os impactos na economia de uma taxa de juros elevada

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OS IMPACTOS NA ECONOMIA DE UMA TAXA DE
JUROS ELEVADA
ASSESSORIA ECONÔMICA
FEVEREIRO/2003
2
ÍNDICE
SUMÁRIO
3
1. BREVE HISTÓRICO
5
2. AS CAUSAS DA TAXA DE JUROS ALTA
8
3. AS CONSEQUÊNCIAS
12
4. CONCLUSÃO
16
3
SUMÁRIO
A análise da economia brasileira nos últimos 30 anos pode ser feita a partir de três
intervalos. O primeiro, que abrange toda a década de 70 é caracterizado por um período
de grandes investimentos do setor público dentro do II PND, processo este conhecido
como substituição de importações. Nestes anos, apesar de uma taxa de juros média de
30% ao ano, o PIB crescia 8,7% em média.
O segundo choque do petróleo foi o marco do segundo período aqui considerado,
que inicia-se em 1980 e se estende até o 1994. Durante estes 15 anos, o país encontrou
muitas dificuldades no mercado financeiro internacional e experimentou diversos planos
econômicos que não lograram o objetivo desejado, a estabilização de preços. Durante
este período a taxa de juros mínima foi de 15% ao ano, tendo chegado a 82% ao mês em
fevereiro de 1990, às vésperas do Plano Collor I . O impacto sobre a atividade econômica
desta política de juro alto fica evidente quando se analisa o comportamento do PIB, que
teve crescimento de apenas 2,4% ao ano.
O Plano Real foi o único a conseguir estabilizar os preços por um período maior de
tempo mas, cabe salientar, o setor público ainda não estava preparado para esta situação
macroeconômica. A constituição de 1988 produziu uma estrutura distorcida de
arrecadação e de gastos para o governo que foi durante muito tempo mascarada com a
alta taxa de inflação. Na medida em que não contava mais com o imposto inflacionário, as
contas do setor público passaram a apresentar déficits sucessivos.
Os primeiros cinco anos de estabilização tiveram um custo alto para a sociedade.
Por conta do desequilíbrio das contas públicas e do processo de reestruturação da dívida
dos estados, a dívida mobiliária federal interna passou de R$ 50 bilhões em 1994 (8%) do
PIB para R$ 376 bilhões em 1999 (62% do PIB). É claro que a manutenção de uma taxa
de juros elevada, como forma de possibilitar a atração de investimento estrangeiro, e o
reconhecimento de esqueletos, também contribuiu para o aumento desta dívida.
Mesmo assim, nos primeiros anos do Plano Real o governo ainda podia contar com
financiamento internacional para equilibrar as contas externas porém, após a sequência
de crises financeiras (México, Ásia e Rússia), o crédito externo ficou restrito, e não havia
outra alternativa que não trocar a âncora cambial pela monetária.
Neste momento já era evidente a necessidade de controle do gasto público, e a
alternativa encontrada foi a Lei de Responsabilidade Fiscal. Porém, esta atacou apenas
parte do problema, o gasto com pessoal na ativa, restando ainda sanear o déficit da
4
previdência social (INSS mais previdência do setor público), sob pena de ter sido em vão
todo o custo de estabilização de anos anteriores. Cabe salientar que o déficit da
previdência era da ordem de 3% do PIB em 1995, atingindo 5,5% no ano passado, um
total de R$ 71,7 bilhões.
As consequências para a economia de taxas de juros tão altas são as piores
possíveis. Em primeiro lugar inibe o consumo das famílias, na medida em que encarece a
compra de bens a prazos maiores. Com isto, caem as vendas das empresas que, com
lucros menores reduzem os investimentos, diminuindo a oferta de trabalho presente e
futura. Assim, com o crescimento da população economicamente ativa por outro lado,
tem-se então um aumento da taxa de desemprego, com reflexos negativos imediatos
sobre o bem-estar social. Além do mais, a queda do número de trabalhadores com
carteira assinada reduz a arrecadação da previdência, aumentando ainda mais seu déficit.
O outro impacto sobre a atividade econômica é o encarecimento do crédito direto ao
consumidor e das empresas, o que contribui para o aumento da inadimplência. Além do
mais, uma vez que para os bancos torna-se menos arriscado aplicar em títulos públicos,
estes reduzem a parcela de empréstimo que é destinada à produção e ao consumo. Em
1995 o total de empréstimos à economia era de 36,7% do PIB, percentual este que se
reduziu para 29,5% em 2002.
A política de juros altos também impacta negativamente o desempenho do setor
agrícola, na medida em que aumenta o custo de manutenção, por parte do governo, de
programas especiais de incentivo ao setor, como por exemplo o MODERFROTA. Desta
forma, quando há um aumento dos juros, o governo não apenas revisa os prazos, mas
também a taxa de juros para empréstimo.
Há duas alternativas para o governo interromper este círculo vicioso. A via mais
fácil seria abandonar a estabilidade de preços, deixando a inflação equilibrar os déficits
orçamentários. Porém, no longo prazo esta medida só agravaria ainda mais a distribuição
de renda no país. A segunda alternativa, mais difícil de ser implementada, porém de
resultados mais consistentes, seria a reforma da estrutura de receita e gastos do Estado,
ou seja, a reforma tributária e previdenciária. Assim, o governo encontrará espaço para ao
mesmo tempo reduzir a dívida interna como percentual do PIB e a taxa de juros.
5
1. BREVE HISTÓRICO
A análise do comportamento da taxa de juros no Brasil nos últimos trinta anos pode
ser feita a partir de uma divisão histórica em três períodos. O primeiro, abrange toda a
década de 70 onde, mesmo com uma taxa de juro média anual ao redor de 30%, a
economia brasileira crescia de forma rápida tendo o PIB apresentado uma taxa média de
crescimento de 8,7% ao ano, como pode ser visto nos dois gráficos abaixo.
Evolução da Taxa de Juros
Evolução do PIB Brasileiro
170
90
150
70
1º Período
3º Período
1º Período
60
Índice do Produto Real
Taxa de Juros Overnight - % ao mês
80
50
2º Período
40
Plano Real
30
20
10
130
3º Período
110
90
4º Período
70
50
2000
1998
1996
1994
1992
1990
1988
1986
1984
1982
1980
1978
1976
1974
1972
30
1970
Jan-03
Jan-01
Jan-99
Jan-97
Jan-95
Jan-93
Jan-91
Jan-89
Jan-87
Jan-85
Jan-83
Jan-81
Jan-79
Jan-77
Jan-75
0
Fonte: FGVDADOS
Mas, vale destacar, a conjuntura econômica internacional e nacional aquele
momento era bastante diversa da que se coloca hoje, e dentre os fatores que contribuíam
para que o país pudesse conjugar uma taxa de juros neste patamar com crescimento
acelerado pode-se destacar:
a) a disponibilidade de recursos no mercado de capitais internacionais,
principalmente para o Brasil;
b) A menor vulnerabilidade das contas externas do país;
c) O baixo nível de endividamento interno dos Governos Federal, Estadual e
Municipal;
d) O processo de substituição de importações;
O segundo momento abrange o período que vai de 1980 estendendo-se até o final
de 1994. Durante estes quinze anos, o país experimentou sete Planos econômicos, quais
sejam:
Plano Cruzado I em fevereiro de 1986
6
Plano Cruzado II em junho de 1987
Plano Verão I em janeiro de 1989
Plano Verão II em maio de 1989
Plano Collor I em março de 1990
Plano Collor II em janeiro de 1991
Plano Real em julho de 1994
Este intervalo é caracterizado não apenas por turbulências no cenário
internacional como pela segunda crise internacional do petróleo, o default da dívida
externa de economias em desenvolvimento (México, Brasil, Argentina, Venezuela dentre
outros) e a guerra do Golfo, que impactaram fortemente o fluxo de capitais para o Brasil e
a evolução da taxa de câmbio, mas também por problemas no cenário político e
econômico nacional, como a constituição de 1988 e o conturbado impeachment do
Presidente Collor em 1992.
Todas estas turbulências foram refletidas nas variáveis macroeconômicas internas,
com a taxa de inflação e de juros oscilando bruscamente. Como pode ser visto no gráfico
anterior, sempre às vésperas da implementação de algum plano econômico os juros
apresentavam uma tendência de alta. Assim ocorreu em janeiro de 1986, antes do
Cruzado I, quando os juros eram de 16% ao mês, em maio de 1987 quando os juros
estavam em 24%, em dezembro de 1988 com 30% e março com 20%, e o recorde de
fevereiro de 1990 às vésperas do Plano Collor I, quando os juros chegaram a 82% ao
mês.
O efeito desta oscilação brusca da taxa de juro sobre o desempenho da economia
é nítido quando se analisa o índice do Produto Real que apresentou forte oscilação nestes
anos, tendo conjugado queda na atividade que chegou a -4,3% como em 1981 e 1990,
com um crescimento de 7,9% em 1985. Vale ressaltar que, durante este período, a taxa
média de crescimento anual do PIB brasileiro foi de apenas 2,4%.
De todos estes planos econômicos apenas o Plano Real logrou o objetivo
desejado, que era a estabilização de preços. Todos os demais planos conseguiram
apenas uma queda temporária da taxa de inflação.
Assim, o terceiro período aqui analisado compreende todos os 8 anos do Plano
Real, onde a inflação ao consumidor anual média foi de 9,4%, e a taxa de juros anual
média de 23,5%. Durante o Plano Real, a atividade econômica, medida pelo PIB, teve um
desempenho modesto, com crescimento anual médio de apenas 2,32%.
7
Porém, aqui fica uma questão. Por que o país cresceu durante os anos de
estabilização (Plano Real) a uma taxa próxima ao período mais conturbado para o
economia brasileira (década de 80), quando justamente encontrava um ambiente mais
favorável?
O Plano Real teve dois momentos distintos. Entre 1994 e 1998, a estabilização dos
preços era mantida a partir de uma maior oferta de produtos externos no mercado interno,
ancorada em uma taxa de câmbio valorizada. Era a chamada âncora cambial.
Nestes anos, as importações superaram em muito as exportações gerando
grandes déficits comerciais para o país. Além do mais, este câmbio artificial impulsionava
também os gastos com serviços no exterior (viagens, remessa de lucros dentre outros).
Para financiar estas compras externas, o Brasil contava com grandes somas de
investimentos diretos, que tinham como destino principalmente as privatizações que
estavam em curso. De outro lado, para manter este fluxo, os títulos do governo pagavam
uma taxa de juros elevada para atrair o investidor, como forma de compensar o risco país.
Assim, durante os quatro primeiros anos de estabilização, a economia cresceu 4% em
média ao ano.
Porém, este modelo se esgotou em 1999 e o governo foi obrigado a flexibilizar a
taxa de câmbio. Como forma de evitar um descontrole de preços, escolheu-se a política
monetária como ferramenta de controle da inflação. Optou-se pela âncora monetária,
fundamentada no sistema de metas de inflação, que é utilizado até hoje.
Desta forma, o governo fixa uma meta para os próximos anos e esta é perseguida
através da taxa de juros. Sendo assim, se há uma expectativa de inflação acima da meta
no futuro, o governo aumenta o juro no presente para corrigir esta distorção. Esta política
resultou em uma taxa de crescimento média de 2% entre 1999 e 2002.
A maior seletividade por parte dos investidores internacionais e a existência de um
parque industrial já constituído, principalmente em relação à indústria de bens de capital
justificam, em parte, a menor taxa de crescimento da economia brasileira nos anos 90.
Mas, há também que se atentar para a existência de questões estruturais que não
apenas inibem o crescimento atual, mas que significam também uma taxa de risco maior
para o investidor externo, que reduz sua parcela de investimentos diretos no país.
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2. AS CAUSAS DA TAXA DE JUROS ALTA
A dificuldade encontrada atualmente pelo governo federal em reduzir a taxa de
juros está relacionada principalmente ao desequilíbrio das contas públicas. A constituição
de 1988 produziu uma estrutura distorcida de arrecadação e de gastos para a União,
Estados e Municípios que foi durante muito tempo mascarada com a alta taxa de inflação.
Quando da implementação do Plano Real, o descontrole do gasto público veio à
tona, da mesma forma que ficou evidente a fraca dinâmica de arrecadação dos estados
que é muito dependente da atividade econômica e com restrita base de incidência.
Enquanto o governo federal conseguia financiar o déficit das contas externas com
investimento direto ou de portfólio, o déficit primário (receitas fiscais menos gastos) não
preocupava os financiadores desta dívida. Porém, a crise da Ásia e da Rússia limitou a
disponibilidade de recursos para o país e as pressões internas obrigaram o governo a
mudar a política de âncora cambial pela âncora monetária.
A partir deste momento, com 5 anos de estabilidade dos preços, tornava-se
evidente para a sociedade a necessidade de controlar os gastos públicos, estratégia
implementada com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Porém, à esta altura a dívida
pública interna já tinha crescido substancialmente, passando de R$ 50 bilhões no início de
1995 para R$ 376 bilhões em dezembro de 1999, como pode ser visto na tabela abaixo.
Cabe salientar que este foi o preço pago pela estabilidade. É claro que outros fatores
também contribuíram decisivamente para elevar a DPMFi, como a renegociação de
dívidas com os estados, o reconhecimento de dívidas antigas (os esqueletos) e a
manutenção de uma política de juros altos.
DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL INTERNA
R$ milhões
Títulos
Janeiro de 1995 Dezembro de 1999
LTN
2.414,70
39.716,56
LFT
13.332,39
151.128,12
NTN-C
830,60
NTN-D
7.391,70
27.346,06
Demais
26.348,71
157.944,29
Total
49.487,50
376.965,62
Fonte: Tesouro Nacional
A Lei de Responsabilidade Fiscal conseguiu resolver em parte os problemas das
contas públicas justamente por controlar e regular os gastos com pessoal ativo. Mas,
9
cabe salientar, faltou a reforma da parte dos gastos que está relacionada com inativos,
tanto da previdência pública quanto da previdência do setor público.
E este é um dos grandes gargalos da economia brasileira hoje, justamente por
significar uma necessidade de financiamento de longo prazo da União, Estados e
Municípios e com tendência crescente.
Como pode ser visto na tabela abaixo, durante o ano de 2002 tanto a previdência
pública (INSS) quanto a previdência do setor público, apresentaram déficits elevados,
totalizando R$ 71,7 bilhões, com destaque para esta última, que teve um déficit de R$
54,7 bilhões.
CONTAS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL (R$ bilhões)
Regime Geral INSS
Previdência dos Serv. Públicos
União
Estados
Municípios
Total
Fonte: IPEA
1995
(0,40)
(19,20)
(13,20)
(4,90)
(1,10)
(19,60)
2001
(12,80)
(48,60)
(24,40)
(21,00)
(3,20)
(61,40)
2002
(17,00)
(54,70)
(29,50)
(21,90)
(3,30)
(71,70)
2003
(19,50)
(56,80)
(30,60)
(22,80)
(3,50)
(76,30)
Para o ano de 2003, projeta-se um aumento deste déficit em mais R$ 4,6 bilhões,
atingindo então R$ 76,3 bilhões, sendo que a União responderá por 40% deste déficit, ou
seja, R$ 30,6 bilhões.
Como pôde ser visto, os motivos que fazem com que o governo não consiga
reduzir a taxa de juros de curto prazo estão intimamente ligados à sua estrutura de gastos
e ao perfil de sua dívida interna. Cabe salientar que o percentual desta dívida em relação
ao PIB, 56% em 2002, ainda está muito aquém daquele verificado em outros países,
como pode ser visto na tabela abaixo.
DÍVIDA PÚBLICA COMO PERCENTUAL DO PIB
Japão
Estados Unidos
Reino Unido
Alemanha
França
Itália
Canadá
Fonte: OCDE
1992
59,3
74,1
49,4
41,8
44,7
116,1
110,3
1995
76,2
74,5
61,1
57,1
59,3
123,1
120,6
1999
105,3
65,3
57
60,6
65
116,6
111,6
2001
118,6
54,6
50,7
57,8
63,6
108,3
100,5
10
Na verdade, o grande problema do Brasil está no perfil de sua dívida interna.
Enquanto os governos de países desenvolvidos conseguem financiar estas a prazos
maiores, 20 ou 30 anos em média, e pagando juros menores, no Brasil este prazo é muito
reduzido, cerca de 33 meses.
VENCIMENTOS DE DÍVIDA INTERNA
Em 1 ano
Em R$ Bilhões
(%)
LTN
13,16
96,77%
LFT
183,15
48,80%
Cambiais
43,36
31,09%
Outros
0,98
0,25%
Total
240,65
43,28%
Fonte: Tesouro Nacional. LTN são títulos prefixados, LFT
pós fixados.
Como pode ser visto na tabela, cerca de 43% do total da dívida vence em um ano,
ou seja, R$ 240 bilhões. Deste vencimento total a parte pós fixada responde por 76%, R$
183 bilhões sendo que, do total dos títulos pós fixados, 49% vence no prazo de 1 ano.
Os vencimentos em 2003 deverão se concentrar no primeiro semestre, com
destaque para o mês de junho quando vence R$ 27 bilhões de LFT (título pós fixado), tal
como descrito na tabela abaixo.
PERFIL DE VENCIMENTOS DOS TÍTULOS DO GOVERNO
EM PODER DO PÚBLICO – R$ MILHÕES
Meses
LTN
Março
Abril
11.515,00
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Total em 2003
13.178,00
Em 2004
419,00
Fonte: Tesouro Nacional
LFT
16.031,00
12.312,00
22.442,00
27.560,00
25.818,00
19.790,00
9.253,00
7.003,00
11.999,00
3.921,00
183.146,00
51.304,00
Total
19.535,00
32.297,00
27.580,00
30.679,00
31.255,00
22.213,00
12.352,00
8.304,00
12.688,00
5.970,00
239.786,00
93.106,00
Mas não é a apenas o perfil desta dívida que gera problemas de administração por
parte do Tesouro Nacional. Devido à existência de um déficit estrutural que não tem
perspectivas de solução no médio prazo, como é o caso da previdência, então aumentase o risco de o governo não conseguir honrar seus compromissos no futuro. Desta forma,
11
os investidores acabam por pedir juros maiores para carregarem os títulos do governo,
constituindo-se, assim, um piso para a taxa de juros.
A alternativa encontrada pelo governo federal nos últimos anos para tentar
estabilizar a relação dívida/PIB e ganhar credibilidade junto aos investidores, é a
formação de superávits primários (diferença entre a arrecadação e os gastos, sem contar
a despesa com juros). Com isto, o governo consegue resgatar parte da dívida que está
vencendo e pode pagar juros menores.
Porém, na mesma proporção em que aumentam-se os déficits previdenciários,
aumenta-se a necessidade de gerar mais superávit primário, como forma de evitar que o
principal desta dívida se eleve. Se na atual conjuntura o governo não estivesse gerando
superávits primários, então a dívida pública mobiliária federal seria, com certeza, bem
maior do que os atuais R$ 623 bilhões da mesma forma que a taxa de juros estaria bem
superior aos atuais 25,5%.
12
3. AS CONSEQUÊNCIAS
A existência de juros elevados não é uma novidade para a economia brasileira mas
as suas consequências para o lado real da economia têm se agravado nos últimos anos.
No início da década de 90 o setor público pagou, em juros reais, conta conhecida
como Necessidade de Financiamento do Setor Público, o equivalente a 2,9% do PIB,
percentual este que se elevou para 7,42% em 1998 por conta da política cambial, e
reduziu-se posteriormente para 5,07% em 2001.
Mesmo assim, o valor total de juros pagos em dólares no ano de 2001 US$ 25,5
bilhões, representou mais do dobro do valor despendido em 1991, que foi de US$ 11,7
bilhões em 1991, como pode ser visto no gráfico abaixo.
PAGAMENTO DE JUROS DO SETOR PÚBLICO
70
8
60
7
Percentual do PIB
50
40
5
30
EM US$ bilhões
Em Percentual do PIB
EM US$ Bilhões
6
4
20
3
10
2
0
1991
1992
1993 1994
1995
1996 1997
1998 1999
2000
2001
Fonte: IPEA
O primeiro impacto desta política ocorre diretamente sobre a atividade econômica.
Como dito anteriormente, a taxa de crescimento do PIB no Brasil decaiu nos últimos anos,
como decorrência não apenas da redução dos gastos dos consumidores, mas também
dos investimentos das empresas.
13
TAXA PERCENTUAL DE INVESTIMENTO
29
26.9
Taxa (%) de Investimento
27
25
23
18.8
18.0
21
18.1
19.5
19
2000
1998
1996
1994
1992
1990
1988
1986
1984
1982
1980
1978
1976
1974
1972
1970
17
Fonte: FGVDADOS
Com uma taxa de juros alta, os custos financeiros das empresas e dos
consumidores aumentam, trazendo consigo a inadimplência. Diante disto, os bancos são
obrigados a elevarem a taxa de juros para empréstimos como forma de compensar este
risco. O resultado imediato deste movimento é a redução dos empréstimos concedidos
pelo sistema financeiro, como pode ser visto na tabela abaixo.
COMPORTAMENTO DO CRÉDITO NO BRASIL
Em R$ Bilhões
1995
1999
2002
PIB
Empréstimos
646,19
237,50
973,85
285,78
1.277,85
377,82
(%)
36,75%
29,35%
29,57%
Fonte: Banco Central
No início do Plano Real, o volume de empréstimos era da ordem de R$ 237
bilhões, cerca de 36,7% do PIB. Este percentual foi reduzido para 29,5% em 2002, um
dos menores em relação ao PIB nos últimos anos. Com menos empréstimos, há menores
gastos dos consumidores, as vendas das empresas caem, e o resultado disto é uma
menor geração de emprego na economia.
14
Como pode ser visto na tabela abaixo, o número de pessoas de 15 anos ou mais
que estavam fora do mercado de trabalho passou de 651 mil para 1,3 milhão, entre 1991
e 2002. Assim, com um aumento da oferta de vagas que não acompanha o aumento da
população economicamente ativa, tem-se uma elevação da taxa de desemprego, que
passou de 4,1 em 1991 para 7,1% no ano passado.
EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA OCUPADA E
DESOCUPADA E TAXA DE DESEMPREGO
Ocupada Desocupada
14.970.251
651.179
16.214.077
754.814
16.828.276
1.119.344
17.686.070
1.360.350
1991
1995
1999
2002
(%)
4,17%
4,45%
6,24%
7,14%
Fonte: IBGE
Outro reflexo de uma política de juros elevada é a queda nas vendas da indústria
de bens de capital, como reflexo da redução nos investimentos, e de consumos de bens
duráveis, que possuem um valor agregado maior e são, em sua maioria, financiados a
prazos mais longos. Como pode ser visto nos dois gráficos abaixo, durante a década de
90 a atividade da indústria de bens de capital esteve muito aquém da verificada na
primeira metade da década de 80, tendo apresentado quedas expressivas de –15,4% em
1990 e –9% em 1999.
DESEMPENHO DA INDÚSTRIA
Bens de Consumo Duráveis
Bens de Capital
15%
10%
25%
12.38%
20%
8.57%
18.75%
15.62%
0.25%
0%
-1.05%
-5%
-6.86%
-10%
-9.09%
Taxa de Variação
Taxa de Variação
14.48%
15%
5%
10%
5%
2.75%
0%
-5%
-5.79%
-15%
-10%
-15.49%
-9.29%
-13.02%
-15%
-20%
1980
1985
1990
1992
1995
1999
2002
1980
1985
1990
1992
1995
1999
2002
Fonte: FGVDADOS
Comportamento semelhante pode ser visualizado na indústria de bens de consumo
duráveis, onde o único momento em que esta teve um taxa de crescimento comparável
com o início da década de 80 foi em 1995, logo após a implementação do Plano Real, que
15
produziu ganhos de renda expressivos para a população. Nos anos seguintes, esta
indústria seguiu apresentando taxas de crescimento baixas ou até negativas, com
destaque para a queda de 9% em 1999.
A política de juros altos também impacta negativamente o desempenho do setor
agrícola, na medida em que aumenta o custo de manutenção, por parte do governo, de
programas especiais de incentivo ao setor1. Desta forma, quando há um aumento dos
juros, o governo não apenas revisa prazos, mas também a taxa de juros para empréstimo.
PROGRAMAS COM JUROS FIXOS
DESEMBOLSOS DO BNDES EM R$ MILHÕES
Ano
Linha Especial Moderfrota
Total
1996
1997
97,5
97,5
1998
451,2
451,2
1999
901,9
901,9
2000
312,4
1171,9
1484,3
2001
79,3
1699,9
1779,2
Fonte: BNDES
CUSTO DOS EMPRÉSTIMOS
COM O DIFERENCIAL DE TAXAS DE JUROS
(FLUTUANTE MENOS FIXO)
40%
35%
Em (%) ao ano
30%
25%
20%
15%
10%
5%
Jun-02
Dec-01
Jun-01
Dec-00
Jun-00
Dec-99
Jun-99
Dec-98
Jun-98
Dec-97
Jun-97
Dec-96
Jun-96
Dec-95
Jun-95
Dec-94
0%
Fonte: Banco Central e IPEA. Medido pela diferença entre a Selic e a TJLP
16
4. CONCLUSÕES
O atual cenário econômico internacional e nacional, além da estrutura de
arrecadação e gastos da União, Estados e Municípios, o estoque da dívida pública
mobiliária federal interna, seu perfil de vencimentos e a dependência de investimentos
externos para financiar os déficits do Balanço de Pagamentos, constituem-se no principal
entrave para o governo no que diz respeito à política monetária.
Desta forma, independentemente de qual seja a ideologia que forme o partido
político do Governo Federal, não há outra alternativa para a autoridade monetária que não
a manutenção de juros elevados para manter a estabilidade de preços.
Os efeitos desta política sobre o lado real da economia são os mais perversos
possíveis, com aumento do custo dos empréstimos para pessoas físicas e jurídicas, da
inadimplência, queda do investimento, redução das vendas das indústrias, aumento da
taxa de desemprego, maior desembolso no pagamento de juros que gera a necessidade
de redução de gastos correntes (gerar superávits primários) para fazer frente a este
aumento do gasto dos juros, como forma de manter estável a relação dívida/PIB. Assim, o
governo é obrigado a reduzir o investimento em infra-estrutra, o que acarreta um
desaqucimento maior da produção nacional. Allém do mais, também reduz os gastos
socias, aumentando a desigualdade da distribuição da renda.
Há duas alternativas para o governo interromper este círculo vicioso. A via mais
fácil seria abandonar a estabilidade de preços, deixando a inflação equilibrar os déficits
orçamentários da União, Estados e Municípios. Porém, no longo prazo esta medida só
agravaria ainda mais a distribuição de renda no país. A segunda alternativa, mais difícil de
ser implementada, porém de resultados mais consistentes, seria a reforma da estrutura de
receita e gastos do Estado, ou seja, a reforma tributária e previdenciária. Assim, com o
equilíbrio orçamentário, o governo encontrará espaço para ao mesmo tempo reduzir a
dívida interna como percentual do PIB e a taxa de juros.
18 de Fevereiro de 2003
Assessoria Econômica
1
Alguns programas especiais existentes no BNDES: PRONAF, PROPASTO, PROSOLO, PROLEITE, PROFRUTA,
ARMAZENAGEM, PRODECAP dentre outros. Dentre os programas com juros fixos destaca-se o MODERFROTA,
criado em 2000.
17
OS IMPACTOS NA ECONOMIA DE UMA TAXA DE
JUROS ELEVADA
EQUIPE TÉCNICA:
ASSESSORIA ECONÔMICA
ECON. IGOR ALEXANDRE C. MORAIS
ECON. JEFERSON LUIS BITTENCOURT
ECON. ALEXANDRE ENGLERT BARBOSA
NÚCLEO ESTATÍSTICO
ECON. FÁBIO ALTHAUS
ECON. VANESSA ZANIOL FRAINER
ECON. RICARDO FILGUERAS NOGUEIRA
18
DIRETORIA FIERGS
GESTÃO 2002/2005
Presidente
FRANCISCO RENAN ORONOZ PROENÇA
Vice-presidentes
Ademar De Gasperi
Bolivar Baldisserotto Moura
Enio Lucio Schein
Humberto César Busnello
José Antonio Fernandes Martins
Valayr Hélio Wosiack
Diretores
Diretores-secretários
Antônio Agostinho Salton
Antônio Cristóvão Kipper
Aristides Inácio Vogt
Ayrton Luiz Giovannini
César Rangel Codorniz
Cláudio Affonso Amoretti Bier
Claudio Laureno Henn
Élio Jorge Coradini
Fernando José Ruschel Justo
Geraldo Pinto Rodrigues da Fonseca
Gilberto De Zorzi
Gilberto Porcello Petry
Heitor José Müller
Jairton Krüger Russo
Jandir Antonio Cantele
João Francisco Müller
João Vieira de Macedo Júnior
José Claudio Silva dos Santos
Lino Vilson Hermann
Marcos Odorico Oderich
Mauro Dante Aymone Lopez
Nilso Fortunato Guidolin
Paulo Roberto Schefer
Pedro Alberto Tedesco Silber
Raul Heller
Rogerio Joaquim Tondo
Theo Bonow
Thômaz Nunnenkamp
Torquato Ribeiro Pontes Netto
Torvaldo Antonio Marzolla Filho
Werner Arthur Müller
Paulo Müller
Oscar Alberto Raabe
Frederico Martin Gunnar Dürr
Diretores-tesoureiros
Arildo Bennech Oliveira
Gilberto Ribeiro
Murilo Lima Trindade
Conselho Fiscal
Adolf Erwin Gerhard Goldberg
Helvio Jobim Filho
Joni Alberto Matte
Irineu Boff
Josoé de Almeida Rostirolla
Lena Maria Borges Martins
Delegados representantes junto à CNI
Francisco Renan Oronoz Proença
Dagoberto Lima Godoy
Ademar De Gasperi
Enio Lucio Schein
19
DIRETORIA CIERGS
GESTÃO 2002/2005
Presidente
FRANCISCO RENAN ORONOZ PROENÇA
Vice-presidentes
Attilio Bilibio
Astor Milton Schmitt
Érico da Silva Ribeiro
Luis Roberto Andrade Ponte
Nestor Herculano de Paula
Paulo Gilberto Fernandes Tigre
Vice-presidentes regionais
André Meyer da Silva
Antônio Roso
Bruno Artur Fockink
Egon Édio Hoerlle
Gaudêncio da Costa
Haroldo Roedel
João Ernesto Rothfuchs de Barcellos
João Paulo Reginatto
Pedro Antônio Garcia Leivas Leite
Valdir Turra Carpenedo
Diretores
Alexandrino de Salles Ramos de Alencar
André Loiferman
André Vanoni de Godoy
Breno Micheletto Verlangieri
Carlos Bertuol
Carlos Roberto Pires Pôrto
Carlos Weinschenck de Faria
Claudino João José Simon
Dirceu Gilmar Pezzin
Eduardo Silva Logemann
Ernesto Otto Saur
Flavio Haas
Geraldo Ribeiro do Valle Haenel
Gilberto Pereira de Moraes
Gilberto Soares Machado
Idir Paludo
Israel Marins Tevah
Jim Martinez
Jorge Luiz Buneder
Jorge Homero Gonçalves da Silva Coelho
José Alfredo Laborda Knorr
José Luiz Bozzetto
Oswaldo Sergio Ferreira Beck
Renato Kunst
Ricardo Lins Portella Nunes
Roberto Tinoco
Valdir Agostinho Bedin
Diretores-secretários
Manfredo Frederico Koehler
Mario Jose Zamprogna
Nelson Brochmann
Diretores-tesoureiros
Ervino Ivo Renner
Carlos Batista da Silva
Carlos Alexandre Geyer
Conselho Fiscal
Ernani Reuter
Hugo Scipião Ferreira Júnior
Mário Luís Renner
Gilberto da Silva Consoni
Guido Mário D’Arrigo
Marco Aurélio Vieira Paradeda
20
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