ENSINO DE FILOSOFIA – AULA SOBRE AUFKLARUNG E A QUESTÃO DA MENORIDADE Liamara Leobet1 - EEBAF José Antunes de Souza Pomiecinski2- UNIPLAC Cleusa Maria Pomiecinski3 - SMECT Grupo de Trabalho – Práticas e Estágios nas Licenciaturas. Agência Financiadora: não contou com financiamento. Resumo O objetivo deste texto é tratar a questão de saída da menoridade, isto é, do processo de evolução intelectual/humana que a pessoa se submete, ou deveria se submeter a fim de ‘evoluir’. Essa experiência se deu durante o estágio realizado pela professora Liamara Leobet no Colégio EEB Professor Argeu Furtado, com turmas de segundo ano do Ensino Médio para obtenção de título de licenciada em Filosofia nas aulas desta disciplina lecionadas pelo Professor José Antunes de Souza Pomiecinski sob a supervisão da pedagoga Cleusa Maria Pomiecinski. Entende-se, segundo o sentido que Kant deu para Menoridade contraposta pelo Aufklärung é mais cômodo ser menor, ter quem pense ao invés de pensar, ter quem crie/gere ao invés de criar/gerar. Nisso se vê a questão de poder econômico, onde quem pode compra. Leva direto para a compreensão de alienação da qual tratou Marx onde se valoriza o que se tem e não o que se é. O texto analisa, ainda, duas instigações sobre a pessoa em si – sapere aude (ouse saber), ou seja, avance nas ideias, questione e, uma linha do mito da caverna, refletindo a questão do ser libertado por alguém, ou libertar-se a partir do conhece-te a ti mesmo socrático. A filosofia com suas características indagativas vêm a oferecer ao estudante de ensino médio um processo reflexivo em seu exercício de sala de aula, isso se dá a partir das análises de textos, de filmes, de músicas, das discussões e pesquisas elaboradas em obras ou com auxílio de tecnologias diversas que podem ser instrumentais para o sucesso do ensino e aprendizagem. Palavras-chave: Aufklärung (esclarecimento). Ouse. Saber. 1 Licenciada em Filosofia (UNISUL). Professora de Filosofia e Sociologia na rede estadual de Santa Catarina Escola Básica Professor Argeu Furtado. E-mail: [email protected]. 2 Mestrando em Educação (UNIPLAC) em Lages/SC. Licenciado em Filosofia (UNIFAE). Professor de Filosofia e Sociologia na rede pública estadual de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 3 Especialista em Neuropsicologia Educacional (UNC). Licenciada em Pedagogia (UNC). Coordenadora de Ensino de Fundamental e Médio na Secretaria Municipal de Educação de Curitibanos/SC. E-mail: [email protected] ISSN 2176-1396 14795 Introdução Ao se tratar de indagar o existente como aluno em formação, uma questão/intenção e até direção tem se mostrado contínua e objetiva – a busca pelo esclarecimento, aqui, segundo Kant a saída da Menoridade. Mais propriamente conceituada de Aufklärung, isto é, contextualizada no século XVIII, advinda do movimento iluminista, que também passa a ser sinônimo de tal termo. Denomina-se uma defesa da ciência e da racionalidade crítica, contra as superstições e dogmas religiosos, sendo mais que um movimento filosófico, indo a luta pelos direitos e liberdades individuais dos indivíduos frente ao autoritarismo e abuso de poder. Sendo uma proposta de emancipação do cidadão, ou saída da menoridade. Isso traz à tona a necessidade de questionar: - de onde vem tal menoridade? Esta menoridade é a de que ainda está por se construir ou é a que se impôs a aceitar como natural? Nesta segunda, causada por uma banalização da vivência pautada não mais na busca, mas no comodismo. Falar desta questão, estritamente humana é remontar às raízes da civilização e vir delineando passos de avanços, percepções que tanto por necessidade como por aprendizado o homem passou a vivenciar. Assim: [...] evolução do homem intelectual, o mesmo que a teoria da evolução denominou homo sapiens, o qual num contexto de adaptação tornou-se homo faber e passou a compreender o que já entendia necessário para sua continuidade de sobrevivência, e que, por conseguinte, foi nomeado homo ludens, aquele que joga para se relacionar (SOUZA, p.75, 2011). O homem se constrói, e no se construir muda, evolui. A mudança – saída da menoridade-, vem a ser o avanço que a natureza espera. Assim se passa de fases de idade, de fases de escolarização, de fases de economia, de fases de relações interpessoais, de fases de crenças, nisso pautado do iluminismo vem a ser uma espécie de irracionalismo que valoriza a intuição, ou uma luz interior, uma intuição intelectual que eleva aquele que vive tal experiência. Segundo a compreensão de Veyne: [...] situado abaixo da lua, reina o devir e tudo aí é acontecimento [...] O homem é livre, o acaso existe, os acontecimentos têm causas cujo efeito permanece duvidoso, o futuro é incerto e o devir é contingente [...] (1984, p. 43, grifo nosso). 14796 A gama de possibilidades a serem optadas é extensa, e o devir 4 é o imperativo que vai determinar/conduzir a inserção no esclarecimento ou mesmo a continuidade no que é cômodo, senso comum ou não esclarecido. Faz-se aqui menção à ideia de continuidade de Bourdieu, em propor que no livro Os Herdeiros5 que os sucessos e fracassos escolares ou na vida terão a influência da família e não necessariamente no esforço a que cada um possa se impor. Este artigo quer tratar sobre a questão da imposição que o ser humano faz sobre si e muitas vezes causa limitações não existentes fisicamente, nem por falta de oportunidades, mas sim por desinteresse único e exclusivo ocasionado por uma compreensão voltada para a menoridade de ser. Evidenciando assim a passagem à maioridade no Aufklärung. Esse conteúdo foi abordado no ano de 2010 no Colégio Professor Argeu Furtado em aulas de filosofia sob a orientação do Professor José Antunes, fazia parte do estágio prestado pela licencianda em Filosofia Liamara Leobet. Com turmas de segundos anos abordamos esses temas e desenvolvemos exposição com debates em sala de aula. Kant e a passagem à maioridade Kant (1783) inicia a discussão com: 4 Forma particular de mudança, a mudança absoluta ou substancial que vai do nada ao ser ou do ser ao nada. [...] Para Aristóteles ‘Diz-se devir em muitos sentidos: ao lado daquilo que vem a ser absolutamente, há aquilo que vem a ser isto ou aquilo. O devir absoluto é só das substâncias: as outras coisas que vem a ser precisam necessariamente de um sujeito, já que a quantidade, a qualidade, a relação, o tempo e o lugar vem a ser só em referência a certo sujeito; e enquanto a substância não pode ser atribuída como predicado a nenhuma outra coisa, todas as outras cosias podem ser atribuídas como predicado a uma substância. Para Aristóteles, os princípios do devir são opostos [...] nada absolutamente vem do nada, mas aquilo que vem a ser, vem a ser do não ser acidental ou relativo, ou seja, da privação daquilo que é o termo do devir (ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo, Martins Fontes, 1999). 5 É justamente em Os herdeiros (escrito com J.-C. Passeron) que Bourdieu mostra claramente que a experiência do futuro escolar não pode ser a mesma para o filho de um executivo de nível superior que, tendo tido mais de uma chance sobre duas de ir para a faculdade, encontra necessariamente em seu entorno social, e mesmo em sua família, os estudos superiores como um destino banal e cotidiano, e para os filhos de um operário que, tendo menos de duas chances sobre cem de ascender, só conhece o estudos e os estudantes através de outras pessoas e por meios indiretos. (P. 12, grifos do original; apud BOURDIEU, P. Os Herdeiros In: CATANI, A. M. A sociologia de Pierre Bourdieu (ou como um autor se torna indispensável ao nosso regime de leituras). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v23n78/a05v2378.pdf Acesso 02 Nov 2011). 14797 Esclarecimento [<Aufklärung>] é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento [<Aufklärung>]6. Com esta ideia de Kant sobre o homem como um ser que se contenta menor, isto é, que por não conhecer ou mesmo por não querer evoluir para uma posição em que seja responsável maior sobre seus atos, vidas, problemas ou compromissos acabam por se aceitar ‘conduzidos’ por maiores ou por opressores. No entanto, deve-se partir do autoconhecimento de si, para então se ter possibilidade de mudanças (esclarecimento7), enfim saída da menoridade. Ousar conhecer, palavras de Horácio (Epist XII, 40) que foram adotadas no séc. XVII como lema do iluminismo, segundo o dicionário Abbagnano. Foi citado por Kant na obra ‘O que é o Esclarecimento?’ ou mesmo, segundo a tradução de Cassirer8 – ‘Tem coragem de usar teu próprio intelecto’. Esta instigação leva a questionar, problematizar por uma resposta – o que faz com que alguém se mantenha menor? Há determinações advindas de outrem ou a pessoa mesma se determina ser não esclarecida? Bourdieu estaria certo ao dizer que se é herdeiro de um contexto familiar? 6 KANT. I. Resposta à pergunta: O que é o Esclarecimento? (Aufklärung). Trad. ROUANET, L.P. Disponível em: http://ensinarfilosofia.com.br/__pdfs/e_livors/47.pdf Acesso 04 Out 2011, grifo nosso. 7 No sentido mais amplo do progresso do pensamento, o esclarecimento tem perseguido sempre o objectivo de livrar os homens do medo e de investi-los na posição de senhores. Mas a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal. O programa do esclarecimento era o desencantamento do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber . Bacon, "o pai da filosofia experimental", (l) já reunira seus diferentes temas. Ele desprezava os adeptos da tradição, que "primeiro acreditam que os outros sabem o que eles não sabem; e depois que eles próprios sabem o que não sabem. Contudo, a credulidade, a aversão à dúvida, a temeridade no responder, o vangloriar-se com o saber, a timidez no contradizer, o agir por interesse, a preguiça nas investigações pessoais, o fetichismo verbal, o deter-se em conhecimentos parciais: isto e coisas semelhantes impediram um casamento feliz do entendimento humano com a natureza das coisas e o acasalaram, em vez disso, a conceitos vãos e experimentos erráticos; o fruto e a posteridade de tão gloriosa união pode-se facilmente imaginar. A imprensa não passou de uma invenção grosseira; o canhão era uma invenção que já estava praticamente assegurada; a bússola já era, até certo ponto, conhecida. Mas que mudança essas três invenções produziram uma na ciência, a outra na guerra, a terceira nas finanças, no comércio e na navegação! E foi apenas por acaso, digo eu, que a gente tropeçou e caiu sobre elas. Portanto, a superioridade do homem está no saber, disso não há dúvida. Nele muitas coisas estão guardadas que os reis, com todos os seus tesouros, não podem comprar, sobre as quais sua vontade não impera, das quais seus espiões e informantes nenhuma notícia trazem, e que provêm de países que seus navegantes e descobridores não podem alcançar. Hoje, apenas presumimos dominar a natureza, mas, de facto, estamos submetidos à sua necessidade; se contudo nos deixássemos guiar por ela na invenção, nós a comandaríamos na prática (ADORNO/HORKHEIMER, 1985, p. 19, grifo nosso). 8 Ernst Cassirer (Breslau, 28 de julho de 1874 — Nova Iorque, 13 de abril de 1945) foi um filósofo judaicoalemão. Realizou estudos em direito, literatura e filosofia germânica nas universidades de Berlim, Universidade de Leipzig e Heidelberg. 14798 Conhecer a si urge como fator primordial neste processo, para tal se recorre à compreensão de Sócrates “Conhece-te a ti mesmo”, isto é, a partir da ideia de que menos ocupados com o externo, o alheio olhar para si mesmo, caminho que permite encontrar a verdade de si mesmo e desse começo conhecer o outro, viver as relações, e acima de tudo ser condutor de si próprio, aqui saindo da menoridade. Para Sócrates, um caminho de ascese. Este voltar-se a si denota conhece/ reconhecer a ignorância, no entanto, sendo um passo avançado em direção da sabedoria – ciência em razão da virtude, ou seja, a possibilidade de construir conhecimento pelo exercício da virtude/esforço/conhecimento de si. O não conhecimento de si e alienação Sócrates, ao sugerir o conhecer-se a si mesmo já adiantava a fuga de uma ideia muitos anos atrás nascida – a alienação9. Ou seja, um modo de como se cria ou dá vida a alguma coisa e na medida em que se dá independência a essa criação ela passa a ser por si mesma, fruto de uma expressão sem dono, de um saber sem conhecedor, isto é, afasta o reconhecimento de posse daquele que a criou. Esse movimento, em muitas formas acaba por tomar conta dos ideais, dos modos de ser, de pensar, de sonhar, de dominar a si e assim fazer eventos a que se propor. Quer-se com essas questões propor ao ser em si que retome o poderio de si, de seus direitos fundamentais, de ser que dirige seu próprio caminhar, seu modo de acontecer no mundo de relações em que faz parte. 9 Perda de posse, de um afeto ou de poderes mentais. Empregado por vários filósofos. 1- Na Idade Medieval foi usado para indicar um grau de ascensão mística em direção a Deus – abandono da lembrança de todas as coisas finitas e na transfiguração da mente em um estado que não tem nada mais de humano, é êxtase. 2- Rousseau – para indicar a cessão dos direitos naturais `comunidade, efetuada com o contrato social – As cláusulas desse contrato reduzem-se a uma só: a alienação de cada associado, com todos os seus direitos, a toda comunidade (contrato Social, I, 6); 3- Hegel usou o termo para indicar alhear-se a consciência de si mesma, pelo qual ela se considera como uma coisa. Alhear-se é uma fase do processo que vai da consciência à autoconsciência; 4- Marx considera que a alienação – que torna o homem em coisa, alheio a si, a ponto de não se reconhecer, a alienação é o maior dano da sociedade capitalista, onde o trabalho do homem não se afirma, mas se nega, não o satisfaz, mas o faz infeliz... e somente fora do trabalho sente-se junto de si mesmo, e sente-se fora de si no trabalho. Na sociedade capitalista o trabalho não é voluntário, mas obrigatório, pois não é satisfação de uma necessidade, mas só um meio de satisfazer outras necessidades. O trabalho exterior, em que o homem se aliena, é um trabalho de sacrifício de si mesmo, de mortificação (Op. Cit. P. 4. cit. 2). 14799 Ser libertado ou libertar-se A questão agora a ser abordada é a tratada no início do livro VII do diálogo A República de Platão – a Alegoria ou O mito da caverna 10, como é mais conhecido. Lê-se na nota 6 um breve relato do Mito da Caverna, nos grifos acrescentados se destaca o movimento de libertação vem de encontro a reflexão encontrada no Blog (2009) Ler e expressar11: Como o passo ao além do habitual, ou seja, aquele que se “descobre” ou está se descobrindo mundo de possibilidades. O olhar apurado aos cantos com maior intensidade de luz pode ter despertado a “curiosidade” de buscar. A descrição do momento em que se depara com o diferente para o que até então sabia, mas o “real” para o mundo fala de dor, de incerteza, mas enfim de uma vontade de compartilhar, aqui está o que entendo como primeira causa da sua libertação, não há quem o liberta como não há quem o incentive a ir falar com os outros, ele mesmo entendeu isso. A compreensão do autor de que o prisioneiro, por si mesmo, entendeu a necessidade de ir além do óbvio, do tradicional, do ‘acorrentado’ e foi em busca do novo. Em Kant a ideia 10 Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior. A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas. Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam. Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna. Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria. Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol, e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade. Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los. Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo (CHAUÍ, M. 1995, p.40, grifo nosso). 11 SOUZA, J.A. Blog: Ler e Expressar – Reflexão sobre a Educação, 2009. Disponível em: < http://lerexpressar.blogspot.com/2009/11/reflexao-sobre-educacao.html?spref=fb> Acesso 02 Nov 2011, grifo nosso. 14800 de Sapere aude, onde a pessoa já conhecedora de si a partir da ideia socrática, de seus limites e possibilidades também, se alça para uma compreensão/visão do novo. A vida em si, poderia apresentar proposições que fizesse a pessoa não se acomodar, não ficar estagnada, ou seja, encasulada em sua caverna, tanto real, como numa versão que a sociedade impõe; por ex. fazer valer a ideia de Bourdieu de que a Escola é um aparelho reprodutor do mundo capitalista, em outras palavras, é normal que o filho de médico seja médico e que o filho de desempregado seja no máximo assalariado, será que não é possível mudar estas concepções? A questão do esclarecimento quer dizer que sim. Até onde as influências externas determinam o grau de esforço que cada pessoa pode fazer para mudar ‘tradições’ geradas por pensamentos não esclarecidos? Conforme conclui o autor do texto acima usado, entende-se que: Mas pensando em tudo isso acabo concluindo que o que eu posso fazer é ir galgando passo a passo na minha própria saída da menoridade de que trata Kant e agindo com a intenção do mesmo Kant com o imperativo categórico de “O que posso saber? O que devo fazer? O que me é permitido esperar?” Assim “Aja de tal sorte que a máxima da sua vontade possa sempre valer, ao mesmo tempo, como princípio de uma legislação universal” (BARAQUIN, 2007, p. 164).12 De Kant também o imperativo categórico 13 para que sirva de exemplo, de provocação, de possibilidade de convidar à evolução, de libertar-se de ideias prontas e inovar, no inovar responder à inquietude de que cada pessoa traz consigo e que o tempo, o lugar ou o convívio pode nublar, mas não tirar – a busca pela felicidade. Considerações Finais Ousar olhar a si como necessitado de melhoria não demonstra ter sido tarefa fácil, talvez por isso a opção por continuar na menoridade, ou na falta de esclarecimento, sendo conduzido pela vontade e entendimento alheio, em muitas vezes em descompasso com a própria forma de ser, de esperar ser, mas por manifestar-se menos complicado ou menos difícil acaba por sendo a realidade de grande parte das pessoas com suas ideias, ideais. A questão filosófica mais importante nessa discussão tem sido a ousadia, pois ela é quem possibilita a admiração, o olhar de espanto e o salto para a busca por algo ainda não 12 BARAQUIN, N. Dicionário Universitário dos filósofos. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2007.apud http://lerexpressar.blogspot.com/2009/11/reflexao-sobre-educacao.html?spref=fb > Acesso 02 Nov 2011, grifo nosso). 13 Fórmula que expressa uma norma da razão, uma ordem. 14801 esclarecido, não compreendido. Desbanalizar o banal conforme atesta Paulo Ghiraldelli Junior 14, grande filósofo brasileiro. Nesta perspectiva a menoridade da qual tratou Kant se encontra na escolha que o homem faz a de continuar menor, a de não exercer o domínio de sua razão sobre seus sentimentos, suas vontades comuns, advindas de seu estado de natureza, a de ser ente, ou seja, um modo de ser determinado, em linguagem atual controlado, mais uma vez outra forma de ser menor, de estar contente com o que se é mesmo não sendo a expressão do que se possui em possibilidade de ser. Ao concluir as reflexões sobre os temas abordados acima, reunimos com a pedagoga para avaliação da prática tendo sido considerada de bom proveito, uma vez que suscitou a participação dos alunos das turmas de segundo ano, demonstrando que a filosofia provoca o aluno a expressar-se e com isso tornar-se um cidadão melhor. REFERÊNCIAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo, Martins Fontes, 1999. ADORNO/HORKHEIMER. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. BARAQUIN, N. Dicionário Universitário dos filósofos. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2007.apud http://lerexpressar.blogspot.com/2009/11/reflexao-sobreeducacao.html?spref=fb > Acesso 02 Nov 2011, grifo nosso). BOURDIEU, P. Os Herdeiros apud: CATANI, A. M. A sociologia de Pierre Bourdieu (ou como um autor se torna indispensável ao nosso regime de leituras), 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v23n78/a05v2378.pdf. Acesso 02 Nov 2011. CHAUÍ, M. Convite a Filosofia. 4 ed. São Paulo: Editora Atica, 1995. 14 Paulo Ghiraldelli Jr. é filósofo e escritor. Tem doutorado em filosofia pela USP e doutorado em filosofia da educação pela PUC-SP. Tem mestrado em filosofia pela USP e mestrado em filosofia e história da educação pela PUC-SP. Tirou sua livre-docência pela UNESP e tornou-se professor titular, com defesa de tese em filosofia e educação por este universidade. Fez pós-doutorado na UERJ, na Medicina Social, com tese sobre;Corpo Filosofia e Educação;. Possui graduação em filosofia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (S. Paulo) e em Educação Física pela Escola Superior de Ed. Física de S. Carlos, hoje incorporada pela Universidade Federal de S. Carlos (UFSCar). Foi pesquisador nos Estados Unidos e na Nova Zelândia. É editor internacional e participante de publicações relevantes no Brasil e no exterior. Possui mais de 40 livros em filosofia e educação. Trabalha como escritor e tem presença constante na mídia imprensa, falada e televisiva. Dirige o Centro de Estudos em Filosofia Americana (CEFA). É professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Blog: http://ghiraldelli.pro.br. 14802 KANT. I. Resposta à pergunta: O que é o Esclarecimento? (Aufklärung), 1783. Trad. ROUANET, L.P. Disponível em: http://ensinarfilosofia.com.br/__pdfs/e_livors/47.pdf Acesso 04 Out 2011. SOUZA. J. A. Filosofia Clínica: um novo olhar terapêutico. N 28, 2011. Lages: Revista História Catarina, pp. 75-82,VASCONCELLOS, M. D. Pierre Bourdieu: A herança sociológica. ___________. Blog: Ler e Expressar – Reflexão sobre a Educação, 2009. Disponível em: http://lerexpressar.blogspot.com/2009/11/reflexao-sobre-educacao.html?spref=fb Acesso 02 Nov. 2011. VEYNE, Paul. Como se escreve a história. Trad. António José da Silva Moreira. Lisboa: Edições 70, 1984.