Os Pré-Socráticos: a busca por um princípio (arkhé) a matéria constituinte da natureza (physis) Abrahão Martins Brito O início da filosofia da natureza De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é conhecida como período pré-socrático, isto é, anterior a Sócrates. No período pré-socrático ou cosmológico (do final do séc. VII ao final do séc. V a.C.) a Filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das transformações na Natureza. Os pré-socráticos são os primeiros filósofos. Eles buscavam um principio (arkhé), uma explicação racional (logos) do mundo e da natureza (physis), portanto, os filósofos pré-socráticos faziam Cosmologia. Os pensadores de Mileto A história da escola filosófica de Mileto, hoje uma cidade da Turquia, está ligada aos acontecimentos políticos na Ásia Menor entre os séculos VI e IV a.C. Depois de beneficiar-se de sua localização, favorável ao comércio, e de experimentar um grande desenvolvimento socioeconômico e tecnológico, Mileto foi ocupada pelos persas e várias vezes destruída, o que determinou o fim da escola filosófica. Fonte: filosofiaonline.blogs.sapo.pt No vasto mundo grego, a filosofia teve como berço a cidade de Mileto, situada na Jônia, litoral ocidental da Ásia Menor. Caracterizada por múltiplas influências culturais e por um rico comércio, a cidade de Mileto abrigou os três primeiros pensadores da história ocidental a quem atribuímos a denominação filósofos. São eles Tales, Anaxímenes e Anaximandro. Tales de Mileto é precursor de um período na filosofia que ficou conhecido como período cosmológico, ou ainda, posteriormente, como período pré-socrático. O período cosmológico confunde-se com os primeiros passos da filosofia no Ocidente e se origina na necessidade intuída pelo Homem de explicar de maneira racional - a ordem do mundo ou da Natureza (physis, para os gregos). A cosmologia é uma filosofia da natureza, - ou da physis; daí os primeiros filósofos serem chamados de “físicos” ou “naturalistas”, isto é, só diz respeito ao homem na medida em que ele é parte de um universo natural que o engloba e determina. Estes físicos vão buscar fundamentos em argumentos teóricos, uma primeira causa material e unitária do princípio arché - constitutivo da Natureza - physis - do universo.1 1 Fonte extraída do material do Sistema COC de Ensino. Tales de Mileto É considerado o primeiro pensador racional, isto é, o primeiro a explicar os acontecimentos recorrendo à razão e não a causas sobrenaturais. Nasceu em Mileto, na Jónia, por volta de 624-23 a.C. A sua doutrina fundamental reside na identificação da substância universal com a água. A água é, para Tales, a causa material do mundo; aquilo que subjaz a toda a mudança. Para ele, a água permanece a mesma, em todas as transformações dos corpos, apesar dos diferentes estados: sólido, líquido e gasoso. «(…) Tudo é água e, por consequência, a terra está sobre a água» Anaximandro de Mileto Concidadão e contemporâneo de Tales, nasceu em Mileto por volta de 610-09 a.C. No campo da filosofia, substituiu a “água” de Tales pelo (apeiron) (infinito ou indefinido). A causa material do mundo seria algo invisível tal como é, na medida em que se nos mostra sempre na forma de 1 dos 4 elementos: terra; ar; água e fogo. A mudança do mundo consistiria na alteração do elemento com que o apeiron se nos mostra. «O principio de todas as coisas é o apeiron e dele provêm os céus e o mundo neles contidos» Anaxímenes de Mileto Discípulo de Anaxímenos, nasceu em Mileto por volta de 546-45 aC. Substituiu a água e o indefinido de Tales e Anaximando pelo ar. «O ar é um deus, é gerado e imenso e infinito e está sempre em movimento» Heráclito de Éfeso Último dos pensadores jónios, nasceu na cidade de Éfeso e foi contemporâneo de Parmênides – floresceram por alturas de 504-01 aC. Para Heráclito, um dos pensadores que mais influência teve na filosofia, a mudança, ou devir de todas as coisas, caracteriza o mundo. Este é um fluxo constante em que nada se detém. O fogo é para Heráclito o elemento que melhor representa a permanente mudança. «A doença torna a saúde agradável e boa, a fome a saciedade, a fadiga o descanso» «Não podemos banhar-nos duas vezes nas águas de um rio porque outras são as águas que por ele correm» «Tudo flui» Parmênides de Eléia Parmênides é o fundador da filosofia eleática que teve grande impacto na filosofia de Platão e, através deste, na filosofia ocidental. Nasceu em Eléia em 540-39. Sabe-se que escreveu várias obras, mas, até nós, apenas chegou boa parte do conhecido “Poema de Parmênides”. O “poema” contém o essencial da filosofia parmenidiana: a valorização da verdade () e a desvalorização da opinião (). A doutrina da verdade defende a existência de dois caminhos possíveis para a verdade: a do ser e a do não ser. No entanto, o caminho do não ser é impossível pois o não ser é o que não é e o que não é não pode ser pensado. O que é, é o que pode ser pensado. Esta identificação do ser com a existência leva-o a conclusões audaciosas, como a recusa da mudança, do tempo e do movimento, transformando-se o que existe num eterno agora. «O que se pode dizer e pensar é forçoso que seja; pois lhe é possível ser, e não ao que nada é» A doutrina da opinião é a daqueles que para manterem o tempo e a mudança acreditam que o que é, é e não é, o que é absurdo e indigno de confiança. «(…) Bicéfalos; pois a incapacidade lhes guia no peito a mente errante; eles são levados, surdos e cegos a um tempo, totalmente confundidos – multidões sem discernimento, persuadidas de que ser e não ser são a mesma coisa…» Foram os primeiros filósofos do mundo ocidental que se tem notícia, são chamados assim pelo fato se antecederem àquele que foi talvez o mais famoso e importante de todos os filósofos da humanidade, Sócrates. O legado desses primeiros filósofos que nos chega aos dias de hoje são apenas fragmentos de suas obras. São chamados de filósofos da natureza, por investigarem os processos naturais e por buscarem uma matéria única, mínima e homogênea que seria comum a todas as coisas. Romperam com a visão mítica e religiosa da natureza que prevalecia na época, adotando uma forma científica de pensar. Eram poetas, profetas desprendidos que qualquer luxo citadino ou demais coisas materiais, dedicando-se explicitamente ao estudo da Natureza.2 2 Fonte extraída do texto: www.templodeapolo.net/Civilizacoes/grecia/filosofia/presocraticos/filosofia_presocraticos.html Diagrama dos principais elementos propostos pelos filósofos pré-socráticos – a physis ou arché Os naturalistas Tales de Mileto MONISTAS (há um princípio que se encontra ou se deduz da natureza) ELEATAS É a água Anaximandro de Mileto É o ápeiron Anaxímenes de Mileto É o ar infinito Heráclito de Éfeso É o fogo-lógos-natureza, símbolo do devir de todas as coisas e da razão-harmonia que governa seus movimentos. Parmênides de Eléia O ser é o princípio e fora do princípio nada existe. Questões de estudo: 1) Qual era a preocupação central do filósofos de mileto e o que encontrou cada um em sua busca? 2) Descreva as divergências fundamentais entre Parmênides e Heráclito sobre a realidade do ser. 3) (UFU - 1999) Parmênides de Eléia, filósofo pré-socrático, sustentava que: I - O ser é. II - O não-ser não é III - O ser e o não-ser existem ao mesmo tempo. IV - O ser é pensável e o não ser é impensável. Assinale a alternativa correta: a) se apenas III estiver correta. d) se apenas I, II e IV estiverem corretas. b) se apenas I, II e III estiverem corretas. e) se apenas III e IV estiverem corretas. c) se apenas II, III e IV estiverem corretas. 4) (UFU - 1999) Heráclito de Éfeso, filósofo pré-socrático, compreendia que: I - O ser é vir-a-ser. II - O vir-a-ser é a luta entre os contrários. III - Da luta entre os contrários origina-se o não-ser. Assinale a alternativa correta: a) I, II e III estão corretas. d) apenas a II está correta. b) I e II estão corretas. e) apenas a III está correta. c) II e III estão corretas. Referência Bibliográfica: ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia. 3ª Ed. Revista. São Paulo: Moderna, 2003. CHAUÍ, Marilena. Filosofia. 2ª Ed. São Paulo: Ática S.A., 2008. CASTRO, Susan de. (org.). Introdução à Filosofia. Petrópolis, Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 2008. COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. 16ª Ed. reform.da e ampl. São Paulo: Saraiva, 2006. _____, Fundamentos da Filosofia: ser, saber e fazer. Elementos da história do pensamento ocidental. 14ª Ed. São Paulo: Saraiva, 1999. JAPIASSÚ, Hilton. Dicionário básico de Filosofia. 4ª Ed. Atualizada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. KIRK, G. S. e RAVEN, J. E. Os filósofos pré-socráticos. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1982. p. 182-217. LOGOS, ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE FILOSOFIA. 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