a disciplina de filosofia nos anos iniciais do ensino

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FACULDADE DE AMERICANA
CURSO DE PEDAGOGIA
MARIA CAROLINE DE SOUZA DA SILVA
“A DISCIPLINA DE FILOSOFIA NOS ANOS INICIAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL”
AMERICANA
2015
FACULDADE DE AMERICANA
CURSO DE PEDAGOGIA
MARIA CAROLINE DE SOUZA DA SILVA
“A DISCIPLINA DE FILOSOFIA NOS ANOS INICIAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL”
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado à Faculdade de Americana
(FAM), como requisito parcial para obtenção
do título de licenciatura em Pedagogia.
Orientadora:
Laurindo.
AMERICANA
2015
Profa.
Dra.
Tania
Regina
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca Central da FAM
S581d
Silva, Maria Caroline de Souza da.
A disciplina de filosofia nos anos iniciais do ensino fundamental. / Maria
Caroline de Souza da Silva. -- Americana, 2015.
46f.
Orientador: Tânia Regina Laurindo.
Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) Curso de Pedagogia,
Faculdade de Americana.
1. Educação - Filosofia. 2. Ensino Fundamental. 3. Reflexão - Ensino. I.
Laurindo, Tânia Regina. II. Título.
CDU 37
MARIA CAROLINE DE SOUZA DA SILVA
“A DISCIPLINA DE FILOSOFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL”
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado à Faculdade de Americana
(FAM), como requisito parcial para obtenção
do título de licenciatura em Pedagogia.
Orientadora:
Laurindo.
BANCA EXAMINADORA
PROF. _________________________
ASSINATURA:____________________
Americana, _____/_____/_______
Resultado____________________
Profa.
Dra.
Tania
Regina
Dedico este trabalho a Deus e a minha
família: A minha mãe Silvana, uma mulher
batalhadora. A minha irmã Thaís, minha
grande amiga. Ao meu avô José, meu
herói e um homem de muita fé. Aos
amigos
especiais
compreensão e força.
pelo
carinho,
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, a Deus pelo dom da vida concedido.
Em seguida, a minha família, que sempre esteve presente, me apoiando nessa
jornada.
A alguns amigos, que compartilharam desse momento.
A Faculdade de Americana (FAM), pela oportunidade.
A minha Orientadora deste trabalho, pelo incentivo, dedicação para comigo em
todos os momentos.
Aos professores do Curso de Pedagogia, por todo conhecimento e experiências
compartilhadas.
“O fortalecimento do pensar na criança
deveria ser a principal atividade das
escolas
e
não
somente
uma
consequência casual”. (LIPMAN, 1995 apud
LORIERI, 2002, p. 101).
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo esclarecer o tema escolhido como objeto de estudo
em sua importância. A temática em pauta se preocupa com a disciplina de Filosofia
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, apresentando como problema central, a
ausência da disciplina de Filosofia nos anos iniciais do ensino fundamental na
maioria das escolas. Para tanto, apresento a história da filosofia, a etimologia da
palavra, o que é o processo do filosofar, a filosofia da educação e seus principais
autores. Em seguida, apresentei quando e como a Filosofia se tornou disciplina nas
escolas do Brasil. Analisei a relevância da disciplina de Filosofia nos anos iniciais do
Ensino Fundamental. Na sequência, busquei apresentar respostas para algumas
dessas questões: Como Trabalhar os Conteúdos Filosóficos Quando a Filosofia Não
é Contemplada como Disciplina Escolar? Os Professores Que Existem Atualmente
Estão Preparados Para Ensinar Filosofia? Nas considerações finais, busquei
explicar que o ensino de Filosofia precisa levar em consideração o ser humano e
suas necessidades de pensar, refletir, questionar, interpretar e compreender melhor
o mundo em que vive. Para realização deste trabalho, utilizei pesquisas
bibliográficas pautadas pela reflexão da problematização.
PALAVRAS-CHAVE: Crianças. Educação. Filosofia. Pensar. Reflexão.
ABSTRACT
This work aims to clarify the subject chosen as an object of study in its importance.
The issue in question is concerned with the discipline of philosophy in the early years
of primary school, with a central problem, the lack of discipline of philosophy in the
early years of primary education in most schools. To this end, I present the history of
philosophy, the etymology of the word, which is the process of philosophy,
philosophy of education and its principal authors. Then, when it is presented as
philosophy became nothing discipline schools in Brazil. I analyzed the relevance of
philosophy of discipline in the early years of primary school. In sequence, I sought to
present answers to some of these issues: How to work philosophical content when
philosophy is not contemplated as school discipline? Teachers that there are
currently prepared to teach philosophy? In closing remarks sought to explain the
philosophy of education needs to consider the human being is his need to think,
reflect, question and better interpret the world in which he lives. For this work I used
bibliographical research guided by reflection questioning.
KEYWORDS: Children. Education. Philosophy. To Think. Reflection.
Lista de Ilustrações
Quadro 1 – Principais Autores da Filosofia da Educação
18
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 13
Filosofia: A Origem da Palavra .............................................................................. 13
1.1.
A História da Filosofia .................................................................................. 13
1.2.
O Processo do Filosofar ............................................................................... 15
1.3.
Filosofia da Educação .................................................................................. 16
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 19
Quando e Como a Filosofia Se Torna Disciplina Nas Escolas Do Brasil? ............. 19
2.1. Por que Ensinar Filosofia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental? ............ 24
2.2. Os Objetivos Pretendidos com o Ensino da Filosofia ...................................... 28
CAPÍTULO 3 ............................................................................................................. 31
Como Trabalhar os Conteúdos Filosóficos Quando a Filosofia Não é Contemplada
como Disciplina no Currículo? ............................................................................... 31
3.1. Como é o Professor que Transmite o Pensar para a Criança? ....................... 32
3.2. Os professores da atualidade estão preparados para ensinar Filosofia? ....... 34
CAPÍTULO 4 ............................................................................................................. 37
Transformar a Sala de Aula em Laboratório de Pensamentos. ............................. 37
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 43
11
Introdução
Desde o início dos tempos a educação é foco de discussão de vários
estudiosos que visam uma melhor qualidade do ensino – aprendizagem.
Contribuindo para essa melhoria, surge a disciplina de Filosofia, a qual precisa ser
trabalhada desde a mais tenra idade.
Nesse sentido, a proposta deste trabalho é conhecer, discutir e refletir a
importância da disciplina de Filosofia nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Sabemos que o verdadeiro valor dessa disciplina não foi contemplado na educação
brasileira como deveria ter sido. Entretanto, acredito na importância da Filosofia para
a formação do ser humano.
A relevância social da disciplina de Filosofia nos anos iniciais do Ensino
Fundamental I é possibilitar o desenvolvimento da consciência crítica. A
fundamentação deste trabalho foi por meio de pesquisas bibliográficas. Como
referência teórica utilizei autores como: o filósofo e educador Matthew Lipman
(reconhecido como fundador do Programa de Filosofia para Crianças); Maria Lúcia
de Arruda Aranha; Marcos Antônio Lorieri; Silvio Gallo; entre outros. Durante o
trabalho, citarei o termo Crianças para designar os alunos dos anos iniciais do
Ensino Fundamental I.
No primeiro capítulo, apresentarei a história da filosofia, a etimologia da
palavra, o que é o processo do filosofar, a filosofia da educação e os principais
autores da filosofia da educação. No segundo capítulo, apresentarei como e quando
a filosofia se tornou disciplina nas escolas do Brasil, discutirei o porquê ensinar
Filosofia nos anos iniciais do ensino fundamental e quais são os objetivos
pretendidos com o ensino da Filosofia.
No terceiro capítulo, busquei compreender como trabalhar os conteúdos
filosóficos quando a filosofia não é contemplada como disciplina no currículo. Para
isso, pesquisei como é o professor que transmite o pensar para a criança e levantei
uma crítica para saber se os professores que existem atualmente estão preparados
para ensinar filosofia. No último capítulo, pesquisei como transformar a sala de aula
em laboratório de pensamentos.
12
Finalizo este trabalho, explicando que o ensino de Filosofia precisa levar em
consideração o ser humano e suas necessidades de pensar, refletir, questionar,
interpretar e compreender melhor o mundo em que vive.
13
CAPÍTULO 1
Filosofia: A Origem da Palavra
Originária do grego, Filosofia significa “amor à sabedoria”. Philo (aquele ou
aquela que tem um sentimento amigável, amizade e amor fraterno); Sophia
(sabedoria). Então, podemos dizer que o filósofo é o amigo do saber.
De acordo com o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, o conceito de
filosofia é: “Estudo que visa a ampliar incessantemente a compreensão da realidade, no
sentido de apreendê-la na sua inteireza. Razão; Sabedoria.” (2001, p.322). Chauí
apresenta a seguinte definição de filosofia:
Além de análise, reflexão e crítica, a Filosofia é a busca do
fundamento e do sentido da realidade em suas múltiplas formas
indagando o que são, qual sua permanência e qual a necessidade
interna que as transforma em outras. O que é ser e o aparecer –
desaparecer dos seres (CHAUÍ, 1994 apud LORIERI, 2002, p.167).
Os gregos antigos, inicialmente, tinham uma consciência mítica (um bom
exemplo disso foram os poemas de Homero e Hesíodo). Ao ocorrer à transição do
mundo mítico para a consciência racional, surgiram os primeiros sábios, sendo um
deles, Pitágoras que utilizou pela primeira vez a palavra Filosofia. Vale lembrar que,
a Filosofia é a busca amorosa da verdade.
1.1.
A História da Filosofia
No século VI A.C., na Grécia, nasceu a Filosofia. Sabe-se que esse saber não se
iniciou propriamente na Grécia Continental, mas em suas colônias, conhecidas como
Jônia e a Magna Grécia. Somente no século VII A.C., a Filosofia desloca-se para
Atenas. Aranha e Martins apresentam a seguinte colocação sobre o nascimento da
Filosofia:
14
“A filosofia é filha da Cidade”. A grande aventura intelectual não
começa propriamente na Grécia continental, mas nas colônias
gregas: na Jônia (metade sul da costa ocidental da Ásia menor) e na
Magna Grécia (sul da Península itálica e Sicília). (ARANHA;
MARTINS, 1986, p.35-36).
Sabe-se que os primeiros filósofos são conhecidos como pré-socráticos1. Seus
escritos desapareceram ao longo do tempo o que restou foram alguns fragmentos e
referências citadas por filósofos seguintes. O que sabemos é que normalmente
escreviam em prosa, abandonando a forma poética dos relatos míticos.
Os primeiros filósofos preocuparam-se com a elaboração de uma Cosmologia2,
que visava procurar a racionalidade do universo, afastando-se de uma Cosmogonia3.
Eles buscavam respostas para algumas dessas perguntas: Como surgiu o mundo
ordenado? Qual seria o princípio de todas as coisas? Assim, os pré-socráticos
procuravam o fundamento do ser, ou seja, o elemento que constituía todas as
coisas.
As respostas obtidas foram as mais variadas possíveis, por exemplo, o filósofo
Tales descobre que o fundamento que pode ser a razão para explicar essa
multiplicidade é a água; Anaxímenes é o ar; Demócrito é o átomo; Empédocles terra,
água, ar e fogo. Desta maneira, é possível notar que existem diferenças entre os
pensamentos dos filósofos a respeito do princípio de todas as coisas.
De acordo com Aranha:
A filosofia nascente rejeitava as interpretações místicas que,
baseadas no sobrenatural, aceitavam a interferência de agentes
divinos nos fenômenos da natureza. Ao buscarem a racionalidade do
universo, os filósofos dessacralizam a natureza, isto é, retiram dela a
dimensão do sagrado. A filosofia surge, então, como um pensamento
reflexivo que busca a definição rigorosa dos conceitos, a coerência
1
A divisão da filosofia grega se centraliza na figura de Sócrates. Portanto, Pré-Socráticos são os
primeiros filósofos.
2
Cosmologia: (logos, “estudo”, “razão”): parte da filosofia que estuda o mundo, a natureza; parte da
metafísica que se ocupa da essência da matéria.
3
Origem e formação do mundo; referente aos mitos da criação do mundo.
15
interna do discurso, a fim de possibilitar o debate e a discussão.
(ARANHA, 1996, p. 105).
Portanto, por meio da filosofia, é possível reunir o pensamento fragmentado e
compreender o universo das especializações. Através da reflexão filosófica, o
homem atinge uma dimensão além daquela que lhe foi concedido pelo imediatismo.
A filosofia também possibilita uma reflexão crítica, impedindo o não questionamento.
1.2.
O Processo do Filosofar
Somos seres racionais e sensíveis que estamos sempre atribuindo significado às
coisas, ou seja, não necessitamos de ser filósofos qualificados para nos ocuparmos
com reflexões filosóficas. O filosofar espontâneo do ser humano é chamado de
“Filosofia de Vida”, que nada mais é do que uma forma do pensamento não
tematizado e não colocado em discussão ainda, mas que permite ao homem
escolher seus caminhos, fazer uso do bom senso.
Um bom exemplo dessa filosofia de vida seria: quando deixamos um emprego
bem pago por outro não tão bem remunerado, porém mais atraente, com mais
benefícios estamos fazendo uma escolha baseado nas necessidades, oportunidades
daquele momento. Desta maneira, a filosofia apresenta condições de surgir na
ocasião em que esse pensar é posto em discussão e que irá tornar-se uma reflexão,
por exemplo, um psicólogo que aborda o conceito de homem livre, indagar sobre
que é a liberdade é fazer filosofia.
A palavra Reflexão é originária do verbo latino Reflectere, que significa: voltar
atrás. De acordo com o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, o significado da
palavra Reflexão é: “Ato ou efeito de refletir (-se). Volta da consciência, do espírito, sobre
si mesmo, para exame de seu próprio conteúdo.” (2001, p. 590).
Também no dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, o significado da palavra
Filosofar é: “Raciocinar sobre assuntos filosóficos. Raciocinar tirando induções. Meditar.
Argumentar, discutir com sutileza.” (2001, p. 322). Ou seja, é possível notar uma
semelhança entre a palavra Reflexão e Filosofar. Ambas possuem no seu
16
significado o voltar atrás, o retomar o pensamento e todo pensamento aprofundado,
ou melhor, questionado é a condição necessária para o surgimento da filosofia.
Para uma reflexão ser filosófica, ela precisa ser Radical, Rigorosa e de Conjunto.
De acordo com Dermeval Saviani:
Radical: Em primeiro lugar, exige-se que o problema seja colocado
em termos radicais, entendida esta palavra no seu sentido mais
próprio e imediato. Quer dizer, é preciso que se vá até as raízes da
questão, até seus fundamentos. Em outras palavras, exige-se que se
opere uma reflexão em profundidade. Rigorosa: Em segundo lugar e
como que para garantir a primeira exigência, deve-se proceder com
rigor, ou seja, criticamente, segundo métodos determinados,
colocando-se em questão as conclusões da sabedoria popular e as
generalizações que a ciência pode ensejar. De conjunto: Em terceiro
lugar, o problema não pode ser examinado de modo parcial, mas
numa perspectiva de conjunto, relacionando-se o aspecto em
questão com os demais aspectos do contexto em que está inserido.
É neste ponto que a filosofia se distingue da ciência de um modo
mais marcante. (SAVIANI, 1973 apud ARANHA; MARTINS, 1986,
p.47).
É preciso compreender que a maneira pela qual a reflexão filosófica se faz
rigorosa varia de acordo com cada filósofo e com as tendências históricas da
situação vivenciada pelos homens na sua ação sobre o mundo.
1.3.
Filosofia da Educação
A filosofia é uma das formas de conhecimento, que trabalha sobre certas
questões, utilizando uma maneira própria de abordá-las, com respostas que nunca
se finalizam, pois são continuamente questionadas. Leia o que diz Japiassu:
As grandes interrogações que os filósofos do passado fizeram
permanecem no presente: os homens de hoje continuam a se
colocar problemas sobre eles mesmos, sobre a vida, sobre a
sociedade, sobre a cultura, sobre o transcendente, etc., que
constituem verdadeiros desafios à nossa atividade reflexiva
(JAPIASSU, 1997 apud LORIERI, 2002, p.36).
17
Um nome muito importante na Filosofia é o de Sócrates. Ele foi o primeiro
filósofo que pensou sobre a educação, sabemos disso não através dele próprio, pois
ele nunca escreveu nada, mas por meio de seus discípulos, entre eles Platão e
Xenofonte. Desta maneira, muitos consideram Platão como o pioneiro em se pensar
a Educação, veja o que diz Piletti:
Platão (427-347 a.C.), discípulo de Sócrates, teve muita influência
sobre a educação grega. De acordo com a sua doutrina, a educação
consiste na atividade que cada homem desenvolve para conquistar
as ideias e viver de acordo com elas. O conhecimento não vem de
fora para o homem, mas é um esforço da alma para apoderar-se da
verdade. Enquanto Sócrates afirmava que todos têm a capacidade
para adquirir conhecimentos, Platão afirmava que apenas algumas
pessoas possuem tal capacidade. O fim da educação para Platão é a
formação moral do homem e o meio para atingi-la é o Estado, na
medida em que ele representa a ideia de justiça. (PILETTI, 1990,
p.131).
Desta maneira, é possível conceituar a Filosofia da Educação como uma
reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre as questões que a realidade
educacional apresenta. Sua origem ocorre na Grécia Antiga, pois alguns pensadores
“pensaram” sobre a educação, sobre a Paidéia4. A filosofia da educação se ocupa
dessas perguntas: O homem precisa ser educado? Pode ser educado? O que é
educação?
A seguir, em um quadro, apresento alguns pensadores da educação e suas
principais ideias, com a finalidade de melhor compreender como cada um pensou a
educação.
4
Palavra originária do grego antigo, utilizado para referir à noção de educação.
18
Quadro 1
Principais Autores da Filosofia da Educação
Autores
Ideias Principais.
Jean-Jacques Rousseau,
filósofo, social e político
franco-suíço.
O pensador suíço pregava o
retorno à natureza e o
respeito
ao
desenvolvimento cognitivo e
físico da criança.
Para ele, os sentimentos
despertavam o processo de
aprendizagem das crianças.
A escola deveria ser uma
extensão do lar, oferecendo
segurança e afeto.
O papel do professor é
formar
cidadãos
que
contribuam para a harmonia
social.
A democracia e a liberdade
de pensamento tornam-se
instrumentos
para
a
manutenção emocional e
intelectual das crianças.
Segundo ela, o potencial de
aprender está em cada um
de nós.
As crianças aprendem o
mundo com base em uma
visão de todo. Escola
centrada no aluno.
As crianças também têm
corpo e emoções na sala de
aula.
Favoreceu
o
desenvolvimento da Escola
Nova e o Cognitivismo de
Piaget.
O
desenvolvimento
cognitivo
ocorre
pela
interação social.
O conhecimento provém
das descobertas que as
crianças fazem.
Desenvolveu
atividades
como: aulas-passeio, jornal
da classe.
Executou medidas para
democratizar o ensino.
O objetivo da escola é
ensinar a ler o mundo.
As crianças são capazes de
trabalhar com ideias.
Johann Heinrich
Pestalozzi, educador suíço.
Émile Durkheim, teórico
social francês.
John Dewey, filósofo e
pedagogo norte-americano.
Maria Montessori, médica
e educadora.
Ovide Decroly, médico e
educador belga.
Henri Wallon, médico,
psicólogo e filósofo francês.
Édouard Claparède,
médico psicólogo suíço,
nascido em Genebra.
Lev Semenovich
Vygotsky
Jean Piaget, matemático,
biólogo, filósofo, psicólogo e
pedagogo suíço.
Celéstin Freinet, educador
francês.
Anísio Teixeira, educador
brasileiro.
Paulo Freire, educador
brasileiro.
Matthew Lipman, filósofo.
Nasceu em:
Faleceu em:

1712
+ 1778

1746
+ 1827

1858
+ 1917

1859
+ 1952

1870
+ 1952

1871
+ 1932

1872
+ 1962

1873
+ 1940

1896
+ 1934

1896
+ 1980

1896
+ 1966

1900
+ 1971

1921
+ 1997

1922
+ 2010
19
Capítulo 2
Quando e Como a Filosofia Se Torna Disciplina Nas Escolas Do Brasil?
O ensino da Filosofia no Brasil iniciou-se com a chegada dos jesuítas, no século
XVI, em 1553, veja o que diz Mazai e Ribas (2001):
O ensino de Filosofia aportou, em nosso país, com os religiosos da
Companhia de Jesus, no século XVI (1553). Foram eles que
exerceram maior influência na primeira fase da História da Educação
no Brasil. Os jesuítas eram os responsáveis pela educação e
catequese dos povos das colônias procurando sempre propagar e
fortalecer a fé cristã. (p.02).
Neste período, a filosofia era constituída como assimilação “registro, comentário,
eco de escolas e correntes estrangeiras” (COSTA, 1967 apud MAZAI; RIBAS, 2001,
p.03). Com a expulsão dos jesuítas, a filosofia começa a visar resultados da ciência
aplicada. Por volta dos anos de 1838 no Brasil, a Filosofia passa a ser obrigatória,
continua retórica e enclicopédica:
Em 1838, a Filosofia passa a ser obrigatória e continua arbitrária,
retórica e enciclopédica. “... nas províncias, a Filosofia já era incluída
obrigatoriamente no currículo dos liceus e dos ginásios do curso
secundário, desde o início do século...” (CARTOLANO, 1985, p.28
apud MAZAI; RIBAS, 2001, p.05).
No século XIX, a Filosofia é marcada pelo setor econômico:
“... companhias anônimas, comerciais e industriais, o Banco do
Brasil transforma-se em banco de emissão, inaugura-se a linha do
telégrafo elétrico e finalmente abre-se ao tráfego a Estrada Central
do Brasil” (CARTOLANO, 1985, p.29 apud MAZAI; RIBAS, 2001,
p.05-06).
Em 1870, a corrente filosófica positivista5 teve grande repercussão no ensino
brasileiro:
5
Positivismo: Filosofia de Augusto Comte (século XIX), que considera o estado positivo (o que é
real, baseado nos fatos) o último e mais perfeito estado atingido pela humanidade. Cientificismo.
20
Entre as correntes filosóficas em ascensão, nas últimas décadas do
século XIX, por volta de 1870, o Positivismo foi a que mais
repercussão teve no seio do pensamento brasileiro e na educação
que aqui se ministrava. A razão fundamental desse fato radica-se na
preexistente tradição cientificista que se iniciou com as reformas
pombalinas, à luz das quais se estruturou todo o sistema de ensino
superior, em bases que privilegiavam a ciência aplicada e a instrução
estritamente profissional. (MAZAI; RIBAS, 2001, p.06).
Em 15 de Julho de 1908, foi fundada a Faculdade Livre de Filosofia e Letras,
cujo primeiro diretor foi Dom Miguel Kruse, abade do Mosteiro São Bento6. Já o
período de 1914 é marcado pelo amor a terra e as coisas nacionais:
A partir de 1914, com a primeira grande Guerra, acentuou-se o amor
à terra e às coisas tipicamente nacionais o que até então não se
pensava, pois as portas estavam sempre escancaradas a todas as
ideias provenientes de fora. É nesse momento que outras
modalidades do pensamento europeu representado no Brasil entram
a concorrer mais seriamente, com a até então relevante Filosofia de
Augusto Comte. É a Sociologia que, aos poucos, toma conta do meio
cultural. Começam a surgir obras e trabalhos que revelam
preocupações sociológicas. (MAZAI; RIBAS, 2001, p.08).
Em 1915, uma nova reforma educacional, apresentou a Filosofia como
disciplina facultativa por meio do decreto n°11.530, assim, reaparece a disciplina de
Filosofia nos currículos, mas não exercendo completamente o seu papel, de acordo
com Mazai e Ribas (2001):
Em 1915, a nova reforma educacional, com o decreto n° 11.530,
colocou a Filosofia como disciplina facultativa. Ressurgiu, então a
disciplina de “Filosofia” nos currículos, embora não exercesse ainda
o seu verdadeiro papel. Essa reforma surgiu num ambiente de
mudanças políticas, econômicas e sociais. Mesmo assim a Filosofia
despertava pouco ou nenhum interesse, pois, a ciência e as
pesquisas, em moda na Europa, eram incompreensíveis e de
6
Faculdade de São Bento, localizada no Largo de São Bento, centro de São Paulo, junto ao Mosteiro
de São Bento.
21
nenhuma importância no Brasil, já que havia uma ciência a combater.
(p.09)
Em 1930 e 1942, ocorreram duas reformas que provocou uma mudança na
educação do ensino médio no Brasil:
A partir do ano de 1930, houve mais duas reformas que despertaram
uma mudança na educação do Ensino Médio brasileiro. A primeira se
deu em 1931 e determinava que a educação visasse, não somente à
matrícula nos cursos superiores, mas também, à formação do
homem para todos os setores da vida, isto é, uma formação integral
que lhe possibilitasse tomar decisões claras e seguras em qualquer
situação de sua existência. A segunda de 1942, decreto n°4.244,
intitulada Lei Orgânica do Ensino Secundário, dividiu o ensino em
dois ciclos: o ginásio que era cursado em quatro anos e o colegial em
três. Ainda o colegial subdividia-se em científico e clássico. O
científico visava ao ensino das ciências, já o clássico, por sua vez,
previa uma carga horária de quatro horas semanais para a Filosofia.
Seria a formação intelectual. (MAZAI; RIBAS, 2001, p.09).
No ano de 1961, com a edição da primeira LDB (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional), Lei n°4024, a Filosofia foi sugerida como disciplina
complementar perdendo sua obrigatoriedade, segundo Cesar (2012):
Em 1961, a sanção do presidente João Goulart introduziu uma
inovação, pois representava certo grau de descentralização do
ensino, já que as escolas podiam optar entre vários currículos, era
permitido anexar disciplinas optativas ao currículo mínimo proposto
pelo Conselho Nacional de Educação. A disciplina de filosofia era
indicada como complementar, apenas para o segundo ciclo. Quanto
às disciplinas optativas, havia a lógica e a dialética. O campo de
atuação da filosofia veio a ser cada vez mais limitado, tanto que pela
lei nº 4024/61, a disciplina tornou-se optativa. (p.6).
Ainda sobre a Lei n°4024, veja o que diz o Artigo 35: “(Art. 35) Em cada ciclo
haverá disciplinas e práticas educativas, obrigatórias e optativas”. Observe também o
22
Artigo 44 da mesma lei: “(Art. 44) O ensino secundário admite variedade de currículos,
segundo as matérias optativas que forem preferidas pelos estabelecimentos”.
Em 1964, devido ao golpe militar, a Filosofia foi banida dos currículos nas
escolas do Brasil.
Em 1964 acontece o golpe político militar, que abriu novo espaço
para a penetração norte-americana em nossa economia e política. A
intervenção norte-americana visava à modernização tecnológica e
burocrática da sociedade brasileira e a educação estava
marcadamente a serviço dos interesses econômicos, havia agora
uma concepção empresarialista de educação. Paulatinamente a
disciplina de filosofia foi se extinguindo do currículo da escola
secundária, pois não atendia aos objetivos tecnicistas da nova
organização de ensino. Filosofia, psicologia e sociologia foram
expulsas do currículo; história e geografia foram integradas,
tornando-se os estudos sociais. (CESAR, 2012, p.6).
O objetivo não era formar cidadãos conscientes e críticos, assim, a filosofia
aos poucos vai desaparecendo:
“O ensino de filosofia não atendendo a essas solicitações
tecnoburocráticas e político-ideológicas, já não servia aos objetivos
das reformas que se pretendiam instituir na estrutura do ensino
brasileiro. A sua extinção como disciplina, já optativa no currículo, em
1968, foi pensadamente preparada através de uma série de leis e
decretos, pareceres e resoluções do Conselho Federal de Educação
e do Conselho Estadual de São Paulo, que, neste caso,
centralizavam as decisões da área educacional.” (CARTOLANO,
1985, P.72 apud MAZAI; RIBAS, 2001, p.10).
Em 1971, a Filosofia é retirada dos currículos, com a Lei n°5692.
A LDB nº 5692/ 71 reorganizou o ensino de 1º e 2º graus (antigo
primário, ginásio e colégio). Voltada para as necessidades da época
atual, eminentemente tecnológica, esta lei propunha uma educação
profissionalizante. A filosofia não fez parte do núcleo comum do
currículo de 1º e 2º graus, dando lugar às disciplinas “educação
moral e cívica” e “organização social e política do Brasil”. (CESAR,
2012, p.6).
23
No Artigo 07 da Lei n°5692, de 11 de Agosto de 1971, torna-se obrigatório a
disciplina de Educação Moral e Cívica e outras disciplinas de interesse deste
período. A partir de 1986, a Filosofia volta a ter inclusão recomendada nos
currículos.
Com a nova LDB Lei n° 9394, de 20 de Dezembro de 1996 no Art.36°, § 1°, III,
espera-se que ao final do ensino médio o educando demonstre: “domínio dos
conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania”,
entretanto, a filosofia ainda não aparece como disciplina escolar. Se observarmos o
Art.35°, inciso III, é possível notar a importância da Filosofia bem como, sua
finalidade, veja o que está escrito na Lei: “o aprimoramento do educando como pessoa
humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico”.
Com a Lei 11.684/08 artigo 36 da LDB fica estabelecida a
obrigatoriedade da inserção da filosofia e da sociologia nos currículos do Ensino
Médio.
Em 1999 com os Parâmetros Curriculares Nacionais (são a referência básica
para a elaboração das matrizes de referência, servem para orientar os professores
na busca de novas abordagens e metodologias), é recomendado que a disciplina de
Filosofia apenas complementasse os temas transversais dos PCNs. Nos PCNs, a
Filosofia é recomendada apenas como conteúdo e não disciplina, ou seja, a filosofia
é trabalhada através dos temas transversais. O PCN do Ensino Médio em seu Art.
10°, § 2°, b, diz que as escolas devem assegurar tratamento interdisciplinar e
contextualizado para os: “Conhecimentos de Filosofia e Sociologia necessários ao
exercício da cidadania”.
O ensino da filosofia está previsto na Lei. A Lei n° 9394/96, estabelece que é
papel da educação preparar o aluno para exercer a cidadania e ser qualificado para
o mercado de trabalho. Em seu artigo 26, é ressaltado que:
Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base
nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino
e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da
economia e da clientela. (BRASIL, 1996 apud MOREIRA; CRUZ,
2013, p. 15).
24
Ou seja, favorecer a formação crítica e humanística está previsto na LDB.
Portanto, os currículos precisam estar de acordo com a União e contemplar as
Diretrizes do Estado e Município a qual pertence. Isso quer dizer que, cabe às
escolas decidir incluir no seu currículo, o ensino da disciplina de filosofia respeitando
o que é previsto pela Lei.
É importante ressaltar que, o município de Americana/SP estabeleceu as
disciplinas de sociologia e filosofia na grade curricular nas unidades de ensino
fundamental pertencentes à rede municipal de ensino, por meio da Lei n° 3593, de
01 de Novembro de 2001, entretanto, essas disciplinas só são ministradas nos
últimos anos do ensino fundamental II e ensino médio, veja o que está previsto na
Lei n° 3593/01 no Art. 3° Parágrafo Único: “As disciplinas serão ministradas nas últimas
séries do segundo ciclo do ensino fundamental e nas últimas séries do ensino médio,
quando houver, na Rede Municipal de Ensino de Americana”.
2.1. Por que Ensinar Filosofia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental?
A relevância social da disciplina de Filosofia nos anos iniciais do Ensino
Fundamental será a de transformar o pensar do estudante, permitindo que este
desenvolva a criticidade. Ao desenvolver a reflexão crítica, o ser humano consegue
construir os seus valores, exercendo melhor sua cidadania. É importante ressaltar
que, a criticidade não é exclusiva da disciplina de Filosofia, leia o que diz Silvio
Gallo:
A criticidade não é exclusiva da filosofia e não pode ser creditada
exclusivamente a ela. Ou as demais disciplinas também são
formadoras da consciência crítica ou esta formação é impossível. E o
mesmo raciocínio é válido para a interdisciplinaridade. (GALLO,
2010, p. 159).
25
Matthew Lipman7 é um dos filósofos da atualidade que propõe e defende um
trabalho com Filosofia para crianças e jovens. Ele justifica esse trabalho através da
investigação dialógica dessa maneira:
A justificativa mais ampla apóia-se no modo pelo qual
paradigmaticamente representa a educação do futuro como uma
forma de vida que não foi ainda percebida e como um tipo de práxis.
A reforma da educação tem de ter a investigação filosófica
compartilhada na sala de aula como um modelo heurístico (LIPMAN,
1990 apud LORIERI, 2002, p.81).
O modelo heurístico está relacionado com a pesquisa ou investigação. A
filosofia desenvolve o pensar. Não é e nunca foi fácil dizer o que é pensar. Sem
dúvida, é algo que todos fazemos e precisamos fazer. Hannah Arendt em seu livro
“A vida do espírito”, fala sobre o pensar:
O pensamento acompanha a vida e é ele mesmo a quintessência
desmaterializada do estar vivo. E uma vez que a vida é um processo,
sua quintessência só pode residir no processo real do pensamento, e
não quaisquer resultados sólidos ou pensamentos específicos. Uma
vida sem pensamento é totalmente possível, mas ela fracassa em
fazer desabrochar sua própria essência – ela não é apenas sem
sentido; ela não é totalmente viva. Homens que não pensam são
como sonâmbulos (ARENDT, 1995 apud LORIERI, 2002, p.92).
Ou seja, o pensar é primordial para a vida humana. A filosofia possibilita o
desenvolvimento do pensamento crítico, que ajuda a criança ir além da aparência
do seu próprio pensamento, ou seja, a criança confere seu próprio pensamento
para identificar possíveis falhas:
Pensamento crítico é aquele pensamento capaz de por em crise
seus‘achados’. Achamos muito, mas sabemos pouco. Isso ocorre,
em grande parte, porque não nos damos o trabalho de ‘checar
melhor’, por em crise, problematizar, o que pensamos. Para ser
7
Matthew Lipman (1922-2010), Filósofo norte americano, reconhecido como fundador do Programa
de Filosofia para Crianças.
26
críticos, [...] é necessário sermos reflexivos: temos de ser capazes e
habituados a ‘re-ver’ nossos pensamentos. Só rever, porém, não
basta: é preciso rever de maneira crítica (LORIERI, 2002 apud
ELIAS, 2005, p.81).
Existe também o pensamento criativo:
O pensamento criativo [...] busca alternativas tanto às respostas já
disponíveis que venhamos a conhecer por informações quanto às
respostas produzidas por nós mesmos. Se chego a alguma
conclusão, mesmo julgando bem fundamentada em argumentos
sólidos, posso propor-me pensar em conclusões alternativas e em
argumentos para elas. Posso, também, pensar em levantar os
problemas com formulações diferentes, experimentando, a partir daí,
novas hipóteses e, então, experimentar novos argumentos (LORIERI,
2002 apud ELIAS, 2005, p.81).
Ao enfatizar a importância da Filosofia para crianças, Lipman destaca a
busca constante por compreensão e produção de significados:
As crianças deveriam adquirir a prática em discutir os conceitos que
elas consideram importantes. Fazer com que discutam assuntos que
lhes são indiferentes priva-as dos prazeres intrínsecos de se
tornarem educadas e abastece a sociedade com futuros cidadãos
que nem discutem o que lhes interessa nem se interessam pelo que
discutem (LIPMAN, 1990 apud ELIAS, 2005, p.18).
O programa de Filosofia para Crianças criado por Matthew Lipman apresenta
como objetivo o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Mas, o que é o
Programa de Filosofia para Crianças? De acordo com Elias (2005):
Em síntese, a Filosofia para Crianças é um programa de Educação
para o Pensar, o qual busca desenvolver no âmbito da sala de aula,
desde a infância, condições ou instrumentos do pensamento,
denominadas habilidades cognitivas, por intermédio do diálogo
investigativo, com uma metodologia específica dentro da comunidade
de investigação. Tudo isso, para alcançar o que Lipman chama:
‘pensar bem’. Porém, não somente pensar bem sobre o
conhecimento científico, mas, também, construir significados
culturais avaliando-os, em vez de apenas recebê-los. (p. 16).
27
Através de temas filosóficos estruturados em uma linguagem acessível para
crianças, Lipman, vê nas histórias um ponto de partida para iniciação no mundo da
Filosofia, segundo o autor:
As histórias para as crianças são mercadorias preciosas – bens
espirituais. Constituem a espécie de bens de que não despojamos
ninguém ao torná-los nossos. As crianças adoram os personagens
de ficção das histórias que lêem: apropriam-se deles como amigos –
como companheiros semi-imaginários. Dando às crianças histórias
de que se apropriar e significados a compartilhar, proporcionamolhes outros mundos em que viver – outros reinos em que habitar
(LIPMAN, 1997 apud Elias, 2005, p.14).
Essas histórias são denominadas novelas ou romances filosóficos, que são
acompanhadas de exercícios e planos de discussão. Estes textos estão
relacionados com diversas áreas da Filosofia: Lógica, Ética, Estética, Metafísica,
Epistemologia, Filosofia da Ciência e Linguagem, veja o que diz Elias (2005) sobre
isso:
Denominados novelas ou romances filosóficos, as histórias escritas
por Matthew Lipman são acompanhados de exercícios e planos de
discussão. Com um suporte metodológico voltado para o
desenvolvimento do pensar, os textos, que vêm em forma de
narrativa, discorrem sobre as várias áreas da filosofia – lógica, ética,
estética, metafísica, epistemologia, filosofia da ciência e linguagem –
e se intencionam, conforme anteriormente citado, em cultivar a
aquisição das habilidades cognitivas. (p.14).
Ainda em sua dissertação Gizele G. Parreira Elias, fala também sobre as
novelas filosóficas criadas por Lipman veja: “O entusiasmo criador de Lipman aconteceu
em 1969, com a redação do primeiro material de Filosofia para Crianças – o romance para
adolescentes, intitulado Harry Stottlemeier’s Discovery”. Outras seis novelas filosóficas
faziam parte do programa de Filosofia para Crianças e segundo a autora são elas:
Hospital de Bonecos e Geraldo – destinados aos primeiros anos da
Educação infantil, ambos trabalham a iniciação aos procedimentos
da investigação filosófica; Elfie – destinado à Educação Infantil,
28
trabalha a investigação filosófica em comunidade; Rebeca –
destinado à Educação Infantil, trabalha o imaginário infantil; Issao e
Guga – destinado às 1ª e 2ª série do Ensino Fundamental, trabalha
filosofia da natureza; Pimpa – destinado à 3ª e 4ª séries do Ensino
Fundamental, trabalha o significado da linguagem e sua significação;
Nous – destinado à 3ª e 4ª séries do Ensino Fundamental, trabalha a
formação ética. Luísa – destinado à 8ª série do, trabalha ética e
moral; Suki – destinado ao Ensino Médio, trabalha estética; Mark –
destinado ao Ensino Médio, trabalha Filosofia social e política.
(ELIAS, 2005, p.15).
É importante ressaltar que estamos trabalhando com os alunos dos anos
iniciais do Ensino Fundamental I, que necessitam de oportunidades para a
discussão de temas filosóficos. Esses temas precisam estar ligados com a
aprendizagem dos conteúdos escolares e adequados com a idade dos alunos.
E qual a intenção de Lipman com a Filosofia nos currículos das escolas? De
acordo com ELIAS (2005):
Observamos em nossas pesquisas que a intenção de Lipman em
implantar a Filosofia nos currículos escolares, visa, além do “pensar
melhor”, um objetivo mais amplo, o qual aponta para a construção de
uma sociedade onde as pessoas vivam melhor, de modo mais justo e
responsável, pensando por si próprios. Por fim, uma sociedade onde
as pessoas possam viver como cidadãos autônomos, constituindo
uma democracia. (p.17).
Portanto, a importância de ensinar Filosofia nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental é possibilitar que os alunos desenvolvam a consciência crítica, para o
pleno exercício da cidadania.
2.2. Os Objetivos Pretendidos com o Ensino da Filosofia
Segundo Marcos Antônio Lorieri8, os objetivos pretendidos com o trabalho da
Filosofia, são:
8
Marcos Antônio Lorieri nasceu em 1940. Professor de Filosofia. Membro do Centro Brasileiro de
Filosofia para Crianças. Trabalha com Filosofia para crianças desde o ano de 1985. Autor do Livro:
“Filosofia: Fundamentos e Métodos”.
29
Oferecer um espaço curricular específico no qual crianças e jovens
possam dialogar investigativamente, com base em questões relativas
a certas “temáticas de fundo”, de tal forma que possam pôr sob
exame, progressivamente, as referências ou os ideais reguladores
que encontram em seu cultural. Oferecer, em tal espaço curricular,
possibilidades de desenvolvimento do pensamento reflexivo, crítico,
rigoroso, profundo, abrangente e criativo, bem como de atitudes que
favoreçam o diálogo investigativo. Possibilitar investigação dialógica,
reflexiva, crítica, rigorosa, profunda, abrangente e criativa, a respeito
de temáticas concernentes aos ideais reguladores, ou valores,
implicados no exercício da cidadania. Oferecer subsídios para o
esclarecimento de conceitos básicos, próprios do âmbito da
investigação filosófica, que se entrelaçam em todos os demais
domínios do conhecimento e os permeiam. Oferecer subsídios para o
desenvolvimento, nas crianças e jovens, do “pensar por si próprios”,
isto é, do pensamento autônomo, bem como para o desenvolvimento
das capacidades que possibilitam escolhas autônomas no âmbito
das condutas. (LORIERI, 2002, p. 46 e 47).
As competências desenvolvidas com a Filosofia para Crianças, como diz José
Auri Cunha em seu livro, está pautadas pelos “ideais de liberdade de pensamento,
aumento da potência vital frente ao meio devido ao uso da inteligência, e emancipação do
cidadão.” (2002, p.63). Ainda em seu livro, José Auri Cunha diz algo importante:
As competências filosóficas tornam-se o objetivo dos currículos de
aprendizagem em filosofia. Articulam conceitos e habilidades a
serem aprendidas no contexto da investigação, em torno de
problemas ou perguntas filosóficas. Os conceitos serão definidos
como objetivos temáticos dos currículos, estruturados para cada item
escolar. Mas as habilidades para fazer uso dos conceitos aprendidos,
ou mesmo para aprendê-los significativamente, são tão importantes
quanto eles próprios. Uns sem os outros de nada valem, a não ser
como erudição prática, no caso da posse de meras habilidades, ou
teórica, no caso de acumulação de conceitos desarticulados de
algum fazer. (2002, p. 65).
LIPMAN; SHARP e OSCANYAN complementam: “Na medida do possível, deve
incentivar o pensamento filosófico a partir dos termos e conceitos da linguagem cotidiana
com a qual as crianças se sintam à vontade”. (1997, p. 70).
Ao trabalhar paulatinamente com esses objetivos, haverá um melhor
entendimento de todas as áreas curriculares, desenvolverá nos alunos a capacidade
de dialogar fazendo uma reflexão crítica sobre o assunto em questão e a autonomia
do pensar por si próprio, desenvolverá nos alunos também a capacidade de ouvir a
30
opinião dos outros e a importância de respeitar ideias diferentes. A Filosofia uma
melhoria na leitura e na escrita dos alunos, possibilitando a capacidade de aprender
a aprender outras disciplinas.
31
Capítulo 3
Como Trabalhar os Conteúdos Filosóficos Quando a Filosofia Não é
Contemplada como Disciplina no Currículo?
A Filosofia no Ensino Médio tem um caráter obrigatório e neste nível de
ensino, já possui o apoio do livro didático. Segundo PEDROSO e MALACARNE
(2008):
A disciplina de Filosofia neste nível de ensino já conta com o apoio
do livro didático. Os conteúdos destes livros didáticos tendem a
valorizar a prática pedagógica, oportunizando o acesso à cultura, à
informação e ao conhecimento, enfim é um material para consulta,
estudo, reflexão e formação continuada na socialização dos saberes.
(p. 04).
E nos anos iniciais do Ensino Fundamental, como os conteúdos filosóficos
são trabalhados quando a Filosofia não é contemplada como disciplina currículo? Os
valores filosóficos deveriam ser trabalhados através do conjunto das disciplinas, veja
o que diz em seu artigo PEDROSO e MALACARNE (2008):
No ensino fundamental os valores filosóficos deveriam ser
trabalhados através do conjunto das disciplinas, nos textos, nas
reflexões sobre a vida, sobre a natureza, sobre o cotidiano, os
direitos e deveres, ao abordar questões referentes ao preconceito, a
inclusão, a democracia entre outros. (p. 05).
Sabemos que o professor precisa incentivar o desenvolvimento do
pensamento filosófico, mas como fazer isso? Por meio dos conceitos da linguagem
do cotidiano de maneira que os estudantes sintam-se sempre à vontade para
perguntar, formular ideias e defendê-las. Sabemos que cada disciplina possui um
aspecto acabado e o mesmo acontece com a Filosofia, leia o que diz LIPMAN;
SHARP e OSCANYAN (1997) em seu livro:
Cada disciplina possui um aspecto acabado – um aspecto em que
seus conteúdos são apreendidos e apreciados em si mesmos.
Assim, se os valores intrínsecos da arquitetura – o prazer de
descobrir as várias configurações possíveis dos volumes no espaço
32
– não fossem ensinados numa disciplina com sua própria
integridade, seus valores instrumentais e utilitários estariam
prejudicados e teriam menos impacto sobre nossas vidas. O mesmo
acontece com o ensino da filosofia. A prática filosófica das crianças
pode ter várias formas: o jogo de ideias, às vezes, é casual e
espontâneo, e outras vezes estudado e arquitetado. Mas, qualquer
que seja a forma específica que sua atividade filosófica possa ter,
não incentivá-las a trabalhar com ideias e apreciá-las em si mesmas
é ser educacionalmente irresponsável. (p. 71).
É importante ressaltar que, as questões filosóficas para crianças não podem
ser as mesmas que se fazem para os adultos. Leia o que diz José Auri Cunha em
seu livro:
As questões filosóficas para crianças não podem ser as mesmas que
se fazem para os adultos. Além de serem formuladas no contexto e
linguagem infantil, precisam corresponder às habilidades de que as
crianças já dispõem. Embora as questões filosóficas sejam as
mesmas em qualquer idade, mantendo o contexto de uma
determinada cultura, as perguntas em que se formulam não são as
mesmas. Aqui também tudo deve acontecer a seu tempo e com o
passar dos anos. Os critérios de justiça e verdade, buscados pela
boa investigação filosófica, embora gerais e universais, têm sua
compreensão e aplicação limitadas pelos variados contextos.
(CUNHA, 2002, p. 62).
Desta maneira, é importante trabalhar com os conteúdos filosóficos mesmo
quando a Filosofia não tem espaço como disciplina nas escolas. O professor precisa
estar atento e incentivar o pensar dos estudantes, oferecendo subsídios para isso,
ou seja, estimular seus alunos a desenvolver o pensar por meio de leituras de textos
filosóficos, discussões e debates sobre a vida, a natureza, o cotidiano, os deveres e
os direitos, o preconceito e diversos assuntos que permite atingir uma reflexão
aprofundada com argumentos relevantes.
3.1. Como é o Professor que Transmite o Pensar para a Criança?
Quando falamos em educação, é muito importante ter em mente qual é o
verdadeiro papel do professor. Neste caso, estamos falando do professor que
transmite o pensar para a criança, ou seja, o professor que é o mediador do
conhecimento, então, Qual é o Perfil de um Professor de Filosofia?
33
Segundo Sílvio Gallo, um professor de filosofia é aquele que, primeiramente,
se assume como um filósofo veja o que ele diz:
Um professor que faça esse movimento precisa assumir-se, ele
mesmo, como filósofo. Como poderá convidar os alunos a fazer o
movimento, mediá-los nesse processo, se ele mesmo não o fizer? O
professor de filosofia, então, é aquele que faz mediação de uma
primeira relação com a filosofia, que instaura um novo começo, para
então sair de cena e deixar que os alunos sigam suas próprias
trilhas. O professor de filosofia é aquele personagem que, a um só
tempo, sabe e ignora; com isso, não explica, mas media a relação
dos alunos com os conceitos, saindo de cena em seguida para que a
relação com os conceitos seja feita por cada um e por todos.
(GALLO, p. 9 – 10).
O professor de Filosofia precisa ter em mente quais são os conhecimentos
específicos da área de educação e saber dominá-los e articulá-los com os
conhecimentos do campo filosófico. Mas, Qual Filosofia o Professor Pode Trabalhar
em Sala de Aula?
Para Sílvio Gallo, existem inúmeras filosofias e é necessário encontrar-se
nessa multiplicidade para fazer sua escolha, veja o que ele diz:
Há inúmeras filosofias. A primeira tarefa do futuro professor é saber
localizar-se nessa multiplicidade e escolher sua perspectiva. Quando
ensinamos filosofia, ensinamos por uma perspectiva. O risco é
ensiná-la como se fosse toda a filosofia, ou como se fosse a única
filosofia, ou como se fosse a melhor das filosofias. O modo mais
seguro de escapar dessa armadilha é ter clareza quanto à
perspectiva de filosofia adotada e deixar claro para nossos alunos
que nos baseamos nela, sem com isso querermos esgotar um campo
filosófico. (GALLO, p. 9).
E nas escolas, Qual Filosofia Ensinar para os Alunos? De acordo com Sílvio
Gallo:
Podemos fazer das aulas de filosofia laboratórios de experiências de
pensamento, “oficinas de conceito”. Um ensino ativo da filosofia que
34
coloque os jovens estudantes em contato com a própria atividade
filosófica – a criação conceitual -, mais do que com sua história ou
com temas dominantes nela. Claro que tudo isso está subentendido
e articulado, mas proponho focarmos o ensino no conceito e em sua
produção, no ponto de partida do pensamento, isto é, nos problemas
que o motivam. (GALLO, p. 9).
Então, o professor que transmite o pensar para a criança precisa ter em
mente qual é o seu objetivo e a importância do seu trabalho. E quais dificuldades um
aluno encontra para aprender Filosofia? Normalmente, as dificuldades que surgem
ao estudar Filosofia são: o vocabulário (pois, a filosofia apresenta um amplo
repertório conceitual), os textos e os conflitos de ideias. Essas dificuldades podem
ser superadas com a ajuda do professor, que auxiliará seus alunos na compreensão
da Filosofia.
Como dito anteriormente, não é fácil dizer o que é o pensar, mas é necessário
ensiná-lo com qualidade. Portanto, o professor de Filosofia é aquele que sabe e
ignora, fazendo assim a mediação dos alunos com a Filosofia.
3.2. Os professores da atualidade estão preparados para ensinar Filosofia?
Ensinar Filosofia exige diversas habilidades e responsabilidade. Então, é
possível confiar a responsabilidade de ensinar Filosofia aos professores da
atualidade? De acordo com LIPMAN; SHARP e OSCANYAN (1997):
Sem uma formação adequada não se pode confiar aos professores a
tarefa de lidar com o rigor da lógica ou com os sensíveis temas da
ética ou com a complexidade das questões metafísicas. Isso não
quer dizer, no entanto, que os professores não possam ser formados
com a finalidade de manejar esses temas apropriadamente no nível
em que estão ensinando. (p. 74).
É necessário investir na formação intelectual dos professores, para que eles
se tornem excelentes professores de filosofia. Os atuais cursos de formação, não
conseguem, ainda, preparar os professores para essa tarefa. Leia o que diz
35
LIPMAN; SHARP e OSCANYAN: “Às vezes os professores têm cursos de filosofia da
educação. Raramente, têm cursos de lógica ou de filosofia”. (1997, p.74).
É possível dizer ainda, que tais cursos não preparam os professores para
despertar nas crianças o pensar filosófico de maneira que elas consigam entender:
“Um curso universitário de filosofia não prepara o professor para traduzir os conceitos e a
terminologia da filosofia de uma maneira que as crianças possam entender”. (LIPMAN;
SHARP e OSCANYAN, 1997, p.74). Entretanto, se os professores estiverem
formados com as mesmas abordagens didáticas que se supõe utilizar com seus
alunos, sua formação não resultará em um fracasso:
A não ser que os professores sejam formados através das mesmas
abordagens didáticas que se supõe utilizem com seus alunos, sua
formação será um fracasso. Se se espera que os professores
coordenem um diálogo, devemos lhes dar a oportunidade de
participar de diálogos filosóficos e modelar a coordenação de uma
discussão de maneira filosófica. Se se espera que os professores
consigam fazer com que seus alunos tenham um comportamento
questionador, devem ser formados por professores que modelem
esse tipo de comportamento nas aulas. Se se espera que os
professores ensinem as crianças a raciocinarem, devemos
proporcionar-lhes prática no raciocínio que eles mesmos esperam
dos seus alunos. (LIPMAN; SHARP e OSCANYAN, 1997, p. 74).
Quanto às questões de valor que são importantes para os alunos, é muito
difícil elaborar um programa de filosofia para crianças sem ter um componente de
educação moral. Sendo assim seu caráter passa a ser como a investigação ética. E
o que é investigação ética?
A investigação ética implica necessariamente considerações lógicas
como consistência e identidade, considerações metafísicas como o
conceito de pessoa e de comunidade, considerações estéticas como
as relações parte-todo, assim como todo um leque de considerações
epistemológicas. (LIPMAN; SHARP e OSCANYAN, 1997, p. 75).
Ainda segundo os autores LIPMAN; SHARP e OSCANYAN:
36
Os estudantes não só devem ser incentivados a expressar suas
crenças sobre o que acham importante, mas também a discuti-las e
analisá-las, levando em conta as razões que têm a favor e contra, até
que possam chegar a formar juízos de valor reflexivos que estejam
mais solidamente fundados e sejam mais defensíveis que suas
preferências originais. (1997, p. 75).
É preciso ensinar as crianças a averiguar os critérios que utilizam para
selecionar seus próprios critérios. Segundo LIPMAN; SHARP e OSCANYAN:
Dar às crianças prática em determinar as bases em que se apóiam
para preferir umas razões a outras ao justificarem as crenças morais,
treiná-las a reconhecerem as inconsistências nas argumentações e
fazê-las ver a relação entre a teoria e a prática são coisas que,
provavelmente, têm muito mais valor que submetê-las aos cursos
tradicionais de ética que são oferecidos para adultos. (1997, p. 75).
Portanto, para um ensino de Filosofia com qualidade, é preciso investir na
formação dos professores. É necessário exigir dos professores o mesmo que eles
irão exigir dos seus alunos. A formação do professor é o ponto de partida, é o
combustível para a sua, futura, metodologia em sala de aula.
37
Capítulo 4
Transformar a Sala de Aula em Laboratório de Pensamentos.
No artigo “Profissão Professor” para a revista Discutindo Filosofia [Especial],
de Sílvio Gallo, mencionado anteriormente, ele diz: “Podemos fazer das aulas de
filosofia laboratórios de experiências de pensamento, “oficinas de conceito”.” (p. 9).
Baseando-me nesta citação, optei por discutir a possibilidade de transformar a sala
de aula em laboratório de pensamentos.
Ao estimular as crianças a pensarem filosoficamente, a sala de aula se
transforma em uma comunidade de investigação. Veja o que diz LIPMAN; SHARP e
OSCANYAN (1997) em seu livro:
Quando as crianças são incentivadas a pensar filosoficamente, a
sala de aula se transforma numa comunidade de investigação, a qual
possui um compromisso com os procedimentos da investigação, com
a busca responsável das técnicas que pressupõem uma abertura
para a evidência e para a razão. Pressupõe-se que esses
procedimentos da comunidade, quando internalizados, transformamse em hábitos reflexivos do indivíduo. (p.72).
Mas, como acontece a construção de uma Comunidade de Investigação?
Segundo LIPMAN; SHARP e OSCANYAN (1997):
Certas condições estabelecem-se como pré-requisitos essenciais: a
prontidão para a razão, o respeito mútuo (das crianças entre si e das
crianças e professores entre si) e ausência de doutrinação. Já que
essas condições são intrínsecas à própria filosofia, são, por assim
dizer, parte da sua verdadeira natureza, não é surpresa que a sala
de aula se converta numa comunidade de investigação sempre que
servir de palco para estimular, de forma efetiva, a reflexão filosófica
das crianças. (p.72).
Então, através da Filosofia para Crianças, ocorre uma igualdade da posição
do professor e dos estudantes? Não, de acordo com os autores LIPMAN; SHARP e
OSCANYAN (1997):
38
Isso não quer dizer que Filosofia para Crianças implique uma
igualdade da posição do professor e dos estudantes. Durante a
investigação filosófica, assim como num diálogo em sala de aula,
presume-se que o professor tenha autoridade no que se refere às
técnicas e procedimentos da investigação. É responsabilidade do
professor garantir que sejam seguidos os procedimentos
apropriados. Mas, em relação ao “toma lá, dá cá” da discussão
filosófica, o professor deve estar aberto à variedade de pontos de
vista que se manifestam entre os estudantes. (p. 72).
Os alunos precisam ser estimulados pelo professor a explicar seus pontos de
vista, a exibir suas implicações e fundamentos. Mas, existe alguma coisa que o
professor deve evitar? Segundo LIPMAN; SHARP e OSCANYAN (1997):
O que o professor deve, seguramente, é evitar qualquer tentativa de
direcionar o pensamento das crianças antes que essas tenham tido a
chance de ver aonde suas próprias ideias podem conduzir. Manipular
a discussão para conseguir que as crianças adotem as convicções
pessoais do professor é, igualmente, censurável. (p. 73).
O professor precisa ter como compromisso garantir que seus alunos
aprendam os meios de se defender no decorrer da discussão filosófica. E quando o
diálogo dos alunos não consegue se concretizar o que fazer?
Quando o diálogo dos alunos não consegue se materializar, o
professor pode se ver obrigado a interferir introduzindo
considerações filosóficas relevantes para salvaguardar a integridade
da investigação. (LIPMAN; SHARP e OSCANYAN 1997, p. 73).
Portanto, a Filosofia na sala de aula, tem uma característica marcante:
colocar os alunos em contato com a atividade filosófica. O professor será o mediador
que deve estimular seus alunos a desenvolver o pensar através de leituras de textos
filosóficos, discussões e debates sobre a vida, a natureza, o cotidiano, os deveres e
os direitos. O professor também pode criar um ambiente diferenciado na sala de
aula, por exemplo, nas aulas de discussões e debates, o professor pode sugerir que
39
os alunos se organizem em roda; o professor também pode pensar em outros
espaços fora da sala de aula que ajudem a motivar os alunos para realizar as
atividades filosóficas, ou seja, fica a cargo da criatividade do professor transformar a
sala de aula em um verdadeiro espaço para o pensar, para desenvolver as
habilidades do escutar, produzir razões para seus argumentos, analisar, interpretar,
fazer relações e edificar conceitos. Professor procure sempre ser criativo!
40
Considerações Finais
A todo o momento, o ser humano se depara com situações que o leva a fazer
perguntas,
a
pensar,
porém,
poucos conseguem
questionar,
refletir
com
profundidade sobre tais questões. Assim, por meio da Filosofia é possível ensinar
para as pessoas como fazer bom uso do diálogo e organizar seus pensamentos,
desenvolvendo a consciência crítica.
No decorrer desse trabalho, foi possível notar que a proposta do Ensino de
Filosofia para Crianças afronta-se com dificuldades. Leia o que diz LIPMAN; SHARP
e OSCANYAN em seu livro:
Um exemplo é a tensão entre os que estão preocupados em
preservar a integridade da filosofia como disciplina, sem levar em
conta a idade dos estudantes, e aqueles que acham que o valor da
filosofia está no fato de intensificar a dimensão reflexiva do currículo
atual. Estes últimos afirmam que é preciso incentivar as crianças a
serem mais reflexivas e mais críticas ao abordarem a história, as
ciências políticas, as matemáticas, a linguagem, e assim por diante.
Portanto, valorizam os méritos instrumentais da filosofia, enquanto
outros consideram seu valor intrínseco, insistindo em que deve ser
introduzida como uma disciplina separada do currículo oficial. (1997,
p. 70).
Então, é preciso escolher uma das abordagens citadas acima para ensinar
Filosofia? Conforme LIPMAN; SHARP e OSCANYAN:
Na realidade, não é preciso escolher um desses dois enfoques, já
que não são incompatíveis entre si. Aqueles que ensinam filosofia
como uma disciplina específica, notam que é quase inevitável que
não incida sobre as outras disciplinas. As crianças que aprendem a
ser sistematicamente curiosas e naturalmente reflexivas acabam
estendendo esse comportamento ao resto de suas atividades de
aprendizagem. Qualquer investigação a respeito das pressuposições
de Filosofia para Crianças deveria levar em conta a justificativa de
ambas as abordagens. (1997, p. 70).
É preciso estimular o pensamento filosófico, conforme já citei, partindo dos
conceitos e termos que fazem parte da linguagem cotidiana das crianças. Mas, o
que é preciso para que a Filosofia faça parte do currículo?
Para LIPMAN; SHARP e OSCANYAN:
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A filosofia só será admitida no currículo, nas condições atuais, se
puder demonstrar aos dirigentes escolares que ela é capaz de
introduzir diferenças significativas no desempenho global da criança.
Qual o efeito do estudo da filosofia sobre a leitura, o raciocínio, a
criatividade? Quais as diferenças, se houver alguma, que produz nas
atitudes em relação a si mesmo, em relação à escolaridade e em
relação aos colegas? A não ser que possamos demonstrar alguns
desses resultados, e a não ser que sejam de substancial importância,
não devemos ter ilusões a respeito da disposição das autoridades
educacionais em introduzir a filosofia na sala de aula. (1997, p. 71 e
72).
Sendo assim, fica o convite a todos os professores para comprovar aos
dirigentes da educação, a real importância da Filosofia na sala de aula para os
alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Pois, só assim, a Filosofia terá seu
espaço.
As pesquisas realizadas no decorrer deste trabalho mostram que a LDB (Lei
de Diretrizes e Bases da Educação, do ano de 1996) prevê que o ensino de Filosofia
visa à preparação para o exercício pleno da cidadania. Entretanto, segundo CUNHA,
2002:
Não leva em conta, que o homem, além de cidadão, pertence à
sociedade e suas instituições políticas, é também pessoa, membro
de comunidade de valores éticos livremente aceitos e, além disto,
organismo vivo submetido às leis de sua espécie, nas circunstâncias
ecológicas da história desta. (p. 64).
Portanto, o ensino de Filosofia precisa levar em consideração o ser humano e
suas necessidades de pensar, refletir, questionar, interpretar e compreender melhor
o mundo em que vive. Acredito que é imprescindível que o professor ensine para as
crianças a Filosofia, pois por meio dela é possível existir uma sociedade preocupada
com os valores e com o pensar. Não se trata de uma tarefa fácil, mas sim de um
processo, que já foi iniciado através das propostas do filósofo Matthew Lipman e que
agora precisa ser continuado e cabe a cada professor ter esse comprometimento
para alcançarmos uma educação de qualidade e uma sociedade consciente.
Encerro esse trabalho com a frase de Albert Einstein: “A mente que se abre a
uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”. Que possamos abrir a nossa
42
mente para a Importância da Filosofia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental para
alcançarmos os frutos do pensar. Temos um exemplo a seguir: Matthew Lipman!
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