Introdução a Química de Coordenação Prof. Fernando R. Xavier UDESC 2015 Histórico té o fim do século XIX, os compostos de coordenação não tinham suas estruturas completamente elucidadas. Suas propriedades “estranhas” tais como desafiar as leis de valência empregadas na época, lhes conferiram o nome usual de íons complexos. Um estudo sistemático e aprofundado sobre o assunto recebeu a atenção de dois cientistas que trabalharam de forma independente: Alfred Werner (alemão) e Sophus Jørgensen (dinamarquês). Werner Jørgensen 2 As idéias propostas por Werner foram melhor aceitas pela comunidade científica da época e assim, em 1913 foi o primeiro químico inorgânico laureado com o Prêmio Nobel de Química. Histórico Ao fim do séc. XIX, era sabido entre os químicos que: Alguns elementos eram tidos com valências fixas. ex.: Na (1+); O (2-); dentre outros. Alguns elementos podiam exibir duas ou três valências distintas. ex.: Cu (1+ ou 2+); P (3-, 3+ ou 5+); dentre outros. Alguns elementos entretanto, exibiam “poderes de combinação” que eram difíceis de conciliar com suas valências usuais. Ex.: compostos de cromo e de platina. 4 Histórico O Cromo (3+) e íons platina (2+ e 4+) reagiam com íons cloreto (Cl-) para completar suas respectivas camadas de valência porém, ainda assim, reagiam com moléculas de amônia que já possuia todos seus átomos satisfeitos eletronicamente. Com base nestes experimentos, Jørgensen tentou expressar uma possível fórmula estrutural usando princípios da química orgânica: 5 Histórico Já Werner estudando compostos de cobalto(III) com amônia e íons cloreto foi capaz de isolar 4 espécies com cores distintas. Mas apesar da mesma composição química, as propriedades destes compostos eram distintas. Exemplo: Teste de precipitação com nitrato de prata. 6 Histórico Werner conclui que compostos M(NH3)5X3 (onde M = Cr ou Co e X = Cl ou Br) são derivados dos compostos M(NH3)6X3 pela perda de uma molécula de amônia. Postulados de Werner 1. A referida série de compostos de cobalto exibem um constante número de coordenação (6), onde as moléculas de amônia podem ser substituídas por íons cloreto que se ligam covalentemente ao metal. 2. A química complexa do cobalto deve levar em conta não só o NOX do metal, mas também seu número de coordenação. 7 Histórico Desta forma Werner reescreveu as fórmulas químicas dos compostos estudados como: Outra importante observação de Werner foi analisar a condutividade elétrica dos compostos em solução aquosa. Fórmula empírica Condutividade Razão dos eletrólitos Fórmula de Werner PtCl4 . 2 NH3 - - [Pt(NH3)2Cl4] PtCl4 . 3 NH3 96,8 μS 1:1 [Pt(NH3)Cl3]Cl CoCl3 . 5 NH3 261,3 μS 2:1 [Co(NH3)5Cl]Cl2 CoCl3 . 6 NH3 431,6 μS 3:1 [Co(NH3)6]Cl3 8 Histórico Com relação ao arranjo espacial destas moléculas ao redor do átomo central, Werner propos três modelos: Porém devido a falta de técnicas de análise estrutural na época, a real geometria destes compostos foram reveladas muitos anos mais tarde. 9 Atualmente... Íons complexos são formados por um átomo central rodeado por um grupo de ligantes. E, um ligante é um íon ou molécula que pode ter sua existência independente. Exemplos: O termo composto de coordenação é considerado mais completo e abrangente uma vez que pode ser empregado para compostos que não são eletricamente carregados. Ex.: [Ni(CO)4] ou Ni(CO)4 Quimicamente a ligação entre o íon metálico central e seu ligantes pode ser explicada de um modo mais simplista como uma reação do tipo ácido-base de Lewis, onde o metal (ácido) pode aceitar pares eletrônicos provenientes dos ligantes (base). 10 Os ligantes Os ligantes podem doar 1 (um) ou mais pares eletrônicos ao centro metálico. Ligantes que doam mais de um par eletrônico são ditos polidentados. Exemplos: Ligantes são ditos ambidentados quando possuem mais de um átomo doador em sua estrutura, podendo então se coordenar de diferentes maneiras ao centro metálico. Exemplos: Nitrito-κN Nitrito-κO 11 Os ligantes Ligantes polidentados podem produzir compostos ditos quelatos que são altamente estáveis devido a formação de anéis de 5 ou 6 membros e fatores termodinâmicos (aumento de entropia do sistema). Exemplo: en = H2N-CH2-CH2-NH2 Efeito quelato 12 Os ligantes A formação de anéis de 5 ou 6 membros (ângulos internos de 72 e 120°, respectivamente) ajudam a estabilizar a coordenação deste ligante e dar estabilidade ao complexo formado. Exemplos: acac = acetilacetonato 13 Os ligantes Alguns ligantes (moléculas) podem receber nomes próprios que são comumente utilizados em química de coordenação. Exemplos: 14 Complexos - Nomenclatura Dentro de um mesmo complexo, os ligantes são relacionados em ordem alfabética e seus nomes podem sofrer alterações através do sufixo “o”. Exemplos: 15 Complexos - Nomenclatura Para compostos iônicos (sais), usa-se o nome do ânion seguido do nome do cátion. Para compostos neutros, escreve-se os nomes dos ligantes em ordem alfabética seguido do nome do metal. Em ambos os casos o nome do metal é seguido pelo seu respectivo NOX entre parenteses. O sufixo –ATO é adicionado no nome do metal se o complexo for um ânion. Em caso de múltiplos ligantes de uma mesma espécie química, são usados os seguintes prefixos gregos: mono tetra, tetrakis di, bis penta tri, tris hexa… etc… 16 Complexos - Nomenclatura Ligantes que fazem ponte entre centros metálicos distintos são designados pela letra grega “mi” – “μ”. O uso de colchetes “[ ]” indicam quais os ligantes estão covalentemente ligados ao centro metálico e devem ser usados quando o composto de coordenação é carregado eletricamente. Usualmente, complexos neutros e oxoânions são escritos sem o uso de colchetes. Exercícios. Com base na fórmula química, fornecer o nome dos seguintes compostos de coordenação: 17 Complexos - Nomenclatura Exercícios (continuação) 18 Complexos - Nomenclatura Exercícios. Com base no nome IUPAC do composto, fornecer sua respectiva fórmula química: 19 Complexos – Constituição e geometria O número de coordenação de um complexo indica quantos ligantes estão diretamente ligados ao centro metálico em questão. São três os fatores que gevernam sua magnitude: Tamanho do átomo/íon central (raio atômico/iônico) Impedimento estérico entre os ligantes Interação eletrônica entre o átomo central e seus ligantes Em linhas gerais, átomos grandes (maior raio) podem aceitar mais ligantes em sua esfera de coordenação. Porém, o uso de ligantes volumosos favorecem baixos números de coordenação. 20 Complexos – Constituição e geometria Complexos que apresentam poucos elétrons nas suas camadas de valência podem aceitar mais pares eletrônicos de ligantes e assim formam compostos com alto número de coordenação. Ex.: Elementos das séries 4d e 5d e elementos do bloco f. Baixos números de coordenação são encontrados para elemendos do bloco “d” no limite direito da tabela periódica pois suas camadas de valências já estão praticamente completas. Ex.: Au, Ag, Pt 21 Complexos – Constituição e geometria O número de coordenação 2 Podem ser obtidos em soluções diluídas de ligantes e metais. Sua geometria é sempre do tipo linear (D∞h) e, metais do grupo 11 são exemplos típicos de íons que formam este tipo de composto. Compostos do tipo organomercúrio também comuns (H3C–Hg–CH3). 22 Complexos – Constituição e geometria O número de coordenação 3 Complexos com número de coordenação 3 (trigonal planos) são bastante raros, mas podem ocorrer quando ligantes volumosos são utilizados. 23 Complexos – Constituição e geometria O número de coordenação 4 São inúmeros os compostos encontrados na literatura com número de coordenação 4, sendo basicamente divididos entre os de geometria tetraédrica ou quadrado-planares Complexos tetraédricos são favorecidos quando o átomo central é pequeno e seus ligantes são volumosos (Cl-, Br-, I-). Esta geometria é comum para elementos da série 3d e elementos do bloco “s” e “p” e ainda para tetraoxoânions. 24 Complexos – Constituição e geometria O número de coordenação 4 Complexos quadrado-planares são raramente encontrados quando o átomo central é da série 3d (exceto o níquel “d8”) e elementos do bloco “s” e “p”. Já, para todos os elementos do grupo 10 (Ni, Pd e Pt) e ainda Rh+, Ir+ e Au+ esta geometria é extremamente favorável. 25 Complexos – Constituição e geometria O número de coordenação 5 São menos comuns que os complexos tetra e hexacoordenados e, normalmente, adotam dois tipos básicos de geometria: bipirâmide trigonal ou pirâmide de base quadrada. Distorções nestas geometrias são comuns para que haja minimização de energia. Em linhas gerais, compostos com arranjo de bipirâmide trigonal (menor repulsão) são mais estáveis que complexos quadrado planares. 26 Complexos – Constituição e geometria O número de coordenação 5 A geometria de pirâmide de base quadrada é de extrema relevância biológica. Ligantes porfirínicos podem alojar o íon metálico e a quinta posição pode ser ocupada por um histidina (aminoácido). 27 Complexos – Constituição e geometria O número de coordenação 6 É o número de coordenação mais comum para os complexos metálicos do bloco “d” podendo ainda ser encontrado em compostos dos blocos “s”, “p” e “f”. Majoritariamente, os compostos hexacoordenados são octaédricos. 28 Complexos – Constituição e geometria O número de coordenação 6 As geometrias de prisma e antiprisma trigonal são raras, mas podem ser encontradas em compostos com centros metálicos de raio atômico significativo (séries 4 e 5d). [ReL6]3+ 29 Complexos – Constituição e geometria O número de coordenação 7 Complexos com número de coordenação 7 são encontrados para alguns metais da série 3d porém são bastante comuns para metais das séries 4 e 5d, onde os átomos são maiores podendo acomodar mais que 6 ligantes. Acima temos: bipirâmide pentagonal (esquerda), octaédrica monoencapuzada (centro) e prismatrigonal monoencapuzada (esquerda). 30 Complexos – Constituição e geometria O número de coordenação 7 [Ta(OH2)(L)]3+ [W(CO)4Br3]- [NbF7]- As geometrias encapuzadas são mais comuns, porém a de menor energia (menor repulsão) é a bipirâmide pentagonal. Estas estruturas são altamente sensíveis a temperatura e podem se interconverter dinamicamente. 31 Complexos – Constituição e geometria O número de coordenação 8 Podem ocorrer quando não há rigidez estereoquímica e assim, podem assumir a geometria antiprismática quadrada (esquerda) ou dodecaédrica (centro). A geometria cúbica (direita) é rara. Exemplos: [Zr(ox)4]4- [Mo(CN)8]3- [CsCl] 32 Complexos – Constituição e geometria O número de coordenação 9 Este número de coordenação é particularmente importante para os elementos do bloco “ f ” pois seus raios significativamente grandes permitem a acomodação de vários ligantes. A geometria é dita prismatrigonal triencapuzada. [ReH9]2- Complexo de Térbio (Tb) 33 Complexos – Constituição e geometria Números de coordenação 10 e 12 Estes números de coordenação podem ser encontrados tipicamente em complexos do bloco “ f ” quando ligantes sem impedimento estérico significativo estão presentes. Metais dos blocos s, p e d são muito raros com esta geometria que recebe o nome de poliédrica. Exemplos: [Ce(NO3)6]2- [Th(ox)4(OH2)2]434