TÍTULO: MENSURAÇÃO DA LARGURA DA LINHA ALBA COMO PARÂMETRO DE DEFINIÇÃO DE DIÁSTASE DO MÚSCULO RETO DO ABDOME EM CADÁVERES CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: MEDICINA INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DE FRANCA AUTOR(ES): IVO PEIXOTO BARBOSA JUNIOR, ADÉLIO DE LIMA DIAS, GUSTAVO BALADORE SZENDLER, ISABELA BAUTI PINTO ORIENTADOR(ES): MARCUS VINÍCIUS JARDINI BARBOSA RESUMO Introdução: As deformidades da parede abdominal motivam correções por meio de cirurgia plástica, sendo a diástase dos músculos retos do abdome uma das alterações mais frequentes. Apesar de não haver uma definição específica, alguns autores definem diástase de retos como largura da linha alba maior que 2cm, porém não existem dados objetivos que definam este valor. Objetivo: Avaliar a largura da linha alba, em cadáveres, nas regiões supra e infra-umbilical. Métodos: Foram dissecados de 20 cadáveres adultos, do gênero masculino, no Instituto Médico Legal de Franca. Com o cadáver colocado em posição supina, foi realizada incisão xifopúbica até a exposição da linha alba, contornando-se o umbigo. Os dois pontos de referência para medida da distância dos retos foram: 3cm superiormente e 2cm inferiormente ao umbigo. As mensurações foram realizadas com um paquímetro digital. A análise estatística foi realizada pelo Teste de Wilcoxon (p<0,05). Resultados: O músculo reto do abdome direto revelou-se mais largo que o esquerdo (p=0,01) e a largura da linha alba foi maior no nível supra-umbilical (média=2,23cm) quando comparada ao nível infra-umbilical (média=1.64) (p=0,0002). Conclusão: A largura da linha alba foi maior no nível supra-umbilical e o músculo reto do abdome direito revelou-se mais largo que o esquerdo. Palavras-chave: cadáver; abdome; reto do abdome; antropometria. INTRODUÇÃO As deformidades da parede abdominal motivam correções por meio de cirurgia plástica, sendo a diástase dos músculos retos do abdome uma das alterações mais frequentes. Apesar de não haver uma definição específica, alguns autores definem diástase de retos como largura da linha alba maior que 2cm, porém não existem dados objetivos que definam este valor. METODOLOGIA Foram dissecados 20 cadáveres adultos, não fixados, com tempo de óbito de até 24 o horas, em temperatura ambiente (22-25 C), provenientes do Instituto Médico Legal de Franca-SP. Foram selecionados cadáveres do gênero masculino, sem distinção de raça. Os dados antropométricos foram registrados em protocolo específico. Com o cadáver colocado em posição supina (decúbito dorsal horizontal), foi realizada incisão xifo-púbica com bisturi de lâmina número dez, incluindo a pele e a tela subcutânea até a exposição da linha alba, contornando-se o umbigo de ambos os lados. A separação entre os músculos retos do abdome foi delimitada com violeta de genciana. Os dois pontos de referência para mensuração foram: 3cm superiormente ao umbigo (nível supra-umbilical) e 2cm inferiormente ao umbigo (nível infraumbilical). Com a finalidade de medir a largura da linha alba nestes níveis, foi utilizado um paquímetro digital, sendo os dados registrados no protocolo individual de cada cadáver. A caracterização da amostra encontra-se no Quadro 1. Quadro 1 – Média dos dados antropométricos dos 20 cadáveres. DADOS ANTROPOMÉTRICOS CADÁVERES (n=20) Idade (anos) 42,3 Peso (kg) 75,55 Altura (m) 1,69 IMC1 (kg/m2) 26,41 (1) IMC – índice de massa corpórea. Os valores obtidos da largura dos músculos retos do abdome, bem como da largura da linha alba foram comparados entre os lados direito e esquerdo, pelo Teste de Wilcoxon, considerando-se valores estatisticamente significantes para p<0,05. OBJETIVOS Objetivo geral O presente trabalho tem como objetivo geral mensurar e avaliar a incidência de diástase abdominal em cadáveres do gênero masculino, sem distinção de idade ou biótipo no Instituto Médico Legal de Franca-SP. Objetivo específico O objetivo específico visa mensurar o comprimento da diástase supra e infra umbilical. DESENVOLVIMENTO A medição da diástase do músculo reto abdominal em cadáveres propicia um amplo estudo populacional sobre sua variação métrica, considerada como normal até 2 cm (2). A pesquisa abrange homens sem restrição de faixas etárias e biótipos, por isso é relevante a utilização de seus resultados na correlação de casos clínicos nas áreas de cirurgia plástica, ginecologia, obstetrícia e fisioterapia. Diante de condições fisiológicas, congênitas, patológicas ou até mesmo pelo sedentarismo (3) a linha alba sofre alargamento e fragilização, seu grau de distensão pode sugerir alguma alteração na pressão intra-abdominal que consequentemente pode propiciar o surgimento de herniações. O presente trabalho ressalta a importância da relação entre a integridade anatômica do músculo reto abdominal com a vulnerabilidade à patologias futuras de indivíduos com características morfológicas semelhantes às de cadáveres utilizados para a pesquisa. Os resultados das mensurações revelarão o perfil dos cadáveres analisados. RESULTADOS O comprimento médio da linha alba e dos músculos retos do abdome foram coincidentes e com valor médio de 35,9cm. A média dos valores da largura dos músculos retos foi de 7,37cm à direita e 6,84cm à esquerda, ou seja, a largura dos músculos retos do lado direito revelou-se maior do que o esquerdo. A diferença entre esses valores foi comparada entre si e revelou-se estatisticamente significante (Figura 1). Figura 1 – Comparação da largura dos músculos retos do abdome direito e esquerdo. A média dos valores da largura da linha alba dos 20 cadáveres foi de 2,23cm no nível supra-umbilical e 1,64cm no nível infra-umbilical. A análise de normalidade da amostra revelou-se sem variações significantes para ambos os níveis. Comparandose os valores obtidos nos níveis supra e infra-umbilical, observou-se diferença estatisticamente significante, sendo maiores os valores do nível supra-umbilical (Figura 2). Figura 2 – Comparação da largura da linha alba entre os níveis supra e infraumbilical. CONSIDERAÇÕES FINAIS A diástase dos músculos retos do abdome é uma alteração frequente que cursa com aumento da projeção anterior global do abdome e pode concorrer para alterações posturais e lombalgia. Sua etiologia em geral decorre de gravidez nas mulheres e alterações ponderais em ambos os gêneros(1). A definição de diástase dos músculos retos é bastante heterogênea e varia desde qualquer afastamento dos músculos retos (2) até valores maiores que 1 a 3cm acima do umbigo, e 1 a 1,5cm abaixo do umbigo (3-5, 8). Assim, observa-se que não há um padrão bem definido à partir do qual pode-se afirmar que o indivíduo é ou não portador de diástase de retos, ou seja, o diagnóstico em geral é realizado pela experiência do profissional que examina. Na maior parte dos estudos que avaliam diástase de músculos retos, não há um padrão homogêneo de amostragem, sendo que a grande maioria dos estudos avaliou indivíduos do gênero feminino(1-8). Assim, no presente estudo optou-se pela avaliação de cadáveres do gênero masculino, sem cicatrizes ou alterações da parede abdominal, eliminando-se o viés do gênero feminino. Da mesma forma, a utilização de cadáveres para estudos da parede abdominal está bem definida na literatura(9-10). A utilização de paquímetro para mensuração é consagrada na literatura (2,3), sendo as medidas realizadas por um único pesquisador. Os valores referentes a largura dos músculos retos do abdome foram de 7,37cm à direita e 6,84cm à esquerda com diferença estatisticamente significante entre esses valores. Não foi encontrada na literatura, nenhuma informação referente a diferença entre a largura dos músculos retos. Todavia, é provável que a mesma tenha correlação com as assimetrias decorrentes de vícios posturais observados na prática clínica. A média dos valores da distância entre os músculos retos do abdome foi de 2,23cm na região supra-umbilical e de 1,64cm na região infra-umbilical, sendo esta diferença estatisticamente significante. Estes dados corroboram com os achados de Mendes et al. (2007) e com os dados de mulheres primíparas do estudo de Rett et al. (2012). Assim, o presente estudo mostrou-se bastante semelhante aos demais estudos no que concerne a distância entre os músculos retos. Contudo, apesar do n de 20 cadáveres estar dentro dos parâmetros estatísticos, há necessidade de um número maior de cadáveres, de ambos os gêneros para que se obtenha um valor mais fidedigno da normalidade , assim definir parâmetros precisos para definição de diástase de retos do abdome A largura da linha alba foi maior no nível supra-umbilical e o músculo reto do abdome direito revelou-se mais largo que o esquerdo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (1) Mendes DA, Nahas FX, Veiga DF, Mendes FV, Figueiras RG, Gomes MC, et al. Ultrasonography for measuring rectus abdominis muscles diastasis. Acta Cir Bras. 2007;22(3):182-6. (2) Rett MT, Araújo FR, Rocha I, Da Silva RA. Diástase dos músculos retoabdominais no puerpério imediato de primíparas e multíparas após o parto vaginal. 2012. (1):2-3 (3) Gilleard WL, Brown JM. Structure and function of the abdominal muscles in primigravid subjects during pregnancy and the immediate post birth period. Phys Ther. 1996;76(7):750-62. (4) Chiarello CM, Falzone LA, McCaslin KE, Patel MN, Ulery KR. The effects of an exercise program on diastasis recti abdominis in pregnant women. Journal of Women’s Health Physical Therapy. 2005;29(1):11-6. (5) Spitznagle TM, Leong FC, Van Dillen LR. Prevalence of diastasis recti abdominis in a urogynecological patient population. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct. 2007;18(3):321-8. (6) Nahas FX, Ferreira LM, Augusto SM, Ghelfond C. Long-term follow-up correction of rectus diastasis. Plast Reconstr Surg. 2005;115(6):1736-1741. (7) De Souza CB. Incidência de diástase de reto abdominal no período de pós-parto imediato em puérperas do alojamento conjunto do HNSC Tubarão/Sc. 2006.(1):28. (8) Both ACCL, Neto MMR, Moreira RSC. Estudo comparativo da diástase do reto abdominal em puérperas praticantes de atividade física e sedentárias. 2008. (1):44. (9) Barbosa MV, Nahas FX, Garcia EB, Ayaviri NA, Juliano Y, Ferreira LM. Use of the anterior rectus sheath for abdominal wall reconstruction: a study in cadavers.Scand J Plast Reconstr Surg Hand Surg. 2007;41(6):273-7. (10) Barbosa MV, Nahas FX, de Oliveira Filho RS, Ayaviri NA, Novo NF, Ferreira LM. A variation in the component separation technique that preserves linea semilunaris: a study in cadavers and a clinical case. J Plast Reconstr Aesthet Surg. 2010 Mar;63(3):524-31.