MANUFATURA DE COMPÓSITOS DE FIBRAS DE CARBONO/POLI(SULFETO DE FENILENO) POR SUSPENSÃO POLIMÉRICA AQUOSA Liliana B. Nohara1*, Aparecida M. Kawamoto2, Evandro L. Nohara3, Mirabel C. Rezende1 1* Divisão de Materiais/Instituto de Aeronáutica e Espaço do CTA – Pça. Mal do Ar Eduardo Gomes, 50, 12228-904 São José dos Campos/SP–[email protected]; [email protected] 2 Divisão de Química/Instituto de Aeronáutica e Espaço do CTA – [email protected] 3 Departamento de Engenharia Mecânica da UNITAU – [email protected] Manufacturing of carbon fiber/PPS composites by aqueous polymeric suspension The aim of the present work is to evaluate the polyimide interphase on manufacturing of thermoplastic composites based on carbon fiber/poly(phenylene sulfide), obtained by aqueous suspension prepregging method. In this study was observed that polyimide (PI) precursor (polyamic acid) possess interaction with the poly(phenylene sulfide), by detection of adhesion between matrix and reinforcement. Introdução As resinas termorrígidas dominam, atualmente, a indústria de compósitos devido à sua disponibilidade histórica, facilidade de processamento, disponibilidade de equipamentos para o processamento e cura de termorrígidos, existência de uma grande quantidade de dados/referências e baixo custo dos materiais. Os polímeros termoplásticos, por outro lado, oferecem outras características significativas e atrativas1: Potencial de manufatura de baixo custo: Estabilidade indefinida do pré-impregnado; além de não necessitar de estocagem refrigerada; Ciclo de processamento rápido; Pré-processamento para correção de falhas, que são mais facilmente reparadas; Termoformagem de placas planas, utilizando equipamentos de metais para moldagem; Alta tenacidade, boa tolerância a danos; Fácil controle da qualidade, menor variabilidade de lote para lote. Alguns problemas, no entanto, limitam a aplicabilidade corrente de polímeros termoplásticos: Um pré-impregnado de qualidade é difícil de preparar: Não apresentam aspecto pegajoso (tack) (comum em pré-impregnados termorrígidos) dificultando o arranjo das fibras (comumente o processamento de pré-impregnados termoplásticos faz uso do arranjo misto de fibras ou impregnação por pó); Massas molares muito altas, que podem conduzir a pobre molhabilidade das fibras, favorecendo o aparecimento de grande quantidade de vazios; Não-uniformidade; Problemas de processamento: Custo do ferramental; Altas temperaturas e pressão requeridas1. A Tabela 1 apresenta um sumário comparativo de algumas propriedades de termorrígidos e termoplásticos, quando da aplicação destes como compósitos. Entre polímeros termoplásticos de alto desempenho, as poliimidas (PI) representam uma importante classe de materiais que estão encontrando uso em muitas aplicações, por fornecerem vantagens como: alta resistência, estabilidade em altas temperaturas e resistência a solventes. Compósitos reforçados com fibras são exemplos de sistemas em que as PI têm sido utilizadas. As PI podem ser utilizadas como matriz polimérica, em compósitos reforçados com fibras e como material de interfase em compósitos2-4. Tabela 1 - Sumário de vantagens/desvantagens de termorrígidos e termoplásticos como compósitos1. Propriedades Formulações Viscosidade no fundido Impregnação na fibra Tack do pré-impregnado Arranjo do pré-impregnado Estabilidade do pré-impregnado Ciclo de processamento Temperat./pressão de processamento Custo de fabricação Durabilidade no meio-ambiente Resistência a solventes Tolerância à danos Base de dados Termorrígidos Termoplásticos Complexa Muito baixa Fácil Bom Bom Pobre Longo Baixo a moderado Alto Bom Excelente Pobre a excelente Grande Simples Alta Difícil Nenhum Nenhum a médio Excelente Curto a longo Alto Baixo (potencialmente) Desconhecido Pobre a bom Médio a bom Pequeno A fabricação de compósitos termoplásticos é difícil, devido à alta viscosidade destas matrizes, como o poli(éter éter cetona) (PEEK) e poli(sulfeto de fenileno) (PPS), na fusão. A alta viscosidade causa uma pobre molhabilidade do reforço; além disso, as matrizes termoplásticas são solúveis somente em poucos solventes comuns. Várias técnicas tais como pré-impregnação a seco, Anais do 9o Congresso Brasileiro de Polímeros impregnação na fusão, entre outras, têm sido utilizadas e modificadas, objetivando minimizar estes problemas. A pré-impregnação por suspensão polimérica aquosa ou suspensão pré-impregnante tem sido utilizada com sucesso por muitos pesquisadores5,6. A técnica de suspensão polimérica aquosa envolve a impregnação do reforço, por exemplo, fibras de carbono, pelo contato destas com uma suspensão de partículas poliméricas, tipicamente em um sistema composto por um mandril, como esquematizado na Figura 16, 7. Figura 1 – Desenho esquemático do sistema de pré-impregnação via suspensão polimérica aquosa5. A técnica de pré-impregnação de reforços via suspensão polimérica aquosa combina a matriz com a fibra, ao mesmo tempo em que o polímero formador da interfase (que também é o responsável por provocar a suspensão da matriz) é depositado sobre a fibra8. Esta técnica tem sido utilizada por muitos pesquisadores2-5,9-10 pelo uso da poliimida, tendo como precursor, o poli(ácido âmico) (PAA) solúvel em água e neutralizado com uma base, como o hidróxido de amônio, por exemplo, tornando-o um “sal de poli(ácido âmico)”. O objetivo do presente trabalho é avaliar a influência da inserção de uma interfase de poliimida na manufatura de compósitos baseados fibras de carbono/PPS, obtido pelo método de pré-impregnação via suspensão polimérica. Experimental Fibras de carbono – Foram utilizados tecidos de fibras de carbono (plain weave), com sizing, de procedência da Hexcel Composites. Este tecido é composto de cabos constituídos por 3000 filamentos de ~7 µm de diâmetro cada. Os tecidos foram cortados nas dimensões de (50 mm X 50 mm), para facilitar o manuseio e, conseqüentemente, a pré-impregnação; e, em seguida, foram lavados em acetona, para a retirada do sizing. Anais do 9o Congresso Brasileiro de Polímeros Matriz polimérica de PPS – O PPS utilizado neste trabalho é comercializado sob o nome Fortron, na forma de grânulos. Suas temperaturas de Tg e Tm são, respectivamente, 85ºC e 285ºC. A estrutura química do PPS é apresentada na Figura 2. S n Figura 2 – Estrutura química da matriz polimérica de PPS. Poli (ácido âmico) do tipo BTDA/ODA (interfase) - O PAA foi obtido pela reação dos reagentes 3,3’,4,4’- Dianidrido benzofenona tetracarboxílico (BTDA) e da diamina oxidianilina (ODA), conforme descrito na literatura4,11. A PI resultante possui Tg ∼ 304,5 ºC e mantém sua estabilidade térmica até ~ 422 ºC. A estrutura química do pré-polímero BTDA/ODA é apresentada na Figura 3. O O O HO OH HN O O HN O n Figura 3 – Estrutura química do PAA do tipo BTDA/ODA. Hidróxido de Amônio – Foi utilizado NH4OH de procedência da Synth com Título 28-30%. Água deionizada foi adicionada ao NH4OH, para a padronização do pH=12,0. Preparação dos laminados PEI / interfase / fibra de carbono Uma solução de NH4OH e PAA foi preparada, em um béquer que foi recoberto com parafilme e aquecida a 60°C por 30 minutos, sob agitação magnética. O NH4OH foi utilizado em uma razão estequiométrica de 1,25:1 para as funcionalidades do PAA (duas por unidade). A solução foi então resfriada à temperatura ambiente. O PPS foi adicionado à solução de NH4PAA e, então, misturado em um agitador magnético por 30 minutos, para assegurar o contato entre as partículas do PPS e do dispersante polimérico. A razão em massa NH4PAA/PPS foi de 0,05 e a concentração de PPS na suspensão foi de 10% em massa4,5,12. Os cortes de tecidos de fibras de carbono foram mergulhados no béquer com a suspensão polimérica em constante agitação. Em seguida, os pré-impregnados permaneceram à temperatura Anais do 9o Congresso Brasileiro de Polímeros ambiente por 24 horas, sendo logo após, levados a um forno convencional, sob vácuo, onde foram imidizados termicamente segundo o ciclo térmico apresentado a seguir4: 100ºC (60 min) I 200ºC (60 min) II 300ºC (60 min) Este procedimento remove cerca de 99% da água fisicamente ligada ao pré-impregnado. Após a imidização, os pré-impregnados foram avaliados quanto à adesão física da matriz ao reforço, pelo auxílio da interfase de poliimida. Resultados e Discussão A suspensão NH4PAA/PPS foi utilizada para impregnar tecidos de fibras de carbono. Após secagem a temperatura ambiente por 24 horas, pôde ser observado que, as partículas de PPS aderiram satisfatoriamente às fibras. A Figura 4 apresenta um tecido de fibras de carbono impregnado com a suspensão polimérica de NH4PAA/PPS e imidizado termicamente em forno convencional, conforme ciclo térmico apresentado no item Materiais e Métodos. Pode ser observado, na Figura 4 que as partículas da matriz polimérica mostraram-se bem aderidas às fibras de carbono, fato este identificado pela relativa dificuldade na remoção do pó de PPS da superfície do reforço, sendo observada a presença de um filme polimérico nessa superfície. Ao contrário do método por pré-impregnação via suspensão polimérica, este efeito não pode ser obtido pela técnica de moldagem por compressão a quente, que é um outro método de fabricação de compósitos termoplásticos, em que a matriz polimérica em pó é simplesmente espalhada sobre o tecido de fibra de carbono. Este procedimento não dispõe de um meio capaz de proporcionar uma melhor molhabilidade do reforço, como identificado no método por pré-impregnação via suspensão polimérica aquosa. Figura 4 – Laminado impregnado com a suspensão polimérica baseada em PAA do tipo BTDA/ODA/PPS. Anais do 9o Congresso Brasileiro de Polímeros Conclusões O PAA do tipo BTDA/ODA foi avaliado quanto à sua interação física à matriz polimérica de PPS e consequentemente, ao reforço. Foi verificado que o PPS apresentou adesão ao tecido de fibras de carbono, pelo emprego da interfase de PI, além de ter proporcionado uma melhor molhabilidade do tecido, se comparado ao método de obtenção de compósitos por moldagem por compressão a quente, que se dá pelo simples espalhamento de pó da matriz polimérica sobre o reforço. Diante do exposto, pode-se concluir que uma pesquisa mais aprofundada deve ser realizada, quanto à interação/miscibilidade do PAA à matriz polimérica, para uma adequada avaliação do método de manufatura de compósitos termoplásticos, via suspensão polimérica. Agradecimentos Os autores agradecem à FAPESP (Proc. N.00/15107-5) e ao CNPq (Proc. N.301583/2006-8, e N. 311396/2006-2) pelo suporte financeiro dado a este trabalho. Referências Bibliográficas 1. T. L. Vigo; B. J. Kinzig. Composite Applications – The role of matrix, fiber, and interface. VCH Publishers, Inc., New York, 1992. 2. L. B. Nohara; et al. Polímeros: Ciência e Tecnologia. 2004, 14, 121. 3. L. B. Nohara; A. M. Kawamoto; E. L. Nohara; M. C. Rezende. Polímeros: Ciência e Tecnologia. 2007, no prelo. 4. L. B. Nohara, Tese de Doutorado, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 2005. 5. A. Texier et al. Polymer. 1993, 34, 4, 896. 6. S. Padaki; L. T. Drzal. Composites: Part A. 1999, 30, 325. 7. H. N. Beck. Journal of Applied Polymer Science. 1992, 45, 1361. 8. A. E. Brink; M. C. Lin; J. S. Riffle. Chem.Mater. 1993, 5, 925. 9. J. Muzzy; B. Varughese; P. H. Yang. 36th. Int. SAMPE Symp. 1991, 36, 1523. 10. L. B. Nohara et al. Polímeros: Ciência e Tecnologia. 2004, 14, 121. 11. L. B. Nohara et al. In Anais do 7º Congresso Brasileiro de Polímeros, Belo Horizonte, 2003. 12. K. L. Reifsnider. Composites. 1994, 25, 7, 461. Anais do 9o Congresso Brasileiro de Polímeros