Quais são as evidências científicas para o tratamento do paciente assintomático com SAOS? Simone Fagondes Hospital de Clinicas de Porto Alegre LabSono – Porto Alegre Conflitos de interesse - Remuneração por palestras para Astrazeneca, Biomarin Philips, Genzyme e ResMed - Remuneração por consultoria em pesquisas clínicas Biomarin, Genzyme - Recebimento de equipamentos para realização de pesquisas clínicas ResMed e Vitalaire Como definir o que é um paciente com SAOS assintomático ? 1 - O espectro clinico da SAOS é muito amplo - A relação IAH e a presença de sintomas não é tão linear... - Estima-se que aproximadamente 30% dos pacientes sejam assintomáticos (Young T, Am J Resp Crit Care Med 2002) Caso clinico ESF, fem, branca, 56 anos, professora MC: paciente hipertensa encaminhada pelo cardiologista avaliar o sono HDA: paciente com relato de ronco intermitente desde a adolescência, nega apneias observadas dorme da 1: 30 h as 10 h. Acorda bem e não apresenta sonolência diurna (ESE-BR 9 pontos), mas refere cansaço para desempenhar as suas atividades diárias alguma dificuldade de memória nos últimos anos HAS em uso de hidroclortiazida e losartana menopausa aos 52 anos amigdalectomia ao 12 anos Caso clínico Ao exame: Normotensa no dia da avaliação IMC: 29.3 Kg/m2 Circunferência cervical: 38 cm Mallampati modificado III STOP-BANG- 3 Polissonografia IAH= 42.4 eventos obstrutivos/h de sono média de SpO2 95%; nadir de 76% índice de dessaturação: 23 dessat/h de sono SpO2 < 90% por 20% do tempo total de sono 2 Apneia Obstrutiva do Sono Fragmentação do sono - - Alterações hemodinâmicas SaO2 CO2 Hipóxia intermitente cíclica Consequências da SAOS 1. Consequências Cardiovasculares e Metabólicas 2. Consequências Neurocognitivas Sonolência diurna excessiva HAS Acidentes de trânsito e no trabalho Hpertensão pulmonar Déficit cognitivo / Demência Arritimia Cardíaca Depressão Cardiopatia isquêmica Piora da qualidade de vida Aterosclerose ICC AVC 3. Outras consequências Mortalidade Complicações pós-operatórias Morte súbita Disfunção erétil Diabetes Esteatose hepática Síndrome metabólica … 3 Custos associados com transtornos do sono Diretos Indiretos Agregados Consultas Redução da produtividade Danos provocados pelos acidentes Testes diagnósticos Tratamento Custos para o paciente Faltas Deslocamento para o centro de tratamento Redução qualidade de vida Perdas na educação Custos de saúde Acidentespara o sistema Custo no Redução na tratamento das exacerbações performance diária Custos legais Repercussão psicológica Custos sociais Medicação Inerentes Cuidados ambulatoriais Custos hospitalares Hossain, JL, Shapiro CM. Sleep Breath 2002; 6: 85- 102 • Estudo transversal, 2121 individuos • PSG completa no domicilio (AASM 2012) • Prevalência de AOS (IAH≥ 15) 23.4% mulheres 49.7% em homens • IAH > 20.6 eventos/h foi associado de forma independente com HAS, DM, síndrome metabólica e depressão Heinzer, R 48% homens 40 a 85 anos (mediana 65 anos) IMC= 25.6 Kg/m2 (dp 4.1) Objetivos do tratamento • Controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida (sonolência) • Minimizar as morbidades • Reduzir a mortalidade 4 1651 homens, média 50 anos 667 pacientes graves 10.1 anos de seguimento IAH > 30 eventos/h ou entre 5 e 15 ev/h com sonolência excessiva, policitemia ou insuficiência cardiaca - Relação dose efeito entre gravidade da doença e risco cardiovascular - Tratamento com CPAP melhora, potencialmente, os desfechos cardiovasculares Lancet 2005; 365: 1046-53 A- total B- exclusão de 126 pacientes em uso de CPAP ≥ 4 noites/sem Aumento da mortalidade independente da presença de sonolência diurna Sleep 2008: 31(8): 1071-1078 Qual é o ônus da Apneia do sono ? • Coorte com 10 anos de seguimento • 1700000 indivíduos (49.8% mulheres) • DM II, HAS e depressão são mais prevalentes em pacientes com apneia do sono • Risco cardiovascular aumenta com a idade * Não ajustada para IMC e nível socioeconômico Mokhlesi B, Gozzal D. Eur Resp J 2016: 47: 1162-1169 5 ESE= 8 pontos Indice de dessat= 23.8 54 pacientes 15 controles P= 0.003 AOS= indice de dessaturação > 7.5 dessat/h (4% dessat) Am J Resp Crit Care Med, 2008; 178: 984-988 FMD (dilatação mediada pelo fluxo): avalia a função endotelial Augmentation index: estimativa da rigidez arterial Índice de amplificação (AI) Kohler, M, et al. Chest 2013; 144(3): 896-902 Pós revascularização por doença arterial coronariana IAH ≥15 eventos/h de sono, sem sonolência diurna (ESE < 10) Cpap com pressão flutuante X sem tratamento Desfechos: nova revascularização, IAM, AVC ou mortalidade cardiovascular Redução do risco CV em pacientes usando CPAP ≥ 4 h/ noite 6 Efeito do CPAP na incidência de HAS e eventos cardiovasculares em pacientes com SAOS não sonolentos IAH ≥ 20 eventos/h de sono; ESE < 10 pontos CPAP titulado no laboratório ou pressão flutuante Barbe F, et al. JAMA 2012; 307: 2161-68 Tratamento da apneia não tem um modelo único A agressividade do tratamento deve ser proporcional ao IAH, sem desconsiderar os fatores de risco do paciente Não é só uma questão de IAH! Considerar também Na polissonografia: - Indice de dessaturação - Tempo com SpO2 - Fragmentação do sono Na avaliação clínica - Tempo de evolução (percebida) da doença - Susceptibilidade do paciente (doença cardiovascular, doença metabólica, depressão, prejuízo cognitivo, sonolência) 7 Busca ativa da presença de apneia do sono Obesidade (IMC > 35 kg/m2) Insuficiência cardíaca congestiva Fibrilação atrial HAS refratária a tratamento Arritmias noturnas diagnóstico confirmado DM tipo 2 por testes objetivos e AVC início imediato do tratamento Hipertensão pulmonar Motoristas profissionais Pré- operatório de cirurgia bariátrica LJ Epstein, D Kristo, PJ Strollo et al. Journal of Clinical Sleep Medicine, Vol.5, No. 3, 2009 FUTURO - Tratamento baseado no risco de complicações e não na definição de gravidade exclusivamente a partir do IAH - Identificar fenótipos associados com susceptibilidade aumentada de risco cardiovascular, principalmente em pacientes assintomáticos - Explorar mecanismos que previnam o dano cardiovascular 8 2700 participantes com DAC ou AVC/AIT prévio China, Brasil, India, Espanha, EUA, Australia, Nova Zelandia O tratamento da SAHOS com CPAP previne doença cardiovascular ?? Resultados em 2016 9 SAHOS- conseqüências Cardiovasculares HAS (50% dos pctes com SAHOS são hipertensos) Risco 2x com IAH 5 eventos/hora; 5x com IAH 25 eventos/hora BMJ 2000; 320:479. JAMA 2000; 283:1829 Hipertensão pulmonar Infarto agudo do miocárdio Arritmias cardíacas STOP ≥ 2 + IMC > 35 Kg/m2 + sexo masculino Especificidade 97% para SAOS grave Sleep medicine 2014 SAOS X Complicações pós-operatórias Pacientes com SAOS apresentam risco aumentado de complicações pós-op: Insuficiência respiratória aguda (OD = 2.43) Dessaturação pós-op (OD = 2.27) Eventos cardiovasculares (OD = 2.07) Necessidade de UTI (OD = 2.81) Reintubação (OD = 2.05) Kaw R. British J Anaesthesia, 2012 10 Por que tratar a SAOS ? The Busselton Health Study Sleep 2008;31:1079-85 Artigo efeito da HAS em pcts com SAOS sem sde Artigo frances sobre adesao ao CPAP em pctes sem SDE 11 967 mulheres Seguimento 7 anos IAH >10 RR 2.76 CPAP = controle IAH >10 CPAP IAH <10 Campos-Rodriguez F. AJRCCM 2014 Polissonografia 12 Polissonografia Contras Custo elevado Complexo Potencialmente desconfortável Kushida CA. Sleep. 2005 Collop N. Curr Opin Pulm Med. 2008 Quando indicar uma Polissonografia ? • Para todos que não dormem bem ? NÃO – Capacidade diagnóstica – Custo elevado – Recursos diagnósticos insuficientes Quando indicar uma Polissonografia ? Avaliação de ronco e apnéia obstrutiva do sono (SAOS) Ronco habitual (>3x/sem) ou apnéias observadas Sonolência excessiva (Epworth >10) HAS Obesidade (IMC >30 kg/m2) Circunferência cervical >43 cm H ou > 38cm M Atenção especial: cardiopatia isquêmica, insuficiência cardíaca, arritmias, 2 critérios ou mais = realizar PSG AVC, Epilepsia refratária, depressão, déficit de atenção/hiperatividade, diabetes Titulação de PAP (CPAP/BILEVEL) ASDA: Indications for polysomnography and related procedures. Sleep, 1997 Practice parameters for the indications for PSG. Sleep, 2005 13 Indicações para PSG Controle pré e pós-operatório Controle de outros tratamentos para SAHOS (AIO, cirurgia bariátrica, terapia posicional) Pcte em uso de Cpap com perda/ganho de peso (>10%) Pcte em uso de Cpap com resposta clínica insatisfatória Doenças neuromusculares Pneumopatias crônicas com suspeita de SAHOS ASDA: Indications for polysomnography and related procedures. Sleep, 1997 Practice parameters for the indications for PSG. Sleep, 2005 Quando indicar uma Polissonografia ? Investigação de Sonolência excessiva na suspeita de: SAOS Narcolepsia Hiperssonia idiopática Distúrbio Comportamental do Sono REM Epilepsia durante o sono (VideoPSG + EEG extendido) Quando NÃO indicar uma Polissonografia Insônia (exceto suspeita de causa secundária ou refratária ao tratamento) Sonolência excessiva por: Privação crônica de sono Distúrbio do Ritmo circadiano Síndrome das Pernas inquietas Uso de drogas e medicações Depressão Parassonias NREM – apenas se dúvida diagnóstica, suspeita de SAOS associado ou refratária ao tratamento Reavaliação periódica em pacientes estáveis e com boa resposta ao tratamento 14 Apneia Obstrutiva do Sono SAHOS grave IDR portátil = 5,5 eventos/h Média SpO2 97% mínima 92% Fem, 48 anos, ESS = 11, IMC= 26,7 Kg/m2 Ronco, cansaço, DM, HAS 15 RERA (respiratory effort related arousal) IDR PSG (A + H + RERA) = 15,5 eventos/h Média SpO2 95% mínima 91% 21 microdespertares/h Split-Night Titulação de CPAP/ Bilevel Pcte masculino, 62 anos, IMC 41.5 kg/m2 Circunferência cervical: 56 cm; Circunferência abdominal: 128 cm Bilevel IPAP19 cmH2O e EPAP 13 cmH2O, modo espontâneo 16 Cheynne-Stokes Bigeminismo Epilepsia 59 anos, masc, sonilóquio, sono agitado, sendo tratado para SAOS e distúrbio de movimento durante o sono 17 Movimento de pernas 52 anos, uso de Puran T4 e Sertralina 100mg. Epworth 14, sono agitado. Ronco fraco. Pernas inquietas ? PLMS = 114.5/h IAH = 2.5/h Bruxismo do sono Distúrbio Comportamental do Sono REM 18 Pânico no Sono [email protected] [email protected] Tempo total de registro Tempo total de sono Eficiência do sono % de sono REM Tempo de sono em supina Média SpO2 Mínimo SpO2 Indice de dessaturaçao % SpO2 < 90% Indice de apneias e hipopneias PSG pré-cirurgia (25/11/2012) 318.4 minutos 186.9 minutos 58.7 % 4.3 % 57.8 minutos 92.4 % 82 % 45.6 dessaturações/h de sono 8.2 % 61.3 eventos/h de sono (160 apneias obstrutivas, 14 mistas, 2 centrais e 15 hipopneias) PSG pós- cirurgia (12/04/2013) 466 minutos 377.5 minutos 81 % 7.5 % 79.8 minutos 93.7 % 84 % 1.3 dessaturações/h de sono 1.0% 6.0 eventos/h de sono (16 apneias obstrutivas e 22 hipopneias) 19 Polissonografia portátil PSG tipo 1 vs. tipo 3 (portátil) Kuna ST, 2010 IDR = 79 eventos/h Média SpO2 88%; mínima 55% Masc, 55 anos, IMC= 30,5 Kg/m2 Ronco e apnéias, HAS 20 Apnéia Complexa 21 - Faixa “frouxa” ? Acordado ? Obesidade-hipoventilação IMC 52 Kg/m2 IAH= 9,41 Media SpO2 80% Pico Etco2 98 mmHg Métodos diagnósticos Avaliação clínica Anamnese Exame físico Diário do sono Escalas e Questionários (Escala de Epworth, Berlim, Stanford, PSQI, etc ) 22