito vital tinha sede no coração, pois o cérebro possuía nervos ocos que circulavam o espírito animal e era na glândula pineal que estava à sede da mente. A transição para uma concepção mais realista da estrutura dos ventrículos é ilustrada pela mão de Leonardo da Vinci(1472-1519). O desenho mostra a representação convencional de três ventrículos alinhados no cérebro. Da Vinci injetou também cera líquida nos ventrículos de um cérebro bovino, revelando estrutura ventricular, ao constatar não rejeitou a teoria ventricular, sua solução foi adaptá-la a desenhos anatomicamente corretos, não querendo descartar a doutrina ventricular medieval, da Vinci associou a cada um dos ventrículos uma função mental: percepção, associação e memória em cavidades diferentes. Uma visão um pouco diferente da doutrina ventricular foi oferecido por René Descartes (1596-1650), que percorreu caminho contrário da visão de Aristóteles adotado pelo cristianismo e disseminado pelo Ocidente. Refutado por Descartes que propunha uma explicação mecanicista dos fenômenos naturais, inclusive sobre a sensação e o movimento, destaca que as atividades do corpo como sensação, movimento, digestão, respiração, sono, funcionava pelos princípios da mecânica tanto no corpo quanto no cérebro (material). Também mencionou que a mente(imaterial) era localizada no centro do cérebro na glândula pineal, por sua vez, determinaria que o corpo executasse a ordens de envio dos espíritos animais para os músculos pelos tubos nervosos A magia para desvendar como funciona o cérebro, é o que alimenta muitos pesquisadores. No século XIX, os frenologistas, liderados por Franz Joseph Gall e seu discípulo J, C. Espurzheim (entre 1810 e 1819), declararam 17 que o cérebro era organizado com cerca de 35 funções especificas, uma maquinaria sofisticada que produz comportamento, pensamento e emoção, destacando que o córtex cerebral é na verdade uma série de órgãos com diferentes funções e o desenvolvimento dessas faculdades, determinaria o tamanho, o crescimento de cada órgão cortical. O fisiologista experimental Pierre Flourens questionou a visão localizacionista de Gall, destacando-se com suas pesquisas que realizava em pássaros, pontuou que as lesões em áreas particulares do cérebro não causavam certos déficits duradouros de comportamento. A dinâmica que as pesquisas científicas proporcionam, ascenderam os trabalhos realizados no continente europeu e na Inglaterra, permitindo florescer a visão localizacionista. E assim, na Inglaterra, por exemplo, o neurologista John Hughling Jackson passou a publicar suas observações sobre o comportamento das pessoas com lesão cerebral, um dos primeiros a reconhecer a visão localizacionista. Nessa mesma época, na França, talvez o mais famoso caso de neurologia da história foi relatado por Paul Broca, que em (1861), ele tratou um homem que havia sofrido um acidente vascular cerebral; o paciente podia entender a linguagem, mas não conseguia fala. A exata parte do cérebro que estava lesionada no paciente de Broca era o lobo frontal esquerdo. Denominou-se, posteriormente, esta região como área de Broca. Esse tema foi escolhido pelo neurologista alemão Carl Wernicke. Em 1876, descreveu o caso de uma vítima de acidente vascular cerebral que podia falar quase normalmente, diferentemente de Broca, mas o que ele falava não fazia sentido. O paciente de Wernicke também não compreendia a linguagem escrita ou falada. Ele tinha uma lesão numa região mais posterior do hemisfério esquerdo, na área e ao seu redor, onde os lobos parietal e temporal se encontram. A eletricidade animal, conhecida desde o fim do século XVIII com a descoberta de Galvani (1737 – 1798) que submetia as rãs a correntes elétricas apresentavam contrações musculares. A bioletricidade substitui à mecânica. Já os Alemães Gustav Fristch (1838-1927) e Eduard Hitzig (1838-1907). 18 Aplicavam correntes elétricas fracas ao córtex cerebral de coelhos e cães, Fritsch e Hitzig observaram que este estímulo produzia movimentos característicos no animal. Essa descoberta levou os neuroanatomistas a uma análise mais detalhada do córtex cerebral, localização funcional do movimento e sua organização celular. Na década de 40/50 a estimulação elétrica chegando diretamente ao ser humano, através do Wilder Penfield por meio de neurocirurgia. No entanto, a grande revolução na nossa compreensão sobre o sistema nervoso estava ocorrendo mais ao Sul da Europa, na Itália e na Espanha. Uma luta intensa ocorria entre dois brilhantes neuroanatomistas, foi o trabalho de um que permitiu a compreensão do trabalho do outro. O italiano Camillo Golgi desenvolveu uma coloração que impregnava neurônios individuais com prata. Essa coloração permitia a visualização completa de um único neurônio. Usando o método de Golgi, Ramón y Cajal descobriu que os neurônios eram entidades únicas, foi o primeiro a identificar não somente a natureza unitária do neurônio, mas também a transmissão de informações elétrica em uma única direção, dos dendritos para a extremidade do axônio. No início do século XX, quase todos queriam provar alguns graus de localização funcional que ocorria no córtex cerebral. Stanley Finger (1994), em sua histórica descrição dos eventos relacionados a este tema fundamental, apresenta citações dos antilocalizacionistas. Reforçando e disseminando um movimento de amplas bases pautado pelos processos de Gestalt, idéia de que o todo é diferente da soma das partes. Esse tipo de pensamento motivou muitos trabalhos e insatisfações E para prevalecer o bom senso, Michael S. Gazzaniga (2006) relembra que Stephen Kosslyn, um dos fundadores da neurociência cognitiva, resumiu meticulosamente o conflito entre os localizacionistas e os holistas (Kosslyn e Andersen, 1992): O erro dos primeiros localizacionistas é que eles tentaram mapear o comportamento e a percepção única do córtex. Qualquer comportamento ou percepção particular é produzido por muitas áreas, localizadas em várias partes do encéfalo...Na realidade, as habilidades 19 propriamente ditas podem se alcançadas de diferentes maneiras, o que envolve diferentes combinações de processo...Qualquer habilidade complexa, então, não é alcançada por uma única parte do encéfalo. Neste ponto, os holistas estavam corretos. Os tipos de funções classificada pelos frenologistas não se localiza em uma única região. Entretanto, processos simples que são recrutados a exercer tais habilidades são localizadas. Neste aspecto, os localizacionistas estavam corretos. (32). Os posicionamentos de pesquisadores independentes da sua linha de pesquisa e metodologia científica contribuíram para grandes descobertas no campo da ciência, auxiliando para que os avanços da neurociência continuem revelando a complexidade e especialização do córtex cerebral. O advento de novos métodos vem contribuindo também nas pesquisas da neurociência cognitiva que cada vez mais avança com ajuda do imageamento por tomografia com emissão de pósitron (TEP) responsável em detectar com impressionante precisão as lesões cerebrais e o método com imageamento por ressonância magnética (IRM). Assim, as fronteiras das descobertas científicas são definidas pelo comprometimento de muitos pesquisadores em busca de respostas por meio das pesquisas, pelo auxílio de ferramentas disponíveis para observações, como também pelas inovações conceituais. 1.1 Breve histórico dos estudos científicos no Brasil. A busca por questões que em determinados momentos eram consideradas inexplicáveis, independente de local e tempo, é o que move o desejo por respostas. Com esse sentimento que se alavancou os estudos científicos em nosso país. 20 A chegada do Imperador Pedro II, amante das artes e das ciências se correspondeu com o eminente fisiologista alemão Du Bois Reymond, acerca da fundação de um instituto de “physiologia” na cidade do Rio de Janeiro, mas que jamais teve efetividade prática. Portanto, a história da neurociência no Brasil se confunde com a própria história da fisiologia brasileira. O estudo experimental e sistemático da Fisiologia começou, sem dúvida, com irmãos Álvaro e Miguel Ozório de Almeida, no Rio de Janeiro, os quais também iniciaram as pesquisas em neurofisiologia nos laboratórios particulares. O Miguel Ozório, entretanto, pesquisou a vida toda fisiologia e fisiopatologia do sistema nervoso, Disseminando apaixonados pelas descobertas científicas. Já o Álvaro Ozório criou uma escola nesse campo, que culminou com seu discípulo Paulo Enéas Galvão, que foi para o Instituto Biológico de São Paulo e tornou-se o segundo professor de Fisiologia da recém-criada Escola Paulista de Medicina, substituindo outro discípulo carioca, Thales Martins que, em parceria com Ribeiro do Valle, ajudou fundar a neuroendocrinologia brasileira. Destaco o Oswaldo Cruz (1899) que foi o maior sanitarista da sua época, pioneiro da melhor medicina experimental do mundo, o criador do Instituto Soroterápico. O Carlos Chagas (1920) Cria o Instituto Oswaldo Cruz, pesquisador dos efeitos causadores da doença de Chagas e bioeletrogênese. Fazia intenso intercâmbio com laboratórios de pesquisa adiantados da Europa e dos Estados Unidos. Aristides Azevedo Pacheco neurofisiologista, juntamente com Leão tomou-se o mais célebre Carlos Chagas Filho no recém-criado Instituto de Biofísica e agregou numerosos discípulos, dentre os quais se salientou Hiss Martins Ferreira, que continua pesquisando a depressão alastrante. Outro gigante da fisiologia no Brasil foi o Thales Martins (1926 e 1936) descobre sobre o funcionamento da hipófise e dos hormônios gonodais. Como também o Rocha Miranda foi o primeiro biólogo brasileiro a utilizar computação eletrônica em pesquisas no Brasil. 21 A década de 1950 foi marcada com o desenvolvimento de outras linhas de pesquisas, incluindo as pesquisas em neurociências, abrangendo para as áreas da neuroanatomia, fisiologa, regulação neural, funções vegetativas, funciona e ritmos biológicos. Através César Timolaria, Nùbio Negrão e Massako Kadekaro. O Miguel Rolando Covian e colaboradores pesquisaram o sistema nervoso central, realizando trabalho de alta envergadura sobre atividades cortical e cereberal, hipotálamo, formação reticular. Desses núcleos, surgiram várias linhas de pesquisas que estão a “a todo vapor” em pleno século XXI, concentrados em grupos, laboratórios e campos universitários nos estados brasileiros e no mundo. 1.2 Evolução humana, adaptação e aprendizagem para a sobrevivência. “Existo e sinto...logo penso” Damásio. Caminhar pela filogênese do cérebro humano é se permitir perceber que ele é dividido em três unidades. O cérebro primitivo, constituído pelo tronco cerebral, correspondente ao cérebro dos répteis, responsáveis pela autoconservação e comportamentos básicos. O cérebro intermediário que corresponde aos mamíferos primitivos, formado por estruturas do sistema límbico que permitiu o surgimento da emoção. E o cérebro racional, o superior encontrado nos atuais mamíferos (golfinhos, primatas e seres humanos), compreende a maior parte dos hemisférios cerebrais, formado por um tipo de neocórtex e por grupos de neurônios subcorticais. Essas três camadas cerebrais vão aparecendo uma após a outra, durante o desenvolvimento embrionário e do feto. O cérebro, constituinte de dois hemisférios o esquerdo controla o lado direito do corpo, o hemisfério direito controla o lado esquerdo do corpo. Segundo Lent (in RELVAS, 2009, p.20) o hemisfério esquerdo controla a fala em mais de 95% dos seres humanos, mais isso não quer dizer que o direito 22 não trabalhe; ao contrário, é a prosódia do hemisfério direito que confere à fala nuances afetivas essenciais para a comunicação interpessoal. Geralmente, o hemisfério dominante de uma pessoa ocupa-se da linguagem e das operações lógicas, enquanto que o outro hemisfério controla as emoções, as capacidades artísticas e espaciais. Não existe a relação de dominância entre eles; pelo contrário, eles trabalham em conjunto, estão interconectados pelo maior sistema de fibras o corpo caloso. Figura 1- hemisférios cerebrais Figura 2 – Áreas do cérebro http://www.google.com.br/images?hl=ptr&biw=1024&bih=578&gbv=2&tbs=isch %3A1&sa=1&q=hemisferios Em humanos, esse feixe de matéria branca inclui mais de 200 milhões de axônio. Cada hemisfério dividi-se em lobo frontal, lobo parietal, lobo occipital. lobo temporal e lobo límbico. Como destaca Roberto Lent ( 2008, p. 54) Os hemisférios provavelmente se desenvolveram em conjunto com os bulbos olfatórios, que embriologicamente surgem como evaginações dos primeiros. Prossigo com Relvas (2009, p. 20 e 35) quando ela nos diz que o hemisfério esquerdo é também responsável pela realização mental de cálculos matemáticos, pelo comando da escrita e pela compreensão dela por meio da leitura, reconhecimento de relações espaciais categorias qualitativas, movimentos mais precisos da mão e perna direita. Que o mesmo possui 23 função verbal, simbólica, analítica, abstrata, temporal, racional, lógica. Já o hemisfério direito é melhor na percepção de sons musicais, reconhecimentos de faces, identificação gerais de objetos e seres vivos, detecção espacial. Possui função não verbal, concreta, sintética, analógica, não temporal, intuitiva. Os hemisférios cerebrais consistem dos gânglios basais e córtex cerebral circundante. Ambos, o córtex e os gânglios basais estão relacionados com funções perceptuais, cognição e motoras superiores. Portanto, o cérebro é um sistema integrativo, funciona de forma global, de acordo com o auxilio e interação dos neurônios e os gliócitos. O sistema nervoso divide-se em duas partes: central e periférico. O sistema nervoso central inclui o cérebro e a medula espinhal, que se aloja no conduto crânio- raquidiano protegido pelas meninges a dura-máter, a aracnóide e a pia-máter e pelas vértebras que coordena todas as informações recebidas pelos sentidos e todos os comandos motores enviados aos órgãos. É a sede das funções cerebrais mais complexas, como a memória, inteligência, aprendizado e emoções. Já o sistema nervoso periférico inclui todo tecido neural fora do sistema nervos central, sendo responsável pela transmissão das informações sensoriais – aferentes, ao SNC e pelo envio dos comandos motores – eferentes até os tecidos do corpo. Com sistema nervoso somático controla os comandos motores voluntário, o sistema nervos autônomo ou vegetativo controla os comandos involuntários, como o que coordenam a digestão e os batimentos cardíacos, este último divide-se em dois sistemas. O simpático que é responsável em aumentar o estado de alerta e o parassimpático conserva e controla as atividades sedentárias, como a digestão. O desenvolvimento do sistema nervoso humano ocorre majoritariamente no período pré-natal, mas muitos se prolongam por vários anos após. Partido do Sistema nervoso central, o encéfalo mantém a tripla divisão em prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo característica da evolução embrionária dos vertebrados. O Cérebro fica dentro do crânio, seu peso médio, quando atingi o desenvolvimento máximo, é de 1, 400g nos homens e 1, 260g nas mulheres, com a coloração acinzentada devido à agregação de milhares 24 de corpos celulares, enquanto branca é a cor da mielina, revelando a presença de feixes de axônio. Na superfície de cada um desses hemisférios existem dois outros cortes, a fissura de Sylvius ou suco lateral, e a de Rolando, ou sulco central. O córtex cerebral esta dividido em mais de quarenta áreas funcionalmente distintas, sendo a maior pertencente ao chamado neocórtex. O cérebro humano tem três componentes estruturais principais: os grandes hemisférios cerebrais que são responsáveis pela inteligência e pelo raciocínio, o cerebelo que é um centro refletor que atua na coordenação e manutenção do equilíbrio e o tronco cerebral faz a transição entre o encéfalo e a medula. Ele é o centro de controle do movimento, do sono, da fome, da sede e de quase todas as atividades necessárias à sobrevivência como também todas as emoções. Ficando encarregado ainda em receber e interpretar os inúmeros sinais enviados pelo organismo e pelo exterior. O cérebro é uma estrutura intricadamente detalhada, precisa de estruturas neuronais, circuitos e sistema. Através dos grandes anatomistas como Cajal e Golgi e colaboradores que hoje sabemos muito mais sobre quão intricado é o circuito neuronal do sistema nervoso. 25 Capítulo II - Neurônios e impulsos nervosos Ai de mim, ai das crianças abandonadas na escuridão. (Graciliano Ramos). Não são apenas as estrelas no universo que fascinam o homem como seu impressionante número. Em outro universo, o nosso universo biológico interno, uma gigantesca “galáxia” com centenas de milhões de pequenas células nervosas, formam o cérebro e o sistema nervoso. (RELVAS, 2009 p.25). Todos os estímulos e percepções relacionados ao nosso ambiente, os nossos pensamentos, sentimentos, aprendizagem, memória e qualquer outra ação e sensação do ser humano não podem ser entendidos sem o fascinante conhecimento do processo de comunicação entre neurônios. Os neurônios são células responsáveis pela recepção e transmissão dos estímulos do meio interno e externo, uma vez excitados pelos estímulos, os neurônios transmitem essas ondas de excitação chamada de impulsos nervosos, possibilitando ao organismo a execução de respostas adequadas para a manutenção da homeostase(equilíbrio de quaisquer seres vivos) e a sua somestesia (capacidade de receber informações sobre as diferentes partes do seu corpo). O neurônio sensorial capta informações dos órgãos sensoriais visão, olfação, gustação, audição e tato para o SNC. A visão, possuidora de células especializadas transforma luz em sinais elétricos, por meio da retina os sinais caminham pelos nervos ópticos para trás do cérebro o lobo occipital que é responsável em processar as imagens recebidas, podemos dizer que enxergamos pelo cérebro. A olfação, através dos nervos olfativos detectamos as moléculas dos objetos que nos cercam, enviando sinal elétrico para o cérebro, o mesmo interpreta esses sinais como cheiro e envia a resposta olfatória permitindo aprendermos depressa a identificarmos odores, especialmente o cheiro da mamãe. 26 Já a gustação, beneficiada pela língua possui mais ou menos nove mil receptores responsáveis em enviar também sinais para o cérebro. Com a audição, percebemos os ruídos do mundo por meio das ondas sonoras que fazem vibrar as membranas dos tímpanos que são transmitidas para dentro do ouvido, contendo três pequenos ossos conhecidos como ossículos: martelo, bigorna e estribo com a função de converter mecanicamente as vibrações do tímpano em ondas de pressão que são amplificadas no fluido da cóclea que contem terminais nervosos responsáveis pela audição. E o tato ao tocarmos os objetos receptores localizados sobre a pele envia sinais elétricos através dos nervos sensitivos para o cérebro Após a captação das informações por meio do neurônio sensorial, temos a atuação do neurônio de associação presente na medula espinhal e no encéfalo, responsável em fazer a conexão entre neurônio sensorial e motor. O neurônio motor tem a responsabilidade de trazer do sistema central às “ordens” aos músculos ou glândulas para serem executadas. Devido os neurônios serem responsáveis em processar, elaborar, coordenar e avaliar as informações, necessitam de condições favoráveis e aumento de estímulos para que as sinapses químicas favoreçam na boa conexão e assim, contribuam na construção da aprendizagem com mais qualidade e durabilidade. Para tanto, o cérebro necessita de uma intricada rede de circuitos neurais, conectando suas principais áreas sensoriais e motoras, ou seja, grandes concentrações de neurônios capazes de armazenar, interpretar e emitir respostas eficientes a qualquer estímulo, tendo também a capacidade de, a todo instante, em decorrência de novas informações, provoca modificações e rearranjos em suas conexões sinápticas, possibilitando novas aprendizagem. ( RELVAS, 2009 P41) O cérebro composto por cerca de 100 bilhões de células nervosas conectadas são responsáveis pelo controlo de todas as funções mentais. Além das células nervosas neurônios, o cérebro contém células gliais, vasos 27 sanguíneos e órgãos secretores. Esses dois tipos de células bem como seus numerosos subtipos, são as principais células presentes no sistema nervoso que se comunicam extensamente, formando uma morfológica funcional de alta complexidade, com potencial de produzir sinais, conduzi-los localmente e a distancia, transmiti-los simultaneamente a milhares de outras células e modificá-los de inúmeras maneiras, em um complexo processo de integração de informações. Existem duas classes de células principais no sistema nervoso: neurônios e células gliais. Os neurônios constituídos por estruturas capazes de receber, analisar e conduzir informações particulares para outros neurônios formam uma extensa rede de circuitos capazes de receber do ambiente, processar, armazenar e enviar de volta ao ambiente um amplo espectro de informações. Já as células gliais que não são neurônios, são células mais numerosas que os neurônios, podem ser responsáveis por mais da metade do volume do encéfalo. As células neurogliais não são capazes de produzir impulsos, mas sem elas o funcionamento dos neurônios estaria gravemente diminuído. Neuroglia significa “colo nervos” possuem a função de sustentação, participam da regulação dessa rede de comunicação, seja interferindo ativamente na transmissão de informações, seja propiciando condições homeostáticas para seu funcionamento. Há diversos tipos de células gliais, os astrócitos dispõem-se ao longo dos capilares sanguíneos do encéfalo são responsáveis em controlar a passagem de substâncias do sangue para as células do sistema nervoso(barreira hematencefálica), assume papel vital na proteção do SNC. Além disso, passa a controlar a estabilidade sináptica, a regulação da neurogênese metabolismo (processo de de formação neuromediadores. de novos neurônios), atua no Os oligodendrócitos emitem prolongamentos que embainham o axônio, são responsáveis juntamente com as células Schwann na produção de mielina, camada isolante que possibilita uma maior velocidade de condução do impulso nervoso, deixando livres os chamados nós de Ranvier. Como também os microgliócitos que são protetores imunológicos do cérebro e da medula espinhal, posicionados como satélites de 28 neurônios ou próximos às paredes dos vasos sanguíneos são capazes de realizar a destruição de microorganismos e detritos celulares por fagocitose. As células que circundam as fibras nervosas periféricas, fibras dispostas fora do cérebro e medula espinhal são chamadas de células de Schwann. Já as células que envolvem os axônios dentro SNC do cérebro e medula espinhal são chamadas oligodendrócitos. Foi a partir do desenvolvimento dos métodos de impregnação pela prata realizada por Golgi, que permitiu a visualização microscópica de todo o neurônio com todos os seus processos: o corpo celular, os dendritos e axônio. Utilizado a técnica de colocarão de Golgi para marcar células individuais Cajal mostrou que o sistema nervoso não é uma massa de células fundidas, dividindo um citoplasma comum, mas uma rede altamente intricada de células individuais. Na virada do século XX, o trabalho de Cajal levava à proposição de uma nova teoria: a teoria Neuronal, que vê o sistema nervoso como um conjunto de células individuais, especializadas, segundo a região do cérebro e organizadas ordenamento em um sistema complexo, como também que deviria haver uma junção especializada entre cada botão terminal das arborizações axônicas e as superfície dos neurônios alvos, brota a idéia sobre sinapse. Os neurônios podem ser devidos e classificados segundo algumas características particulares como a forma e função. O Unipolar - padrão comum no sistema nervoso de invertebrados; bipolar - recebe e envia mensagem, conduz informações dos sistemas auditivo, visual e olfativo; multipolar - existe em várias áreas do sistema nervos e participa do processamento sensorial e motor e o pseudo-unipolar - encontra-se nos gânglios da raiz dorsal da medula espinal, são células do sistema sensorial somático que conduzem informações dos receptores das articulações dos músculos e da pele para o SNC. 29 Figura 3 – Neurônios. http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.guia.heu.nom.br/images/N euroniosTipos.JPG&imgrefurl=ht O neurônio consiste em corpo celular, parte principal da célula nervosa que concentra as informações genéticas é uma maquinaria metabólica, onde estão situados o núcleo e as organelas, como aparelho de golgi, retículo endoplasmático, ribossomos, mitocôndrias e outras organelas intracelulares. Essas estruturas estão suspensas no fluido intracelular e envolvidas por uma membrana celular composta por dupla camada de lipídica que permitem a elaboração do impulso que pode ser elétrico ou químico, em resposta às sensações recebidas pela membrana endoplasmática e seus prolongamentos. Possuem também dendritos e axônio. Já os dendritos semelhantes à arborização são antenas de recepção dos neurônios, são extensões citoplasmáticas ou prolongamentos especializados em receber e transportar os estímulos das células sensoriais, dos axônios e de outros neurônios, locais denominados sinapses. Há 30 neurônios praticamente sem dendritos, como outros com áreas dendritícas muito exuberantes e ramificadas. Diferentes dos axônios os dendritos não se projetam para longe, mas possuem as espinhas dendríticas, ou seja, protrusões de frações de micrometro que emergem do tronco dos dendritos presentes em grandes números em alguns tipos de neurônios. As espinhas dendríticas são elementos dinâmicos que aparecem e desaparecem, movemse, encurtam-se e alongam incessantemente, permitindo aos terminais axônicos o contato para a transmissão de informações, são ditos póssinápticos. O axônio do neurônio possui função de transmissão dos impulsos nervosos originados no corpo celular, representa via de saída do neurônio, onde sinais elétricos se propagam aos terminais axônais, concebendo as sinapses. É envolvido em uma bainha de mielina é quebrada em vários pontos pelos nodos de Ranvier. A mielina protege o axônio e previne a interferência entre os axônios à medida que elas passam ao longo dos feixes. Os terminais axônais possuem morfologias e estruturas intracelulares especializadas, que tornam possível a comunicação por meio de liberação de neurotransmissores (substâncias químicas que transmitem o sinal entre neurônios nas sinapses químicas ). É dito pré-sinápticos. O local onde o axônio se junta à célula se chama come axonal é daí que a despolarização, conhecida como potencial de ação ocorre. Nestas junções que os neurônios realizam as sinapses seja ela elétrica ou química. As sinapses elétricas ocorrem quando as junções formadas de célula nervosa présináptica acoplam na membrana pós-sináptica de outra célula, permitindo passagem de íons e moléculas, de tal forma que os potenciais elétricos são transmitidos quase instantaneamente. Já as sinapses químicas o modo de transmissão não é elétrica e, sim, carregada por neurotransmissores neuroativas liberados no lado pré-sináptico da junção. As células Os impulsos nervosos ocorrem. 31 Figura 4- Impulsos nervosos entre as células. http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.psiquiatriageral.com.br/cer ebro/imagens/neuronios.jpg O termo sinapse, como hoje conhecemos foi cunhado pelo fisiologista Charles Sherrington (1857-1958) comprovado nos anos 1950, com o advento do microscópio eletrônico. Denomina-se sinapse a estrutura de contato formado por prolongamento de um neurônio dito pré-sináptico como um neurônio pós-sináptico que forma impulsos nervoso. Esses sinais iniciam mudanças na membrana do neurônio pós-sináptico, as quais fazem a corrente elétrica fluir dentro e ao redor do neurônio. A membrana plasmática do neurônio transporta alguns íons ativamente, tais como sódio, potássio e cloreto encontrados no líquido extracelular e intercelular. Quando o neurônio recebe o potencial de ação os canais iônicos inseridos na membrana deixa passar lentamente os íons específicos da face externa para a face interna, uma pequena região da membrana torna-se permeável ao sódio, como a concentração desse íon é maior fora do que dentro da célula. A entrada de sódio é acompanhada pela pequena saída de 32 potássio. Esta inversão vai sendo transmitida ao longo do axônio, e todo esse processo é denominado onda de despolarização (célula estimulada). Esse potencial de ação produzido logo após um estimulo elétrico, desencadeia correntes elétricas que se expandem provocando outro potencial de ação na região vizinha e assim ascendendo às outras regiões próximas. Após a despolarização ocorre a polarização(célula em repouso) e o local da membrana que foi despolarizada inicialmente torna- se inexcitável. A ação do cérebro está relacionada não somente com comportamentos muitos simples tais como caminhar e sorrir, mas também com funções elaboradas o sentir, aprender e escrever. Como afirma RELVAS que aprender é um ato desejante e usa negação é o não aprender... A emoção esta para o prazer assim como o prazer esta para o aprendizado, e a autoestima é a ferramenta que movimenta os estímulos para gerar bom resultados. (2009, p. 59). Este fato é melhor compreendido através do conhecimento do neurônio, da natureza das suas conexões sinápticas e da organização das áreas cerebrais. A cada nova experiência do indivíduo, portanto, redes de neurônios são rearranjadas, outras tantas sinapses são reforçadas e múltiplas possibilidades de respostas ao ambiente tornam-se possíveis. 2.1 Plasticidade cerebral e aprendizagem O cérebro é capaz de aprender por sua flexibilidade, sua capacidade de mudar em resposta aos estímulos sensoriais e ambientais. Esta flexibilidade basea-se em propriedades intrínsecas do cérebro chamada de plasticidade. RELVAS destaca que Plasticidade cerebral é a denominação das capacidades adaptativas do SNC – sua habilidade para modificar sua organização estrutural própria e funcionamento. É a propriedade do sistema nervoso que permite o desenvolvimento de alterações estruturais em resposta à experiência, e como adaptação a condições mutantes e a estímulos repetidos (2009, p. 49). O LENT Define neuroplasticidade como a propriedade do sistema nervoso de alterar a sua função ou a sua estrutura em respostas às influências ambientais 33 que o atingem. Tanto as alterações plásticas quanto as influências ambientais que as provocam podem variar bastante, de muito fortes a extremamente sutis. (2008, p.112). Existem cinco tipos de plasticidade neural: regeneração, plasticidade axônica, dendrítica, somática e sináptica. Esta última possui fundamental importância na formação de redes neurais, permitindo o desenvolvimento adequado da capacidade cognitiva dos indivíduos. O conceito de plasticidade cerebral pode ser incluído à educação, relevando a capacidade do sistema nervoso ao ajustar diante das influências ambientais. Plasticidade é, portanto, uma condição necessária para a aprendizagem, está intimamente ligada á capacidade que o cérebro tem de ser maleável á novos estímulo, sua capacidade de refazer caminhos e traçar novas rotas. Como também, desenvolve habilidades para aprender, recordar e esquecer também em decorrência destas alterações, cuja função é de caráter adaptativo dos organismos. É através cérebro que a aprendizagem ocorre, interligando o organismo com o meio ambiente. Toda transformação implica aprendizagem, só é formativa na medida em que ocorre transformação daquele que aprende. Segundo a definição do dicionário Aurélio: “aprendiz (1) + agem (2), onde ( 1) = aquele que aprende (tomar conhecimento de) e (2) = “ação” ou “resultado de ação”. Aprendizagem, portanto, seria o ato de tomar conhecimento, a ação de aprender. A aprendizagem se processa no SNC e seu funcionamento pode ser compreendido de muitas formas, a visão neurobiológica da aprendizagem Relvas (2009) aborda: Pode-se dizer que, quando ocorre a ativação de uma área cortical, determinada por um estímulo, provoca alterações também em outras áreas, pois o cérebro não funciona como regiões isoladas. Isso ocorre em virtude da existência de um grande número de vias de associações. Estas vias podem ser muito curtas, ligando áreas vizinhas que trafegam de um lado para outro sem sair da substância cinzenta. Outras podem constituir feixes longos que trafegam pela substância 34 branca para conectar um giro a outro de um lobo a outro, dentro do mesmo hemisfério cerebral. Existindo feixes comissurais que conduzem a atividade de um hemisfério para outro, sendo o corpo caloso o mais importante. (2009, p. 26). A aprendizagem é uma transformação biológica na comunicação entre neurônios, constituindo uma rede de interligações que podem ser evocadas e retomadas e o aprendizado escolar faz parte dessa evolução normal do ato de aprender. O Antonio Nóvoa (2007, p.12) relata que a pior discriminação, a pior forma de exclusão é deixar a criança sair da escola sem ter adquirido nenhuma aprendizagem. A aprendizagem significativa permiti o ser humano modificação de comportamento devido as experiências e os novos conhecimentos que tanto contribuem para o rearranjo das redes neuronais e o desenvolvimento de competências e habilidades. Estimular a plasticidade cerebral favorece a máxima da função motora / sensitiva do aprendiz, visando facilitar o processo de aprender a aprender no cotidiano escolar. Um pequeno estímulo pode determinar uma alteração persistente nos circuitos cerebrais e que podem permanecer por toda vida. A eficiência da aprendizagem é bastante influenciada pelos estímulos, vivências, como também pelo nosso estado emocional. As crianças levam para o espaço educacional seus aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Como também suas memórias, seus anseios e desejos por novas descobertas, vivências, experiências. 2.2 Memória O aprendizado é o processo de aquisição de informações, enquanto memória refere-se à persistência do aprendizado em um estado que pode ser evidenciado posteriormente. O aprendizado, então, tem um resultado a qual chamamos de memória. Colocando isso de outra maneira, o aprendizado 35 acontece quando uma memória é criada ou reforçada pela repetição. (GAZZANIGA, 2006 p320). As memórias provêm da experiência. O termo “memória’ tem origem etimológica no latim, significa a faculdade de reter e ou readquirir idéias, imagens, expressões, conhecimentos e de armazenamento mental de representações do passado, o que possibilita o individuo tirar proveito das experiências. A memória é um fator importante na aprendizagem, é a base de todo o saber. O termo memória se refere a processo mediante o qual adquirimos, formamos, conservamos e evocamos informações. No decorre do seu armazenamento, a memória guarda informações fragmentadas, parcial a modificações, este processo ocorre através da transmissão de informações célula a célula por meio de neurotransmissores ou moléculas, que agem no espaço entre dois neurônios, sinapses. Assim, destaca-se que quanto mais conexões neurais, mais aprendizado e memória. No cérebro o hipocampo é a área encarregada em processar tanto as memórias de curta como as de longa duração e sua evocação ou a de induzir o resto do córtex cerebral. Também atua na seleção dos fatos e eventos que serão armazenados, no controlo dos estados afetivos, na filtragem de dados, descartando ou enviando para outras áreas do córtex informações. O entrelace das informações com os neurônios ativa o lobo frontal que passa a coordenar, classificar e complementar as diferentes memórias dando origem ao raciocínio. Recebe o auxílio da amígdala, que é um modulador emocional, um verdadeiro agente receptor emotivo. Relvas (in IVÁN IZQUIERDO) “ explica que as memórias não são amostras fiéis de fatos reais, nas suas construções que são modificadas conforme o contexto em que são recuperadas e em meio a um intenso transito de sinapses(espaço entre neurônios, onde ocorre a transferência de informações em forma de impulsos elétricos. Um cheiro, sabores, rostos, conhecimentos, sons, tatos, medos, números, 36 comportamentos e cenários vai sendo estocado no cérebro. Ele é capaz de remeter à infância, em questão de segundo. Quando se percebe um cheiro familiar, lembranças surgem no momento exato em que aquele fato ocorre.( 2009, p.18). Toda informação que chega ao cérebro é processada em diferentes regiões e transformada em memórias. As lembranças remetem a vivências e experiências, permitindo que o ser humano e animais se beneficiem da experiência passada para resolver problemas apresentados pelo meio. Seu funcionamento envolve um complexo mecanismo que abrange o arquivamento, a retenção e a recuperação do que foi vivido, sendo intimamente ligado à aprendizagem. Lembrar um compromisso, fatos ocorridos no passado, o que o professor ensinou na aula anterior, datas é muito útil para a memória. Como ocorre com a maioria de nossas habilidades, quanto mais se exercita, mais ela se desenvolve. Os desafios e a busca por novos aprendizados estimulam os circuitos neurais, aprendemos porque temos memória. Como afirmou o pensador italiano Noberto Bobbio (in IZQUIERDO, 2004 p.16) “Todos fizemos e fazemos algo na vida, todos somos alguém, alguém que é quem é porque lembra de certas coisas e não de outras.Cada um de nós é quem é porque tem suas próprias memórias ou fragmentos de memórias”. A memória é a reprodução mental das experiências captadas pelo corpo através dos movimentos e sentidos. Não está localizada em uma estrutura isolada do cérebro, é um fenômeno biológico e psicológico que envolve sistemas cerebrais que funcionam juntos. Usamos a memória para entender a realidade que nos rodeiam para discriminar informações, selecionar quais correspondem ou não com as preexistentes. Possui também a capacidade de planejamento, abstração, julgamento critico e atenção. Segundo Izquierdo (2004) destaca que há vários tipos de memória: 37 Existe a memória de trabalho, que usamos para entender a realidade que nos rodeia e pode efetivamente formar ou evocar outras formas de memória: a que denominamos de curta duração e que dura umas poucas horas, o suficiente para que possa formar a memória de longa duração ( também chamada de memória remota) que pode durar dias, anos ou décadas. (p.23). A finalidade da memória de trabalho é analisar a realidade, funciona constantemente como um filtro, é o gerenciador das informações tanto de origem externa e interna. Para que ocorra, depende da atividade elétrica de neurônios do córtex pré-frontal, localizado na frente da área motora, quando cessa a ativação dos neurônios pré-frontais, a memória de trabalho também cessa. Além da importância das conexões neurais RELVAS (2009 p.41) relata que o esquecimento comum ocorrido no dia a dia acontece para podermos ativar a memória, pois nosso cérebro tem certa capacidade, expressa em minutos ou horas, para guardar informações e, toda vez que seu limite é alcançado, ele “desliga-se” por um tempo para depois “ligar-se novamente. O cérebro desenvolveu estratégias para eliminar informações irrelevantes ou ultrapassadas. O chamado esquecimento eficiente é, portanto, crucial para uma memória funcional. É com essa estratégia que se descarta informações obsoletas, como um velho número de telefone e o almoço da segunda-feira passada. Neste sentido, sem prejudicar a capacidade de reter e acessar informações, esquecer é muito bom para o cérebro. 38 Capítulo III – Aprendizagem, emoções e sentimentos em sala de aula. “Para ter sucesso, primeiramente é preciso ter consciência muito precisa de si. Necessita ouvir a sua voz interior para que você tenha coragem de perseguir um caminho que esteja de acordo com seus desejos. Quando se encontra isso, você tem o ímpeto para alcançar. Acredito que esse seja o segredo.” (Rebecca Stephens, a primeira mulher britânica a escalar o Monte Everest.) Aprender é conectar-se em novas redes de novos saberes: é uma questão de fazer novas sinapses, novas conexões, ligar antigas experiências com as novas, tecendo-as ao longo de nossas interações com os outros e com os diversos fatos que vivenciamos e presenciamos em nossa cotidianidade. (João Beauclair, 2008 p.32). A escola é um lócus destinado a favorecer ao indivíduo, condições necessárias para que as conexões cerebrais ocorram, é um espaço de aprendizagem, sentimento, experimentação, descoberta, emoção, sensibilidade e afetividade. A afetividade abordada se distância do cuidar de forma assistencialista, normalmente aplicada no ambiente educacional, por ser uma forma que dificulta o aumento e a modificação das estruturas cognitivas, desestimulando as experiências cotidianas, incapacitando a construção de vínculos mais facilitadores às operações mentais de maior complexidade. É preciso reconhecer que construir processos permanentes de promoção e elaboração de autoria de pensamento é um imenso desafio, pois este movimento pode criar condições para o aprendente autorizar-se a pensar e, assim, compreender que seu pensamento é 39 único, diverso do pensamento do outro, é seu e envolve, sempre, suas capacidades de análise, síntese e integração de saberes e conhecimentos, ou seja, sua inteireza e subjetividade. (BEAUCLAIR, 2008 P.38) Muitos espaços educacionais estão mais preocupados com questões comportamentais, “não que não seja importante refletir sobre comportamento inadequado do aprendente”, a reflexão comportamental tem o objetivo de analisar os fatos que possa prejudicar o indivíduo no seu crescimento pessoal, com a finalidade de proporcionar melhor inserção social. Mas, não com coerção para manter as salas de aula em silêncio, com indivíduos apáticos “robotizados”. Faz-se necessário valorizar nesses espaços o processo de ensino e da aprendizagem. Imagem do Cartunista Francesco Tonucci. Tonucci destaca em suas imagens, o aluno perfeito para a maioria dos professores. Então, vale ressaltar que os espaços educacionais não são fábricas que trabalham em série, com racionalização de procedimentos, eficiência máxima e ênfase em resultados. As escolas são espaços de alegria, 40 respeito, reflexão, afetividade e inclusão. Portanto, necessitam de professores que levem para a sala de aula, a sua sensibilidade de tal modo, que perceba no outro a sua individualidade e singularidade. Compreende-se também, que sua posição é de mediador dos conhecimentos, seu objetivo maior é despertar no aprendente, o desejo por novos conhecimentos, o professor deverá ser um estimulador de aprendizagem, que caminha com o educando, desbravando e rompendo os desafios que a própria aprendizagem impõe. Aprender é uma ação, estimular é a energia motriz para uma construção do saber, que deverá ter intrínseca em suas bases, os conhecimentos científicos, as pesquisas, diálogos, cotidiano do educando, ludicidade e dinamismo, desde a Educação Infantil até ao Ensino Superior. Deverá ser o condutor para que os novos paradigmas, em Ciências e Educação, tenham espaços de vivências e prática real no cotidiano Escolar. Dando ao aprendente, a consciência da promoção e elaboração de autoria do seu pensamento, o seu livre pensar. É um imenso desafio para o espaço escolar, pois, ainda encontra-se enraizado em muitas dessas unidades, a visão de que o aluno é uma tabula rasa, segundo os empiristas radicais; superfície sobre a qual não há ainda nada escrito. Que necessita ser preenchida como os saberes trazidos pelos “mestres”. Urge a necessidade de uma revisão conceitual e prática, para que realmente atenda a sociedade da informação e do conhecimento. Sociedade esta, que tanto contribui efetivamente, na impossibilidade da reflexão sobre o repensar do papel da escola e a função dos ensinos formais da educação, para o bem viver de toda sociedade. Há necessidade de criar novos modos de agir e atuar em sala de aula, permitindo arriscar, criar e recriar os saberes e conhecimentos. Como também, a compreensão sobre a importância de aulas significativas, a necessidade de focar o olhar sobre o universo infantil, na dimensão emocional e racional, a organização do espaço para o acolhimento da criança; seu cotidiano como fonte de compreensão do que trás e o que ainda necessita construir, para não continuar repetindo os mesmos erros, que tanto favorece a evasão e fracasso escolar. O Paulo Freire enfatiza: que 41 ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou a sua construção. (1996, p.22). Compreender a importância de se refletir as ações diárias da sala de aula, a responsabilidade que o professor tem em mãos, de levar a esses espaços situações que priorizem o aprender com prazer, não o depositar conhecimento que causa fadiga e melancolia nas crianças. As emoções que o aprendente trás consigo, manifesta-se também, nos espaços escolares, através do seu corpo, gesto, atitude. E requer reflexão, sensibilidade para perceber em sua voz e comportamento, a expressão dos seus sentimentos, sejam as angústias, desejos, anseios, medo, alegria e prazer. O António Damásio(2004, p.15) explica que os sentimentos são expressão do florescimento ou sofrimento humano, na mente e corpo. Os sentimentos não são uma mera decoração das emoções, qualquer coisa que possamos jogar fora. Os sentimentos podem ser, e geralmente são, revelações do estado da vida dentro do organismo... A emoção e as várias reações com ela relacionadas estão alinhadas com o corpo, enquanto os sentimentos estão alinhados com a mente. A Emoção é uma palavra que vem do latim, movere ( que significa mover), precedida do sufixo ex(para fora), significando afastar-se. Em toda emoção há uma tendência à ação. O Oxford English Dictionary define emoção como: “Qualquer agitação ou perturbação da mente, sentimento ou paixão; qualquer estado veemente ou excitado”. O Jair Santos (in MAC LEAN, 2000 p.38) aborda que a base das emoções do homem está no seu cérebro, principalmente no chamado sistema límbico(do latim limbus, margem): um conjunto de formações neurológicas, que cerca e limita o tronco cerebral. As áreas emocionais estão ligadas com o neocórtex, através de circuitos neuronais, permitindo aos centros emocionais, grandes poderes sobre o comportamento humano. Existe habitualmente, um funcionamento integrado entre cérebro emocional e o neocórtex, permitindo harmonia das ações humanas racionais e emocionais. O sistema límbico é resultado da evolução do cérebro dos mamíferos e dos répteis, ao longo de milhões de anos de evolução. 42 3.1 O Sistema límbico O sistema límbico participa intimamente de processos emocionais, em conjunto do hipotálamo e a área pré- frontal. Figura 5 – sistema limbico http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.espacocomenius.com.br/si stema_limbico.jpg&imgrefur Quanto às estruturas cerebrais na formação das emoções, são algumas das partes mais importantes do sistema límbico: Amígdala: Localizada na profundidade de cada lobo temporal anterior, funciona de modo íntimo com o hipotálamo. É o centro identificador de perigo, gerando medo e ansiedade e colocando o animal em situação de alerta, aprontando-se para fugir ou lutar. Hipocampo: Envolvido com os fenômenos da memória de longa duração. Quando ambos os hipocampos (direito e esquerdo) são destruídos, nada mais é gravado na memória. Tálamo: É um centro de organização cerebral, como uma encruzilhada de diversas vias neuronais em que podem influenciar-se mutuamente antes de serem redistribuídas. Hipotálamo: É parte mais importante do sistema límbico. Além de seus papéis no controle do comportamento, essas áreas também controlam várias 43 condições internas do corpo, como a temperatura, o impulso para comer e beber, etc. Ele mantém vias de comunicação com todos os níveis do sistema límbico. O hipotálamo desempenha, ainda, um papel nas emoções. Especificamente, as partes laterais parecem envolvidas com o prazer e a raiva, enquanto que a porção mediana parece mais ligada à aversão, ao desprazer e a tendência ao riso (gargalhada) incontrolável. Giro cingulado: Situado na face medial do cérebro entre o sulco cingulado e o corpo caloso, que é um feixe nervoso que liga os 2 hemisférios cerebrais. Há ainda muito por conhecer a respeito desse giro, mas sabe-se que a sua porção frontal coordena odores, e visões com memórias agradáveis de emoções anteriores. Esta região participa ainda, da reação emocional à dor e da regulação do comportamento agressivo. Tronco cerebral: É a região responsável pelas “reações emocionais”, na verdade, apenas respostas reflexas. Encontra-se duas estruturas envolvidas, os núcleos de rafe, implicados na fisiologia do sono e alterações do humor pela síntese do neurotransmissor serotonina e o lócus ceruleus, produtor da noradrenalina relacionada com atenção e vigília, estresse e pânico. Septo: Anteriormente ao tálamo, situa-se a área septal. A estimulação de diferentes partes desse septo pode causar muitos efeitos comportamentais distintos, esta região se relaciona com as sensações de prazer, mormente aquelas associadas às experiências sexuais. Área Pré - frontal: esta área não faz parte do Lobo límbico tradicional, mas suas intensas conexões com o tálamo, amígdala e outras sub-corticais, explicam o importante papel que desempenha na expressão dos estados afetivos. 44 http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://veracalvet.files.wordpress.com/ 2010/07 No espaço educacional os fatores afetivos devem ser levados em consideração, RELVAS (2009, p.109) sinaliza que devido a influência que a emoção exerce nos processos de raciocínio; os sistemas cerebrais destinados à emoção estão intrinsecamente enredados aos sistemas destinados a “razão”; a mente não pode ser separada do corpo. Nesse sentido, a emoção é mais um aspecto, o qual permeia os demais. Quando os indivíduos, estes tomados pelas emoções – amor, ódio, paixão, raiva, medo e outras, estão sob o jugo do cérebro emocional que então controla o comportamento. A emoção é uma reação do organismo em respostas a estímulos externos e internos. As emoções e as várias reações que as constituem fazem parte dos mecanismos básicos da regulação da vida, através da educação emocional a pessoa terá oportunidade de conhecer-se melhor e analisar suas emoções. O autoconhecimento, autoconsciência, implica em desenvolver a capacidade de identificar e reconhecer suas emoções e sentimentos, avaliando suas intensidades, e as expressões corporais correspondentes, no momento em que ocorrem. 45 A educação emocional na escola tem o objetivo preventivo e pretende que o educando adquira atitudes e habilidades que permitam a identificação e controle de suas emoções, tornando sua inserção mais flexível, agradável e adaptável. . 3.2 A Neuropedagogia, um novo olhar sobre as práticas pedagógicas. A parceria entre a Neurociência da aprendizagem com a Pedagogia tem priorizado o ser humano em todo seu contexto, biológico, psicológico, cultural, social e histórico. Ressaltando o sentir, pensar e agir. Essa interdisciplinaridade pretende apontar caminhos para uma educação mais inclusiva, embasada no conhecimento crítico, inovador e reflexivo. A organização do trabalho pedagógico deve partir do que as crianças já sabem, de forma lúdica e prazerosa. Como também em práticas pedagógicas que valorizem o funcionamento cerebral, as conexões e troca de informações entre neurônios, a relação entre as estruturas mentais com o meio ambiente, a emoção e razão no processo da aprendizagem. Edgar Morin (2000, p.39) destaca que a educação deve favorecer a aptidão natural da mente em formular e resolver problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso total da inteligência geral. Este uso total pede o livre exercício da curiosidade, a faculdade mais expandida e a mais viva durante a infância e a adolescência, que com freqüência a instrução extingue e que, ao contrário, se trata de estimular ou caso esteja adormecida, de despertar. Busca-se uma escola em que seja dada à criança a possibilidade de formar-se, de torna-se homem, de adquirir os critérios gerais que sirvam ao desenvolvimento do caráter. Uma escola que não hipoteque o futuro da criança e constranja a sua vontade, sua inteligência, sua consciência em formação a mover-se dentro de uma bitola. (...) Uma escola de liberdade e de livre iniciativa e não uma escola de escravidão e mecanicidade. (Mochcovitch 1990, apude Gramsci, 1958,p.59) A escola deve ser um espaço que permita a criança desenvolver seu potencial e as habilidades humanas, valorize as vivências em grupo, o respeito sobre as 46 diferenças. Contribuindo para que a criança continuamente esteja inserida nas práticas de leituras e produções variáveis de diferentes gêneros textuais, capazes de formar escritores competentes que torna a leitura e a escrita um habito diário e constante. O Espaço também deve ser destinado à manifestação de desejos, alegria, gosto, partilha, hipóteses, de troca e vivência de vários conhecimentos de forma lúdica. Independente de métodos, as atividades devem favorecer para que a educação seja produtora de conhecimento, forme pessoas íntegras, cidadãos autônomos e críticos. Portanto, aprendizagem implica transformação, tomar conhecimento, mudança de comportamento. Ensinar para (RELVAS, 2009) é fundamentalmente aprender. Aprender é enfrentar o desafio da vinculação da emoção com a razão no processo de conhecer e, além disso, enfrentar o desafio de criar recursos, instrumentos, estratégias táticas e operacionais que mobilizem no educando sua emoção em paralelo com sua razão. Ao criar condições e estímulos favoráveis os educandos terão maiores condições para desenvolverem competências e habilidades. ( p.114). A sala de aula deverá ser um espaço, onde os conhecimentos pedagógicos caminhem na mesma direção com os conhecimentos neurocientíficos, que permita ao professor oportunidade de criar estratégias e atividades que estimule as funções cerebrais e desenvolva habilidades e potencialidades humana. Segue algumas sugestões para o bem viver em sala de aula: A - Estabelecer diálogo sobre a importância do convívio harmonioso entre as os colegas; professores e todos os funcionários que compõem a instituição; B - Permitir que a criança participe e manifeste sua opinião durante as aulas, lembre-se que redes neurais estão se ampliando e o hipocampo armazenando informações; C - Levar para a sala de aula diversos estímulos que explorem todos os sentidos: cartazes, filmes, jogos, objetos significativos das crianças, sucatas, músicas, etc; 47 D - Proporcionar cantinhos diversificados, com jogos pedagógicos, leitura, pintura, onde a criança possa ao termino da sua atividade interagir com atividades que lhe proporcione prazer; E - Trabalhar o mesmo conteúdo de varias formas possibilita os alunos a oportunidades de vivenciarem a aprendizagem de acordo com suas possibilidades neurais; F - Possibilitar situações que a criança use e movimente seu corpo, experimente e reflita sobre suas emoções positivas ou negativas; G - Estabelecer rotinas para possam realizar trabalhos individuais, em dupla e em grupo, contribuindo para uma aprendizagem com mais dinâmismo e uma sala de aula mais flexiva. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago Paulo Freire. E assim o professor deverá planejar atividades que atenda às necessidades, anseios e desejos da sua turma. Que estimule as percepções, a memória, noções espaciais, habilidades lógicas, verbais e etc. Criando em sala de aula um clima favorável para a aprendizagem, capaz de eliminar a insegurança do educando, permitindo-o descobrir suas habilidades e potencialidades como ser social, pensante, ativo, que aprende de maneira individual, única e especial, com neuropedagogia. prazer de aprender à luz da 48 CONCLUSÃO Os estudos sobre o cérebro humano, desde a antiguidade sempre despertou interesse dos pesquisadores sobre a estrutura e funcionamento cerebral. Desvendar a máquina humana, os códigos, os sinais e os circuitos pelos quais trafega a informação vital dos seres humanos, sempre fascinaram e determinaram descobertas científicas que contribuíram para a transformação da humanidade. A ser humana evoluiu, sua evolução biológica, adaptativa foi necessária para a manutenção e sobrevivência da espécie. Os avanços na área da neurociência em parceria com a pedagogia que objetiva a melhoria no processo de aprendizagem dos indivíduos, através da reflexão, sistematização e produção de conhecimentos, têm contribuído para os avanços na área educacional. A partir da neurociência os espaços educacionais vêm se apropriando de conhecimentos e descobertas de como o cérebro aprende, senti e guarda informações. O cérebro humano é constituído de hemisférios, lobos, sulcos, neurônios que tem sua função e real importância num trabalho em conjunto para que a aprendizagem aconteça. A memória é um fator importante na aprendizagem, é a base de todo o saber. Os estímulos ambientais ativam os neurônios, unidade básica do sistema nervoso, que são considerados a são células condutoras, responsáveis pela recepção e transmissão dos impulsos nervosos por meio das sinapses. Devido os neurônios serem responsáveis em processar, elaborar, coordenar e avaliar as informações, necessitam de condições favoráveis e aumento de estímulos para que haja mais conexões, novas sinapses e aprendizagem. Pois o cérebro é composto por cerca de 100 bilhões de células nervosas conectadas, que controla todas as funções mentais. Podemos compreender, desta forma que o uso de estratégias adequadas em um processo de ensino dinâmico e prazeroso provocará consequentemente, alterações na quantidade e qualidade destas conexões sinápticas. O cérebro é capaz 49 de aprender por sua flexibilidade, sua capacidade de mudar em resposta aos estímulos sensoriais e ambientais. Quando compreendermos a importância da Neurociência ligada á aprendizagem, um novo olhar se fará e não mais evidenciaremos incapacidades e sim, passaremos a buscar potencialidades “adormecidas”, que serão “acordadas” através de estratégias diferenciadas e adequadas á necessidades de cada criança. O professor terá a oportunidade de transformar a sala de aula em um ambiente de estímulos, com aulas prazerosas, lúdicas, ricas em conteúdos concreto, auditivo e visual. E a criança, a oportunidade de criar e recriar, contribuindo assim, para a ativação neural, as sinapses e o funcionamento desses sistemas de forma harmoniosa. 50 BIBLIOGRAFIA ANTUNES, Celso. A afetividade na escola: educando com firmeza. Londrina: Maxiprint, 2006. BEAUCLAIR, João. Do fracasso escolar ao sucesso na aprendizagem: proposições psicopedagógicas. Rio de Janeiro: Wak, 2008. DAMÁSIO, António. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. São Paulo: Companhia das Letras. 2004. 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