Taizi Rodrigues Costa Neoplasia Testicular: Relato de Caso Salvador/BA 2016 Taizi Rodrigues Costa Neoplasia Testicular: Relato de Caso Monografia apresentada como requisito para conclusão do Curso de Pós-Graduação, Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, do Centro de Estudos Superiores de Maceió, da Fundação Educacional Jayme de Altavila, orientada pelo MSc Daniela Santos Almeida. Salvador/BA 2016 Taizi Rodrigues Costa Neoplasia Testicular: Relato de Caso Monografia apresentada como requisito para conclusão do Curso de Pós-Graduação, Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, do Centro de Estudos Superiores de Maceió, da Fundação Educacional Jayme de Altavila, orientada pelo MSc Daniela Santos Almeida. . Salvador/BA, 05 de maio de 2016 Orientadora – MSc. Daniela Santos Almeida Salvador/BA 2016 RESUMO O presente trabalho relata um caso de sertolioma associado a seminoma em um cão da raça Husky Siberiano de doze anos de idade. No exame clínico foi constatada aumento de volume do testículo direito e atrofia do testículo esquerdo. Foi realizado o exame citopatológico que confirmou a suspeita de sertolioma. O tratamento foi feito realizando retirada cirúrgica dos dois testículos e a classificação da neoplasia com o exame histopatológico. . Palavras-chave: Testículo, sertolioma, seminoma. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................................................2 Função Testicular ................................................................................................................... 2 Células de Sertoli .................................................................................................................... 3 Células de Leydig ................................................................................................................... 4 Células Germinativas .............................................................................................................. 4 NEOPLASIAS TESTICULARES ...........................................................................................................5 Generalidades dos tumores testiculares em canídeos ............................................................. 5 Tumor das células Sertoli ....................................................................................................... 6 Seminomas ............................................................................................................................. 7 RELATO DE CASO ................................................................................................................................9 DISCUSSÃO......................................................................................................................................... 10 CONCLUSÃO ...................................................................................................................................... 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................. 12 1 INTRODUÇÃO Tumores testiculares são comuns nos cães e mais recorrentes do que em outras espécies de animais domésticos (Santos et al, 1999; Masserdotti, 2000), em 90% dos relatos o cão é o mais atingido. O aumento da ocorrência de neoplasias tanto benignas como malignas estão associadas a idade avançada dos animais (Hoskins, 2004). Em cães idosos as neoplasias de testículo são comuns, representando a segunda localização mais observada em machos, perdendo apenas para tumores cutâneos (Pliego et al, 2008; Banco et al, 2010; Nodetvet et al, 2010). Na maioria das vezes estes tumores são achados acidentais (Nelson; Couto, 2001). As neoplasias testiculares podem ser classificados em: tumores sexuais do cordão estromal, que incluem tumor das células de Sertoli e de Leydig; tumores de células germinativas, que incluem seminoma, carcinoma embrionário e teratoma; tumores primários múltiplos; mesotelioma; e tumores estromais e vasculares (Maclachlan; Kennedy, 2002). As neoplasias testiculares mais comuns em cães são: tumor das células de Sertoli, tumor das células de Leydig e seminoma. A criptorquidia aumenta 26 vezes o risco de desenvolver tumores de células de sertoli, e é um importante fator de risco para o desenvolvimento de tumores testiculares (Peters et al, 2000). O risco de neoplasias aumenta em testículos retidos, como os tumores de células de Sertoli, e seminoma que pode apresentar um comportamento mais agressivo do que nos testículos escrotais (Marino et al., 2012). Cães com criptorquidismo podem desenvolver tumores precocemente com menos de seis anos de idade. A incidência aumenta de forma progressiva, atingindo mais de 70% dos cães entre 15 e 18 anos de idade (Santos; Alessi, 2010). Seminomas são o segundo tipo mais comum de neoplasia testicular em cães e são mais prevalentes em testículos criptorquídicos do que em testículos normalmente posicionados. Originam-se dos túbulos seminíferos e não produzem hormônios. Essa neoplasia raramente é maligna. A dor, normalmente é causada pela pressão criada pela neoplasia em expansão, pode ser um sinal clínico de apresentação (Carlton, et al. 1998). Sertoliomas podem ser malignos em 10 a 22% dos casos. Os sinais morfológicos da doença maligna são: grande dimensão (> 5 cm), núcleos pleomórficos com nucléolos evidentes, atividade mitótica aumentada, necrose e invasão vascular (Albers et al., 2009). O 2 tumor das células de Sertoli é a terceira neoplasia mais comum no cão, tem comportamento benigno e geralmente não libera metástase. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Função Testicular Os testículos são gônadas duplas, caracterizada por função celular e endócrina, situadas no abdômen na forma embrionária e no escroto na fase adulta. Produzem espermatozoide e hormônios principalmente a testosterona (Wanke; Gobelo, 2006). A maior parte da superfície do testículo está coberta por uma túnica serosa, a túnica vaginal. Por baixo desta cobertura serosa estão a túnica albugínea, uma cápsula de tecido fibroso, branco e denso, e as fibras musculares lisas. O mediastino testicular é central e bem desenvolvido. Este emite septos de tecido conjuntivo que dividem o testículo em lóbulos incompletos. Nestes estão os túbulos seminíferos, que se apresentam como pequenos tubos compostos por duas categorias de células: células de sustentação (Sertoli), responsáveis pelo suporte mecânico, nutrição e diferenciação das células germinativas; e células espermatogênicas (germinativas). No interstício testicular encontram-se células de Leydig, responsáveis pela produção de testosterona (Nascimento; Santos, 2003). A testosterona é secretada pelas células de Leydig em resposta ao hormônio luteinizante (LH). É o principal hormônio produzido pelos testículos, sendo importante para a diferenciação sexual durante o desenvolvimento embrionário e fetal, para o controle da secreção de gonadotropinas e para a espermatogénese (Junqueira; Carneiro, 2004). A activina e inibina são produzidas pelas células de Sertoli, e a testosterona exerce um feedback na pituitária, controlando a secreção de gonadotropinas: LH e hormona foliculoestimulante (FSH) (Johnston et al, 2001). A função testicular normal depende da temperatura e requer um meio com temperatura inferior à temperatura corporal (Cunningham; Kleint, 2009), normalmente os testículos se encontram na bolsa escrotal; quando ocorre falha na descida de um ou ambos os testículos, estes são denominados criptorquídicos. Estes são incapazes de produzir espermatozoides normais mas produzem androgéneos (Junqueira; Carneiro, 2004). 3 Machos com criptorquidismo bilateral são estéreis. Estes testículos têm uma maior probabilidade de sofrerem torção do cordão espermático e dez vezes mais probabilidades de se tornarem neoplásicos (Cunningham; Kleint, 2009). Células de Sertoli As células de Sertoli se comunicam com células adjacentes por junções intercelulares, são elementos somáticos que se localizam próximo à membrana basal dos túbulos seminíferos também conhecidas como células suporte. Possuem uma forma piramidal, envolvem parcialmente as células da linhagem espermatogénica e aderem umas às outras por meio de junções, formando uma barreira denominada de barreira hematotesticular, que separa o epitélio seminífero em compartimento basal e adluminal (Cunningham; Kleint, 2009). As células de Sertoli, tanto em animais, como em humanos não se dividem durante a vida sexual madura (Junqueira; Carneiro, 2004). Elas favorecem o desenvolvimento do processo espermatogênico por fornecer suporte estrutural e aporte nutricional às células germinativas. Atuam também na fagocitose das células em degeneração e dos corpos residuais formados durante a espermiação .Desempenha papel de proteção e suprimento nutricional dos espermatozoides em desenvolvimento; fagocitose de fragmentos citoplasmáticos resultantes das espermátides; secreção do fluído presente nos túbulos seminíferos para transporte dos espermatozoides até o epidídimo e para a maturação espermática; funciona como barreira hematotesticular protegendo as células da linhagem espermatogénica de substâncias e agentes nocivos presentes na corrente sanguínea (Cunningham; Kleint, 2009); Além disso, contribuem com a liberação dos espermatozoides na luz dos túbulos seminíferos e com a secreção de fluidos para a formação do lume tubular, condução dos espermatozoides (Marina, 2003). O percentual ocupado pelas células de Sertoli no parênquima testicular é variável entre as espécies (França; Russel, 1998). O número de células de Sertoli correlaciona-se positivamente com o peso testicular, com o número de diferentes populações de células germinativas e com a produção de espermatozoides (Berndtson; Jones, 1989). Assim, a capacidade funcional das células de suporte é considerada um importante indicador da eficiência da produção espermática, pois cada célula de Sertoli é capaz de suportar um número limitado de células germinativas, numa determinada espécie (França et al, 2005). 4 Células de Leydig As células de Leydig, presentes no interstício testicular e ovariano, são responsáveis pela produção de testosterona quando estimuladas pela hipófise através do hormônio luteinizante. Apresentam uma forma arredondada ou poligonal, núcleo central e citoplasma eosinófilo rico em pequenas gotículas de lipídeos (Junqueira; Carneiro, 2004). Localizam-se no tecido intersticial entre os túbulos seminíferos, constituindo cerca de 20% da massa testicular nos animais adultos. Estas células, sob o efeito da LH, sintetizam diversos hormônios, incluindo a dihidrotestosterona, testosterona e androstenediona (Sabatino; Mysore, 2007). A atividade e o número das células intersticiais depende do estímulo hormonal (Junqueira; Carneiro, 2004). A produção de testosterona pelas células de Leydig é controlada pelo LH. Aumentos na secreção de LH são seguidos por níveis aumentados de testosterona que duram de uma há várias horas (O’Donnel et al, 2001). Embora ocorram variações entre as espécies, observa-se que no espaço intertubular há predominância das células de Leydig em relação aos outros tipos celulares ou estruturas como vasos sanguíneos e linfáticos, nervos, células e fibras de tecido conjuntivo, macrófagos e mastócitos (França; Russell, 1998). Células Germinativas As células da linhagem germinativa são encontradas no interior dos túbulos seminíferos sempre associadas as células de Sertoli. (Amann; Pickett,1987; Pickett; Amann, 1993). Segundo Junqueira; Carneiro (2004), a função das células germinativas é a produção de novos indivíduos dotados com as características genéticas dos organismos parentais. Nos testículos em maturação, são encontradas células germinativas em diferentes fases, que foram classificadas em espermatogónias primárias e secundárias, espermatócitos primários e secundários, espermátides e espermatozoides (Cunningham; Kleint, 2009). 5 O processo de espermatogénese começa com uma célula germinativa primitiva, a espermatogónia, medindo aproximadamente 12 micrometros (μm) de diâmetro, situada próxima à lâmina basal do epitélio (Junqueira; Carneiro, 2004). NEOPLASIAS TESTICULARES Generalidades dos tumores testiculares em canídeos Tumores testiculares são comuns nos cães, em 90% dos relatos em animais domésticos, o cão é o mais atingido (Pliego et al, 2008, Banco et al, 2010). A incidência real destas neoplasias não pode ser avaliada por diversos fatores como a realização de orquiectomia precoce, ausência de exames histopatológicos e por em certos casos serem achados acidentais nas necrópsias (Veiga et al., 2009). A maioria dos cães com tumores testiculares são idosos, apesar da descrição de um pico bimodal na distribuição etária no momento do diagnóstico (Ettinger.; Feldman, 2004). As causas responsáveis pelo surgimento das neoplasias não estão bem definidas, mas existe uma série de fatores relacionados com o aparecimento das mesmas como a idade, na maioria das vezes compreendida entre os oito e dez anos, (Morris; Dobson, 2001; Eslava; Torres, 2008) tendo cães com menos de seis anos um risco menor de desenvolvimento (Cooley; Waters, 2001). Os Boxers, Pastores Alemães, Weimaraners, Galgos Afegãos e Pastores de Sheetland são raças com predisposição para neoplasias testiculares (Argyle, 2008). Os cães da raça Teckel e de raça indeterminada apresentam um risco menor de desenvolvimento de neoplasias testiculares (Cooley; Waters, 2001). Segundo Schae (2006) os tumores testiculares podem ser classificados de diversas formas de acordo com a sua origem celular: tumores das células germinativas: os Seminomas (SEM), teratomas e carcinomas embrionários; tumores do estroma e das células do cordão sexual: tumor das células de Sertoli (TCS), tumor das células de Leydig e tumores intermédios indiferenciados. 6 As neoplasias mais comuns são os seminomas, sertolinomas e tumores das células de Leydig (Schae, 2006), que ocorrem aproximadamente com igual frequência (Grieco et al, 2008). Os tumores múltiplos também podem ocorrer (Choi et al, 2008), sendo que cerca de 40% dos cães que desenvolvem neoplasias testiculares apresentam mais de um tipo de tumor testicular (Cooley; Waters, 2001). Jones et al (2002), relataram que as raças Sheepdog e Weimaraner são propensas ao desenvolvimento de tumores de célula de Sertoli, já os de raça Pastor Alemão ao desenvolvimento de seminomas. Tumor das células Sertoli O tumor das células de Sertoli é a terceira neoplasia mais comum no cão, tem comportamento benigno e geralmente não libera metástase. Segundo Eslava & Torres, 2008, originam-se a partir de células de sustentação que se localizam nos túbulos seminíferos. Este tipo de neoplasia é comum em caninos especialmente criptórquidos, também há relatos em equinos, carneiros, gatos e touros (Felman et al 2000). É mais comum em animais adultos, geralmente são unilaterais, segundo um estudo a prevalência de tumor das células Sertoli é vinte e seis vezes superior nos testículos que não desceram, do que nos testículos que se encontram na bolsa escrotal. Na criptorquidia bilateral o tumor das células de Sertoli é mais frequente, sendo que o testículo contralateral geralmente está atrofiado (Overend, 2002). Segundo Catoi et al (2008) esta neoplasia localiza-se mais frequentemente no testículo criptorquídico do que no testículo normal. Os tumores de células de Sertoli são tipicamente firmes, lobulados, com uma superfície branca a cinzenta e de consistência mole (McEntee, 2002) demarcado por estroma de tecido conectivo e podem ir de um milímetro a cinco centímetros de dimensões (Nelson; Couto, 2001). Quando este tipo de tumor se apresenta nos testículos retidos no abdómen podem ter até vinte e cinco centímetros de diâmetro (Eslava; Torres, 2008). Em alguns dos casos podem ser observadas hemorragias e necrose, em particular nos tumores malignos (Young, 2008) e quistos contendo fluído de coloração acastanhada podem também ocorrer nestas neoplasias (Borbil; Catoi, 2007). Cerca de 20 a 30% de caninos com este tipo de tumor presentam sinais de hiperestrogenismo consistentes em feminizacão, ginecomastia, atrofia de testículo contra lateral, alopecia, depressão na medula óssea e quando não tratada precocemente, evolui 7 levando a distúrbios na coagulação sangüínea com hemorragias petéquias da mucosas visíveis, excesso de sangramento no local de venopunção, em decorrência da trombocitopenia, podem também apresentar aumento do volume alterações nas células escamosas do epitélio e obstrução do ducto prostático com estase secretória. As complicações da mielotoxicose completamente desenvolvida podem ser fatais (Junqueira; Carneiro, 2004). Na maioria dos casos os tumores de Sertoli são benignos, e a taxa de metastização é inferior a 10 % (Sabatino; Mysore, 2007) sendo os locais mais comuns de desenvolvimento de metástases os linfonodos lombares e ilíacos, embora também tenham sido reportados casos com metástases em órgãos internos como fígado, pulmão, baço, podendo também ocorrer na pele A probabilidade de morte causada por metástases de Sertolinomas é cerca de 5% (Overend, 2002). Seminomas Os seminomas se originam das células germinativas o epitélio espermático do testículo são comuns em cães mas são descritos em equinos, bovinos, ovinos e felinos, assim como o Sertolioma, se consideram como fatores predisponentes a idades e o criptorquidismo (Junqueira; Carneiro, 2004). Têm origem nas células germinativas (Morris; Dobson, 2001) e a idade média dos cães com seminomas são dez anos. Segundo Schae (2006) cerca de 70% dos seminomas ocorrem nos testículos escrotais. Apenas um terço dos seminomas é encontrado nos testículos criptorquídicos (Tilley; Smith, 1997). Usualmente são unilaterais e solitários, mas 10% a 18% são bilaterais e multinodulares, são mais comuns no testículo direito do que no esquerdo, é frequente também a presença de áreas de necrose e hemorragia. Macroscopicamente os tumores são lobulados, firmes, não capsulados, com tonalidade branca a rosa (Morrison, 2002). Estas neoplasias têm tamanhos variáveis, podendo ir de dois a cinco centímetros (Masserdotti, 2000). Segundo Tilley; Smith (1997) os seminomas são difíceis de palpar e um em nove cães com mais de quatro anos de idade tem um seminoma sendo que 71% não são detectados no exame físico à palpação. Nas análises bioquímicas, hemograma e urianálise os resultados, usualmente são normais, excepto nos casos que evidenciem síndrome de efeminização (Tilley; Smith, 1997). 8 Tal como na neoplasia das células de Sertoli, o tratamento de eleição é a orquiectomia, sendo o prognóstico excelente, à excepção dos casos em que se desenvolvem metástases e o tratamento com quimioterapia e radioterapia é indicado (Morrison, 2002). 9 RELATO DE CASO Foi atendido no consultório da Clinica Agropesca Bahia, um Husky Siberiano, macho, de 12 anos de idade. Ao exame físico apresentou testículo direito aumentado e aderido à bolsa escrotal com irrigação maior que o normal, ausência dor à palpação. No testículo esquerdo detectou-se atrofia testicular. Nos exames complementares a ureia, creatinina, alanina transaminase e a fosfatasse alcalina estavam normais, hemograma e glicemia também dentro da normalidade. Na citologia foi observada alta celularidade composta por grupos de células arredondadas com citoplasma amplo e discretamente azulado, a maioria com vacúolos claros, bem delimitados intracitoplasmáticos. O núcleo das células era arredondado, central com cromatina nuclear rendilhada com nucléolo central, grande e evidente. Anisocitose e anisocariose eram moderadas e havia a presença de células neoplásicas binucleadas e em anel de sinete, o índice mitótico era baixo. O diagnóstico baseado nos achados clínicos e citopatológicos foram sugestivos de sertolioma. Após o laudo citopatológico sugestivo de sertolioma o animal foi encaminhado para cirurgia. Após a incisão cirúrgica e retirada dos testículos observou-se que o testículo direito apresentava-se alterado e o testículo esquerdo estava atrofiado. As peças cirúrgicas coletadas durante cirurgia foram acondicionado em um frasco de vidro devidamente identificado com os dados do paciente contendo formol tamponado a 10%, e encaminhado para realização do exame histopatológico na qual se obteve o resultado de seminoma difuso e sertolioma. A descrição microscópica no testículo direito foi de proliferação de células arredondadas ou poliédricas, com núcleos arredondados, moderadamente cromáticos, com nucléolos evidentes e volumoso citoplasma levemente eosinofilico, que se distribuem difusamente; discreto infiltrado linfocitário multifocal no interstício tumoral, mitose frequentes. Observou-se ainda moderado pleomorfismo celular, anisocariose e anisocitose, focos de necrose e hemorragia. No testículo esquerdo encontrou-se proliferação de células levemente pleomórficas, com citoplasma alongado e eosinofilico, com núcleos grandes, basais, redondos ou ovóidese nucléolos evidentes, por vezes arranjadas em paliçada com abundante tecido conjuntivo fibroso. Figuras de mitose foram pouco frequentes, havendo ainda focos de necrose e hemorragia. 10 No pós-operatório foram prescritos o antibiótico cefalexina (25 mg/kg, a cada 12 horas, durante sete dias) e o antinflamatório meloxicam (0,1 mg/kg a cada 24 horas, por cinco dias). DISCUSSÃO De acordo com as análises histológicas, diagnosticou-se seminoma difuso e sertolioma, sendo estes, tumores bastante frequentes em cães criptorquídicos idosos de acordo com Junqueira; Carneiro (2004), o que não ocorreu no caso citado. O animal possuía os dois testículos situados na bolsa escrotal. Dentre os tumores testiculares em cães, o dos túbulos seminíferos (ou seminoma) é o segundo mais frequente. A confirmação da afecção só foi possível mediante a realização do exame histopatológico alguns dias após o procedimento cirúrgico (tempo necessário para o processamento e análise do material coletado), tendo em vista que a sintomatologia apresentada pelo paciente era apenas aumento de volume no saco escrotal. Nesses casos, outros sinais clínicos dificilmente ocorrem porque o seminoma é um tipo de tumor que não é hormonalmente ativo (Cunningham; Kleint, 2009). Como reportado Nodetvet et al. (2010) as neoplasias testiculares são as segundas mais frequentemente observadas em canídeos geriátricos, depois das neoplasias cutâneas, tal como sucede neste relato em que o animal do estudo apresenta 12 anos. Segundo Argyle (2008), as raças mais predispostas a desenvolver neoplasias testiculares são os Boxers, Pastores Alemães, Weimaraners, Galgos Afegãos e Pastores de Sheetland, neste estudo, observou-se este tipo de tumor na raça Husky Siberiano que corrobora com o trabalho de Rial et al. (2009) que encontrou as mesmas neoplasias na raça descrita. Segundo Morris; Dobson (2001) e Eslava; Torres (2008) a idade comum de aparecimento de tumores testiculares está compreendida entre os 8 e 10 anos, contrariando o cão deste relato que apresenta idade superior à descrita. Como referido por Choi et al (2008) cerca de vinte a trinta por cento dos tumores de células de Sertoli podem ser hormonalmente ativos e os cães podem apresentar síndrome de feminização. Contudo, segundo McEntee (2002) na maioria dos casos, cães com neoplasias testiculares são assintomáticos. 11 Para Eslava; Torres (2008) a frequência de desenvolvimento das neoplasias testiculares é treze vezes maior quando um ou ambos os testículos estão retidos na cavidade abdominal, mas neste estudo verificou-se neoplasia encontrada nos testículos escrotais. Observou-se também que o testículo direito foi o afetado, tal como referiu Morris; Dobson (2001). Para efeitos de diagnóstico foram realizados diversos exames complementares tais como: hemograma, bioquímicos e citologia. Em relação aos hemogramas e bioquímicas não foram observadas alterações relacionadas com os processos tumorais. Este fato está de acordo com a bibliografia que refere que os resultados, usualmente são normais, exceto nos casos que evidenciem síndrome de feminização (Tilley; Smith, 1997; Morris; Dobson, 2001). Foi realizada orquiectomia bilateral, que segundo a maioria dos autores, é o tratamento de eleição e usualmente curativo (McEntee, 2002; Fan; Lorimier, 2007). Não foi necessária a realização outras alternativas de tratamento, como quimioterapia e radioterapia, pois o paciente não apresentou alterações nos parâmetros analíticos nem sinais de metastização tumoral. CONCLUSÃO As neoplasias testiculares são a segundas mais frequentemente observadas nos canídeos machos geriátricos, o tratamento de eleição para as neoplasias testiculares é a orquiectomia bilateral com bons resultados. O tumor testicular apresentou baixo potencial de metastização. Constatou-se que a maioria dos tumores testiculares surgiu em testículos escrotais e não criptorquídeos. Na maioria dos casos, cães com neoplasias testiculares são assintomáticos, sendo que neste estudo não se observou um caso com síndrome de efeminização. As afecções testiculares possuem importância relevante na clínica de pequenos animais. Por isso, seu reconhecimento precoce por meio de um bom exame clínico ou por qualquer método diagnóstico garante que o tratamento seja feito de forma rápida e adequada, assegurando a capacidade reprodutiva do macho. Conclui-se que animais sem perspectiva 12 para reprodução devem ser castrados precocemente para prevenir o desenvolvimento deste tipo de neoplasia. 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