O ombro doloroso nosso de cada dia

Propaganda
VIDA & SAÚDE
4
n Sábado e domingo, 15 e 16 de março de 2003 n
JORNAL
DO
POVO
t SUA SAÚDE
O ombro doloroso nosso de cada dia
Dor no ombro ao tentar levantar o braço
ou até mesmo sem realizar o movimento,
como ocorreu inclusive com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, é um problema que vai
atingir uma em cada quatro pessoas em
alguma fase da vida. É o que alerta o presidente da Sociedade Brasileira de
Reumatologia, o médico reumatologista e
professor da Faculdade de Medicina da Uni-
versidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Caio Monteiro. Segundo o vice-presidente da
Sociedade Brasileira de Ortopedia e
Traumatologia (SBOT), médico ortopedista
e especialista em cirurgia de ombro Glaydson
Gomes Godinho, cerca de 30% da população
acima de 40 anos tem algum tipo de problema degenerativo no ombro que pode levar à
dor.
A queixa de ombro doloroso já é a terceira causa mais freqüente de ida às consultas
médicas nos Estados Unidos, de acordo com
a Academia Americana de Ortopedia. Perde
apenas para a enxaqueca (em primeiro lu-
Os fatores ambientais
A dor nos ombros também está relacionada a
fatores ambientais. “Quem pratica mais esportes que trabalham com o braço acima do ombro,
como os jogadores de vôlei, peteca, tênis ou natação, também corre o risco de desenvolver algum
problema no ombro”, alerta Godinho. Segundo
ele, nesse grupo podem ser incluídas as pessoas
que trabalham também fazendo esse tipo de
movimento, como os pintores de parede ou até
mesmo artistas plásticos. Para quem acredita
que atividades que exigem movimentos
repetitivos, como os digitadores ou caixas bancários, também aumentam as possibilidades de dor
no ombro, ele esclarece: “Na verdade, essas dores
musculares são mais difusas e não acontecem
especificamente no tendão do ombro”.
As pessoas que têm espaços mais estreitos
entre a cabeça do úmero (osso do braço) e o
acrômio (extensão da escápula, outro osso na
região) estão mais sujeitas ao problema. Nesses
espaços há zonas onde os tendões trabalham,
onde há deslizamentos contínuos. Se o espaço for
menor, maior será o risco de lesões nos tendões.
“As causas da dor no ombro são multifatoriais”,
diz o presidente da SBOT. No entanto, segundo
ele, a idade é o fator que mais pesa.
DIVULGAÇÃO JP
Problema pode ser
tratado através
da fisioterapia
gar) e para as dores na coluna (em segundo).
O chefe do serviço de ortopedia e traumatologia do Hospital Madre Teresa (Belo Horizonte) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão e da SBOT, regional Minas Gerais, médico ortopedista Ronaldo Percopi de Andrade, diz que a dor no
ombro é a segunda causa mais comum de
procura de atendimento nas clínicas de ortopedia, ficando atrás apenas das
lombalgias.
O problema, segundo Godinho, é que o
ombro tem algumas particularidades em relação a outras articulações do corpo. “A fun-
ção e a estabilidade do ombro dependem da
força muscular sobre os tendões (zonas de
inserção dos músculos nos ossos)”, explica.
Além disso, diz, o tendão supra-espinal (localizado no ombro) é pouco vascularizado
e, por isso, está mais sujeito ao envelhecimento precoce e a lesões por desgaste crônico. “Esse fator biológico está impresso na
própria anatomia humana e varia de acordo com as características genéticas de cada
um”, explica. Mas ter alguém na família
com ombro doloroso, conforme diz Monteiro,
não significa maior risco de desenvolver a
doença.
As fases do ombro doloroso
1. AFETA mais freqüentemente
jovens atletas, ocorre a bursite
aguda (inflamação da bursa
sinovial, uma estrutura
membranosa que recobre a cabeça do úmero e os tendões). A bursa
é responsável por nutrir os tendões do manguito rotador e pela
redução dos atritos. Godinho explica que a bursite, na verdade,
não é um tipo de dor no ombro,
mas sim uma manifestação da
síndrome do manguito rotador
(conjunto de tendões localizados
no ombro). A bursite, diz, pode
ocorrer associada à síndrome do
impacto, que é um tipo de
síndrome do manguito rotador.
2. AFETA mais as pessoas de 35
a 45 anos, a dor é crônica e o
paciente ainda não perde total-
mente a força. “Mas fica passando
a mão no ombro a toda hora e não
consegue deitar sobre o ombro
dolorido”, explica Godinho. A terceira fase é a mais grave e atinge
principalmente quem tem mais de
60 anos. A dor é crônica e há progressiva incapacidade de fazer trabalhos prolongados e a perda
gradativa da capacidade funcional. “Nesse caso, já houve a ruptura do tendão”, alerta o presidente
da SBOT. “Apesar de haver em
muitos casos história de trauma,
um tendão no ombro geralmente
se rompe apenas em presença de
alterações
degenerativas
(tendinopatias)”, diz Andrade.
Segundo ele, o tendão mais freqüentemente lesado é o supraespinal, por ser o mais superior.
UM GRITO DE ALERTA - A dor é uma defesa do organismo, um “grito de alerta”. Por isso,
recomenda Godinho, diante de qualquer sintoma, a pessoa deve procurar um médico.
“Dependendo da fase em que o paciente está, 80% dos casos podem ser resolvidos com a
fisioterapia”, explica. “Isso se ainda não existirem rupturas dos tendões”, diz. “Um grande
número de pacientes se beneficia com esse método e a literatura fala empiricamente em 70%
de bons resultados.
Download