Simpósio de Cuidados Paliativos para os Institutos e Hospitais Federais do Rio de Janeiro Controle de Sintomas Cristhiane da Silva Pinto HCIV - INCA Definição - WHO: Cuidados Paliativos: “Assistência multidisciplinar, ativa e integral a pacientes cuja doença não responde mais ao tratamento curativo, com o objetivo principal de garantia da melhor qualidade de vida do paciente e seus familiares. Irá atuar no controle da dor e promover alívio dos demais sintomas que o paciente possa desenvolver.” 17/08/12 CUIDADOS PALIATIVOS Princípios Comunicação Controle de Sintomas Trabalho Interdisciplinar 17/08/12 CUIDADOS PALIATIVOS London:NCHSPCS(Briefing Bulletin 11) Luto Diagnóstico Óbito 17/08/12 SINTOMAS EM CÂNCER AVANÇADO 17/08/12 Abordagem Geral de Sintomas • Frequência/severidade (*) – sintomas surdos • Fatores associados • Associação com outros sintomas (*) – multiplicidade • Impacto • Monitoramento de sintomas mediante escalas • Clarear objetivos • Sistematizar o seguimento • Comparação de resultados em pesquisa científica Oxford Textbook of Palliative Medicine – third edition – Oxford University Press –2004 17/08/12 1- FADIGA DEFINIÇÃO: A fadiga relacionada ao câncer é uma sensação subjetiva, frequente e persistente de cansaço, relacionada diretamente à doença ou ao tratamento, que interfere na capacidade funcional do indivíduo afetado em graus variados. Fatigue in Palliative Care Patients na EAPC aproach – Palliat Med 2008; 22;13 17/08/12 Epidemiologia Fraqueza generalizada Sintoma mais comum em pacientes em tratamento RXT - 60-93% QT - 80-96% Pode permanecer por meses ou anos após o tratamento Sintoma mais comum em Cuidados Paliativos 78% - 98% Universal no estado terminal 1-Medicina Paliativa – Declan Walsh – 2010 Elsevier España, S. L 2-Supportive Intervention for Fatigue in Patients Undergoing Chemotherapy: A Randomized Controlled Trial - Journal of Pain and Symptom Management Vol. 31 No. 2 February 2006 3-Fatigue and Depression in Cancer Patients Undergoing Chemotherapy: An Emotion Approach - Journal of Pain and Symptom Management - Vol. 32 No. 4 October 2006 4-Symptom Prevalence in Patients with Incurable Cancer: A Systematic Review - Journal of Pain and Symptom Management Vol. 34 No. 1 July 2007. 17/08/12 Diagnóstico Sintoma multifatorial e multidimensional Primária X Secundária Fadiga Primária Ação tumoral direta Mecanismos periféricos - gasto de energia Mecanismos centrais - desregulação do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal ou do metabolismo da serotonina. Intimamente relacionada à carga elevada de citocinas pró-inflamatórias circulantes. Fadiga Secundária Relacionada à co-morbidades e uso de drogas sedativas. Necessário o reconhecimento dos fatores predominantes em cada caso Intervenções farmacológicas e não-farmacológicas. 1-Oxford Textbook of Palliative Medicine – Third Edition – Oxford Universty Press 2004. 2-Multidimensional Independent Predictors of Cancer-Related Fatigue - Journal of Pain and Symptom Management - Vol. 26 No. 1 July 2003 3-Cancer-Related Fatigue: Central or Peripheral? - Journal of Pain and Symptom Management - Vol. 38 No. 4 October 2009 4-Plasma Interleukin-6 and Fatigue in Terminally Ill Cancer Patients - Journal of Pain and Symptom Management - Vol. 35 No. 2 February 2008. 17/08/12 Fisiopatologia Efeitos diretos Fatores induzidos pelo Hospedeiro Fatores Associados Fatores Lipolíticos Fator de Necrose Tumoral Caquexia Fatores proteolíticos Interleucina-1 Infecção Degradação Tumoral Interleucina-6 Anemia Invasão do SNC ou da Ptuitária Hipóxia Fatores Metabólicos Disordens Neurológicas Disordens Endócrinas Sd. Paraneoplásica Questões Psicológicas 17/08/12 Medicina Paliativa – Declan Walsh – 2010 Elsevier España, S. L Tratamento Não Farmacológico Exercícios Regularidade x Intensidade Melhora da Qualidade de Vida Melhora do KPS Diretamente relacionado à Sarcolemia Distúrbios do Sono Frequente em câncer Relacionado a patologia, consequências dos tratamentos ou estresse emocional existente Benefícios com higiene do sono Cognitivo-Comportamental Terapia de Grupo Aconselhamento Individual Técnicas de Relaxamento Conservação de Energia Organização de Atividades Diárias Terapias Alternativas Acumpuntura Estudos randomizados andamento ainda 17/08/12 Fadiga relacionada ao câncer: uma revisão - Rev Assoc Med Bras 2011; 57(2):211-219 em Tratamento Farmacológico 1- Progestogênios 2- Costicosteróides Estimulação do neuroptídeo-y (hipotálamo) ↑ significante do Peso ↑apetite Inibição de citocinas circulantes Efeito limitado (2- 4 semanas) Dose: 20 – 40 mg/dia de Prednisona ou Tempo de efeito: 1 semana a 4 meses Acetato de Megestrol 160-480 mg/dia Efeitos colaterais: TVP Edema periférico Hiperglicemia HAS Cushing Alopécia Inibição Adrenal equivalente Útil em pacientes de menor prognóstico Os efeitos colaterais mais importantes são: TVP, Edema periférico, Hiperglicemia, HAS e Síndrome de Cushing 17/08/12 Fatigue in Palliative Care Patients an EAPC aproach – Palliat Med 2008; 22;13 Tratamento Farmacológico 3 - Metilfenidato 4- Modafinil Aprovado pelo FDA em 1998 (no Brasil – Psicoestimulante ↑ produção e neuroransmissores reaproveitamento de Categoria de evidência B na Fadiga Posologia: 5 a 20 mg, 2x/dia (máx 60mg/dia) Metabolização hepática Reduz a sedação opióide-induzida Efeitos colaterais: Cefaléia, Taquicardia, HAS Insônia, Agressividade / Agitação Náuseas, Xerostomia Stavigile) Promove a recaptação de neurotransmissores – ação via GABA T1/2 – 15h Metabolização hepática Usada na fadiga Doenças Neurológicas Esclerose Múltipla ELA Parkinson HIV/AIDS Reduz a sedação opióide-induzida Posologia: 200mg/dia (máx 400mg) Efeitos colaterais Agitação Insônia Náusea e Diarréia 17/08/12 Fatigue in Palliative Care Patients an EAPC aproach – Palliat Med 2008; 22;13 Modafinil and methylphenidate for neuroenhancement in healthy individuals: A systematic review - Pharmacological Research 62 (2010) 187–206 2-ANOREXIA Definição: perda de apetite presente em pacientes com doença avançada (citocinas circulantes) 2º. sintoma mais comum em cuidado paliativo Causas Obtrução intestinal / Constipação Dor Candidíase oral Mudanças no paladar/ aversão a determinados alimentos Baixa moral / depressão Tratamento Causas reversíveis Melhorar a qualidade de vida do paciente Não há melhora do estado nutricional do paciente Medidas Farmacológicas Anabolizantes Progestogênios Corticosteróides Estimuladores de apetite Canabinóides 17/08/12 3- NÁUSEAS / VÔMITOS Definição: As náuseas são sensações de mal estar seguidas por vontade de vomitar. Este estado é o resultado de contrações na região do estômago, que não digere a comida, mas a devolve no esôfago para uma ejeção final (vômitos). 17/08/12 Mecanismo de Ação 17/08/12 Causas: Medicamentosa Radioterapia Quimioterapia Distúrbios metabólicos Aumento da pressão intracraniana Obstrução intestinal Gastroparesia Irritação Gástrica Tratamento Avaliar causas reversíveis Tratamento Medicamentoso Metoclopramida – o antagonista dopaminérgico e estimulador da motilidade via recaptação de acetilcolina Setronas o Atuam nos receptores de Serotonina centrais e periféricos o Boa resposta na êmese aguda gerada por drogas Fenotiazidas o Antagonistas D2 (ex: Haloperidol) Esteróides – sinergismo com metoclopramida e setronas Anticolinérgicos – reduz as secreções intestinais (ex:Hioscina) 17/08/12 4- CONSTIPAÇÃO Definição: Diminuição da frequência das evacuações e/ou aumento na consistência das fezes (muitas vezes acompanhada de tenesmo e dor). Epidemiologia: 45% dos Pacientes de Cuidados Paliativos 90% dos pacientes em uso de opióides 17/08/12 Causas: Relacionadas à doença: Imobilidade, baixa ingesta alimentar, dieta com poucos resíduos. Depleção de Fluidos: Baixa ingesta de fluidos, perda corporal (febre, vômitos,etc). Astenia: Perda da capacidade de contração da musculatura Obstrução: Medicações (ex: opióides, diuréticos, octreotide, ondasetron Distúrbios Eletrolíticos (ex: hipocalemia, hipercalcemia). Tratamento Hidratação Ingesta maior de fibras (quando não há obstrução) Medicações laxativas Osmóticos Surfactantes Estimulantes 17/08/12 5- DELIRIUM Definição: Disfunção cerebral global, caracterizada por distúrbios do nível de consciência,da atenção pensamento, percepção memória, emoção e ciclo sono-vigília. Epidemiologia: Instalação abrupta Complicação neuropsiquiátrica mais comum em Cuidados Paliativos Geralmente reversível (ao contrário da demência) 33% dos pacientes internados e 85 % dos pacientes em CFV Sinal de mau prognóstico Aumento do estresse dos cuidadores 17/08/12 Diagnóstico pelo DSMIV: A – Distúrbio da consciência, redução da capacidade direcionar, de focar, sustentar ou deslocar a atenção. B – Mudança na cognição (déficit de memória,desorientação, alteração da fala ou da percepção) sem existência prévia C – Os distúrbios ocorreram em um curto período de tempo (horas ou dias) e tendem a flutuar ao longo do dia D – Existem evidências, a partir da história, exame físico ou achados laboratoriais, de que o distúrbio é causado por consequências fisiológicas diretas de condição médica geral Causas: Diretamente relacionadas ao SNC Tumor cerebral (primário ou metastático) Convulsões Causas indiretas Encefalopatia Distúrbio Hidroeletrolítico Efeitos colaterais de: quimioterapia, radioterapia, narcóticos, esteróides, anticolinérgicos, anti-eméticos, antivirais Infecção Síndromes paraneoplásicas 17/08/12 Manejo do Delirium Resultado Delirium Tratamento Delirium Préterminal Destinado a reverter as causas Delirium Reversível Destinado a controlar sintomatologia Delirium Irreversível Delirium Terminal 17/08/12 Tratamento Neurolépticos Haloperidol – 0,5 a 5mg (2-12h) – VO, IV, SC,IM Clorpromazina – 12,5 a 50mg (4-8h) VO, IV, IM Droperidol – 0,625 a 2,5mg (4-8h) IV, IM Neurolépticos atípicos Olanzapina – 2,5 a 20mg (12-24h) VO Risperidona – 0,5 a 3mg (12-24h) VO Benzodiazepínicos Lorazepan – 0,5 a 2mg (1-4) VO, IV, IM Midazolan – 30 a 100mg (24h) IV, SC Anestésicos Propofol – 10 a 70mg/h (dose máxima 200mg/h) IV 17/08/12 6- DISPNÉIA DEFINIÇÃO A dispnéia é "uma experiência subjetiva de desconforto respiratório que consiste em sensações qualitativamente distintas que variam em intensidade". Esta definição destaca três elementos-chave de falta de ar: 1. A dispnéia é subjetiva. Nem sua presença nem a gravidade pode ser inferida a partir de investigações clínicas ou de laboratório, temos de perguntar sobre isso. 2. A dispneia é não só uma sensação única que varia apenas de intensidade. O termo engloba várias percepções descritas em frases como: falta de ar, aumento do esforço, aperto no peito, respiração acelerada, a expiração incompleta ou sensação de asfixia. 3. Como dor, dispnéia é um sintoma, multidimensional intensamente pessoal moldada por experiências com componentes afetivos e físicos. 17/08/12 Epidemiologia • A dispnéia é um problema em muitas doenças limitantes de vida e a prevalência e gravidade tendem a aumentar com o avanço da doença. • Dispnéia diminui o estado funcional, as atividades sociais, a qualidade de vida, e vontade de viver. • Em um estudo internacional a sedação controlada foi solicitada 3x mais pela dispnéia que pela dor • Variação de 29-74% • Sinal de mal prognóstico • A freqüência com a proximidade da morte • Causas oncológicas x não oncológicas 17/08/12 Causas Causas: 1) Ação direta do tumor: • Tumor primário • Metástases • Derrame pleural • Derrame pericárdico • Sd. de veia cava superior • Linfangite carcinomatosa • Atelectasia • Paralisia do n. frênico • Obstrução de VAS • • • • • • • Fístula traqueo-esofágica Infiltração de parede torácica Ascite maciça Distensão abdominal Leucostase pulmonar Microêmbolos tumorais Hemoptises maciças 2) Efeito do Tratamento: •Pós-pneumectomia •Fibrose actínica •Sd. de dispnéia aguda (mitomicina+alcalóide da vinca) •Fibrose pulmonar por QT (Bleomicina) •Cardiomiopatia (Adiramicina/Ciclofosfamida) 3) Sem relação direta com o tumor: Anemia Sd. Anorexia-caquexia e Astenia Embolia pulmonar Pneumonia, Empiema, Pneumotórax Fraqueza muscular ICC Paralisia diafragmática, Deformidade da parede torácica Fratura de costela Ansiedade/somatização Asma / DPOC, Doença pulmonar intersticial 17/08/12 FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A SENSAÇÃO DE DISPNÉIA FIGURE 159-1 Many factors contribute to the experience of dyspnea. 17/08/12 Classificação da Dispnéia no Câncer Avançado (Andrew Wilcock ) Dispnéia / Tratamento Tratamento com Drogas Tratamento sem Drogas Correção do Possível Aos esforços Em repouso Terminal 17/08/12 Ciclo Vicioso Dispnéia Medo da Morte Insegurança Pânico Aumento da Ansiedade 17/08/12 Tratamento Não-Farmacológico 1) OXIGÊNIO • O oxigênio suplementar é muitas vezes assumido como sendo útil na hipoxemia • Pacientes hipoxêmicos não necessariamente ganharão alívio da dispnéia com oxigênio suplementar. • É impossível prever, mesmo com base na saturação de oxigênio arterial, quem irá se beneficiar. (efeito placebo) 2) FLUXO DE AR A estimulação do nervo trigeminal por meio de receptores cutâneos ou nasais reduz a intensidade da dispneia. Indivíduos saudáveis relataram uma diminuição na intensidade da dispneia induzida experimentalmente a partir de uma corrente de ar frio contra a face. 3) INTERVENÇÕES COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS • • É essencial ajudar o paciente a formular estratégias para exacerbações esperadas, mas muitas vezes imprevisíveis. Podem incluir: ▫ Distração (por exemplo, imagens, música guiada), ▫ Atividades alternativas (por exemplo, um banho de chuveiro, orar), ▫ Técnicas de respiração, ▫ Mobilização de apoios sociais. ▫ Equipar pacientes com ferramentas práticas para o gerenciamento de episódios dispnéicos 4) REABILITAÇÃO E TREINAMENTO EXERCÍCIO • Uma abordagem orientada para a reabilitação à falta de ar pode diminuir a produção de dispnéia por: ▫ Treinamento muscular respiratório, ▫ Impacto funcional - desenvolvimento de estratégias de acomodação ▫ Experiência dos sintomas, aumentando a sensação de controle. ▫ Treinamento físico melhora os sintomas, o estado funcional e qualidade de vida. 17/08/12 Tratamento Farmacológico Tratamento: 1- Causas reversíveis 2- Sintomáticos Opióides Sedação Redução da ansiedade Redução da sensibilidade à hipercapnia Redução da sensibilidade à hipoxemia Melhoria da função cardíaca Benzodiazepínicos Broncodilatadores 17/08/12 Tratamento Farmacológico 1) OPIÓIDES • O principal local de ação de opióides em pacientes com dispnéia é o bulbo cerebral • Mecanismos de ação: ▫ ▫ ▫ ▫ ▫ ▫ ▫ ▫ Diminuição da taxa metabólica e exigências ventilatórias Sensibilidade medular reduzida à hipercarbia ou hipóxia Resposta à hipercarbia Blunted medular ou hipóxia Alteração da neurotransmissão no centro respiratório medular Sedação Cortical (supressão da sensibilização respiratória) Redução da dor induzida por estímulo respiratório Vasodilatação (ou seja, melhor função cardíaca) Os efeitos ansiolíticos • Apreensão em relação ao uso de opióides para dispnéia é geralmente baseada em um risco percebido do drive respiratório prejudicando, causando ou agravando a hipóxia ou hipercapnia ▫ Crescentes evidências atestam a segurança dos opióides devidamente tituladas para dispnéia. ▫ A frequência de efeitos adversos é semelhante ao dos pacientes, utilizando opióides para a dor; a tolerabilidade global é alta. • Há boas evidências do uso de opióides sistêmicos • O mesmo não pode ser dito de opióides nebulizados. 17/08/12 Tratamento Farmacológico 2) BENZODIAZEPÍNICOS • Embora possam ter um papel em terapia de combinação, não há nenhuma evidência de que eles têm vantagem direta para a falta de ar • Atuam no controle da ansiedade causada pela Dispnéia TERAPIAS DE COMBINAÇÃO • Um pequeno número de estudos advogam a combinação de um não-opióide com um opióide 3)BRONCODILATADORES Agentes simpaticomiméticos inalados, no caso da tosse com estreitamento da via aérea, como acontece na asma brônquica e no enfisema. B-agonistas: Fenoterol Anti-colinérgicos: Ipratrópio 17/08/12 "O sofrimento humano só é intolerável quando ninguém cuida".” Cicely Saunders 17/08/12