Anais do 45º Congresso Brasileiro de Cerâmica 2202701 30 de maio a 2 de junho de 2001 - Florianópolis – SC DETERMINAÇÃO DE BORO EM ULEXITA E COLEMANITA NATURAIS UTILIZANDO A TÉCNICA DE ABSORÇÃO ATÔMICA EM CHAMA Cristian Roque Perdoná1; Maria Degmar dos Reis Carvalho1,2; Humberto Gracher Riella1,3: 1Centro 2 de Tecnologia em Cerâmica – CTC: [email protected] Programa de Pós – Graduação em Ciências e Engenharia de Materiais – PGMAT/ UFSC 3Departamento de Engenharia Química – ENQ / UFSC RESUMO O boro ocorre na natureza principalmente nas formas de ácido bórico (H3BO3), bórax (Na2B4O7.10H2O), colemanita (Ca2B6O11.5H2O), ulexita (NaCaB5O9.8H2O) entre outras formas. São muitas as suas aplicações, dentre elas podemos citar; na química nuclear como absorvente de nêutrons, no endurecimento de ligas metálicas, vidros e esmaltes cerâmicos, entre outros. O óxido bórico, é um componente fundamental dos esmaltes cerâmicos. Diante da sua grande aplicação na industria cerâmica, há necessidade de quantificálo, então deparamos com dificuldades em relação às técnicas de determinação. O método mais comum para determinação de boro consiste na complexação com uma substância polihidroxilada, e posterior titulação com uma solução de base forte, entretanto, é um método longo e trabalhoso. A determinação proposta através de espectrometria de absorção atômica em chama é rápida e tem apresentado resultados dentro das expectativas. Palavras-chaves: Colemanita, Ulexita, Cerâmica, Análise, Boro. Anais do 45º Congresso Brasileiro de Cerâmica 2202702 30 de maio a 2 de junho de 2001 - Florianópolis – SC INTRODUÇÃO O boro ocorre na natureza principalmente nas formas de ácido bórico (H3BO3), bórax (Na2B4O7.10H2O), colemanita (Ca2B6O11.5H2O) e ulexita (NaCaB5O9.8H2O) entre outras formas. São muitas as aplicabilidades do boro dentre elas podemos citar: na química nuclear com absorvente de nêutrons, em ligas para endurecimento de outros metais, vidros, materiais cerâmicas, usado como branqueador em sabões e detergentes e ligas de aço, entre outros. O óxido bórico, embora seja um excelente formador de vidro, nunca é utilizado como o único formador de vidro, exceto nos casos muito excepcionais, devido a sua elevada solubilidade, é um componente essencial dos vidros neutros para laboratório, dos vidros termoresistentes, isto é, a alta estabilidade e as trocas bruscas de temperatura, das fibras de vidro e de muitos vidros especiais. Os vidros de borossilicato constituem um grupo a parte por suas particulares características estruturais como por sua aplicação tecnológica (3). Em proporções discretas é um aditivo de grande interesse para os vidros sódicos e cálcicos, atua acelerando a fusão e melhorando varias de suas propriedades, tais como estabilidade química, resistência a choque térmico e o índice de refração (1, 2, 3). Devido à elevada aplicabilidade do boro, tem-se grande necessidade de quantificá-lo em diferentes tipos de amostras. Embora o ácido bórico possui uma constante de ionização muito fraca e ser um monoácido ( k1= 5,5.10-10 ) ele pode ser neutralizado com uma base forte. A sua acidez pode ser elevada com ajuda de uma substância polihidroxilada como o glicerol, manitol ou glicerina, possibilitando assim uma boa definição do ponto final da titulação com o hidróxido de sódio, porém, este método é longo e laborioso o que o torna inviável para rotinas laboratoriais (2, 7). REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A determinação de boro, por espectrometria de absorção atômica em chama, em soluções aquosas, ocorre à formação de muitos compostos Anais do 45º Congresso Brasileiro de Cerâmica 2202703 30 de maio a 2 de junho de 2001 - Florianópolis – SC refratários na atomização, que interfere na determinação do analito (4). Por esta razão, e pela baixa sensibilidade, uma equipe de pesquisadores, [AGAZZl HOSSNER e WEGNER apud, WELZ, et al ] propuseram um procedimento de extração para o enriquecimento e separação dos interferentes de matriz. Extraíram o boro com 2-etil-1,3-hexadiol complexado com clorofôrmio. Entretanto, este solvente de complexação não é conveniente para combustão na chama de óxido nitroso e acetileno. Outra equipe, [MELTON et al, HOLAK apud WELZ] usaram MIBK (metil isobutil cetona) como solvente de extração, porém este solvente só deve ser usado, desde que, fique comprovado que seja adequado para o sistema de extração o qual se deseja. [ELTON-BOTT apud WELZ] aumentou a sensibilidade do boro através da conversão em um composto volátil (ácido bórico metil ester) e introduziu este composto em fase gasosa na chama de óxido nitroso e acetileno. [CHAPMN e DALE apud WELZ] volatilizou boro em forma de fluoretos e este foi recolhido em um sistema fechado e adequado para a determinação, tornando-se possível aumentar a sensibilidade. [SZYDLOWSKY apud WELZ] determinou boro em água e observou que a adição de 1000 mg / l de hidróxido de bário produziu melhor sensibilidade. Uma equipe de pesquisadores estudou a determinação de boro em vidros utilizando a técnica de espectrometria absorção atômica em chama comparando com a técnica titulométrica, complexando com manitol. A solubilização das amostras foram feitas usando ácido fluorídrico em vasos fechados, este tratamento foi de um dia até outro. Para solubilizar 5 g de amostras usou-se 40 mL de HF 40%. Os resultados obtidos foram considerados excelentes, trabalhando com concentrações entre 5,64 % a 6,81 % de B2O3, concentrações consideradas boas para se trabalhar, devido à baixa sensibilidade do boro. O maior problema encontrado na determinação de boro por espectrometria de absorção atômica, foi à obstrução da fenda do queimador. Isso ocorre devido à formação de carbetos provenientes da combustão incompleta do gás( 5) . Usando banho maria com temperatura controlada para não ultrapassar 100ºC, amostras de vidro foram solubilizadas em vasos abertos usando ácido fluorídrico. O padrão primário usado foi, National Bureau of Standards Anais do 45º Congresso Brasileiro de Cerâmica 2202704 30 de maio a 2 de junho de 2001 - Florianópolis – SC Certificado (NBS) com 12,56 % de B2O3 e encontrou 12,6 % de B2O3, estas concentrações são altas, os resultados encontrados foram excelentes. A determinação do boro foi através da técnica de espectrometria de absorção atômica em chamas, com óxido nitroso e acetileno ( 6 ). MATERIAIS E MÉTODOS Moinhos anelares revestidos de carbeto de tungstênio, foram usados para pré-moagem, reduzir bem a granulometria para favorecer o tratamento de digestão. As digestões foram realizadas por, microondas, modelo DGT 100 PROVECTO, sistema de digestão por as determinações por, espectrômetro de absorção atômica, UNICAM modelo SOLAR 969, com lâmpada de deutério para correção de background e lâmpada de cátodo oco de boro. Tabela II, contém os parâmetros operacionais do espectrômetro de absorção atômica para determinação de boro. Foi preparado em paralelo um padrão de referência, AN 30 de qualidade CERAM, com concentração de 17,40 % de B2O3. Alíquotas das amostras de colemanita, ulexita e do padrão AN 30, foram pesadas diretas nos vasos do microondas. Adicionou-se cerca de 5 ml de água deionizada e 5 ml de ácido clorídrico concentrado P.A (37 %) de qualidade Merck, foram homogeneizados manualmente e adicionou-se mais 25 ml de água deionizada, os vasos foram fechados e levados ao microondas e aplicado o programa, que consta na tabela I. Tabela I. Parâmetros operacionais para digestão das amostras. Passos Tempo (min) Potência ( Watts ) 1 10 330 2 5 700 3 2 000 4 3 500 5 2 800 Anais do 45º Congresso Brasileiro de Cerâmica 2202705 30 de maio a 2 de junho de 2001 - Florianópolis – SC Após as amostras resfriarem elas foram transferidas quantitativamente para balões volumétricos de 250 ml, completando-se o volume com água deionizada, homogeneizando bem. Na Tabela II, observa-se os parâmetros de otimização do espectrômetro de absorção atômica. Para se obter a melhor otimização da chama, altera-se o fluxo do oxidante ajustando a absorvância do analito entre 0,049 a 0,051, usando solução padrão de 100 mg / l de boro. Tabela II. Parâmetros operacionais para determinação de boro Comprimento de onda (nm) 248,9 Corrente da Lâmpada (mA) 15 Fenda espectral (nm) 0,5 Atomizador ( 5cm) Padrão Chama Oxido nitroso e acetileno Altura do queimador (mm) 3 mm Faixa do fluxo do oxidante (l. min-1) 4,3 - 4,6 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela III - encontra-se os resultados analíticos obtidos, bem como, as respectivas massas usadas nesta análise. As amostras foram preparadas em duplicata, para cada duplicata foram tomadas cinco leituras, a fim de poder avaliar melhor a estabilidade das leituras, que é um grande problema para determinação de boro através da técnica de espectrometria de absorção atômica. Anais do 45º Congresso Brasileiro de Cerâmica 2202706 30 de maio a 2 de junho de 2001 - Florianópolis – SC Tabela III – Valores de óxido de boro obtidos e as respectivas massas usadas. Amostras Colemanita Natural Massa 1 Massa 2 0,5970 g 0,5190 g 1 28,69 2 Ulexita Natural Massa 1 Massa 2 AN 30 Massa 1 Massa 2 0,5292 g 0,5466 g 0,5083 g 0,5968 g 28,45 40,12 40,34 17,54 17,44 28,66 28,35 40,60 40,57 17,67 17,67 3 28,92 28,24 40,43 40,71 17,66 17,55 4 28,58 28,47 40,14 41,23 17,67 17,68 5 28,37 28,34 40,76 40,44 17,82 17,78 Média ( % ) 28,64 28,37 40,41 40,72 17,67 17,62 ( incerteza ) 0,20 0,09 0,28 0,32 0,09 0,13 Os resultados obtidos para o padrão de referência AN 30, apresentou um pequeno erro para mais, em relação ao valor certificado, esta variação provavelmente ocorreu, devido ao boro ser um elemento refratário, que necessita de 6 eV para atomização, isso implica em dificuldade de ionização, consequentemente produz background auto que resulta em uma absorvância maior do que a real, produzindo resultados analíticos maiores (11). Para as amostras de ulexita e colemanita os resultados foram dentro do esperado e são satisfatórios como resultados tecnológicos. CONCLUSÕES Podemos concluir que a técnica de espectrometria de absorção atômica em chama demonstrou-se adequada para a determinação de boro em ulexita e colemanita naturais, por ser mais rápida e melhor atender as necessidades da indústria. Porém, apesar de os resultados estarem satisfatórios tecnologicamente a incerteza dos resultados ainda é muito alta o que não é válido cientificamente, por isso há necessidade de melhores estudos tanto na elaboração das amostras quanto na otimização do equipamento de forma a minimizar os interferentes analíticos. Anais do 45º Congresso Brasileiro de Cerâmica 2202707 30 de maio a 2 de junho de 2001 - Florianópolis – SC REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 – CONSEJO SUPERIOR DE INVESTIGACIONES CIENTÍFICAS, FUNDACIÓN CENTRO NACIONAL DEL VIDRIO. El vidrio. Madrid : 1991. 2 – LEE; J. D. Química inorgânica. Edgard Blucher Ltda. São Paulo: 1980. p 156 – 166. 3 – PEREZ, H. Algora. Apuntes de Esmaltes y Colores Cerámicos. Espanha: Educació I Ciéncia. 1991. p 59 – 67 . 4 - WELZ, B. Atomic Absortion Spectrometry. Berlin: Springer Verlag, 1985. p 275 - 276 . 5 – BERRY, E. Andrew. Determination of boron in glass by Atomic Absorption Spectrophotometry, Ceramic Bulletin; Vol. 55; nº 6 1976. p 583 - 584 6 – KILROY, W. P. MOYNIHAN, C. T. Atomic Absorption Analysis of Borosilicate Glass. Analytica Chimica Acta. v 83. 1976. 389 –392 p. 7 – MÁS, F. ESTELA, J. M. CERDÀ V. and OCHANDIO E. Automatic System for the determination of boron in ceramic frits. J. of Automatic Chemistry , v. 13, n.3, p 107-110. May - jun 1991. Anais do 45º Congresso Brasileiro de Cerâmica 2202708 30 de maio a 2 de junho de 2001 - Florianópolis – SC DETERMINATION OF BORON IN COLEMANITE AND ULEXITE BY ATOMIC ABSORPTION SPECTROMETRRY ABSTRACT The chemical element boron occurs in Nature mainly as boric acid (H3BO3), borax (Na2B4O7.10H2O), colemanite (Ca2B6O11.5H2O) and ulexite (NaCaB5O9.8H2O). Its principal applications are as neutron absorbent in nuclear chemistry; hardener of metallic leagues; and softening agent for ceramic glasses and enamels. Furthermore, boron oxide is a basic component of ceramic enamels. Due to its large use in ceramic industry, it is necessary to quantify precisely the amount of boron present in samples under analysis. At this point one will face great difficulties regarding which technique to use, i.e., which kind of chemical analysis is more appropriate. The most common method for boron determination is based on complexation using a polyhydroxyl substance and subsequent titration with a strong base solution. However, it is a long and laborious method. This work deals with boron determination using atomic absorption spectrometry in flame (AAS). The technique is fast and has presented good results. Word-keys: Colemanite, Ulexite, Ceramic, Analysis, Boron.