Escola Básica e Secundária de Velas A democracia na Grécia O termo democracia, como é sabido, teve a certidão de nascimento na Grécia, como o regime a que se aplica. (…) O termo apresenta o mesmo tipo de formação de aristocracia – regime em que dominam os aristoi, “os melhores” no sentido social – e de plutocracia – o sistema político em que o acesso ao poder se baseia na riqueza. Democracia é assim o “governo pelo demos”, o povo. Falar de democracia grega é falar, pode dizer-se, de democracia ateniense – expressões que praticamente se equivalem. É certo que em outros Estados gregos o povo atingiu o poder, em alguns possivelmente até primeiro do que em Atenas, como aconteceu em Mileto, Mágara, Samos, Quios, one é provável terem existido instituições democráticas desde inícios ou meados do século VI a.C. (…) Apesar de não ser o mais antigo exemplo de democracia e de não ser caso isolado nos séculos V e IV, Atenas foi, no entanto (…) a mais conhecida e sempre um ponto de referência para as demais, a que nos fornece mais fontes e dados para estudo, a que levou o regime a maior perfeição, a que nos legou princípios ainda hoje fundamentais. Inspirou, além disso, muitos outros estados gregos a seguir o seu exemplo. À sua volta formou-se uma simaquia – a de Delos, ou Primeira Confederação Ateniense, como também se lhe chama -, que esteve na base de um império, cujas cidades adoptaram, de modo geral, o regime democrático. Esta simaquia, no século V, formava um bloco que se opunha a um outro, liderado por Esparta, a Simaquia do Peloponeso, em cujos Estados dominava a oligarquia. (…) No chamado “século de Péricles”, ou, para alargar um pouco mais os limites, entre 480 e 380, Atenas viveu uma época áurea no aspecto cultural, artístico, literário, político e económico. Era uma cidade cheia de vida, de dinamismo, onde afluíam pensadores e comerciantes de todos os lados. (…) A cidade atraiu intelectuais de várias partes da Grécia e foi no seu seio que a História atingiu a maturidade com Heródoto e com Tucídides; que o Teatro se desenvolveu e nos legou peças que ainda hoje são obras-primas constantemente imitadas; que o movimento dos Sofistas se afirmou como resposta às necessidades do regime democrático; que a arte atingiu o pleno desenvolvimento com as realizações da Acrópole; que a educação, a filosofia, a ciência deram passos decisivos com Sócrates, Platão, Isócrates, Aristóteles; que apareceu a teorização e a reflexão política sistemáticas. Se os Helenos descobriram a democracia, foram também eles que criaram a teoria política – a arte de chegar a decisões graças à discussão pública. Nisso Atenas teve papel de realce. Foi nessa polis que primeiro se reflectiu sistematicamente na realidade política, observando-a, descrevendo-a, comentando-a; foi aí que em definitivo se formularam teorias políticas. (…) Os Gregos e Romanos, sobretudo os primeiros, eram ciosos de ter por único soberano a Lei, e isso os distinguia profundamente dos Bárbaros. Mesmo os governantes tinham de lhe obedecer e por ela conformar a sua actuação – sobretudo eles, porque como observava e bem Creonte na Antígona de Sófocles, não se conhece o temperamento e carácter de um homem antes de ele se exercitar no poder e na legislação. Esse poder e leis vêm da participação dos cidadãos, sendo nestes que reside a pólis. José Ribeiro Ferreira, A Democracia na Grécia Antiga, Livraria Minerva in, Cadernos de História A, Parte 1, Porto Editora, 2003, p.62 1