ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA AVALIAÇÃO DA PREVALÊNCIA DA AUTOMEDICAÇÃO NO MUNICÍPIO DE NOVA OLINDA-CE MARIA LUCÉLIA DE LIMA NOVA OLINDA, 2007 MARIA LUCÉLIA DE LIMA AVALIAÇÃO DA PREVALÊNCIA DA AUTOMEDICAÇÃO NO MUNICÍPIO DE NOVA OLINDA-CE Monografia apresentada à Escola de Saúde Pública do Ceará como requisito para obtenção do título de Especialista Farmacêutica. Orientadora: Kelly Rose Tavares Neves NOVA OLINDA, 2007 em Assistência MARIA LUCÉLIA DE LIMA AVALIAÇÃO DA PREVALÊNCIA DA AUTOMEDICAÇÃO NO MUNICÍPIO DE NOVA OLINDA-CE Avaliado em: __/__/__ Banca Examinadora: ________________________________________ Orientadora: Kelly Rose Tavares Neves _________________________________________ Avaliadora: Maria das Graças Nascimento Silva _________________________________________ Avaliadora: Adriana Maria Simeão da Silva NOVA OLINDA, 2007 DEDICATÓRIA Aos meus pais José Alves de Lima e Domicilia Moreira de Lima, pelo exemplo de vida, apoio e incentivo à educação; A minha família e em especial aos meus filhos Wyldyard e Ludymyla pelo carinho e paciência demonstrado durante todo o processo de elaboração da pesquisa; AGRADECIMENTOS A Deus, autor da vida, a Ele toda Honra, Glória e Louvor; À Orientadora Kelly Rose, pelo apoio e incentivo durante a elaboração deste trabalho; A Escola de Saúde Pública do Ceará por propiciar o desenvolvimento e capacitação profissional no curso de Especialização em Assistência Farmacêutica A amizade e cumplicidade dos colegas da turma de Especialização em Assistência Farmacêutica LISTA DE TABELAS 1. DISTRIBUIÇAO DO SEXO ENTRE A POPULAÇÃO 2. DISTRIBUIÇÃO ETÁRIA DA POPULAÇÃO 3. NÍVEL DE ESCOLARIDADE DA POPULAÇÃO 4. RENDA FAMILIAR DA POPULAÇÃO 5. PREVALÊNCIA DA AUTOMEDICAÇÃO NA POPULAÇÃO 6. PRINCIPAIS MEDICAMENTOS UTILIZADOS PELA POPULAÇÃO 7. MOTIVOS ASSOCIADOS À PRÁTICA DA AUTOMEDICAÇÃO NA POPULAÇÃO SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 09 2. REVISÃO DE LITERATURA....................................................................... 11 3. OBJETIVOS.................................................................................................... 20 4. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................ 21 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES................................................................... 23 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 30 7. ANEXO............................................................................................................. 31 8. REFERÊNCIAS............................................................................................... 32 RESUMO A automedicação é uma forma comum de auto-atenção à saúde, consistindo no consumo de um produto com o objetivo de tratar ou aliviar sintomas ou doenças percebidos, ou mesmo de promover a saúde, independentemente da prescrição profissional. A pesquisa se caracteriza por um estudo quantitativo, descritivo, sendo realizada em 200 residências, nos meses de novembro e dezembro de 2006. Das 200 pessoas entrevistadas, 146 (73%) pertencem ao sexo feminino. A maioria se enquadra entre 20 e 40 anos; 98 (49%) da população têm o ensino fundamental incompleto; 96 (48%) da população sobrevive com 1 salário mínimo mensal; 123 (61.5%) praticam a automedicação; 75 (37.5%) utilizam principalmente analgésicos em suas práticas e 82 (41%) se automedicaram por dificuldade de acesso aos serviços médicos durante as emergências. Esses resultados mostram que é evidente a utilização de medicamentos sem prescrição médica no município de Nova Olinda-Ce, tornando-se clara a importância de estar discutindo a prática da automedicação entre os profissionais de saúde envolvidos no município, INTRODUÇÃO A automedicação é uma forma comum de auto-atenção à saúde, consistindo no consumo de um produto com o objetivo de tratar ou aliviar sintomas ou doenças percebidos, ou mesmo de promover a saúde, independentemente da prescrição profissional (LOYOLA FILHO, 2005). Várias são as maneiras da automedicação ser praticada: adquirir o medicamento sem receita, compartilhar remédios com outros membros da família ou do círculo social e utilizar sobras de prescrições. Reutilizar antigas receitas e descumprir a prescrição profissional, prolongando ou interrompendo precocemente a dosagem e o período de tempo indicados na receita (LOYOLA FILHO, 2002). A automedicação é conceituada como a prática de ingerir substâncias de ação medicamentosa sem o aconselhamento e/ou o acompanhamento de um profissional de saúde qualificado. Caracterizado-se fundamentalmente pela iniciativa de um doente, ou de seu responsável, em obter ou produzir e utilizar um produto que acredita, lhe trará benefícios no tratamento de doenças ou alívio de sintomas” (PAULO & ZANINI,1998). Normalmente, a automedicação ocorre, quando o indivíduo tem algum sintoma doloroso e/ou patológico e decide tratar-se, sem consultar um profissional especializado. Embora sem a competência necessária para reconhecer distúrbios, avaliar sua gravidade e escolher a terapêutica mais adequada, o indivíduo determina então o medicamento a ser utilizado, seja por verificação de eficiência anterior, ou seja, por indicação de outra pessoa não habilitada, como amigos e familiares (SIMÕES & FARACHE,1988). A automedicação é definida como o uso de medicamentos sem prescrição médica, quando o próprio paciente decide qual fármaco vai usar. É fato observado em diversos países, com prevalência de até 90%. (KOVACS, 2006). Assim, a formação do farmacêutico, poderia talvez prevenir a automedicação destes profissionais, visto ser de seu conhecimento os riscos a que estes se submetem ao utilizar este procedimento. Entretanto a falsa impressão de controle e um aumento da autoconfiança nestes profissionais, pelo seu conhecimento na área específica, poderiam acarretar o uso persistente dessa prática neste público (ZUBIOLI, 1992). REVISÃO DE LITERATURA A automedicação é uma forma comum de auto-atenção à saúde, consistindo no consumo de um produto com o objetivo de tratar ou aliviar sintomas ou doenças percebidos, ou mesmo de promover a saúde, independentemente da prescrição profissional (LOYOLA FILHO, 2005). A automedicação é definida como uso de medicamentos sem prescrição médica, onde o próprio paciente decide qual fármaco utilizar (VILARINO, 1998). Para tal, podem ser utilizados medicamentos industrializados ou remédios caseiros. Várias são as maneiras de a automedicação ser praticada: adquirir o medicamento sem receita, compartilhar remédios com outros membros da família ou do círculo social e utilizar sobras de prescrições, reutilizar antigas receitas e descumprir a prescrição profissional, prolongando ou interrompendo precocemente a dosagem e o período de tempo indicados na receita (LOYOLA FILHO, 2002). Inclui-se também nessa designação genérica a prescrição ou indicação de medicamentos por pessoas não habilitadas, como amigos, familiares e mesmo balconistas de farmácia, neste último caso, caracterizando exercício ilegal da medicina (KOVACS, 2006). Outro termo utilizado é a automedicação orientada, que se refere à reutilização de receitas antigas sem que elas tenham sido emitidas para uso contínuo (VILARINO, 1998). A automedicação é conceituada como a prática de ingerir substâncias de ação medicamentosa sem o aconselhamento e/ou o acompanhamento de um profissional de saúde qualificado, caracterizado fundamentalmente pela iniciativa de um doente, ou de seu responsável, em obter ou produzir e utilizar um produto que acredita lhe trará benefícios no tratamento de doenças ou alívio de sintomas” (PAULO & ZANINI,1998). Normalmente, a automedicação ocorre, quando o indivíduo tem algum sintoma doloroso e/ou patológico e decide tratar-se, sem consultar um profissional especializado. Embora sem a competência necessária para reconhecer distúrbios, avaliar sua gravidade e escolher a terapêutica mais adequada, o indivíduo determina então o medicamento a ser utilizado, seja por verificação de eficiência anterior, ou seja, por indicação de outra pessoa não habilitada, como amigos e familiares (SIMÕES & FARACHE,1988). Estudos sobre a automedicação em zona urbana apresentam dados conflitantes tanto na estatística da prevalência (desde 2,1%26 até 96,6%29), quanto na sua correlação com variáveis como sexo e idade. Essas diferenças podem estar mais associadas à metodologia de pesquisa do que à dinâmica real do fenômeno da automedicação (VILARINO, 1998). É fato observado em diversos países, com prevalência de até 90%. (KOVACS, 2006). O uso desses medicamentos, se estendidos por decisão própria, pode comprometer posteriormente o tratamento adequado de determinadas patologias, por mascarar os verdadeiros sintomas, provocando ainda o aumento do período do uso da medicação adequada (STIMMEL, 1983). A automedicação inadequada, tal como a prescrição errônea, pode ter como conseqüência efeitos indesejáveis, enfermidades iatrogênicas, representando, portanto, problema a ser prevenido (PAULO & ZANINI,1998). Assim, a automedicação acrescenta aos riscos relacionados ao consumo de medicamentos prescritos a possibilidade de se mascarar ou retardar o diagnóstico de condições mais sérias, dificultando a atuação do médico, pois nem sempre o paciente menciona essa prática durante a consulta médica (LOYOLA FILHO, 2005). A automedicação é um fenômeno potencialmente nocivo à saúde individual e coletiva, pois nenhum medicamento é inócuo ao organismo. O uso indevido de substâncias e até mesmo drogas consideradas “banais” pela população, como os analgésicos, podem acarretar diversas conseqüências como resistência bacteriana, reações de hipersensibilidade, dependência, sangramento digestivo, sintomas de retirada e ainda aumentar o risco para determinadas neoplasias (VILARINO, 1998). Esse consumo elevado de medicamentos acarreta riscos à saúde, sendo diversos os fatores que concorrem para isso. Num aspecto mais geral, destacam-se as modificações na farmacocinética de vários medicamentos em virtude de alterações fisiológicas associadas ao envelhecimento (LOYOLA FILHO, 2005). Alguns problemas causados pela automedicação são: o aumento do erro nos diagnósticos das doenças, a utilização de dosagem insuficiente ou excessiva, o aparecimento de efeitos indesejáveis graves ou reações alérgicas (OMS, 2005). Tais fatores, muitas vezes na presença de doenças concomitantes e do consumo simultâneo de um maior número de fármacos, aumentam a probabilidade de ocorrência de reações adversas e interações medicamentosas (LOYOLA FILHO, 2005). Além disso, o alívio momentâneo dos sintomas encobre a doença de base que passa despercebida e pode, assim, progredir. Por outro lado, os medicamentos exercem uma função simbólica sobre a população. Como produto simbólico, o medicamento pode ser visto como um signo ou símbolo, composto de uma realidade material (significante), no caso a pílula, a solução, a ampola e outras, que remete a um conceito (significado) que é a Saúde. Desta forma, o medicamento toma papel proeminente dentro da consulta médica, além de fazer uma “economia”, poupando trabalho político e pessoal necessário para a obtenção de saúde (VILARINO, 1998). Fatores econômicos, políticos e culturais têm contribuído para o crescimento e a difusão da automedicação no mundo, tornando-a um problema de saúde pública. Mais disponibilidade de produtos no mercado gera maior familiaridade do usuário leigo com os medicamentos. Nos países desenvolvidos, cresce a pressão para a conversão de medicamentos POM (Prescribed Only Medicines), de venda condicionada à apresentação da receita, em medicamentos OTC (Over-the-Counter), vendidos livremente. Ao mesmo tempo, os planos de saúde restringem o reembolso dos gastos com medicamentos prescritos (LOYOLA FILHO, 2002). Atualmente o hábito de tomar remédios sem receita médica ou sem tarja, indicados para tratar pequenos males do dia a dia por um curto espaço de tempo (3 dias), é muito comum devido ao fácil acesso e ao marketing significativo na mídia (CAVALLINI & BISSON,2002). Certamente a qualidade da oferta de medicamentos e a eficiência do trabalho das várias instâncias que controlam este mercado também exercem papel de grande relevância nos riscos implícitos na automedicação (ARRAIS, 1997). A melhoria da fiscalização e a reorganização das normas para dispensação e propaganda de medicamentos é um trabalho financeiramente oneroso, só realizado a longo prazo. Logo, deve-se estar atento à possibilidade de utilizar a automedicação como um instrumento para a promoção da saúde, desde que devidamente direcionada através de programas institucionais que visem a conferir maior grau de autonomia ao paciente frente à sua medicação, o que já vem ocorrendo experimentalmente em países de Primeiro Mundo. Justifica-se, portanto, nova investigação sobre a prevalência da automedicação em população de zona urbana brasileira, com ênfase nas motivações que levam o indivíduo a automedicar-se e na averiguação de seu posicionamento frente ao sistema tradicional de terapêutica, centrado na figura do médico e do medicamento (VILARINO, 1998). O crescimento da automedicação tem sido favorecido pela multiplicidade de produtos farmacêuticos lançados no mercado e pela publicidade que os cerca, pela simbolização da saúde que o medicamento pode representar e pelo incentivo ao autocuidado, além de outros fatores. Desse modo, impõe-se um duplo ônus aos serviços de saúde: além dos gastos com a atenção farmacêutica, superiores àqueles decorrentes de consultas médicas, novas despesas originam-se do atendimento a enfermidades relacionadas ao uso inadequado de fármacos (LOYOLA FILHO, 2005). Em países desenvolvidos, o número de medicamentos de venda livre tem crescido nos últimos tempos, assim como a disponibilidade desses medicamentos em estabelecimentos não farmacêuticos, o que favorece a automedicação. Nesses países, no entanto, os rígidos controles estabelecidos pelas agências reguladoras e o crescente envolvimento dos farmacêuticos com a orientação dos usuários de medicamentos, tornam menos problemática a prática da automedicação. Já no Brasil onde, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (ABIFARMA), cerca de 80 milhões de pessoas são adeptas da automedicação, a má qualidade da oferta de medicamentos, o não-cumprimento da obrigatoriedade da apresentação da receita médica e a carência de informação e instrução na população em geral justificam a preocupação com a qualidade da automedicação praticada no País (ARRAIS, 1997). A necessidade da prescrição para a obtenção do medicamento representa limitação da liberdade pessoal de busca imediata do alívio da sintomatologia, o que impede que o indivíduo faça preponderar sua própria experiência e vontade. Este desejo de consumo de medicamentos torna-se possível devido a fatores externos, como a cultura, a economia e aspectos legais que facilitam ou não impedem a posse e dispensação de medicamentos sem a apresentação da receita médica. Esses fatos, somados à alta prevalência da automedicação observada no País e no mundo inteiro, trazem crescente preocupação quanto a essa prática (VILARINO, 1998). O envelhecimento da população que vem ocorrendo de forma muito acentuada em países em desenvolvimento, também contribuiu para a automedicação, como conseqüência da redução da fecundidade, da mortalidade infantil e do aumento da expectativa de vida nas idades mais velhas. No Brasil, o número de habitantes com sessenta ou mais anos de idade passou de 3 milhões em 1960 para 14 milhões em 2000, devendo atingir 32 milhões em 2025, correspondendo à sexta mais numerosa população idosa no mundo. Os idosos convivem mais freqüentemente com problemas crônicos de saúde, o que os leva a uma maior utilização de serviços de saúde e a um elevado consumo de medicamentos (LOYOLA FILHO, 2005). De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (ABIFARMA), cerca de 80 milhões de brasileiros são adeptos da automedicação, e todo ano cerca de 20 mil pessoas morrem no país, vítimas dessa prática (CASA GRANDE et al., 2004; KOVACS, 2006). Nos países em desenvolvimento, estudos caracterizando o consumo de medicamentos entre idosos são raros. No Brasil, Miralles & Kimberlin realizaram esse estudo entre idosos residentes em três bairros da cidade do Rio de Janeiro, distintos quanto à condição socioeconômica (LOYOLA FILHO, 2005). Fenômeno bastante discutido na cultura médico-farmacêutica, é tido como especialmente preocupante no Brasil, é a automedicação. Esta é uma prática comum, vivenciada por civilizações de todos os tempos, com características peculiares a cada época e a cada região. Considerando a automedicação como uma necessidade, e inclusive de função complementar aos sistemas de saúde, particularmente em países pobres, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou diretrizes para a avaliação dos medicamentos que poderiam ser empregados em automedicação. Segundo esse informe, tais medicamentos devem ser eficazes, confiáveis, seguros e de emprego fácil e cômodo (ARRAIS, 1997). De forma interessante, um certo nível de automedicação é aceitável, desde que ocorra de forma responsável. De acordo com a OMS, este nível de automedicação pode ser benéfico para o sistema público de saúde. Exemplos como dores de cabeça, muitas vezes resultantes de situações de estresse, cólicas abdominais ou menstruais, podem ser aliviadas temporariamente com medicamentos de menor potência (BRASS, 2001). Essa prática, segundo a OMS, evita, muitas vezes, o colapso do sistema público de saúde, pelo atendimento a casos transitórios ou de menor urgência (OMS, 2005). O processo de globalização da economia desvincula o Estado da condição de força motriz do desenvolvimento socioeconômico, e o ajustamento das contas internas resulta numa redução dos investimentos sociais, entre eles, os gastos com saúde. Para os países pobres, o acesso da população aos serviços de atenção formal à saúde é dificultado, e os gastos com a produção e distribuição de medicamentos essenciais são contidos (LOYOLA FILHO, 2002). Os farmacêuticos são profissionais de saúde cuja formação inclui disciplinas que abordam não só a composição, mas também os efeitos farmacológicos e deletérios dos medicamentos (OMS, 2005). Assim, a formação do farmacêutico, poderia talvez prevenir a automedicação destes profissionais, visto ser de seu conhecimento os riscos a que estes se submetem ao utilizar este procedimento. Entretanto a falsa impressão de controle e um aumento da autoconfiança nestes profissionais, pelo seu conhecimento na área específica, poderiam acarretar o uso persistente dessa prática neste público (ZUBIOLI, 1992). OBJETIVOS GERAL • Determinar a prevalência da automedicação na população do município de Nova Olinda-Ce; ESPECÍFICOS • Determinar os fatores sócio-demográficos dessa população; • Identificar os indivíduos que realizam a prática da automedicação na população; • Identificar os principais medicamentos não prescritos utilizados por essa população; • Identificar os motivos que levaram a população de interesse ao uso desses medicamentos; MATERIAL E MÉTODOS TIPO DE PESQUISA A pesquisa se caracteriza por um estudo quantitativo, descritivo sobre a prevalência da automedicação na população no município de Nova Olinda-Ce; LOCAL DA PESQUISA A pesquisa foi desenvolvida nas residências do município de Nova Olinda, que se localiza no sul do Estado do Ceará, com aproximadamente 12.300 mil habitantes. AMOSTRA As residências incluídas na amostra foram escolhidas aleatoriamente, o que correspondeu a 200 residências, totalizando 10% do universo estudado. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS Os dados foram coletados nos meses de novembro e dezembro de 2006. Os participantes foram escolhidos de forma aleatória. A coleta de dados foi feita através de um instrumento – o questionário (ANEXO 1), que foi aplicado por meio de entrevistas aos moradores situados na sede da cidade. ANÁLISE DOS DADOS Os dados obtidos foram inseridos em tabelas para melhor interpretação e discussão, objetivando determinar a prevalência da automedicação no município de Nova Olinda-Ce; ASPECTOS ÉTICOS Esta pesquisa manteve em todas as etapas do processo, o anonimato das pessoas entrevistadas, garantindo a não divulgação dos nomes das mesmas. Os entrevistados foram previamente informados sobre os objetivos da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). RESULTADOS E DISCUSSÕES Das 200 pessoas entrevistadas, 146 (73%) pertencem ao sexo feminino e 54 (27%) ao masculino. Esse percentual feminino talvez seja devido ao período da manhã em que foi aplicado o questionário, quando a maioria dos homens já tinha saído para o seu ambiente de trabalho (Tabela 1). O consumo de medicamentos não prescritos é observado com maior freqüência no sexo feminino, sendo esta a variável mais consistentemente associada a tal prática (LOYOLA FILHO, 2005). TABELA 1: DISTRIBUIÇÃO DO SEXO ENTRE A POPULAÇÃO SEXO Nº % MASCULINO 54 27 FEMININO 146 73 TOTAL 200 100 Quanto à faixa etária, a maioria se enquadra entre 20 e 40 anos, o que corresponde a 126 (63%), significando faixa de idade ativa na população (Tabela 2). Ainda de acordo com o autor supracitado, o consumo de medicamentos prescritos e não prescritos estão associados às faixas etárias mais elevadas, à utilização de serviços de saúde (visitas médicas e hospitalização) e a um pior estado de saúde (LOYOLA FILHO, 2005). TABELA 2: DISTRIBUIÇÃO ETÁRIA DA POPULAÇÃO IDADE PERCENTUAL % 20-----30 39 31-----40 24 41-----50 21 51----- 12 TOTAL 100 Quanto ao grau de escolaridade dessa população, constatamos que 98 (49%) da população têm o ensino fundamental incompleto, 44 (22%) são iletradas, 26 (13%) possuem o ensino fundamental completo e 32 (16%) apresentam o ensino médio incompleto, o que se observa que o grau de instrução dessa população é precário, o que pode refletir negativamente nas suas práticas em relação à utilização de medicamentos conforme mostra a Tabela 3. É evidente que o risco da prática da automedicação está correlacionado com o grau de instrução e informação dos usuários sobre medicamentos, bem como com a acessibilidade dos mesmos ao sistema de saúde (ARRAIS, 1997). TABELA 3: NÍVEL DE ESCOLARIDADE DA POPULAÇÃO GRAU DE INSTRUÇÃO Nº % ILETRADO 44 22 FUNDAMENT COMP 26 13 FUNDAMENT INCOM 98 49 MÉDIO INCOMPLETO 32 16 TOTAL 200 100 Quanto à variável renda familiar, verificamos que 62 (31%) ganham de 1 a 2 salários mínimos mensais, 96 (48%) da população estudada sobrevive com 1 salário mínimo mensal, 28 (14%) ganham até meio salário mínimo e 14 (7%) são aposentados. Esse percentual da população que ganha até meio salário mínimo não possui renda fixa, sendo uma média aproximada, pois trata-se de pessoas sem profissão definida, ou seja, vivendo profissões alternativas (Tabela 4). De acordo com Loyola Filho (2002), a automedicação apresentou associação positiva com: sexo feminino, estar casado, renda familiar, escolaridade, menor cobertura do plano de saúde para gastos com medicamentos, entre outros fatores associados. TABELA 4: RENDA FAMILIAR DA POPULAÇÃO RENDA FAMILIAR Nº % ATÉ ½ SALARIO 28 14 1 SALÁRIO 96 48 1-2 SALÁRIOS 62 31 APOSENTADOS 14 07 TOTAL 200 100 Em se tratando da automedicação praticada pela população estudada, verificouse que 123 (61.5%) realizam tal prática, enquanto que 77 (38.5%) não a realizam (Ver Tabela 5). Os problemas derivados do consumo de medicamentos sem prescrição (automedicação), uma prática cada vez mais freqüente entre populações, independentemente dos diferentes contextos sócio-econômicos e culturais em que elas estejam inseridas (LOYOLA FILHO, 2002). Ainda em estudos do mesmo autor, foram encontradas prevalências de automedicação variando entre 30% e 90%. TABELA 5: PREVALÊNCIA DA AUTOMEDICAÇÃO NA POPULAÇÃO PRÁTICA DA Nº % PRATICAM 123 61.5 NÃO PRATICAM 77 38.5 TOTAL 200 100 AUTOMEDICAÇÃO A Tabela 6 mostra os principais tipos de medicamentos utilizados pela população pesquisada. 45 (36.58%) citaram analgésicos, 33 (26.82%) referiram antiinflamatórios, seguidos de antidepressivos com 24 (19.51%), 12 (9.75%) referiram antibióticos e 9 (7.31%) citaram antimicóticos. Estudos no Brasil mostram que os medicamentos mais utilizados nesse sentido são os analgésicos (KOVACS, 2006). Os medicamentos que atuam sobre o sistema cardiovascular são a categoria terapêutica mais utilizada entre os prescritos, ao passo que, entre os não prescritos, prevalecem os analgésicos (LOYOLA FILHO, 2005). A prevalência e os fatores associados à automedicação têm sido amplamente estudados em países desenvolvidos. No Brasil, estudos de base populacional sobre a prevalência e os fatores associados à automedicação são raros. Em dois povoados do Sul da Bahia, verificou- se uma prevalência de automedicação igual a 74,0%, tendo sido os antibióticos, antihelmínticos e antimicóticos os medicamentos não prescritos mais consumidos. Em um município de médio porte do Rio Grande do Sul (Santa Maria), encontrou-se uma prevalência de 53,3% de automedicação, tendo sido os analgésicos, antitérmicos e antiinflamatórios não esteróides os medicamentos mais consumidos (49,2%). (LOYOLA FILHO, 2002). TABELA 6: PRINCIPAIS MEDICAMENTOS UTILIZADOS PELA POPULAÇÃO PRINCIPAIS Nº % ANALGÉSICOS 45 36.58 ANTIINFLAMATÓRIOS 33 26.82 ANTIDEPRESSIVOS 24 19.51 ANTIBIÓTICOS 12 9.75 ANTIMICÓTICOS 09 7.31 TOTAL 123 100 MEDICAMENTOS A Tabela 7 mostra os motivos que estão associados à prática da automedicação. 42 (34.14%) relataram a dificuldade de acesso ao médico durante as emergências, 36 (29.26%) relataram a facilidade em obter medicamentos nas farmácias e drogarias, 23 (18.69%) citaram serem aconselhados por amigos e vizinhos, 17 (13.82%) relataram testar os medicamentos que são veiculados na imprensa, através de propagandas de rádio ou televisão e ainda 05 (4.06%) entrevistados relataram utilizarem receitas antigas. A automedicação, por sua vez, esteve associada a uma maior disposição em aceitar aconselhamento leigo sobre medicamentos (LOYOLA FILHO, 2005). TABELA 7: MOTIVOS ASSOCIADOS À PRÁTICA DA AUTOMEDICAÇÃO NA POPULAÇÃO MOTIVOS DA Nº % 42 34.14 36 29.26 23 18.69 17 13.82 05 4.06 123 100 AUTOMEDICAÇÃO DIFICULDADE DE ACESSO AO MÉDICO FACILIDADE DE ACESSO AOS MEDICAMENTOS ACONSELHAMENTO DE AMIGOS PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS UTILIZAÇÃO DE RECEITA ANTIGA TOTAL CONSIDERAÇÕES FINAIS Esses resultados mostram que é evidente a utilização de medicamentos sem prescrição médica no município de Nova Olinda-Ce, tornando-se clara a importância de estar se discutindo a prática da automedicação entre os profissionais de saúde envolvidos no município, a fim de implementar medidas em prol do uso seguro e racional dos medicamentos, evitando não só a automedicação, bem como as interações medicamentosas, que também elevam o perfil de melefícios trazidos com a utilização indiscriminada de medicamentos. O papel do farmacêutico no sistema de saúde e consequentemente na farmácia e drogaria é contribuir com a promoção à saúde através da prevenção de doenças e agravos à saúde, dispondo para tanto de ferramentas como as constantes nas Boas Práticas de Dispensação e a informação e educação em saúde para os profissionais do serviço, usuários e população. ANEXO 1 1- VARIÁVEIS SÓCIO-ECONÔMICAS Nome: Sexo: Masculino ( ) Feminino ( ) Idade: Grau de Instrução: ( )Iletrado ( ) Superior ( ) Fundamental Completo ( ) Fundamental Incompleto ( ) Médio Completo ( ) Médio Incompleto Renda Familiar: ( ) Aposentado (a) ( ) Até ½ salário mínimo ( )Até 1 salário mínimo ( )De 1-2 salários mínimos 2 – UTILIZA MEDICAMENTOS SEM PRESCRIÇÃO MÉDICA? Sim ( ) não ( ) 3 – QUAIS OS MEDICAMENTOS MAIS UTILIZADOS? ( ) analgésico ( )antiinflamatório ( )antidepressivos ( )antimicóticos 4 – QUAIS OS ( )antibióticos MOTIVOS ( )outros ASSOCIADOS À AUTOMEDICAÇÃO? ( )Influência da mídia ou propagandas de medicamentos ( )Aconselhamento de amigos, vizinhos, parentes ( )Dificuldade de acesso ao médico nas emergências ( )Facilidade de comprar medicamentos nas farmácias ( )Utilização de receitas antigas PRÁTICA DA REFERÊNCIAS ARRAIS, P. S. D.; COELHO, H. L. L.; BATISTA, M. C. D. S.; CARVALHO, M. L.; RIGHI, R. E.; ARNAU, J. M. Perfil da automedicação no Brasil. Rev. Saúde Pública, 31 (1): 71-7, 1997. BRASS, E. P. Changinf the status of drugs from prescription to over the counter availability. V.345, 2001. CASA GRANDE, E. F.; GOMES, E. A.; LIMA, L. C. B.; OLIVEIRA, T. B.; PINHEIRO, R. O. Estudo da utilização de medicamentos pela população universitária do município de Vassouras (RJ). Infarma, v.16, 2004. CAVALLINI, M. E.; BISSON, M. P. Farmácia Hospitalar – um enfoque em sistemas de saúde. Manole, 1ªed, 2002. KOVACS, F. T.; BRITO, M. F. M. Percepção da doença e automedicação em pacientes com Escabiose. An Bras Dermatol. 2006;81(4):335-40. 335 LOYOLA FILHO, A. I. UCHOA, E. GUERRA, H. L. FIRMO, J. O. A. LIMA-COSTA, M. F. Prevalência e fatores associados à automedicação: resultados do projeto Bambuí. Rev Saúde Pública, 2002;36(1):55-62 55 LOYOLA FILHO, A. I.; UCHOA, E.; FIRMO, J. O. A.; LIMA-COSTA, M. F. Estudo de base populacional sobre o consumo de medicamentos entre idosos: Projeto Bambuí. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(2):545-553, mar-abr, 2005. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS) Dpt. Of. Essential drugs and other medicines. The role of pharmacist in self care-medication. Acesso em: 13 de dezembro de 2006. PAULO, L. G.; ZANINI, A. C. Automedicação no Brasil. Rev. Assoc. Méd. Bras., v.34, 1998. SIMÕES, M. S. J. FARACHE, F. A. Consumo de medicamentos em região do Estado de São Paulo (Brasil). Rev. Saúde Pública, v.32, 1988. STIMMEL, G. L. Political and legal aspects of pharmacist prescribing. American Journal of Hospital Pharmacy, v.40, 1983. VILARINO, J. F.; SOARES, I. C.; SILVEIRA, C. M.; RÖDEL, A. P. P.; BORTOLI, R.; LEMOS, R. R. Perfil da automedicação em município do Sul do Brasil, Brasil. Rev. Saúde Pública, 32 (1): 43-9, 1998. ZUBIOLI, A. Profissão: farmacêutico. E agora? Curitiba: Lovise Editora, 1992. p. 45-54.