FACULDADE DE AMERICANA CURSO DE PEDAGOGIA MARIA CAROLINE DE SOUZA DA SILVA “A DISCIPLINA DE FILOSOFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL” AMERICANA 2015 FACULDADE DE AMERICANA CURSO DE PEDAGOGIA MARIA CAROLINE DE SOUZA DA SILVA “A DISCIPLINA DE FILOSOFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL” Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Americana (FAM), como requisito parcial para obtenção do título de licenciatura em Pedagogia. Orientadora: Laurindo. AMERICANA 2015 Profa. Dra. Tania Regina FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca Central da FAM S581d Silva, Maria Caroline de Souza da. A disciplina de filosofia nos anos iniciais do ensino fundamental. / Maria Caroline de Souza da Silva. -- Americana, 2015. 46f. Orientador: Tânia Regina Laurindo. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) Curso de Pedagogia, Faculdade de Americana. 1. Educação - Filosofia. 2. Ensino Fundamental. 3. Reflexão - Ensino. I. Laurindo, Tânia Regina. II. Título. CDU 37 MARIA CAROLINE DE SOUZA DA SILVA “A DISCIPLINA DE FILOSOFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL” Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Americana (FAM), como requisito parcial para obtenção do título de licenciatura em Pedagogia. Orientadora: Laurindo. BANCA EXAMINADORA PROF. _________________________ ASSINATURA:____________________ Americana, _____/_____/_______ Resultado____________________ Profa. Dra. Tania Regina Dedico este trabalho a Deus e a minha família: A minha mãe Silvana, uma mulher batalhadora. A minha irmã Thaís, minha grande amiga. Ao meu avô José, meu herói e um homem de muita fé. Aos amigos especiais compreensão e força. pelo carinho, AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, a Deus pelo dom da vida concedido. Em seguida, a minha família, que sempre esteve presente, me apoiando nessa jornada. A alguns amigos, que compartilharam desse momento. A Faculdade de Americana (FAM), pela oportunidade. A minha Orientadora deste trabalho, pelo incentivo, dedicação para comigo em todos os momentos. Aos professores do Curso de Pedagogia, por todo conhecimento e experiências compartilhadas. “O fortalecimento do pensar na criança deveria ser a principal atividade das escolas e não somente uma consequência casual”. (LIPMAN, 1995 apud LORIERI, 2002, p. 101). RESUMO Este trabalho tem como objetivo esclarecer o tema escolhido como objeto de estudo em sua importância. A temática em pauta se preocupa com a disciplina de Filosofia nos anos iniciais do Ensino Fundamental, apresentando como problema central, a ausência da disciplina de Filosofia nos anos iniciais do ensino fundamental na maioria das escolas. Para tanto, apresento a história da filosofia, a etimologia da palavra, o que é o processo do filosofar, a filosofia da educação e seus principais autores. Em seguida, apresentei quando e como a Filosofia se tornou disciplina nas escolas do Brasil. Analisei a relevância da disciplina de Filosofia nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Na sequência, busquei apresentar respostas para algumas dessas questões: Como Trabalhar os Conteúdos Filosóficos Quando a Filosofia Não é Contemplada como Disciplina Escolar? Os Professores Que Existem Atualmente Estão Preparados Para Ensinar Filosofia? Nas considerações finais, busquei explicar que o ensino de Filosofia precisa levar em consideração o ser humano e suas necessidades de pensar, refletir, questionar, interpretar e compreender melhor o mundo em que vive. Para realização deste trabalho, utilizei pesquisas bibliográficas pautadas pela reflexão da problematização. PALAVRAS-CHAVE: Crianças. Educação. Filosofia. Pensar. Reflexão. ABSTRACT This work aims to clarify the subject chosen as an object of study in its importance. The issue in question is concerned with the discipline of philosophy in the early years of primary school, with a central problem, the lack of discipline of philosophy in the early years of primary education in most schools. To this end, I present the history of philosophy, the etymology of the word, which is the process of philosophy, philosophy of education and its principal authors. Then, when it is presented as philosophy became nothing discipline schools in Brazil. I analyzed the relevance of philosophy of discipline in the early years of primary school. In sequence, I sought to present answers to some of these issues: How to work philosophical content when philosophy is not contemplated as school discipline? Teachers that there are currently prepared to teach philosophy? In closing remarks sought to explain the philosophy of education needs to consider the human being is his need to think, reflect, question and better interpret the world in which he lives. For this work I used bibliographical research guided by reflection questioning. KEYWORDS: Children. Education. Philosophy. To Think. Reflection. Lista de Ilustrações Quadro 1 – Principais Autores da Filosofia da Educação 18 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11 CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 13 Filosofia: A Origem da Palavra .............................................................................. 13 1.1. A História da Filosofia .................................................................................. 13 1.2. O Processo do Filosofar ............................................................................... 15 1.3. Filosofia da Educação .................................................................................. 16 CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 19 Quando e Como a Filosofia Se Torna Disciplina Nas Escolas Do Brasil? ............. 19 2.1. Por que Ensinar Filosofia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental? ............ 24 2.2. Os Objetivos Pretendidos com o Ensino da Filosofia ...................................... 28 CAPÍTULO 3 ............................................................................................................. 31 Como Trabalhar os Conteúdos Filosóficos Quando a Filosofia Não é Contemplada como Disciplina no Currículo? ............................................................................... 31 3.1. Como é o Professor que Transmite o Pensar para a Criança? ....................... 32 3.2. Os professores da atualidade estão preparados para ensinar Filosofia? ....... 34 CAPÍTULO 4 ............................................................................................................. 37 Transformar a Sala de Aula em Laboratório de Pensamentos. ............................. 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 43 11 Introdução Desde o início dos tempos a educação é foco de discussão de vários estudiosos que visam uma melhor qualidade do ensino – aprendizagem. Contribuindo para essa melhoria, surge a disciplina de Filosofia, a qual precisa ser trabalhada desde a mais tenra idade. Nesse sentido, a proposta deste trabalho é conhecer, discutir e refletir a importância da disciplina de Filosofia nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Sabemos que o verdadeiro valor dessa disciplina não foi contemplado na educação brasileira como deveria ter sido. Entretanto, acredito na importância da Filosofia para a formação do ser humano. A relevância social da disciplina de Filosofia nos anos iniciais do Ensino Fundamental I é possibilitar o desenvolvimento da consciência crítica. A fundamentação deste trabalho foi por meio de pesquisas bibliográficas. Como referência teórica utilizei autores como: o filósofo e educador Matthew Lipman (reconhecido como fundador do Programa de Filosofia para Crianças); Maria Lúcia de Arruda Aranha; Marcos Antônio Lorieri; Silvio Gallo; entre outros. Durante o trabalho, citarei o termo Crianças para designar os alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental I. No primeiro capítulo, apresentarei a história da filosofia, a etimologia da palavra, o que é o processo do filosofar, a filosofia da educação e os principais autores da filosofia da educação. No segundo capítulo, apresentarei como e quando a filosofia se tornou disciplina nas escolas do Brasil, discutirei o porquê ensinar Filosofia nos anos iniciais do ensino fundamental e quais são os objetivos pretendidos com o ensino da Filosofia. No terceiro capítulo, busquei compreender como trabalhar os conteúdos filosóficos quando a filosofia não é contemplada como disciplina no currículo. Para isso, pesquisei como é o professor que transmite o pensar para a criança e levantei uma crítica para saber se os professores que existem atualmente estão preparados para ensinar filosofia. No último capítulo, pesquisei como transformar a sala de aula em laboratório de pensamentos. 12 Finalizo este trabalho, explicando que o ensino de Filosofia precisa levar em consideração o ser humano e suas necessidades de pensar, refletir, questionar, interpretar e compreender melhor o mundo em que vive. 13 CAPÍTULO 1 Filosofia: A Origem da Palavra Originária do grego, Filosofia significa “amor à sabedoria”. Philo (aquele ou aquela que tem um sentimento amigável, amizade e amor fraterno); Sophia (sabedoria). Então, podemos dizer que o filósofo é o amigo do saber. De acordo com o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, o conceito de filosofia é: “Estudo que visa a ampliar incessantemente a compreensão da realidade, no sentido de apreendê-la na sua inteireza. Razão; Sabedoria.” (2001, p.322). Chauí apresenta a seguinte definição de filosofia: Além de análise, reflexão e crítica, a Filosofia é a busca do fundamento e do sentido da realidade em suas múltiplas formas indagando o que são, qual sua permanência e qual a necessidade interna que as transforma em outras. O que é ser e o aparecer – desaparecer dos seres (CHAUÍ, 1994 apud LORIERI, 2002, p.167). Os gregos antigos, inicialmente, tinham uma consciência mítica (um bom exemplo disso foram os poemas de Homero e Hesíodo). Ao ocorrer à transição do mundo mítico para a consciência racional, surgiram os primeiros sábios, sendo um deles, Pitágoras que utilizou pela primeira vez a palavra Filosofia. Vale lembrar que, a Filosofia é a busca amorosa da verdade. 1.1. A História da Filosofia No século VI A.C., na Grécia, nasceu a Filosofia. Sabe-se que esse saber não se iniciou propriamente na Grécia Continental, mas em suas colônias, conhecidas como Jônia e a Magna Grécia. Somente no século VII A.C., a Filosofia desloca-se para Atenas. Aranha e Martins apresentam a seguinte colocação sobre o nascimento da Filosofia: 14 “A filosofia é filha da Cidade”. A grande aventura intelectual não começa propriamente na Grécia continental, mas nas colônias gregas: na Jônia (metade sul da costa ocidental da Ásia menor) e na Magna Grécia (sul da Península itálica e Sicília). (ARANHA; MARTINS, 1986, p.35-36). Sabe-se que os primeiros filósofos são conhecidos como pré-socráticos1. Seus escritos desapareceram ao longo do tempo o que restou foram alguns fragmentos e referências citadas por filósofos seguintes. O que sabemos é que normalmente escreviam em prosa, abandonando a forma poética dos relatos míticos. Os primeiros filósofos preocuparam-se com a elaboração de uma Cosmologia2, que visava procurar a racionalidade do universo, afastando-se de uma Cosmogonia3. Eles buscavam respostas para algumas dessas perguntas: Como surgiu o mundo ordenado? Qual seria o princípio de todas as coisas? Assim, os pré-socráticos procuravam o fundamento do ser, ou seja, o elemento que constituía todas as coisas. As respostas obtidas foram as mais variadas possíveis, por exemplo, o filósofo Tales descobre que o fundamento que pode ser a razão para explicar essa multiplicidade é a água; Anaxímenes é o ar; Demócrito é o átomo; Empédocles terra, água, ar e fogo. Desta maneira, é possível notar que existem diferenças entre os pensamentos dos filósofos a respeito do princípio de todas as coisas. De acordo com Aranha: A filosofia nascente rejeitava as interpretações místicas que, baseadas no sobrenatural, aceitavam a interferência de agentes divinos nos fenômenos da natureza. Ao buscarem a racionalidade do universo, os filósofos dessacralizam a natureza, isto é, retiram dela a dimensão do sagrado. A filosofia surge, então, como um pensamento reflexivo que busca a definição rigorosa dos conceitos, a coerência 1 A divisão da filosofia grega se centraliza na figura de Sócrates. Portanto, Pré-Socráticos são os primeiros filósofos. 2 Cosmologia: (logos, “estudo”, “razão”): parte da filosofia que estuda o mundo, a natureza; parte da metafísica que se ocupa da essência da matéria. 3 Origem e formação do mundo; referente aos mitos da criação do mundo. 15 interna do discurso, a fim de possibilitar o debate e a discussão. (ARANHA, 1996, p. 105). Portanto, por meio da filosofia, é possível reunir o pensamento fragmentado e compreender o universo das especializações. Através da reflexão filosófica, o homem atinge uma dimensão além daquela que lhe foi concedido pelo imediatismo. A filosofia também possibilita uma reflexão crítica, impedindo o não questionamento. 1.2. O Processo do Filosofar Somos seres racionais e sensíveis que estamos sempre atribuindo significado às coisas, ou seja, não necessitamos de ser filósofos qualificados para nos ocuparmos com reflexões filosóficas. O filosofar espontâneo do ser humano é chamado de “Filosofia de Vida”, que nada mais é do que uma forma do pensamento não tematizado e não colocado em discussão ainda, mas que permite ao homem escolher seus caminhos, fazer uso do bom senso. Um bom exemplo dessa filosofia de vida seria: quando deixamos um emprego bem pago por outro não tão bem remunerado, porém mais atraente, com mais benefícios estamos fazendo uma escolha baseado nas necessidades, oportunidades daquele momento. Desta maneira, a filosofia apresenta condições de surgir na ocasião em que esse pensar é posto em discussão e que irá tornar-se uma reflexão, por exemplo, um psicólogo que aborda o conceito de homem livre, indagar sobre que é a liberdade é fazer filosofia. A palavra Reflexão é originária do verbo latino Reflectere, que significa: voltar atrás. De acordo com o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, o significado da palavra Reflexão é: “Ato ou efeito de refletir (-se). Volta da consciência, do espírito, sobre si mesmo, para exame de seu próprio conteúdo.” (2001, p. 590). Também no dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, o significado da palavra Filosofar é: “Raciocinar sobre assuntos filosóficos. Raciocinar tirando induções. Meditar. Argumentar, discutir com sutileza.” (2001, p. 322). Ou seja, é possível notar uma semelhança entre a palavra Reflexão e Filosofar. Ambas possuem no seu 16 significado o voltar atrás, o retomar o pensamento e todo pensamento aprofundado, ou melhor, questionado é a condição necessária para o surgimento da filosofia. Para uma reflexão ser filosófica, ela precisa ser Radical, Rigorosa e de Conjunto. De acordo com Dermeval Saviani: Radical: Em primeiro lugar, exige-se que o problema seja colocado em termos radicais, entendida esta palavra no seu sentido mais próprio e imediato. Quer dizer, é preciso que se vá até as raízes da questão, até seus fundamentos. Em outras palavras, exige-se que se opere uma reflexão em profundidade. Rigorosa: Em segundo lugar e como que para garantir a primeira exigência, deve-se proceder com rigor, ou seja, criticamente, segundo métodos determinados, colocando-se em questão as conclusões da sabedoria popular e as generalizações que a ciência pode ensejar. De conjunto: Em terceiro lugar, o problema não pode ser examinado de modo parcial, mas numa perspectiva de conjunto, relacionando-se o aspecto em questão com os demais aspectos do contexto em que está inserido. É neste ponto que a filosofia se distingue da ciência de um modo mais marcante. (SAVIANI, 1973 apud ARANHA; MARTINS, 1986, p.47). É preciso compreender que a maneira pela qual a reflexão filosófica se faz rigorosa varia de acordo com cada filósofo e com as tendências históricas da situação vivenciada pelos homens na sua ação sobre o mundo. 1.3. Filosofia da Educação A filosofia é uma das formas de conhecimento, que trabalha sobre certas questões, utilizando uma maneira própria de abordá-las, com respostas que nunca se finalizam, pois são continuamente questionadas. Leia o que diz Japiassu: As grandes interrogações que os filósofos do passado fizeram permanecem no presente: os homens de hoje continuam a se colocar problemas sobre eles mesmos, sobre a vida, sobre a sociedade, sobre a cultura, sobre o transcendente, etc., que constituem verdadeiros desafios à nossa atividade reflexiva (JAPIASSU, 1997 apud LORIERI, 2002, p.36). 17 Um nome muito importante na Filosofia é o de Sócrates. Ele foi o primeiro filósofo que pensou sobre a educação, sabemos disso não através dele próprio, pois ele nunca escreveu nada, mas por meio de seus discípulos, entre eles Platão e Xenofonte. Desta maneira, muitos consideram Platão como o pioneiro em se pensar a Educação, veja o que diz Piletti: Platão (427-347 a.C.), discípulo de Sócrates, teve muita influência sobre a educação grega. De acordo com a sua doutrina, a educação consiste na atividade que cada homem desenvolve para conquistar as ideias e viver de acordo com elas. O conhecimento não vem de fora para o homem, mas é um esforço da alma para apoderar-se da verdade. Enquanto Sócrates afirmava que todos têm a capacidade para adquirir conhecimentos, Platão afirmava que apenas algumas pessoas possuem tal capacidade. O fim da educação para Platão é a formação moral do homem e o meio para atingi-la é o Estado, na medida em que ele representa a ideia de justiça. (PILETTI, 1990, p.131). Desta maneira, é possível conceituar a Filosofia da Educação como uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre as questões que a realidade educacional apresenta. Sua origem ocorre na Grécia Antiga, pois alguns pensadores “pensaram” sobre a educação, sobre a Paidéia4. A filosofia da educação se ocupa dessas perguntas: O homem precisa ser educado? Pode ser educado? O que é educação? A seguir, em um quadro, apresento alguns pensadores da educação e suas principais ideias, com a finalidade de melhor compreender como cada um pensou a educação. 4 Palavra originária do grego antigo, utilizado para referir à noção de educação. 18 Quadro 1 Principais Autores da Filosofia da Educação Autores Ideias Principais. Jean-Jacques Rousseau, filósofo, social e político franco-suíço. O pensador suíço pregava o retorno à natureza e o respeito ao desenvolvimento cognitivo e físico da criança. Para ele, os sentimentos despertavam o processo de aprendizagem das crianças. A escola deveria ser uma extensão do lar, oferecendo segurança e afeto. O papel do professor é formar cidadãos que contribuam para a harmonia social. A democracia e a liberdade de pensamento tornam-se instrumentos para a manutenção emocional e intelectual das crianças. Segundo ela, o potencial de aprender está em cada um de nós. As crianças aprendem o mundo com base em uma visão de todo. Escola centrada no aluno. As crianças também têm corpo e emoções na sala de aula. Favoreceu o desenvolvimento da Escola Nova e o Cognitivismo de Piaget. O desenvolvimento cognitivo ocorre pela interação social. O conhecimento provém das descobertas que as crianças fazem. Desenvolveu atividades como: aulas-passeio, jornal da classe. Executou medidas para democratizar o ensino. O objetivo da escola é ensinar a ler o mundo. As crianças são capazes de trabalhar com ideias. Johann Heinrich Pestalozzi, educador suíço. Émile Durkheim, teórico social francês. John Dewey, filósofo e pedagogo norte-americano. Maria Montessori, médica e educadora. Ovide Decroly, médico e educador belga. Henri Wallon, médico, psicólogo e filósofo francês. Édouard Claparède, médico psicólogo suíço, nascido em Genebra. Lev Semenovich Vygotsky Jean Piaget, matemático, biólogo, filósofo, psicólogo e pedagogo suíço. Celéstin Freinet, educador francês. Anísio Teixeira, educador brasileiro. Paulo Freire, educador brasileiro. Matthew Lipman, filósofo. Nasceu em: Faleceu em: 1712 + 1778 1746 + 1827 1858 + 1917 1859 + 1952 1870 + 1952 1871 + 1932 1872 + 1962 1873 + 1940 1896 + 1934 1896 + 1980 1896 + 1966 1900 + 1971 1921 + 1997 1922 + 2010 19 Capítulo 2 Quando e Como a Filosofia Se Torna Disciplina Nas Escolas Do Brasil? O ensino da Filosofia no Brasil iniciou-se com a chegada dos jesuítas, no século XVI, em 1553, veja o que diz Mazai e Ribas (2001): O ensino de Filosofia aportou, em nosso país, com os religiosos da Companhia de Jesus, no século XVI (1553). Foram eles que exerceram maior influência na primeira fase da História da Educação no Brasil. Os jesuítas eram os responsáveis pela educação e catequese dos povos das colônias procurando sempre propagar e fortalecer a fé cristã. (p.02). Neste período, a filosofia era constituída como assimilação “registro, comentário, eco de escolas e correntes estrangeiras” (COSTA, 1967 apud MAZAI; RIBAS, 2001, p.03). Com a expulsão dos jesuítas, a filosofia começa a visar resultados da ciência aplicada. Por volta dos anos de 1838 no Brasil, a Filosofia passa a ser obrigatória, continua retórica e enclicopédica: Em 1838, a Filosofia passa a ser obrigatória e continua arbitrária, retórica e enciclopédica. “... nas províncias, a Filosofia já era incluída obrigatoriamente no currículo dos liceus e dos ginásios do curso secundário, desde o início do século...” (CARTOLANO, 1985, p.28 apud MAZAI; RIBAS, 2001, p.05). No século XIX, a Filosofia é marcada pelo setor econômico: “... companhias anônimas, comerciais e industriais, o Banco do Brasil transforma-se em banco de emissão, inaugura-se a linha do telégrafo elétrico e finalmente abre-se ao tráfego a Estrada Central do Brasil” (CARTOLANO, 1985, p.29 apud MAZAI; RIBAS, 2001, p.05-06). Em 1870, a corrente filosófica positivista5 teve grande repercussão no ensino brasileiro: 5 Positivismo: Filosofia de Augusto Comte (século XIX), que considera o estado positivo (o que é real, baseado nos fatos) o último e mais perfeito estado atingido pela humanidade. Cientificismo. 20 Entre as correntes filosóficas em ascensão, nas últimas décadas do século XIX, por volta de 1870, o Positivismo foi a que mais repercussão teve no seio do pensamento brasileiro e na educação que aqui se ministrava. A razão fundamental desse fato radica-se na preexistente tradição cientificista que se iniciou com as reformas pombalinas, à luz das quais se estruturou todo o sistema de ensino superior, em bases que privilegiavam a ciência aplicada e a instrução estritamente profissional. (MAZAI; RIBAS, 2001, p.06). Em 15 de Julho de 1908, foi fundada a Faculdade Livre de Filosofia e Letras, cujo primeiro diretor foi Dom Miguel Kruse, abade do Mosteiro São Bento6. Já o período de 1914 é marcado pelo amor a terra e as coisas nacionais: A partir de 1914, com a primeira grande Guerra, acentuou-se o amor à terra e às coisas tipicamente nacionais o que até então não se pensava, pois as portas estavam sempre escancaradas a todas as ideias provenientes de fora. É nesse momento que outras modalidades do pensamento europeu representado no Brasil entram a concorrer mais seriamente, com a até então relevante Filosofia de Augusto Comte. É a Sociologia que, aos poucos, toma conta do meio cultural. Começam a surgir obras e trabalhos que revelam preocupações sociológicas. (MAZAI; RIBAS, 2001, p.08). Em 1915, uma nova reforma educacional, apresentou a Filosofia como disciplina facultativa por meio do decreto n°11.530, assim, reaparece a disciplina de Filosofia nos currículos, mas não exercendo completamente o seu papel, de acordo com Mazai e Ribas (2001): Em 1915, a nova reforma educacional, com o decreto n° 11.530, colocou a Filosofia como disciplina facultativa. Ressurgiu, então a disciplina de “Filosofia” nos currículos, embora não exercesse ainda o seu verdadeiro papel. Essa reforma surgiu num ambiente de mudanças políticas, econômicas e sociais. Mesmo assim a Filosofia despertava pouco ou nenhum interesse, pois, a ciência e as pesquisas, em moda na Europa, eram incompreensíveis e de 6 Faculdade de São Bento, localizada no Largo de São Bento, centro de São Paulo, junto ao Mosteiro de São Bento. 21 nenhuma importância no Brasil, já que havia uma ciência a combater. (p.09) Em 1930 e 1942, ocorreram duas reformas que provocou uma mudança na educação do ensino médio no Brasil: A partir do ano de 1930, houve mais duas reformas que despertaram uma mudança na educação do Ensino Médio brasileiro. A primeira se deu em 1931 e determinava que a educação visasse, não somente à matrícula nos cursos superiores, mas também, à formação do homem para todos os setores da vida, isto é, uma formação integral que lhe possibilitasse tomar decisões claras e seguras em qualquer situação de sua existência. A segunda de 1942, decreto n°4.244, intitulada Lei Orgânica do Ensino Secundário, dividiu o ensino em dois ciclos: o ginásio que era cursado em quatro anos e o colegial em três. Ainda o colegial subdividia-se em científico e clássico. O científico visava ao ensino das ciências, já o clássico, por sua vez, previa uma carga horária de quatro horas semanais para a Filosofia. Seria a formação intelectual. (MAZAI; RIBAS, 2001, p.09). No ano de 1961, com a edição da primeira LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), Lei n°4024, a Filosofia foi sugerida como disciplina complementar perdendo sua obrigatoriedade, segundo Cesar (2012): Em 1961, a sanção do presidente João Goulart introduziu uma inovação, pois representava certo grau de descentralização do ensino, já que as escolas podiam optar entre vários currículos, era permitido anexar disciplinas optativas ao currículo mínimo proposto pelo Conselho Nacional de Educação. A disciplina de filosofia era indicada como complementar, apenas para o segundo ciclo. Quanto às disciplinas optativas, havia a lógica e a dialética. O campo de atuação da filosofia veio a ser cada vez mais limitado, tanto que pela lei nº 4024/61, a disciplina tornou-se optativa. (p.6). Ainda sobre a Lei n°4024, veja o que diz o Artigo 35: “(Art. 35) Em cada ciclo haverá disciplinas e práticas educativas, obrigatórias e optativas”. Observe também o 22 Artigo 44 da mesma lei: “(Art. 44) O ensino secundário admite variedade de currículos, segundo as matérias optativas que forem preferidas pelos estabelecimentos”. Em 1964, devido ao golpe militar, a Filosofia foi banida dos currículos nas escolas do Brasil. Em 1964 acontece o golpe político militar, que abriu novo espaço para a penetração norte-americana em nossa economia e política. A intervenção norte-americana visava à modernização tecnológica e burocrática da sociedade brasileira e a educação estava marcadamente a serviço dos interesses econômicos, havia agora uma concepção empresarialista de educação. Paulatinamente a disciplina de filosofia foi se extinguindo do currículo da escola secundária, pois não atendia aos objetivos tecnicistas da nova organização de ensino. Filosofia, psicologia e sociologia foram expulsas do currículo; história e geografia foram integradas, tornando-se os estudos sociais. (CESAR, 2012, p.6). O objetivo não era formar cidadãos conscientes e críticos, assim, a filosofia aos poucos vai desaparecendo: “O ensino de filosofia não atendendo a essas solicitações tecnoburocráticas e político-ideológicas, já não servia aos objetivos das reformas que se pretendiam instituir na estrutura do ensino brasileiro. A sua extinção como disciplina, já optativa no currículo, em 1968, foi pensadamente preparada através de uma série de leis e decretos, pareceres e resoluções do Conselho Federal de Educação e do Conselho Estadual de São Paulo, que, neste caso, centralizavam as decisões da área educacional.” (CARTOLANO, 1985, P.72 apud MAZAI; RIBAS, 2001, p.10). Em 1971, a Filosofia é retirada dos currículos, com a Lei n°5692. A LDB nº 5692/ 71 reorganizou o ensino de 1º e 2º graus (antigo primário, ginásio e colégio). Voltada para as necessidades da época atual, eminentemente tecnológica, esta lei propunha uma educação profissionalizante. A filosofia não fez parte do núcleo comum do currículo de 1º e 2º graus, dando lugar às disciplinas “educação moral e cívica” e “organização social e política do Brasil”. (CESAR, 2012, p.6). 23 No Artigo 07 da Lei n°5692, de 11 de Agosto de 1971, torna-se obrigatório a disciplina de Educação Moral e Cívica e outras disciplinas de interesse deste período. A partir de 1986, a Filosofia volta a ter inclusão recomendada nos currículos. Com a nova LDB Lei n° 9394, de 20 de Dezembro de 1996 no Art.36°, § 1°, III, espera-se que ao final do ensino médio o educando demonstre: “domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania”, entretanto, a filosofia ainda não aparece como disciplina escolar. Se observarmos o Art.35°, inciso III, é possível notar a importância da Filosofia bem como, sua finalidade, veja o que está escrito na Lei: “o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”. Com a Lei 11.684/08 artigo 36 da LDB fica estabelecida a obrigatoriedade da inserção da filosofia e da sociologia nos currículos do Ensino Médio. Em 1999 com os Parâmetros Curriculares Nacionais (são a referência básica para a elaboração das matrizes de referência, servem para orientar os professores na busca de novas abordagens e metodologias), é recomendado que a disciplina de Filosofia apenas complementasse os temas transversais dos PCNs. Nos PCNs, a Filosofia é recomendada apenas como conteúdo e não disciplina, ou seja, a filosofia é trabalhada através dos temas transversais. O PCN do Ensino Médio em seu Art. 10°, § 2°, b, diz que as escolas devem assegurar tratamento interdisciplinar e contextualizado para os: “Conhecimentos de Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da cidadania”. O ensino da filosofia está previsto na Lei. A Lei n° 9394/96, estabelece que é papel da educação preparar o aluno para exercer a cidadania e ser qualificado para o mercado de trabalho. Em seu artigo 26, é ressaltado que: Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. (BRASIL, 1996 apud MOREIRA; CRUZ, 2013, p. 15). 24 Ou seja, favorecer a formação crítica e humanística está previsto na LDB. Portanto, os currículos precisam estar de acordo com a União e contemplar as Diretrizes do Estado e Município a qual pertence. Isso quer dizer que, cabe às escolas decidir incluir no seu currículo, o ensino da disciplina de filosofia respeitando o que é previsto pela Lei. É importante ressaltar que, o município de Americana/SP estabeleceu as disciplinas de sociologia e filosofia na grade curricular nas unidades de ensino fundamental pertencentes à rede municipal de ensino, por meio da Lei n° 3593, de 01 de Novembro de 2001, entretanto, essas disciplinas só são ministradas nos últimos anos do ensino fundamental II e ensino médio, veja o que está previsto na Lei n° 3593/01 no Art. 3° Parágrafo Único: “As disciplinas serão ministradas nas últimas séries do segundo ciclo do ensino fundamental e nas últimas séries do ensino médio, quando houver, na Rede Municipal de Ensino de Americana”. 2.1. Por que Ensinar Filosofia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental? A relevância social da disciplina de Filosofia nos anos iniciais do Ensino Fundamental será a de transformar o pensar do estudante, permitindo que este desenvolva a criticidade. Ao desenvolver a reflexão crítica, o ser humano consegue construir os seus valores, exercendo melhor sua cidadania. É importante ressaltar que, a criticidade não é exclusiva da disciplina de Filosofia, leia o que diz Silvio Gallo: A criticidade não é exclusiva da filosofia e não pode ser creditada exclusivamente a ela. Ou as demais disciplinas também são formadoras da consciência crítica ou esta formação é impossível. E o mesmo raciocínio é válido para a interdisciplinaridade. (GALLO, 2010, p. 159). 25 Matthew Lipman7 é um dos filósofos da atualidade que propõe e defende um trabalho com Filosofia para crianças e jovens. Ele justifica esse trabalho através da investigação dialógica dessa maneira: A justificativa mais ampla apóia-se no modo pelo qual paradigmaticamente representa a educação do futuro como uma forma de vida que não foi ainda percebida e como um tipo de práxis. A reforma da educação tem de ter a investigação filosófica compartilhada na sala de aula como um modelo heurístico (LIPMAN, 1990 apud LORIERI, 2002, p.81). O modelo heurístico está relacionado com a pesquisa ou investigação. A filosofia desenvolve o pensar. Não é e nunca foi fácil dizer o que é pensar. Sem dúvida, é algo que todos fazemos e precisamos fazer. Hannah Arendt em seu livro “A vida do espírito”, fala sobre o pensar: O pensamento acompanha a vida e é ele mesmo a quintessência desmaterializada do estar vivo. E uma vez que a vida é um processo, sua quintessência só pode residir no processo real do pensamento, e não quaisquer resultados sólidos ou pensamentos específicos. Uma vida sem pensamento é totalmente possível, mas ela fracassa em fazer desabrochar sua própria essência – ela não é apenas sem sentido; ela não é totalmente viva. Homens que não pensam são como sonâmbulos (ARENDT, 1995 apud LORIERI, 2002, p.92). Ou seja, o pensar é primordial para a vida humana. A filosofia possibilita o desenvolvimento do pensamento crítico, que ajuda a criança ir além da aparência do seu próprio pensamento, ou seja, a criança confere seu próprio pensamento para identificar possíveis falhas: Pensamento crítico é aquele pensamento capaz de por em crise seus‘achados’. Achamos muito, mas sabemos pouco. Isso ocorre, em grande parte, porque não nos damos o trabalho de ‘checar melhor’, por em crise, problematizar, o que pensamos. Para ser 7 Matthew Lipman (1922-2010), Filósofo norte americano, reconhecido como fundador do Programa de Filosofia para Crianças. 26 críticos, [...] é necessário sermos reflexivos: temos de ser capazes e habituados a ‘re-ver’ nossos pensamentos. Só rever, porém, não basta: é preciso rever de maneira crítica (LORIERI, 2002 apud ELIAS, 2005, p.81). Existe também o pensamento criativo: O pensamento criativo [...] busca alternativas tanto às respostas já disponíveis que venhamos a conhecer por informações quanto às respostas produzidas por nós mesmos. Se chego a alguma conclusão, mesmo julgando bem fundamentada em argumentos sólidos, posso propor-me pensar em conclusões alternativas e em argumentos para elas. Posso, também, pensar em levantar os problemas com formulações diferentes, experimentando, a partir daí, novas hipóteses e, então, experimentar novos argumentos (LORIERI, 2002 apud ELIAS, 2005, p.81). Ao enfatizar a importância da Filosofia para crianças, Lipman destaca a busca constante por compreensão e produção de significados: As crianças deveriam adquirir a prática em discutir os conceitos que elas consideram importantes. Fazer com que discutam assuntos que lhes são indiferentes priva-as dos prazeres intrínsecos de se tornarem educadas e abastece a sociedade com futuros cidadãos que nem discutem o que lhes interessa nem se interessam pelo que discutem (LIPMAN, 1990 apud ELIAS, 2005, p.18). O programa de Filosofia para Crianças criado por Matthew Lipman apresenta como objetivo o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Mas, o que é o Programa de Filosofia para Crianças? De acordo com Elias (2005): Em síntese, a Filosofia para Crianças é um programa de Educação para o Pensar, o qual busca desenvolver no âmbito da sala de aula, desde a infância, condições ou instrumentos do pensamento, denominadas habilidades cognitivas, por intermédio do diálogo investigativo, com uma metodologia específica dentro da comunidade de investigação. Tudo isso, para alcançar o que Lipman chama: ‘pensar bem’. Porém, não somente pensar bem sobre o conhecimento científico, mas, também, construir significados culturais avaliando-os, em vez de apenas recebê-los. (p. 16). 27 Através de temas filosóficos estruturados em uma linguagem acessível para crianças, Lipman, vê nas histórias um ponto de partida para iniciação no mundo da Filosofia, segundo o autor: As histórias para as crianças são mercadorias preciosas – bens espirituais. Constituem a espécie de bens de que não despojamos ninguém ao torná-los nossos. As crianças adoram os personagens de ficção das histórias que lêem: apropriam-se deles como amigos – como companheiros semi-imaginários. Dando às crianças histórias de que se apropriar e significados a compartilhar, proporcionamolhes outros mundos em que viver – outros reinos em que habitar (LIPMAN, 1997 apud Elias, 2005, p.14). Essas histórias são denominadas novelas ou romances filosóficos, que são acompanhadas de exercícios e planos de discussão. Estes textos estão relacionados com diversas áreas da Filosofia: Lógica, Ética, Estética, Metafísica, Epistemologia, Filosofia da Ciência e Linguagem, veja o que diz Elias (2005) sobre isso: Denominados novelas ou romances filosóficos, as histórias escritas por Matthew Lipman são acompanhados de exercícios e planos de discussão. Com um suporte metodológico voltado para o desenvolvimento do pensar, os textos, que vêm em forma de narrativa, discorrem sobre as várias áreas da filosofia – lógica, ética, estética, metafísica, epistemologia, filosofia da ciência e linguagem – e se intencionam, conforme anteriormente citado, em cultivar a aquisição das habilidades cognitivas. (p.14). Ainda em sua dissertação Gizele G. Parreira Elias, fala também sobre as novelas filosóficas criadas por Lipman veja: “O entusiasmo criador de Lipman aconteceu em 1969, com a redação do primeiro material de Filosofia para Crianças – o romance para adolescentes, intitulado Harry Stottlemeier’s Discovery”. Outras seis novelas filosóficas faziam parte do programa de Filosofia para Crianças e segundo a autora são elas: Hospital de Bonecos e Geraldo – destinados aos primeiros anos da Educação infantil, ambos trabalham a iniciação aos procedimentos da investigação filosófica; Elfie – destinado à Educação Infantil, 28 trabalha a investigação filosófica em comunidade; Rebeca – destinado à Educação Infantil, trabalha o imaginário infantil; Issao e Guga – destinado às 1ª e 2ª série do Ensino Fundamental, trabalha filosofia da natureza; Pimpa – destinado à 3ª e 4ª séries do Ensino Fundamental, trabalha o significado da linguagem e sua significação; Nous – destinado à 3ª e 4ª séries do Ensino Fundamental, trabalha a formação ética. Luísa – destinado à 8ª série do, trabalha ética e moral; Suki – destinado ao Ensino Médio, trabalha estética; Mark – destinado ao Ensino Médio, trabalha Filosofia social e política. (ELIAS, 2005, p.15). É importante ressaltar que estamos trabalhando com os alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental I, que necessitam de oportunidades para a discussão de temas filosóficos. Esses temas precisam estar ligados com a aprendizagem dos conteúdos escolares e adequados com a idade dos alunos. E qual a intenção de Lipman com a Filosofia nos currículos das escolas? De acordo com ELIAS (2005): Observamos em nossas pesquisas que a intenção de Lipman em implantar a Filosofia nos currículos escolares, visa, além do “pensar melhor”, um objetivo mais amplo, o qual aponta para a construção de uma sociedade onde as pessoas vivam melhor, de modo mais justo e responsável, pensando por si próprios. Por fim, uma sociedade onde as pessoas possam viver como cidadãos autônomos, constituindo uma democracia. (p.17). Portanto, a importância de ensinar Filosofia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental é possibilitar que os alunos desenvolvam a consciência crítica, para o pleno exercício da cidadania. 2.2. Os Objetivos Pretendidos com o Ensino da Filosofia Segundo Marcos Antônio Lorieri8, os objetivos pretendidos com o trabalho da Filosofia, são: 8 Marcos Antônio Lorieri nasceu em 1940. Professor de Filosofia. Membro do Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças. Trabalha com Filosofia para crianças desde o ano de 1985. Autor do Livro: “Filosofia: Fundamentos e Métodos”. 29 Oferecer um espaço curricular específico no qual crianças e jovens possam dialogar investigativamente, com base em questões relativas a certas “temáticas de fundo”, de tal forma que possam pôr sob exame, progressivamente, as referências ou os ideais reguladores que encontram em seu cultural. Oferecer, em tal espaço curricular, possibilidades de desenvolvimento do pensamento reflexivo, crítico, rigoroso, profundo, abrangente e criativo, bem como de atitudes que favoreçam o diálogo investigativo. Possibilitar investigação dialógica, reflexiva, crítica, rigorosa, profunda, abrangente e criativa, a respeito de temáticas concernentes aos ideais reguladores, ou valores, implicados no exercício da cidadania. Oferecer subsídios para o esclarecimento de conceitos básicos, próprios do âmbito da investigação filosófica, que se entrelaçam em todos os demais domínios do conhecimento e os permeiam. Oferecer subsídios para o desenvolvimento, nas crianças e jovens, do “pensar por si próprios”, isto é, do pensamento autônomo, bem como para o desenvolvimento das capacidades que possibilitam escolhas autônomas no âmbito das condutas. (LORIERI, 2002, p. 46 e 47). As competências desenvolvidas com a Filosofia para Crianças, como diz José Auri Cunha em seu livro, está pautadas pelos “ideais de liberdade de pensamento, aumento da potência vital frente ao meio devido ao uso da inteligência, e emancipação do cidadão.” (2002, p.63). Ainda em seu livro, José Auri Cunha diz algo importante: As competências filosóficas tornam-se o objetivo dos currículos de aprendizagem em filosofia. Articulam conceitos e habilidades a serem aprendidas no contexto da investigação, em torno de problemas ou perguntas filosóficas. Os conceitos serão definidos como objetivos temáticos dos currículos, estruturados para cada item escolar. Mas as habilidades para fazer uso dos conceitos aprendidos, ou mesmo para aprendê-los significativamente, são tão importantes quanto eles próprios. Uns sem os outros de nada valem, a não ser como erudição prática, no caso da posse de meras habilidades, ou teórica, no caso de acumulação de conceitos desarticulados de algum fazer. (2002, p. 65). LIPMAN; SHARP e OSCANYAN complementam: “Na medida do possível, deve incentivar o pensamento filosófico a partir dos termos e conceitos da linguagem cotidiana com a qual as crianças se sintam à vontade”. (1997, p. 70). Ao trabalhar paulatinamente com esses objetivos, haverá um melhor entendimento de todas as áreas curriculares, desenvolverá nos alunos a capacidade de dialogar fazendo uma reflexão crítica sobre o assunto em questão e a autonomia do pensar por si próprio, desenvolverá nos alunos também a capacidade de ouvir a 30 opinião dos outros e a importância de respeitar ideias diferentes. A Filosofia uma melhoria na leitura e na escrita dos alunos, possibilitando a capacidade de aprender a aprender outras disciplinas. 31 Capítulo 3 Como Trabalhar os Conteúdos Filosóficos Quando a Filosofia Não é Contemplada como Disciplina no Currículo? A Filosofia no Ensino Médio tem um caráter obrigatório e neste nível de ensino, já possui o apoio do livro didático. Segundo PEDROSO e MALACARNE (2008): A disciplina de Filosofia neste nível de ensino já conta com o apoio do livro didático. Os conteúdos destes livros didáticos tendem a valorizar a prática pedagógica, oportunizando o acesso à cultura, à informação e ao conhecimento, enfim é um material para consulta, estudo, reflexão e formação continuada na socialização dos saberes. (p. 04). E nos anos iniciais do Ensino Fundamental, como os conteúdos filosóficos são trabalhados quando a Filosofia não é contemplada como disciplina currículo? Os valores filosóficos deveriam ser trabalhados através do conjunto das disciplinas, veja o que diz em seu artigo PEDROSO e MALACARNE (2008): No ensino fundamental os valores filosóficos deveriam ser trabalhados através do conjunto das disciplinas, nos textos, nas reflexões sobre a vida, sobre a natureza, sobre o cotidiano, os direitos e deveres, ao abordar questões referentes ao preconceito, a inclusão, a democracia entre outros. (p. 05). Sabemos que o professor precisa incentivar o desenvolvimento do pensamento filosófico, mas como fazer isso? Por meio dos conceitos da linguagem do cotidiano de maneira que os estudantes sintam-se sempre à vontade para perguntar, formular ideias e defendê-las. Sabemos que cada disciplina possui um aspecto acabado e o mesmo acontece com a Filosofia, leia o que diz LIPMAN; SHARP e OSCANYAN (1997) em seu livro: Cada disciplina possui um aspecto acabado – um aspecto em que seus conteúdos são apreendidos e apreciados em si mesmos. Assim, se os valores intrínsecos da arquitetura – o prazer de descobrir as várias configurações possíveis dos volumes no espaço 32 – não fossem ensinados numa disciplina com sua própria integridade, seus valores instrumentais e utilitários estariam prejudicados e teriam menos impacto sobre nossas vidas. O mesmo acontece com o ensino da filosofia. A prática filosófica das crianças pode ter várias formas: o jogo de ideias, às vezes, é casual e espontâneo, e outras vezes estudado e arquitetado. Mas, qualquer que seja a forma específica que sua atividade filosófica possa ter, não incentivá-las a trabalhar com ideias e apreciá-las em si mesmas é ser educacionalmente irresponsável. (p. 71). É importante ressaltar que, as questões filosóficas para crianças não podem ser as mesmas que se fazem para os adultos. Leia o que diz José Auri Cunha em seu livro: As questões filosóficas para crianças não podem ser as mesmas que se fazem para os adultos. Além de serem formuladas no contexto e linguagem infantil, precisam corresponder às habilidades de que as crianças já dispõem. Embora as questões filosóficas sejam as mesmas em qualquer idade, mantendo o contexto de uma determinada cultura, as perguntas em que se formulam não são as mesmas. Aqui também tudo deve acontecer a seu tempo e com o passar dos anos. Os critérios de justiça e verdade, buscados pela boa investigação filosófica, embora gerais e universais, têm sua compreensão e aplicação limitadas pelos variados contextos. (CUNHA, 2002, p. 62). Desta maneira, é importante trabalhar com os conteúdos filosóficos mesmo quando a Filosofia não tem espaço como disciplina nas escolas. O professor precisa estar atento e incentivar o pensar dos estudantes, oferecendo subsídios para isso, ou seja, estimular seus alunos a desenvolver o pensar por meio de leituras de textos filosóficos, discussões e debates sobre a vida, a natureza, o cotidiano, os deveres e os direitos, o preconceito e diversos assuntos que permite atingir uma reflexão aprofundada com argumentos relevantes. 3.1. Como é o Professor que Transmite o Pensar para a Criança? Quando falamos em educação, é muito importante ter em mente qual é o verdadeiro papel do professor. Neste caso, estamos falando do professor que transmite o pensar para a criança, ou seja, o professor que é o mediador do conhecimento, então, Qual é o Perfil de um Professor de Filosofia? 33 Segundo Sílvio Gallo, um professor de filosofia é aquele que, primeiramente, se assume como um filósofo veja o que ele diz: Um professor que faça esse movimento precisa assumir-se, ele mesmo, como filósofo. Como poderá convidar os alunos a fazer o movimento, mediá-los nesse processo, se ele mesmo não o fizer? O professor de filosofia, então, é aquele que faz mediação de uma primeira relação com a filosofia, que instaura um novo começo, para então sair de cena e deixar que os alunos sigam suas próprias trilhas. O professor de filosofia é aquele personagem que, a um só tempo, sabe e ignora; com isso, não explica, mas media a relação dos alunos com os conceitos, saindo de cena em seguida para que a relação com os conceitos seja feita por cada um e por todos. (GALLO, p. 9 – 10). O professor de Filosofia precisa ter em mente quais são os conhecimentos específicos da área de educação e saber dominá-los e articulá-los com os conhecimentos do campo filosófico. Mas, Qual Filosofia o Professor Pode Trabalhar em Sala de Aula? Para Sílvio Gallo, existem inúmeras filosofias e é necessário encontrar-se nessa multiplicidade para fazer sua escolha, veja o que ele diz: Há inúmeras filosofias. A primeira tarefa do futuro professor é saber localizar-se nessa multiplicidade e escolher sua perspectiva. Quando ensinamos filosofia, ensinamos por uma perspectiva. O risco é ensiná-la como se fosse toda a filosofia, ou como se fosse a única filosofia, ou como se fosse a melhor das filosofias. O modo mais seguro de escapar dessa armadilha é ter clareza quanto à perspectiva de filosofia adotada e deixar claro para nossos alunos que nos baseamos nela, sem com isso querermos esgotar um campo filosófico. (GALLO, p. 9). E nas escolas, Qual Filosofia Ensinar para os Alunos? De acordo com Sílvio Gallo: Podemos fazer das aulas de filosofia laboratórios de experiências de pensamento, “oficinas de conceito”. Um ensino ativo da filosofia que 34 coloque os jovens estudantes em contato com a própria atividade filosófica – a criação conceitual -, mais do que com sua história ou com temas dominantes nela. Claro que tudo isso está subentendido e articulado, mas proponho focarmos o ensino no conceito e em sua produção, no ponto de partida do pensamento, isto é, nos problemas que o motivam. (GALLO, p. 9). Então, o professor que transmite o pensar para a criança precisa ter em mente qual é o seu objetivo e a importância do seu trabalho. E quais dificuldades um aluno encontra para aprender Filosofia? Normalmente, as dificuldades que surgem ao estudar Filosofia são: o vocabulário (pois, a filosofia apresenta um amplo repertório conceitual), os textos e os conflitos de ideias. Essas dificuldades podem ser superadas com a ajuda do professor, que auxiliará seus alunos na compreensão da Filosofia. Como dito anteriormente, não é fácil dizer o que é o pensar, mas é necessário ensiná-lo com qualidade. Portanto, o professor de Filosofia é aquele que sabe e ignora, fazendo assim a mediação dos alunos com a Filosofia. 3.2. Os professores da atualidade estão preparados para ensinar Filosofia? Ensinar Filosofia exige diversas habilidades e responsabilidade. Então, é possível confiar a responsabilidade de ensinar Filosofia aos professores da atualidade? De acordo com LIPMAN; SHARP e OSCANYAN (1997): Sem uma formação adequada não se pode confiar aos professores a tarefa de lidar com o rigor da lógica ou com os sensíveis temas da ética ou com a complexidade das questões metafísicas. Isso não quer dizer, no entanto, que os professores não possam ser formados com a finalidade de manejar esses temas apropriadamente no nível em que estão ensinando. (p. 74). É necessário investir na formação intelectual dos professores, para que eles se tornem excelentes professores de filosofia. Os atuais cursos de formação, não conseguem, ainda, preparar os professores para essa tarefa. Leia o que diz 35 LIPMAN; SHARP e OSCANYAN: “Às vezes os professores têm cursos de filosofia da educação. Raramente, têm cursos de lógica ou de filosofia”. (1997, p.74). É possível dizer ainda, que tais cursos não preparam os professores para despertar nas crianças o pensar filosófico de maneira que elas consigam entender: “Um curso universitário de filosofia não prepara o professor para traduzir os conceitos e a terminologia da filosofia de uma maneira que as crianças possam entender”. (LIPMAN; SHARP e OSCANYAN, 1997, p.74). Entretanto, se os professores estiverem formados com as mesmas abordagens didáticas que se supõe utilizar com seus alunos, sua formação não resultará em um fracasso: A não ser que os professores sejam formados através das mesmas abordagens didáticas que se supõe utilizem com seus alunos, sua formação será um fracasso. Se se espera que os professores coordenem um diálogo, devemos lhes dar a oportunidade de participar de diálogos filosóficos e modelar a coordenação de uma discussão de maneira filosófica. Se se espera que os professores consigam fazer com que seus alunos tenham um comportamento questionador, devem ser formados por professores que modelem esse tipo de comportamento nas aulas. Se se espera que os professores ensinem as crianças a raciocinarem, devemos proporcionar-lhes prática no raciocínio que eles mesmos esperam dos seus alunos. (LIPMAN; SHARP e OSCANYAN, 1997, p. 74). Quanto às questões de valor que são importantes para os alunos, é muito difícil elaborar um programa de filosofia para crianças sem ter um componente de educação moral. Sendo assim seu caráter passa a ser como a investigação ética. E o que é investigação ética? A investigação ética implica necessariamente considerações lógicas como consistência e identidade, considerações metafísicas como o conceito de pessoa e de comunidade, considerações estéticas como as relações parte-todo, assim como todo um leque de considerações epistemológicas. (LIPMAN; SHARP e OSCANYAN, 1997, p. 75). Ainda segundo os autores LIPMAN; SHARP e OSCANYAN: 36 Os estudantes não só devem ser incentivados a expressar suas crenças sobre o que acham importante, mas também a discuti-las e analisá-las, levando em conta as razões que têm a favor e contra, até que possam chegar a formar juízos de valor reflexivos que estejam mais solidamente fundados e sejam mais defensíveis que suas preferências originais. (1997, p. 75). É preciso ensinar as crianças a averiguar os critérios que utilizam para selecionar seus próprios critérios. Segundo LIPMAN; SHARP e OSCANYAN: Dar às crianças prática em determinar as bases em que se apóiam para preferir umas razões a outras ao justificarem as crenças morais, treiná-las a reconhecerem as inconsistências nas argumentações e fazê-las ver a relação entre a teoria e a prática são coisas que, provavelmente, têm muito mais valor que submetê-las aos cursos tradicionais de ética que são oferecidos para adultos. (1997, p. 75). Portanto, para um ensino de Filosofia com qualidade, é preciso investir na formação dos professores. É necessário exigir dos professores o mesmo que eles irão exigir dos seus alunos. A formação do professor é o ponto de partida, é o combustível para a sua, futura, metodologia em sala de aula. 37 Capítulo 4 Transformar a Sala de Aula em Laboratório de Pensamentos. No artigo “Profissão Professor” para a revista Discutindo Filosofia [Especial], de Sílvio Gallo, mencionado anteriormente, ele diz: “Podemos fazer das aulas de filosofia laboratórios de experiências de pensamento, “oficinas de conceito”.” (p. 9). Baseando-me nesta citação, optei por discutir a possibilidade de transformar a sala de aula em laboratório de pensamentos. Ao estimular as crianças a pensarem filosoficamente, a sala de aula se transforma em uma comunidade de investigação. Veja o que diz LIPMAN; SHARP e OSCANYAN (1997) em seu livro: Quando as crianças são incentivadas a pensar filosoficamente, a sala de aula se transforma numa comunidade de investigação, a qual possui um compromisso com os procedimentos da investigação, com a busca responsável das técnicas que pressupõem uma abertura para a evidência e para a razão. Pressupõe-se que esses procedimentos da comunidade, quando internalizados, transformamse em hábitos reflexivos do indivíduo. (p.72). Mas, como acontece a construção de uma Comunidade de Investigação? Segundo LIPMAN; SHARP e OSCANYAN (1997): Certas condições estabelecem-se como pré-requisitos essenciais: a prontidão para a razão, o respeito mútuo (das crianças entre si e das crianças e professores entre si) e ausência de doutrinação. Já que essas condições são intrínsecas à própria filosofia, são, por assim dizer, parte da sua verdadeira natureza, não é surpresa que a sala de aula se converta numa comunidade de investigação sempre que servir de palco para estimular, de forma efetiva, a reflexão filosófica das crianças. (p.72). Então, através da Filosofia para Crianças, ocorre uma igualdade da posição do professor e dos estudantes? Não, de acordo com os autores LIPMAN; SHARP e OSCANYAN (1997): 38 Isso não quer dizer que Filosofia para Crianças implique uma igualdade da posição do professor e dos estudantes. Durante a investigação filosófica, assim como num diálogo em sala de aula, presume-se que o professor tenha autoridade no que se refere às técnicas e procedimentos da investigação. É responsabilidade do professor garantir que sejam seguidos os procedimentos apropriados. Mas, em relação ao “toma lá, dá cá” da discussão filosófica, o professor deve estar aberto à variedade de pontos de vista que se manifestam entre os estudantes. (p. 72). Os alunos precisam ser estimulados pelo professor a explicar seus pontos de vista, a exibir suas implicações e fundamentos. Mas, existe alguma coisa que o professor deve evitar? Segundo LIPMAN; SHARP e OSCANYAN (1997): O que o professor deve, seguramente, é evitar qualquer tentativa de direcionar o pensamento das crianças antes que essas tenham tido a chance de ver aonde suas próprias ideias podem conduzir. Manipular a discussão para conseguir que as crianças adotem as convicções pessoais do professor é, igualmente, censurável. (p. 73). O professor precisa ter como compromisso garantir que seus alunos aprendam os meios de se defender no decorrer da discussão filosófica. E quando o diálogo dos alunos não consegue se concretizar o que fazer? Quando o diálogo dos alunos não consegue se materializar, o professor pode se ver obrigado a interferir introduzindo considerações filosóficas relevantes para salvaguardar a integridade da investigação. (LIPMAN; SHARP e OSCANYAN 1997, p. 73). Portanto, a Filosofia na sala de aula, tem uma característica marcante: colocar os alunos em contato com a atividade filosófica. O professor será o mediador que deve estimular seus alunos a desenvolver o pensar através de leituras de textos filosóficos, discussões e debates sobre a vida, a natureza, o cotidiano, os deveres e os direitos. O professor também pode criar um ambiente diferenciado na sala de aula, por exemplo, nas aulas de discussões e debates, o professor pode sugerir que 39 os alunos se organizem em roda; o professor também pode pensar em outros espaços fora da sala de aula que ajudem a motivar os alunos para realizar as atividades filosóficas, ou seja, fica a cargo da criatividade do professor transformar a sala de aula em um verdadeiro espaço para o pensar, para desenvolver as habilidades do escutar, produzir razões para seus argumentos, analisar, interpretar, fazer relações e edificar conceitos. Professor procure sempre ser criativo! 40 Considerações Finais A todo o momento, o ser humano se depara com situações que o leva a fazer perguntas, a pensar, porém, poucos conseguem questionar, refletir com profundidade sobre tais questões. Assim, por meio da Filosofia é possível ensinar para as pessoas como fazer bom uso do diálogo e organizar seus pensamentos, desenvolvendo a consciência crítica. No decorrer desse trabalho, foi possível notar que a proposta do Ensino de Filosofia para Crianças afronta-se com dificuldades. Leia o que diz LIPMAN; SHARP e OSCANYAN em seu livro: Um exemplo é a tensão entre os que estão preocupados em preservar a integridade da filosofia como disciplina, sem levar em conta a idade dos estudantes, e aqueles que acham que o valor da filosofia está no fato de intensificar a dimensão reflexiva do currículo atual. Estes últimos afirmam que é preciso incentivar as crianças a serem mais reflexivas e mais críticas ao abordarem a história, as ciências políticas, as matemáticas, a linguagem, e assim por diante. Portanto, valorizam os méritos instrumentais da filosofia, enquanto outros consideram seu valor intrínseco, insistindo em que deve ser introduzida como uma disciplina separada do currículo oficial. (1997, p. 70). Então, é preciso escolher uma das abordagens citadas acima para ensinar Filosofia? Conforme LIPMAN; SHARP e OSCANYAN: Na realidade, não é preciso escolher um desses dois enfoques, já que não são incompatíveis entre si. Aqueles que ensinam filosofia como uma disciplina específica, notam que é quase inevitável que não incida sobre as outras disciplinas. As crianças que aprendem a ser sistematicamente curiosas e naturalmente reflexivas acabam estendendo esse comportamento ao resto de suas atividades de aprendizagem. Qualquer investigação a respeito das pressuposições de Filosofia para Crianças deveria levar em conta a justificativa de ambas as abordagens. (1997, p. 70). É preciso estimular o pensamento filosófico, conforme já citei, partindo dos conceitos e termos que fazem parte da linguagem cotidiana das crianças. Mas, o que é preciso para que a Filosofia faça parte do currículo? Para LIPMAN; SHARP e OSCANYAN: 41 A filosofia só será admitida no currículo, nas condições atuais, se puder demonstrar aos dirigentes escolares que ela é capaz de introduzir diferenças significativas no desempenho global da criança. Qual o efeito do estudo da filosofia sobre a leitura, o raciocínio, a criatividade? Quais as diferenças, se houver alguma, que produz nas atitudes em relação a si mesmo, em relação à escolaridade e em relação aos colegas? A não ser que possamos demonstrar alguns desses resultados, e a não ser que sejam de substancial importância, não devemos ter ilusões a respeito da disposição das autoridades educacionais em introduzir a filosofia na sala de aula. (1997, p. 71 e 72). Sendo assim, fica o convite a todos os professores para comprovar aos dirigentes da educação, a real importância da Filosofia na sala de aula para os alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Pois, só assim, a Filosofia terá seu espaço. As pesquisas realizadas no decorrer deste trabalho mostram que a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação, do ano de 1996) prevê que o ensino de Filosofia visa à preparação para o exercício pleno da cidadania. Entretanto, segundo CUNHA, 2002: Não leva em conta, que o homem, além de cidadão, pertence à sociedade e suas instituições políticas, é também pessoa, membro de comunidade de valores éticos livremente aceitos e, além disto, organismo vivo submetido às leis de sua espécie, nas circunstâncias ecológicas da história desta. (p. 64). Portanto, o ensino de Filosofia precisa levar em consideração o ser humano e suas necessidades de pensar, refletir, questionar, interpretar e compreender melhor o mundo em que vive. Acredito que é imprescindível que o professor ensine para as crianças a Filosofia, pois por meio dela é possível existir uma sociedade preocupada com os valores e com o pensar. Não se trata de uma tarefa fácil, mas sim de um processo, que já foi iniciado através das propostas do filósofo Matthew Lipman e que agora precisa ser continuado e cabe a cada professor ter esse comprometimento para alcançarmos uma educação de qualidade e uma sociedade consciente. Encerro esse trabalho com a frase de Albert Einstein: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”. Que possamos abrir a nossa 42 mente para a Importância da Filosofia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental para alcançarmos os frutos do pensar. Temos um exemplo a seguir: Matthew Lipman! 43 Referências Bibliográficas ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1986. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 1996. BRASIL. Ministério da Educação. Coleção Explorando o Ensino Filosofia, 2010, volume 14, Brasília, DF. 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