Transformador Monofásico [de Isolamento] Transformação de Tensão Transformação de tensão para várias tensões de entrada: U2, U3, U23 = f (U1) Informação 1.1. Generalidades Além da conversão de energia natural - carvão, petróleo, gás, água, vento, etc. nas centrais eléctricas, outro elemento importante para a indústria da energia é o transporte de energia eléctrica até aos consumidores. De forma a fazer o transporte de energia eléctrica economicamente, a indústria de energia deve gerar muito altas tensões, minimizando as correntes transferidas. O seguinte exemplo demonstra o que foi dito: A nossa tensão alterna monofásica é de 220V. Uma central de energia eléctrica gera, por exemplo, uma potência de 100000 Kw. Com uma carga puramente Resistiva (“ohmica”) - cos ϕ = 1 - as correntes serão: P 100000 Kw I= ⇔I= ⇔ I = 454 , 5 KA U 220 Para o transporte desta energia eléctrica, durante 100 Km e com uma queda de tensão máxima de 10 % causada pela resistência da linha, a secção calculada do condutor de cobre seria: 2×l× I S= → Com Ua= 10 % de 220V ⇔ Ua = 22V γ × Ua 2 × 100000 × 454 , 5 KA ⇔ S = 74 m 2 m 56 × 22V Ω × mm 2 Fazer uma linha com esta secção é quase impossível. Se o transporte de energia S= eléctrica fosse efectuado a 220 KV, então a secção seria de 74mm2. A função do transformador tem duas fases; a geração da alta tensão para um transporte de energia eléctrica e também da baixa tensão para o consumidor final. Além destas funções no fornecimento de energia, o transformador tem importantes funções na tecnologia da metrologia e em telecomunicações, contudo estas áreas não serão aqui descritas. Em sistemas de potência, os transformadores são usados para transformar a energia eléctrica de um sistema gerador de tensão alterna para uma rede com tensão diferente, sem que a frequência seja alterada. A tensão é aplicada no lado da entrada, ou seja, no primário. A energia eléctrica com a tensão U2 desejada é obtida no lado da saída, ou seja, no secundário. Além destas designações, também é comum chamar-se lado de altatensão e lado de baixa-tensão. Fig. 1 - Representação esquemática do transformador no processo de transmissão de energia 1.2. Esquema Os condutores do primário e secundário num transformador monofásico estão isolados electricamente, i.e., não existe ligação entre os condutores. O acoplamento requerido para a transmissão de energia, é conseguido através de um fluxo magnético. Portanto, os condutores estão enrolados num núcleo de ferro, de forma a estarem isolados electricamente uns dos outros. O núcleo de ferro é constituído por várias lâminas isoladas umas das outras. Como resultado as correntes de Eddy (Foucault) e as perdas por histerese mantém-se baixas. O isolamento das lâminas é feito com papel ou plástico, verniz ou uma película de óxido. Dependendo do desenho do núcleo magnético os transformadores monofásicos distinguem-se como couraçados e não-couraçados. As colunas e as culatras (núcleo que fecha o fluxo magnético) têm a mesma secção, assim o fluxo magnético presente é igual em todo o núcleo de ferro. Em contradição com isto, apenas a coluna central do transformador couraçado é diferente. Por isso, o fluxo magnético é distribuído metade para cada uma das outras colunas. Assim sendo, as colunas laterais têm apenas metade da secção da coluna central. Fig. 2 - Núcleos magnéticos do transformador monofásico 1.3. Designações dos terminais Os fios de ligação do transformador monofásico são designados pelo número ou combinação número-letra: 1.1. ou 1U1 → Primário (início) 1.2. ou 1U2 → Primário (final) 2.1. ou 2U1 → Secundário (início) 2.2. ou 2U2 → Secundário (final) 1.4. Funcionamento Se uma tensão alternada U1 é aplicada ao primário (N1), com o secundário em vazio, circula uma corrente Io em N1. O fluxo magnético gerado por Io no enrolamento de entrada produz um fluxo magnético φ1, no circuito magnético. Este, de acordo com U1 e Io, é um fluxo alterno. Este atravessa o secundário e então induz-lhe uma tensão alterna U2o. Fig. 3 - Transformador monofásico em vazio A tensão também é induzida no enrolamento primário de acordo com a Lei da indução. Em conformidade com a Lei de Lenz, esta tensão auto-induzida U1o, opõe-se à tensão aplicada no primário U1 (fig. 3). De acordo com a Lei da indução aplica-se o seguinte para a magnitude da tensão induzida: ∆Φ uo = N ∆t A curva do fluxo magnético pode ser considerada sinusoidal. Se isto for verdade, verifica-se: ∆Φ = Φ.ω ∆t Com a frequência do circuito ω = 2.π.f E o fluxo magnético de φ = B.A Então: uo = N . B. A. 2. π. f Significado das siglas: φ Valor máximo de fluxo magnético f Frequência da tensão alternada B Indução magnética A Área do núcleo de ferro N Número de espiras A tensão é indicada em valores eficazes: u U0 = o 2 Logo, a equação principal do transformador, é a seguinte: U0 = N . B. A. 2. π. f ⇔ U0 = 4, 44. N . B. A. f 2 Portanto, o enrolamento de maior tensão tem sempre maior número de voltas (espiras) do que o enrolamento de menor tensão, mas não importa qual dos enrolamentos é o primário ou o secundário. 1.5. Sem Carga No transformador real o fluxo magnético não passa na totalidade pela bobina do secundário. Uma pequena porção fecha o circuito através do ar. Esta porção chama-se fluxo de dispersão. O fluxo φ1 gerado por I0 é assim separado num fluxo principal φ1h e um fluxo de dispersão φ1σ - ver fig.3. O fluxo de dispersão pode ser ignorado se o transformador estiver a funcionar em vazio, i.e., sem carga. Então: Φ1 = Φ 2 = Φ Consequentemente, o resultado das razões de transformação para as tensões induzidas, são: U10 = 4, 44. N1 . Φ. f U20 = 4, 44. N2 . Φ. f U10 4, 44. N1 . Φ. f = U20 4, 44. N2 . Φ. f Logo: U10 N1 = U20 N2 As tensões induzidas estão directamente relacionadas com o número de espiras. No caso do transformador operar sem carga, não circula corrente no secundário. I2=0, não existe queda de tensão, logo U2o=U2. No primário a queda de tensão causada pela corrente Io é desprezável. Grosseiramente falando, é verdade que: U1o=U1. Assim: U1 N1 = U2 N 2 As tensões do transformador estão directamente relacionadas com o número de espiras dos enrolamentos. A relação entre a tensão do secundário e a do primário, é chamada a relação de transformação, n: U 6000 V n = 1N n= Exemplo U2 N 230 V As tensões nominais U1N e U2N estão expressas na placa de características do transformador. 16 6000 2,8 4,5 LT 230 70 1990 50 S1 li0 Fig. 4 - Placa de características de um transformador monofásico A tensão em vazio U20 é dada como tensão nominal para transformadores com potências superiores a 16 KVA. Para transformadores de pequenas potências a tensão nominal de secundário é a tensão de saída (secundário) à carga nominal com corrente activa. 1.6. Desfasamento Os dois enrolamentos do transformador, se enrolados na mesma direcção e colocados na mesma coluna, então eles são atravessados pelo fluxo magnético na mesma direcção. Não há desfasamento causado entre as tensões U10 e U20 e consequentemente não há desfasamento entre U1 e U2. Isto não se altera quando o enrolamento secundário é colocado na outra coluna e as designações dos terminais mantêm-se: U1 e U2 estão em fase - ver fig. 5-b). Contudo, se as designações são aplicadas nas mesmas localizações para o enrolamento secundário assim como para o primário, então há desfasamento entre as tensões de entrada e saída ver fig. 5-c). Dependendo da posição dos enrolamentos do núcleo magnético, da disposição e direcção dos enrolamentos relativamente uns aos outros, pode-se observar um desfasamento de 0º ou 180º entre as tensões do primário e do secundário do transformador monofásico. Como resultado, não seria necessário efectuar as medições do ângulo de fase nos ensaios (os vectores de tensão para U1 e U2 estão indicados na referência de carga do sistema – designações junto aos terminais). Por consequência, as correntes causadas por estas tensões flúem desde o terminal U1 pela carga, até ao terminal U2. Neste caso, a carga para a tensão de entrada U1 é o enrolamento de entrada do transformador, a carga para a tensão de saída U2 é a impedância ZB conectada ao secundário. Fig. 5 - Relação entre as fases das tensões para o transformador monofásico 1.7. Nota especial para o transformador funcionar em vazio O enrolamento primário do transformador quando em vazio comporta-se como uma bobine de grande indutância. A corrente em vazio I0 é muito pequena, porque a tensão auto-induzida U10 opõe-se á tensão aplicada U1, e é quase tão grande como esta. Contudo, I0 já gera o fluxo magnético máximo φ1. Acresce que, nesta situação, são desprezáveis as perdas no cobre comparadas com as do ferro. O circuito magnético é quase saturado no processo. Agora, se U1 é aumentado isto leva á saturação magnética do núcleo de ferro, e o fluxo magnético não aumenta mais. Assim, U10 também não aumenta mais, a diferença entre U1 e U10 torna-se maior. A corrente de entrada aumenta fortemente (bem como as perdas no cobre), e o enrolamento e o núcleo de ferro aquecem consideravelmente. A tensão que é tão alta, pode levar á destruição do transformador, funcionando em vazio, devido a circularem correntes elevadas na entrada.