63 HEPATITE B e GESTAÇÃO: PERCEPÇÃO, PREVENÇÃO e TRATAMENTO Diane Kelly Lacerda Mauro Afonso da Silva Daiane Knecht Damiane Santos Cerqueira Jeovania Oliveira Lazia Fernandes Vasconcelos Lusia Brasilina de Miranda RESUMO A Hepatite B é causada por um vírus, que pode provocar uma inflamação no fígado onde existe uma possibilidade de ser transmitido para o bebê durante o parto. Podendo também ocorrer de um parto prematuro caso a mulher venha a desenvolver uma infecção aguda de hepatite B na gestação ou ainda se ela for hospedeira do vírus. A hepatite B constitui grave problema de saúde pública. Estima-se que 350 milhões de pessoas, ou seja, 5% da população mundial sejam portadores dessa virose. Uma conseqüência da hepatite na gravidez é a prematuridade e baixo peso independente da infecção do bebê. A história e resultados de exames sorológicos da gestante são de importância para a investigação da doença no recém-nascido que é assintomático na maioria dos casos. Percebe-se que a detecção precoce na gravidez, os cuidados no parto, as medidas de profilaxia adotadas bem como a importância do acompanhamento contínuo de um médico durante a gestação, possibilitando diagnostico precoce e a realização de uma série de procedimentos para que a transmissão da mãe para o filho não ocorra. No presente artigo é feita uma revisão sucinta da hepatite B e gestação, cujo objetivo é alertar para a prevenção, as vias de transmissão, os sintomas e os métodos de diagnósticos da hepatite B (HVB) na gestação, bem como as possíveis complicações que eventualmente acontecem no perinatal, durante o parto e pós-parto, assim como sua epidemiologia e das estratégias preferenciais para a prevenção dessa doença. PALAVRAS-CHAVES: Hepatite B; Gravidez; Fatores de risco; Epidemiologia. ABSTRACT Hepatitis B is caused by a virus that can cause an inflammation of the liver where there is a possibility of being transmitted to the baby during delivery. It can also occur from a premature birth if the woman will develop an acute infection of hepatitis B during pregnancy or if she is host of the virus. Hepatitis B is a serious public health problem. It is estimated that 350 million people, or 5% of world population are infected by this virus. One consequence of hepatitis in pregnancy is premature birth and low birth weight independent of infection to the baby. The history and results of serological tests of pregnant women are of importance for the investigation of disease in the newborn is asymptomatic in most cases. The objective of this work is to alert for the prevention, transmission routes that may present risks as well as symptoms and diagnostic methods of hepatitis B virus (HBV) during pregnancy. It is felt that early detection of pregnancy, care during labor, prophylactic measures adopted and the importance of continuous monitoring of a doctor during pregnancy, enabling early diagnosis and the realization of a series of procedures for the transmission from mother for the child does not occur. In this paper a brief review of hepatitis B, pregnancy warning of possible complications that may occur in the perinatal, childbirth and postpartum, as well as its epidemiology and the preferred strategies for the prevention of this disease. KEYWORDS: Hepatitis B, pregnancy, risk factors, epidemiology. 1 INTRODUÇÃO Diversos tipos de agressão ao fígado podem lesionar as células hepáticas. Entre essas agressões está a Hepatite, que é a inflamação do fígado e dos hepatócitos, sendo responsáveis pelas manifestações clinicas e laboratoriais. No Brasil e em muitos países ocidentais, as hepatites virais representam um grande problema de saúde pública. A transmissão do vírus B se faz através de solução de continuidade (pele e mucosas); relações sexuais; exposição percutânea (parenteral) a agulhas ou outros instrumentos contaminados; transfusão de sangue e hemoderivados; uso de drogas intravenosas; procedimentos odonto-médico-cirúrgicos, quando não respeitadas às regras de biossegurança; transmissão vertical e contatos domiciliares. On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X A descoberta de hepatite durante a gravidez pode interferir o seu tratamento, deve verificar-se ocorreu à cura espontânea ou se a doença não evoluiu para o estágio crônico. Os riscos para o feto são, em geral, limitados, pois a maioria dos vírus da hepatite não ultrapassa a barreira placentária, visto que o risco para o bebê acontece durante o parto, então os devidos cuidados devem ser tomados nessa hora. A transmissão da hepatite B durante o parto e plenamente evitável, desde que a mãe siga orientações específicas, é essencial que o exame de hepatite seja pedido a todas as gestantes no pré-natal e em casos de confirmação da presença do vírus, a gestante deve ser acompanhada de perto por um hepatologista. Quando a mãe é portadora do vírus da hepatite B, a criança é vacinada ao nascer, podendo depois ser alimentada com leite materno. Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) nº.6 p. 63 - 69 64 Para evitar a contaminação, é importante que o exame de hepatite seja pedido a todas as gestantes. No pré-natal gestantes portadoras do vírus da hepatite B devem ser seguidas em ambulatório de pré-natal de alto risco, sendo submetidas a dosagens de enzimas hepáticas preferencialmente a cada trimestre. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem no mundo mais de 350 milhões de portadores crônicos do vírus da hepatite B(VHB) e ocorrem mais de 1 milhão de mortes Por ano causadas pela progressão da doença para cirrose e carcinoma hepatocelular.No Brasil, o Ministério de Saúde estima que pelo menos 15% da população já entraram em contato com o vírus da hepatite B e que 1% da população apresenta doença crônica relacionada a este vírus. 1.1 Manifestações obstétricas Clínicas, epidemiológicas e A hepatite B é uma doença infecciosa, causada pelo vírus hepatotrópico, DNA, pertencente à família Hepadnavíridae que tem predileção por infectar os hepatócitos, ou seja, as células do fígado. Essas células podem ser agredidas pelo VHB diretamente, ou pelas células do sistema de defesa que, empenhadas em combater a infecção, acabam causando um processo inflamatório crônico. A infecção pelo vírus B atinge cerca de dois bilhões de pessoas em todo o mundo pelo reconhecimento de marcadores sorológicos, correspondendo a cerca de 350 milhões de portadores, dois terços delas em países orientais. Tanto na America Latina como na Europa existem focos regionais com altas prevalências. No Brasil, isto ocorre especificamente na região Amazônica, mas também em áreas do Espírito Santo e no Sudeste de Santa Catarina. Existem na hepatite pelo vírus B oito tipos de genótipos, de A a H, considerada a divergência entre grupos igual ou maior que 8% na seqüência nucleotídica completa. No Brasil, os genótipos encontrados foram A, B, C, D e F na freqüência de 49,5%, 2,9%, 13,6%, 24,3% e 9,7% respectivamente. Alguns estudos sugerem que o genótipo possa estar associado com a progressão da forma aguda para a forma crônica. Os diferentes genótipos do vírus da hepatite B têm sido relacionados com maior ou menor resposta da hepatite crônica ao tratamento com uso de interferon convencional em diversos estudos internacionais. (Sociedade Brasileira de Hepatologia, Sociedade Brasileira de Infectologia e Sociedade Brasileira de Clínica Médica). O primeiro vírus identificado foi o da hepatite B, seguido pelo vírus da hepatite A. No final dos anos 80, foi identificado e classificado o vírus da hepatite C(VHC), o vírus da hepatite D(VHD), posteriormente, o vírus da hepatite E (VHE) e G(VHG) e mais recentemente, o vírus TT. O vírus da hepatite B está classificado na família HepaDNAm. Devido à sua alta especificidade, o VHB infecta o homem, que constitui o reservatório natural. O risco de desenvolver doença aguda ictérica On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X aumenta com a idade do paciente, inversamente à possibilidade de cronificação. A especificidade do vírus baseia-se em duas propriedades: há receptores vírus específicos que estão localizados na membrana do hepatócito que facilitam a entrada do vírus na célula e fatores de transcrição que são encontrados somente nos hepatócitos, o que reforça a síntese do RNA viral, após a entrada do vírus na célula. Estudos sugerem que o VHB é diretamente citopático e que a lesão hepática se origina da resposta imunológica do hospedeiro aos hepatócitos infectados pelo vírus. Quando os recém-nascidos entram em contato com o vírus B há 90% de chance de se tornarem cronicamente infectados; quando a infecção ocorre aos cinco anos, a possibilidade cai para 30-50% sendo a taxa reduzida para 5-10% se a infecção-ocorre em adultos. A infecção pelo vírus B é considerada alta onde a prevalência do AgHBs+ é superior a 7% ou a população evidencia infecção prévia (Anti-HBc IgG+) em taxa superior a 60%.São considerados de endemicidade intermediária aqueles locais onde a prevalência de infecção se situa entre 20 e 60%(AntiHBc IgG+) e o AgHBs + entre 2 e 7%.As áreas com AgHBs+ <2.0% são definidas como de baixa prevalência, sendo pouco freqüente, nessa circunstancia, a infecção neonatal. A infecção pelo vírus B é considerada alta, na qual a prevalência do antígeno de superfície (HBsAg) na população é superior a 7% ou evidencia-se infecção prévia(anti-HBc positivos) em taxa superior a 60%, destacando-se Sudeste Asiático, China, Filipinas, África, Bacia Amazônica e Oriente Médio.São considerados de endemicidade intermediaria aqueles locais onde a prevalência de infecção se situa entre 20 e 60%(anti-HBc positivos) e o HBsAg entre 2 e 7%.As áreas com positividade para HBsAg menor que 2%, abrangendo America do Norte, Europa Ocidental, Austrália e Sul da America latina, são definidas como de baixa prevalência, sendo menos freqüente, nessa circunstancia, a infecção neonatal. A infecção pelo vírus da hepatite B(VHB) é a principal causa de doença hepática crônica. Até o momento não existe nenhum tratamento eficaz para a doença aguda que, apesar de raramente levar ao óbito (0,05%), pode cronificar, mesmo nos indivíduos que desenvolvem doença anictérica. A infecção causada pelos vírus das hepatites lesam o fígado acarretando o aparecimento clássico de sintomas ictéricos e a liberação de enzimas hepáticas. Os vírus são transmitidos facilmente, uma vez que os indivíduos infectados podem tornar-se transmissores mesmo antes de desenvolverem a sintomatologia. A infecção aguda pelo VHB pode ter uma apresentação variável desde uma hepatite subclínica, a uma hepatite anictérica, hepatite ictérica e hepatite fulminante. Na fase aguda geralmente apresentam sinais e sintomas clínicos inespecíficos, tais como síndrome gripal, astenia, anorexia, náuseas, vômitos, mialgia, artralgias e dor abdominal. Por outro lado, a fase crônica pode ser traduzida por um estado de portador assintomático, hepatite crônica, cirrose ou Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) nº.6 p. 63 - 69 65 carcinoma hepatocelular. Até mesmo os sinais de doença hepática crônica, incluindo eritema palmar, esplenomegalia e telangiectasias aracneiformes, também são comuns durante o estado de hiperestrogenia fisiológica da própria gravidez. Por conta disso, muitas gestantes com VHB assintomáticas são identificadas de forma indireta, a partir de um achado de aminotransferases elevadas. Estas, por sua vez, nem sempre estarão alteradas, principalmente nos casos de mães portadoras crônicas assintomáticas, que são a maioria das grávidas portadores do VHB (Lee, 1992 APUD Ernesto Antônio Figueiró-Filho). O VHB pode causar doença hepática aguda e crônica. Após um período de incubação de cerca de 45 a 180 dias, os indivíduos infectados desenvolvem quadro de hepatite aguda, na maioria das vezes subclínica e anictérica. Apenas 20% evoluem com icterícia e em cerca de 0,2% dos pacientes , a doença assume caráter fulminante com alta letalidade. Do ponto de vista clinico, a associação de hepatite viral aguda e gravidez são pouco freqüentes, porém esta infecção é a causa mais comum de icterícia na gestação. Classicamente, admite-se que a infecção aguda pelo VHB evolui para a cura em 90% a 95% dos casos, e para o estado de portador crônico nos restantes 5% a 10%. Metades desses portadores não apresentam doença hepática (portadores sãos), mas a outra metade mostra sinais de atividade inflamatória no fígado, de variada intensidade, por muitos anos, podendo desenvolver cirrose hepática e/ou hepatocarcinoma nas fases mais tardias da enfermidade. (Di Marco V, APUD Marcelo Simão Ferreira). Nos recém-nascido de mães portadoras do VHB, a cronicidade da infecção é a regra e cerca de 100% das crianças persistem com marcadores sorológicos de infecção ativa pelo VHB, durantes varias décadas da vida. Os principais mecanismos envolvidos na transmissão do HBV estão relacionados á exposição percutâneas ao sangue e seus derivados, transmissão Peri-natal (vertical) e transmissão sexual. (Hyams KC. APUD Malgarino Roncato). Outros mecanismos de transmissão seriam a transmissão intrafamiliar, que ainda não esta bem definida e em ambiente fechado onde ocorram respingos, nas paredes, de sangue contaminado pelo VHB, como exemplo em unidades de hemodiálise. (Hadler SC.Hepatitis B APUD Malgarino Roncato). O sangue e os outros líquidos orgânicos de uma pessoa portadora do VHB já podem ser infectantes duas a três semanas antes de aparecerem os primeiros sinais da doença, e se mantêm assim durante a fase aguda. Atenção especial deve ser dada aos portadores crônicos que podem permanecer infectantes por toda a vida. Em geral, quando a hepatite B é adquirida no período perinatal, há enorme possibilidade de cronificação, decorrente da tolerância imunológica própria dessa fase da vida. Casos de hepatite fulminante,no entanto, foram descritos em gestantes, quando ao mesmo tempo há passagem de Anti-HBe da mãe para os filhos. Há, nesses casos, uma resposta imunológica exacerbada e, quando ocorre o desaparecimento dos anticorpos maternos, as células On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X citotóxicas, sensibilizadas ao AgHBC e ao AgHBe, poderão destruir, de maneira fulminante, os hepatócitos infectados. A descoberta de hepatite durante a gravidez implica, tal como nos restantes casos, o seu tratamento. Deve verificar-se se ocorreu à cura espontânea e se a doença não evoluiu para o estagio crônico. Os riscos para o feto são em geral, limitados, pois a maioria dos vírus da hepatite não atravessa a barreira placentária, enão existem riscos de malformações nem de parto prematuro. (Roche Hepatites). As infecções transmitidas de mãe para filho durante a gestação trabalho de parto, nascimento, em alguns casos pelo leite materno são responsáveis pelo aumento da morbimortalidade do binômio mãe-filho, configurandose como um problema de saúde publica. A palavra prevenção significa o ato ou efeito de prevenir, precaução, cautela, disposição previa. A palavra chave nos serviços de saúde publica nestas duas ultimas décadas tem sido, sem duvida, prevenção, e a mulher grávida é, neste contexto, um sujeito fundamental no processo, pois o pré e pós-natal são os momentos mais propícios para desencadear ações preventivas. A prevalência de hepatite B em gestantes varia de acordo com a endemicidade da infecção na região geográfica e população estudada. Particularmente no Brasil, há poucos estudos de rastreamento de hepatite B em gestantes, já que os marcadores sorológicos para hepatite B não fazem parte dos exames de rotina do pré-natal em serviços públicos. (Luiz Cláudio Arraes et al). Merece importante destaque a transmissão vertical que, em termos mundiais, representa a principal via de disseminação do VHB nas regiões de altas prevalências. Além disso, os neonatos, quando infectados, têm alto risco de desenvolver formas crônicas (90% dos casos), devido à imaturidade do seu sistema imunológico. A transmissão vertical ocorre predominantemente durante o parto, por meio de contato com sangue, liquido amniótico ou secreções maternas, sendo rara a transmissão via transplacentária, leite materno ou após o nascimento. Os riscos de transmissão vertical aumentam quando se tem alta carga viral materna, altos títulos de marcadores como o antígeno de superfície (HBsAg) e a presença do antígeno “e” (HBe Ag), marcador de replicação viral. Além disso, o risco de infecção do concepto após uma hepatite B aguda, autolimitada, ocorrida na gravidez, depende do período gestacional em que a infecção ocorreu. É maior o risco se a mãe se infectar no terceiro trimestre. Neste caso, 80 a 90% dos neonatos serão HBsAg positivos, em comparação com 10% de positivos se ocorrer no primeiro trimestre.Esta cronificação precoce leva a risco de aproximadamente 25% de evolução para cirrose ou hepatocarcinoma. É importante ressaltar que os recém-nascidos que adquirem hepatite B não respondem tão bem quanto os adultos, devido à imaturidade imunológica, e 90% deles evoluem para o estado de portadores crônicos, assim se tornando capazes de infectar outras pessoas. As manifestações clínicas e o prognostico da infecção pelo VHB dependem da idade de aquisição da infecção, do nível de replicação do vírus e do estado Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) nº.6 p. 63 - 69 66 imune do hospedeiro. A infecção perinatal ou na infância é geralmente assintomática, mas tem um alto risco de cronicidade. Assim, 30% das crianças infectadas com idades entre 1 e 5 anos e cerca de 90% das crianças com infecção perinatal desenvolvem infecção crônica.Por outro lado, a infecção adquirida na vida adulta está geralmente associada com hepatites sintomática, porém com baixo risco de cronicidade(menos de 5% dos adultos imunocompetentes) (Lee,1997 APUD Ernesto Antônio Figueiró –Filho). Todas as gestantes devem ser avaliadas no exame pré-natal (3º trimestre) em relação aos marcadores do vírus B. Em 407 gestantes avaliadas nos anos 1998-1999, no Hospital de Porto Alegre, a prevalência do AgHBs foi baixa, de 0,73%(dados não publicados). A vigilância da infecção perinatal deve incluir, além da identificação das mães infectadas com o VHB, os testes pós-vacinação dos lactentes nascidos de mães com AgHBs positivo. Estes testes, realizados nos lactentes após a vacina contra hepatite B, têm também a finalidade de identificar aqueles nãorespondedores e que requerem re-vacinação. Ha muitos anos se questiona se o aleitamento materno tem um papel importante na transmissão da hepatite B. Marcadores virais como o AgHBs, e mesmo partículas de DNA-VHB, já foram isolados em amostras de leite materno e de colostro.Por outro lado ,a freqüência reduzida da identificação do agente viral nestas circunstancias tem um significado relativo.Ha situações que estão relacionadas à amamentação, como as fissuras nos mamilos, sangramento e exsudato de lesões nas mamas que podem facilmente expor o recém nascido do VHB.(Cristina Targa Ferreira et al). O aleitamento materno tem sido cogitado como forma de transmissão do VHB, contudo, estudos recentes têm demonstrado não haver riscos significativos de transmissão através do aleitamento, sobretudo, se realizadas as profilaxias ativa e passiva. A Academia Americana de Pediatria também não contra-indica a amamentação de crianças cujas mães são portadoras do VHB. Apesar de não comprovada, existe a possibilidade teórica da transmissão do VHB pelo leite materno. Como em qualquer situação, recomenda-se pesar os riscos e benefícios da contraindicação ao aleitamento materno. (Daleth Rodrigues et al). 1.2 Medidas de Prevenção e Diagnóstico As medidas de prevenção da transmissão vertical no período perinatal são altamente eficazes e adquirem extrema importância, sobretudo, porque não existe tratamento eficaz para a hepatite B aguda ou crônica, e os índices de cronicidade são tão maiores quanto mais cedo é adquirida a infecção. Assim, dentre os infectados, aproximadamente 90% dos recém-natos, 30% das crianças abaixo de 5 anos e 5% dos infectados acima dessa idade, evoluirão para cronicidade.(Edmunds et al.,1993). Gestantes portadoras do vírus da hepatite B devem ser seguidas em ambulatório de pré-natal de alto On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X risco, sendo submetidas a dosagens de enzimas hepáticas preferencialmente a cada trimestre. A realização da biópsia hepática e o tratamento com antivirais são contra indicados, e recomenda-se a realização da profilaxia da transmissão vertical no recém-nato até 12 h pós-parto, administrando a vacina e a IGHAHB. Tais ações contribuem para a redução da morbimortalidade em adultos jovens infectados devido à exposição intra-uterina ao VHB. As atuais medidas de prevenção da transmissão vertical do VHB envolvem estratégias de imunização ativa e passiva, sendo a utilização desses métodos dependente, sobretudo, do status sorológico materno. Entretanto, uma triagem sorológica materna universal parece ser custo-eficaz apenas quando o estado de portador na comunidade exceda a, 06%. Recém-nascidos de mães portadoras do AgHBs geralmente adquirem a infecção no parto, especialmente quando a mãe é portadora também do AgHBe; as crianças que escapam da infecção Peri natal, mas convivem com portadores crônicos, também são considerados de alto risco para aquisição do VHB, embora as vias de transmissão freqüentemente não sejam idênticas. O diagnostico de qualquer das formas clinicas de hepatite B realiza-se através de técnicas sorológicas. Tais técnicas revelam-se fundamentais não apenas para o diagnostico, mas também se mostram muito úteis no seguimento da infecção viral, na avaliação do estado clinico do paciente e na monitorização da terapêutica especifica. As importantes descobertas realizadas nas áreas da virologia e da biologia molecular desses vírus, nos últimos anos, foram progressivamente sendo incorporados à rotina diária dos laboratórios de patologia clinica, permitindo aos médicos acesso às modernas técnicas capazes de avaliar a carga viral presente no individuo, o índice de replicação do agente infeccioso e da eficácia de novas medicações utilizadas no tratamento dessa virose. De maneira geral, o diagnostico definitivo da hepatite B durante a gestação, em qualquer uma de suas formas clínicas, realiza-se através de técnicas sorológicas. Tais técnicas revelam-se fundamentais não apenas para o diagnostico, mas também se mostram muito úteis no seguimento da infecção viral, na avaliação do estado clínico da paciente e na monitorização da terapêutica tanto da mãe quanto do concepto. Porém no Brasil, conforme já mencionado, tal investigação ainda não faz parte do pré-natal de rotina nos serviços públicos, embora normatização recente indique o uso associado da imunoglobulina com a vacina em neonatos de mães HBsAg positivas.Nos Estados Unidos da America, o Centro de Controle de Doenças(CDC) e o Colégio Americano de Ginecologistas e Obstetras(ACOG) recomendam o rastreamento sorológico para hepatite B de todas as gestantes, independente dos fatores de risco. Esta medida permite aos recém-nascidos de mães positivas receberem imunoglobulina anti-hepatite B associada à vacina, o que reduz significativamente a transmissão vertical. Se tal procedimento for realizado nas primeiras doze horas de nascimento, reduz-se em mais Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) nº.6 p. 63 - 69 67 de 90% a transmissão vertical. Além disto, o rastreamento pré-natal de gestantes permite realizar imunização ativa (vacina) ou passiva (imunoglobulina) em mulheres suscetíveis, já que a vacina não é contraindicada na gravidez. (Luiz Cláudio Arraes et al). A demora em se fazer o diagnostico, associada à falta de informações corretas sobre a melhor conduta a ser tomada nas diferentes fases da doença, possibilita a continuidade de sua disseminação, particularmente entre jovens e adultos susceptíveis. Além da aquisição por via (contaminação) sanguínea, a atividade sexual sem preservativo vem se caracterizando como uma forma freqüente de disseminação da doença, sendo necessárias campanhas de informação e vacinação em massa. O impacto da hepatite B vem diminuindo com medidas profiláticas e uso da vacina, mas formas crônicas continuam sendo diagnosticadas, com evolução para cirrose e necessidade de transplante do fígado. Além da insuficiência hepática, o surgimento do carcinoma hepatocelular e outra evolução possível, exigindo vigilância constante e cuidados imediatos. A estratégia atual de tratamento, baseado no entendimento da interação vírus-hospedeiro, é de supressão máxima da replicação viral, ou estimulação da resposta de células T, visando ao controle imune da replicação e remissão da lesão histológica do fígado. (Sociedade Brasileira de Hepatologia). A vacinação para prevenir a hepatite B confere proteção efetiva. Antígenos do vírus da hepatite B, correspondendo á camada superficial do vírus em partículas infectantes, são administrados para estimular o sistema imune a produzir anticorpos protetores que impedem a instalação da infecção. O tratamento da infecção pelo VHB pode ser feito com interferon, melhorando o estado do paciente com infecção crônica. O Ministério da Saúde do Brasil recomenda atualmente apenas a administração sistemática e universal da vacina nas primeiras 12 horas após o parto, sendo reservado o uso da IGHAHB apenas para recém-natos com peso e idade ao nascimento, iguais ou inferiores a 2.000g e 34 semanas, respectivamente. (FUNASA, 2001). Apesar da excelente eficácia da administração simultânea da vacina e da IGHAHB para recém natos de mães portadoras do HBsAg, sabe-se que 5 a 10% das crianças tratadas serão infectadas e se tornarão portadoras crônicas do VHB(Mitsuda et al.,1989). A vacina contra hepatite B é extremamente eficaz (90 a 95% de resposta vacinal em adultos imunocompetentes), não apresenta toxicidade e produzem raros e pouco significativos efeitos colaterais. As doses recomendadas variam conforme o fabricante do produto. É feita IM (não pode ser feita nos glúteos) e, seguindo o esquema clássico, com intervalos entre as doses de zero, 1 e 6 meses .Há outros esquemas de vacinação mais rápidos para certas circunstancias. A gravidez e a lactação não são contraindicações para o uso da vacina. A administração da serie completa das doses da vacina é o objetivo de todos os esquemas de imunização, mas níveis protetores de anticorpos se desenvolvem após uma On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X dose da vacina em 30% a 50% de adultos saudáveis, e em 75% após duas doses. Inúmeros estudos, nacionais e internacionais, já mostraram que a vacina contra o VHB apresenta bons resultados também para a proteção de grupos de risco: homossexuais promíscuos, hemodialisados, pacientes imunodeprimidos, usuários de drogas etc. Os esquemas recomendados para prevenção da infecção perinatal diferem de acordo com o estado sorológico da mãe; portanto, recomenda-se a realização de exames sorológicos em todas as gestantes, para identificar as mães AgHBs+.Tais exames devem ser realizados logo no início do pré –natal e, se negativos, devem ser repetidos ao final da gestação quando a gestante pertence a grupos de alto risco para hepatite B. As vacinas contra hepatite B devem ser administradas em 3 ou 4 doses,por via intramuscular(IM), no músculo anterolateral da coxa em recém-nascido (RN) e lactentes, ou no deltóide, em crianças maiores e adultos. A imunização de recémnascidos com a vacina associada á imunoglobulina específica é capaz de prevenir a infecção em 95% dos bebês de mães portadoras do antígeno HBs (AgHBs+).A administração da vacina isolada é menos eficaz, prevenindo 70 a 95% das infecções no período neonatal. Os recém-nascidos prematuros com peso e idade iguais ou inferiores a 2.000g e 34 semanas, respectivamente, devem receber condutas diferenciadas de imunoprofilaxia que englobam um esquema contendo 4 doses da vacina aplicadas ao nascimento, 1º, 2° e 6° meses de vida. Apesar da excelente eficácia da administração simultânea da vacina e da imunoglobulina especifica anti-hepatite B (HBIG) para recém-nascidos de mães portadoras do HBsAg, sabe – se que 5 a 10% das crianças tratadas apresentam antigenemia transitória ou tornam-se portadoras crônicas do VHB. Algumas crianças que não se contaminam no parto podem adquirir posteriormente o VHB através do contato intimo com a mãe ou outros familiares portadores do AgHBs. O aleitamento materno tem sido cogitado como uma das formas de transmissão do VHB, embora esta via de contaminação nunca tenha sido comprovada. Embora não existam estudos relacionados aos efeitos adversos da vacinação no período gestacional, a probabilidade da ocorrência dos mesmos é eremota, uma vez que a vacina não contem partículas infectantes. Assim, a gestação não deve ser considerada como uma contra indicação à imunização em mulheres que estão em situações de alto risco para a aquisição do vírus da hepatite B, visto que os benefícios da vacinação excedem em muito os riscos da mesma. Os diversos antivirais orais estão indicados no tratamento da hepatite B HBeAg negativo por tempo indefinido, podendo ser suspensos somente após soroconversão para anti-HBs.Quando do tratamento com antivirais orais, seu uso deve ser monitorado em termos de função hepática a cada 12 semanas, e quantificação do HBV-DNA a cada 12 ou 24 semanas.A biopsia hepática pode ter papel importante em excluir outras causas de doença hepática quando a Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) nº.6 p. 63 - 69 68 ALT está elevada em casos HBeAg negativos, mas não é considerada obrigatória. Além dos aspectos relacionados à epidemiologia, a heterogeneidade de genótipos do HBV parece estar relacionada com diferenças na evolução clinica das infecções por HBV e na resposta ao tratamento. A diferença de prognostico na resposta ao tratamento devido ao genótipo infectante foi demonstrada no uso de interferon, onde portadores de HBV do genótipo B apresentaram melhor resposta do que pacientes infectados com os genótipos C e D. Dois são os objetivos principais do tratamento: a erradicação da infecção, com conseqüente diminuição da disseminação da doença; e a redução na taxa de progressão da doença, bem como de suas complicações, como a cirrose descompensada e o carcinoma hepatocelular. (S.B de Hepatologia). O atual tratamento para hepatite B tem eficácia limitada, e a utilização de nucleotídeos análogos não se mostrou superior ao interferon alfa, sugerindo os genótipos como responsáveis pelas diferenças nas respostas aos tratamentos. Os tratamentos ainda preconizados para essa infecção são o interferon alfa e a lamivudina, e estes apresentam uma eficácia limitada. O interferon alfa isolado parece ter melhor resposta em genótipos A e B quando comparados com os outros genótipos. Já a combinação de interferon com lamivudina apresentou-se superior em infectados com o genótipo B.O tratamento da hepatite B baseada em genótipos, necessita de mais estudos para sua consistência; porém, através dos presentes dados, adaptarem o tratamento aos genótipos pode promover uma maior e melhor resposta do interferon e dos nucleotídeos análogos. A lamivudina, que provoca rápida inibição da replicação viral, produz resistência, que chega a 67% em quatro anos de tratamento. Assim sendo, a lamivudina não é mais considerada medicação de primeira linha para tratamentos por longo prazo, pois dificulta a utilização posterior de outros análogos nucleosídeos. No tratamento combinado de interferon e lamivudina, também ocorre uma resposta melhor nos portadores do genótipo B em comparação com o genótipo C. As mais recentes drogas aprovadas para uso na hepatite B crônica como: adefovir, dipiroxil e entecavir, apresentam poucos estudos comparando os genótipos com a eficácia terapêutica. (Malgarino Roncato et al). O adefovir apresenta lenta inibição da replicação e baixa indução de resistência viral. O entecavir apresenta rápida inibição da replicação viral, com baixa indução de resistência, exceto nos pacientes lamivudina-resistentes. A telbivudina com rápida e potente inibição da carga viral apresenta desenvolvimento de resistência, em porcentagens menores do que a lamivudina. Os interferons convencional ou peguilado, agindo também sobre o sistema imunológico, devem ser utilizados por tempo limitado, produzindo baixos índices de resposta sustentada. A biopsia hepática encontra a sua indicação na avaliação dos pacientes cronicamente infectados pelo VHB. Nela pode-se graduar a magnitude do processo On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X inflamatório e da fibrose e ainda, através de técnicas de imunohistoquímica, documentar a presença de antígenos S e Core do VHB no tecido. Nenhuma forma de tratamento especifico encontra-se indicada nas formas agudas sintomáticas da hepatite B. Como já referido, cerca de 95% dos pacientes evoluem para a cura espontânea da infecção com aparecimento de anticorpos anti-Hbs, indicativos da resolução do processo. Aproximadamente, 2 a 3 pacientes por 1.000 infectados desenvolvem hepatite fulminante a subfulminante, formas com elevada mortalidade(>80%) e que necessitam ser tratadas em unidades de terapia intensiva, devido às múltiplas complicações decorrentes da insuficiência hepática aguda.A melhor forma de tratamento desses doentes é através do transplante hepático, que tem sido realizado em vários centros do mundo, com grande sucesso.Em algumas casuísticas, a sobrevida após cinco anos de transplantes nesses pacientes encontra-se em torno de 80%. A recorrência da infecção, nesses casos, revela-se improvável, uma vez que a replicação cessa rapidamente, inclusive com desaparecimento do AgHbs e surgimento precoce do anti-Hbs.Durante as ultimas décadas, estudos clínicos e experimentais desenvolvidos em todo mundo expandiram os conhecimentos sobre a hepatite B em seus diferentes aspectos e , hoje, dispõem-se de sofisticadas técnicas para o seu diagnostico e de drogas sabidamente eficazes para o seu tratamento. Em áreas onde a hepatite B é altamente endêmica, o vírus é freqüentemente transmitido durante a infância. Podendo ser transmitido através de mães portadoras para o recém-nascido, durante a gravidez (a chance de transmissão aumenta á medida que se aproxima o termino da gravidez e é muito maior nas portadoras agudas do que nas crônicas) ou no parto. Também por ocorrer transmissão de criança para criança, provavelmente devido a lesões na pele, tais como escabiose, impetigo e estrofulodermia. A vigilância epidemiológica das hepatites no nosso país utiliza o sistema universal e passivo, baseado na notificação compulsória dos casos suspeitos. Embora o sistema de notificação tenha apresentado melhoras, ele ainda é insatisfatório. As principais questões a serem investigadas, e que podem contribuir para o melhor controle das hepatites, estão relacionadas à definição dos diferentes tipos de vírus e das doenças que determinam. Não há dúvida que o diagnostico precoce de infecção pelos VHB ou CHC traz benefícios para os pacientes, permitindo escolher o momento mais adequado para iniciar um eventual tratamento da forma crônica da doença.No entanto, é sabido que a identificação de portadores assintomáticos de doenças infecciosas crônicas é muito difícil e onerosa.Por outro lado,a incorporação de técnicas novas para auxiliar na propedêutica e terapêutica das hepatites virais elevou muito o custo da assistência medica.De acordo com Bensabath e Leão, apesar da desigualdade das notificações, as taxas referentes à mortalidade por hepatites, na região Amazônica, são mais altas do que no resto do Brasil. A partir de 1989, quando foi iniciada a vacinação em massa de crianças Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) nº.6 p. 63 - 69 69 com menos de 10 anos, na Amazônica Ocidental, foi observada uma queda significativa na mortalidade. 2. CONCLUSÃO Estudos vêm demonstrando, sistematicamente, que mulheres grávidas acompanhadas em serviços de atenção pré-natal apresentam menos agravos, e seus filhos melhoras no crescimento intra-uterino e menor índice de mortalidade perínatal e infantil. Os resultados dos estudos evidenciaram que a falta de informação e a dificuldade de se diagnosticar a Hepatite B é muito presente na nossa sociedade, pois ainda requer informações mais abertas sobre VHB. Percebe-se um elevado preço em muitos exames necessários. O diagnostico e os exames de genotipagem bem como o resultado da biopsia são ainda muito demorados, e infelizmente nosso sistema de saúde ainda é muito precário tanto no ponto assistencial como no informativo. No caso de prevenção de hepatite B são de suma importância, a vacinação e conhecimento da imunidade em relação ao vírus. Existe uma necessidade de se fazer intervenções quanto à disseminação desta patologia, vale ressaltar que uma das maneiras de transmissão dessa virose e a forma transversal haja visto a importância que o pré-natal contemple a sorologia para as hepatites, mas infelizmente nem sempre todas as gestantes o fazem. O papel da enfermagem é provocar mudanças, planejar uma intervenção sistematizada junto à gestante e desenvolver programas de treinamento a serem avaliados continuamente. Considera-se preciosíssimo a formação de uma equipe multidisciplinar qualificada e capacitada, na qual o enfermeiro (a) possa exercer sua função de orientação-programação, e que venham a se tornar um ponto de apoio para essas pacientes. Estado de Mato grosso do sul de 2004 a 2007. Rev.de Patologia tropical. Vol.37(4): 341-353. Out.-dez. 2008. RODRIGUES, D.etal. Hepatite B: Imunização Universal. Pediatria. São Paulo. 18(2): 82-90, 1996. BABINSKI, C.E.etal. 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