PROGRAMA HIPERDIA: QUALIDADE DE VIDA E DESAFIOS NO TRATAMENTO NA PERSPECTIVA DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM CARVALHO FILHA, Francidalma Soares Sousa1 NOGUEIRA, Lidya Tolstenko 2 GOMES, Ivanilda Sepúlveda3 GUIMARÃES, Ananda Costa4 SILVA, Edmelry Ferreira da4 RESUMO Estudo descritivo, avaliativo, com abordagem qualitativa, realizado nas Unidades Básicas de Saúde do Município de Caxias-MA, com o objetivo de identificar os desafios no tratamento que podem interferir na qualidade de vida de usuários hipertensos e/ou diabéticos, na perspectiva de profissionais de enfermagem atuantes na estratégia Saúde da Família, para que se possam instigar modelos de assistência mais adequados aos princípios da universalidade, equidade e integralidade da atenção. Os dados foram analisados à luz da Análise Temática, onde se compuseram três categorias: Categoria I - Desafios no tratamento de hipertensos e/ou diabéticos, inerentes à terapia farmacológica, marcação de exames e falta de insumos; Categoria II - Desafios no tratamento de hipertensos e/ou diabéticos, ligados à assistência recebida; Categoria III - Desafios no tratamento de hipertensos e/ou diabéticos, referentes à falta de adesão à terapêutica e presença de complicações. Constataram-se vários obstáculos apontados pelos profissionais de enfermagem para a efetivação do tratamento e, consequentemente melhoria da qualidade de vida dos pacientes e muitos deles seriam plenamente solucionados com medidas de ordem gerencial e assistencial. A pesquisa é de grande importância e sugere ações conjuntas da Secretaria Municipal de saúde, das Coordenações da Atenção Básica e do Programa HiperDia, dos profissionais e dos usuários envolvidos na assistência. Palavras-chave: Hipertensão; Diabetes; Qualidade de Vida. ABSTRACT A descriptive, evaluative, qualitative approach, carried out in the Basic Health of the Municipality of Caxias, MA, in order to identify challenges in treatment that may interfere with quality of life of hypertensive patients and / or diabetics, in view of professionals nurses working in Family Health Strategy, so that it can instigate models of care best suited to the principles of universality, equity and comprehensive care. Data were analyzed according to thematic analysis, which comprised three categories: Category I - Challenges in the treatment of hypertension and / or diabetes, related to the pharmacologic therapy, marking exams and lack of inputs, Category II - Challenges in the treatment of hypertensive and / or diabetes, related to care received, Category III - Challenges in the treatment of hypertension and / or diabetic, referring to the lack of adherence to treatment and presence of complications. It appears that several obstacles raised by the nursing staff for effective treatment and thereby improve the quality of life of patients and many of them would be fully addressed with measures of order management and care. The research is of great importance and suggests joint actions of the Municipal Health, the Coordination of Primary Care and Program HiperDia professionals and users involved in care. Keywords: Hypertension, Diabetes, Quality of Life 1 Enfermeira. Mestre em Enfermagem (UFPI). Docente da UEMA e da FACEMA. Fone: (99) 81616959. Email: [email protected] 2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. (Escola Ana Nery - RJ). 3 Enfermeira. Mestre em Enfermagem (UFPI). 4 Acadêmicas de Enfermagem (FACEMA). Participantes do Grupo de Pesquisa Avaliação de Programas e Sistemas de Saúde INTRODUÇÃO A estratégia Saúde da Família (SF), definida como um conjunto de ações no primeiro nível de atenção está voltada para a promoção da saúde, prevenção dos agravos, tratamento e reabilitação. Foi criada em 1994, para a reorganização de serviços; favorecendo a construção da saúde através de uma troca solidária e capaz de fortalecer a participação comunitária, o desenvolvimento de habilidades pessoais e a criação de ambientes saudáveis; tornando-se um excelente campo de cuidado aos hipertensos e/ou diabéticos1. Os profissionais de saúde envolvidos na SF programam e implementam atividades de investigação e acompanhamento dos usuários com hipertensão e/ou diabetes e devem ter a educação em saúde como prática constante no seu cotidiano; desenvolvida, principalmente, através de palestras, visitas domiciliares, reuniões em grupos e também de forma individual, através das consultas médicas e de enfermagem2. O tratamento adequado é fundamental para a manutenção da qualidade de vida dos usuários, entendida como uma menção às condições de vida de um ser humano. Envolve o bem físico, mental, psicológico e emocional, além de relacionamentos sociais, e, também, de modo especial à sua saúde, educação e outras circunstâncias da vida3. Assim, visando organizar a assistência, o Ministério da Saúde lançou o Programa de Hipertensão Arterial e Diabetes (HiperDia), um instrumento de acompanhamento dos usuários, no qual os profissionais de saúde são responsáveis pelo atendimento aos pacientes e preenchimento dos dados. Visa permitir o monitoramento dos pacientes e gerar informação para aquisição, dispensação e distribuição de medicamentos de forma regular4. Na SF a abordagem ao usuário deve ser multiprofissional e interdisciplinar, no qual cada profissional realiza sua avaliação e, em conjunto, traçam as metas e desenvolvem as ações necessárias para manutenção, recuperação da saúde e melhoria da qualidade de vida do usuário. No caso da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e do Diabetes Mellitus (DM), esta interação é fundamental para que as atividades possam ocorrer de forma integrada e com níveis de competência bem estabelecidos, na realização da avaliação de risco cardiovascular, medidas preventivas e atendimento aos usuários5. Nesta perspectiva, a equipe de enfermagem possui um papel fundamental no desenvolvimento das ações de prevenção e controle destes agravos, visando à melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Para tanto, devem sistematizar a assistência e organizar o atendimento, de modo que o hipertenso e/ou diabético tenha acesso a os serviços de saúde, como consultas de enfermagem, exames complementares, recebimento de medicamentos, mensuração de peso, altura, circunferência abdominal, pressão arterial e glicemia capilar. Assim, cientes da importância epidemiológica que a HAS e o DM apresentam, do valor dos membros da equipe de enfermagem e ainda, que a ação conjunta dos mesmos refletirá em melhoria da assistência aos usuários, propôs-se identificar os desafios no tratamento que podem interferir na qualidade de vida de usuários hipertensos e/ou diabéticos, na perspectiva de profissionais de enfermagem atuantes na estratégia Saúde da Família. O Ministério da Saúde estima que em Caxias (MA), local de realização da pesquisa, existam cerca de 22.000 hipertensos e 5.000 diabéticos, sendo que no sistema estão cadastrados 7.768 hipertensos, 547 diabéticos e 2.585 diabéticos com hipertensão 6. Além disso, constata-se a falta de informações referentes às ações de cadastramento e acompanhamento desses usuários. Diante deste problema, a busca por respostas se apoiou na seguinte questão norteadora: Quais os desafios no tratamento de hipertensos e/ou diabéticos que interferem em sua qualidade de vida, na perspectiva de profissionais de enfermagem? MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa descritiva, avaliativa, com abordagem qualitativa. A pesquisa qualitativa foi aplicada por se adequar à investigação das percepções e das opiniões que as pessoas emitem e fazem a respeito de como vivem, sentem, pensam, constroem seus artefatos e a si mesmas7, como o fazem os profissionais de enfermagem, durante o atendimento de usuários hipertensos e/ou diabéticos. O cenário desta investigação é o Município de Caxias-MA, com uma população de 155.129 habitantes8. Segundo dados do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), o município apresenta 58 Equipes, distribuídas em 32 Unidades Básicas de Saúde (UBS) - 21 na zona urbana e 11 na zona rural. Dentre os profissionais de enfermagem atuantes na Atenção Primária à Saúde (APS), o Município conta com 60 enfermeiros e 106 auxiliares e/ou técnicos de enfermagem. Destes, participaram do estudo 32 enfermeiros e 32 auxiliares e/ou técnicos de enfermagem. Para tanto, realizou-se um sorteio entre os profissionais de enfermagem de cada UBS. Os dados deste estudo foram coletados no período de novembro de 2010 a maio de 2011, nas UBS, em datas previamente agendadas. A técnica utilizada para a obtenção das falas dos profissionais foi a entrevista, com a finalidade de operacionalizar a metodologia abordada através da perspectiva dos participantes9. As falas foram submetidas à Análise de Conteúdo 10, optando-se pela Análise Temática que busca os núcleos de sentido que constituem a comunicação e cuja expressão revela algo de importante para o objeto estudado. Os dados foram divididos em 3 categorias. Ressalta-se que as questões inerentes ao engajamento familiar e social, além do suporte mental, psicológico e emocional, ligadas à avaliação da qualidade de vida, não foram abordadas neste trabalho, uma vez que se intencionou averiguar o tratamento tal qual indicado pelo Ministério da Saúde nas normas do HiperDia e não constam campos de atendimentos voltados para estes itens. Para identificar os profissionais durante a apresentação dos resultados, usar-se-ão códigos com letras e números da seguinte maneira: enfermeiros (E1 – E32) e auxiliares e/ou técnicos de enfermagem (AT1 – AT32), onde os números representam as 32 UBS. Os sujeitos que concordaram em participar desta pesquisa receberam informações sobre o interesse, a justificativa, os objetivos e as finalidades do estudo e antes de iniciar a entrevista, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Além disso, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí para a sua apreciação, sendo aprovado com CAAE nº 0287.0.045.000-10. Os pesquisadores comprometeram-se com as normas preconizadas pela Resolução CNS 196/96 e suas complementares. RESULTADOS E DISCUSSÕES Após a análise e tratamento dos dados, os mesmos foram organizados em 3 categorias: Categoria I - Desafios no tratamento de hipertensos e/ou diabéticos, inerentes à terapia farmacológica, marcação de exames e falta de insumos; Categoria II - Desafios no tratamento de hipertensos e/ou diabéticos, ligados à assistência recebida; Categoria III Desafios no tratamento de hipertensos e/ou diabéticos, referentes à falta de adesão ao tratamento e presença de complicações. Assim, cada categoria será exposta em quadros, numerados de 1 a 3. Quadro 1 – Desafios no tratamento de hipertensos e/ou diabéticos, inerentes à terapia farmacológica, marcação de exames e falta de insumos. Caxias-MA, 2011. TEMAS REFERIDOS PELOS PROFISSIONAIS E* AT* n (%) n (%) Nenhuma dificuldade 2 (6) 2 (6) Falta de medicamentos 23 (72) 24 (75) Uso de medicamentos caseiros e crendices populares 2 (6) 3 (9) Falta de outros insumos: Insulina, seringas. Demora na marcação e recebimento de exames Medicamentos usados não são fornecidos pela Farmácia Básica Falta de transporte para as visitas domiciliares. Faltam outras categorias profissionais: nutricionistas, psicólogos Falta de cadastro de muitos pacientes * E: Enfermeiros; AT: Auxiliares/técnicos de enfermagem 4 (13) 9 (28) 4 (13) 5 (17) 6 (19) 2 (6) 6 (19) 2 (6) 8 (25) 2 (6) 4 (13) 3 (9) Nesta categoria, são demonstrados os desafios enfrentados pelos profissionais de enfermagem em executar as ações programadas aos usuários hipertensos e/ou diabéticos em virtude da falta de insumos necessários e imprescindíveis ao tratamento, como os medicamentos e seringas para a auto-administração de insulina, a carência da introdução de outros medicamentos anti-hipertensivos e anti-diabéticos no Programa. Foram citados também obstáculos como a falta de veículos para as visitas domiciliares, a necessidade de outras categorias profissionais envolvidos no cuidado para um atendimento multiprofissional e interdisciplinar e o retardo no agendamento e recebimento de exames importes ao acompanhamento dos usuários. Além da interferência do uso de terapias caseiras no tratamento, confirmados pelas falas a seguir: Existe a falta de mais profissionais envolvidos nesse atendimento ao hipertenso e diabético como o nutricionista, psicóloga. (E6) A grande dificuldade que a gente tem é não ter carros disponíveis pra ir pra zona rural fazer visita domiciliar. (E8) Quando não tem o medicamento na unidade, eles não compram, aí ficam sem tomar, ou então eles tomam remédio caseiro, depois o tratamento fica quebrado e não faz efeito nenhum. (E14) Os pacientes têm dificuldade na marcação de alguns exames e a demora na entrega dos resultados. (E17) Geralmente o paciente não tem como comprar o medicamento e tem vários outros tipos de remédios que a gente não dispõem na Atenção Básica. (AT24) Alguns dos entraves que dificultam as atividades inerentes ao HiperDia, poderiam ser sancionados com facilidade. Assim, ao se discutir, por exemplo, a falta de medicamentos, em geral, está ligada a um fator que independe apenas da compra desta medicação. Conforme demonstrado anteriormente, o número estimado de hipertensos e/ou diabéticos para o Município de Caxias-MA, está muito acima do quantitativo de usuários cadastrados no Programa e isto prejudica a disponibilidade da terapia. Além disso, o Município é classificado como macro-região e atende uma grande demanda de pacientes de municípios vizinhos. Outros empecilhos são de ordem gerencial, como a falta de veículos para as visitas, a inserção de outros profissionais na atenção ou ainda, a demora na marcação dos exames laboratoriais. O Plano Nacional de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus em conjunto com os manuais de Ministério da Saúde 11, 12, 13, são enfáticos em demonstrarem a importância do suprimento de insumos básicos necessários ao atendimento destes usuários, visando à continuidade da assistência e, consequente, a melhoria da qualidade de vida dos usuários. Em se tratando da Categoria II, os sujeitos da pesquisa referiram obstáculos no atendimento como o desinteresse e falta de humanização de alguns profissionais da Saúde da Família pelos problemas dos pacientes, a falta de capacitação e a privação de atividades educativas para sensibilizar usuários e familiares e para envolvê-los na assistência prestada e no auto-cuidado. Falaram também, sobre a necessidade de realizarem mais busca-ativa aos usuários faltosos, bem como atividades que previnam as possíveis complicações advindas do maucontrole destes agravos, prejudicando o entendimento e cumprimento da terapêutica indicada. Conforme Quadro a seguir: Quadro 2 – Desafios no tratamento de hipertensos e/ou diabéticos, ligados à Assistência recebida. Caxias-MA, 2011. TEMAS REFERIDOS PELOS PROFISSIONAIS E* AT* n (%) n (%) Nenhuma dificuldade 3 (9) 2 (6) Desinteresse de profissionais da Saúde da Família 3 (9) Falta de Humanização de profissionais da Saúde da Família 5 (17) 6 (19) Falta de busca ativa aos usuários faltosos 5 (17) 3 (9) Falta de atividades educativas 11 (34) 2 (6) Dificuldades em prevenir complicações 5 (17) Falta de capacitação dos profissionais 9 (28) 1 (3) * E: Enfermeiros; AT: Auxiliares/técnicos de enfermagem As falas dos interlocutores corroboram as informações do Quadro 2: O que falta fazer é mais atividade de educação em saúde para conscientizar os pacientes. (E16) Se a gente não fizer mais busca ativa, não vamos conseguir trazer os pacientes para o posto e nem vamos controlar a pressão e a glicemia. (E8) Alguns profissionais não se interessam pelos pacientes e pelos problemas deles. (E25) Eu acho que alguns profissionais não têm compromisso com os pacientes. Eu gostaria que eles pensassem mais no paciente e em sua saúde. (AT2) Os profissionais têm que fazer mais curso pra se preparar melhor e saber cuidar mais desses pacientes. (AT5) Eu não tenho nenhum ponto negativo pra citar. (AT19) A qualidade e os bons resultados do atendimento dependem consideravelmente da forma como as relações entre profissionais e usuários se estabelecem, bem como a segurança e interesse demonstrados pelos profissionais durante a atenção. Por isso, a equipe de enfermagem deve estar atenta às normas e rotinas do Programa 11, para implementarem atividades que estimulem nos hipertensos e/ou diabéticos a prática de ações que melhorem suas condições de vida e saúde, que é o maior propósito do atendimento. Ainda assim, há de se convir que maior do que a necessidade de guiar-se por modelos estabelecidas, os profissionais de enfermagem devem e guiar-se pelos os preceitos da humanização e do holismo, pois o cuidado não pode ser prescritivo, não existem regras a seguir, nem manuais de cuidar ou ensinar a cuidar. O cuidado deve ser sentido, vivido 14. Para tanto, os profissionais de enfermagem devem compreender que a oferta do cuidado perpassa por escutar o paciente, dar voz às suas angústias e inquietações, entendimento às suas solicitações e servir às suas demandas15. Por fim, discutir a categoria desafios ligados à assistência de usuários hipertensos e/ou diabéticos, exige a percepção dos elementos que envolvem a qualidade da atenção, que nem sempre são fáceis de serem definidos ou mensurados e envolvem a compreensão da integração cuidador-usuário e serviços disponíveis e isto, de fato, interfere em seu tratamento e, consequentemente, em sua qualidade de vida; por isso, não podem ser depreciados ou ignorados, devendo, inclusive, orientar a prestação do cuidado 11. Em se tratando de qualidade do cuidado, Donabedian16 refere que esta pode ser avaliada com base na assistência prestada, pois se é propósito do profissional de saúde servir aos melhores interesses dos usuários, como os hipertensos e/ou diabéticos, é preciso informálos sobre as alternativas disponíveis para que possam fazer as escolhas mais adequadas às suas preferências. A Categoria III versa sobre as dificuldades na adesão ao tratamento e a presença de complicações: Quadro 3 – Desafios no tratamento de hipertensos e/ou diabéticos, referentes adesão ao tratamento e presença de complicações. Caxias-MA, 2011. TEMAS REFERIDOS PELOS PROFISSIONAIS E* n (%) Nenhuma dificuldade 5 (16) Falta de interesse dos pacientes no tratamento 9 (28) Falta de entendimento acerca da doença 15 (47) Presença de complicações nos pacientes 12 (38) * E: Enfermeiros; AT: Auxiliares/técnicos de enfermagem à falta de AT* n (%) 7 (22) 5 16) 3 (9) 7 (22) Os principais fatores inerentes à efetiva adesão ao tratamento são: acessibilidade do usuário aos bens e serviços, adequação dos métodos de trabalho à realidade do usuário, a efetividade das ações ofertadas e as mudanças na saúde dos doentes. Neste caso, hipertensos e/ou diabéticos assistidos pelos profissionais da Saúde da Família em Caxias-MA. Portanto, pelas mensagens a seguir, constata-se que os maiores desafios apontados pelos profissionais quanto aos resultados do atendimento, dizem respeito à não participação no tratamento e presença de complicações advindas do não controle dos agravos. Em geral, o paciente é negligente com as informações que lhe são dadas, por isso não usa o medicamento, não segue o que a gente diz e não segue o tratamento médico. (E 11) Os maiores problemas, que de fato interferem na qualidade de vida deles, são as consequências dessa falha no tratamento, como o grande número de hospitais ocupados com pacientes com derrame, infarto, são as UTIs cheias. Às vezes os resultados são catastróficos. (E16) Os pacientes não seguem direito os tratamentos que os médicos e as enfermeiras mandam, faltam nas consulta e não ligam de tomar o remédio. (AT9) Às vezes eu olho pra eles cheios de sequelas e fico pensando: que qualidade de vida é essa desses pacientes? Será que vale à pena viver assim? (AT 30) A análise dos resultados, com base nos cuidados ofertados e recebidos deve levar o cuidador à reflexão de que a aceitação do usuário está relacionada também na disponibilidade do usuário e, acima de tudo, na sua decisão em seguir ou não o plano estabelecido pelo enfermeiro e sua equipe. E o fato dele aceitar o cuidado, não significa que seguirá tudo o que indicarem a ele17. De fato, a falta de adesão do usuário ao tratamento proposto, ou a adesão incompleta, podem levar a uma série de sequelas e complicações que podem custar a plena qualidade de vida dos pacientes, ou quando não, a própria vida. Por isso, cabe aos gestores em saúde, serviços de saúde e profissionais de saúde esclarecerem aos usuários as consequências do tratamento inadequado e/ou indevido. CONSIDERAÇÕES FINAIS Constatou-se que existem inúmeros desafios vivenciados pelos usuários hipertensos e/ou diabéticos cadastrados no Programa HiperDia, no que diz respeito ao tratamento indicado e, consequentemente, no alcance da sua qualidade de vida. Portanto, dar voz a enfermeiros e técnicos/auxiliares de enfermagem atuantes na Saúde da Família, pode instigar modelos de assistência mais condizentes com as normas do Programa e voltados para a melhoria da atenção. Assim, verificaram-se muitos obstáculos, aqui nomeados desafios, que precisam ser superados; quer seja com medidas gerenciais por parte da Secretaria Municipal de Saúde e da Coordenação local do Programa HiperDia, através do emprenho destes profissionais em efetivar as atividades ou mesmo, estimulando a participação ativa de outras categorias profissionais neste cuidado e dos próprios usuários e familiares no tratamento. Os impedimentos, conforme demonstrados, são de ordem estrutural, como a falta de medicamentos e insumos, de veículos para visitas domiciliares e de outras categorias profissionais envolvidas no cuidado; falhas na marcação de exames e a quantidade de usuários cadastrados no Programa. Além de problemas de cunho assistencial, como o desinteresse e falta de humanização de alguns profissionais e por fim, voltados para os próprios usuários, referentes a falta de entendimento acerca das orientações realizadas e do tratamento indicado e ainda, da presença de complicações e sequelas advindas da não realização do tratamento. Cabe ressaltar que a hipertensão arterial e o diabetes mellitus são dois agravos debilitantes, que se não tratados adequadamente, levam ao surgimento de diversas outras doenças incapacitantes, que os profissionais de enfermagem são fundamentais na assistência aos usuários e que, a conscientização destes profissionais acerca de sua importância na execução das normas e rotinas do programa HiperDia é essencial para o planejamento adequado da atenção. Ademais, urge a efetivação de medidas enérgicas e rápidas para solucionar os problemas aqui encontrados e acima de tudo, aliar a secretaria Municipal de Saúde, Coordenações da Atenção Primária e do Programa HiperDia e profissionais da Saúde da Família para voltarem todos os seus esforços na busca de um cuidado mais humano e solidário, buscando a melhoria das condições de vida e saúde dos usuários assistidos. REFERÊNCIAS: 1. Andrade LOM, Bueno ICHC, Bezerra RC. Atenção Primária à Saúde e Estratégia Saúde da Família. In: Campos GWS et al. 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