artigo original - Associação Catarinense de Medicina

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Arquivos Catarinenses de Medicina
ISSN (impresso) 0004- 2773
ISSN (online) 1806-4280
ARTIGO ORIGINAL
Amitriptilina versus nimesulida associada a bloqueio do nervo supra-escapular
no tratamento sintomático da capsulite adesiva - um estudo piloto
Amitriptyline versus nimesulide associated with suprascapular nerve block in the
symptomatic treatment of adhesive capsulitis – a pilot study
Rafael Olívio Martins1, Thiago Mamôru Sakae2, Anna Paula Piovezan3
Resumo
Abstract
Este estudo teve como objetivo comparar a eficácia
da amitriptilina em relação à nimesulida, em associação
ao bloqueio do nervo supra-escapular (BNSE) no tratamento sintomático da capsulite adesiva. Foi conduzido
um ensaio clínico randomizado, incluindo 34 pacientes
que foram avaliados por um período de 14 dias quanto
a dor e a incapacidade do ombro, por meio do preenchimento do questionário SPADI. Os dados foram apresentados como proporções ou média ± desvio padrão (teste do Qui-quadrado ou t de Student, respectivamente,
p< 0,05). Após 14 dias de tratamento, tanto a nimesulida quanto a amitriptilina reduziram os escores dos
pacientes com dor em relação aos apresentados antes
do tratamento (p= 0,019 e p= 0,029, respectivamente);
no entanto, apenas a amitriptilina foi capaz de produzir
este efeito sobre a incapacidade do ombro (p< 0,001).
No 14º dia, não foram observadas diferenças entre os
dois grupos em relação aos escores de dor ou incapacidade (p= 0,592 e p= 0,588, respectivamente). Em
conclusão, quando associado ao BNSE a amitriptilina
administrada por via oral, apresentou uma equivalência
terapêutica à nimesulida no tratamento da dor aguda e
da incapacidade do ombro associados à CA.
This study aimed to compare the efficacy of amitriptyline in relation to nimesulide, in association in association to block the suprascapular nerve in the symptomatic treatment of AC. A randomized clinical trial was
conducted including 34 patients, who were evaluated
over a period of 14 days for pain and disability of the
shoulder by filling out the SPADI questionnaire. Data
were presented as proportions or means ± standard
deviation (Chi-square or student t test, respectively; P
< 0.05). After 14 days, both nimesulide and amitriptyline had reduced the patients pain scores in relation
to that presented before treatment (P = 0.019 and P =
0.029, respectively); however, only amitriptyline was
able to produce this effect over the shoulder disability
(P < 0.001). On the 14th day, no differences were seen
between the two groups in relation to their pain or disability scores (P = 0.592 e P = 0.588, respectively). In
conclusion, when associated to BSN, oral amitriptyline
has presented a therapeutic equivalence to nimesulide
in the treatment of acute pain and disability associated
with adhesive capsulitis.
Keywords: Adhesive capsulitis. Amitriptyline. Nimesuli­
de. Clinical trial. Inflammatory diseases.
Descritores: Capsulite adesiva. Amitriptilina. Nimesu­
lida. Ensaio clínico. Doenças inflamatórias.
Introdução
Existem fortes evidências sugerindo que o antidepressivo tricíclico amitriptilina pode representar uma
opção interessante no tratamento clínico da dor crônica
de diferentes origens, incluindo dor orofacial (1), associada ao câncer (2) ou neuropatia decorrente de alterações metabólicas (3), entre outros (4).
A capsulite adesiva (CA) é uma doença multifatorial,
que compreende os componentes inflamatório e nervoso (5), sendo que seu tratamento geralmente consiste
1. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Curso de Medicina, UNISUL, Tubarão, Santa Catarina, Brasil.
2. Curso de Medicina, UNISUL, Tubarão, Santa Catarina, Brasil.
3. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde.
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Amitriptilina versus nimesulida associada a bloqueio do nervo supra-escapular no tratamento sintomático da capsulite adesiva - um estudo piloto
concordância em participar do estudo. Os mesmos deviam apresentar limitação da elevação do ombro anterior até 130º, bem como perda mínima de 50º de rotação externa dos ombros, quando comparado com o lado
contralateral. Os critérios de exclusão consistiram em
contra-indicação à anestesia local, bem como à nimesulida ou amitriptilina, estar grávida ou amamentando
ou não seguir a orientação durante o período do estudo
(por exemplo: não usar a medicação prescrita ou utilizar
outros medicamentos/procedimentos para o melhora
da dor). Além disso, as exclusões também incluíram infecções ou atrofia, outras cirurgias no ombro anterior e
piora clínica durante o tratamento proposto.
de medidas conservadoras (medicação e reabilitação)
ou cirúrgicas, não existindo consenso ainda quanto ao
mesmo. O bloqueio do nervo supra-escapular (BNSE)
nesta condição é uma opção terapêutica, sendo realizado sob diferentes técnicas e com a utilização de vários
agentes anestésicos, sendo ainda sugerida por vários
autores inclusive nos casos refratários, tais como aqueles em pacientes com diabetes mellitus (6). No entanto,
o efeito analgésico deste tipo de bloqueio é descrito
como sendo eficaz apenas por curtos períodos de tempo (7), de modo que a utilização de analgésicos orais durante este tipo de tratamento é capaz de aumentar a
adesão do paciente ao tratamento, uma vez que o mesmo pode durar por várias semanas.
O tamanho da amostra foi previsto para uma comparação entre dois grupos, teste de hipótese monocaudal,
para a avaliação da equivalência terapêutica da amitriptilina em relação à nimesulida, associados com o BNSE,
no tratamento sintomático da CA. O poder do teste foi
estipulado em 85%, o nível de significância de 5% e
a diferença mínima a ser detectada pelo ensaio sendo
correspondente a um desvio padrão de 15,6 (obtido a
partir de um piloto). A partir destes parâmetros, um n=
14 por grupo foi estimado e assumiu-se um número de
17 indivíduos por grupo a fim de evitar a redução do
poder de detecção entre os grupos que poderiam ser
causados por perdas de seguimento ou demais critérios
de eliminação dos sujeitos. Os pacientes foram divididos entre os grupos de acordo com uma ordem aleatória gerada pelo programa de computador Epiinfo 6.04,
usando a ferramenta Random Number Table. Os mesmos foram avaliados por um médico ortopedista, que
foi também responsável pela alocação dos pacientes
nos grupos. Este médico também avaliou as variáveis
independentes (idade, sexo, ombro afetado, tempo de
duração da dor) e acompanhou o tratamento de pacientes e retorno dos pacientes quanto a eventuais efeitos
colaterais. Outro examinador treinado foi responsável
pela medição das variáveis dependentes (dor e incapacidade do ombro), empregando o questionário SPADI (Shoulder Pain and Disability Index, descrito abaixo)
como instrumento de avaliação.
Os fármacos anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs), tais como nimesulida, são tradicionalmente empregados nestes casos, uma vez que podem ajudar a
aliviar os sintomas relacionados à doença (8). No entanto,
de acordo com outro autor, drogas desta classe devem
ser consideradas como uma primeira linha de escolha
apenas se os pacientes não possuírem restrições à sua
utilização (9), uma vez que a toxicidade potencial dos
mesmos sobre os sistemas gastrointestinal e cardiovascular são contra-indicações importantes para alguns
grupos específicos de indivíduos. Este fato é também
particularmente importante se considerarmos o fato de
que estudos epidemiológicos têm demonstrado que a
faixa etária mais atingida pela CA encontra-se acima
dos 40 anos (10), na qual também são mais frequentes as
complicações dos dois sistemas.
Por estas razões, a avaliação da eficácia analgésica
de medicamentos de diferentes classes terapêuticas
na redução dos sintomas observados na CA, bem como
em outras desordens dolorosas (11), torna-se importante
para ajudar os clínicos a ampliarem as opções terapêuticas destes pacientes. A amitriptilina demonstrou várias propriedades que podem contar para um resultado
benéfico na dor, principalmente às relacionadas com
comprometimento do sistema nervoso central (12).
Diante do exposto, o objetivo do presente estudo
foi o de comparar a equivalência terapêutica de amitriptilina, administrada oralmente e associação ao BNSE
com bupivacaína, no tratamento agudo dos sintomas
agudos de CA em comparação com a nimesulida.
Os grupos estudados consistiram do Grupo 1 (controle), em que os indivíduos receberam BNSE com um
agente anestésico local (bupivacaína a 0,25%, 10 ml),
no primeiro dia da consulta com o médico ortopedista
(e subsequentemente, depois de sete dias) + nimesulida por via oral administração (100 mg, duas vezes ao
dia durante 14 dias) e o Grupo 2 (intervenção), onde
os indivíduos receberam BNSE (nas mesmas condições)
+ amitriptilina por via oral (25 mg, duas vezes ao dia
durante 14 dias). A dosagem da nimesulida utilizada
neste estudo foi baseado em trabalho anterior (13), que
Material e métodos
Os critérios de seleção dos pacientes avaliados
neste estudo foram: idade maior do que 18 anos, apresentar diagnóstico clínico de CA idiopática com dor no
ombro durante um período mínimo de três meses, capacidade de responder ao instrumento de avaliação e
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Amitriptilina versus nimesulida associada a bloqueio do nervo supra-escapular no tratamento sintomático da capsulite adesiva - um estudo piloto
Resultados
demonstrou a sua eficácia no tratamento de doenças
agudas do ombro, incluindo a melhoria dos sintomas de
dor e incapacidade do ombro.
De acordo com o fluxograma apresentado na Figura
1, ao longo do curso do estudo 40 pacientes foram recrutados para o tratamento de CA e foram recrutados
para o estudo (20 em cada grupo). Desse total, seis pacientes foram perdidos durante o acompanhamento do
tratamento, sendo quatro pertencentes ao grupo controle (nimesulida) e dois deles do grupo de intervenção
(amitriptilina). As razões para essas perdas foram: dois
pacientes não retornaram para a consulta como o médico ortopedista no 7º e/ou no 14 º dia, dois pacientes
interromperam o tratamento devido aos efeitos colaterais do medicamento, um paciente não cumpriu com a
orientação médica e um paciente usou outros procedimentos não estabelecidos no âmbito do protocolo de
estudo. Em relação à incidência de efeitos colaterais
relatados acima, dois sujeitos que realizam o tratamento oral com nimesulida relataram aumento da pressão
sanguínea e náusea (11,1%), enquanto no grupo amitriptilina seis pacientes declararam sonolência (37,5%).
O procedimento para o BNSE com bupivacaína foi
semelhante ao utilizado por outros autores no tratamento de distúrbios da dor no ombro (14, 15) e o procedimento de bloqueio anestésico foi realizada por um
único médico ortopedista para todos os indivíduos
incluídos no estudo, de acordo com os procedimentos
anteriormente descritos (16).
O questionário SPADI utilizado no estudo foi validado para o idioma Português (16), sendo um instrumento
de auto-aplicação em duas escalas, que medem a dor e
a incapacidade associada à doença do ombro. O teste
consiste de um total de 13 itens, sendo 5 deles para a
dor e 8 deles para a medição da incapacidade do ombro. Os pacientes podem marcar a sua resposta circulando um número em uma escala de 0 a 10 (10 cm),
relacionado com a pontuação da dor ou da dificuldade
em executar uma função com o ombro afetado na semana anterior; sendo que 0 significa “nenhuma dor” ou
“nenhuma dificuldade” e 10 significa “pior dor” ou “eu
não poderia realizar o movimento”. Embora a CA seja
diagnosticada com base na mudança da amplitude de
movimento (MAM), esse critério adicional não foi adotada neste estudo, uma vez que o uso do questionário
SPADI para avaliar pacientes com CA em estudos clínicos tem sido sugerido (17). Ainda em relação ao questionário SPADI, este é um instrumento validado e reprodutivo, com o seu conteúdo baseado em questões
subjetivas para o paciente. Por esta razão, tem sido sugerido que os estudos que utilizam este questionário
não necessitem manipulação de dados da forma “cega”
(blinde) pelo pesquisador.
As características dos sujeitos que completaram o
estudo (n= 34) não diferiram entre os dois grupos (Tabela 1). Em outras palavras, não houve diferenças entre
os pacientes tratados com nimesulida ou aqueles tratados com amitriptilina em relação ao gênero, idade,
ombro afetado e o tempo de duração dos sintomas,
mostrando homogeneidade entre os grupos (Tabela 1).
Observou-se uma tendência a uma diferença significativa entre os grupos com relação ao sexo, (p= 0,060),
porém, isso pode ser explicado pelo fato de que houve
perdas dentro do período de acompanhamento de quatro indivíduos do sexo masculino no grupo nimesulida.
No entanto, é importante notar que a os escores de dor
(80,6 ± 21,9) e de incapacidade do ombro (64,4 ± 24,6)
registrados antes do tratamento para os pacientes do
grupo da nimesulida que não completaram o estudo
não foram estatisticamente diferentes daqueles observados nos pacientes que completaram o estudo (p=
0,441 e p= 0,614; respectivamente).
O protocolo utilizado no estudo foi aprovado pelo
CEP-UNISUL (número 10.023.4.01.III), bem como também foi registrado no Clinical Trials (identificador
NCT01306708).
Os dados foram apresentados como proporções (variáveis independentes de gênero e ombro afetado) ou
média ± desvio padrão (para variáveis dependentes, as
pontuações SPADI). Eles foram analisados considerando a pontuação média, em cada escala do instrumento.
As variáveis dependentes (dor e incapacidade) coletados a partir do questionário SPADI em uma escala contínua (escore) foram analisadas, respectivamente, pelo
teste do Qui-quadrado ou pelo teste t de Student (para
análise de diferença entre dois grupos) ou pelo t pareado (para análise de diferença entre antes e depois
do tratamento). O nível de significância estabelecido no
trabalho foi p< 0,05.
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Em relação à resposta dos pacientes ao tratamento
no presente estudo, a avaliação da dor e da incapacidade do ombro depois de 14 dias revelou uma redução
significativa na dor (Tabela 2), em ambos os grupos tratados com a administração oral com nimesulida (81,5 ±
3,4 para 74,2 ± 4,6; p= 0,019; n= 34 ) ou com amitriptilina (79,7 ± 4,7 para 70,4 ± 5,4; p= 0,029; n= 34). Por
outro lado, uma redução no escore de incapacidade do
ombro foi apenas observada no grupo da amitriptilina
(74,1 ± 4,4 para 61,5 ± 4,7; p< 0,001; n= 34).
Em relação à principal pergunta de pesquisa do estudo, as respostas ao questionário SPADI no 14º dia após
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Amitriptilina versus nimesulida associada a bloqueio do nervo supra-escapular no tratamento sintomático da capsulite adesiva - um estudo piloto
consistente com estudos feitos em torno de sua ação
analgésica, que foram previamente registrados a partir
de outro estudo clínico de curta duração (7).
o início do tratamento mostraram que não houve diferença entre os pacientes pertencentes aos dois grupos
avaliados, tanto em relação à dor quanto à incapacidade
do ombro afetado (Tabela 3), sugerindo que a amitriptilina foi igualmente eficaz à nimesulida em relação ao
tratamento agudo dos sintomas da CA, quando associada ao BNSE. Em uma avaliação adicional deste resultado, analisou-se a diferença média a partir dos dados
obtidos após o tratamento em relação àquela observada
antes do início do tratamento para cada indivíduo (Tabela 4). Estas diferenças entre as médias são apresentadas como valores negativos, indicando que as duas
drogas diminuíram os sintomas em relação ao início do
tratamento. Além disso, como discutido anteriormente,
também não houve diferença entre os dois grupos estudados em relação à dor ou incapacidade do ombro no
grupo nimesulida (-7,2 ± 10,9 ou -9,3 ± 16,6; n= 34; p=
0,672, respectivamente), quando comparada com aquela apresentada pelo grupo amitriptilina (-5,9 ± 14,0 ou
-12,5 ± 14,0; n= 34; p= 0,178, respectivamente).
Com relação ao fato deste estudo piloto ter objetivado a avaliação dos benefícios das drogas selecionadas
no tratamento de sintomas da CA, os grupos não foram
comparados a um grupo controle recebendo exclusivamente o BNSE. No entanto, é importante esclarecer
que com base em alguns aspectos discutidos a seguir,
é possível considerar que os efeitos avaliados para as
duas substâncias no presente estudo sejam decorrentes de uma ação específica das mesmas nos sintomas
da CA, ao invés de serem atribuídos exclusivamente ao
procedimento anestésico local. Em primeiro lugar, as
diferenças relacionadas com a incapacidade do ombro
foram registradas entre os dois grupos, sugerindo que
os efeitos sobre os sintomas da CA não sejam exclusivamente uma consequência do BNSE. Além disso, outros
estudos utilizando bupivacaína em técnicas para o tratamento da dor associada a outras condições têm registrado resultados com a mesma por breves períodos
de tempo, diferente dos 14 dias avaliados no presente
estudo. Por exemplo, um estudo avaliando os níveis de
dor após a artroscopia do ombro (19) demonstrou a eficácia do BNSE em relação ao grupo controle, num período
de até 60 min após o procedimento. Outro ensaio clínico randomizado cego também demonstrou que o BNSE
com bupivacaína reduziu os escores de dor em repouso
e em movimento, até 24 horas após a artroscopia do
ombro (15).
Discussão
Este estudo piloto prospectivo e randomizado demonstrou a equivalência terapêutica da amitriptilina
em relação à nimesulida, no tratamento agudo dos sintomas da CA quando associada ao BNSE. Além disso, a
partir dos resultados que foram observados no grupo
controle, uma diminuição significativa da incapacidade
do ombro também foi detectada nos pacientes em tratamento com a mesma, no 14° dia após o início de sua
administração oral.
Estes resultados sugerem um papel importante para
a amitriptilina, administrada oralmente e em associação
ao BNSE, como uma opção farmacológica para o tratamento agudo dos sintomas da CA. Esta pode ser uma
opção particularmente importante para os clínicos no
tratamento de pacientes sob estas condições, uma vez
que existem algumas fases da doença em que uma exacerbação das suas características clínicas podem ocorrer (10, 20), sem benefícios significativos atribuídos aos
medicamentos típicos (21). As vantagens quanto ao uso
da amitriptilina associada ao BNSE nesta condição, em
relação à nimesulida, são reforçadas pela análise dos
efeitos colaterais apresentados pelos pacientes durante o estudo. Em primeiro lugar, apesar de um grande
número de pacientes no grupo amitriptilina tem relatado sonolência, não houve perdas de acompanhamento
relacionados com esse efeito, o que pode estar associado a um maior nível de satisfação para este medicamento. Como discutido anteriormente, em relação aos
resultados atuais uma melhoria da função do membro
afetado (pela redução da incapacidade do ombro) foi
observado em adição à redução significativa da dor no
O efeito analgésico da amitriptilina em seres humanos já foi relatado na fibromialgia (7), uma condição que
envolve um componente do sistema nervoso que é também sugerido na CA. No presente estudo, os resultados
que mostraram que este agente reduziu a incapacidade
do ombro são consistentes com os achados de outro
estudo clínico com pacientes com sintoma de dor causada ​​pelo uso repetitivo, no qual observou-se melhora
da função dos membros superiores após seis semanas
de tratamento com essa droga (18). Neste mesmo estudo,
os autores também não observaram melhoria no nível
de dor para os sujeitos do estudo, mas este resultado
não pode ser diretamente comparado aos do presente
estudo uma vez que a dose de amitriptilina usado no
estudo anterior foi menor do que a utilizado neste trabalho. Ainda, é interessante que o efeito da amitriptilina
na dor e na incapacidade dos ombros dos pacientes do
presente estudo tenha sido observado ao longo do período de 14 dias de tratamento, uma vez que o efeito
antidepressivo da substância geralmente tem uma manifestação mais retardada. Na verdade, isso também é
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Amitriptilina versus nimesulida associada a bloqueio do nervo supra-escapular no tratamento sintomático da capsulite adesiva - um estudo piloto
grupo de amitriptilina, o que é contrastante com o que
foi encontrado no grupo tratado com nimesulida. Além
disso, enquanto a sonolência induzida por este agente
pode ser considerada como um aspecto positivo nesta
condição (21), uma potencial toxicidade da nimesulida
pode ser atribuída ao fato de que houve relatos de aumento da pressão arterial e náuseas neste grupo, o que
pode estar relacionado às complicações cardiovasculares e gastrointestinais conhecidas para esta classe de
medicamentos.
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Em conclusão, os presentes achados indicam que a
amitriptilina pode ser uma opção farmacológica para o
tratamento agudo dos sintomas da CA, uma vez que a
administração oral por 14 dias da mesma e associada
com o BNSE, apresentou uma eficácia similar para àquela observada para a nimesulida (nas mesmas condições)
quanto à redução da dor. Além disso, o tratamento com
este agente também foi mais favorável em relação à
incapacidade do membro afetado e sobre o perfil de
efeitos colaterais apresentados. Novas investigações
conduzidas em um maior número de pacientes, bem
como por um período de tempo mais prolongado e em
diferentes fases de CA contribuirão para fornecer mais
evidências sobre a sua utilidade no tratamento de indivíduos que se apresentam com esta condição.
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Amitriptilina versus nimesulida associada a bloqueio do nervo supra-escapular no tratamento sintomático da capsulite adesiva - um estudo piloto
Tabela 4 – Resultados da comparação entre os escrores
médios de dor e incapacidade do ombro entre os dois
grupos de tratamento (n= 34).
19.Scoggin JF 3rd, Mayfield G, Awaya DJ, Pi M, Prentiss
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Desfecho
20.Bunker TD, Anthony PP. The patology of frozen
shoulder. A Dupuytren-like disease. J Bone Joint
Surg. 1995;77:677-83.
Dor
21.Ferreira FAA. Capsulite adesiva. Rev Bras Ortop.
2005;40:565-74.
Incapacidade
Tratamento
Média ± SEM
(após tratamentp)
P†
nimesulida
-7,2 ± 10,9
0,672
amitriptilina
-9,3 ± 16,6
nimesulida
-5,9 ± 14,0
amitriptilina
-12,5 ± 14,0
0,178
† Teste t de Student.
Tabelas
Figura 1
Tabela 1 – Perfil demográfico e características clínicas
dos pacientes incluídos no estudo, distribuídos nos
diferentes grupos de tratamento (n= 34).
Nimesulide
(n= 16)
Amitriptiline
(n= 18)
P †#
52,2 ± 8,1
53,3 ± 6,9
0,675†
Masculino (%)
25,0
75,0
Feminino (%)
59,1
40,9
55,0
35,7
0,224#
4,5 ± 1,4
6,1 ± 3,3
0,095†
Variável
Idade média ± S.E.M.
Gênero
0,060#
Ombro dominante
Sim (%)
Tempo médio de dor
(meses) ± SEM
†
Teste t de Student. # Teste do Qui-quadrado.
Tabela 2 – Resultados da comparação entre os escores
médios obtidos para a dor e a incapacidade do ombro
entre os diferentes grupos, antes e após o tratamento
(n= 34).
Desfecho
Dor
Incapacidade
Tratamento
nimesulida
Média ± S.E.M.
antes
após
Fluxograma representativo do esquema de realização do estudo,
adaptado a partir das normas CONSORT, do Clinical Trials.
P†
81,5 ± 3,4
74,2 ± 4,6
0,019*
amitriptilina
79,7 ± 4,7
70,4 ± 5,4
0,029*
nimesulida
71,0 ± 3,7
65,2 ± 4,6
0,113
amitriptilina
74,1 ± 4,4
61,5 ± 4,7
<0,001*
† Teste t de Student.
Tabela 3 – Resultados da comparação entre as médias
para a dor e a incapacidade do ombro entre os dois
grupos de tratamento (n= 34).
Desfecho
Dor
Incapacidade
Tratamento
Média ± SEM
(após tratamento)
P†
0,592
nimesulida
74,2 ± 4,6
amitriptilina
70,4 ± 5,4
nimesulida
65,2 ± 4,6
amitriptilina
61,5 ± 4,7
0,588
Endereço para correspondência:
Profa. Dra. Anna Paula Piovezan
E-mail: [email protected].
† Teste t de Student.
45
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