Mailson da Nóbrega, sócio da consultoria Tendências Marcelo Suano, diretor do Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais André Scherer, professor da PUCRS e economista da FEE Como o pacote aprovado deve influenciar a economia mundial? “O mundo depende muito do que ocorre na economia americana. Mas acho que há um excesso de otimismo em relação ao pacote. O valor anunciado representa só 4% da economia dos Estados Unidos e nem todo o dinheiro vai ser usado para estimular consumo e obras. O pacote vai ajudar, mas não é isso que vai resolver. O aumento da demanda da economia americana contribui para aquecer a economia como um todo, mas dificilmente os EUA vão deixar de se recuperar antes de meados de 2010.” “Toda economia mundial está atrelada à dos EUA. Por isso, é preciso salvar a economia americana. Eles precisam criar empregos. Eu não defendo a iniciativa pública na economia, mas defendo o público na hora da crise porque é o único com capacidade para mudar a situação. O pacote é gigantesco para a infraestrutura, e isso é espetacular. Ele está reduzindo impostos para os pequenos negócios e para a população pobre, o que é fabuloso. Isso é suficiente para resolver a economia? Não.” “O pacote ainda é muito restrito. Não vai surtir efeito se não resolver a questão financeira. Este é apenas um pacote fiscal. É melhor que nada, mas é claramente insuficiente. Os investimento em infraestrutura, que são boa parte do pacote, terão efeitos práticos em 2010. Vai ser preciso de um ou dois anos para as medidas deslancharem. Em termos mundiais é complicado falar em impactos muito grandes. O retorno do protecionismo não é uma escolha do governo Depois de aprovado, qual o próximo passo dos governos para reverter a tendência de recessão? “É preciso restaurar a confiança no crédito. O governo americano está tomando iniciativas neste sentido, como a criação do “bad bank” (banco que terá a missão de comprar títulos podres) e a estatização de bancos. O mundo não vai se recuperar apenas com o pacote de incentivo à economia, é preciso confiança no sistema financeiro.” “Tem que reduzir juros e dar incentivos à iniciativa privada. Temos que ver quanto cada país tem de caixa e como cada um administra esse dinheiro. O pacote americano dá a largada do processo, mas cada país terá que fazer o seu pacote. Cada país vai precisar de iniciativa pública para incentivar a iniciativa privada.” “Necessitamos de uma coordenação conjunta, o que é complicado porque cada país quer salvar a sua economia. O grande desafio é resolver a questão financeira nos Estados Unidos. Enquanto não solucionar a questão bancária nos EUA, nenhuma solução para a crise é possível. Se não, estaremos falando em um novo pacote em julho.” E se o pacote não for aprovado? “É muito pequena a chance de isso ocorrer. Caso ocorra, a tendência é de um crescimento absurdo da aversão ao risco no sistema financeiro e de contração ainda maior no consumo. Em resumo: os EUA e o mundo entrariam em depressão.” “A possibilidade de não ser aprovado é zero. Eles já aceitaram o montante. Se não for aprovado, daí vamos entrar em um período pré-1939. A população vai se aproximar da extrema direita. Se os EUA quebrarem, todo mundo cai junto.” “Eu não acredito nesta possibilidade. Será aprovado com as modificações do Senado. Em caso de demora, vai aumentar a incerteza e vai atrasar o pacote financeiro, que é o mais importante. Mas não existe a menor possibilidade de não passar.”