a influencia do estágio voluntário na formação

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A INFLUENCIA DO ESTÁGIO VOLUNTÁRIO NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO
ENFERMEIRO
Elizabeth Braz
Fabiana Gonçalves de Oliveira Azevedo Matos
Vanessa Barros Santi
Annelise de Oliveira Rodrigues
Priscila Conde Bogo
RESUMO: Trata-se de uma pesquisa descritiva de caráter qualitativo, prospectivo e
exploratório com objetivos de investigar a influencia do estágio voluntário (EV) na
formação profissional do enfermeiro e averiguar em que medida o EV contribui no
currículo do enfermeiro recém formado. Realizado na UNIOESTE e em dois hospitais,
sendo um público e um privado, teve como população, acadêmicos do 4o. ano de
graduação de Enfermagem da UNIOESTE, que já tinham realizado estágio voluntário,
enfermeiros chefes de setor e chefe de serviços. O instrumento compreendeu três
questionários distintos. Os dados coletados foram submetidos a análise de discurso. A
pesquisa evidenciou o interesse dos acadêmicos pelo aperfeiçoamento e a busca de
um melhor aprendizado, visto que estes têm a visão de que a graduação não é
suficientemente capaz de oportunizar de forma detalhada diferentes situações práticas,
mostrando que os enfermeiros supervisores consideraram importante a realização
desta prática, uma vez que permite maior crescimento e vivência de situações novas.
Em contrapartida, as chefes de enfermagem não consideraram o estágio voluntário
como um item importante no currículo do profissional, para garantir um emprego.
Consideramos que o EV influencia positivamente na formação profissional, pois a
experiência adquirida gera segurança, traduzida em atendimento qualificado e eficiente.
Palavras Chaves: Ensino; Estágio Voluntário; Formação profisional
INTRODUÇÃO: Os conhecimentos da área de enfermagem provêem de diversos
campos do saber, constituindo em um arranjo de idéias e conceitos, os quais interferem
no processo do cuidar. Para Cianciarullo (1996, p.151) o saber específico do cuidar e
do cuidado, proporciona ao enfermeiro, a possibilidade de alcance da autonomia
profissional, “onde a competência e o domínio do fazer e do saber refletem sobre os
níveis de decisão que lhe são designadas”. Ditzel (1997) considera que o preparo ou o
despreparo do enfermeiro depende de vários fatores relacionados não só com a
formação acadêmica (teórica), como também com a prática diária. Nerice (1981)
comenta que as exigências profissionais relacionadas a conhecimentos específicos
tendem a aumentar, e que este aumento faz com que cada profissional deva adaptarse às diversas condições impostas, uma vez que o desenvolvimento tecnológico se dá
de forma muito rápida e nem sempre é acompanhado pela academia. O mesmo autor
ainda refere que a integração do formando na comunidade em que virá atuar é o
primeiro passo para que este possa desenvolver-se de acordo com suas efetivas
condições de aprendizado, como também bio-psíquicas, podendo de forma conjunta,
planejar seu trabalho conforme as possibilidades e necessidades sociais. Esta
integração no que se refere à área de enfermagem se dá por ocasião da realização de
estágios, ou atividades práticas supervisionadas, as quais possibilitam colocar o aluno
dentro da realidade profissional, ainda que sob supervisão e orientação de um docente
responsável pelo direcionamento do aprendizado. Conforme Howaiss (1980) estágio é
um período de estudos práticos, exigidos aos candidatos ao exercício de certas
profissões, significando também aprendizagem e experiência. Outra modalidade de
aprendizado, o estágio voluntário, perpassa os muros de uma universidade,
possibilitando ao graduando uma visão de diferentes realidades, permitindo que estes
adquiram maior flexibilidade para adaptarem-se. Nerice (1981) afirma que este tipo de
trabalho permite o desenvolvimento do espírito crítico com maior criatividade e
tolerância, o respeito crescente pelo ser humano, a autonomia e experiência, além da
reduzir a inibição. Assim, o estágio voluntário oportuniza o acadêmico de enfermagem
estar sozinho com a equipe e com e enfermeiro supervisor, proporcionando uma maior
vivência do cotidiano deste profissional, possibilitando uma visão mais ampla da prática
profissional, além de dinamizar a execução de alguns procedimentos técnicos, nem
sempre possíveis de serem executados durante as APS, devido à dinâmica do próprio
serviço.
OBJETIVOS: Investigar a influencia do estágio voluntário na formação profissional do
enfermeiro; averiguar em que medida o estágio voluntário contribui no currículo do
enfermeiro recém formado.
METODOLOGIA: O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva de caráter
qualitativo, prospectivo e exploratório. Segundo Minayo (1996, p.25) “diferente da arte e
da poesia, que se concebem na inspiração, a pesquisa é um labor artesanal, que não
prescinde da criatividade, se realiza fundamentalmente por uma linguagem fundada em
conceitos, proposições, métodos e técnicas”. “A pesquisa qualitativa responde a
questões muito particulares”, se preocupando com um “nível de realidade que não pode
ser quantificado”, trabalhando “com um universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das
relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis” (MINAYO, 1996 p. 21). Ainda com referência a
pesquisa qualitativa, “...o trabalho de campo se apresenta como uma possibilidade de
conseguirmos não só uma aproximação com aquilo que desejamos conhecer e estudar,
mas também de criar um conhecimento, partindo da realidade presente no campo”
(MINAYO, 1996 p.51). Segundo Chizzotti (1998, p.104), “a qualitativa objetiva, em geral
provoca o esclarecimento de uma situação para a tomada de consciência pelos
próprios pesquisados dos seus problemas e das condições que os geram, a fim de
elaborar os meios estratégicos de resolvê-los.” Sobre pesquisa qualitativa Richardson
et al (1999) referem que os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem
descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas
variáveis além de possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das
particularidades do comportamento dos indivíduos. Para Gil (1999, p.43), a pesquisa
exploratória possui como finalidade, “desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e
idéias”, envolvendo “levantamento
bibliográfico e documental, entrevistas não
padronizadas e estudo de casos”. Embora este mesmo autor ainda refira que
“procedimentos de amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados não são
costumeiramente aplicadas nestas pesquisas”, o caráter qualitativo da mesma, nos
permite a utilização desta modalidade no presente estudo. Lakatos e Marconi (1996, p.
77) referem que a pesquisa exploratória é investigação de “pesquisa empírica cujo
objetivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade:
desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com o ambiente, fato
ou fenômeno, para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou clarificar
conceitos. Por outro lado, a pesquisa descritiva cujo objetivo á a descrição das
características de determinada população, possui dentre suas características mais
significativas, o fato de permitir a técnica padronizada de coleta de dados (GIL, 1999).
O presente estudo foi realizado na Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE), envolvendo além desta instituição de ensino, dois hospitais, sendo um
público (Hospital Universitário do Oeste do Paraná - HUOP) e um privado (Hospital
Policlínica de Cascavel - HPC). A população estudada foi constituída por acadêmicos
do 4o. ano de graduação do curso de Enfermagem da UNIOESTE, que já haviam
realizado estágio voluntário em serviços de saúde como atividade extra curricular,
enfermeiros chefes de setor e enfermeiros chefe de Serviços de Enfermagem. Os
dados foram coletados por meio do preenchimento de três questionários específicos,
sendo o primeiro, destinado a alunos do 4o. ano de graduação do curso de Enfermagem
da UNIOESTE, composto por 03 questões abertas. O segundo, direcionado a
enfermeiros responsáveis por unidades de enfermagem, com 04 questões abertas. O
terceiro, formado também por 04 questões abertas, foi aplicado a enfermeiros chefe de
Serviço de Enfermagem. Para Lakatos e Marconi (1996), o questionário é um
instrumento de coleta de dados, constituído por uma série de perguntas, as quais
deverão ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. Conforme o
preconizado pelos autores acima citados, os instrumentos foram entregues aos atores
sociais deste estudo, sendo que foi dado a cada ator social, um prazo de 03 dias para a
devolução dos mesmos. A direção do serviço de enfermagem foi consultada por meio
de ofício quanto a autorização para a realização da presente pesquisa e os atores
sociais envolvidos no estudo foram esclarecidos e consultados por meio de termo de
consentimento por escrito. A execução da coleta de dados somente foi iniciada após a
anuência de cada um deles, oficializada através d assinatura do Termo de
Consentimento Esclarecido, conforme o preconizado pela resolução 196/96, que
norteia pesquisa com seres humanos. O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE,
obtendo sua aprovação. Seguindo o modelo metodológico para análise de dados dentro
de um estudo de abordagem qualitativa, optamos pela análise de conteúdo, com
referencial de Bardin (1970), conforme o preconizado por Minayo (1996). Esta
modalidade de análise segundo a autora, possui o objetivo de “realizar uma reflexão
geral sobre as condições de produção e apreensão da significação de textos
produzidos nos mais diferentes campos [ ]. Ela visa compreender o modo de
funcionamento, os princípios de organização e as formas de produção social do
sentido...” Minayo (1996, p. 211).
RESULTADOS: Os dados foram classificados e analisados em três categorias. (1)
Enfermeiro Chefe: nas respostas obtidas na questão que tratava sobre os aspectos
considerados pelos serviços de enfermagem no aceite de um acadêmico para a
realização do Estágio Voluntário (EV), observou-se que tanto no hospital público, como
no particular, são considerados os aspectos relacionados ao histórico curricular,
estágios realizados anteriormente, a adequação entre os horários do acadêmico e
disponibilidade da unidade hospitalar, além do interesse do acadêmico pela realização
pela atividade, o que denota a importância da participação da vida acadêmica no que
diz respeito a aproveitamento escolar e interesse na participação de atividades
extracurriculares do aluno, no momento da autorização da atividade. Nas falas dos
enfermeiros chefes de serviço, surgiram referências quanto as diferenças existentes
entre os direitos e deveres dos estagiários e os demais integrantes da equipe, porém
estas não se mostraram suficientemente claras. (2) Enfermeiro de Setor: em relação à
questão de como o enfermeiro entende a presença do acadêmico no setor, sem a
presença do professor e estando sob a supervisão do enfermeiro não ligado à
instituição de ensino, ficou evidente que os acadêmicos em EV são bem recebidos pela
equipe, sendo que na fala destes profissionais foram encontradas referências quanto a
possibilidade do estagiário em “assumir” papéis que são próprios do enfermeiro, de
forma mais tranqüila, uma vez que este, longe do olhar do professor, se sente mais à
vontade para exercer as atividades necessárias do cotidiano profissional; na questão
que versava sobre a possível modificação da
rotina do setor pela presença do
acadêmico, os profissionais referiram que a rotina do setor hospitalar não sofre
modificações pela presença de um estagiário, visto que é o estagiário quem deve
adaptar-se ao ambiente e à rotina do setor, uma vez que este não faz parte da equipe
de maneira formal, além do fato deste ter um tempo limitado dentro da instituição,
caracterizando um estado de passagem; quanto ao fato destes profissionais
acreditarem na importância do estágio voluntário como contribuição na formação do
enfermeiro, as respostas indicaram que o EV permite ao aluno, realizar procedimentos
complexos, diferentes daqueles considerados básicos, executados durante as Aulas
Práticas Supervisionadas (APS), já que a grade curricular muitas vezes não contempla
aos alunos, períodos de estágio suficientes para que todos consigam realizar os
diversificados procedimentos. A pesquisa também evidenciou que em relação à
qualidade da assistência prestada, não houve diferença daquela prestada pelo
acadêmico e pelo profissional Os enfermeiros entrevistados entendem, que o
acadêmico pode e deve desempenhar as mesmas atividades desempenhadas pelo
enfermeiro, já que esta ação possibilita ao acadêmico diminuir seus receios e
particularidades, pois a prática diária como sabemos permite a melhoria qualidade das
atividades e assistência prestada. (3) Acadêmicos: dentre os principais motivos que
levaram os acadêmicos à busca da realização do estágio voluntário destacarem-se:
necessidade de aperfeiçoamento e conhecimento das técnicas e situações diferentes
daquelas apresentadas e executadas nas APS além da possibilidade de um maior
desenvolvimento do conhecimento prático em detrimento da baixa carga horária
disponibilizada pelas aulas práticas supervisionadas durante o curso de graduação,
conforme o estabelecido pelo Plano Político e Pedagógico do Curso de Graduação .
Outros motivos, embora citados em menor freqüência foram: conhecer de forma mais
aprofundada as condições e rotinas de uma unidade; conhecer rotinas diferentes das
dos locais de estágio curriculares, quando estes foram realizados em instituições
hospitalares ou Unidades Básicas de Saúde que não faziam parte do campo de
atividades de APS; grande número de alunos nas aulas práticas supervisionadas,
dificultando o aprendizado individual; aumentar os conhecimentos sobre as atividades
do enfermeiro em seu cotidiano profissional; adquirir maior segurança além da
ocupação do tempo livre, principalmente durante o período de férias acadêmicas.
Diante disso, nota-se que o acadêmico mostra-se preocupado em seu aperfeiçoamento
além de buscar uma maior vivência de situações que durante o período normal de aulas
práticas supervisionadas nem sempre são possíveis de serem observadas, sem contar
a adequação entre a teoria e prática, tendo em vista o fato de que muitas vezes o
enfermeiro tem que “improvisar” estratégias, para atender à escassez de recursos
humanos e materiais no local de trabalho, o que impede de seguir a teoria em todos os
seus detalhes; a necessidade de adquirir maior experiência, maior segurança e a falta
de prática, foram os principais fatores que pesaram para que o acadêmico realizasse
estágio voluntário. A maioria dos acadêmicos respondeu que desenvolvimento do EV
permitiu um maior aprendizado no que diz respeito ao relacionamento e adaptação com
uma equipe cujos elementos lhe era desconhecido (enquanto acadêmico), pois o fato
de estar sozinho em uma equipe, ou seja, na condição de estagiário sem a presença de
um professor implica na necessidade do mesmo em buscar uma melhor forma de
relacionamento de modo que, além de ser aceito pelos demais profissionais, tivesse
oportunidade de desempenhar as atividades de interesse para seu aprendizado. A
maioria dos entrevistados referiu ter
adquirido maior segurança na execução das
técnicas de enfermagem após a prática do estágio voluntário, além de ter sido possível
a obtenção de uma visão mais ampliada da estrutura organizacional das instituição e
das rotinas administrativas nelas existentes. Outros benefícios citados foram:
observação das diferentes atribuições e responsabilidades do enfermeiro; possibilidade
de tomada de decisões sem a presença do professor além do aumento de sua própria
iniciativa e de sua independência técnica.
CONCLUSÕES:
A
pesquisa
evidenciou
o
interesse
dos
acadêmicos
pelo
aperfeiçoamento e a busca de um melhor aprendizado, visto que estes têm a visão de
que a graduação não é suficientemente capaz de oportunizar de forma detalhada a
associação entre o conhecimento teórico e o prático, tendo em vista o fato de que nem
sempre a instituição de ensino possui recursos para atender à todas as necessidades
de conhecimento, além do que no campo onde são executadas as APS, nem sempre
surge a oportunidade de vivenciarem a maioria das situações apresentadas na teoria,
uma vez que esta é bastante ampla . O estudo mostrou também que os enfermeiros
supervisores consideraram importante a realização do estágio voluntário, uma vez que
este permite ao acadêmico maior crescimento e vivencia de situações novas, as quais
nem sempre são possíveis durante os estágios curriculares, questão esta que também
foi levantada pelos acadêmicos. Em contrapartida, as chefes de enfermagem dos
hospitais pesquisados não consideraram o estágio voluntário como um item a mais no
currículo do profissional recém formado, para garantir um emprego futuro, uma vez que
este item não é considerado no momento da análise do currículo nos hospitais
particulares e nas governamentais, a seleção é realizada através de concurso, sendo o
currículo u documento a ser apresentado após a classificação do enfermeiro enquanto
candidato. Diante disso, consideramos que o estágio voluntário influencia positivamente
a formação profissional do enfermeiro, pois a experiência adquirida gera segurança,
que se traduz em um atendimento qualificado e eficiente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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DITZEL, L. O Acadêmico de enfermagem está preparado para atuar em emergências?
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LAKATOS, E.M.; MARCONI, M.A. Fundamentos da Metodologia Científica: Revista e
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