REALIDADE ATUAL: GLOBAL E LOCAL A nível global, existe um processo contínuo de redução de crescimento por diversos motivos – desaceleração e incertezas regulatórias na queda nos preços de petróleo e commodities e seu impacto na viabilidade financeira de emergentes e na volatilidade de fluxos de capitais, envelhecimento populacional e queda de produtividade, entre outros. Todos estes fatores induzem agentes multilaterais, bancos e consultores a reduzir projeções de crescimento global, atualmente na faixa de 2,6% a 3,4% para o corrente ano de 2016. A Europa patina em um crescimento de 1,5% e novas injeções monetárias não parecem ter mais efeito. Os EUA crescem a estáveis 2,2% / 2,5%, números que não permitem que o país volte a ser a locomotiva do mundo. Neste contexto global, eficiência econômica e inovação tornam-se as palavras-chave para ganhos de competitividade e sobrevivência. A nossa realidade local é desastrosa. A nível nacional, como em qualquer empresa, caminhamos para quebrar no caixa. Entre juros e perdas com swaps cambiais o governo central está pagando mais de R$ 500 bilhões por ano – cerca de 8,8% do PIB. A dívida bruta de 67% do PIB vai crescer e superar 80% do PIB em poucos anos. A precariedade financeira federal propaga-se para as finanças estaduais e torna precárias as operações em áreas críticas de atuação governamental – educação, saúde e segurança. Acuados, o governo central e os estaduais não têm opção a não ser dobrar as apostas erradas e elevar impostos, onerando a atividade produtiva e todos os segmentos contribuintes. Surpreendentemente, tudo isto está acontecendo em um ambiente aparentemente de quase total passividade e omissão da classe empresarial. • • A classe não tem qualquer representatividade política e/ou lideranças com expressão; A classe está e atua de forma fragmentada e desestruturada e, por diversos motivos, não consegue se unir; • Todas as suas iniciativas no sentido de implementar reformas estruturais que tornem o país mais competitivo são diluídas no processo político e não resultam em absolutamente nada. Uma adequada interpretação desta realidade da classe empresarial é necessária. Algumas interpretações simplórias seriam possíveis: • • • • Ela decorre da passividade e falta de interesse da classe. Empresários estão apenas focados em lucros imediatos; Empresários não têm valores sociais e a classe é indiferente à atual sensação de vazio e insegurança geral da sociedade; Empresários não estão interessados em formar lideranças e participar do processo de formação da “Opinião Pública”; Empresários não querem assumir corresponsabilidades sociais. Interpretações simplórias para questões complexas têm como característica, quase sempre, estarem erradas e sem qualquer fundamento. A classe tem valores sociais, percebe o vazio na sociedade e está disposta a assumir corresponsabilidades. Realmente, a classe não tem se preocupado em formar lideranças e atuar sobre a opinião pública, falha que deve ser corrigida. Mas, o que mais destoa, é que a classe não tem sido passiva. As propostas de reformas estruturais têm sido constantes e são sistematicamente rejeitadas pelo sistema político. Isto é casual ou será que o sistema político se organizou para neutralizar e fragmentar a classe empresarial? As relevantes perguntas que ficam são: POR QUÊ SOMOS SISTEMATICAMENTE REJEITADOS PELO SISTEMA POLÍTICO? POR QUÊ NÃO CONSEGUIMOS FORMAR LIDERANÇAS E TER UMA ATUAÇÃO RELEVANTE? OS FUNDAMENTOS DAS QUESTÕES: A ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL A classe empresarial reconhece as dificuldades atuais, tanto a nível global quanto à local, quer participar e contribuir e não consegue. Na atual linguagem de STAR WARS, somos um bando de Jedis tentando neutralizar o Império e esbarrando em seu forte Escudo Protetor. É preciso reconhecer que nossa incapacidade de atuar não é casual, ela é resultado da atual organização institucional brasileira. A relação entre organização institucional e desempenho econômico foi examinada extensivamente por Douglass North, que recebeu o prêmio Nobel de Economia, em 1993, pelo resultado de suas pesquisas. Em seu livro clássico “Institutions, Institutional Change and Economic Performance” (1990) ele chega à relevante conclusão de que “As sociedades incapazes de desenvolver mecanismos de cumprimento e exigibilidade de contratos a baixos custos de transação tendem à estagnação e ao subdesenvolvimento econômico”. Nesta afirmativa está implícita a relevância de ética negocial, transparência contratual e eficiência do Judiciário. Não só na contratação entre partes privadas, mas, particularmente, entre governos e partes privadas, como fica claro a seguir. Em seu último livro “Violence and Social Orders” (2009), North mostra que a evolução institucional de uma sociedade tem na “ordem social” seu conceito-chave. Uma sociedade pode desenvolver-se segundo duas estruturas básicas de “ordem social”: “ordem de acesso limitado” ou “ordem de acesso aberto”. Num país que se desenvolve segundo uma “ordem de acesso limitado”, North argumenta que “O sistema político é concentrado e manipula o sistema econômico para que elites políticas possam capturar rendas e impedir o acesso por não-elites aos meios econômicos. Nesses países, as aparências enganam. Formalmente, a distribuição do poder pode ser tripartite, as burocracias estatais podem ser profissionais e as eleições podem ser pelo voto. Mas as restrições ao acesso são acima de tudo informais: vêm de pequenas e grandes corrupções de dentro e de fora da burocracia, das relações epicenas entre empresas privadas e estado, da dificuldade para a execução de contratos e proteção da propriedade, de convenções sociais perversas e, claro, de uma infinidade de óbices burocráticos, autorizações, registros, licenças e regulamentos. Por isso, a estabilidade do sistema só pode vir da cooperação e da troca de favores dentro da elite política e da plutocracia econômica. Quando todos têm telhado de vidro, ninguém ataca ninguém”. Ainda segundo North, a outra alternativa seria “Num país de “ordem de acesso aberto” a dinâmica básica de geração de riqueza e alocação de poder não é mais baseada na troca de favores, mas na competição política e econômica e na corrida por inovações que gerem progresso econômico. Nenhum grupo é capaz, individualmente, de se impor de modo hegemônico sobre os demais, e essa é a chave para a estabilidade do sistema. O relativo equilíbrio de forças impede a apropriação do estado por qualquer grupo e, por isso, a criação de privilégios se torna mais difícil. Mesmo que cada grupo esteja continuamente tentando se apropriar da coisa pública, nenhum deles é forte o suficiente para fazê-lo de forma decisiva. Os grupos se monitoram reciprocamente, e quando há algum problema – esse é o pulo do gato – o impasse é superado pela criação de regras impessoais e estáveis. Desse modo, um conjunto de impotentes vontades de conquistar o privilégio paradoxalmente conduzem à limitação do privilégio”. Considerando as experiências contemporâneas de ditaduras, de negociação pela reeleição, do Mensalão, da Lava Jato, da Zelotes, de outras conhecidas e de outras ainda desconhecidas, não parece ser difícil caracterizar a opção de “Ordem Social” vigente ou imposta ao Brasil nas últimas décadas. Aqui, temos que reconhecer que nem toda a classe empresarial é composta de adeptos da “Ordem de Acesso Aberto”, nem toda a classe é composta de Jedis. Existe também um expressivo grupo de adeptos da “Ordem de Acesso Limitado”, desde que nela incluídos. Este é o grupo de cooptados por Darth Vader e pelo lado sombrio da força. É preciso reconhecer a eficiência da cooptação pelo PT de expressivos segmentos da Classe Empresarial. Estes segmentos cooptados são os grandes responsáveis pela desagregação e aparente passividade da Classe Empresarial, como um todo. A realidade é que o lado sombrio da força está ganhando. A recente convocação do Conselhão Social pelo governo é a melhor evidência da operação de cooptação pelo PT. Surpreende a participação “inocente” e legitimadora de empresários de destaque. A questões relevantes que ficam e que não devem ser subestimadas são COMO DESENVOLVER UMA ESTRUTURA LEGAL INDUTORA DE ÉTICA E TRANSPARÊNCIA CONTRATUAL? COMO DESENVOLVER PENALIDADES CLARAMENTE APLICÁVEIS EM VIOLAÇÕES DE ÉTICA E TRANSPARÊNCIA CONTRATUAL? COMO CARACTERIZAR E PENALIZAR CORRUPÇÃO E CORRUPTORES? COMO CARACTERIZAR E PENALIZAR GOVERNO CORRUPTOR? COMO REORGANIZAR E BUSCAR RAPIDEZ E EFICIÊNCIA EM NOSSO SISTEMA JUDICIÁRIO? COMO ORGANIZAR UMA TRANSIÇÃO VIÁVEL E EFICIENTE PARA UMA ORDEM SOCIAL ABERTA? COMO REORGANIZAR O SISTEMA POLÍTICO? COMO GERAR COMPETIÇÃO POLÍTICA? COMO SE POSICIONAR PERANTE A SOCIEDADE EM RELAÇÃO AOS COOPTADOS PELO LADO SOMBRIO DA FORÇA? (Afinal Darth Vader morreu mostrando seu lado bom)