A qualidade de vida no pré e pós

Propaganda
345
Artigo Original
A qualidade de vida no pré e pós-operatório de pacientes
portadores de hérnia de disco lombar
Quality of life in pre- and post-surgical patients with lumbar disc herniation
Jessica Pavan Milani1
Marielza Regina Ismael Martins2
Eduardo Carlos da Silva3
Carlos Eduardo Rocha4
RESUMO
ABSTRACT
Introdução: A relevância dos estudos que abrangem a hérnia de disco lombar (HDL) tem aumentado nos últimos anos,
principalmente porque esta doença resulta em dor e déficit
neurológico, gerando impedimento para a execução das atividades cotidianas e incapacidade para o trabalho. Objetivo:
avaliar a qualidade de vida e o escore funcional de pacientes
antes e após cirurgia de HDL. Casuística e Método: Trata-se
de um estudo transversal, exploratório, mediante a avaliação dos questionários “Short Form Health Survey” (SF-36)
e “Roland- Morris”(RM) no período de abril a setembro de
2008. A amostra foi composta de 20 pacientes e os escores
foram avaliados antes da cirurgia e no pós-operatório de
dois meses do procedimento. Resultados: Observou-se que a
maioria dos pacientes eram do sexo masculino (n=11, 55%),
média de idade de 45,5 ± 14,79 anos (variando de 20 a 83
anos), com grande prejuízo laboral pré cirurgia (60%).Os resultados demonstraram que houve melhora significativa nos
domínios do SF-36 para capacidade funcional, aspectos físicos, dor e saúde mental e para o Roland Morris foram observados ganhos funcionais com a diminuição de suas limitações provocadas pelas costas. Pela escala analógica de dor
(EVA), os pacientes obtiveram uma diminuição importante
do quadro álgico, pois no momento pré-cirúrgico obtiveram
a média de 8,3 pontos e após 60 dias da cirurgia uma média de 4,55. Ressalta-se que apesar de 65% dos pacientes retornarem ao trabalho, apenas 45% aderiram à reabilitação.
Conclusão: Novos estudos devem ser realizados de maneira a
oferecer subsídios à equipe multiprofissional mostrando que,
mais do que abolir a dor, a melhora funcional, expressa pelas
atividades cotidianas, deve ser modificada, sendo para isto
necessário um enfoque reabilitacional efetivo que inclua a terapia ocupacional, fisioterapia e psicologia, buscando operar
mudanças e uma melhor qualidade de vida sempre.
Introduction: The relevance of the studies that include lumbar disc herniation (LDH) has increased in recent years, mainly because the disease results in pain and neurological deficit,
producing impediment for the execution of the daily activities and inability to work. Objective: to evaluate the quality
of life and functional scores of patients before and after HDL
surgery. Methods: This is a cross-sectional and exploratory
study, through the evaluation of questionnaires “Short Form
Health Survey (SF-36) and Roland-Morris (RM) in the period
April to September of 2008. The sample consisted of 20 patients and the scores were assessed before surgery and two
months postoperatively. Results: It was observed that most
patients were male (55%), average age 45.5 ± 14, 79 years-old
(20-83), with great loss labor pre surgery (60%). There was
significant improvement in the areas of the SF-36 for functional capacity, physical aspects, pain and mental health and
the Roland Morris functional gains were observed with the
decrease of its limitations caused by back. For the analogical
scale of pain (VAS), the patients obtained an important reduction of pain: the preoperative average rate was 8,3 points
and the postoperative average rate after 60 days was 4.55.
Even though 65% have returned to work, only 45% joined the
rehabilitation program. Conclusion: Further studies should
be conducted so as to provide subsidies to team showing that
more than abolishing the pain, functional improvement, expressed by the daily activities, should be modified. An effective approach that includes occupational therapy, physiotherapy and psychology, looking always to operating changes and
a better quality of life should be looked for.
Key-words: lumbar disc herniation; quality of life; surgical
treatment
Palavras-chave: hérnia de disco lombar; qualidade de vida;
tratamento cirurgico
1 Aprimoranda de Terapia Ocupacional, Bolsista FUNDAP, Serviço de Terapia Ocupacional, Hospital de Base/ Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto-FAMERP.
2 Professora Doutora, Terapeuta Ocupacional, Departamento de Ciências Neurológicas – FAMERP
3 Neurocirurgião, Professor adjunto e Chefe da disciplina de Neurocirurgia/Serviço de Coluna, Departamento de Ciências Neurológicas – FAMERP
4 Neurocirurgião , Médico do Hospital de Base de São José do Rio Preto, Departamento de Ciências Neurológicas - FAMERP
Recebido em março de 2009, aceito em maio de 2009
Milani JP, Martins MRI, Silva EC, Rocha CE - A qualidade de vida no pré e pós-operatório de pacientes portadores de hérnia de disco lombar
J Bras Neurocirurg 20 (3): 345-351, 2009
346
Artigo Original
Introdução
Hérnia de disco é um termo coletivo que descreve o processo
de ruptura do anel fibroso, com subseqüente deslocamento da
massa central do disco nos espaços intervertebrais, podendo
ser dorsal ou dorso-lateral a este disco 4.
É considerada uma afecção extremamente comum, causando
dor lombar e ciática1, e levando à incapacidade em seus portadores. Estima-se que 30 a 40% da população possuam hérnia
de disco assintomática, e que 2% a 3 % desta população sofram
de seus sintomas18, prevalecendo 80% dos casos em homens, na
faixa etária de 30 a 50 anos, porém em menor proporção pode
acometer mulheres, adolescentes, velhos e na minoria crianças 5.
O aparecimento da hérnia de disco pode ter como fatores alterações posturais, musculares, ambientais, genéticas, e as atividades diárias e ocupacionais do paciente 3.
Há maior probabilidade de ocorrer a herniação do disco intervertebral nos níveis L4-L5 e L5-S1 da coluna lombar, o que
leva a sintomas de dor nas costas, postura anormal, limitação
do movimento, principalmente em flexão, e/ou dor radicular 16.
Entre as causas de lombociatalgia mecânica, certamente a
mais freqüente é a hérnia de disco. As manifestações clínicas
da mesma podem ser lombalgia, lombociatalgia e síndrome da
cauda eqüina.
A queixa de dor intensa se dá pela herniação e degeneração do
disco intervertebral, por estenose do canal espinhal, e também
pela compressão mecânica e inflamações ao redor do disco e
de raiz nervosa6.
Apesar de a diminuição da força dos músculos do metâmero
correspondente ser componente importante na síndrome radicular compressiva, sua ausência não exclui a compressão. Assim, temos pacientes com hérnia distal volumosa comprimindo
a cauda eqüina, não exibindo déficit motor, mesmo em presença de intensa dor com irradiação para o membro afetado18.
Quanto à localização, a hérnia de disco pode ser: 1) mediana,
que geralmente se manifesta por lombalgia aguda, eventualmente com irradiação; 2) hérnia centro lateral, que pode comprometer a raiz transeunte ou a raiz emergente; 3) hérnia foraminal, que compromete a raiz emergente e 4) hérnia extremo
lateral ou extraforaminal, que compromete a raiz superior, pois
o trajeto das raízes lombares é oblíquo. Por isso, é de extrema
importância correlacionar os achados de imagem com os dados
clínicos, para a correta localização da hérnia11.
Segundo Masini e Paiva14, a cirurgia de hérnia de disco na região lombar é um dos procedimentos mais comuns nos serviços de cirurgia neurológica. A cirurgia de hérnia de disco é
indicada quando a dor e/ou déficits neurológicos não tiverem
remissão significativa no decorrer de 4 a 12 semanas, ou por
fraqueza motora progressiva, distúrbios vesical e intestinal, e
dor radicular incapacitante sem melhora ao tratamento conservador 16 .
No diagnóstico diferencial da hérnia de disco lombar, devese observar as várias causas de lombalgia e lombociatalgia:
causas mecânicas, degenerativas, reumáticas, traumáticas, infecciosas, tumorais, viscerais e psicogênicas. O diagnóstico da
hérnia de disco pode ser feito pelas manifestações clínicas em
cerca de 90% das vezes17.
Portanto, os exames subsidiários apenas nos auxiliam para determinar o local exato e a extensão do prolapso, para afastar
outras causas de lombociatalgia e para guiar na terapia a ser
instituída. A história natural da hérnia de disco indica que muitas vezes ocorre processo de reabsorção que se segue ao processo inflamatório inicial, com o que o quadro neurológico e os
sintomas da dor desaparecem. Isso pode ser comprovado pela
ressonância magnética (RM) em que, em uma primeira fase,
aparece o disco extruso; em uma segunda fase, um halo de reabsorção e de processo inflamatório na periferia do fragmento
e, por fim, o desaparecimento da imagem do disco herniado18.
Achados literários demonstram que a decisão pela cirurgia
deve ser comum ao médico e ao paciente, pois o paciente que
demonstra boa expectativa quanto ao procedimento cirúrgico
obtém uma recuperação mais rápida6.
Diante deste contexto abordar a qualidade de vida destes indivíduos busca abranger a sensação multidimensional que varia
em cada paciente, dependendo da nocicepção individual18 a
qual muitas vezes compromete a melhora do quadro álgico
pós-cirúrgico.
Objetivos
O objetivo geral é avaliar a qualidade de vida e a função do
paciente antes e após o procedimento e, como objetivos específicos, buscamos avaliar a interferência da dor no desempenho
funcional dos pacientes antes e depois da cirurgia e verificar o
desempenho laboral nos momentos pré e pós-cirúrgico.
O tratamento conservador da hérnia de disco tem como objetivos o alivio da dor, o aumento da capacidade funcional e o
retardamento da progressão da doença 6,15. Porém quando este
tratamento falha na melhora dos sintomas pode-se optar pelo
tratamento cirúrgico.
Milani JP, Martins MRI, Silva EC, Rocha CE - A qualidade de vida no pré e pós-operatório de pacientes portadores de hérnia de disco lombar
J Bras Neurocirurg 20 (3): 345-351, 2009
347
Artigo Original
Casuística e métodos
O local do estudo foi em primeira instância na enfermaria neurológica de um hospital escola, cujos pacientes se encontravam
internados para serem submetidos à cirurgia de hérnia de disco
lombar. Após período de 60 dias de recuperação cirúrgica, esses pacientes foram reavaliados no setor ambulatorial de Terapia Ocupacional da mesma instituição.
Da amostra participaram 20 indivíduos com hérnia de disco,
sem restrição de faixa etária e sexo. Os critérios adotados para
inclusão dos pacientes foram: internação devido ao diagnóstico de hérnia de disco lombar com indicação cirúrgica, ausencia
de déficits cognitivos e/ou outra doença crônica, e concordancia em participar do estudo.
Após 60 dias da cirurgia de hérnia de disco lombar, os mesmos pacientes foram submetidos novamente ao questionário
de Roland-Morris, escala de intensidade da dor e ao questionário SF-36 no Serviço ambulatorial de Terapia Ocupacional do
Hospital de Base de São José do Rio Preto.
A utilização dos questionários padronizados Roland-Morris e
SF-36 possibilitaram avaliar a qualidade de vida dos pacientes
através de suas próprias perspectivas12, pois são questionários
auto-aplicativos, no qual o paciente fez suas escolhas de respostas.
Estes dados foram submetidos a estudo estatístico, analisados
através de cálculos e estatísticas descritivas, tais como média e
desvio padrão e o teste T de Student pareado para comparar a
qualidade de vida no pré e pós cirúrgico, com índice de significância de p<0,05.
Trata-se de uma pesquisa descritiva, exploratória, transversal
e comparativa.
Os procedimentos foram aplicados após a aprovação do projeto
de Pesquisa pelo Comitê de Ética local (nº 2872/2008), onde os
indivíduos internados na enfermaria de neurocirurgia responderam, sob consentimento, a uma entrevista semi-estruturada,
na qual foram obtidos dados quanto a informações pessoais
(naturalidade, estado, sexo, data de nascimento, idade, raça/
etnia, estado civil, grau de escolaridade e profissão) e quanto
ao tempo de sintomatologia. Em seguida, os pacientes responderam ao questionário Roland-Morris17 traduzido, adaptado
e validado por Nusbaum, 2001, que avalia a incapacidade do
paciente com dor lombar. Este questionário é composto de 24
itens que avaliam a interferência da dor lombar no desempenho de atividades cotidianas, ou seja, a capacidade funcional
do indivíduo13. Cada item tem valor de 1 (um) ponto, sendo o
seu resultado a somatória de todos os itens assinalados, sendo
a pontuação mínima de zero, e a máxima de 24, o que traduz
uma incapacidade funcional total. Foi acrescentada ao questionário a escala de intensidade de dor a qual gradua a sensação
dolorosa, sendo o menor número (0) correspondente a ausência de dor, e o maior número (10) à dor máxima sentida pelo
paciente.
Outro questionário, o “Short Form Health Survey” (SF-36)10
também foi aplicado para avaliação da qualidade de vida de
forma ampla do paciente, pois é composta de 36 itens, subdivididos em oito domínios, sendo eles capacidade funcional,
aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais, saúde mental e uma questão
comparativa ao estado de saúde atual e de um ano atrás. Para
cada questão é atribuída uma nota, que é transformada em uma
escala de 0 a 100 por domínio pesquisado. A nota 0 corresponde a um pior estado de saúde e 100 ao melhor. O SF-36 tem sua
versão em língua portuguesa desde 1997, apresentando fácil
aplicabilidade e reprodutibilidade.
Resultados
Durante o período de maio a outubro de 2008, foram entrevistados 22 pacientes internados para cirurgia de hérnia de disco
no hospital escola, dos quais 20 foram reavaliados após 60 dias
do procedimento cirúrgico.
A média de idade da amostra foi de 45,5 ± 14,79 anos, variando de 20 a 83 anos. A maior parte da amostra é do sexo
masculino (55%), com estado civil predominante de indivíduos
casados (75%).
Da amostra estudada, 25% eram donas de casa, 5% aposentados e os demais se dividiram em atividades ocupacionais diversas, como trabalhadores rurais e civis, motoristas, e desses,
60% chegaram a perder dias de trabalho devido a problemas
nas costas antes da internação, e 30% não julgaram ter perdido
dias de serviço por serem donas de casa ou aposentados. Obtiveram uma média de 42 meses de dor nas costas, sendo a mais
precoce dentro de 2 meses e a mais tardia computada em 30
anos. Somente 20% deles praticavam alguma atividade física
regular. Da amostra, 95% referiram dor ciática, e 80% dor lombar, podendo apresentar simultaneamente as duas (tabela 1).
Milani JP, Martins MRI, Silva EC, Rocha CE - A qualidade de vida no pré e pós-operatório de pacientes portadores de hérnia de disco lombar
J Bras Neurocirurg 20 (3): 345-351, 2009
348
Artigo Original
Tabela 1: Variáveis sócio-demográficas e clínicas no primeiro momento
Variáveis
Total (n=20)
SEXO
Masculino
Feminino
55%
45%
ESTADO CIVIL
Solteiros
Casados
Divorciados
15%
75%
5%
IDADE (média)
Viúvos
45,5 anos
10%
PERDEU DIA S DE
TRABALHO*
Sim
Não
60%
10%
LOCAIS DE DOR
Cervical
Dorsal
Lombar
Ciática
Pé
15%
10%
80%
95%
45%
TEMPO DE DOR (média)
42 meses
LOCALIZAÇÃO DA
HÉRNIA DE DISCO
L4/L5
L5/S1
65%
35%
*até presente data da internação
Na tabela 2, pode-se observar que, após 60 dias da intervenção cirúrgica, 65% dos participantes já haviam retornado às
atividades laborais, porém 15% desses continuavam com absenteísmo, e 50%, ou seja, 4 participantes da amostra tiveram
suas tarefas laborais modificadas no local de trabalho. Foram
encaminhados para a reabilitação física um total de 60% da
amostra, no entanto somente 45% foram assíduos ao tratamento, permanecendo 40% deles com queixa de dor lombar e 20%
ciática.
Na figura 1, há o demonstrativo do questionário Roland Morris, no qual se pode verificar que no momento pré-cirúrgico os participantes demonstravam-se muito incapacitados,
com uma média de 17,06 ± 4,68, dos 24 pontos possíveis, e no
pós-cirúrgico de 60 dias , isto caiu para 5,7 ± 3,96 pontos.
Figura 1: Avaliação da dor – Questionário Roland Morris
Comparando os escores pelo questionário Roland-Morris no
pré e pós-cirúrgico de HDL, observou-se que 6 pacientes (30%)
obtiveram menos que 50% de melhora de suas limitações e 14
(70%) melhoraram sua função acima de 50% do quadro que
apresentavam antes da intervenção cirúrgica (figura 2).
Tabela 2: Variáveis sociais e clínicas no segundo momento
Variáveis
Total (n=20)
RETORNOU AO TRABALHO**
Sim
Não
65%
30%
REALIZOU REABILITAÇÃO
FÍSICA
Sim
Não
45%
40%
Fora encaminhado,
mas não realizou
15%
LOCAIS DE DOR
Cervical
5%
Lombar
40%
Ciática
20%
Pé
10%
**dos que retornaram ao trabalho, 15% continuaram a perder dias de trabalho, e
50% tiveram suas tarefas modificadas.
A avaliação dos objetivos específicos deste estudo inclui a
mensuração da funcionalidade por meio do Roland Morris, da
dor a partir da escala analógica de dor, e da qualidade de vida
por meio do questionário SF-36.
Figura 2: Porcentagem da melhora funcional da amostra pelo escore do Roland
- Morris
Tanto na tabela como na figura 3, estão representados os
resultados dos oito domínios do questionário de qualidade
de vida SF-36 nos diferentes momentos da pesquisa: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde,
vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde
mental, lembrando que a nota 0 corresponde a um pior estado
de saúde e 100 ao melhor.
Milani JP, Martins MRI, Silva EC, Rocha CE - A qualidade de vida no pré e pós-operatório de pacientes portadores de hérnia de disco lombar
J Bras Neurocirurg 20 (3): 345-351, 2009
349
Artigo Original
Tabela 3. Valores obtidos para cada domínio relacionado ao questionário
SF-36 de qualidade de vida.
Domínio
Média e DP
Média e DP
Valor de P
(pré-cirúrgico) (pós-cirúrgico)
CAPACIDADE
FUNCIONAL
21,5 ± 17,47
72,25 ± 22,85
0,006*
LIMITAÇÃO
POR ASPECTOS
FÍSICOS
3,75 ± 11,92
63,75 ± 34,86
0,004*
DOR
16,15 ±11,53
63,10 ± 20,39
0,006*
ESTADO GERAL
DE SAÚDE
67,05 ± 15,86
76,62 ± 15,51
0,08
VITALIDADE
35 ± 14,66
67 ± 12,71
0,07
ASPECTOS
SOCIAIS
72,5 ± 18,79
93,12 ± 10,20
0,08
LIMITAÇÃO
POR ASPECTOS
EMOCIONAIS
68,31 ± 43,85
88,32 ± 35,35
0,08
SAÚDE MENTAL
47,2 ± 18,52
Domínio
Média e DP
Média e DP
Valor de P
(pré-cirúrgico) (pós-cirúrgico)
CAPACIDADE
FUNCIONAL
21,5 ± 17,47
72,25 ± 22,85
0,006*
LIMITAÇÃO
POR ASPECTOS
FÍSICOS
3,75 ± 11,92
63,75 ± 34,86
0,004*
DOR
16,15 ±11,53
63,10 ± 20,39
0,006*
ESTADO GERAL
DE SAÚDE
67,05 ± 15,86
76,62 ± 15,51
0,08
VITALIDADE
35 ± 14,66
67 ± 12,71
0,07
ASPECTOS
SOCIAIS
72,5 ± 18,79
93,12 ± 10,20
0,08
LIMITAÇÃO
POR ASPECTOS
EMOCIONAIS
68,31 ± 43,85
88,32 ± 35,35
0,08
SAÚDE MENTAL
47,2 ± 18,52
* P<0,05
Figura 3: Distribuição de cada domínio obtido do questionário SF-36
73,20 ± 11,83
73,20 ± 11,83
0,06*
0,06*
No gráfico abaixo, estão demonstrados as médias dos componentes gerais físico e mental avaliados pelo SF-36 no pré e pós
cirúrgico, com intervalo de 60 dias (figura 4).
Figura 4: Médias dos componentes físico e mental do SF-36 em ambos os
momentos.
Discussão
O objetivo do estudo foi avaliar a qualidade de vida do paciente
com hérnia de disco, em momentos distintos, no pré e póscirúrgico de 60 dias, descrever os principais acometimentos da
doença na vida cotidiana destes pacientes e avaliar quantitativamente por meio dos questionários “Roland-Morris” e SF-36,
a resposta ao tratamento cirúrgico de hérnia de disco. Estes
instrumentos de avaliação são complementares e importantes
para verificar a eficácia do tratamento cirúrgico e a capacidade funcional dos participantes, assim como direcionar outros
trabalhos mais específicos para aquisição de maiores ganhos.
Observou-se que todos os participantes obtiveram algum ganho em sua funcionalidade e na sua qualidade de vida após 60
dias da cirurgia de hérnia de disco.
Milani JP, Martins MRI, Silva EC, Rocha CE - A qualidade de vida no pré e pós-operatório de pacientes portadores de hérnia de disco lombar
J Bras Neurocirurg 20 (3): 345-351, 2009
350
Artigo Original
Em resposta aos dados avaliados pelo questionário RM, os participantes obtiveram uma queda da pontuação de 17,06 para
5,7 no pós-cirúrgico de 60 dias, saindo assim do indicativo de
importantes alterações incapacitantes (escore 11)2 para um cotidiano mais funcional, pois a capacidade funcional é determinada pelo grau de função e habilidade física13; assim sendo, os
participantes sofreram uma importante diminuição em suas limitações prévias, como no indicativo da figura 2, que demonstrou que 30% deles melhoraram em até 50% suas limitações e
os demais, 70%, obtiveram uma melhora funcional maior que
50% de sua condição no momento pré-cirúrgico.
A escala analógica de dor demonstrou uma queda no nível de
dor de 8,3 ± 1,28 para 4,55 ± 2,25, o que pode ser indicativo
também de aumento da funcionalidade, pois um quadro algico é altamente incapacitante. Em outros estudos sugere-se que
40% a 60% dos pacientes referem sintomas álgicos e déficits
motores pós-cirurgia de HD9 , e que a ausência de dor no pós
cirúrgico é pouco provável, levando em conta que a sintomatologia de dor lombar incide em cerca de 80% da população
em alguma fase da vida, se tornando assim, uma problemática
na saúde pública18, 19. Outros motivos da permanência de dor é
a síndrome pós-laminectomia (SPL), que ocorre em 10% dos
pacientes operados da coluna e a formação de fibrose epidural
envolvendo uma raiz nervosa20, pois descreve a persistência
de dor lombar e no membro inferior, o que coincide com a
amostra pesquisada, pois 40% dos participantes continuaram a
queixar-se de dor lombar e 20% de dor ciática.
Quanto ao fator tempo de dor nas costas, foi encontrada uma
média alta de 42 meses antecedendo ao dia da cirurgia, que
ajuda a aumentar a estatística de outros autores20, 6 que,em pesquisas semelhantes, encontraram um tempo de dor lombar próxima a 52 meses e ciatalgia prévia de 18 meses.
Observou-se que os indivíduos no momento pós-cirúrgico de
60 dias evoluíram em todos os domínios do SF-36, porém com
significância estatística em Capacidade Funcional, Aspectos
Físicos, Dor e Saúde Mental. Estes resultados são relevantes,
pois representam a dificuldade que os indivíduos podem apresentar na execução de suas atividades cotidianas e de trabalho.
Tanto nos dados pré como nos pós-cirúrgicos, os aspectos sociais eram os menos atingidos pelo estado de saúde dos participantes, porém muitos afirmaram que a relação social estava
abalada não por condições físicas ou emocionais como avalia
o SF-36, mas sim pelo fator financeiro, devido ao absenteísmo
ou à incapacidade para o trabalho, dados estes corroborados
por outros estudos 13, 21
de hérnia de disco foi verificado que o tipo de profissão não interfere na evolução dos pacientes pós-operados de HDL, e que
a reabilitação destes tanto depende do seguimento de protocolos de reabilitação assim como de orientações sobre cuidados
e atividades de vida diária logo após a intervenção cirúrgica e
nos próximos 15 dias seguintes21.
Atualmente pode-se utilizar a Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) para definir e
medir funcionalidades e incapacidades relacionadas à saúde,
cuja primeira está vinculada às funções do corpo, às atividades
e à participação do indivíduo, e a segunda para deficiências,
limitação das atividades e restrição da participação19, que coincidem com o foco do profissional da reabilitação. Sendo assim, a utilização da CIF por profissionais da reabilitação pode
aumentar a qualidade e a individualidade dos dados relativos
aos pacientes7 identificando pontos semelhantes aos aqui levantados pelo questionário de funcionalidade Roland Morris
e pelo SF-36.
A continuidade deste trabalho é relevante para que o retorno
às atividades laborais dos pacientes pós-operados de hérnia de
disco seja melhor pesquisada, a fim de que a recolocação desta
população economicamente ativa seja a mais satisfatória possível, com análises de postos de trabalho, mudanças de funções e
tarefas afim de se evitar a permanência de dor lombar ou uma
recidiva de hérnia de disco. Também é de relevância a comparação com um grupo que opte por um tratamento conservador e
as aquisições de funcionalidade e qualidade de vida num mesmo intervalo de tempo, e que esta pesquisa prossiga com um
estudo longitudinal a fim de observar a permanência ou não
destes ganhos aqui apresentados.
Conclusão
De acordo com os objetivos propostos neste trabalho podese concluir que os pacientes no pós-operatório de HDL de 60
dias mostraram ter obtido ganhos funcionais e de qualidade de
vida, decorrentes da diminuição da dor apresentadas por eles
no momento pré-cirúrgico, e que os aspectos mentais, em sua
maioria, não sofreram mudança estatisticamente significante.
Contudo, a acentuada falta de adesão ao tratamento reabilitacional ressalta a preocupação, pois não houve mudanças de padrões de atividades para que esta melhora torne-se permanente.
Outras fontes 7,8 relatam que as lombalgias em geral são umas
das principais causas de afastamento e incapacidade para o
trabalho no Brasil, gerando altos custos para os sistemas de
saúde e previdência social. Em outro estudo11 que comparou
diferentes profissões com a persistência da dor após a cirurgia
Milani JP, Martins MRI, Silva EC, Rocha CE - A qualidade de vida no pré e pós-operatório de pacientes portadores de hérnia de disco lombar
J Bras Neurocirurg 20 (3): 345-351, 2009
351
Artigo Original
Referências
1. ALMEIDA DB, POLETTO PH, MILANO JB, GIACOMELLI A,
RAMINA R. Cirurgia de hérnia de disco lombar: existe relação entre
a profissão e a persistência de dor? Arq Neuro-Psiquiatr 2007 Sept;
65(3b): 758-63.
17. NUSBAUM L, NATOUR J, FERRAZ MB, GOLDENBERG J.
Translation, adaptation and validation of the Roland-Moris questionnaire – Brazil Roland-Morris. Braz J Med Biol Res. 2001; 34: 20310.
18. ORTIZ J, ABREU AD. Tratamento Cirúrgico das Hérnias Discais
Lombares em Regime Ambulatorial. Rev Bras Ortop 2000 Nov/Dez;
14(11/12): 115-6.
2. ANTONIO FI, MOREIRA MD, CAVENAGHI S, LAMARI N, MARINO L. Caracterização dos Postadores de Hérnia Discal Atendidos no
Ambulatório de Fisioterapia de um Hospital Escola. FAMERP, 2006.
19. SAMPAIO RF. Aplicação da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) na prática clínica do fisioterapeuta. Rev Bras Fisiot 2005; 9(2): 129-36.
3. AWAD JN, MOSKOVICH R. Lumbar disc herniation: surgical versus nonsurgical treatment. Clin Orthop Relat Research 2006;
443:183-97.
20. SILVA CN, SILVA AT, GERVÁSIO FM. Prevalência e Aplicação da Classificação Mckenzie para lombalgia em funcionários de um
Centro Universitário. UniEVANGÉLICA, 2007
4. BARROS FºT, BASILE RJR. Coluna vertebral: Diagnóstico e
Tratamento das Principais Patologias. São Paulo (SP): Sarvier; 1995.
21. SILVA MC, FASSA AG, VALLE NC. Dor lombar crônica em uma
população adulta do Sul do Brasil: prevalência e fatores associados.
Cad Saúde Públ 2004; 20(2): 377-85.
5. BORENSTEIN DG. A clinician`s approach to acute low back pain.
Am J Med. 1997; 102: 16S- 22S.
6. BORTOLETTO A, PRATA S, BONFIM GS. Hérnia discal em crianças e adolescentes: relato de cinco casos. Rev Bras Ortop. 1998;
33: 811-4.
7. BUCHALLA CM. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Acta Fisiatr. 2003; 10(1): 29-31.
22. STIEL RA. Síndrome pós-laminectomia e fibrose epidural. Rev
Bras Reumatol. 2000 Mai/Jun; 40(3): 137-48.
23. TSUKIMOTO RG, RIBERTO M, ALEXANDRINO
CA;BATTISTELLA LR. Avaliação longitudinal da Escala de Postura
para dor lombar crônica através da aplicação dos questionários Roland Morris e Short Health Survey. Acta Fisiatr. 2006; 13 (2): 63-9.
8. BULHÕES JR, IRINEU TP, MASINI M, CARVALHO GA.
Eficiência dos métodos fisioterapêuticos de reabilitação no pós-operatório de hérnia de disco lombar. RBM Rev Bras Med. 2008 Jul;
65(7): 206-13.
9. CARAVIELLO EZ, WASSERSTEIN S, CHAMLIAN TR, MASIERO D. Avaliação da dor e função de pacientes com lombalgia
tratados com um programa de Escola de Coluna. Acta Fisiatr. 2005
Abr; 12(1): 11-4.
10. CICONELLI RM, FERRAZ MB, SANTOS W, MEINÃO I,
QUARESMA MR. Tradução para a língua portuguesa e validação do
questionário genérico de avaliação de qualidade de vida SF-36 (Brasil
SF 36). Rev Bras Reumatol 1999; 39 (3): 143-50.
Autor Correspondente
Profa. Dra. Marielza R. I. Martins
Avenida Brigadeiro Faria Lima, 5416
Departamento de Ciências Neurológicas
FAMERP – São José do Rio Preto, SP
Cep: 15090-000
E-mail: [email protected].
11. COX JM. Dor lombar Mecanismo, Diagnóstico e Tratamento. 6ª
ed. São Paulo: Ed. Manole; 2002.
12. FERNANDES MP, MIGUEL SN, VEIGA DF, ABLA LE, MUNDIM CDA, JULIANO Y et al. Dores na Coluna: avaliação em pacientes com hipertrofia mamária. Acta Ortop Bras. 2007; 15 (3): 227-30.
13. FILHO GJR, KORUKIAN M, SANTOS FPE, VIOLA DCM,
PUERTAS EB. Ensaio clínico randomizado, duplo-cego, comparativo entre a associação de cafeína, carisoprodol, diclofenaco sádico
e paracetamol e a ciclobenzaprina, para avaliação da eficácia e segurança no tratamento de pacientes com lombalgia e lombociatalgia
agudas. Acta Ortop Bras. 2006; 14 (1): 11-6.
14. GARCIA LH. Hérnia de Disco Intervertebral Lumbar Invalidante
para el trabajo – Factores de Riesgo. Rev. Méd. (México). 1996;
34:69-72.
15. MASINI M, PAIVA WS. Aplicação do sistema de retrator tubular
associado à técnica de microcirurgia no tratamento da hérnia de disco
lombar. J Bras Neurocir 2003; 14(2): 37-40.
16. NEGRELLI WF. Hérnia discal: procedimentos de tratamento.
Acta Ortop Bras 2001 Out/Dez; 9(4): 39-45.
Milani JP, Martins MRI, Silva EC, Rocha CE - A qualidade de vida no pré e pós-operatório de pacientes portadores de hérnia de disco lombar
J Bras Neurocirurg 20 (3): 345-351, 2009
Download