A Sídrome de Jaco

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A Sídrome de Jaco
Nes
ta edição, gostaria de ponderar algumas questões relativas a
este instrumento tão especial e absolutamente indispensável em
qualquer grupo musical: o baixo.
Houve uma época em que os baixos eram somente acústicos e
tocados com arco, geralmente em orquestras de repertório
Erudito. Depois, com o surgimento do Blues, Country, Jazz,
Rock’roll, Blue Grass e outros o Contra-Baixo Acústico evoluiu
em todos os sentidos e os Baixistas abandonaram o Arco,
possibilitando mais performance e interação rítmica com os
outros instrumentos.
Mas o papel do Baixo sempre foi e será muito claro: o de
intermediar os instrumentos rítmicos com os de harmonia, ou
seja, ser um elo que conecta de forma importante, a Bateria e
Percussões com Guitarras, Violões, Pianos, Teclados, etc. Para
o grande público, este instrumento nunca se destacou, nunca
ficou claro qual o seu papel e muitas vezes foi confundido com
a Guitarra, mesmo quando o cantor ou vocalista do grupo era
baixista, como Paul McCartney (The Beatles), Sting (The
Police), Paulo Ricardo (RPM) e outros.
Para que um Grupo, uma banda funcione musicalmente,
principalmente em trabalhos não autorais, ou seja, bandas que
tocam na noite com uma proposta cover, deve-se respeitar uma
hierarquia instrumental. Esta hierarquia não tem nada a ver
com “quem é mais importante que quem”, mas sim com a harmonia
sonora dentro de um modelo ao qual nossa música ocidental
funciona. Por exemplo, todos os instrumentos da banda devem
“estar para” o solista, seja um cantor, um saxofonista, etc. O
baixo deve “estar para” o piano, teclado, guitarra, violão. A
bateria deve “estar para” todos, e assim por diante.
Quando afirmo estas coisas, afirmo baseado na estrutura que
forma nossa música como é e na função intrínseca de cada
instrumento. O baixo “servir” ao piano e à cantora não é uma
condição humilhante e nem de “inferiorização”, mas sim
colaborativa, consciente e madura.
Surgiram
ícones
do
Baixo
Elétrico a partir do fim dos
anos 60 que revolucionaram este
instrumento para sempre, tanto
no Jazz, como no Rock. Aqui no
Brasil, por exemplo, tivemos
como grande representante de sua
geração, Luizão Maia. Numa segunda leva, tivemos o insuperável
Nicko Assumpção.
Em termos mundiais, tivemos muitos ídolos, mas certamente o
que mais se destacou foi o gigante Jaco Pastorius. Pois bem,
até aí (a princípio) estamos todos de acordo.
A grande questão, e aí vem o título desta matéria, é que os
baixistas da geração pós-Jaco absorveram as técnicas
inovadoras não só deste ídolo, mas de outros tantos que vieram
depois, e se esqueceram da função do próprio instrumento. Mais
grave ainda, passaram a menosprezar o estudo da Harmonia,
quesito básico para a formação de um músico que se considera
profissional. Este instrumento que sempre foi o alicerce que
possibilita todas as outras coisas num grupo musical, muitas
vezes agora disputa um lugar que não é seu à frente de todos,
deixando uma lacuna insubstituível na estrutura sonora. Sei
que estou sendo talvez exagerado, mas faço assim com o
propósito de alertar nossa querida comunidade e colegas.
É claro que o Jaco Pastorius funcionava como baixista. Ele era
um gênio, e como tal estava à frente de seu tempo, mas o que
as pessoas esquecem, ou nem sequer pensam é que o grupo ao
qual este baixista pertencia, e a música que eles faziam tinha
um caráter experimental, além de ser um trabalho autoral, de
criatividade e de descobertas. Hoje, músicos que não sabem
harmonia e nem querem saber, instrumentistas que não ouvem
música e que não possuem bagagem cultural, exigem seu “espaço”
de solo-performance dentro de um grupo que nunca foi deles (a
não ser que seja um trabalho autoral ou de releituras
específicas).
Outro efeito colateral da influência destes baixistas de
destaque, com técnicas excepcionais, é o de que baixistas
querem tocar Bolero, Salsa, Reggae, Blues, Samba, Rock, Bossa
Nova, MPB e tudo mais usando estas técnicas de modo
desavisado, não compreendendo nem os aspectos básicos de cada
estilo desses, como também não entendendo em que contexto os
seus ídolos baixistas desenvolveram tais técnicas.
Finalizando, para aqueles que por ventura não me
compreenderam, ou entenderam errado alguma colocação minha,
reforço aqui:
O Baixo é um instrumento que adoro e que acho
imprescindível numa banda;
Baixistas deveriam estudar Harmonia antes de
desenvolverem técnicas exuberantes;
O grande papel do baixo é de suporte e equilíbrio para
que tudo funcione bem;
O Baixo pode ter todo o destaque do mundo, de
performance, de estrutura instrumental e de solo, caso o
trabalho especificamente peça isso;
O Baixo é o elo que liga tudo.
Sejam este elo, queridos baixistas.
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