Resumo de Tese de Ana Paula Ornellas Mauriel A tese apresenta uma análise sobre os fundamentos teóricos que orientam as políticas sociais, observando, em particular, o significado da centralidade do combate à pobreza na condução das prioridades da agenda social internacional contemporânea, sinalizando que condições materiais e simbólicas plasmaram a transformação do estatuto teórico da questão social e suas formas de enfrentamento, afirmando uma inflexão no sentido da análise que passou a priorizar, teórica e metodologicamente, um foco predominantemente individualista de pensar o social. Um dos objetivos principais do trabalho é demonstrar que houve uma recondução da lógica que inspira a construção das políticas sociais, ressaltando como conflitos de valores, que reaparecem nos debates sobre pobreza e como combatê-la, fornecem elementos essenciais à compreensão das mudanças de sentido e funcionalidade das políticas sociais na atualidade. Para compor o referencial teórico, partiu-se de uma discussão sobre a natureza do alívio da pobreza e suas funções econômicas, políticas e ideológicas desde o início da formação do mercado capitalista de trabalho, contrapondo-se a uma caracterização da origem e desenvolvimento das políticas sociais, cujos valores e funções diferem dos limitados esquemas de alívio da pobreza. Atenção especial é dada ao pensamento anglo-saxão sobre pobreza, particularmente na tradição liberal norte-americana de política social. As transformações recentes das políticas sociais e as reformas nos esquemas de proteção social aparecem como parte de um movimento mais amplo da realidade, situadas a partir da configuração de uma nova ordem econômica global sob a égide de um padrão de relações internacionais pós Guerra Fria, que apresentam um determinismo econômico renovado com a naturalização da globalização, diante de uma nova caracterização dos sujeitos políticos envolvidos (estados, organismos internacionais, corporações financeiras, etc.), que assumiram novos papéis e dialogam de forma redimensionada. O Banco Mundial aparece como referência nuclear à demonstração de como teorias sobre desenvolvimento econômico e social ganharam terreno institucional internacional, enfatizando-lhe o papel intelectual e simbólico especialmente no que se refere ao ajuste estrutural e ao combate à pobreza. Outro objetivo central da tese é exibir as principais fontes teóricas que constituem o mosaico da nova configuração ideológica hegemônica liberal que justifica e acompanha a ordem global contemporânea, exposto na segunda parte do trabalho. Para tal, há um capítulo dedicado a Amartya Sen, principal fonte teórica que fundamenta a recondução da política social em direção ao alívio da pobreza. 1