O trabalho com conhecimentos linguísticos em livros

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 25 – Texto e gramática em livros didácticos de Língua Portuguea.
O trabalho com conhecimentos linguísticos em livros didáticos de LP analisados no
PNLD 20101
Janice Helena Chaves MARINHO2
RESUMO
Neste trabalho propõe-se apresentar uma análise das atividades voltadas para a
exploração dos conhecimentos linguísticos presentes em livros didáticos de Língua
Portuguesa do Ensino Fundamental analisados no Programa Nacional do Livro Didático
2010 (PNLD).
O PNLD é um programa que faz parte das políticas públicas do Brasil que visam
melhorar os níveis de desempenho dos alunos brasileiros. No PNLD 2010 foram
analisados livros voltados para o 3o, 4o e 5o ano do ensino fundamental.
São investigados os conteúdos encontrados nesses livros, bem como a metodologia de
ensino neles predominante. Considera-se (1) se a análise da língua em cada coleção é
autônoma ou está integrada ao ensino-aprendizagem de leitura e produção de textos, (2)
como é proposta a análise da língua nas coleções, se por meio de atividades
predominantemente epilinguísticas ou metalinguísticas, (3) como os conhecimentos
linguísticos são abordados, se de forma predominantemente descritiva ou prescritiva e
(4) como é o tratamento dado aos conhecimentos linguísticos, se contribui ou não para
uma reflexão sobre o uso da língua.
PALAVRAS-CHAVE: conhecimentos linguísticos, gramática, livro didático, PNLD.
Introdução
Apresento neste artigo uma análise do trabalho com os conhecimentos
linguísticos proposto em livros didáticos de língua portuguesa inscritos no PNLD 20103,
1
Agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG, pelo auxílio
financeiro concedido para a apresentação deste trabalho no II SIMELP.
2
Univ. Federal de Minas Gerais (UFMG), Faculdade de Letras/Letras. Av. Antônio Carlos, 6627,
Pampulha. Belo Horizonte/Minhas Gerais, Brasil.31.270-901. [email protected]
3
O PNLD, Programa Nacional do Livro Didático, é um programa do Ministério da Educação do Brasil
que visa melhorar os níveis de desempenho dos alunos brasileiros.
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em que se analisaram livros voltados para o 3o, 4o e 5o ano do ensino fundamental e se
aprovaram 24 coleções.
Os livros didáticos (LDs) merecem ser objeto de investigação sob todos os
aspectos, devido a seu importante papel na escola, pois contribuem seja para a
“delimitação da proposta pedagógica a ser trabalhada em sala de aula, seja como
material de apoio ao encaminhamento das atividades de ensino-aprendizagem, seja
como suporte (único ou suplementar) disponível de textos de leitura para professores e
alunos” (COSTA VAL & MARCUSCHI, 2005, p.8).
Neste trabalho, no entanto, focalizo as seções e atividades presentes nos livros
que são mais voltadas para o estudo da língua e da gramática. O objetivo é analisar as
atividades de exploração dos conhecimentos linguísticos nos LDs, verificando se elas
contribuem para a reflexão sobre a língua e a gramática ou se continuam privilegiando a
transmissão de conteúdos gramaticais numa perspectiva ainda tradicional.
O trabalho com a gramática foi por muito tempo majoritário nos LDs, mas,
como mostra Rojo (2003) ao examinar LDs de Língua Portuguesa avaliados no PNLD
2002, a grande maioria propõe um trabalho com os conhecimentos linguísticos de forma
transmissiva e recorrendo à metalinguagem. Uma minoria recorre a procedimentos
epilinguísticos e reflexivos, ressalta a autora, que vê esses resultados como
contraditórios, já que os referenciais dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),
tomados como base pelos LDs, tratam da “importância de um trabalho reflexivo e
construtivista de análise e reflexão sobre a linguagem, como o mais indicado para a
construção dos conhecimentos linguísticos” (p.97). É também isso que aponta Bräkling
(2003, p.219), ao analisar as propostas de ensino de gramática em LDs inscritos no
PNLD 2002, quando afirma que “os LDs continuam difundindo e propondo um ensino
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tradicional conservador no que se refere aos conhecimentos linguísticos”. Segundo esta
autora, são predominantes nesses livros as atividades de exploração metalinguística, que
priorizam a memorização, e predomina neles também a orientação para a transmissão
dos conteúdos gramaticais.
Em relação aos LDs inscritos no PNLD 2004, Costa Val e Castanheira (2005),
buscando delinear o perfil das obras, constataram a permanência da tradição gramatical
nas coleções e a baixa frequência de atividades voltadas para o uso da língua. Poucas
são as atividades voltadas para o texto e o discurso e é também muito baixo o percentual
de obras que tratam do fenômeno da variação linguística, que é inclusive enfatizado nos
PCNs. Como mostram as autoras, a maioria das coleções inscritas no PNLD 2004
“abordam de maneira tradicional os conhecimentos gramaticais, não enfocam a
diversidade linguística e privilegiam atividades de escrita”. (p.153). Apesar disso, a
análise desses LDs evidenciou que 12% das coleções de língua portuguesa apresentam
“boas propostas de um trabalho reflexivo, voltado para o uso da língua, articulando
conhecimentos linguísticos com os textos falados e escritos” (p.153).
Neste artigo exponho uma análise de atividades voltadas para a exploração dos
conhecimentos linguísticos presentes nas coleções de Língua Portuguesa aprovadas no
PNLD 2010, considerando as seções propostas para o estudo da língua e da gramática.
Objetivo analisar como os conhecimentos linguísticos são trabalhados, pautando-me em
questões expostas no item a seguir.
Análise geral do trabalho com os conhecimentos linguísticos
Desenvolvo inicialmente uma análise geral das 24 coleções aprovadas no PNLD
2010, guiando-me pelas seguintes questões:
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a) Como é a análise da língua na coleção?
b) Qual é a abordagem predominante na análise da língua?
c) Como os conteúdos são trabalhados?
d) Qual é a orientação metodológica na abordagem dos conhecimentos
linguísticos?
Como expõe Soares (1999), a aplicação dos estudos linguísticos ao ensino da
língua materna a partir dos anos de 1980 levou a uma mudança nas concepções de
língua e linguagem que reconfiguram o objeto de ensino-aprendizagem. Uma diferente
concepção de língua, “reconhecida como “enunciação”, como “discurso”, isto é, como
forma de interlocução (“inter-locução”)” (p.61), passa a orientar o ensino. E assim,
passa a ser a função da escola, particularmente no ensino da língua materna, “além de
aperfeiçoar as habilidades já adquiridas de produção de diferentes gêneros textuais
orais, levar à aquisição e ao desenvolvimento das habilidades de produção de textos
escritos, de diferentes gêneros e veiculados por meio de diferentes portadores” (p.69).
Dessa mudança de concepção de língua e linguagem resulta uma mudança no
seu ensino, voltado para o uso da língua falada e escrita para a comunicação e a
interação. Espera-se que o ensino da língua esteja integrado ao ensino-aprendizagem de
leitura e produção de textos, tanto escritos quanto orais, já que, de forma autônoma e
desarticulada desses eixos, dificilmente se pode permitir a expansão dos conhecimentos
do aluno e conduzi-lo a um trabalho de reflexão sobre a língua e seu funcionamento
para a comunicação e a interação.
A análise geral das coleções aprovadas no PNLD 2010 quanto à maneira como o
trabalho com os conhecimentos linguísticos é feito evidencia que a grande maioria
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propõe a abordagem desses conhecimentos de forma articulada ao ensino-aprendizagem
de leitura e produção de textos4.
Apenas três coleções apresentam propostas de análise da língua de forma
autônoma e sem articulação com as atividades desenvolvidas no estudo dos textos. Elas
trazem seções cujas atividades não se integram majoritariamente com as de leitura e/ou
produção de textos. Nessas coleções, tende-se a privilegiar conceitos gramaticais,
nomenclaturas e regras e a utilizar textos como pretextos para o seu ensino. O conteúdo
abordado é inicialmente apresentado pela terminologia gramatical correspondente, e em
seguida, o aluno é levado a observar os fatos para, no final, receber o conceito
envolvido ou a regra. Nesse caso, a análise dos conteúdos gramaticais tende a repetir o
ensino tradicional, que se dá de maneira transmissiva, orientado pela metalinguagem e
objetivando o reconhecimento e a classificação. A dimensão textual e comunicativa da
língua fica desconsidera nesse tipo de análise.
Em 21 coleções, os conhecimentos linguísticos são abordados de forma
relacionada ao trabalho com textos. Nelas é explorado, por exemplo, o funcionamento
de palavras e expressões no texto estudado. Em oito delas, o ensino da gramática parte
dos textos lidos nas unidades. Em treze, a análise parte de textos que são selecionados
justamente porque apresentam o aspecto linguístico que é estudado. Estão presentes
nessas coleções atividades que propõem a observação e a análise do objeto para depois
explicitarem o conceito ou a regra pertinentes a esse objeto ou conduzirem o aluno a
construir o conceito ou a regra pertinentes. Embora algumas dessas coleções tragam
4
Os dados aqui expostos foram obtidos com a análise das Resenhas e das Fichas Consolidadas das 24
coleções, produzidas para o PNLD 2010.
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atividades de classificação desse objeto, tendem a privilegiar o seu funcionamento no
texto estudado.
Das 24 coleções, 22 contêm seções destinadas aos estudos gramaticais. Os
conteúdos mais trabalhados nessas seções são os tradicionais, como classes de palavras;
flexão e formação de palavras; frase e oração; sujeito e predicado; semântica (sinônimos
e antônimos, efeitos de sentido); figura de linguagem (onomatopeia); concordância
verbal e nominal; coesão (substituição pronominal, conexão); discurso direto e indireto.
Dentre essas 21 coleções, 11 apresentam também seções voltadas para o estudo
do funcionamento dos recursos linguísticos nos textos e gêneros trabalhados. Nelas
costumam ser explorados os recursos coesivos na construção do texto, a relação entre a
fala e a escrita, a variação linguística, bem como os efeitos de sentido obtidos com o uso
de recursos linguísticos.
Duas das 24 coleções não trazem uma seção específica para o trabalho com os
conhecimentos linguísticos, que são explorados ao longo das atividades de leitura e
produção de textos. Uma delas declara que, porque parte do princípio de que o texto
constitui a unidade básica do ensino, propõe a análise linguística apenas de forma
articulada ao estudo do texto. Os conhecimentos linguísticos vão sendo trabalhados a
partir dos usos e dos efeitos de sentido que possibilitam nos textos.
Quanto à abordagem predominante na análise da língua, as coleções em grande
maioria propõem um tratamento descritivo dos conteúdos gramaticais. Nelas busca-se
descrever para o aluno como a língua se organiza nas diversas classes de palavras, como
ela se estrutura e também como é usada considerando-se, muitas vezes, o texto. Apenas
uma coleção propõe um tratamento predominantemente prescritivo. Ela tende a dar
importância à assimilação de regras e nomenclaturas e a enfatizar procedimentos que
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devem ser adotados. A abordagem dos conteúdos acontece normalmente pela
apresentação ao aluno de conceitos e regras seguida de sua aplicação em exercícios.
Tais exercícios não são do tipo que levam o aluno a inferir o conceito ou a regra
relativos ao fato estudado, mas apenas a fazer cumprir uma tarefa, sem oportunidade de
analisar, refletir e chegar a alguma conclusão sobre o conteúdo estudado.
Há 2 coleções que abordam os conhecimentos linguísticos de maneira tanto
descritiva quanto prescritiva dependendo da natureza dos conteúdos trabalhados. O
tratamento prescritivo prevalece nas atividades voltadas para o ensino-aprendizagem de
regras de ortografia, acentuação, pontuação e de emprego das formas mas/mais,
porque/por que/por quê, por exemplo. Nas atividades em que o aluno é levado a
observar os fatos linguísticos e a refletir sobre eles, prevalece a abordagem descritiva.
A descrição muitas vezes segue a proposta tradicional: é explicitado o conceito
relativo ao objeto estudado, seguido de sua definição e da nomenclatura de acordo com
a gramática tradicional. Mas nas coleções em que os conteúdos gramaticais estão
articulados com o trabalho de leitura e escrita, eles são apresentados a partir de sua
ocorrência em textos e é valorizado o seu funcionamento nos textos. A terminologia
gramatical nesses casos, quando está presente, não é considerada como mais importante.
Afinadas a essa abordagem predominantemente mais descritiva, são propostas
atividades que conduzem o aluno à reflexão sobre o uso da língua, dando menor
destaque à assimilação das nomenclaturas.
Apenas 6 coleções apresentam predominantemente a análise dos fatos numa
perspectiva metalinguística, ou seja, apenas seis coleções priorizam o ensino da
metalinguagem e trazem mais atividades metalinguísticas. Essas coleções costumam
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oscilar entre uma abordagem mais tradicional, que se atém a conceitos, classificações e
regras, e uma abordagem mais reflexiva, que valoriza a observação e a análise dos fatos.
Em 18 coleções há atividades que possibilitam ao aluno refletir sobre as
expressões e os recursos linguísticos estudados para chegar à construção do
conhecimento focalizado. É comum nesses casos que a análise epilinguística se dê em
função dos recursos linguísticos presentes em textos, explorados nas seções voltadas
para o estudo da gramática e nas que buscam desenvolver capacidades de leitura.
A análise das coleções também mostra que, em maioria, os conteúdos são
trabalhados a partir de exemplos contextualizados, extraídos de textos, estando sua
análise de alguma maneira integrada à leitura e à produção escrita, mesmo em coleções
que tratam da gramática de forma autônoma. As atividades contextualizadas, que são
propostas a partir do uso de determinado recurso ou expressão no texto, são do tipo que
leva o aluno a observar tal uso, copiar o enunciado no caderno, reescrevê-lo
normalmente substituindo termos ou alterando sua posição na sentença e finalmente
chamando sua atenção os efeitos de tal uso no alcance de expressividade do texto. O
trabalho com conteúdos contextualizados tende a favorecer a reflexão sobre os recursos
linguísticos e seu funcionamento em textos.
O fato de a maioria das coleções abordar os conteúdos de forma
predominantemente contextualizada revela uma preocupação em conduzir o aluno à
reflexão sobre os fatos da língua mais do que à memorização de definições,
classificações e regras. De fato, a análise da orientação metodológica predominante na
abordagem dos conhecimentos linguísticos evidencia que a maior parte das coleções
possibilita ao aluno a reflexão sobre a língua e a construção de um saber.
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Apenas 3 coleções apresentam um trabalho voltado predominantemente para a
transmissão de conteúdos. São aquelas que trazem principalmente atividades voltadas
para a assimilação pelo aluno de conceitos gramaticais e suas nomenclaturas, de
classificações. Elas trazem também muitos exercícios de aplicação dos conceitos,
fazendo uso de frases, não considerando a dimensão textual e comunicativa dos fatos
em estudo.
Mas em 9 coleções o trabalho com os conteúdos linguísticos possibilita a
construção do conhecimento pelo aluno. Nelas são predominantes atividades que levam
o aluno a refletir sobre recursos da língua para, depois, com base na análise
desenvolvida, na apropriação de certas regularidades que pôde inferir, poder explorar o
uso desses recursos na produção e na recepção de textos.
Nas outras 12 coleções, o trabalho com os conteúdos linguísticos se orienta tanto
para a transmissão quanto para construção, havendo a predominância de uma ou outra
orientação dependendo da coleção. Em algumas delas encontram-se atividades de
análise da língua centradas na transmissão de conceitos e de regras, mas que permitem
também a observação e a análise pelo aluno, levando-o a construir conhecimentos.
Noutras, encontram-se atividades que se ocupam da classificação de palavras nos
moldes tradicionais, por exemplo, mas que consideram as classes gramaticais em seu
funcionamento no texto.
A análise geral das 24 coleções evidencia que a grande maioria propõe um
trabalho que possibilita uma reflexão sobre a língua e a linguagem. Mesmo que ainda
haja em algumas delas uma preocupação com a assimilação pelo aluno de conceitos,
classificações e regras tradicionais, esta não recebe majoritariamente maior atenção. No
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Manual do Professor as coleções explicitam que consideram também importante o
trabalho com aspectos funcionais da língua e seu uso em textos.
O trabalho com os conhecimentos linguísticos nessas coleções, em relação às
coleções analisadas em PNLDs anteriores, apresenta uma tendência a uma abordagem
mais reflexiva. As obras aprovadas no PNLD 2010 em maioria estimulam a construção
de conhecimento linguístico, pois levam o aluno a observar os usos da linguagem em
contextos e interlocuções variados, a inferir e a formular conclusões.
Análise de atividades de coleções selecionadas
A análise que exponho neste item se centra em atividades extraídas de três
coleções, escolhidas por proporem o trabalho com os conhecimentos linguístico (1) de
forma articulada ao ensino de leitura e produção de textos, (2) de forma autônoma, mas
articulada ao ensino de leitura e produção de textos, e (3) de forma autônoma e
desarticulada da leitura e da produção de textos.
Meu objetivo é discutir algumas das atividades presentes nessas coleções
visando, de alguma forma, contribuir para uma reflexão com o professor sobre como se
propõe o trabalho com os conteúdos gramaticais focalizados.
Coleção 1 – código 15817
Partindo do princípio de que o texto constitui a unidade básica do ensino, esta
coleção propõe que a análise linguística se dê de forma articulada ao estudo do texto.
Assim, os livros da coleção não possuem uma seção voltada para o trabalho com os
conhecimentos linguísticos. As atividades de análise linguística são propostas para
favorecer a observação e a reflexão sobre os usos da língua em textos e não para levar
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ao domínio de um saber gramatical voltado para si mesmo, como declaram as autoras
no Manual do Professor (p.12).
Na seção Estudando o texto, que explora a leitura - compreensão e interpretação
de textos -, aparecem atividades que trabalham os conhecimentos linguísticos, dos
ortográficos até os textuais e discursivos. Proponho apresentar e discutir aqui atividades
extraídas dos três volumes da coleção.
[LD 3o ano, p.183]
Seção: Estudando o texto
10. Releia o diálogo entre Rosinha e Chico Bento, abaixo transcrito. Quais
palavras indicam que eles falam de uma forma diferente, se comparada ao
modo como outros personagens de Maurício de Sousa falam?
_ Chico, fiquei horas i horas isperando ocê lá no campinho, i ocê num
apareceu!
_ Craro! Ocê falô qui quiria si incontrá cumigo às dizoito hora!
_ I daí?
_ Daí, qui o relógio da minha casa só tem doze hora!
11. Como ficaria esse diálogo se fossem a Magali e o Cascão que estivessem
conversando?
Nessas atividades explora-se a variação linguística, na dimensão regional. Em
10, propõe-se que o aluno identifique as formas de expressão próprias de Rosinha e
Chico Bento. Com 11, inicia-se uma pequena reflexão sobre esse fenômeno ao se
perguntar como seria o diálogo se fossem Cascão e Magali conversando. É pena que o
trabalho seja encerrado nesse ponto, mas essas atividades possibilitam que o aluno
reflita sobre a diversidade linguística e deduza que os personagens de Maurício de
Sousa pertencentes ao campo ou à cidade utilizarão formas de expressão diferentes em
suas conversas. A partir daí, o aluno poderá reescrever o diálogo.
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[LD 4o ano, p.138]
4. Copie o trecho abaixo em seu caderno e, depois, faça o que se pede:
Para você ter uma ideia, o mais antigo dos dinossauros foi encontrado em
Santa Maria, no rio Grande do Sul.
O nome dele é Staurikosaurus, um “pequeno” carnívoro de dois metros que
andava em dois pés. Ele viveu há mais de 225 milhões de anos.
a) A palavra “dele” está se referindo a quê? Encontre e circule de verde.
b) Circule de vermelho a palavra que foi substituída por “ele”.
Nessas atividades, a partir da observação sobre o fenômeno da progressão
referencial, o aluno, orientado pelo professor, é levado a pensar sobre o uso do pronome
como recurso para a retomada de informações já ativadas no texto. Nesse tipo de
atividade, propõe-se uma análise que considera a dimensão textual e comunicativa da
língua.
[LD 5o ano, p.106-107]
3. Releia este trecho do texto, e, depois, copie-o no seu caderno:
O diet é mais radical, mas isso não significa menos calórico.
a) Circule de verde a palavra em destaque que indique intensidade e de
vermelho a que indica oposição de ideias.
b) Copie em seu caderno os enunciados a seguir completando as palavras
“mas” ou “mais”:
 Ela também come verduras, frutas e produtos diet e light, ? mesmo
assim não perde peso.
 Os fabricantes de produtos diet e light esperam que o faturamento
aumente ? ainda no próximo ano.
 A legislação brasileira permite a impressão da palavra “light” nos
rótulos dos produtos diet, ? o contrário não é permitido.
 Os produtos diet e light estão cada vez ? presentes na vida dos
consumidores.
Essas atividades objetivam levar o aluno a compreender a diferença entre as
palavras “mais” e “mas” a partir de seu uso no texto. Elas permitem que o aluno reflita
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sobre as relações indicadas por esses operadores argumentativos, usados para orientar o
discurso para determinadas conclusões. O trabalho poderia ficar mais interessante se
propusesse ainda uma atividade que conduzisse o aluno à sistematização desse
conhecimento construído.
[LD 5o ano, p.167-168]
6. Releia este trecho do texto:
O cão passa a conviver com os primeiros seres humanos
e se separa geneticamente do lobo selvagem.
a) Que palavra foi usada nesse trecho para unir as seguintes informações?
1a) O cão passa a conviver com os primeiros seres humanos.
2a) O cão se separa geneticamente do lobo selvagem.
b) Juntando as duas informações, que palavras não precisam ser repetidas?
c) Em seu caderno, usando esse mesmo recurso, una as informações
apresentadas a seguir:
Os cruzamentos de forma científica começaram a ser realizados por
criadores europeus há 100 anos.
Os cruzamentos de forma científica geraram as raças conhecidas hoje.
Nessas atividades, é trabalhada a conexão. O aluno é levado a compreender o
funcionamento do conectivo “e” como mecanismo de coesão textual e a empregá-lo.
Além disso, a atividade o conduz a refletir sobre as alterações que se fizeram
necessárias na produção do enunciado resultante da união das informações sobre o cão.
As atividades aqui apresentadas são epilinguísticas e evidenciam a proposta
dessa coleção de um trabalho voltado para a observação e a reflexão sobre os usos da
língua em textos, e não para um estudo gramatical voltado para si mesmo, que privilegia
a transmissão de conceitos, regras e nomenclaturas. Há um cuidado em trabalhar os
recursos linguísticos usados nos textos e a levar o aluno a compreender as implicações
do emprego desses recursos. É pena que não se observe na obra uma proposta de
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reflexão sobre o uso dos recursos coesivos ligados aos textos que encaminhe o aluno
para a sistematização dos conhecimentos trabalhados. Na maior parte das vezes a
coleção chama a atenção do aluno para determinado recurso coesivo, por exemplo, faz
com que o aluno o considere no contexto em que ocorre, e propõe a resolução de uma
tarefa para a qual ele precisará ter compreendido alguma especificidade desse recurso.
Mas o trabalho se interrompe, não é retomado, pois o aluno não é levado a aproveitar
esse conhecimento construído em outras atividades, como na produção escrita, por
exemplo.
Apesar disso, o tratamento reflexivo e voltado para o uso que prevalece no
trabalho com os conhecimentos linguísticos nesta coleção faz com que ela se apresente
como uma obra que possibilita a realização de um trabalho direcionado para o
desenvolvimento das habilidades linguísticas do aluno.
Coleção 2 – código 15906
Nesta coleção o tratamento dos conhecimentos linguísticos é autônomo, mas
articulado ao uso da língua em textos. A análise de tipo epilinguística, proposta na seção
“De olho na linguagem”, possibilita a exploração de recursos linguístico-textuais de
forma mais reflexiva. A abordagem predominantemente descritiva na seção
“Gramática” contribui para um trabalho sobre o uso da língua em contexto.
A seção “Gramática” que segue o Texto 1 da unidade se inicia com um texto de
curta extensão de onde se retiram os aspectos linguísticos que serão estudados. As
atividades propostas partem da observação do uso da língua no texto para a
sistematização. O trabalho busca levar o aluno a observar os fenômenos para depois
receber os conceitos e regras gramaticais tradicionais. A seção “Gramática” que segue o
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Texto 2, no entanto, parece se dedicar mais à apreensão dos conhecimentos linguísticos.
Nessas seções, são apresentados para o aluno os conteúdos gramaticais tradicionais, sem
economia de conceitos, de forma muitas vezes transmissiva, embora haja também
questões que permitem ao aluno chegar a conclusões sobre determinados fatos da
língua.
A seção “De olho na linguagem”, dedicada à compreensão apenas do Texto 1 de
cada unidade, se ocupa em inserir os conhecimentos linguísticos em contexto, em
apresentar “o aspecto funcional da língua e o seu uso aplicado ao texto”, como declara a
autoria na Manual do Professor (p.10). Nela a abordagem dos conhecimentos
linguísticos é reflexiva.
Para analisar como é feito o trabalho com os conhecimentos linguísticos nesta
coleção, considero então as atividades presentes nessas três seções.
[LD 3o ano, p.61]
De olho na linguagem
7. Releia o título do poema.
Urgente!:
 Por que o poeta usou o ponto de exclamação no título?
9. “Horrível! Ela se evaporou na metade do caminho!”
a) Por que as aspas foram usadas nessa frase?
b) A quem se refere a palavra ela? Como você descobriu isso?
Essa atividade permite a exploração de recursos utilizados no Texto 1 da unidade
estudada. A atividade 7 trata de um recurso linguístico para a expressão de sentimento
ou emoção, como o ponto de exclamação. A atividade 9 explora o uso de aspas como
forma de marcar o discurso direto e o uso do pronome como recurso coesivo, como
elemento de retomada de um referente. Essas atividades objetivam levar o aluno a
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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
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identificar o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e a estabelecer relações
entre partes do texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a
continuidade da ideia, como declara o Manual do Professor. Com essas atividades é
possível levar o aluno a refletir sobre o uso desses recursos, sem se ocupar em definir o
que são nem em explicar como são ou podem ser usados.
Já na seção “Gramática” seguinte, as atividades são voltadas para o estudo e a
assimilação de conceitos e nomenclaturas gramaticais.
[LD 3o ano, p. 62-63]
Gramática substantivo: comum e próprio [segue o Texto 1]
1. Observe esta página do álbum de fotos de Bruna.
[a página contém fotos acompanhadas das frases abaixo]
Este é o meu gatinho Boni.
Estas são minhas amigas: Lina, Lídia e Aninha.
Esta sou eu!
a) Quais substantivos Bruna usou na frase ao lado da foto do gato?
b) Quais substantivos Bruna usou na frase abaixo da foto das meninas?
c) Por que alguns substantivos estão escritos com letra inicial maiúscula e
outros com letra inicial minúscula?
O substantivo comum dá nome a um ser em geral. É sempre escrito com letra
inicial minúscula.
O substantivo próprio dá nome a um ser em particular. É sempre escrito com
letra inicial maiúscula.
Exemplos:
gatinho  substantivo comum
Boni 
substantivo próprio
2. Copie as palavras no caderno e separe em dois grupos os substantivos comuns
e os substantivos próprios.
a) O pirarucu é um grande peixe da Amazônia.
b) Giba é uma girafa do zoológico de São Paulo.
c) Conheço um menino chamado Menino Maluquinho.
Essas atividades partem do pressuposto de que o aluno já sabe o que são os
substantivos e objetivam agora tratar dos substantivos comuns e próprios. Elas partem
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da observação pelo aluno de frases contextualizadas, escritas no álbum de fotografias,
mas logo lhe apresentam as definições desses tipos de substantivos para prosseguirem
com exercícios de aplicação do conteúdo dado. Nessas atividades fica evidenciada a
preocupação da coleção com a transmissão de conceitos e de nomenclaturas
tradicionais.
No livro do 4o ano, a coleção espera que o professor retome o conceito de
substantivo para depois apresentar os conceitos de substantivos simples e compostos. A
abordagem desse conteúdo é da mesma forma que no livro do 3o ano, da observação e
da apresentação de definições para a aplicação em exercícios. O trabalho com a seção
“Gramática” se encerra com o boxe intitulado “Esquina da Poesia”, que traz um
pequeno poema em que é usado o que se está estudando - os substantivos simples e
compostos, no livro do 3o ano, os substantivos comuns e próprios. A escolha do poema
desse boxe relaciona-se sempre ao aspecto linguístico em análise na seção “Gramática”.
[LD 5o ano, p. 129]
De olho na linguagem
7. Releia estes trechos.
A Por séculos o reino de Atlântica foi um lugar muito próspero e todos
viviam em perfeita harmonia.
B Enquanto todos seguiram as leis do deus Posêidon e dos reis da ilha, os
atlantes prosperaram. Mas, à medida que as gerações se sucederam, os
casamentos entre os divinos e as mulheres mortais tornaram-se mais
frequentes.
 Observe as palavras destacadas e responda no caderno.
a) Que expressão indica a relação de oposição entre partes do texto?
b) Que expressões indicam a relação de tempo entre partes do texto?
8. No caderno, copie do texto Atlântica outra expressão que indica a relação de
tempo.
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Com essas atividades pode-se levar o aluno a refletir sobre os itens que indicam
as relações de tempo e de oposição. Por meio de tais atividades é possível trabalhar a
habilidade do aluno de identificar conjunções e advérbios/locuções adverbiais presentes
no texto que sinalizam esses tipos de relações. Mas na seção “Gramática”, as atividades
já são voltadas para o estudo desses itens com enfoque em seus conceitos e
classificações. Elas trazem textos que possibilitam a exploração do aspecto linguístico
estudado. O texto é, assim, usado como pretexto para o ensino de um item gramatical.
Coleção 3 - código 24792
Nesta coleção os conhecimentos linguísticos estão desarticulados do ensinoaprendizagem de leitura e produção de textos. Eles são trabalhados na seção Estudo da
Língua, que traz quase sempre fragmentos de textos os quais são usados sobretudo
como pretexto para a apresentação dos conteúdos gramaticais.
[LD 3o ano, p.99]
ESTUDO DA LÍNGUA
Substantivo
Copie no caderno as estrofes abaixo. Depois sublinhe nelas apenas as palavras
usadas para nomear algo.
“Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina”
“Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.”
Que nome poderíamos dar ao sentimento demonstrado pela menina retratada
acima? Anote-o no caderno.
Todas as coisas que existem têm nome: menina, menino, professora, escola,
lápis, cadeira, árvore, céu, tristeza, alegria...
As palavras que dão nome a pessoas, animais, plantas, objetos, lugares,
sentimentos etc. são chamadas substantivos.
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1. Escreva no caderno o nome de cinco substantivos que você pode ver dentro
de sua sala de aula.
2. Forme uma frase no caderno. Depois, entregue seu caderno a um colega para
que ele sublinhe em sua frase o(s) substantivo(s) que houver.
Essas atividades objetivam levar o aluno a compreender o conceito de
substantivo. Elas o apresentam e propõem em seguida a sua aplicação, com uma
listagem a ser produzida pelo aluno5 ou com a elaboração de uma frase. Ainda nessa
seção, são trabalhadas as classificações de substantivos em comum e próprio.
[LD 3o ano, p.100]
Substantivos comum e próprio
Os substantivos podem ser classificados em: comum e próprio. Observe:
menina
Letícia
substantivo comum
substantivo próprio
Agora discuta com a turma:
 A palavra menina é um substantivo comum. Essa palavra pode ser usada
para nomear qualquer menina?
 A palavra Letícia é um substantivo próprio. Ela pode ser usada para nomear
qualquer menina?
Leia a frase abaixo e indique no caderno qual dos substantivos destacados é o
comum e qual é o próprio.
Nino é um cachorro muito especial.
Nino
cachorro
Agora, anote as frases abaixo no caderno, completando-as com as informações
que estão faltando.
Minhas descobertas
As palavras que usamos para nomear qualquer pessoa, animal, fruta, objeto são
♦.
Os nomes que usamos para nomear uma pessoa, um animal, um lugar etc. em
particular são ♦ .
Percebe-se nessas atividades uma preocupação com o ensino de nomenclaturas e
conceitos.
5
Atividades
como
essas
são
predominantemente
transmissivas
e
Há um problema na formulação da atividade 1, mas que não será tratado neste trabalho.
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metalinguísticas. O boxe “Minhas descobertas”, no entanto, é proposto para que o aluno
possa chegar a sistematizar as regras e conceitos trabalhados. A proposta da coleção é
possibilitar com esse boxe a formulação pelo aluno da regra estudada. Na verdade, o
que existe aí é uma tentativa de levar o aluno à sistematização do conhecimento
adquirido, pois a regra ou o conceito já vem praticamente formulado pela obra. Vale
também ressaltar que esse boxe não aparece em todas as seções voltada para a análise
da língua.
[LD 5o ano, p.27]
ESTUDO DA LÍNGUA
Frase e oração
Leias as frases a seguir.
A - Que luta sangrenta!
B – Travaram uma luta sangrenta!
Agora, responda em seu caderno.
a) As duas frases acima transmitem ideias semelhantes ou diferentes?
b) Qual é a principal diferença entre elas?
Como você pôde perceber, existem frases que possuem verbo e outras que
não possuem. A frase que contém verbo é chamada oração.
1. Leia a tirinha a seguir e diga aos colegas o que você achou dela.
[A tirinha é composta de três quadros em que há frases oracionais e uma frase nominal]
Agora, encontre na tirinha e anote em seu caderno:
a) uma frase que não é oração.
b) uma frase que é oração.
2. Escreva, no caderno, uma frase que não seja oração e uma frase que seja
oração.
Nessas atividades, a análise é proposta a partir de frases descontextualizadas.
Inicialmente são formuladas duas questões, (a) e (b), mas há um problema em sua
formulação, pois (a) espera que o aluno perceba a ideia que as frases transmitem e (b),
que o aluno perceba que a diferença entre as duas frases reside na presença de um
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verbo. Em seguida é introduzido o conceito de oração, e são propostas atividades a
partir da leitura de uma tirinha, usada como pretexto para os exercícios gramaticais.
Considerações finais
A análise aqui exposta permite dizer que as coleções de Língua Portuguesa
aprovadas no PNLD 2010 buscam em maioria realizar um trabalho que orienta o aluno
para a reflexão sobre a língua e a linguagem e que, portanto, nelas a transmissão de
conteúdos nos moldes tradicionais não é o que recebe maior atenção.
Num segundo momento, a análise de algumas atividades propostas em três
coleções, em que a análise da língua se faz de formas diferentes, procurou mostrar como
se concretiza nos LDs o trabalho com os conhecimentos linguísticos.
A Coleção 1 apresenta atividades de reflexão sobre recursos linguísticos
presentes nos textos explorados nas atividades de leitura, a partir da observação e da
análise dos fatos, para que o aluno possa, ele mesmo, chegar a conclusões sobre o seu
funcionamento em textos. Ela não traz um estudo gramatical voltado para si mesmo,
privilegiando a transmissão de conceitos, regras e nomenclaturas. Essa coleção está
orientada metodologicamente para a construção dos conhecimentos linguísticos.
A coleção 2 apresenta uma proposta de trabalho com a linguagem de forma
autônoma, mas articulada ao ensino-aprendizagem da leitura e produção de textos. Ela
traz atividades que partem da observação dos fatos em textos e levam o aluno a refletir
sobre eles para chegar aos conceitos e às regras gramaticais. O tratamento dos
conhecimentos linguísticos se faz numa abordagem descritiva e epilinguística, embora a
metalinguagem esteja bastante presente. Os conteúdos são trabalhados de tal forma que
a assimilação de noções e classificações se faz importante. Assim, esta coleção se
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orienta metodologicamente tanto para a construção quanto para a transmissão de
conhecimentos.
A coleção 3 apresenta uma proposta de trabalho mais autônomo e desarticulado
do ensino-aprendizagem da leitura e produção de textos. A abordagem dos
conhecimentos linguísticos é descritiva, mas a análise da língua se faz numa perspectiva
predominantemente metalinguística. Os conteúdos gramaticais são na maior parte das
vezes abordados de forma isolada e as nomenclaturas são priorizadas, evidenciando que
esta coleção se orienta predominantemente para a transmissão de conhecimentos.
Apesar disso, algumas atividades encontradas no volume 5 desta coleção lidam com
conteúdos contextualizados e possibilitem uma reflexão sobre o uso de alguns recursos
linguísticos.
Bibliografia
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qual corre o Ganges?” In: ROJO, Roxane; BATISTA, Antônio Augusto G. (orgs). Livro
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COSTA VAL, Maria da Graça; CASTANHEIRA, Maria Lúcia. Cidadania e ensino em
livros didáticos de alfabetização e de língua portuguesa (de 1a a 4a série). In: COSTA
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Portuguesa, Letramento e Cultura da Escrita. Campinas/SP: Mercado de Letras, 2003.
ROJO, Roxane. O perfil do livro didático de língua portuguesa para o ensino
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(org.) A Magia da Linguagem. Rio de Janeiro: DP&A: SEPE,1999, p.49-73.
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