História ETAPA HUMANIDADES Questão 1 Questão 2 (...) a ciência do amo consiste no emprego que ele faz dos seus escravos; ele é senhor, não tanto porque possui escravos, mas porque deles se serve. Esta ciência do amo nada tem, aliás, de muito grande ou elevada; ela se reduz a saber mandar o que o escravo deve saber fazer. Também todos a que ela podem se furtar deixam os seus cuidados a um mordomo, e vão-se entregar à Política ou à Filosofia. A atual administração norte-americana realiza uma série de ações no Oriente Médio tendo como objetivo declarado levar a democracia e a liberdade para os povos da região. Seus maiores adversários têm sido os fundamentalistas islâmicos, que acusam os ocidentais de reeditarem as Cruzadas. a) O que foram as Cruzadas? b) O que os fundamentalistas islâmicos pretendem dizer hoje quando afirmam que os ocidentais estão reeditando as Cruzadas? (Aristóteles, Política II.) a) De acordo com o texto, qual a relação que existe entre escravidão e Política na cidade grega? b) Além da escravidão, indique e explique um outro aspecto que diferencie a democracia grega da contemporânea. Resposta a) Segundo o texto, é possível distinguir aquilo que o autor chama "ciência do amo", ou seja, o amo deve "saber mandar o que o escravo deve saber fazer". Entretanto, ainda segundo o texto, se o amo puder delegar esse trabalho aos cuidados de "um mordomo", então o mesmo poderá "entregar-se", ou seja, dedicar-se "à Política ou à Filosofia". Depreende-se do texto que o amo deve dispor de escravos, mas não precisa administrá-los diretamente – pode servir-se de um mordomo – e, assim, poderá dedicar-se "à Política ou à Filosofia", supostamente atividades mais valorizadas do que administrar escravos. b) A democracia grega era o que chamamos de "democracia direta" e o direito de cidadania era bastante restrito: dele estavam excluídos as mulheres, os estrangeiros, os libertos e os escravos e, dessa forma, os poucos cidadãos da pólis administravam e governavam diretamente a cidade. Já a democracia contemporânea estendeu significativamente o direito de cidadania, impossibilitando a prática da democracia direta. Temos assim a chamada "democracia representativa": os cidadãos, segundo um processo previamente estabelecido, escolhem seus representantes mediante eleições e os eleitos exercem o governo em nome dos demais cidadãos. Resposta a) Cruzadas é o nome que se dá a expedições originalmente de caráter religioso e militar, patrocinadas pela Igreja a partir de fins do século XI, com a finalidade de libertar os chamados “Lugares Santos” do Oriente Médio, que estavam sob domínio dos muçulmanos, cuja expansão, aos olhos dos contemporâneos, ameaçava a cristandade. Tais expedições vieram a adquirir um sentido político e econômico e dinamizaram as relações entre o Oriente Médio e o Ocidente europeu. Deve-se observar que, sob este título (Cruzadas), também foram organizadas expedições militares dentro da própria cristandade, como por exemplo, contra os Albigenses, contra Bizâncio (a 4ª Cruzada), ou ainda a luta pela reconquista da península Ibérica. b) Do ponto de vista muçulmano, as Cruzadas expressam, entre outros aspectos, sob um pretexto ideológico, o uso indiscriminado da violência e uma forma de exacerbar a intolerância entre culturas diferentes, impondo valores do Ocidente cristão aos povos islâmicos e transformando conflitos de expansão, que se estendiam já desde o início da Alta Idade Média, em conflitos de religião. Questão 3 A longa crise da economia e da sociedade européias durante os séculos XIV e XV marcou as dificuldades e os limites do modo de produção feudal no último período da Idade Mé- VUNESP história 2 dia. Qual foi o resultado político final das convulsões continentais dessa época? No curso do século XVI, o Estado absolutista emergiu no Ocidente. (Perry Anderson, Linhagens do Estado Absolutista.) a) Identifique duas manifestações da crise do século XIV. b) Aponte duas características do Estado absolutista. Resposta a) As chamadas “crises do século XIV” envolvem, entre outros aspectos, um conjunto de episódios que contribuíram decisivamente para o colapso do mundo feudal no Ocidente europeu. Dentre esses episódios, destacam-se a Peste Negra, a Guerra dos Cem Anos, revoltas populares (especificamente camponesas), heresias e a Grande Fome. Instaura-se de forma generalizada uma crise de autoridade e de valores e a desorganização das atividades econômicas, que enfraqueceram os esteios do mundo feudal e criaram uma oportunidade para a emergência e a consolidação dos Estados Modernos. b) O Estado absolutista caracteriza-se, entre outros aspectos, pela concentração de poderes nas mãos do monarca, pela subordinação da Igreja, da nobreza e do Terceiro Estado ao poder real e, no plano econômico, pela adoção de um conjunto de práticas que vieram a ser conhecidas como mercantilismo, as quais tinham por finalidade alcançar o que se considerava ser “a riqueza e o poder do Estado”. Adota-se, entre outros aspectos, uma política econômica protecionista, práticas monopolistas, a unificação dos sistemas monetário, tributário e de pesos e medidas. Questão 4 O Grande Medo nasceu do medo do bandido, que por sua vez é explicado pelas circunstâncias econômicas, sociais e políticas da França em 1789. No antigo regime, a mendicância era uma das chagas dos campos; a partir de 1788, o desemprego e a carestia dos víveres a agravaram. As inumeráveis agitações provocadas pela penúria aumentaram a desordem. A crise política também ajudava com sua presença, porque superexcitando os ânimos ela fez o povo francês tornar-se turbulento. (...) ETAPA Quando a colheita começou, o conflito entre o Terceiro Estado e a aristocracia, sustentada pelo poder real, e que em diversas províncias já tinha dado às revoltas da fome um caráter social, transformou-se de repente em guerra civil. (George Lefebvre, O grande medo de 1789.) a) Identifique o contexto em que o evento conhecido como Grande Medo ocorreu. b) Em agosto de 1789, foram abolidos os direitos feudais da nobreza e aprovada a declaração de direitos dos homens e cidadãos. Relacione essas medidas ao Grande Medo. Resposta a) Chama-se Grande Medo o resultado de levantes populares no interior da França que ocorrem sobretudo em seguida à Tomada da Bastilha (14.07.1789), que assinala o início da Revolução Francesa (1789-1799). A população sofrida do interior da França toma de assalto as propriedades da nobreza da província, invade as habitações, saqueia depósitos e se apropria de documentos que especificavam as dívidas que os camponeses tinham para com os seus senhores. Muitos integrantes dessa nobreza de província foram fisicamente eliminados com esses episódios. Entre os sobreviventes, muitos integrantes dessa aristocracia provincial abandonaram o país e vieram a formar uma força militar, apoiada pelo imperador da Áustria (a esposa de Luís XVI, Maria Antonieta, era uma princesa austríaca) e que ficou estacionada nos estados alemães (na fronteira com a França); afirmava-se que estes pretendiam restaurar o Antigo Regime. Com a aprovação da Constituição (1791) e o estabelecimento da Monarquia Constitucional, uma das primeiras medidas de governo foi a declaração de guerra à Áustria. Neste sentido, os desdobramentos do Grande Medo tiveram um papel importante na história da Revolução Francesa. b) De uma certa forma, a abolição dos direitos feudais da nobreza e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão se constituem em uma conseqüência dos episódios relacionados ao Grande Medo. A abolição dos direitos feudais era uma forma legal de eliminar as dívidas dos trabalhadores do campo para com os seus senhores. A declaração dos direitos, por sua vez, punha por terra a sociedade de ordens do Antigo Regime, estabelecendo a igualdade jurídica dos cidadãos perante a lei, ou seja, os trabalhadores rurais e a antiga aristocracia eram agora indivíduos com direitos e deveres iguais. VUNESP história 3 Questão 5 I. Em 1914, 85% das terras do planeta eram áreas coloniais. O dado é impressionante e nos revela de que maneira a Europa tornou-se “senhora do mundo”. Tal número é reflexo de um novo movimento imperialista ocorrido principalmente a partir dos anos 1870. (...) Importa destacar que naquele momento [década de 1870] formulou-se um emaranhado de explicações culturais, humanitárias e filosóficas para explicar a necessidade do imperialismo. (Adhemar Marques e outros, História contemporânea através de textos.) II. Ainda em 1939, a Grã-Bretanha tinha comércio “internações” comparável ao dos Estados Unidos, e uma força industrial tão desenvolvida quanto a da Alemanha. (...) a guerra fria e os conflitos do Oriente Médio continuavam a onerar o orçamento, ao passo que a Alemanha e o Japão, e até a Itália, concorrentes industriais, podiam se reconstruir sem ter que suportar esses fardos. (...) Na África do Norte [francesa], por exemplo, a ajuda financeira metropolitana direta quadruplicou, de 1948 a 1951, e, no mesmo período, 15% dos investimentos franceses foram para as colônias, proporção que alcançou 20% em 1955. (Marc Ferro, História das colonizações – Das conquistas às independências – Séculos XIII a XX.) a) Como as nações européias justificavam a ocupação e a neocolonização da África a partir do século XIX? b) No fragmento II, identifique o problema vivido pela França e pela Grã-Bretanha em relação aos seus espaços neocoloniais na África. Resposta a) Como o próprio texto I do enunciado especifica, as potências coloniais formulavam “um emaranhado de explicações culturais, humanitárias e filosóficas para explicar a necessidade do imperialismo”. Assim, entre estes argumentos, destacam-se por exemplo a existência de um “dever dos homens brancos em levar a cultura e a civilização” (como pressuposto por exemplo pelo chamado darwinismo social) aos povos considerados atrasados. Devia-se estender o “progresso técnico” e “ajudar” as populações pobres, gerando emprego e inserindo-os no circuito da economia mo- ETAPA netária; devia-se também estender a estes povos as conquistas científicas, especialmente aquelas na área de saúde pública, Medicina preventiva, transportes, etc. Considerava-se ainda que estes povos deveriam estar inseridos na economia de mercado, considerada sinônimo de avanço e modernidade. No plano das idéias deveria também levar o cristianismo e os padrões da educação européia. b) Segundo o texto, os impérios coloniais, sobretudo após o término da Segunda Guerra Mundial (1945), e seus efeitos econômicos devastadores, ao invés de serem fontes de renda para as metrópoles, tornam-se onerosos face à mudança na configuração das relações internacionais com o advento da Guerra Fria e os conflitos no Oriente Médio. Questão 6 A julgar pelas palavras de um dos primeiros governadores, ao fim das duas primeiras décadas do século XVIII, a chuvosa e fria região central da terra mineira “evaporava tumultos”, “exalava motins”, “tocava desaforos”, quando não “vomitava insolências”. (...) poder-se-ia inferir que o cenário dominante nas Minas era de um permanente confronto dos novos habitantes – desejosos de enriquecer rapidamente e, portanto, tentando fugir da ação limitadora (e arrecadadora) do Estado (...) Bem ao espírito da época, o quinto era um ‘direito real’ praticamente incontestado. (...) Se, por um lado, a legitimidade do direito ao quinto sobre o ouro nunca foi formalmente questionada pelos moradores das Minas, por outro, as formas de sua aferição e o controle da arrecadação sempre foram objeto das mais acres polêmicas. (João Pinto Furtado, O Manto de Penélope – História, mito e memória da Inconfidência Mineira de 1788-9.) a) Cite dois métodos utilizados em Minas Gerais para a arrecadação do quinto durante o século XVIII. b) Identifique e caracterize uma rebelião ocorrida em Minas Gerais na primeira metade do século XVIII. Resposta a) Inicialmente a arrecadação do quinto era feita com o ouro em pó e pepitas. Entretanto, esse mé- VUNESP história 4 todo abria a possibilidade de se realizarem várias burlas, difíceis de serem controladas pelo fisco e que resultavam em queda na arrecadação de tributos. Por esta razão, a partir de 1720, o governo resolve criar as Casas de Fundição. Seria proibida a circulação do ouro em pó e em pepitas. Ele deveria ser entregue nas Casas de Fundição, fundido e transformado em barras, e o governo extrairia o quinto (20%). b) Na primeira metade do século XVIII, ocorreram duas importantes rebeliões em Minas Gerais. A primeira foi a Guerra dos Emboabas, conflito entre paulistas contra adventícios que chegaram à região atraídos pelo ouro – chamados pelos primeiros de emboabas – pelo controle da região mineradora; o conflito terminou com a vitória dos segundos. A segunda rebelião foi a Revolta de Vila Rica, liderada pelo minerador Filipe dos Santos, que tentava impedir a criação das Casas de Fundição em 1720. A rebelião foi sufocada e Filipe dos Santos, executado; a primeira Casa de Fundição só se instalou em 1725. Questão 7 Bloqueio Continental: 1806-1807 Campo Imperial de Berlim, 21 de novembro de 1806 NAPOLEÃO, Imperador dos Franceses, Rei da Itália etc (...) Considerando, 1.ª Que a Inglaterra não admite o direito da gente universalmente observado por todos os povos civilizados; 2.ª Que esta considera inimigo todo indivíduo que pertence a um Estado inimigo e, por conseguinte, faz prisioneiros de guerra não somente as equipagens dos navios armados para a guerra mas ainda as equipagens das naves de comércio e até mesmo os negociantes que viajam para os seus negócios; (...) Por conseguinte, temos decretado e decretamos o que se segue: Artigo 1.º As Ilhas Britânicas são declaradas em estado de bloqueio. Artigo 2.º Qualquer comércio e qualquer correspondência com as Ilhas Britânicas ficam interditados (...) (...) Artigo 7.º Nenhuma embarcação vinda diretamente da Inglaterra ou das colônias inglesas, ou lá tendo estado, desde a publicação do ETAPA presente decreto, será recebida em porto algum. (Gazette Nationale ou le Moniteur Universel, 5 décembre 1806, em Kátia M. de Queirós Mattoso, Textos e documentos para o estudo da história contemporânea (1789-1963).) a) Em qual conjuntura esse decreto foi publicado? b) Identifique e explique a principal decorrência do decreto francês nas relações entre Portugal e Brasil. Resposta a) O chamado Decreto de Berlim, também conhecido como Bloqueio Continental, ocorreu no contexto das guerras napoleônicas. Napoleão havia imposto severas derrotas militares a vários países europeus; todavia, a tentativa de efetuar um desembarque na Inglaterra redundou em fracasso (Batalha Naval de Trafalgar, 1805). A Inglaterra, anteriormente ao Decreto de Berlim, já havia colocado a França sob estado de bloqueio econômico. Em represália, Napoleão edita o referido Bloqueio Continental, cujos efeitos, a médio e longo prazos, revelaram-se mais desastrosos do que produtivos para os desígnios de Napoleão. b) Face ao Bloqueio Continental, Portugal, aliado político e parceiro econômico da Inglaterra, ficou em uma situação insustentável. A impossibilidade de aderir ao Bloqueio levou à invasão de tropas francesas em novembro de 1807 em Portugal. A ocupação militar francesa levou à fuga da família real portuguesa para o Brasil e à conseqüente mudança de status da Colônia, que passou a ser a sede do Império Colonial português. As medidas adotadas pelo príncipe regente D. João – abertura dos portos (1808), tratados com a Inglaterra (1810) e a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido a Portugal (1815) – tiveram um papel decisivo em acelerar o processo de emancipação política do Brasil. Questão 8 Terras devolutas são aquelas que pertencem ao Estado porque nunca pertenceram, legitimamente, a um proprietário privado. Essa categoria surgiu após a aprovação da Lei de Terras, de 1850, que determinou que toda aquisição de terra só poderia ser realizada por meio da compra, vetando assim a aquisição por meio da posse. Com isso, as terras que não pertenciam a nenhum proprietário parti- VUNESP história 5 cular foram “devolvidas” ao Estado – daí o termo “devoluta”. Por isso não cabe ao Estado provar que uma determinada gleba é devoluta: cabe a quem afirma ser seu proprietário o ônus de prová-lo. Como essas terras não estavam delimitadas, pois eram do Estado por exclusão, muitas acabaram sendo griladas. (Folha de S.Paulo, 15.04.2003.) a) No período colonial brasileiro, como se dava o acesso à terra? b) Explique o fato de a Lei de Terras ter sido assinada no mesmo ano da lei que pôs fim ao tráfico de escravos para o Brasil. Resposta a) Inicialmente o acesso à terra era considerado uma forma de recompensa aos colonizadores no esforço de ocupação do território. Assim, aqueles que vinham com os donatários das capitanias recebiam destes terras que eram chamadas de sesmarias, com o compromisso de cultivá-las, de torná-las produtivas. Dessa maneira, teoricamente, as terras pertenciam ao Estado e os colonizadores tinham a posse, ou seja, o direito do uso, sem, entretanto, serem qualificados como proprietários no sentido contemporâneo que se dá a esta expressão. Com o tempo, algumas foram confiscadas; em outras, a posse passou de pai para filho e, por variadas razões, o direito de posse foi transferido; algumas foram desmembradas e outras, concentradas em mãos de algumas famílias. Afirma-se, por esta razão, que as sesmarias estão na origem dos latifúndios, a histórica concentração fundiária no Brasil. b) Por volta da metade do século XIX, a Inglaterra intensifica as medidas no sentido da repressão do tráfico e da própria escravidão. Face a tais pressões o governo aprova a segunda lei de abolição do tráfico de escravos (Lei Eusébio de Queirós, 1850 – a primeira, Lei Barbacena, fora aprovada em 1831 sem entretanto produzir efeito). A abolição do tráfico provoca um aumento substancial no preço da mão-de-obra escrava, tornando-a economicamente inviável. Na época, a cafeicultura no Sudeste estava em plena expansão. Os cafeicultores lançaram mão da imigração européia para as fazendas de café. Acreditava-se então que a abundância de terras e a vigência do regime de posse (doação de sesmarias) poderiam desviar os imigrantes das finalidades para as quais seriam admitidos, ou seja, trabalharem nas fazendas de café em substituição aos escravos. Afirma-se então que, por esta razão, é aprovada a Lei de Terras que aboliu formalmente o regime de sesmarias ETAPA (doação e posse de terras) e estabeleceu que o acesso à terra seria somente mediante a compra. Assim, os imigrantes, normalmente sem recursos, não teriam condições de ser proprietários de terras e serviriam dessa forma aos cafeicultores. Questão 9 BRASIL: PRINCIPAIS PRODUTOS DE EXPORTAÇÃO (1821-1929). PARTICIPAÇÃO (EM %) NA RECEITA DAS EXPORTAÇÕES Açúcar Algodão Borracha Couros e Peles Outros Datas Café 1821-1830 18,4 30,1 20,6 0,1 13,6 17,2 1831-1840 43,8 24,0 10,8 0,3 7,9 13,2 1841-1850 41,4 26,7 7,5 0,4 8,5 15,5 1851-1860 48,8 21,2 6,2 2,3 7,2 14,3 1861-1870 45,5 12,3 18,3 3,1 6,0 14,8 1871-1880 56,6 11,8 9,5 5,5 5,6 11,0 1881-1890 61,5 9,9 4,2 8,0 3,2 13,2 1891-1900 64,5 6,0 2,7 15,0 2,4 9,4 1901-1910 52,7 1,9 2,1 25,7 4,2 13,4 1911-1913 61,7 0,3 2,1 20,0 4,2 11,7 1914-1918 47,4 3,9 1,4 12,0 7,5 27,8 1919-1923 58,8 4,7 3,4 3,0 5,3 24,8 1924-1928 72,5 0,4 1,9 2,8 4,5 17,9 (H. Schlittler Silva, Tendências e características gerais do comércio exterior no século XIX. A. Villanova Vilela e W. Suzigan, Política do governo e crescimento da economia brasileira 1889-1945, em Paul Singer, O Brasil no contexto do Capitalismo Internacional, em Boris Fausto (direção), História Geral da Civilização Brasileira.) a) Em que momento a borracha brasileira passa a ser mais fortemente exportada? Por que houve esse crescimento acentuado? b) A partir da década de 1910, o Brasil deixou de dominar o mercado mundial de borracha. Por que isso ocorreu? Resposta a) Consagrou-se localizar o chamado "boom" da borracha no intervalo entre 1870 e 1910. De uma certa forma, a tabela contida no enunciado justifica o referido intervalo. Estava em curso a chamada Segunda Revolução Industrial. A industrialização deixara de ser um fenômeno exclusivamente britânico; outros países na Europa, e mesmo fora dela, passavam por tal intenso processo. Nesta fase, utiliza-se o aço no lugar do ferro; a eletricidade no lugar do vapor como fonte de energia; e VUNESP história 6 a invenção do motor a explosão possibilitou a produção de automóveis. Neste contexto de intensas transformações tecnológicas, a borracha tornou-se um insumo valorizado, e a sua matéria-prima – o látex, extraído da seringueira – era produto natural na Amazônia. Ocorre um intenso movimento migratório, especialmente do Nordeste em direção à Amazônia, que veio a se constituir mão-de-obra para aquela atividade extrativista. b) Afirma-se que o Brasil perdeu sua posição de destaque devido, entre outros aspectos, à exploração predatória, aos métodos precários de extração e manipulação que comprometiam a sua qualidade e à concorrência que se estabelece com a extração desta matéria-prima no Sudeste Asiático. Com o tempo, para além desta concorrência, passou a ser produzida a borracha sintética, que comprometeu de forma irreversível as possibilidades de recuperação econômica da Amazônia com a exploração da borracha. Questão 10 Fui vencido pela reação e assim deixo o governo. Nestes sete meses, cumpri meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social a que tem direito seu generoso Povo. Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando nesse sonho a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantaramse contra mim e me intrigam ou inflamam, até com a desculpa da colaboração. Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranqüilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício de minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública. (...) Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos todos: há muitas formas de servir nossa Pátria. Brasília, 25 de agosto de 1961. Jânio da Silva Quadros (Ivan Alves Filho, Brasil, 500 anos em documentos.) ETAPA a) Caracterize, em termos econômicos, o governo Jânio Quadros. b) Relacione o evento apresentado pelo documento com a institucionalização do parlamentarismo no Brasil. Resposta a) Jânio Quadros exerce a presidência da República por um curto intervalo de tempo (de janeiro a agosto de 1961), de tal forma que se torna problemático "caracterizar, em termos econômicos" o referido governo. Tratou-se mais de intenções do que propriamente realizações. De uma certa forma, a sua renúncia está associada à frustração de tais intenções. Nesse sentido, não há muito o que caracterizar "em termos econômicos" o referido governo. Jânio sucedera Juscelino Kubitschek (1956-1961), sendo que nesse período o Brasil passara por um processo de intenso crescimento graças à política econômica desenvolvimentista (realização do Plano de Metas, aportes de capital estrangeiro, investimentos em infra-estrutura e construção de Brasília). Todavia, este crescimento também produziu efeitos negativos, entre os quais se destacam um grave processo inflacionário e uma maior concentração setorial, social e regional da renda, tornando mais agudas as disparidades socioeconômicas no país. O crescimento econômico também esteve associado a gastos não plenamente justificados, gerando suspeitas de corrupção e mau uso dos recursos públicos. Nesse contexto, Jânio apresenta-se como um candidato de oposição a Juscelino, com a bandeira da moralização dos costumes políticos, do combate à corrupção e à inflação, e do exercício de um rígido controle sobre os gastos públicos. Jânio foi vitorioso nas urnas, porém não obteve o respaldo do Congresso Nacional para tornar suas intenções em medidas efetivas. Procurou adotar uma política econômica ortodoxa, de corte de gastos públicos, o que, prontamente, deu origem a um movimento de séria oposição às medidas que preconizava. Por fim, sem apoio no Poder Legislativo e com sinais de um significativo descontrole emocional, renunciou ao seu mandato presidencial (25.08.1961) deixando como legado uma séria crise política no Brasil, cujos desdobramentos viriam a dar origem ao regime militar (1964-1985). b) O documento é a carta-renúncia do presidente Jânio Quadros. De acordo com a Constituição, deveria sucedê-lo o vice-presidente da República, João Goulart. Este, entretanto, encontrava-se fora do país em missão diplomática na República Popular da China. Assume então, na ausência temporária do vice-presidente, o sucessor constitucional, o presidente da Câmara dos Deputa- VUNESP história 7 dos, Paschoal Ranieri Mazzilli. Concomitantemente os ministros militares da Guerra (Odílio Denis), Marinha (Silvio Heck) e Aeronáutica (Grun Moss) fazem um pronunciamento público afirmando que não garantiriam a posse de João Goulart sob a alegação de que este estava associado aos comunistas. Em seguida, o general Machado Lopes, comandante do III Exército com base em Porto Alegre, e setores civis declaram-se contrários ao pronunciamento dos ministros militares. Abre-se uma séria crise política com risco de eclosão de uma guerra civil. Para contornar a crise adota-se uma solução intermediária, aprovan- ETAPA do-se o Ato Adicional nº 4 à Constituição de 1946, o qual estabelecia o parlamentarismo no país. Assim, Goulart seria empossado como desejavam os que exigiam a obediência à Constituição, mas não teria plenos poderes, que seriam efetivamente exercidos pelo presidente do Conselho de Ministros, atendendo, dessa forma, às exigências da oposição a Goulart. Assim, a renúncia de Jânio, de certa forma, teve, entre outras conseqüências, a implantação do parlamentarismo no Brasil (1961-1963).