MEDITAÇÃO: ANÁLISE E COMPARAÇÃO DE TÉCNICAS MEDITATIVAS ORIENTAIS Victor Elias Nigri 1, Sergio Ricardo Master Penedo 2, Francisco Carlos Paletta 3 Abstract The developed article explores the meditation´s idea, its techniques, types, psychological and theological sources, as well as its presence in different western cultures. It also explores the similarities among the different types discussed and an overview of its potential and presence nowadays. The Indian schools of meditation (Pranayama technique), Buddhism Meditation (Vipassana technique), the classical Jewish Meditation, Sufi meditation and the Taoistic Meditation (Tai Chi Technique) are explored and compared. Classic books on the theme were the main source of research, as well as internet articles were used. It was found that all the mentioned schools of meditation may have come from the same source due to its historical and technical similarities, as well as the theological background and similar goals. Some of the studies techniques may appear different, but the final goal is usually the same. Index Terms - Breathing, meditation, mind, religion. Resumo O presente artigo explora a idéia da meditação, suas técnicas, tipos, embasamentos psicológicos e teológicos envolvidos, sua presença em diferentes culturas, as semelhanças entre seus diferentes tipos, e por fim um panorama da meditação e seu potencial nos dias atuais. As escolas de meditação da Índia (técnica Pranayama), a Meditação Budista (técnica Vipassana) [1], a Meditação Clássica Judaica, a Meditação Sufi e a meditação Taoísta (técnica do Tai Chi) são discutidas e comparadas. Livros clássicos dos temas foram principais fontes de pesquisa, que também contou com artigos de internet. Observou-se que todas as mencionadas escolas de meditação provavelmente têm origem na mesma fonte devido a similaridades históricas e técnicas, assim como um similar arcabouço teológico e seus objetivos. Algumas das técnicas estudadas podem parecer diferentes, mas o objetivo final é quase sempre o mesmo. As técnicas de meditação empregadas nos dias atuais não divergem muito das usadas pelos antigos, mas os objetivos podem ser um pouco diferentes, uma vez que a meditação pode promover uma boa qualidade de vida, fora experiências religiosas, no que a desejada paz interior almejada pelos antigos encaixa-se perfeitamente na turbulenta vida moderna. Palavras-chave: Meditação, mente, religião, respiração. 1. MEDITAÇÃO Meditar é essencialmente a capacidade de unidirecionar a mente, o exercício de focar a mente em um único objeto ou pensamento. Meditar é o pensar de maneira controlada, a capacidade de decidir no que pensar e por quanto tempo pensar nesse objetivo. Este exercício se dá através do unidirecionamento da mente em algum objeto, como um mantra (palavra ou frase repetida exaustivamente), uma imagem, uma paisagem, um objeto físico, um som, uma fragrância, um conceito. Segundo KAPLAN [2], quando a mente é defrontada com este objeto, como por exemplo, o mantra, o meditador empenha-se em dedicar toda a sua atenção a este. Pensamentos alheios ao seu mantra naturalmente invadem sua cabeça e o meditador gentilmente elimina estes pensamentos, continuando a focar sua mente em seu único objetivo, o mantra. Com a prática diária e o decorrer do tempo, o meditador fica cada vez mais treinado a pensar apenas no mantra. Pensamentos alheios ao mantra são cada vez mais escassos até que finalmente o meditador atinge a meta de estar unidirecionado no mantra. Uma vez que o meditador está completamente focado, sua mente não divide mais atenções e este pode pela primeira vez experimentar algo em sua plenitude, no caso do mantra, prestando atenção neste como nunca prestou, enxergando todos os seus aspectos, detalhes, nuances e características que antes eram então ofuscadas pela falta de foco pleno da sua mente [3,4]. Se em vez de um mantra o meditador escolheu como objeto de meditação um objeto físico, no caso uma flor, uma rosa, para meditar, a partir do momento em que este unidirecionar a mente para a flor, ele perceberá na flor características que nunca havia antes percebido, características que estavam lá, porém sua falta de atenção o limitava ao enxergá-las. O rosa da flor fica mais rosa do que nunca, um rosa pleno, jamais visto antes, os veios da flor ficam muito mais nítidos - é como se o meditador enxergasse o mundo com outros olhos, como se tivesse colocado óculos, como se antes da experiência meditativa este visse o mundo em um televisor preto e branco e agora o vê em um televisor de alta definição. No domínio religioso, o objetivo da meditação é em geral a obtenção de uma experiência mística, podendo ser, por exemplo, o unidirecionamento da mente em algum conceito místico para compreendê-lo melhor ou o unidirecionamento da mente em uma árvore para uma melhor compreensão da natureza e conseqüentemente do universo. 1 Victor Elias Nigri, student in the School of Civil Engineering at FAAP, CEP 01242-902, São Paulo, SP, Brazil. (e-mail: [email protected]) Sergio R. M. Penedo, Industrial Engineering department chair in the School of Engineering at FAAP, CEP 01242-902, São Paulo, SP, Brazil. (e-mail: [email protected]) 3 Francisco C. Paletta, dean of the School of Engineering at FAAP, CEP 01242-902, São Paulo, SP, Brazil. (e-mail: [email protected]). 2 © 2012 SHEWC July 22 - 25, 2012, São Paulo, BRAZIL XII Safety, Health and Environment World Congress 166 2. ESCOLAS DE MEDITAÇÃO DO ORIENTE Segundo OSHO [5], embora seja um conceito de domínio coletivo, foi no oriente que as técnicas clássicas de meditação floresceram, inicialmente atreladas a algum tipo de crença. A seguir serão examinadas diversas crenças orientais, suas origens e o tipo de meditação que originaram ou desenvolveram. 3. HINDUÍSMO O Hinduísmo é um conjunto de crenças e culturas com características comuns, como a crença em reencarnações e em escrituras sagradas hindus (Vedas), originadas no subcontinente indiano. Os hindus preferem se referir ao seu conjunto de crenças como Dharma (“aquilo que é firme”). Os primórdios do Hinduísmo são indeterminados, porém acredita-se que sua formação ocorreu inicialmente entre 6500 e 1500 anos antes da era atual, tendo se cristalizado na mesma época em que foram compilados os Vedas a partir de cerca de 1500 a.C. [6]. As crenças hindus eram sistematizadas em um modelo mais elitista de religião, que prosseguiu até aproximadamente o século 3 a.C., período no qual a fase védica desta religião cristalizou-se, fase esta marcada também pelo surgimento de diversos livres pensadores contestadores da ordem vigente até então. Estes livres pensadores, em sua maioria ascetas renunciantes, admirados pela população e tidos como homens santos, rivalizaram com a autoridade religiosa dominante. As bases do Dharma foram discutidas e a necessidade do estudo minucioso dos Vedas e a condição social não foram mais vistos como requisitos para elevação espiritual. A doutrina da Ioga surge neste período. Diversas escolas de Ioga foram fundadas e diversas técnicas criadas visando à harmonia entre mente e corpo através da combinação de exercícios físicos (alongamentos), controle da respiração e utilização de mantras. O controle da mente, dos pensamentos e da percepção do universo também é almejado. Podemos compreender a Ioga, portanto, como um conjunto de técnicas meditativas. Dentre elas destaca-se o Pranayama (controle da respiração), que está presente em diversas escolas Iogues. O Pranayama visa ao domínio da mente através do controle da respiração, uma vez que acredita que a mente e a respiração estão interligadas. A respiração seria a manifestação de vitalidade mais sutil dentro do corpo. É esta energia que movimenta a mente, portanto é por meio dessa energia que se pode manipular ou mesmo parar a mente, atingindo-se um estado de serenidade. Em linhas gerais, a técnica é baseada no unidirecionamento da mente por meio da atenção focada na respiração. O praticante senta-se diariamente por pelo menos quinze minutos com as costas eretas e o olhar focado em um ponto, evitando-se assim distração. A partir de então começa a respirar uniformemente, dando exclusiva atenção à sua respiração. Meditações que utilizam mantras são muito comuns nas escolas indianas. Um conhecido mantra é a palavra e © 2012 SHEWC som ‘Ohm’, que repetido diversas vezes supostamente causa um efeito harmônico no praticante, além de realizar a função de colocá-lo em estado meditativo por meio da focalização da mente. 4. BUDISMO Surgido na Índia por volta do ano 500 a.C., o Budismo integrou um conjunto de práticas espirituais que surgiram em contraposição ao caráter elitista do Hinduísmo ganhando quase que imediatamente características próprias e se desvinculando do primeiro. Foi fundado por um príncipe oriundo da classe sacerdotal hindu chamado Siddhartha Gautama [7]. Siddhartha pregava que o apego a este mundo gera inevitavelmente tristeza através de doenças, velhice, morte e renascimento no samsara (ciclo de reencarnações) e que o caminho para a felicidade, também chamada de iluminação ou nirvana, é o desapego deste mundo, o esvaziamento da mente, sendo logo a cessação das reencarnações e do sofrimento. O caminho para este desapego poderia ser atingido através de técnicas meditativas que guiariam a mente para a verdade, para o vazio e a libertariam das ilusões do mundo material. O Budismo posteriormente migrou para China e para o Japão. Neste último, notamos o desenvolvimento do conhecido Budismo Zen, uma vertente do Budismo que, além do caminho tradicional, prega a possibilidade de iluminação súbita através da concentração e meditação em atividades cotidianas como a pintura e a prática de artes marciais [7]. A meditação é o pilar essencial do budismo e aparece de diversas formas nele, sendo as principais os mantras e as relacionadas à respiração. Uma prática meditativa presente em quase todas as vertentes budistas é a conhecida meditação Vipassana (“enxergar as coisas como elas realmente são”). Basicamente, este tipo de meditação é baseado na observação das sensações físicas do próprio corpo e em linhas gerais pode ser executado de três formas diferentes [1]: • • A primeira forma se aplica à percepção de suas ações. Por exemplo, ao caminhar, a percepção da pessoa deve estar completamente voltada ao ato de caminhar, percebendo seus pés de forma atenta, algo que poderia passar completamente desapercebido. O mesmo se aplicaria ao comer e à atenção dirigida aos movimentos necessários para isso ou a qualquer outra atividade que envolva sensações físicas, inclusive as mentais, onde a técnica prega que o meditador seja um observador de seus pensamentos, um observador das emoções de seu coração, sem avaliá-las, criticá-las ou se envolver com elas, apenas observando-as. A segunda forma é realizada através da observação dos mecanismos da respiração, o que acontece com o abdômen durante a entrada e saída de ar, quando o músculo abdominal sobe ou desce devido à entrada e saída de ar. É July 22 - 25, 2012, São Paulo, BRAZIL XII Safety, Health and Environment World Congress 167 • necessário, portanto, estar atento ao ventre e aos movimentos repetitivos que esta faz. Os budistas acreditam que por estar perto do umbigo (a origem da vida), o ventre é um poderoso centro de vitalidade. A terceira forma de Vipassana é a percepção da entrada e saída de ar pelas narinas, sentir o ar entrando e refrescando, depois saindo e entrando de novo de modo uniforme. Qualquer um dos três subtipos acima descritos proporciona o mesmo resultado: quanto mais consciente se estiver em seu objeto de meditação, seja ele a respiração nas narinas, no abdômen ou no pensamento, naturalmente a mente, o coração e os humores irão progressivamente desaparecer, sair de cena, dando espaço apenas ao objeto de meditação. 5. TAOÍSMO O Taoísmo não é uma religião organizada, mas sim um modo de vida e uma tradição filosófica e religiosa que teve suas bases fundadas há milênios na China [8]. Sua origem é atribuída ao famoso Imperador Amarelo (Huang Di), que reinou na China por volta do ano 2700 a.C. e escreveu o primeiro livro que conteria as bases do Tao (o caminho, como os taoistas se referem à religião). O pensador Lao-Tse (500 a.C.) é também considerado um dos pais do Taoísmo e autor de uma das mais importantes obras no assunto, o Tao Te Ching. O Taoísmo, assim como o Budismo, não faz nenhuma menção explícita a um D’us criador do universo e acredita na harmonia do universo, no equilíbrio e na dualidade da realidade por meio da manifestação de duas energias: o Yin e o Yang, ora manifestados através de luz e escuridão, masculino e feminino, forte e fraco, e demais opostos. Acredita na existência de uma energia vital Chi que permeia e integra todos os componentes do universo, e nos homens se manifesta através da respiração. O homem, portanto, deve entrar em comunhão com a natureza, que é composta pela mesma matéria prima em que ele deve se equilibrar, assim como a natureza o é. A proximidade com árvores, rios e ambientes naturais intocados pelo homem é incentivada, uma vez que a natureza esta equilibrada e em constante meditação. A acupuntura tem origem no Taoísmo, uma vez que o objetivo é desobstruir os meridianos do corpo humano para que o Chi flua livremente, reestabelecendo a vitalidade de locais enfermos. Para atingir o seu objetivo, o equilíbrio, o Taoísmo conta com alguns dispositivos, incluindo alguns tipos de meditações, sendo uma delas muito popular no ocidente, chamada Tai Chi. O Tai Chi é considerado uma auto-acupuntura, uma meditação em movimento e uma arte marcial interna. Sequências muito lentas de movimentos de combate que utilizam todo o corpo são executadas de forma contínua e ininterrupta, fazendo com que a energia vital Chi flua de forma livre e espontânea pelo corpo do praticante, assim como ocorre na natureza. Estes movimentos foram © 2012 SHEWC minuciosamente desenvolvidos para o cultivo e a circulação da energia, o que proporciona uma maior saúde ao praticante, potencializa seus movimentos de combate através da manipulação do Chi e execução perfeita e focada do movimento, e o coloca em equilíbrio com a natureza. Os golpes do Tai Chi visam sempre a complementar os movimentos do adversário, sendo sempre circulares. O rápido é vencido através do lento e a dureza através da suavidade. Durante a prática do Tai Chi, o meditador deve prestar atenção à sua respiração (onde o Chi se manifesta) e/ou ao seu movimento, fluindo em compasso com a respiração, no mesmo ritmo. A mente é então inicialmente unidirecionada a um objetivo único e progressivamente esvaziada de preocupações e outros pensamentos. 6. SUFISMO O Sufismo é a vertente mística do Islamismo, embora muitas vezes apareça desvinculado deste. Possui um caráter mais contemplativo buscando D’us através da dança, música, meditação e retiros espirituais, embora compartilhe com o Islamismo as mesmas doutrinas e ritos fundamentais como a crença em um único D’us e no sagrado livro Alcorão e as práticas e ditos do profeta Muhammed. É justamente dessas fontes que os sufis extraem seus princípios intelectuais para sua busca espiritual. Os sufis existem há algum tempo, porém seu pensamento ganhou força e começaram a se organizar em confrarias e sociedades apenas séculos depois do surgimento do Islamismo (surgido em 610 d.C.), por volta do ano 1200 d.C., em países onde o Islamismo havia se estabelecido: Índia, Indonésia, Sudeste Asiático, Marrocos e extremo noroeste da África. Em sua busca pela felicidade, pelo divino e pela experiência mística que conduz ao controle da mente, os sufis se utilizam de diversas técnicas meditativas que englobam mantras, técnicas de respiração e de movimento, dentre elas o Rodopio Sufi. O Rodopio Sufi é uma meditação feita em movimento. Nela, o meditador gira em torno de seu próprio eixo (movimento de rotação) com os olhos abertos. A idéia é de que o meditador gire como se o corpo dele fosse uma roda-gigante em movimento, e o ser interior dele o centro desta. As imagens devem passar desfocadas pelos olhos e nada deve ser focalizado. O giro começa a ser executado lentamente durante quinze minutos e a velocidade é progressivamente aumentada até trinta minutos de giro, quando o rodopio supostamente toma conta do corpo do meditador, que a esta altura será uma testemunha silenciosa no centro de um turbilhão de movimentos periféricos. O controle da respiração desempenha papel importante nas técnicas meditativas sufis. 7. JUDAÍSMO A história do povo judeu é amplamente conhecida, uma vez que esta religião, surgida por volta de 1800 a.C., July 22 - 25, 2012, São Paulo, BRAZIL XII Safety, Health and Environment World Congress 168 influenciou toda a crença de duas religiões posteriores, o Cristianismo e o Islamismo, que vieram a se tornar as duas religiões com o maior número de seguidores nos tempos atuais [9]. O Judaísmo é a primeira religião monoteísta e surgiu em um universo politeísta mesopotâmico na cidade de Ur, onde o patriarca Abraão (Abraham) rebelou-se com a cultura de idolatria vigente até então, instituindo a prática da crença em um único D’us, onisciente, onipotente, onipresente, criador de todas as causas e envolvido com sua criação. A crença nessa única divindade é a base do Judaísmo. Os descendentes de Abraão, conhecidos como Hebreus, foram escravizados durante séculos no Egito e fugiram de lá de uma forma espetacular que ficou conhecida como êxodo, ocorrido por volta do ano 1300 a.C., amplamente relatado na Bíblia, papiros egípcios e em tradições orais. Embora a religião sempre fosse a mesma, a denominação ‘judeu’ vem do reino de Judá, reino do povo hebreu remanescente após invasão Assíria e destruição de dez das doze tribos que compunham o povo hebreu. Por trás de ensinamentos tangíveis contidos nas escrituras, os judeus acreditam em segredos místicos criptografados nessas e acessíveis apenas a iniciados. Estes conhecimentos contêm segredos do mundo, da natureza divina e da criação, sendo fonte de meditações poderosas relacionadas a experiências místicas. O nome dessa sabedoria oculta é Cabala, porém a Meditação Judaica não se restringe apenas à Meditação Cabalística avançada, existindo alguns tipos de meditação que podem ser praticados por qualquer judeu, como meditações baseadas em mantras. Mantras com letras do alfabeto hebraico, como a letra M (Mem, que simboliza equilíbrio) e a letra X (Shin), que simboliza destruição e inclui também muitas das rezas diárias judaicas como a Amida, que repetidas três vezes ao dia pode ser utilizada como mantra. O judaísmo ainda enxerga a respiração como uma ponte entre o consciente e o inconsciente, por ser um processo que é realizado de duas formas (pode-se controlar a respiração conscientemente ou deixar que o inconsciente a controle), e utiliza técnicas basicamente idênticas às do Vipassana para tentar ganhar acesso e controle do inconsciente e quietude da mente. Ainda são utilizadas no judaísmo meditações de contemplação em objetos específicos, como velas e elementos da natureza como o céu. melhor da realidade, a felicidade e a quietude da mente. Todas as escolas meditativas mencionadas ainda usam como objeto, ou pelo menos um dos objetos de meditação, a respiração e possuem semelhanças quanto à maneira como se deve respirar, de maneira uniforme e constante, deixando a respiração tomar o lugar dos pensamentos [1]. No caso da utilização de outros tipos de objetos de meditação, ainda se observam similaridades, sendo o Tai Chi, a Vipassana budista enfatizada na percepção das sensações do corpo e o Rodopio Sufi muito parecidos, ao focarem nos movimentos naturais e fluidos do corpo. Quando se fala de mantras, paralelos entre os diferentes tipos de meditação são também amplamente encontrados. A Meditação Clássica Judaica, baseada em mantras, encontra paralelos muito fortes nas escolas indianas. O mantra da letra M (Mem) judaica, que simboliza equilíbrio, pouco difere sonoramente do mantra da palavra e som Ohm Hindu, que sugere harmonia. As técnicas para a utilização de mantras nas duas filosofias são idênticas. Em ambas deve-se entoar a palavra, frase ou som exaustivamente com o objetivo de se esvaziar a mente de qualquer desvio de atenção, preocupação e emoção e dirigir todos os esforços, pensamentos e energia à pura e simples repetição do mantra, que deve preencher a mente do meditador, ser ouvido e visualizado sem interferências. Nas escolas budistas, taoistas e sufis, a utilização de mantras se dá de forma idêntica. Meditações baseadas em visualizações como a visualização da vela ou contemplação de paisagens encontram igual paralelo nas disciplinas hindus, sufis, judaicas, budistas e taoistas. 8. SEMELHANÇAS ENTRE AS ESCOLAS E TÉCNICAS Observando as correntes filosóficas abordadas e os tipos de meditações que estas proporcionam, um paralelo contendo semelhanças entre todas as técnicas pode ser estabelecido. A meditação Iogue Hindu Pranayama, a meditação Budista Vipassana voltada à respiração, o Tai Chi, a meditação judaica e a meditação Sufi possuem objetivos meditativos idênticos que podem ser resumidos a um alcance de uma consciência expandida, uma percepção © 2012 SHEWC July 22 - 25, 2012, São Paulo, BRAZIL XII Safety, Health and Environment World Congress 169 CONCLUSÃO A palavra chinesa para respiração e energia vital Chi é extremamente similar à denominação de vitalidade em hebraico Chai. De acordo com a tradição bíblica, D’us soprou vida nas narinas do primeiro homem após criá-lo, não é espantoso, portanto, que a energia vital e os métodos de controle da mente e consequentemente de todo o ser passem pela respiração no judaísmo. Inclusive, denominações técnicas para conceitos religiosos e palavras-chave nesse campo, na língua hebraica, não apenas irão encontrar paralelos com a língua chinesa, mas também com o antigo sânscrito hindu. Em hebraico poder espiritual é escrito Ashurim e em sânscrito Ashram, sabedoria em hebraico pode ser escrita como Deyá e em sânscrito como veydá dentre inúmeros exemplos. Porém, talvez o exemplo etimológico mais marcante seja a semelhança da palavra pai da nação que em sânscrito é Brahman (referência ao D’us supremo, intangível da mitologia hindu) e em hebraico é Abraham (nome em hebraico do patriarca Abraão). Segundo WOLF, de acordo com a tradição judaica, alguns filhos de Abraão tiveram passagem pela Índia, após saírem da cidade de Ur (atual Iraque) pouco antes de a fase védica eclodir nesse local, fato, que pode explicar um eventual intercâmbio cultural e religioso com os pensadores locais. Muitas semelhanças ritualísticas e filosóficas são encontradas nas correntes místicas hindu e judaica, como a necessidade de um despertar da consciência através da abertura de um “terceiro olho” místico através da meditação avançada, a perspectiva de barbas longas encaradas como antenas espirituais, desvinculação de desejos e prazeres mundanos excessivos, a crença em reencarnações e em certos modelos de karma, a crença na existência de um mundo composto por ilusões denominado mundo da mentira pelo Judaísmo e Véu de Maya pelo Hinduísmo e a crença na existência de uma centelha divina dentro de cada ser humano que faz parte de um ser acima da natureza tangível e da compreensão humana, de caráter panteísta no hinduísmo, e monoteísta no judaísmo. O Budismo que surgiu posteriormente em um cenário já marcado pelo misticismo naturalmente incorporou aspectos destas duas religiões anteriores e o Sufismo, surgido milênios depois, na mesma região das três escolas anteriores naturalmente englobou aspectos destas como podemos notar não só na parte meditativa prática da escola como nos aspectos teóricos, afinal, sendo uma vertente do Islamismo que foi sabidamente altamente influenciado pelo Judaísmo em todos os seus aspectos e corpo teológico, é natural que semelhanças despontem. O Budismo surgiu na Índia no mesmo ano em que o Taoísmo se cristalizou na China por volta de 500 a.C., migrando para a China em uma época onde o Taoismo já se consolidava. Todavia, aspectos marcantes entre estas duas escolas deixam no ar uma pergunta sem resposta: teria o Taoísmo sido influenciado pelo Budismo, o Budismo pelo Taoísmo ou ambos por alguma outra escola como o Judaísmo ou o Hinduísmo? Embora esta pergunta fique sem uma resposta exata, o fato é que algum tipo de intercâmbio religioso ocorreu como nos outros casos. © 2012 SHEWC Um intercâmbio cultural e religioso entre cinco diferentes escolas de meditação explica o motivo de suas técnicas, quando não idênticas, serem extremamente parecidas, e os objetivos religiosos, espirituais e emocionais do exercício serem os mesmos, apenas com a eventual variação do nome dado a estes. As técnicas de meditação praticadas nos dias atuais pouco divergem das meditações praticadas nas cinco escolas mencionadas e a busca de harmonia, saúde mental e física e eventualmente experiência religiosa são sempre o objetivo almejado pelos praticantes. O silenciar da mente, o controle da respiração que irá ditar o ritmo do coração, do corpo e levar ao controle da ansiedade e das emoções é uma saída para lidar com a turbulenta vida moderna. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Meditação Vipassana. Disponível em: <http://www.dhamma.org/pt/vipassana.shtml>. Acesso em 01. Dez. 2011. [2] Kaplan, Aryeh. Jewish Meditation. 1.ed. New York: Schocken Books, 1985. [3] Huxley, Aldous. Heaven and Hell. Londres: Chatto and Windus, 1954. [4] Huxley, Aldous. The Doors of Perception. Londres: Chatto and Windus,1954. [5] Osho. Meditação: a primeira e última liberdade. 1. ed., Rio de Janeiro: Sextante, 2007. Tradução de Henrique Amat Rêgo Monteiro. [6] História Viva,Grandes Religiões: Hinduísmo, São Paulo, Duetto, 2006. [7] Li, Huang. The Medical Classic of the Yellow Emperor. Foreign Languages Press, Beijing, 2001. Traduzido por Zhu Ming. [8] Tse, Lao. Tao Te Ching. Disponível em: <http://academic.brooklyn.cuny.edu/core9/phalsall/texts/taote-v3.html>. Acesso em: 01. 0ut.2011. Traduzido para o inglês por S. Mitchell, 1995. [9] Wolf, Laibl. Cabalá Prática: um guia da sabedoria judaica para o dia-a-dia. São Paulo: Maayanot, 2003. Tradução de Sergio M. Cernea. July 22 - 25, 2012, São Paulo, BRAZIL XII Safety, Health and Environment World Congress 170