fertilizantes, o tendão de aquiles dos biocombustíveis

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20/10/2007 – No 28 - Ano 1 – www.elerihamer.com.br
Eleri Hamer1
FERTILIZANTES, O TENDÃO DE AQUILES DOS BIOCOMBUSTÍVEIS
Afora os arroubos ideológicos e excluindo-se o debate ecológico, boa parte da discussão em torno dos
biocombustíveis tem se dado na relação alimentos-biocombustíveis. Muito se tem especulado e discutido, e
pouco tem-se concluído em torno do tema, até porque é prematuro fazê-lo.
O engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso, com mais de 90 anos, fundador do grupo Manah
e presidente da Fundação Agricultura Sustentável (Agrisus), costuma resumir numa frase essa falta de
consistência nas nossas discussões: “somos um país em que as pessoas acham muito, observam pouco e
não medem praticamente nada”. Dentre os exemplos evidentes temos o tamanho real da produção
agropecuária, os impactos sócio-econômicos das mudanças na matriz produtiva e os custos efetivos da falta
de planejamento público e privado.
As discussões sobre os biocombustíveis estão pautadas principalmente nos seguintes aspectos: (i) se
são realmente limpos, (ii) vão ou não causar desmatamento, (iii) gerarão ou não desenvolvimento rural e (iiii)
se causarão fome, afetando a soberania alimentar.
Devemos lembrar que os biocombustíveis não são a única e provavelmente não sejam a alternativa
ideal, não abrangem a solução de todos os problemas e não representam uma escolha totalmente limpa, mas
são uma grande opção aos esgotáveis combustíveis fósseis, sendo a princípio menos impactantes que estes.
Por outro lado, com essa pretensa idéia de esgotar o assunto, e como disse, normalmente focada na
potencial disputa dos biocombustíveis, por terra e capital, com os alimentos, temos passado ao largo de um
aspecto que já preocupa muito os produtores rurais e tem sido um dos grandes motivos da sua baixa
rentabilidade: O PREÇO DOS FERTILIZANTES. Nesse quesito talvez a relação entre os alimentos e a opção
dos biocombustíveis ou agro-combustíveis, como queiram, deva merecer efetivamente atenção especial.
Embora o Brasil ainda tenha muito espaço para ampliar a produção e a produtividade agropecuária, e o
crescimento da agroenergia possa perfeitamente se fazer de forma sustentável e mais eficiente do que hoje,
integrando os sistemas agrícola e pecuário, devemos nos lembrar que essa demanda por alimentos e energia
é mundial, sobretudo na China e Índia, ao passo que as novas alternativas no uso intensivo de fertilizantes na
produção agropecuária ainda são ínfimas.
Tomemos a análise por outro lado. Conforme já discutido em artigo recente, o planeta deverá suportar
por volta de 8 bilhões de pessoas em 2030. Desse contingente, mais de 90% estarão morando nas cidades
(hoje não chega a 60%) e parcela significativa será de idosos, haja vista que a expectativa de vida também é
crescente no mundo.
Portanto, teremos crescimento exponencial da demanda mundial por alimentos, fibras e bioenergia,
motivado pelo ingresso de novos consumidores. Segundo dados da FAO, apresentam-se três motivos para
essa explosão no consumo: o aumento da renda per capita dos mais pobres, a urbanização acelerada e a
mudança nos hábitos de consumo. Como exemplo, países como China, Índia e o Sudeste Asiático crescem
acima de 6% ao ano e mantém mais de 60% da população em zona rural vivendo de subsistência.
Soma-se a estes fatos os crescentes programas de substituição dos combustíveis fósseis por
biocombustíveis, e que eventualmente consomem parcelas dos estoques mundiais de alimentos, auxiliando
no aumento dos preços dos produtos agrícolas, e por conseguinte, dos alimentos. Qual a alternativa para
essa nova e previsível situação? Obviamente é produzir mais.
Mas como, se existe pouca disponibilidade de áreas para esse fim e que possam atender a colossal
demanda? Assim, no curto prazo a alternativa visível está no uso intensivo de fertilizantes, e no médio prazo
no desenvolvimento de variedades mais produtivas, principalmente através da biotecnologia.
Desse modo, só esse ano, o consumo brasileiro de fertilizantes aumentou mais de 60% e o preço subiu
em média 40%, descarregados completamente nos custos de produção agrícola. Por isso, a preocupação
com o futuro dos biocombustíveis e a própria produção de alimentos está na capacidade dos produtores em
reduzir os custos médios, principalmente através dos ganhos de produtividade e exploração de economias de
escala e escopo.
Assim, enquanto os preços do petróleo se firmarem próximos aos US$ 90 por barril a corrida por
combustíveis alternativos tendem a aumentar, e tornam essas alternativas potencialmente atraentes para
toda a cadeia e concedam um bom espaço de queima eventual de gordura, mas os fertilizantes podem se
tornar o tendão de Aquiles.
Por fim, a esperança da diminuição dos custos pela redução dos preços de fertilizantes, a princípio e
infelizmente, deverá ser deixada de lado. Busquemos novas alternativas para isso. Boa semana.
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Eleri Hamer é Mestre em Agronegócios, Professor de Graduação e Pós-Graduação do CESUR, desenvolve Palestras, Educação Executiva e
Consultorias em Gestão Empresarial e Agronegócio. Home-page: www.elerihamer.com.br E-mail: [email protected]
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