SERVIÇO SAÚDE SAÚDE pegou do melhor amigo da escolinha”, conta Fernanda. LÚCIA BRANDÃO TRATAMENTO E PREVENÇÃO Primavera, estação da catapora Nessa época do ano há um aumento no número de casos da doença, que atinge principalmente crianças 28 N a tarde de uma sexta-feira de setembro, a vendedora Fernanda Lacerda, 22 anos, recebeu uma ligação da escolinha onde seu filho Guilherme, de 4 anos, estuda em São Paulo. O menino estava com febre e sem apetite. Fernanda levou o garoto ao médico no mesmo dia, mas ainda não era possível definir o diagnóstico. No dia seguinte, após uma piora do quadro e com o aparecimento de pequenos pontos vermelhos na pele, veio a confirmação da suspeita: Guilherme estava com varicela, popularmente conhecida como catapora. No fim do inverno e início da primavera, casos como esse são muito comuns. Nessa época do ano, segundo especialistas, há um aumento da proliferação do vírus Varicela zoster, Revista do Idec | Outubro 2007 que causa a doença, e uma facilidade maior de transmissão devido a fatores climáticos. A varicela é uma de cinco doenças da infância com erupção cutânea. As outras quatro são sarampo, roséola, rubéola e eritema infeccioso. Ela atinge, na maioria dos casos, crianças de 5 a 9 anos de idade, mas é considerada benigna pelos médicos, já que, em geral, não apresenta grandes riscos para os pacientes nessa faixa etária e não deixa seqüelas. Entretanto, o quadro da doença pode ser mais grave em bebês, adultos ou indivíduos com imunodeficiência, pois pode trazer complicações como pneumonia e infecções na pele. Como no caso de Guilherme, o quadro inicial da catapora é facilmente confundido com o de uma gripe: febre, falta de apetite, indisposição, dor de cabeça e até secreção nasal (veja quadro com o ciclo da doença). Na fase inicial também podem surgir pontinhos vermelhos espalhados pelo corpo, parecidos com picadas de inseto. Nesse período, a doença não costuma ser detectada facilmente. A confirmação do diagnóstico só acontece, geralmente, dois ou três dias depois, quando essas manchas crescem e mudam de aspecto, tornando-se vesículas (bolhas cheias de um líquido transparente). Durante cerca de cinco dias, as vesículas aparecem em regiões delimitadas do corpo ou nele todo, inclusive couro cabeludo e mucosas. A varicela é altamente contagiosa justamente porque, mesmo antes de surgirem as primeiras manchas avermelhadas, o contágio pelo vírus já se dá por via aérea (espirro ou tosse). E quando as manchas estão aparentes, a transmissão também pode acontecer por contato. No total, o período de contágio dura cerca de dez dias e termina quando as feridas começam a secar. Inevitavelmente, creches e escolas são os principais locais de proliferação do vírus. “Tenho certeza de que o Guilherme Não há um medicamento específico para tratar a varicela (veja quadro com cuidados gerais). Os médicos normalmente recomendam repouso, analgésicos, antitérmicos e algum tipo de pomada ou creme, ou banho, para aliviar a coceira intensa, característica marcante da catapora. Quem já teve a doença dificilmente se esquece desse grande incômodo. Mas é muito importante evitar coçar as feridas, que podem infeccionar e deixar marcas na pele para toda a vida. Uma outra dica importante dos médicos: nunca tomar ácido acetilsalicílico (aspirina) para aliviar os sintomas da catapora. No paciente com varicela, esse medicamento pode gerar uma reação chamada Síndrome de Reye, que causa lesão hepática e até edema cerebral. Desde 1994 está disponível no Brasil a vacina contra a varicela, mas apenas em clínicas particulares, onde custa cerca de R$ 80. Segundo o Ministério da Saúde, a vacina ainda não foi incluída no Programa Nacional de Imunização por causa de seu custo elevado. “Meu filho não tomou a vacina porque é cara”, reclama a vendedora Fernanda. “Se estivesse disponível nos postos de vacinação, com certeza teria tomado”, complementa. Na opinião de Sandra de Oliveira Campos, do departamento científico de infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria e professora do departamento de pediatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), por ser uma doença considerada benigna e por causa do alto custo da vacina, o Ministério da Saúde Catapora: cuidados gerais Não coçar as pequenas erupções na pele e nas mucosas. Manter as unhas curtas e limpas para não arranhar as feridas. ● Vestir roupas leves, mas que mantenham todo o corpo coberto. ● Tomar de dois a três banhos mornos por dia para manter a pele fresca. Usar pouco sabonete para não ressecar. ● Evitar contato com todas as crianças e adultos que não tiveram a doença. ● Fazer repouso. ● Não tomar ácido acetilsalicílico (aspirina). ● Fazer uso de medicamentos apenas com recomendação médica. ● ● Revista do Idec | Outubro 2007 29 SERVIÇO SAÚDE tem outras prioridades em relação ao calendário de vacinação. “Se tiverem recursos e julgarem necessário para determinada região, os governos estaduais ou municipais têm autonomia para disponibilizar a vacina contra varicela em seus postos, como fez Florianópolis”, comenta. Atualmente, a vacina contra catapora está disponível nas clínicas particulares para crianças a partir de um ano de idade e para adolescentes e adultos que não tiveram a doença. Segundo estudos da Sociedade Brasileira de Pediatria, a aplicação apresenta uma eficácia de 97%. “Quem é vacinado ainda tem uma pequena possibilidade de desenvolver a varicela, mas Sandra de Oliveira Campos, da vai ter um quadro bem mais Sociedade Brasileira de Pediatria fraco da doença”, afirma Sandra. Para o infectologista Paulo Olzon Monteiro da Silva, também da Unifesp, a vacina deveria ser obrigatória, por exemplo, para pessoas que migram de pequenas cidades para grandes centros urbanos como São Paulo. “Por não terem tanto contato com o vírus, indivíduos que não vivem em grandes O ciclo da catapora Incubação Nesse período, a pessoa já está com o vírus, mas ainda não apresenta sintomas. Duração: de uma a três semanas (na maioria dos casos esse período é de 10 a 14 dias). Prodrômico O paciente começa a ter sintomas como febre, indisposição, falta de apetite, mas ainda não apresenta as lesões na pele características da catapora. Ainda sem saber que está com a doença, nesse período a pessoa já pode transmitir o vírus. Duração: de dois a três dias. Estado Começam a surgir as pequenas bolhas na pele e nas mucosas. Durante esse período o paciente também pode contagiar outras pessoas. Duração: cerca de uma semana. Convalescença Nessa fase as feridas começam a secar e não há mais risco de contágio. Duração: cerca de três semanas. 30 Revista do Idec | Outubro 2007 cidades têm uma resistência menor à varicela”, avalia. “Soma-se a isso o fato de a doença se manifestar de uma forma muito mais intensa em adultos, e o resultado são óbitos causados por complicações da catapora”, complementa. De acordo com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), em 2005 foram registradas 32 mortes por varicela no Estado de São Paulo. Nem todos os médicos defendem a aplicação da vacina em toda a população. “Ela tem de estar disponível para a população de risco, como as que têm imunodeficiência, mas não precisa ser levada a toda a população saudável, já que a varicela é uma doença benigna, normal da infância”, diz Eliseu Alves Waldman, do departamento de epidemiologia da Universidade de São Paulo. “Quando você faz uma vacinação maciça, altera todo o comportamento da doença na comunidade e não sabe os resultados disso. Pode haver, por exemplo, um aumento do número de casos de varicela em adultos, que são os que desenvolvem a doença de uma forma muito mais intensa”, avalia. Segundo informações do Ministério da Saúde, a vacina contra a varicela é disponibilizada para os Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIEs) das secretarias de saúde dos estados, para uso em indivíduos de qualquer idade que apresentem maior risco de desenvolver as formas graves da doença. O Ministério inclui nesse grupo pacientes com leucemia e tumores malignos; profissionais da saúde e familiares que estejam em convívio com pacientes imunocomprometidos; pessoas suscetíveis à doença que serão submetidas a transplantes de órgãos; e HIV positivos, entre outros. REATIVAÇÃO Quem já teve varicela uma vez na vida não corre mais o risco de desenvolvê-la. No entanto, o vírus fica para sempre hospedado em alguma terminação nervosa do organismo e o indivíduo pode desenvolver, geralmente na velhice ou quando tem uma queda grande da imunidade, o chamado herpes-zóster. A doença é caracterizada pelo aparecimento de manchas vermelhas semelhantes às da varicela e muita dor em uma área específica do corpo, onde o vírus se alojou. Mas o herpes-zóster é tratável e não deixa seqüelas. Informações desfocadas Os preços de lentes para óculos variam em até 264% em São Paulo. Faltam informações sobre marca e qualidade, e atendentes estão despreparados para ir além da escolha da armação O mercado de óticas movimenta cerca de R$ 8 bilhões por ano, nas mais de 23 mil lojas espalhadas pelo país. Do total, quase R$ 3 bilhões vêm da venda de lentes simples e multifocais, ficando o restante para o comércio de armações, óculos de sol e acessórios. Mas se a representatividade no faturamento é grande, a importância dada ao produto por lojistas e consumidores é bem menor do que deveria ser. Além das questões estéticas, os óculos respondem pela preservação da saúde ocular e, por isso, precisam ter lentes adequadas à prescrição médica. De acordo com a Associação Brasileira de Produtos e Equipamentos Óticos (Abiótica), a quase totalidade dos lojistas afirma que a qualidade do produto e o bom atendimento são prioritários para garantir as vendas. No entanto, a prioridade das lojas é informar sobre armações, sobre o último lançamento, sobre a tendência da estação. Quando a questão é a qualidade das lentes ou o porquê do preço – muito maior ou menor do que em outros estabelecimentos –, não há informação suficiente. A maioria dos atendentes não sabe – ou parece não saber – com que produto trabalha e chega a confundir a marca do laboratório que faz a montagem das lentes com a marca do fabricante. Nesse ponto, as óticas desrespeitam o artigo 6o do Código de Defesa do Consumidor (CDC), que estabelece como direito básico “a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta (...) de características, composição, qualidade e preço”. Essas são as constatações do Idec, que percorreu vinte óticas paulistanas entre 12 e 17 de PHOTOS.COM ARQUIVO PESSOAL DICAS setembro. Um técnico do Instituto, com uma receita verdadeira e uma armação própria, visitou lojas em todas as regiões da capital, identificando-se apenas como consumidor. Como a variedade de lentes no mercado é imensa, buscamos o preço das mais tradicionais: as acrílicas simples e as de policarbonato simples. Nas acrílicas, a variação encontrada entre a mais barata e a mais cara foi de 233%. As mais em conta foram encontradas em loja da zona leste, por R$ 24, da marca Essilor (grupo francês, dono também das marcas Varilux, Crizal e Airwear). As mais caras, por R$ 80, encontramos Principais problemas de visão ● Astigmatismo: falta de nitidez para longe e para perto. Pode provocar dores de cabeça, sensação de ardor nos olhos e lacrimejamento. ● Hipermetropia: dificuldade para ver objetos próximos. Pode causar dor de cabeça, sensação de peso ao redor dos olhos, vermelhidão e lacrimejamento. ● Miopia: dificuldade para ver objetos distantes. Pode ser transmitida geneticamente, mas também é influenciada por fatores ambientais. ● Presbiopia: também conhecida como vista cansada, é o enfraquecimento do poder de acomodação para a visão de perto. O problema é evidente, em geral, após os 40 anos. Revista do Idec | Outubro 2007 31