MARKETING: UMA ABORDAGEM NUTRICIONAL MARKETING: A NUTRITIONAL APPROACH RUI MIGUEL ARAÚJO RODRIGUES ORIENTAÇÃO: MARIA CRISTINA TEIXEIRA SANTOS CO-ORIENTAÇÃO: MONOGRAFIA LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DA NUTRIÇÃO PORTO, 2010 RITA SILVA 2 i ÍNDICE Pág. Lista de Abreviaturas iii Resumo | Palavras-Chave v Abstract | Keywords vi I. Introdução 1 II. Desenvolvimento do Tema 4 i. Características do Marketing na Alimentação 4 ii. A Comunicação no Marketing Aplicado aos Alimentos 8 iii. Alegações e Rotulagem Nutricional 11 iv. O Marketing na Diferenciação de Produtos 16 v. A Obesidade na sua Relação com o Marketing Alimentar 20 III. Análise Crítica e Conclusões 24 IV. Referências Bibliográficas 29 ANEXOS 35 ii iii LISTA DE ABREVIATURAS ADA – American Dietetic Association (Associação Americana de Dietética) CDC – Centers for Disease Control and Prevention (Centros para o Controlo e Prevenção de Doenças) CE – Comunidade Europeia DDR – Dose Diária Recomendada DL – Decreto-Lei EFSA – European Food Safety Authority (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos) EUA – Estados Unidos da América FDA – Food and Drug Administration (Administração de Alimentos e Medicamentos) g – Gramas ILSI – International Life Sciences Institute (Instituto Internacional de Ciências da Vida) IMC – Índice de Massa Corporal kcal – Quilocalorias kJ – Quilojoules ml – Mililitros NHANES – National Health and Nutrition Examination Survey (Avaliação Nacional de Saúde e Nutrição) OGM – Organismos Geneticamente Modificados OMS – Organização Mundial de Saúde Reg – Regulamento iv SHOP – Supermarket Healthy Options Project (Projecto de Opções Saudáveis nos Supermercados) UE – União Europeia µg - Microgramas v RESUMO O marketing aplicado aos alimentos é um factor determinante na modulação dos ambientes alimentar e nutricional e, consequentemente, das escolhas alimentares. As preocupações relativas às tendências da Indústria Alimentar e às suas campanhas de marketing têm levado os investigadores a debruçar-se acerca da influência do marketing alimentar na Saúde Pública. A comunicação, como elemento chave no planeamento estratégico do marketing, é um factor determinante para o sucesso das intervenções de marketing na alimentação. Esta, deve ser uma aposta forte dos profissionais de saúde, em conjunto com outros profissionais, no sentido da promoção da saúde dos consumidores. O marketing nutricional surge como uma particularidade do marketing alimentar e tem sido aposta firme das empresas do ramo alimentar. A sua aplicação deve estar de acordo com as respectivas disposições legais, nomeadamente, relativas a alegações e rotulagem nutricional. O marketing nutricional é um factor importante na diferenciação de produtos, em conjunto com as inovações tecnológicas e com a criação de novos produtos, dos quais se destacam os alimentos funcionais. A relação verificada entre o marketing aplicado a alimentos e a Obesidade, especialmente em crianças e adolescentes, tem conduzido a esforços no sentido da regulamentação do marketing alimentar. Apesar dos esforços, estas estratégias têm tido, na maioria dos casos, pouco sucesso. PALAVRAS-CHAVE marketing alimentar; marketing nutricional; comunicação; alegações nutricionais; alegações de saúde; rotulagem nutricional; diferenciação de produtos; Obesidade vi ABSTRACT The food marketing plays a key role in the modulation of food and nutrition environments and, thus, in the modulation of food choices. The concerns about the trends of the Food Industry and its marketing campaigns have led researchers to study the influence of food marketing in Public Health. Communication, as a key element in the strategic planning of marketing, is crucial for successful interventions in food marketing. This fact should bring a strong commitment between health professionals, together with other professionals, and the promotion of consumer’s health. Nutrition marketing is a particularity of food marketing and it has been applied, quite often, in the businesses of food. The application of nutrition marketing must be in accordance with its respective laws, particularly nutrition and health claims and nutrition labelling. Nutrition marketing is an important factor in product differentiation, together with technological innovations and the creation of new products, such as functional foods. The correlation between food marketing and obesity, especially among children and teenagers, has led to efforts towards the regulation of food marketing. Despite these efforts, in most cases, these interventions had little success. KEYWORDS food marketing; nutrition marketing; communication; nutrition claims; food claims; nutrition labelling; differentiation of products; Obesity 1 I. INTRODUÇÃO Nos últimos trinta anos tem-se assistido a mudanças drásticas no ambiente alimentar e, consequentemente, no ambiente nutricional (1) . Estas mudanças podem explicar, em parte, as complexas alterações ao nível do comportamento alimentar, tanto benéficas como deletérias, que se têm vindo a verificar (2). Apesar de se considerar que é difícil medir o ambiente alimentar, este está conotado como uma importante causa das tendências epidemiológicas verificadas nos últimos anos, nomeadamente, no que diz respeito a doenças crónicas directamente relacionadas com a alimentação (3) . Um dos factores que tem contribuído, em maior escala, para a alteração deste ambiente é o marketing aplicado a alimentos (1). O marketing foi definido por Kotler como o processo social pelo qual indivíduos e grupos satisfazem as suas necessidades e desejos através da criação e troca de produtos de valor com outros (4) . Mais recentemente tem-se assistido a uma evolução deste conceito no sentido do estabelecimento e manutenção das relações de troca mutuamente benéficas com os clientes e outros grupos de interesse. Estas relações de troca pressupõem a existência de duas ou mais pessoas ou organizações e que estas possuam algo de valor para negociar, no caso, o vendedor recebe o dinheiro e o cliente adquire o produto (5) . O marketing focaliza-se essencialmente nas necessidades, desejos e demandas dos indivíduos que fazem parte do mercado-alvo e que se apresentam como potenciais clientes (6) . Dependendo do tipo de estratégia que segue, o marketing pode ser classificado como marketing transaccional ou como marketing de relacionamento. O marketing transaccional focaliza-se sobretudo nas trocas 2 individuais e isoladas, na satisfação das necessidades de um único cliente num determinado momento e local e cujos objectivos principais são os de conquistar novos clientes e realizar uma única venda, estabelecendo relações de curto prazo com o cliente (6) . Por sua vez, o marketing de relacionamento baseia-se no estabelecimento de relações de longo prazo, mutuamente benéficas, com o cliente interno, o cliente externo e outros grupos de interesse (6) . Dependendo do tipo de cliente a que o marketing está a ser aplicado, este pode ser classificado como marketing interno ou como marketing externo. O marketing interno ou endomarketing objectiva satisfazer clientes internos como pré-requisito para a satisfação dos clientes externos (6) . O marketing externo visa satisfazer o cliente externo e as suas intervenções assentam na estratégia dos 4 P’s “Produto, Preço, Place (Distribuição) e Promoção” (6): • Produto: desenvolvimento e diferenciação do produto (concepção do produto, criação de novos produtos, aperfeiçoamento de produtos já existentes para suportar a concorrência no mercado); • Preço: determinação do valor e preços (conjunto das decisões e acções utilizadas para criar valor e estabelecer um preço aproximado que irá levar a uma troca de marketing mutuamente benéfica); • Place (Distribuição): gestão dos canais e da cadeia de valor (estabelecimento de uma sequência de acções para administrar as relações com outras organizações); • Promoção: comunicação integrada de marketing (ajuda na construção de relacionamentos através da coordenação de todas as mensagens de marketing e da abertura do diálogo com o cliente e com outros grupos de interesse). 3 Antes de se avançar para a implementação de qualquer estratégia de marketing, é necessário pesquisar. A pesquisa de marketing envolve os seguintes passos (7): 1. Definir o problema e determinar a situação actual; 2. Projectar a pesquisa e identificar as fontes de dados; 3. Recolher dados primários; 4. Analisar e interpretar dados; 5. Seleccionar e implementar a melhor alternativa ética; 6. Avaliar os resultados. O conceito de pesquisa de marketing não deve ser confundido com o conceito de pesquisa de mercado. Este último assenta em pesquisas realizadas em mercados ou segmentos de mercado específicos, enquanto a pesquisa de marketing abarca, não só, a pesquisa de mercado mas, igualmente, todo o tipo de pesquisa conduzida no processo integral do marketing (7). Existem inúmeras categorias de marketing, das quais se destacam, para este trabalho, o marketing alimentar, o marketing nutricional e o marketing social. Os alimentos, como produtos de primeira necessidade, apresentam um grande potencial para o mercado consumidor (8). Neste sentido, a Indústria Alimentar tem apostado forte no marketing de alimentos (8). Por um lado, criando ou modificando produtos no sentido de satisfazer as necessidades, desejos e demandas actuais da população e, por outro lado, promovendo a divulgação dos produtos e das suas características nutricionais, através da publicidade, da propaganda e de acções promocionais (9) . Todas estas actividades assentam num elemento que constitui uma das fases mais importantes do planeamento estratégico do marketing, a comunicação integrada (9). 4 II. DESENVOLVIMENTO DO TEMA i. CARACTERÍSTICAS DO MARKETING NA ALIMENTAÇÃO O consumidor actual define-se por querer o máximo de qualidade possível no produto que compra. Revela ter grande preocupação pelo preço e pela relação qualidade-preço e parece cada vez menos disposto a fidelizar a sua adesão a uma única marca, mostrando-se mais flexível para optar por outras marcas se a relação qualidade-preço for mais favorável (10). O intenso desenvolvimento da Indústria Alimentar e a forte concorrência que há no mercado estão a levar os produtores a tentarem cada vez mais diferenciar os seus produtos. Existem várias formas de diferenciação de um produto alimentar, desde a criação de embalagens mais atractivas e fáceis de manipular, factor de grande importância na influência ao nível da compra, até ao marketing nutricional que é uma particularidade do marketing alimentar (11) . O marketing alimentar tem a capacidade de fazer a ponte entre o produtor e o consumidor, estando envolvido em toda a cadeia de actividades que acompanha o produto, ou seja, do prado ao prato (8) . Neste sentido, a Indústria Alimentar pode desempenhar um papel importante na ajuda do consumidor, nomeadamente, na sua informação e orientação para escolher os produtos mais adequados para uma alimentação saudável (12). Em Maio de 2004, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aprovou uma estratégia global para a prevenção de doenças crónicas, mais concretamente: doenças cardiovasculares; Diabetes Mellitus tipo II; Cancro e outras patologias 5 associadas à Obesidade (13) . Esta estratégia envolveu a participação dos Estados Membros, das Organizações não Governamentais e da Indústria Alimentar. De entre as várias actividades que constam da estratégia, estão: a reformulação da comunicação e da educação do consumidor, incluindo o marketing e, igualmente, das alegações de saúde e da rotulagem nutricional (13) . No entanto, esta é uma estratégia que acarretará custos e dificuldades metodológicas às empresas e que, portanto, levará a que apenas uma minoria das empresas a adopte (14). O marketing alimentar tem como característica principal a focalização no mercado. Baseia-se numa abordagem por processos que assenta em rigorosas pesquisas de mercado, na orientação para o cliente e para a satisfação do mesmo, na coordenação e integração de todas as actividades no sentido de tornar o processo mais dinâmico e na rentabilidade de todo o processo de criação, promoção e venda do produto um factor importante de (9) . Por sua vez, o marketing nutricional é diferenciação de produtos. Sendo aplicado, fundamentalmente, através da rotulagem nutricional e de alegações, tem a capacidade de encorajar e mover o consumidor no sentido da adopção de uma alimentação saudável (8). Os investigadores na área do marketing alimentar procuram, sobretudo, encontrar as determinantes que levam o consumidor a comprar um determinado produto e a desenvolver um acto de fidelização com o mesmo. As estratégias usadas no contexto do marketing alimentar assentam no facto de a maioria dos nossos comportamentos serem automáticos e, portanto, passíveis de serem influenciados por factores externos (15) . Alguns autores chegam mesmo a considerar que comer é um comportamento automático e que a importância dos factores internos, inerentes a cada indivíduo, é menos relevante (15-21) . Uma das estratégias 6 psicológicas mais importantes usadas pelo marketing alimentar é o priming. Este fenómeno consiste na manipulação das decisões ou julgamentos através da apresentação prévia de palavras, conceitos ou imagens, os quais têm a capacidade de produzir comportamentos automáticos (15) . Os supermercados são os locais privilegiados para a aplicação prática destas estratégias psicológicas do marketing alimentar. A exemplo disto, Rose D et al estudaram a relação entre o espaço de prateleira ocupado por produtos densamente energéticos (doçarias) e por hortofrutícolas, e o Índice de Massa Corporal (IMC) das populações vizinhas. As conclusões apontaram para uma correlação positiva entre o espaço de prateleira dos produtos densamente energéticos e o IMC mas, não mostraram qualquer correlação entre o espaço de prateleira dos hortofrutícolas e o IMC (2) . Outros investigadores na área do marketing alimentar mostraram ainda que, quando se aumenta para o dobro o espaço de prateleira de produtos doçes, densamente energéticos, as suas vendas aumentam na ordem dos 40% (22, 23). Um outro tipo de marketing que tem vindo a ser cada vez mais usado e, que se distingue de todos os outros tipos, é o marketing social. Este é definido como o resultado da aplicação de tecnologias do marketing comercial na análise, planeamento, execução e avaliação de programas desenhados para influenciar os comportamentos voluntários do público-alvo que contribuam para o seu bem-estar e da sociedade em geral (24) . No contexto da alimentação, o marketing social é uma mais-valia, pois possibilita aplicar estratégias de marketing da área comercial para resolver problemas nutricionais e ou de saúde (24). As estratégias do marketing social no contexto da Saúde Pública focalizam--se na adopção de comportamentos voluntários benéficos. Utiliza técnicas, tais como, a 7 pesquisa de mercado orientada para o consumidor, a segmentação do mercadoalvo para criar estratégias adaptadas a cada segmento e, aplica-se, não só ao consumidor mas, também, aos profissionais, às organizações e a quem participa na formulação de políticas públicas (25). Uma revisão feita a várias meta-análises, em Inglaterra no ano de 2007, sobre a efectividade das intervenções do marketing social na promoção da saúde, que contemplava nutrição, actividade física e o consumo de álcool, tabaco e drogas ilícitas, concluiu que: as intervenções do marketing social podem ser efectivas, com forte evidência para os aspectos nutricionais, álcool, tabaco e drogas ilícitas e, com alguma evidência, no entanto menor, para a prática de actividade física (24) . No âmbito das Ciências da Nutrição, o marketing social assume uma especial importância uma vez que as suas estratégias estão referenciadas como tendo alguma eficácia na promoção de hábitos alimentares saudáveis (26) . O sucesso destas estratégias está dependente de vários factores, nomeadamente, da metodologia que se escolheu, do público-alvo e do seu nível de motivação e conhecimento mas principalmente, está dependente daquilo que se comunica e como se comunica (26). ii. A COMUNICAÇÃO NO MARKETING APLICADO AOS ALIMENTOS A comunicação é um elemento-chave do marketing, sendo uma das etapas finais do seu planeamento estratégico. É fundamental para as actividades de divulgação de produtos, das quais se destacam a publicidade e a propaganda (27). 8 A publicidade é definida como o acto de divulgar, de tornar público um facto ou uma ideia (27) . Tem como objectivo, dar a conhecer um produto ao consumidor, mostrar como esse produto vai de encontro às suas necessidades e desejos a fim de o levar a realizar a compra pretendida (27) . Por sua vez, a propaganda é a propagação de princípios ou teorias e tem como objectivo implementar e incutir uma ideia ou uma crença (28) . A propaganda permite ao público-alvo reconhecer o produto, associá-lo a determinados benefícios ou valores do seu agrado, conduzindo-o igualmente à compra do produto (28). Assim, e trabalhando de uma forma integrada com todas as outras etapas do planeamento estratégico do marketing (4 P’s), a comunicação é um factor determinante para que se chegue ao objectivo principal do marketing, o da compra do produto por parte do consumidor (29). Com o aumento da complexidade dos sistemas de distribuição e com o desenvolvimento da Indústria Alimentar, começaram a surgir novos produtos e novas marcas. Neste sentido, a publicidade assumiu um papel determinante na distinção de produtos segundo as diversas marcas (27) . Para transmitir as suas mensagens, a publicidade usa meios de comunicação que estejam acessíveis e que sejam passíveis de utilização pelo público-alvo. Entende-se por meio de comunicação, todo o meio, forma ou recurso capaz de levar ao conhecimento do consumidor a mensagem publicitária elaborada para fazer a propaganda ou divulgar um produto ou serviço (28). Relativamente aos meios de comunicação, podem ser dos seguintes tipos (27): • Visuais (jornais, revistas, cartazes, painéis, prospectos, folhetos, cartas, catálogos, vitrinas e exposições); • Auditivos (rádio e por alto-falante); 9 • Audiovisuais (televisão e cinema); • Interactivos (Compact-Disc e Internet). A televisão é reconhecida como o meio de comunicação mais acessível e aquele que tem maior impacto no consumidor final (30). No contexto do marketing nutricional, a comunicação deve ser, sempre que possível, adaptada ao grupo-alvo em questão para que possa ter o maior impacto possível e para maximizar a eficácia do processo de marketing (31). Há vários princípios corroborantes para uma comunicação eficaz e que são importantes seguir no momento da criação, comunicação e promoção de um determinado género alimentício. As mensagens sobre nutrição devem ser simples, dado a que mensagens complexas podem gerar confusão no consumidor comum e esta confusão pode levar a que o consumidor rejeite boa informação (32). Alguns autores defendem que se deve adaptar a linguagem o mais próximo possível do nível individual (27) . A título exemplificativo, no estudo Supermarket Healthy Options Project (SHOP), um ensaio clínico realizado na Nova Zelândia entre os anos de 2007 e 2009 para estudar a influência da educação adaptada e da política de preços na compra de alimentos nutricionalmente equilibrados nos supermercados, constatou-se o seguinte: a educação alimentar adaptada mostrou-se mais eficaz na promoção da compra de alimentos nutricionalmente equilibrados do que a educação alimentar realizada para grupos em geral mas, menos eficaz do que os descontos ao nível do preço (33). Para além destas estratégias ao nível da forma como se comunica, é fundamental uma integração de esforços entre os profissionais de saúde, governo, organizações voluntárias, produtores e media (34) . Este trabalho em conjunto poderia proporcionar a formulação de conteúdos mais coerentes, evitando assim 10 a confusão por parte do consumidor e promovendo a aceitação da informação (34). Desta forma, o papel dos investigadores e dos profissionais de saúde que trabalham com nutrição assume um papel central. A investigação sobre nutrição é abundante mas, a comunicação desta investigação por parte do investigador, na maioria dos casos, apenas se dá ao nível da comunidade científica (32) . Não raras vezes, as informações sobre nutrição chegam ao consumidor por via da comunicação social, ou por meios que podem retirar coerência a tais informações, gerando confusão e alimentando mitos (32). Estão definidos vários factores que contribuem para a confusão do consumidor que recebe informação sobre nutrição, designadamente (35): • A não quantificação ao nível das porções de alimentos; • A falta de relação com as recomendações diárias de energia e de nutrimentos; • A falta de contextualização das informações; • A inexperiência e desconhecimento no assunto por parte do comunicador. A exemplo disto, quando se está a fazer uma comunicação sobre o que se deve ou não comer no sentido de uma alimentação equilibrada, esquece-se, muitas vezes, de referir a quantidade, a frequência e a quem se aplicam essas informações (32). Um profissional de saúde, quando comunica em primeiro lugar os novos achados da investigação sobre alimentação e nutrição, impede que outros, que estão menos instrumentados na área, o façam e, é capaz de influenciar a Saúde Pública e a política nutricional, ao mesmo tempo que o seu trabalho ganha maior visibilidade (32) . O trabalho em conjunto dos profissionais de saúde, particularmente, do Nutricionista, com os meios de comunicação, pode beneficiar o público em geral, ajudando na promoção da Saúde Pública, bem como, influenciando políticas públicas (32). 11 iii. ALEGAÇÕES E ROTULAGEM NUTRICIONAL Entende-se como alegação, qualquer mensagem ou representação, não obrigatória nos termos da legislação comunitária ou nacional, incluindo qualquer representação pictórica, gráfica ou simbólica, seja qual for a forma que assuma, que declare, sugira ou implique que um alimento possui características particulares (36). Em Portugal, as alegações sobre alimentos estão legisladas pelo Regulamento (Reg) da Comunidade Europeia (CE) n.º 1924/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de Dezembro de 2006 (36) . Este Regulamento tem como principais objectivos garantir o funcionamento eficaz do mercado interno europeu (36) e assegurar um elevado nível de protecção dos consumidores . Aplica-se a todas as alegações nutricionais e de saúde feitas em comunicações comerciais, nomeadamente, na publicidade genérica de alimentos e em campanhas de promoção, incluindo as patrocinadas, total ou parcialmente, pelas autoridades públicas (36) . Aplica-se ainda às marcas de fabrico e outras marcas comerciais susceptíveis de serem interpretadas como alegações nutricionais ou de saúde e aos alimentos destinados ao abastecimento de restaurantes, hospitais, escolas, refeitórios e outros estabelecimentos de alimentação colectiva (36) . Por outro lado, este documento, não se aplica às alegações feitas em comunicações comerciais (exemplo: orientações ou conselhos dietéticos emanados das autoridades e organismos de Saúde Pública) nem em comunicações e informações não comerciais provenientes da imprensa e de publicações científicas. É de referir ainda que, os efeitos nutricionais deletérios para a saúde, não estão abrangidos por este Regulamento (36). 12 Com a entrada em vigor do Reg (CE) n.º 1924/2006, são permitidas na União Europeia (UE) três tipos de alegações sobre alimentos (36): • Alegações nutricionais: afirmam, sugerem ou implicam que um alimento possui propriedades benéficas particulares devido à sua composição nutricional (pela ingestão energética ou pela ingestão de um nutrimento em particular); • Alegações de saúde: afirmam, sugerem ou implicam uma relação entre um alimento ou um dos seus constituintes e a saúde. Referem-se a funções fisiológicas de um componente, tais como, “cálcio ajuda a fortalecer os ossos”. As alegações de saúde têm obrigatoriamente de ser baseadas na evidência científica devidamente comprovada e devem ser de compreensão fácil para o consumidor comum; • Argumentos para reduzir o risco de doença: tipo particular de alegações que sugere que um alimento, ou um dos seus constituintes, reduz significativamente o risco de uma doença (exemplo: os esteróis vegetais podem ajudar a reduzir os níveis de colesterol plasmático, diminuindo o risco de doenças cardiovasculares). Actualmente, já existe uma lista de alegações nutricionais que são permitidas em território europeu, as quais devem obedecer a determinadas condições [Anexo A], mas ainda não se encontra definida uma lista de alegações de saúde. Para que uma empresa possa usar uma alegação de saúde sobre um alimento, é necessário que se faça uma proposta à European Food Safety Authority (EFSA). Esta decidirá se aprova ou não a aplicação da alegação em causa, a qual deve ser baseada em evidência científica comprovada (37). 13 No caso particular das alegações nutricionais, que apresentam procedimentos de aplicação melhor definidos e detalhados do que as alegações de saúde, o Reg (CE) n.º 1924/2006 define que: quando uma alegação nutricional é usada na embalagem ou na publicidade de um alimento, esta deve vir devidamente explicada, sendo obrigatório apresentar a composição nutricional para justificar a respectiva alegação (36). No caso dos alimentos ricos em gordura, açúcares adicionados e sódio, as alegações são possíveis mas, só no caso do alimento ser rico em apenas um dos nutrimentos anteriormente citados e com a obrigatoriedade de apresentar o teor do mesmo na rotulagem (36) . Por exemplo, no caso dos cereais de pequeno- -almoço açucarados, para se alegar que são ricos em vitaminas e fibra, é obrigatório, igualmente, fazer menção à quantidade de açúcares adicionados. A forma mais comum de apresentar a composição nutricional de um alimento é através da rotulagem nutritional. Esta contempla toda a informação, constante do rótulo, relativa ao valor energético e aos seguintes nutrimentos: proteínas, hidratos de carbono, lípidos, fibra, sódio, vitaminas e sais minerais (38). As disposições legais relativas à rotulagem nutricional encontram-se harmonizadas em toda a UE pela Directiva n.º 90/46/CEE do Conselho de 24 de Setembro (38). Este documento foi alterado pelas Directivas n.º 2003/120/CE (39) e n.º 2008/100/CE (40) e pelos Regulamentos (CE) n.º 1882/2003 (41) e n.º 1137/2008 (42) . A transposição da Directiva n.º 90/46/CEE e das as suas alterações para a ordem jurídica portuguesa resultou no Decreto-Lei (DL) n.º 167/2004 de 7 de Julho (43), que por sua vez foi alterado pelo DL n.º 54/2010 de 28 de Maio (44). A legislação em vigor sobre rotulagem nutricional abarca os géneros alimentícios destinados ao consumidor final e aos estabelecimentos de alimentação colectiva, 14 não sendo aplicável às águas minerais naturais, às águas destinadas ao consumo humano e aos suplementos alimentares (38) . No caso dos géneros alimentícios pré-embalados na venda ao consumidor final e às colectividades e dos géneros alimentícios embalados nas instalações de venda imediata, a extensão das informações constantes da rotulagem nutricional, bem como as modalidades do seu fornecimento, podem ser estabelecidas por disposições emanadas pelos Estados Membros, até que haja uma adopção de eventuais medidas comunitárias em conformidade com o procedimento previsto na legislação europeia (38). Na aplicação da rotulagem nutricional, as informações a fornecer devem ser as constantes do conjunto 1 ou do conjunto 2, respeitando a ordem seguinte (43): • Conjunto 1: valor energético; quantidade de proteína, hidratos de carbono e lípidos; • Conjunto 2: valor energético; quantidade de proteína, hidratos de carbono, açúcares, lípidos, ácidos gordos saturados, fibra e sódio. Para além das informações contidas nos dois conjuntos anteriores, ainda é possível incluir na rotulagem nutricional, informações relativas a amido, polióis, ácidos gordos monoinsaturados, ácidos gordos poliinsaturados, colesterol e, igualmente, informações relativas a vitaminas e sais minerais presentes em quantidades significativas que constam do DL n.º 54/2010 de 28 de Maio [Anexo B]. (44) A apresentação do valor energético e do teor de nutrimentos deve ser feita sob a forma numérica, expressa por 100 gramas (g) ou 100 mililitros (ml) de produto, ou ainda por embalagem ou porção (43) . Relativamente às informações sobre vitaminas e sais minerais, para além de obedecer aos mesmos critérios de apresentação aplicados aos macronutrimentos e à energia, devem ainda ser 15 apresentados sob a forma de percentagem da Dose Diária Recomendada (DDR) (44) [Anexo B]. É importante referir que, no Reg (CE) n.º 258/97 do Parlamento Europeu e do Conselho de 27 de Janeiro (45) , relativo a novos alimentos e ingredientes alimentares para os quais se pretende fazer o lançamento no mercado, é necessário que a sua rotulagem apresente o valor nutritivo ou os efeitos nutricionais do alimento ou do ingrediente em questão. Na Directiva n.º 2000/13/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 20 de Março (46) , relativa à aproximação das legislações dos Estados Membros respeitantes à rotulagem, apresentação e publicidade dos géneros alimentícios, não se faz menção directa à rotulagem nutricional e às alegações. No entanto, refere-se que a rotulagem não deve conter informações que induzam o consumidor em erro ou que atribuam virtudes medicinais aos géneros alimentícios, aplicando-se estes princípios à apresentação e respectiva publicidade dos géneros alimentícios (46). Segundo a American Dietetic Association (ADA), todas as alegações nutricionais e de saúde devem ser baseadas na evidência científica, devem ser formuladas no contexto global da alimentação diária e devem levar em consideração, tanto os aspectos positivos, como negativos do alimento (27). iv. O MARKETING NA DIFERENCIAÇÃO DE PRODUTOS A Indústria Alimentar tem a capacidade de lançar bases para o desenvolvimento de políticas públicas e formas criativas de as implementar. Ao lançar um produto alimentar no mercado, a empresa responsável está comprometida com a saúde do consumidor e, no sentido colectivo, com a Saúde Pública (27). 16 Dado o seu poder no mercado global e o contributo que apresenta para a Saúde Pública, a Indústria Alimentar deveria estar sempre na linha da frente das discussões sobre inovação e programas de nutrição, tanto na formulação, como na aplicação de políticas alimentares e nutricionais (47). Por serem produtos de necessidade primária, os alimentos representam um grande potencial de mercado consumidor, o que leva os sectores de produção, desenvolvimento e industrialização de alimentos a investir cada vez mais na criação de novos produtos e na publicidade dos mesmos (27). A inovação tecnológica ao nível dos alimentos tem sofrido um aumento em massa nos últimos anos, na qual, o marketing nutricional tem tido um papel de importância crescente (8) . Geralmente, o consumidor tende a optar por alimentos mais industrializados ou modernizados, pois considera que são mais práticos e convenientes. Na verdade, os aspectos mais importantes para a decisão de compra são a conveniência do produto e as inovações ao nível da tecnologia, incluindo aspectos nutricionais e de saúde, como também, factores como as características organolépticas e o preço (27). O marketing nutricional, sendo uma estratégia que permite uma maior diferenciação de produtos, tem vindo a ser aplicado, maioritariamente, na rotulagem nutricional e nas alegações nutricionais e de saúde de produtos preexistentes mas, igualmente, na criação e divulgação de novos produtos com características nutricionais específicas e benéficas para o consumidor (48). O exemplo mais flagrante do papel das Ciências da Nutrição na criação de novos produtos é o dos alimentos funcionais, os quais não têm ainda uma definição estabelecida por lei. Estes produtos são géneros alimentícios que podem ser 17 naturais (convencionais) ou modificados [Anexo C] e que potenciam determinados efeitos fisiológicos benéficos para além dos efeitos nutricionais (49). A Food and Drug Administration (FDA) considera que as substâncias específicas contidas nestes produtos, responsáveis pela denominação de alimento funcional, podem contribuir para a protecção da saúde no contexto de uma alimentação equilibrada (50) enquanto que, a ADA reconhece os efeitos positivos destes produtos na saúde humana (51) . Na Europa, o International Life Sciences Institute (ILSI) considera que um alimento funcional é todo aquele que interfere de forma positiva no estado de saúde e de bem-estar e ou no tratamento e prevenção de determinadas doenças (52). Este tipo de produtos de valor acrescentado caracteriza-se por apresentar um componente activo que se comprovou ser responsável por determinado efeito fisiológico positivo na saúde [Anexo D] e, a sua apresentação ao consumidor faz-se, geralmente, acompanhada de alegações de saúde (53) . Ao passo que a Indústria Alimentar convencional cresce a um ritmo de 2-3% ao ano, a Indústria dos alimentos funcionais apresenta um crescimento anual na ordem dos 7-10% (54) . Para além dos alimentos funcionais, outro tipo de produtos tem vindo a ser aposta da Indústria Alimentar e alvo de fortes pesquisas de marketing, como é o caso dos produtos à base de Organismos Geneticamente Modificados (OGM), dos alimentos dietéticos, dos alimentos biológicos e também dos suplementos alimentares. A legislação europeia não considera os alimentos funcionais numa categoria específica mas, como um conceito cujos produtos se podem enquadrar em todas as outras categorias. Assim, a legislação aplicável especificamente a produtos com OGM, a alimentos dietéticos e a alimentos biológicos pode ser 18 igualmente aplicada aos alimentos funcionais no caso de um alimento estar enquadrado numa das categorias supracitadas e, ser ao mesmo tempo, um alimento funcional (49). No caso particular dos produtos com OGM, o marketing tem sido usado no sentido de promover os produtos, procurando transmitir a ideia de que os mesmos são seguros. Numa avaliação do risco feita pela FDA, as conclusões preliminares foram que estes produtos são tão seguros quanto os produtos que não contêm ingredientes provenientes de OGM, referindo, no entanto, que é necessária mais investigação para que se cheguem a conclusões mais categóricas (55). Quanto aos alimentos dietéticos, que são específicos para determinados estados nutricionais e ou patologias, geralmente são destinados a segmentos de mercado bem delimitados. Na maioria dos casos têm associadas alegações nutricionais e de saúde, como são exemplos os produtos light, os produtos para doentes com Diabetes Mellitus e os produtos adequados a dietas vegetarianas. São produtos que estão a ser alvo de fortes investigações no sentido de se regulamentarem aspectos relacionados com o marketing e a publicidade. Apresentam um públicoalvo bem definido e necessitam de uma pesquisa de mercado copiosamente elaborada (56). Os alimentos biológicos, que são controlados no sentido de, tanto o alimento como a sua produção poderem ser considerados biológicos aos olhos da legislação, não apostam tanto no marketing nutricional. Estes apostam mais na referência à promoção da saúde e à preservação do meio ambiente como argumentos para levar o consumidor a comprar aquele alimento que, normalmente, se vende a um preço mais elevado do que o equivalente não biológico (57). 19 Um outro grupo de produtos que recorre extensamente ao marketing nutricional é o dos suplementos alimentares. Estes são definidos da seguinte forma pelo DL n.º 136/2003 de 28 de Junho (58) , que transpôs para ordem jurídica portuguesa a Directiva n.º 2002/46/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 10 de Junho (59) : géneros alimentícios que se destinam a complementar e ou suplementar o regime alimentar normal e que constituem fontes concentradas de determinados nutrimentos (vitaminas e sais minerais) ou outros com efeito nutricional ou fisiológico, estremes ou combinados, comercializados na forma doseada e destinados a serem tomados em unidades medidas de quantidade reduzida. Este documento faz ainda menções de apelo a uma alimentação variada e ao não uso do suplemento alimentar como medicamento ou substituto de refeições. As vitaminas e sais minerais que podem ser utilizados no fabrico de suplementos alimentares são os mesmos constantes do DL n.º54/2010 (44) com o acréscimo do sódio [Anexo B]. Para além de vitaminas e sais minerais, outros tipos de suplementos alimentares são comercializados mas, nestes casos, a Comissão Europeia não estabelece normas específicas para a sua comercialização, ficando a regulamentação de tais produtos a cargo de cada Estado Membro. v. A OBESIDADE NA SUA RELAÇÃO COM O MARKETING ALIMENTAR Para a ADA, qualquer alimento pode ser incluído numa alimentação equilibrada, se consumido na porção correcta e combinado com a prática regular de actividade física. Assim, não se pode afirmar que um alimento deve ser ou não consumido, sem se falar do contexto dessa recomendação (60). 20 A OMS define o excesso de peso e a Obesidade como a acumulação excessiva de massa gorda no organismo que pode ser prejudicial para a saúde. No diagnóstico, considera-se excesso de peso quando o IMC se encontra entre 25 e 29,9 e Obesidade quando o IMC é igual ou superior a 30 (13). Em 2005, os números apontavam para 1.600 milhões de pessoas com excesso de peso em todo o mundo, das quais 20 milhões eram crianças com menos de 5 anos e, para cerca de 400 mil obesos (13). No contexto europeu, estima-se uma prevalência de excesso de peso em 30-80% nos adultos e 20% nas crianças e adolescentes. Um terço das crianças e adolescentes com excesso de peso são obesos (61). A Indústria Alimentar tem sido apontada como uma das principais responsáveis pelo agravamento dos números da Obesidade nas últimas décadas. Têm sido feitas críticas à forma como a Indústria Alimentar tem evoluído, tais como (62): • O desenvolvimento de produtos com elevada densidade energética, ricos em gordura e açúcares, em porções demasiado grandes; • A ausência de informação nutricional antes da compra em restaurantes e máquinas de venda automática; • O enfoque em crianças com alimentos densamente energéticos usando brindes e os meios de comunicação em massa na sua divulgação; • A saturação dos canais de distribuição, como são exemplo as escolas, com alimentos que, para além de terem elevada densidade energética, também têm baixa densidade nutricional. Num estudo realizado com uma amostra de 59.900 produtos alimentares, nos Estados Unidos da América (EUA) em 2010, 49% dos produtos apresentava marketing nutricional e, destes, 48% continha elevados teores de gordura 21 saturada, sal e ou açúcar, com 11%, 17% e 31%, respectivamente. Constatou-se que 71% dos produtos destinados especificamente a crianças, apresentava marketing nutricional, dos quais 59% eram ricos em gordura saturada, sal e ou açúcar. Neste estudo, verificou-se ainda que as alegações nutricionais mais comuns eram “boa fonte de cálcio” e “sem gordura” e, também, eram usados com frequência símbolos que apelavam à saúde, os quais estão reportados como potenciadores da compra de alimentos (30). Estudos longitudinais sugerem que certos anúncios publicitários sobre alimentos se associam com o aumento do IMC em adultos e adolescentes, pela influência directa ao nível da ingestão energética e do gasto energético total (63) . Apesar desta tendência verificada em adolescentes e adultos, o grupo das crianças tem sido alvo de um maior número de estudos no que respeita ao marketing alimentar. Em 2005, o Institute of Medicine reportou que o marketing alimentar para crianças e adolescentes não estava de acordo com os padrões de uma alimentação saudável (64) . As crianças são usualmente menos conscientes no que concerna à relação entre alimentação e saúde. Geralmente vêem mais de 20 horas de televisão semanais e está documentado que as crianças com idade inferior a 9 anos não compreendem a diferença entre o que é entretenimento propriamente dito e o que é o marketing usado como entertenimento. Desta forma, as crianças são mais vulneráveis aos efeitos persuasivos das campanhas de marketing alimentar (62). Num estudo realizado em crianças dos EUA, da Austrália e de outros oito países europeus (Reino Unido, França, Alemanha, Dinamarca, Finlâdia, Grécia, Holanda e Suécia), verificou-se que havia uma correlação positiva entre a prevalência de excesso de peso e a frequência com que os anúncios publicitários referentes a 22 alimentos com elevada densidade energética eram exibidos na televisão. Por outro lado, evidenciou-se uma correlação negativa, no entanto mais fraca, entre o excesso de peso e a frequência de anúncios televisivos que apelam à alimentação saudável (65). Um outro trabalho de investigação, baseado num modelo de simulação matemática com dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) e do Center for Disease Control and Prevention (CDC), concluiu que: caso se erradicasse a exposição a anúncios televisivos que publicitam alimentos com elevada densidade energética, em crianças dos 6 aos 12 anos, poder-se-ia reduzir a prevalência de Obesidade em 17,8-15,2% para indivíduos do sexo masculino e em 15,9-13,5% para indivíduos do sexo feminino (66). Para além das preocupações que recaem sobre o marketing alimentar para crianças, há também alguma preocupação no que concerne ao marketing de alimentos para recém-nascidos. O ambiente intra-uterino e a alimentação durante os primeiros meses de vida são determinantes para a prevenção do excesso de peso e da Obesidade (67-69). Em 1981, a OMS lançou um código internacional de marketing para substitutos do leite materno (70) . Este Código visava comunicar as linhas de orientação às quais o marketing para este tipo de alimentos deveria respeitar, defendendo sempre que o nenhum produto no mercado consegue substituir na totalidade o leite materno (70) . Os objectivos deste código, que ainda hoje vigora, são os de contribuir para uma nutrição adequada do bebé, protegendo e promovendo o aleitamento materno e, ainda, promover o uso adequado dos substitutos do leite materno. Para atingir estes objectivos, o código aposta no fornecimento de 23 informações adequadas responsáveis (70). e em campanhas de marketing e distribuição 24 III. ANÁLISE CRÍTICA E CONCLUSÕES É pretinente afirmar que o marketing aplicado aos alimentos constitui um importante factor na modulação dos ambientes alimentares e nutricionais. Estes, são ambientes complexos, dinâmicos e cujos inputs parecem advir de diversas fontes, mais ou menos benéficas para os indivíduos que os recebem. Tal como é referido pela ADA, as informações sobre alimentação e nutrição são, hoje em dia, muito difundidas mas, a sua qualidade é muitas vezes duvidosa. É certo que os indivíduos depositam maior confiança nas informações divulgadas por profissionais de saúde do que naquelas que encontram numa simples publicação periódica não científica. Os grandes problemas são a pouca frequência e a forma com que os profissionais de saúde comunicam com as populações, por outras palavras, as informações não aparecem suficientemente padronizadas e contextualizadas para entrarem no entendimento do receptor comum. Neste sentido, o papel activo do profissional de saúde, em conjunto com os media e outras entidades poderia ser uma mais valia para a Saúde Pública mas, para tal, é fundamental que se crie um trabalho de base, que possibilite o desenvolvimento de tais projectos. Para este trabalho de base é essencial que se produza mais ciência, de qualidade, sobre comunicação e marketing aplicados à alimentação e à nutrição. Para além de existirem poucas publicações sobre estes temas, muitas das que existem não aparentam trazer grande utilidade para os benefícios comuns pretendidos, a promoção e a protecção da saúde. Mas não é só dos profissionais de saúde que depende o futuro do marketing aplicado a alimentos. A Indústria Alimentar é o elemento com maior capacidade 25 para proceder a mudanças benéficas na distribuição e promoção de alimentos. O impacto da Indústria Alimentar na Saúde Pública é muito maior do que muitas vezes se pensa, pois, esta tem a capacidade de influenciar políticas públicas e de contribuir para a educação alimentar das populações. Por um lado, é responsável por abastecer e oferecer ao consumidor um determinado leque de alimentos e, por outro lado, fornecer as informações que permitam ao consumidor fazer melhores escolhas. Algumas empresas do ramo alimentar começam a preocupar-se com a saúde do consumidor, uma vez que este facto é uma mais valia para a própria empresa. Em concordância com Patrick K et al (2010), o consumidor actual apresenta maior preocupação com o seu estado de saúde, revelando níveis cada vez mais elevados de auto-monitorização perante a sociedade. Se, por um lado, é das acções do consumidor que depende o sucesso do marketing alimentar, por outro lado, o próprio consumidor apresenta características incontornáveis que lhe são inerentes e que podem ser previstas nas pesquisas de marketing. O ser humano apresenta comportamentos maioritariamente automáticos, tal como é referido por Cohen DA (2008), os quais são muito explorados pelo marketing alimentar para incrementar a adesão a determinados produtos e, igualmente, criar actos vinculativos, ou relações de longo prazo, entre consumidor e produto. Assim sendo, seria interessante usar estratégias psicológicas mas, no sentido de criar acções benéficas para a saúde do consumidor, através de um marketing alimentar responsável. O marketing responsável deve ter em conta as necessidades e expectativas do consumidor e, também, as questões inerentes à sua saúde e bem-estar. Estas são questões de difícil aplicabilidade, uma vez que 26 nem todas as empresas estão dispostas a mudar as suas abordagens e a reformular os seus produtos. Após o lançamento da estratégia global para a prevenção de doenças crónicas pela OMS, em Maio de 2004, poucas foram as empresas que fizeram alterações nos seus produtos e, inclusivamente nas suas estratégias de marketing. O marketing representa uma fatia importante dos custos de uma empresa do ramo alimentar e é determinante para o sucesso da empresa. Para a garantia do sucesso, todas as mais valias são bem vindas, desde que sejam exequíveis e economicamente rentáveis. A aposta na diferenciação de produtos é uma mais valia para as empresas e é notória se atendermos aos factos relativos à indústria dos alimentos funcionais, entre outros, que têm vindo a sofrer uma aposta crescente e com resultados práticos ao nível do aumento das vendas. O marketing nutricional constitui outra mais valia para uma empresa do ramo alimentar. Sendo, igualmente, um factor de diferenciação de produtos, é uma área que deveria estar melhor regulamentada. As alegações nutricionais já estão bem regulamentadas nos termos da legislação europeia mas, as alegações de saúde ainda estão longe de o ser. Apesar de se saber que as alegações de saúde podem ser potenciais factores de persuasão do consumidor, a sua regulamentação ainda não está harmonizada no contexto europeu, nem existe ainda, uma lista de alegações de saúde possíveis. Com a aposta forte das empresas da Indústria Alimentar na diferenciação dos seus produtos, é fundamental criar linhas de orientação mais ilustrativas e específicas para as alegações de saúde. Para além das questões relacionadas com o marketing nutricional, seria igualmente interessante regulamentar questões relativas ao marketing alimentar 27 em geral, ideia defendida por Nestle M (2006), mais concretamente ao marketing alimentar para crianças e adolescentes. O marketing alimentar destina-se a todos os indivíduos em geral mas, as crianças e os adolescentes paracem ser os elos mais fracos e, de menor consciência face a questões relacionadas com a saúde. Analisando os números da Obesidade, verifica-se uma tendência crescente ao nível da prevalência desta patologia crónica. O marketing alimentar é considerado um dos factores ambientais obesogénicos, sendo por isso importante explorar as questões relacionadas com o marketing de alimentos, especialmente, de alimentos densamente energéticos, na sua relação com a Obesidade e, inclusivamente, com outras doenças crónicas. O marketing aplicado aos alimentos deveria ser, acima de tudo, mais uma ferramenta na educação do consumidor no sentido da promoção da saúde e, numa perspectiva melhorada, deveria excluir qualquer estratégia que pudesse contribuir negativamente para a saúde do consumidor. Já se começaram a fazer alguns esforços neste sentido mas, enquanto que se formularem apenas recomendações, a maioria das empresas vai continuar a não as cumprir na sua íntegra. Seria importante regulamentar este assunto para criar um padrão ao nível da publicidade destinada a crianças e adolescentes, ideia que é corroborada por Isganaitis E (2008), por Ashe M et al (2009) e por Story M et al (2010). Estas, são questões mais simples na teoria, no entando, na sua praticidade, outros factores devem ser levados em conta. A saúde financeira de uma empresa está altamente dependente das suas vendas. Se as suas estratégias de marketing e os seus produtos fossem drasticamente alterados, isso poderia levar 28 ao desaparecimento de algumas empresas do ramo alimentar, o que seria um contributo para o agravamento de uma crise financeira, económica e até social. As questões relacionadas com o marketing de alimentos são muito sensíveis e importantes para uma empresa e para a economia de um país mas, são igualmente importantes para a Saúde Pública. Desta forma, é importante um balanceamento de esforços e uma integração de estratégias de implementação gradual, com vista ao benefício de todos. A título conclusivo, o marketing aplicado a alimentos é uma forte aposta por parte da Indústria Alimentar para o seu benefício próprio, muitas vezes esquecendo o impacto que pode ter na saúde do consumidor e, no sentido colectivo, na Saúde Pública. Ainda há muito a fazer nesta área e, o papel do profissional de saúde, mais concretamente, do Nutricionista pode fazer toda a diferença. 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Cohen DA. Obesity and the built environment: changes in environmental cues cause energy imbalances. Int J Obes (Lond) 2008;32 Suppl 7:S13742. 2. Rose D, Hutchinson PL, Bodor JN, et al. 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Directiva n.º 2008/100/CE da Comissão de 28 de Outubro de 2008 de 28 de Outubro de 2008, que altera a Directiva 90/496/CEE do Conselho relativa à rotulagem nutricional dos géneros alimentícios, no que diz respeito às doses diárias recomendadas, aos factores de conversão de energia e às definições. 41. Regulamento (CE) n.º 1882/2003 do Parlemento Europeu e do Conselho de 29 de Setembro de 2003, que adapta à Decisão 1999/468/CE do Conselho, as disposições relativas aos comités que assistem a Comissão no exercício das suas competências de execução previstas em actos sujeitos ao artigo 251.º do Tratado. 42. Regulamento (CE) n. o 1137/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 22 de Outubro de 2008 , que adapta à Decisão 1999/468/CE do Conselho certos actos sujeitos ao procedimento previsto no artigo 251. o do Tratado, no que se refere ao procedimento de regulamentação com controlo — Adaptação ao procedimento de regulamentação com controlo Primeira Parte. 43. Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas. Decreto-Lei nº 167/2004. Diário da República. I Série-A; 158 (2004-07-07): 4080-3. Estabelece as normas a que obedece a rotulagem nutricional dos géneros alimentícios que se encontram no estado em que vão ser fornecidos ao consumidor final. 44. Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas. Decreto-Lei nº 54/2010. Diário da República. I Série-A; 104 (2010-05-28): 1842-7. Transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2008/100/CE, da Comissão, de 28 de Outubro, que altera a Directiva n.º 90/496/CEE, do Conselho, relativa à rotulagem nutricional dos géneros alimentícios, no que diz respeito às doses diárias recomendadas, aos factores de conversão de energia e às definições. 45. Regulamento (CE) n.º 258/97 do Parlamento Europeu e do Conselho de 27 de Janeiro de 1997, relativo a novos alimentos e ingredientes alimentares. 46. Directiva n.º 2000/13/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 20de Março de 2000, relativa à aproximação das legislações dos EstadosMembros respeitantes à rotulagem, apresentação e publicidade dos géneros alimentícios. 47. Crockett SJ, Kennedy E, Elam K. Food industry's role in national nutrition policy: working for the common good. J Am Diet Assoc 2001;102:478-479. 33 48. Mark-Herbert C. Development of marketing strategies for functional foods. Ag Bio Forum 2003;6:75-78. 49. Siró I, Kápolna E, Kápolna B, Lugasi A. Functional food: Product development, marketing and consumer acceptance. Appetite 2008;51:456467. 50. Ross S. Functional foods: the Food and Drug Administration perspective. Am J Clin Nutr 2000;71:1735S-8S; discussion 1739S-42S. 51. Hasler CM, Brown AC. Position of the American Dietetic Association: functional foods. J Am Diet Assoc 2009;109:735-46. 52. Madsen C. Functional foods in Europe. International developments in science and health claims. 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ANEXO A: Lista de alegações nutricionais e condições que se lhes Aplicam 37 ANEXO B: Vitaminas e sais minerais que podem ser declarados na rotulagem nutricional de géneros alimentícios e respectiva 41 DDR ANEXO C: Tipos de alimentos funcionais modificados ANEXO D: Exemplos de alimentos funcionais, os seus componentes activos e potenciais benefícios para a saúde humana 43 45 36 37 ANEXO A Lista de alegações nutricionais e condições que se lhes aplicam 38 Alegação nutricional Baixo valor energético Condições que se lhe aplicam Quando o produto não tem mais de 40 quilocalorias (kcal) [170 quilojoules (kJ)]/100 g para os sólidos e mais de 20 kcal (80 kJ)/100 g para os líquidos; no caso específico dos edulcorantes de mesa, o limite é 4 kcal (17 kJ)/porção com propriedades edulcorantes equivalentes a 6 g de sacarose. Valor energético reduzido Quando há uma redução de 30% ao nível do valor energético. Sem valor energético Quando o produto não contem mais de 4 kcal (17 kJ)/100 ml; para os edulcorantes de mesa, o limite é 0,4 kcal (1,7 kJ)/porção, com propriedades edulcorantes equivalentes a 6 g de sacarose. Baixo teor de gordura Quando o produto não contem mais de 3 g de gordura por 100 g para alimentos sólidos, ou 1,5 g de gordura por 100 g para alimentos líquidos (1,8 g/100 g para o leite meio gordo). Sem gordura Quando o produto não tem mais de 0,5 g de gordura por 100 g ou 100 ml. Baixo teor de gordura Quando a soma dos ácidos gordos saturados e dos ácidos saturada gordos trans não excede 1,5 g/100 g para os sólidos e 0,75 g/100 ml para os líquidos (no máximo, a soma destes ácidos gordos só pode fornecer 10% do valor energético do produto). Sem gordura saturada Quando a soma dos ácidos gordos saturados e dos ácidos gordos trans não excede 0,1 g/100 g ou por 100 ml de produto. Baixo teor de açúcares Quando o produto não contem mais de 5 g de açúcares por 100 g para os sólidos ou 2,5 g de açúcares por 100 ml para os líquidos. Adaptado de: Reg (CE) n.º 1924/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho de 20 de Dezembro (36) . 39 Sem açúcares Quando o produto não contem mais de 0,5 g de açúcares por 100 g ou 100 ml. Sem adição de açúcares Quando não foram adicionados ao produto quaisquer monossacarídeos ou dissacarídeos. Caso haja açúcares naturalmente presentes no produto, o rótulo deve conter a indicação “contém açúcares naturalmente presentes”. Baixo teor de sódio/sal Quando o produto não contem mais de 0,12 g de sódio, ou equivalente de sal, por 100 g ou por 100 ml. Muito baixo teor de sódio/sal Quando o produto não contem mais de 0,04 g de sódio, ou equivalente de sal, por 100 g ou por 100 ml (esta alegação não pode ser utilizada em água destinada ao consumo humano). Sem sódio/sal Quando o produto não contem mais de 0,005 g de sódio, ou equivalente de sal por 100 g. Fonte de fibra Quando o produto contem, no mínimo, 3 g de fibra por 100 g ou, pelo menos, 1,5 g de fibra por 100 kcal. Alto teor em fibra Quando o produto contém, no mínimo, 6 g de fibra por 100 g ou, pelo menos, 3 g de fibra por 100 kcal. Fonte de proteína Quando, pelo menos, 12 % do valor energético do produto for fornecido por proteína. Alto teor em proteína Quando, pelo menos, 20 % do valor energético do produto for fornecido por proteína. Fonte de [nome da(s) Quando o produto contem, pelo menos, a quantidade vitamina(s) e ou nome do(s) significativa definida no Anexo da Directiva 90/496/CEE ou mineral(is)] uma quantidade prevista por derrogações concedidas nos termos do artigo 6.º do Reg (CE) n.º 1925/2006 do Parlemtno Europeu e do Conselho, de 20 de Dezembro de 2006, relativo à adição aos alimentos de vitaminas, minerais e determinadas outras substâncias. Adaptado de: Reg (CE) n.º 1924/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho de 20 de Dezembro (36) . 40 Alto teor em [nome da(s) Quando o produto contem, pelo menos, o dobro do exigido vitamina(s) e ou nome do(s) para a alegação «fonte de [nome da(s) vitamina(s) e/ou nome mineral(is)] do(s) mineral(is)]». Contém (nome do nutrimento Quando o produto cumpre todas as disposições do artigo 5.º ou outra substância) do Reg (CE) n.º 1924/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de Dezembro de 2006, relativo às alegações nutricionais e de saúde sobre os alimentos. Teor de (nome do Quando o produto preencher as condições da alegação «Fonte nutrimento) reforçado de» e o reforço do teor for, no mínimo, de 30% em relação a um produto semelhante. Teor de (nome do Quando a redução do teor for, no mínimo, de 30% em relação nutrimento) reduzido a um produto semelhante, excepto no caso dos micronutrimentos, para os quais é aceitável uma diferença de 10% em relação aos valores de diferença estabelecidos na Directiva 90/496/CEE, e do sódio, ou valor equivalente de sal, para o qual é aceitável uma diferença de 25%. Fraco/Light Quando o produto preenche as condições estabelecidas para a alegação «Teor de (...) reduzido». Naturalmente/Natural Este termo pode ser aplicado a produtos que preencham naturalmente a condição ou condições estabelecidas para a utilização de uma alegação nutricional. Adaptado de: Reg (CE) n.º 1924/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho de 20 de Dezembro (36) . 41 ANEXO B Vitaminas e sais minerais que podem ser declarados na rotulagem nutricional de géneros alimentícios e respectiva DDR 42 Vitaminas Sais minerais DDR Potássio (mg) 2000 DDR Vitamina A [microgramas (µg)] 800 Cloreto (mg) 800 Vitamina D (µg) 5 Cálcio (mg) 800 Vitamina E [miligramas (mg)] 12 Fósforo (mg) 700 Vitamina K (µg) 75 Magnésio (mg) 375 Vitamina C (mg) 80 Ferro (mg) 14 Tiamina (mg) 1,1 Zinco (mg) 10 Riboflavina (mg) 1,4 Cobre (mg) 1 Niacina (mg) 16 Manganês (mg) 2 Vitamina B6 (mg) 1,4 Fluoreto (mg) 3,5 Ácido fólico (µg) 200 Selénio (µg) 55 Vitamina B12 (µg) 2,5 Crómio (µg) 40 Biotina (µg) 50 Molibdénio (µg) 50 Ácido pantoténico (mg) 6 Iodo (µg) 150 Adaptado de: DL n.º 54/2010 de 28 de Maio (44) . 43 ANEXO C Tipos de alimentos funcionais modificados 44 Definição Tipo de alimento funcional Com adição de nutrimentos Alimentos Fortificados naturalmente presentes no alimento. Com adição de nutrimentos ou Alimentos Enriquecidos outros componentes não naturalmente presentes no alimento. Exemplos Sumos fortificados com vitamina C. Margarina com esteróis vegetais, pré e próbióticos. Cujos componentes deletérios Alimentos Alterados foram removidos, reduzidos ou Fibras como substituídos por outros de substitutos de gordura benefício para o organismo em gelados. humano. Quando um dos componentes é naturalmente potenciado através Com Características Manipuladas de condições especiais de crescimento, de modificação da alimentação, manipulação genética, entre outros. Adaptado de: Siró I, et al (49) . Ovos com quantidades superiores de ácidos gordos n3 devido à modificação da dieta das aves. 45 ANEXO D Exemplos de alimentos funcionais, os seus componentes activos e potenciais benefícios para a saúde humana 46 Alimento Componente activo Potenciais benefícios para a saúde Chá preto e chá verde Catequinas Redução do risco de cancro Brócolos Sulforafano Redução do risco de cancro Peixe Ácidos gordos n-3 Redução do risco de doenças cardiovasculares Hortofrutícolas Diferentes fitoquímicos Redução do risco de cancro e de doenças cardiovasculares Alho Compostos de enxofre Redução do risco de cancro e de doenças cardiovasculares Aveia Fibra solúvel Redução do colesterol plasmático Sumo de uva preta Compostos fenólicos Protecção da saúde cardiovascular Soja Proteína de soja Redução do colesterol plasmático Tomate Licopeno Redução do risco de cancro Iogurte e leites fermentados Pró-bióticos Melhora a saúde gastrointestinal Adaptado de: University of Illinois, International Food Information Council (71) .