Da descoberta de novos fármacos ao seguimento

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Fórum
Janeiro/Fevereiro 2013
Eliana Assumpção
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Da descoberta de novos
fármacos ao seguimento
farmacoterapêutico
Jean Leandro dos Santos
A
ssistência farmacêutica pode ser entendida
como um conjunto de
ações que vão desde a etapa de
descoberta de um novo fármaco
até a etapa de gestão e uso do medicamento pelo paciente. É um
processo extremamente complexo com uma série de obstáculos
a ser superados.
Com a Politica Nacional de
Medicamentos, há muitas melhorias na qualidade de produção dos medicamentos, pois não
distante podíamos nos deparar
com pílulas de farinha”, contrastes radiológicos
que intoxicavam, e outros diversos desvios de produção e qualidade.
Outro ponto é o acesso a esses medicamentos.
Muitos esforços têm sido realizados para ampliar
o acesso aos medicamentos pela população. A preocupação dos gestores de saúde geralmente está
centrada nas etapas de seleção, aquisição, armazenamento e distribuição.
Entretanto, o acesso aos medicamentos não é
garantia de sucesso terapêutico. Um exemplo disso
é a terapia contra tuberculose, doença de notificação compulsória cujos medicamentos são distribuídos gratuitamente aos usuários. Verificou-se que
a dispensação, mesmo gratuita, não eliminava a
doença, porque os pacientes optavam por não utilizar o medicamento quando observavam os primeiros sinais de melhora.
Assim como a tuberculose, muitas doenças de caráter crônico têm sua terapia medicamentosa negli-
genciada pelo usuário. Os motivos
dessa negligência são inúmeros e
estão relacionados a fatores individuais e socioeconômicos, indo desde a falta de medicamento no posto de saúde até a opção por não se
tratar. Nesse contexto, é completamente errôneo imaginar que a simples dispensação do medicamento
é garantia de controle da doença.
Historicamente, durante o século XX, a profissão farmacêutica atravessou diversas fases: de
início, tínhamos o trabalho do
boticário que preparava individualmente o medicamento e dispensava ao paciente de acordo com a característica de cada um;
durante a Revolução Industrial Farmacêutica, os
medicamentos, agora produzidos em larga escala,
passaram a ser adquiridos em doses padronizadas,
não respeitando a individualidade do paciente.
Nesse ponto, é importante destacar que a dose
diz respeito à necessidade do paciente e não tem
relação com a manufatura do medicamento. Em
outras palavras, quem tem dose é o usuário e não o
medicamento. Nesse momento, muitos farmacêuticos começaram a questionar as atividades que
desenvolviam, pois não estavam satisfeitos em ser
meros dispensadores de medicamentos. Sentiam a
necessidade de maior aproximação com o paciente. Surgiram daí, nos Estados Unidos, discussões
sobre a prática farmacêutica, culminando na criação da Farmácia Clínica por volta de 1960.
A preocupação da prática profissional se estendeu ao usuário e não apenas ao medicamento. Essas
Prática profissional
hoje considera
fundamental
relação do
paciente com
medicamento
discussões levaram à criação da Atenção Farmacêutica, que, segundo o Consenso Brasileiro, pode ser
definida como “um modelo de prática farmacêutica,
desenvolvida no contexto da Assistência Farmacêutica. Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e corresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção e
recuperação da saúde, de forma integrada à equipe
de saúde. É a interação direta do farmacêutico com
o usuário, visando uma farmacoterapia racional e
a obtenção de resultados definidos e mensuráveis,
voltados para a melhoria da qualidade de vida.
Esta interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades biopsicossociais, sob a ótica da integralidade das ações de saúde”.
Nessa nova fase de atuação profissional somos responsáveis pelo medicamento que dispensamos. Devemos traçar estratégias que visem otimizar a farmacoterapia do paciente e ajustá-la às necessidades deste.
O modo adequado de utilização do medicamento é o
principal responsável pelo sucesso terapêutico.
Muito se questiona sobre a necessidade de alguns
fármacos em algumas classes terapêuticas, como
por exemplo os anti-inflamatórios. Será que precisamos de um novo anti-inflamatório? Ou será que
a melhor utilização dos existentes seria suficiente
para o controle do processo inflamatório? Indubitavelmente, essa preocupação deve ser levada em
consideração no planejamento de um novo fármaco
ou medicamento.
Atualmente, vivemos um novo momento de prática profissional cujo papel principal é do paciente e de
sua relação com o medicamento. Fazendo uma analogia com a indústria automobilística, poderíamos
afirmar que hoje já sabemos construir excelentes
carros, ou seja, podemos desenhar e produzir medicamentos com “sistemas inteligentes”. Entretanto,
não temos ainda a prática de pilotar esse carro, ou
seja, não sabemos como melhorar a utilização desses
medicamentos pelos pacientes. É mesmo passada a
hora de revermos nossas práticas profissionais...
Jean Leandro dos Santos é professor do Departamento
de Fármacos e Medicamentos da Faculdade de Ciências
Farmacêuticas da Unesp, Câmpus de Araraquara.
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