OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS) ea Agenda Pós-2015 José Eustáquio Diniz Alves ENCE/IBGE 09 de setembro de 2015 XI Encontro da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica 2015: 70 anos da ONU a) julho: Addis Abeba/Etiópia,reforma do sistema financeiro global e apoio ao desenvolvimento; b) setembro: NYC, aprovação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS); c) dezembro: Paris, COP-21, para adoptar um acordo global para conter o aquecimento global. http://www.theguardian.com/world/2015/sep/07/what-has-the-un-achieved-united-nations Agenda de Ação de Adis Abeba (AAAA) resolveu o problema do financialmento? Parece até ironia: mas a Terceira Conferência Internacional de Financiamento para o Desenvolvimento, na capital da Etiópia, Adis Abeba (13 a 17 de julho) começou no auge da crise financeira grega, depois de duas semanas com os bancos fechados por falta de dinheiro. Logo depois da AAAA o mundo assiste bestificado a crise migratória na Ásia e na Europa As Conferências Internacionais os ODM os ODS e o próximo quindênio (2015-2030) Conferências Sociais da ONU década 1990 • 1992 - Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio de Janeiro, Brasil • 1993 - Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, Viena, Áustria • 1994 - Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, Cairo, Egito. • 1995 - Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social em Copenhague, Dinamarca. • 1995 - 4ª Conferência Mundial sobre Mulheres, Pequim, China • 1996 - Conferência sobre Assentamentos Humanos (Habitat II), Istambul, Turquia • 1996 - Cúpula Mundial da Alimentação, Roma, Itália • 2000 - Cúpula do Milênio promovida pela ONU, Nova York estabelece oito objetivos de desenvolvimento ,até 2015. OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO ODM • 1 - Acabar com a fome e a miséria • 2 - Oferecer educação básica de qualidade para todos • 3 - Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres • 4 - Reduzir a mortalidade infantil • 5 - Melhorar a saúde das gestantes • 6 - Combater a Aids, a malária e outras doenças • 7 - Garantir qualidade de vida e respeito ao meio ambiente • 8 – Estabelecer parcerias para o desenvolvimento Fonte: http://www.pnud.org.br/odm.aspx http://www.odmbrasil.gov.br/os-objetivos-de-desenvolvimento-do-milenio Os ODM (Kofi Annan) foram fruto de pouca discussão e representaram uma redução e simplificação da agenda dos anos 90 além de colocar uma “régua” muito baixa nos objetivos ALVES, JED; CORREA, S. As metas de Desenvolvimento do Milênio (ODM): Grandes limites e oportunidades estreitas. Rio de Janeiro, APARTE, IE/UFRJ, 29/12/2004 http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/asmdms_28dez04.pdf ODM # 1 Acabar com a fome e a miséria reduzir a pobreza extrema à metade do nível registrado em 1990 US$ 1,25 por dia Desempenho passado não é garantia de desempenho futuro Redução da pobreza no Brasil Passou o ciclo do boom das commodities Estagnação A pobreza voltou a subir na ALC As questões demográficas ficaram de fora dos ODM em 2000 • O Plano de Ação da CIPD do Cairo (1994), parágrafos 3.14 e 3.15 diz que a queda da fecundidade é fundamental para garantir a erradicação da pobreza, colocando também a necessidade de estabilização da população • Na primeira versão dos ODM (2000) não havia nada e só em 2005, foi colocado o item: # 5b. Alcançar, até 2015, o acesso universal à saúde reprodutiva. • Existem cerca de 225 milhões de mulheres no mundo sem acesso aos meios de regulação da fecundidade • “Amem-se mais uns aos outros e não se multipliquem tanto” feminista e anarquista, Maria Lacerda de Moura (1887-1945) 17 objetivos 169 metas 310 indicadores Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) • • • • • • • • • • • • • • • • • Objetivo 1 Acabar com a pobreza em todas as suas formas e em todos os lugares. Objetivo 2 Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhor nutrição, promovendo a agricultura sustentável. Objetivo 3 Assegurar vidas saudáveis e promover o bem-estar para todos em todas as idades. Objetivo 4 Assegurar educação inclusiva e equitativa de qualidade e promover oportunidades do aprendizado por toda vida e para todos. Objetivo 5 Alcançar a igualdade de género e capacitar todas as mulheres e crianças. Objetivo 6 Assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável de água e saneamento para todos. Objetivo 7 Assegurar o acesso a energia confiável, sustentável, moderna e a preço acessível para todos. Objetivo 8 Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego integral e produtivo e trabalho decente para todos. Objetivo 9 Construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação. Objetivo 10 Reduzir as desigualdades dentro e entre países. Objetivo 11 Tornar as cidades e assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Objetivo 12 Assegurar padrões sustentáveis de consumo e produção. Objetivo 13 Adotar ação urgente para combater a mudança do clima e seus impactos. Objetivo 14 Conservação e uso sustentável dos oceanos, mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. Objetivo 15 Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, promover a gestão sustentável das florestas, combater a desertificação, cessar e reverter a degradação da terra e cessar a perda de biodiversidade. Objetivo 16 Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, oferecer a todos o acesso à justiça e construir instituições efetivas, responsáveis e inclusivas em todos os níveis. Objetivo 17 Reforçar os meios de implementação e revigorar a parceria global para o desenvolvimento sustentável. ODS1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares • A formulação do ODS1 não deixa claro qual tipo de pobreza deverá ser erradicada. • Mas a meta 1.1 esclarece que se trata da pobreza extrema (US$ 1,25 por dia). • O mundo conseguiu algumas vitórias na redução da pobreza nos últimos 15 anos, mas no próximo quindênio (2015-2030) pode haver retrocesso devido à “estagnação secular”, queda da produtividade e ao aumento dos conflitos sociais, religiosos e ambientais. ODS2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição, e promover a agricultura sustentável O quadro seria outro se os cerca de US$ 1,6 trilhão gastos em despesas militares e guerra fossem direcionados para a erradicação da fome. A fome é maior nos países pobres com maior fecundidade e falta de direitos reprodutivos ALVES, JED. Segurança alimentar, fecundidade e armadilha da pobreza, 19/10/2011 http://www.ecodebate.com.br/2011/10/19/seguranca-alimentar-fecundidade-e-armadilha-da-pobreza-artigo-dejose-eustaquio-diniz-alves/ 3.7 - até 2030, assegurar o acesso universal aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, incluindo o planejamento familiar, informação e educação, bem como a integração da saúde reprodutiva em estratégias e programas nacionais ODS8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para todos O crescimento econômico é apresentado como a panacea para todos os problemas do mundo. Como disse Kenneth Boulding: “Anyone who believes exponential growth can go on forever in a finite world is either a madman or an economist”. 8.1 sustentar o crescimento econômico per capita, de acordo com as circunstâncias nacionais e, em particular, pelo menos um crescimento anual de 7% do PIB nos países menos desenvolvidos; População da África Subsaariana: 3 cenários 6 4 3 2 1 0 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050 2055 2060 2065 2070 2075 2080 2085 2090 2095 2100 Bilhões de habitantes 5 Pop 1950-2015 Proj. alta Proj. média Proj. baixa Fonte: 2015 Revision of World Population Prospects http://esa.un.org/unpd/wpp/ Economia da região Subsaariana • PIB (ppp) = US$3,5 trilhões em 2015 • PIB per capita (ppp) = US$ 3,8 mil em 2015 • Crescimento de 7% ao ano multiplicar por 16 em 40 anos • PIB (ppp) = US$ 56 trilhões em 2055 • PIB per capita (ppp) US$ 22,4 mil em 2055 • • • • Comparação com outros PIB (ppp) em 2015 Estados Unidos = US$ 18 trilhões União Europeia = US$ 19 trilhões Brasil = US$ 3,2 trilhões (per capita = US$ 16 mil) • O PIB da África Subsaariana poderia chegar a 3,5 x 256 = US$ 896 trilhões em 2100 se crescer 7% ao ano em 80 anos ODS9. Construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização inclusiva e sustentável, e fomentar a inovação Este provavelmente é o objetivo mais questionável, pois é exatamente a industrialização que produz bens conspícuos (carros de luxo, roupas finas, mansões, iates, jatinhos particulares, etc) que mais provoca danos ao meio ambiente. Toda industrialização é danosa ao meio ambiente. Há algumas menos danosas. Frankenstein e o mito da inovação e da tecnologia! Ver Paradoxo de Jevons e Vaclav Smil Fronteiras Planetárias PERDA DE BIODIVERSIDADE A quantidade de vertebrados diminuiu 52% entre 1970 e 2010 ODS13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos O Protocolo de Kyoto fracassou no controle das emissões. Todas as Conferências do Clima (COP) tem falhado em atingir um acordo para redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). A queima de combustíveis fósseis continua, assim como o desmatamento e a pecuária que emite muito gás metano. É possível evitar o aquecimento global sem mudar o modelo “Extrai-Produz-Descarta” ? (Cavalcanti, 2012) http://www.scielo.br/pdf/ea/v26n74/a04v26n74.pdf “Se a humanidade quiser preservar um planeta parecido com aquele no qual a civilização se desenvolveu e com o qual a vida na Terra está adaptada, evidências paleoclimáticas e as mudanças climáticas em curso sugerem que o CO2 precisa ser reduzido dos [níveis atuais] a um máximo de 350 ppm”. Dr. James Hansen http://350.org/pt/about/science/ O que esperar da COP-21? Segundo o cálculo do Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas), as metas de redução de emissões, chamadas INDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas), somam 14,9 bilhões de toneladas de gás carbônico em 2030 se forem cumpridas. Porém, para limitar o aquecimento global a 2oC, o mundo precisa emitir ao ano, no máximo, 11,3 bilhões de toneladas daqui até o fim do século. Nations must make a greater effort to reach agreement or else millions face the risk of becoming climate refugees, says French president The Guardian Monday 7 September 2015 http://www.theguardian.com/environment/2015/sep/07/paris-climate-talks-could-fail-warns-francois-hollande Acidificação e aumento do nível dos oceanos Aumento de 5 metros no nível dos oceanos Naufrágio do Delta dos Rios Há chances de sucesso da agenda pós-2015 da ONU, no Antropoceno? • Segundo Herman Daly, estamos em um “mundo cheio”, caminhando para um crescimento deseconômico; • Economia internacional e estagnação secular; • Pensar no decrescimento econômico, começando pelo consumo conspícuo das parcelas ricas da população mundial, até o Estado Estacionário; • É impossível o contínuo crescimento das atividades antrópicas no fluxo metabólico entrópico; • É preciso defender o direito da natureza e lutar contra a escravidão animal e contra o especismo; • O desenvolvimento sustentável virou um oximoro; • O tripé da sustentabilidade (econômico, social e ambiental) virou um TRILEMA. OBRIGADO! Referências: ALVES, JED. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): boa intenção, grande ilusão, Ecodebate, RJ, 11/03/2015 http://www.ecodebate.com.br/2015/03/11/objetivos-de-desenvolvimento-sustentavelods-boa-intencao-grande-ilusao-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/ ALVES, JED. O modelo “Extrai-Produz-Descarta” e a insustentabilidade dos ODS. Ecodebate, RJ, 06/08/2014 http://www.ecodebate.com.br/2014/08/06/o-modelo-extrai-produz-descarta-e-ainsustentabilidade-dos-ods-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/ ALVES , J. E. D. População, desenvolvimento e sustentabilidade: perspectivas para a CIPD pós-2014. R. bras. Est. Pop., Rio de Janeiro, v. 31, n.1, p. 219-230, jan./jun. 2014 http://www.rebep.org.br/index.php/revista/article/view/651/pdf_618 ALVES, JED. Sustentabilidade, Aquecimento Global e o Decrescimento Demo-Econômico, Revista Espinhaço, Diamantina. UFVJM, Revista Espinhaço, v. 3, n. 1, 2014. http://www.cantacantos.com.br/revista/index.php/espinhaco/article/view/331/280