SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO LATO SENSU ESTENOSE TRAQUEAL PÓS INTUBAÇÃO: APRENDENDO E MUDANDO DE COMPORTAMENTO. Maria Aparecida Soares Corrêa da Costa Cuiabá-MT 2010/2 2 Maria Aparecida Soares Corrêa da Costa ESTENOSE TRAQUEAL PÓS INTUBAÇÃO: APRENDENDO E MUDANDO DE COMPORTAMENTO. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Unidade de Terapia Intensiva. ORIENTADOR: DRº Douglas Ferrari. Cuiabá-MT 2010/2 3 Corrêa da Costa, Maria Aparecida Soares. Estenose pós intubação traqueal: aprendendo e mudando de comportamento. Cuiabá, (Trabalho de Conclusão de Curso de Mestre em Unidade de Terapia Intensiva). Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva, setembro de 2010. RESUMO: A estenose traqueal pós intubação é ainda uma complicação muito presente no meio da terapia intensiva. A função essencial do balonete é permitir que o paciente seja ventilado mecanicamente, sem que haja escape de ar durante a ventilação e na prevenção de aspiração de conteúdo faríngeo, mas seu contato com a mucosa traqueal em pressões acima da pressão arteriolar da traquéia em torno de 32mmhg pode causar danos irreparáveis a mesma. Com o uso de tubos endotraqueais com balonetes de grande volume e baixa pressão tem diminuído significativamente a ocorrência de estenose traqueal após intubação, embora essa continue sendo uma das patologias traqueais mais freqüentemente observada na unidade de clínica cirúrgica. Através de estudos e pesquisas, observa-se que uma das causas desta complicação e a elevada pressão intrabalonete, decorrente da não mensuração e controle desta pressão de forma regular, através de protocolos pré existentes, nas Unidades de Terapia Intensiva e Unidades de emergências. Por ser uma complicação que acontece internamente e mais tardiamente o ser humano ter mais facilidade com imagem visual e imediatista, passa muitas vezes despercebido pelos profissionais envolvidos nos cuidados que ficam mais atentos em resolver os problemas mais perceptíveis como: aspiração de secreções, controles de infusões de medicamentos, parâmetros do ventilador, mudança de decúbito etc. sem pensar no impacto de suas ações. Trabalhando também em unidade de clínica cirúrgica,recebendo o usuário para procedimento cirúrgico, que quase sempre menciona internação em Unidade de terapia Intensiva,com intubação endotraqueal e presenciando o sofrimento destas pessoas,aproveitei esta minha vivência e fui a busca de aumentar os meus conhecimentos sobre o que levava a esta complicação, pois a educação é essencial para mudança de comportamento. Palavras- chave: estenose traqueal, intubação, pressão intrabalonete, mudança de comportamento . 4 Corrêa da Costa, Maria Aparecida Soares.Stenosis after intubation: learning and changing behavior. Cuiabá (work Completion of course of Master of Intensive Care Unit).Brazilian Society of Intensive Care, September 2010. SUMMARY: Tracheal stenosis after intubation is still a complication in the middle of this very intensive therapy. The essential function is to allow the cuff that the patient is mechanically ventilated, with no air leakage during ventilation and prevent aspiration of pharyngeal contents, but its contact with the tracheal mucosa in arteriolar pressures above the pressure of the trachea around 32mmHg can cause irreparable damage to it. With the use of cuffed endotracheal tubes of high volume low pressure has significantly decreased the occurrence of tracheal stenosis after intubation, although this remains one of tracheal diseases most frequently observed in clinical surgical unit. Through studies and researches, it is observed that one of the causes of this complication and the high pressure intrabalonete, due to failure to measure and control this pressure on a regular basis through pre-existing protocols in intensive care units and emergency units. Because it is a complication that occurs internally and later humans have more ease with immediate visual image, often goes unnoticed by those involved in the care they are more intent on solving the problems more visible as aspiration of secretions, control infusions drugs, ventilator settings, changing position, etc.. without thinking about the impact of their actions. Also working as a unit of the surgical unit, receiving the user to surgery, which almost always mentions hospitalization in the Intensive Care Unit, with endotracheal intubation and witnessing the suffering of these people, I enjoyed this experience and was seeking to increase my knowledge about which led to this complication, because education is essential for behavioral change. Keywords: tracheal stenosis, intubation, intrabalonete pressure, change in behavior. 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 6 2 OBJETIVOS ................................................................................................................................................. 8 2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................................................. 8 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................................................. 8 3 CAMINHO METODOLÓGICO ................................................................................................................... 9 3.1 TIPO DE PESQUISA ............................................................................................................................... 9 4 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................................................... 10 4.1 ENTUBAÇÃO ENDOTRAQUEAL .................................................................................................................. 10 4.2 ANATOMIA ................................................................................................................................................. 12 4.2.1 TRAQUÉIA .............................................................................................................................................. 12 4.2.2 ESTENOSE TRAQUEAL ........................................................................................................................... 12 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................................... 19 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 20 6 1. INTRODUÇÃO Trabalhando há vários anos em unidades hospitalares, atendendo na maioria das vezes pacientes em situação de urgência e emergência, situação que requer atendimento imediato devido a gravidade do caso e ao risco de morte a que está exporto o paciente, concentramos todos nossos esforços na imediata assistência, tirando o paciente desta situação. Com o dia a dia de trabalho nestas unidades de emergência, onde o paciente em muitas ocasiões está em estado grave, com intubação endotraqueal que permite a assistência ventilatória mecânica, mantemos nosso cuidado e atenção, dentre tantos cuidados, em controlar e manter os sinais vitais dentro dos parâmetros da normalidade, aspirar secreções, controlar infusões de medicamentos, mudanças de decúbitos, não quero aqui parecer que estes cuidados importância, ou são mais importantes, mas são alguns realizar têm mais cuidados que temos visualização direta e o ser humano tem mais facilidade em concentrar atenção em imagem visual e muitas vezes nos esquecemos ou damos menos importância as complicações como a estenose traqueal, que uma de suas causas está relacionada ao aumento da pressão do “cuff ” da cânula endotraqueal, acredito que talvez por ser uma complicação observada internamente e mais tardiamente e não chamar atenção de imediato. Trabalhando também em unidade de internação em clínica cirúrgica pude observar quantos pacientes recebemos para realizar procedimento cirúrgico devido estenose traqueal e vale aqui ressaltar que na grande maioria são pessoas jovens que tem historia de internação em unidade de terapia intensiva e intubação endotraqueal, muitos vitimas de politraumatismo que estão na fase mais produtiva de sua vida tanto para sua família quanto para a sociedade, que saiu de uma situação de morte e que agora enfrenta novamente outra situação difícil para corrigir um problema que muitas vezes poderia ser evitado por um simples cuidado em medir a pressão do “cuff” pelos profissionais envolvidos no cuidado ao paciente intubado. 7 Presenciando o sofrimento destas pessoas, senti a necessidade de escrever esta experiência, de querer cuidar para ajudar a amenizar este sofrimento, fui a busca de aumentar os meus conhecimentos sobre o que levava a esta complicação, pois a educação é essencial para mudança de comportamento e a realização dos cuidados com a saúde não depende somente de informações e conhecimento, pois a busca do cuidado está relacionada ao “querer cuidar”, que ultrapassa o “saber” cuidar-se. Este é impulsionado pela construção da consciência social do cuidado, através das experiências, do observar, do sentir, do partilhar com os outros sujeitos as situações que envolvem o viver com a doença (COELHO, 2009). Espero que com este estudo, possa contribuir para que haja um maior entendimento por parte dos profissionais que trabalham em unidade de terapia intensiva, unidades de emergências e dos gestores hospitalares, na importância em estar contribuindo para diminuir o numero estatístico desta complicação. 8 2. OBJETIVOS 2.1 OBJETIVOS GERAL Compreender a não verificação da pressão do cuff de forma regular em pacientes intubados como uma das causas da estenose traqueal. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Apresentar a estenose traqueal como um dos problemas decorrente da intubação endotraqueal. Demonstrar aos profissionais que prestam assistência ao paciente intubado sobre a importância de se verificar a pressão do cuff de forma regular como uma das medidas para se evitar a estenose traqueal. 9 3 .CAMINHO METODOLÓGICO 3.1 TIPO DE PESQUISA Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa que, segundo MINAYO (1994, p. 21) “Responde a questões muito particulares, que se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, trabalhando com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.” Neste estudo, optamos pela pesquisa qualitativa por revisão bibliográfica por acreditar que essa modalidade de investigação é a que melhor atende à finalidade orientadora pretendida, a fim de alcançar os objetivos delineados. A pesquisa bibliográfica foi realizada a partir de artigos publicados por autores abalizados no assunto, em sites conceituados de composição do acervo médico tal como Scielo, além da devida consulta a dissertações de mestrado, artigos científicos publicados em revistas especializadas e livros didáticos, no período de 2009. 2004 a 10 4. REVISÃO DA LITERATURA 4.1 Intubação Oro Traqueal Entubação oro traqueal é um procedimento invasivo, muito utilizado em pacientes graves, os quais apresentam insuficiência respiratória, tendo como finalidade a manutenção de oxigenação adequada, proteção das vias aéreas respiratórias evitando obstrução, e mantendo acesso para aspiração de secreções pulmonares. Apesar dos benefícios causados pela intubação oro traqueal, problemas sérios podem ser provocados pelo mal uso desta técnica, como por exemplo contaminação do trato respiratório, por infecção das vias aéreas, pneumonias, pneumotórax, formação de atelectasias, hemorragias, estenose traqueal entre outras. (OLIVEIRA, 1994). MATERIAL Máscaras faciais – são máscaras de formato piramidal, adaptadas à face para conter o nariz e a boca. Possuem uma borda que veda a saída de ar, um corpo e conector para um AMBU ou aparelhos anestésicos, permitindo assim introduzir ar, oxigênio ou gases anestésicos. Apresentam tamanhos variáveis. AMBU – “Airway Maintenance Breathing Unit” é uma bolsa dotada de válvula unidirecional permitindo criar um fluxo contínuo através de sua compressão. 11 Laringoscópio - é um instrumento para a visibilização direta da laringe, sendo dividido em alça ou corpo e lâmina. No corpo está reservado para a colocação de pilhas para a iluminação. A lâmina, normalmente se articula com o corpo em ângulo de 90 graus. Ela divide-se em base que é a região de articulação e da lâmpada, espátula e flange, útil para o afastamento lateral da língua. As lâminas podem ser curvas como nos modelos Mackintosh ou retas no modelo Muller, mais utilizados para crianças. Tubos endotraqueais – são tubos de borracha, silicone ou materiais afins, com diâmetros variados, dotados ou não de balonetes (cuff), que tem como função a proteção da via aérea de aspiração, por exemplo, de vômito ou sangue e também de formar um selo entre o tubo e a mucosa traqueal permitindo ventilação positiva. Os tubos pediátricos não possuem balonete dadas as particularidades da traquéia da criança. 12 Guia – é um instrumento de metal ou plástico resistente, que pode ser moldado facilmente, sendo que uma vez introduzido dentro do tubo endo-traqueal lhe confere formato e resistência adequados para facilitar a entubação. 4.2 Anatomia 4.2.1 Traquéia A traquéia é uma estrutura cilindróide constituída por uma série de anéis cartilagíneos incompletos, em forma de “C”, sobrepostos e ligados entre si pelos ligamentos anulares. A parede posterior, desprovida de cartilagem, constitui a parede membranácea da traquéia, que apresenta musculatura lisa (músculo traqueal). Tal como ocorre com outros órgãos do sistema respiratório, as cartilagens da traquéia proporcionam-lhe rigidez suficiente para impedi-la de entrar em colapso, ao mesmo tempo, unidas por tecido elástico, fica assegurada a mobilidade e flexibilidade desta estrutura. Este conduto se desloca (Antero-posterior) durante a respiração e com os movimentos da laringe (DANGELO; FATTINI, 1998). 4.2.2 Estenose traqueal Estenose traqueal é uma patologia relativamente freqüente que se desenvolve depois de acidentes, coma, procedimentos cirúrgicos, devido 13 a uma entubação (geralmente prolongada). A estenose é uma membrana que cresce exageradamente na área da traquéia lesionada dificultando a inspiração e expiração obstruindo o lúmen traqueal, levando a um quadro de sufocação e muitas vezes, o paciente é obrigado a ser submetido à traqueostomia, desenvolvendo dificuldade de fonação e infecção respiratória de repetição (CHAVANTES, no prelo). Figuras acima: ilustração de uma estenose da traqueia em corte longitudinal e em transversal. MALUCELLI classifica os graus de estenose traqueal conforme quadro abaixo: 14 Figura acima: visão endoscópica da traqueia com estenose circunferencial Grau III. Após conceituarmos intubação orotraqueal, traquéia e estenose traqueal, focalizaremos o nosso estudo em estenose traqueal causada pela pressão excessiva da “cuff” que e o objetivo principal deste estudo. A estenose traqueal é um problema descrito desde 1886 por Colles onde descreveu quatro casos de estenose traqueal como causa de obstrução de via aérea em cinqüenta e sete sobreviventes que tinham sido submetidos á traqueostomia para tratamento de difteria (LEITE, 2008). No decorrer dos anos 60, quando os pacientes graves passaram a ser cuidados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), quase todos os pacientes eram entubados com cânulas oro-traqueais, as estenoses traqueais começaram a se tornar uma injuria freqüentemente observada. Dessa forma percebeu-se que, quanto mais eram criadas Unidades de Terapia Intensiva, cresciam na mesma proporção o número de indivíduos portadores de estenose traqueal (FORTE. 1997). As estenoses traqueais podem ter inúmeras etiologias, mas a mais freqüente está relacionada com a intubação traqueal. A incidência de estenose laríngea e traqueal após intubação varia de 1,5% a 19%. Mesmo balonetes de baixa pressão, quando insuflados com volume excessivo, tem pressões no seu interior elevadas em níveis que podem ser danosos para a traquéia. O autor afirma que a estenose traqueal após intubação pode ocorrer em pacientes sob intubação traqueal com balonetes de baixa pressão, mesmo por curtos períodos, até de poucas horas. Para o autor, a pressão no interior do balonete é o fator mais importante na gênese da lesão traqueal por intubação (OTAVIANO et al., 1982) GOMES (1988) refere que o calibre dos tubos endotraqueais deve ser proporcional ao da traquéia (7,5 a 9,0 milímetros). Divide as complicações da intubação endotraqueal em imediatas e tardias. Dentre as imediatas, destaca a apnéia secundária á inibição respiratória, o broncoespasmo, a quebra de dentes, a laceração em lábios, boca, mucosa da laringe e faringe, a aspiração de sangue ou vômitos durante o processo e a impossibilidade de intubação. Dentre as tardias, estão as lesões de laringe, as lesões irreversíveis das cordas vocais, a infecção, a intubação seletiva por deslizamento do tubo endotraqueal, com conseqüente colapso do pulmão não ventilado, a oclusão da cânula com secreção, a estenose 15 traqueal e a traqueomalácia. OLIVEIRA E BRACCIN (1999) classificam os balonetes em dois tipos: os de volume residual baixo (alta pressão) e os de volume residual alto (baixa pressão). Segundos os autores, os balonetes de volume residual baixo podem gerar uma pressão interna muito alta (180-250mmHg). A maior parte desta é utilizada na distensão de sua borracha, porém uma fração é recebida pela traquéia. À medida que esta pressão se aproxima da pressão capilar arteriolar (32mmHg), aumenta o risco de isquemia na mucosa traqueal. Este tipo de balonete deve ser insuflado com quantidade média de 4 ml de ar, não devendo ultrapassar a 8ml. Os balonetes de volume residual alto são preferíveis porque se adaptam de maneira uniforme à mucosa da traqueia. Para COLLINS (1978) também a quantidade de ar a ser insuflada no cuff de cânula endotraqueal de alto volume residual de baixa pressão não deve ser menor que 4ml de ar e não exceder a 8ml. Segundo BANDENHOST (1987) E STOELTING (1989) o balonete da cânula deve ser insuflado com ar para criar o fechamento contra a mucosa traqueal, possibilitando a ventilação dos pulmões por pressão positiva, e impedindo a aspiração de conteúdos para os pulmões. Ao insuflar o “cuff”, ocorre um aumento da pressão em seu interior e essa pressão deve ser controlada em nível suficiente para manter o fluxo sanguíneo capilar na área de contato com o mesmo. Para Barbosa (2009) a pressão do “cuff” também não deve exceder a pressão arteriolar da traquéia (32mmHg) e que pequenos acréscimos podem dilatar a traquéia e ocasionar inflamações da mucosa, ulcerações dos anéis cartilaginosos, infecção e destruição da parede traqueal, indicando a pressão do cuff entre 20 a 25 mmHg. O balonete permite a estabilidade do tubo, mas não sua fixação. A função essencial do balonete é permitir que o paciente seja ventilado mecanicamente, sem que haja escape de ar durante a ventilação e na prevenção de aspiração de conteúdo faríngeo (STANZANI et al., 2009). O uso de tubos endotraqueais com balonetes de grande volume e baixa pressão foi proposto pela primeira vez por Cooper & Grillo (1969). Seu uso tem diminuído significativamente a ocorrência de estenose traqueal pós intubação, 16 embora essa continue sendo a patologia traqueal cirúrgica mais frequentemente observada. São necessários controles freqüentes e manutenção da pressão do balonete dentro da variação de valores aceitáveis. Pressões maiores que 25 cm de H2O evita com segurança a aspiração do conteúdo orofaríngeo e gastresofágico, considerando-se 20 cm H2O como limite mínimo, abaixo do qual poderia ocorrer broncoaspiração e pressão maior que 30 CMH2O já comprometeria a perfusão da traquéia, não são rotineiras as mensurações destas pressões nas UTIs, possivelmente pelo desconhecimento ou despreocupação dos profissionais de terapia intensiva com esta questão (KWIATKOWSKI, 2008). Sabe-se que alguns pacientes desenvolvem estenose traqueal mesmo permanecendo intubados por curtos períodos. Assim reconhece-se a participação de outros fatores no desenvolvimento das estenoses traqueais, como infecções do trato respiratório,uso de corticóides sistêmicos, instabilidade hemodinâmica, hipoproteinemia hipoxemia, anemia e doenças dos cílios imóveis. A medida da pressão do balonete não é realizada rotineiramente no centro cirúrgico ou nas unidades de terapia intensiva. A estimativa da pressão do balonete, por meio da palpação do balonete de prova, também não detecta pressões elevadas. A importância da monitorização da pressão no interior do balonete vem sendo evidenciada por alguns autores, por ser manobra simples, de baixo custo, realizada com manômetro digital portátil (Martins et al,2004). Com uma simples mensuração da pressão do cuff, poderemos estar contribuindo para diminuir a ocorrência de estenose traqueal, que segundo o autor é uma das complicações consequentes à intubação endotraqueal de ocorrência mais incomum, exigindo cuidados que podem envolver endoscopias múltiplas, dilatações endoscópicas, ressecções endoscópicas, criocirúrgia, resseções a laser, traqueostomia, traqueoplastia, enxerto de cartilagem e ressecções cricotraqueais, com o tratamento estendendo por meses ou anos necessitando ás vezes, até de traqueostomia definitiva (KWIATKOWSKI, 2008) A medida rotineira da pressão endotraqueal do balonete é padrão no cuidado respiratório, e diversos dispositivos estão disponíveis para medir a pressão do balonete de tubos e cânulas endotraqueais (COOPER & GRILLO, 1969). Segundo sua pesquisa STANZANI et al(2009) observou que a técnica 17 recomendada para medir a pressão intrabalonete pela literatura (cufômetro) foi citada por 55% dos pesquisados, porém 61,7% dos profissionais utilizam em sua rotina diária a palpação do balonete externo, técnica extremamente inadequada. Verificou-se ainda que 28,2% dos profissionais não mensuram a pressão intrabalonete rotineiramente. Segundo a função, verificou-se que 100% dos fisioterapeutas conhecem a técnica recomendada pela literatura para mensurar a pressão intrabalonete, porém não a praticam. Constatou-se ainda que 18% dos profissionais afirmam não realizar a mensuração da pressão intrabalonete e 13,3% o fazem apenas no momento da intubação. A pressão no interior do balonete é o fator mais importante na gênese da lesão traqueal pós intubação (STANZANI et al., 2009). Conforme resultado demonstrado sobre a técnica mensuração da pressão intrabalonete, 55% dos profissionais referiram que o uso de manômetro específico, o cufômetro, seria o ideal para a mensuração da pressão do balonete endotraqueal em cmH2O. Este dado corrobora a literatura,justificando a relação custo-benefício, pois o investimento é pequeno se for considerada a significativa redução dos prováveis danos aos pacientes. Neste estudo, porém, 61,7% utilizam em sua rotina diária a palpação do balonete externo, técnica que não demonstra eficiência de acordo com vários autores. Embora estudos recentes não recomendem que se utilize essa técnica para verificar a pressão do cuff na insuflação, por sua confiabilidade, convencionalmente é uma prática na rotina diária de muitos serviços. A falta de acurácia na mensuração da pressão intrabalonete pela palpação do balonete piloto foi comprovada em estudos que revelam pressões altíssimas, acima de 120cm H2O, com uso da técnica de palpação do balonete externo, reforçando a recomendação da monitorização instrumental (STANZANI et al., 2009). Verificamos que 28,2.% de profissionais não mensuram a pressão intrabalonete. Isso pode ser preocupante em razão das importantes repercussões que pressões inadequadas podem gerar em pacientes críticos submetidos a longos períodos de intubação, além de resultar em uma possível queda da qualidade de vida pós-alta hospitalar19, em decorrência de lesões das cordas vocais, de estenose traqueal e traqueomalácia (STANZANI et al., 2009). A verificação da pressão do balonete com manômetro apropriado em cm H2O ou por meio de uma válvula de três vias acoplada a uma seringa e a um manômetro 18 em mmHg é técnica eficiente, simples, rápida e de baixo custo, e mandatória no manejo de pacientes críticos submetidos à intubação endotraqueal e traqueostomias (STANZANI et al., 2009). Em seu estudo prospectivo Granja e col.13 avaliaram 95 pacientes submetidos à intubação endotraqueal por mais de 8 horas e à traqueostomia percutânea, concluiu que o controle da pressão do balonete três vezes por dia parece contribuir para prevenir lesões isquêmicas e desenvolvimento de estenose traqueal. Outros autores, em seus estudos, sugerem que a mensuração seja feita, de forma rotineira, após o procedimento de intubação endotraqueal, e cabe ao fisioterapeuta, cada vez mais integrado à equipe de atendimento a pacientes críticos, manter uma ventilação adequada ao paciente, verificar a pressão do balonete como meio profilático de evitar inúmeras lesões, mas como ainda não dispomos deste profissional em todos os serviços de saúde e de acordo com o II Consenso de Ventilação Mecânica, cabe a enfermagem verificar a pressão do balonete, no mínimo, a cada 12 horas (ARANHA, 2003). 19 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos estudos promovidos neste trabalho, podem-se tecer conclusões acerca dos procedimentos, a seguir relatados. Primeiramente, em termos de adequação de equipamentos, podemos verificar que o meio mais seguro e adequado para verificar a pressão intrabalonete é o cufômetro, e que seu uso justificaria a relação custo-benefício, pois levaria a significativa redução dos prováveis danos aos pacientes. Quanto à prática , é importante ressaltar que grande número de fisioterapeutas conhecem a técnica recomendada pela literatura para mensurar a pressão intrabalonete, porém não a praticam e que grande número de outros profissionais realizam a mensuração da pressão intrabalonete somente no momento da intubação e que outra grande porcentagem não realizam a mensuração. A pressão do “cuff” deve ser adequada e não deve exceder a pressão arteriolar da traquéia que é de32mmHg devendo se manter entre 20 a 25 mmHg. Podemos verificar, a partir da prática e também da literatura, que não são rotineiras as mensurações destas pressões nas Unidades de Terapia Intensiva, possivelmente pelo desconhecimento ou despreocupação dos profissionais de terapia intensiva com esta questão. Nesse sentido, a literatura médica nos informa que a mensuração seja feita, de forma rotineira, após o procedimento de intubação endotraqueal, e cabe ao fisioterapeuta, e também de acordo com o II Consenso de Ventilação Mecânica, cabe a enfermagem verificar a pressão do balonete, no mínimo, a cada 12 horas. Por fim, é relevante acrescentar que, com uma mudança nas nossas ações que nos levam a uma simples mensuração da pressão intrabalonete, poderíamos contribuir sobremaneira para diminuir a ocorrência da estenose traqueal pós intubação e com isso evitar o sofrimento destes pacientes que após sair de uma situação de morte, passa novamente por outra situação difícil e por que não dizer outras situações difíceis, pois a estenose traqueal exige muitos procedimentos e até traqueostomia definitiva. 20 6 .REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANHA, A. G. A.; FORTE, V.; PERFEITO, J.A.J.; LEÃO, A.E.V.; IMAEDA, C.J.; JULIANO, Y. Estudo das pressões o interior dos balonetes de tubos traqueais. Revista Bras. de Anestesiologia. 2003; 53(6):728-36 In STANZANI, Vera Lúcia Taveira de Souza; RIBEIRO, Raquel; SILVA, Elaine Silvino; PINTO, Walquiria Macedo. Conhecimento teórico-prático da equipe assistente sobre manejo e pressão do balonete endotraqueal. ConScientiae Saúde, 2009;8(1):25-34, p.31. BADENHORST, C.H. 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