1 INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA – IBRATI SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA – SOBRATI MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA DENISE PAIVA XIMENES INFECÇÕES HOSPITALARES EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA: Principais Enfoques e Precauções Padrão Realizadas pela Equipe Interdisciplinar Teresina - PI 2015 2 DENISE PAIVA XIMENES INFECÇÕES HOSPITALARES EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA: Principais Enfoques e Precauções Padrão Realizadas pela Equipe Interdisciplinar Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Terapia Intensiva, do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva. Orientador (a): Profª. M.sc Flávia Maria Silva Andrade Teresina- PI 2015 3 DENISE PAIVA XIMENES INFECÇÕES HOSPITALARES EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA: Principais Enfoques e Precauções Padrão Realizadas pela Equipe Interdisciplinar Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Terapia Intensiva, do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva. Orientador(a): Prof.ª M.a Flávia Maria Silva Andrade Aprovada em: _____, de_______, de 2015. BANCA EXAMINADORA Prof. M.a Flávia Mª Silva Andrade Instituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI Presidente (Orientador) Prof. Dr. Douglas Ferrari Instituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI Examinador Prof. Dr. Edilson Gomes de Oliveira Membro Externo - Universidade Federal do Piauí – UFPI Examinador Prof. Dr. Marttem Costa de Santana Membro Externo - Universidade Federal do Piauí – UFPI Examinador Prof.ª M.a Vicença Maria Azevedo de Carvalho Gomes Instituto Brasileiro em Terapia Intensiva – IBRATI Examinadora 4 DEDICATÓRIA Aos pacientes que tenho convívio na Unidade de Terapia Intensiva que trabalho, os quais me permitem vivenciar e compartilhar suas histórias e que embora estejam no seu mais crítico estado de saúde contribuem involuntariamente para o meu aperfeiçoamento teórico-prático, tornando-me uma pessoa mais humana e apta a cuidar do bem estar físico, mental e espiritual do próximo. 5 AGRADECIMENTOS Tanto para agradecer, tanto para falar e tantos para lembrar. Agradeço a Deus por sempre me conceder sabedoria nas escolhas dos melhores caminhos, coragem para acreditar, força para não desistir e proteção para me amparar. À minha família, particularmente agradeço a minha mãe Vanderley, pelo aprendizado diário, a quem com certeza devo tudo que sou e tenho. Às minhas irmãs e sobrinhos, por me ensinarem a dividir, a somar e a amar incondicionalmente. Ao meu namorado, Sandro Ricardo, pelo apoio e por sempre me incentivar a buscar mais. E que nos momentos de minha ausência dedicados ao estudo, sempre se fez entender que o futuro é feito a partir da constante dedicação no presente. À minha orientadora e amiga, Flávia Maria Silva Andrade, por ter-me incentivado a fazer o mestrado e por ter se disponibilizado em me ajudar, apoiando minhas ideias e lapidando meu trabalho. Muito grata por seus ensinamentos e confiança dispensados. Aos meus colegas de turma, onde crescemos e compartilhamos conhecimentos, em especial às minhas amigas do coração e da labuta, Flávia Maria, Sílvia Alcântara, Elizabete Chaves, Lívia Moreira e Lizianne Thátila, profissionais com conduta ilibada. Obrigada por fazerem do curso um momento agradável que trará boas lembranças. Com vocês tudo ficou mais ameno. Ao Professor Dr. Douglas Ferrari Carneiro pelos ensinamentos e momentos partilhados, pela oportunidade do aprendizado e crescimento pessoal e profissional. Ao Sr. Batista pelos momentos de diversão e descontração. Sentirei sua falta. E dos chocolates também. (risos...). Ao IBRATI, por sеυ corpo docente, direção е administração qυе oportunizaram а janela qυе hoje vislumbro υm horizonte superior, eivado pеlа afinada confiança nо mérito е ética aqui presentes. A todos que de alguma forma, direta ou indireta, colaboraram para a realização deste estudo, minha gratidão. 6 “Seja forte e corajoso! Não fique desanimado, nem tenha medo, porque eu, o Senhor, seu Deus, estarei com você em qualquer lugar para onde você for!” Bíblia Josué 1.9 7 RESUMO A infecção hospitalar (IH) tem sido identificada como um importante problema de saúde pública no Brasil e no mundo. É definida como aquela adquirida após a admissão do paciente e se manifesta durante a hospitalização ou mesmo após a alta, quando relacionada com a internação ou a procedimentos hospitalares. São as complicações mais frequentes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Embora os leitos destinados para UTI no Brasil representem menos de 2% dos leitos hospitalares, as IHs nestas unidades podem corresponder de 25% a 30% de todas as IHs comparado com 5% a 10% dos pacientes de outras unidades de internação, tornando um significativo impacto nos índices de morbimortalidade. Os fatores que influenciam o desenvolvimento das IH nas UTI são: agente etiológico, fatores ambientais, suscetibilidade do paciente, resistência microbiana e período de internação prolongado. Constituem-se como objetivos: identificar as principais Infecções Hospitalares que se desenvolvem nas UTI e analisar o uso das precauções padrão realizadas pela equipe multidisciplinar para evitar sua proliferação. Pesquisa bibliográfica, com revisão sistemática, buscou artigos publicados nas base de dados do SCIELO e LILACS. Durante a análise dos estudos, identificou-se que as principais temáticas estavam relacionadas às espécies bacterianas e seus aspectos epidemiológicos sobre as infecções em UTI e o controle de infecção utilizado pelos multiprofissionais. Conclui-se que é de responsabilidade da equipe multidisciplinar realizar ações com assepsia e higiene, visando a recuperação do paciente, ficando evidente que a lavagem das mãos é o procedimento de prevenção mais seguro a ser realizado contra a IH. Palavras-chave: Infecção Hospitalar. Unidade de Terapia Intensiva. Prevenção & Controle. 8 ABSTRACT The nosocomial infection (NI) has been identified as a major public health problem in Brazil and worldwide. It is defined as infection acquired after the patient's admission and manifests itself during the hospitalization or even after discharge, when related to hospitalization or hospital procedures. Are the most frequent complications in Intensive Care Units (ICU). Although the beds allocated to the ICU in Brazil account for less than 2% of hospital beds, the nosocomial these units may correspond to 25% to 30% of all nosocomial compared with 5% to 10% of patients in other hospital units, becoming a significant impact on morbidity and mortality rates. Factors influencing the development of NI in the ICU are: etiological agent, environmental factors, patient susceptibility, microbial resistance and prolonged hospital stay. Constitute the following objectives: to identify the main Hospital Infections that develop in the ICU and analyze the use of standard precautions made by the multidisciplinary team to prevent their proliferation. Bibliographical research, with systematic review sought to articles published in the SciELO and LILACS database. During the analysis of the studies, it was found that the main issues were related to bacterial species and their epidemiological aspects of infections in intensive care and infection control used by multidisciplinary. We conclude that is the multidisciplinary team responsibility perform actions with aseptic and hygienic, aimed at recovery of the patient, staying clear that hand washing is the safest prevention procedure to be performed against IH. Keywords: Infection.Unit of Intensive Therapy. Prevention & Control. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Modelo teórico dos fatores de riscos dos pacientes em UTI 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Distribuição das publicações incluídas no estudo de acordo com ano, metodologia e base de dados da publicação. Teresina, 2015. Tabela 2. Distribuição das publicações incluídas no estudo de acordo com os autores, ano de publicação, revista, local, titulo e objetivos. Teresina, PI, 2015. Tabela 3. Distribuição das publicações incluídas no estudo de acordo com a taxa de IH, topologias das infecções, principais patógenos e procedimentos invasivos predisponíveis para a IH. Teresina, PI, 2015. 11 LISTA DE ABREVIATURAS E DE SIGLAS AIDS- Síndrome da Imunodeficiência Adquirida CCIH- Comissões de Controle de Infecção Hospitalar CDC- Center for Disease Control and Prevention CE- Ceará CTI- Centros de Terapia Intensiva CVC- Cateter Venoso Central EPI- Equipamentos de Proteção Individual HC- Hospital das Clínicas ICS- Infecção da Corrente Sanguínea IH- Infecção Hospitalar IOT- Intubação Oro Traqueal IRAS- Infecções Relacionadas à Assistência a Saúde ISC- Isolamento de Substâncias Corporais ITU- Infecção do Trato Urinário LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde MG- Minas Gerais MS- Ministério da Saúde NNIS- Sistema Nacional de Vigilância das Infecções Hospitalares PI- Piauí PNCIH- Programa Nacional de Controle de Infecção Hospitalar PNM- Pneumonia PP- Precauções-Padrão PR- Paraná 12 RBS- Revisão Bibliográfica Sistemática RJ- Rio de Janeiro SCIELO - Scientific Eletronic Library Online SCIH - Serviço de Controle de Infecção Hospitalar SENIC- Estudo da Eficácia do Controle das Infecções Hospitalares SHEA- Sociedade de Epidemiologia em Controle Hospitalar da América SP- São Paulo SVD- Sonda Vesical de Demora TQT- Traqueostomia UTI- Unidades de Terapia Intensiva VM- Ventilação Mecânica 13 SUMÁRIO 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS………………………………………......…….14 2 INFECÇÃO HOSPITALAR...............................................................................16 2.1 Aspectos Históricos...............................................................................................16 2.2 Infecções Hospitalares no Brasil.........................................................................18 2.3 Definição e Aspectos Gerais das Infecções Hospitalares...................................19 2.4 Fatores de Risco à Infecção Hospitalar...............................................................20 2.5 Epidemiologia da Infecção Hospitar...................................................................22 2.6 A Unidade de Terapia Intensiva e a Infecção Hospitalar.................................24 2.7 Medidas de Precaução Padrão............................................................................25 3 MÉTODOS……………………………………………………….......................28 4 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS.....................................................30 4.1 Descrição e análise dos artigos............................................................................30 4.2 Prevalência e Epidemiologia das Infecções Hospitalares em Unidades de Terapia Intensiva.................................................................................................37 4.3 Topografias das Infecções Hospitalares e associação aos procedimentos invasivos nas Unidades de Terapia Intensiva....................................................38 4.4 Equipe Interdisciplinar e Medidas de Precações Padrão no Controle das Infecções Hospitalares em Unidades de Terapia Intensiva..............................38 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………..........40 REFERÊNCIAS………………………………………………………………..42 14 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A palavra infecção é um substantivo feminino que significa ato ou efeito de infeccionar-se, contaminação, corrupção, penetração, desenvolvimento e multiplicação de seres inferiores no organismo de um hospedeiro, de que podem resultar, para este, consequências variadas, habitualmente nocivas, em grau maior ou menor (MARTINS, 2006). A ocorrência de Infecção Hospitalar (IH) tem sido identificada como um importante problema de saúde pública no Brasil e no mundo. No Brasil, a infecção é definida pela Portaria nº 2.616/1998 do Ministério da Saúde como “a infecção adquirida após a admissão do paciente e se manifesta durante a hospitalização ou mesmo após a alta, quando relacionada com a internação ou a procedimentos hospitalares”. (BRASIL, 1998). Em outra definição, O Center for Disease Control and Prevention (CDC) define uma infecção hospitalar como qualquer infecção adquirida durante a hospitalização, que não esteve presente nem se incubou por ocasião da internação e não esteve relacionado com uma hospitalização anterior. As IHs são as complicações mais frequentes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Embora os leitos destinados para UTI no Brasil representem menos de 2% dos leitos hospitalares, as IHs nestas unidades são motivo de preocupação, pois podem corresponder de 25% a 30% de todas as IHs comparado com 5% a 10% dos pacientes de outras unidades de internação, tornando um significativo impacto nos índices de morbimortalidade. (MACHADO, R.M. et al., 2011) Dentre os fatores que influenciam o desenvolvimento das IH nas UTI estão: agente etiológico (resistência antimicrobiana, virulência); fatores ambientais (fontes de infecção – pacientes infectados ou portadores, superlotação de pacientes em uma determinada área, objetos e superfícies contaminadas); Suscetibilidade do paciente (algumas condições/fatores predispõem os pacientes às infecções por micro-organismos oportunistas como extremos de idade, doenças crônicas, neoplasias, imunossupressão, desnutrição, intervenções diagnósticas e terapêuticas, procedimentos invasivos, como cateteres venosos centrais, sondas vesicais de demora, ventilação mecânica, dentre outros); Resistência microbiana (uso indiscriminado de antimicrobianos), assim como o período de internação prolongado (GARCIA, 2012). 15 Vários autores corroboram que os principais agentes associados às infecções nas UTI são das seguintes espécies: Enterococcus faecium, Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae, Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa e Enterobacter spp. (SADER et al., 2004; RICE, 2008; GASINK et al., 2009; VIKRAM et al.,2010; RUPPÉ et al., 2012, DANCER et al., 2013). Alguns autores afirmam que a ocorrência das infecções em UTI pode ser favorecida pela gravidade do paciente, instabilidade do seu quadro clínico e uso de procedimentos invasivos acrescidos de aspectos relativos à qualidade da limpeza, desinfecção, estrutura física e recursos humanos qualificados e quantitativamente adequados (DAMASCENO, 2014). É importante que a equipe interdisciplinar conheça a prevalência e o perfil dos micro-organismos da instituição em que trabalha de modo a facilitar a compreensão da necessidade de adesão às medidas de precaução de infecção hospitalar e da prescrição adequada de antibióticos (LÍVIA et al.,2012). Diante da relevância do tema, notadamente pelo trabalho específico em unidades de terapia intensiva, pela necessidade em constante atualização na área abordada e por se tratar de um grave problema de saúde pública, tornou-se imperativo questionar: quais os aspectos epidemiológicos da colonização e infecção de pacientes em Unidades de Terapia Intensiva, considerando-se as espécies bacterianas de maior prevalência apontados na literatura e como a equipe interdisciplinar de intensivistas realizam os métodos de prevenção da proliferação das IH? Assim sendo, constituem-se como objetivo do estudo descrever os principais enfoques das Infecções Hospitalares que se desenvolvem nas Unidades de Terapia Intensiva e o uso das medidas de precações padrão realizadas pela equipe interdisciplinar para evitar a sua proliferação, publicada nos últimos cinco anos, de forma a subsidiar os profissionais que atuam nesses setores e que realizam procedimentos diversos, invasivos ou não, essenciais para o restabelecimento da saúde do paciente. 16 2. INFECÇÃO HOSPITALAR 2.1 Aspectos Históricos A história das Infecções Hospitalares ou Nosocomiais (do grego nosos- doenças + komeion- tomar cuidado) se confunde com a própria história da humanidade. Acompanha a criação dos primeiros hospitais, em 325 d.C. Por determinação do Concílio de Nicéia, os nosocômios foram inicialmente construídos ao lado das catedrais, porém, não havia separação por gravidade de doença nem técnicas de assepsia que evitassem a disseminação de infecções (ANVISA, 2007). As IH representam um sério problema de saúde pública desde que se começou a agrupar os doentes em hospitais. Tipicamente os primeiros hospitais caracterizavam-se por abrigar pacientes portadores de doenças altamente contagiosa, causadoras das epidemias clássicas, que culminaram no desenvolvimento do conceito de quarentena, do qual evoluíram as modernas técnicas de isolamento (BARBOSA, 2002). Barbosa (2008) afirma que se passaram alguns séculos e o cenário ainda não havia se modificado, os pacientes eram alojados sem haver preocupação com o tipo de doença que acometia os enfermos, facilitando a disseminação das doenças prevalentes na comunidade naquela época, como varíola, peste e febre tifoide. Para sintetizar a história da Infecção Hospitalar no mundo, apresenta-se uma breve cronologia dos principais eventos relacionados ao processo de descoberta, prevenção e controle, conforme compilação feita por Barbosa (2002) Machado (2006) e Paula (2008): 1847- Ignaz P. Semmelweis, pai da epidemiologia moderna, usou técnicas sistemáticas de vigilância em parturientes, em Viana. 1861- Ignaz Philipp Semmelweis, em Viena, constatou a importância da transmissão cruzada no parto e pós-parto, com instituição da obrigatoriedade da lavagem das mãos antes do procedimento. 1863- Florence Nightingale, por meio de observações de campo durante o atendimento aos feridos da Guerra da Criméia, constatou que pacientes com doenças semelhantes melhoravam rapidamente se não fossem colocados no mesmo ambiente com outros portadores de doenças distintas. Instituiu medidas de limpeza, iluminação, ventilação e controle de odores e calor. 17 1865 a 1867- Joseph Lister instituiu a prevenção das infecções das feridas cirúrgicas com ácido carbólico. 1869- James Simpson registrou os primeiros relatos de vigilância epidemiológica das infecções hospitalares em pacientes amputados, quando comparados aos realizados no domicílio. 1876-1878- Robert Koch introduziu aperfeiçoamentos na técnica microscópica e nos métodos de fixar, corar e fotografar micro-organismos. 1877- Publicado nos Estados Unidos as primeiras recomendações de isolamento. 1910- Hospitais Universitários começam a esterilização de instrumental cirúrgico, uso de gorros, máscaras e luvas e lavagem das mãos com solução antisséptica. 1921- Alexander Fleming, através dos seus trabalhos, promoveu um importante progresso no tratamento das infecções hospitalares, ao descobrir a lisozima, uma substância química presente nas lágrimas humanas e muco nasal, assim como nas claras de ovos, que dissolvia algumas bactérias. 1928- Alexander Fleming descobre acidentalmente, a penicilina. 1940- Introdução em larga escala dos agentes antimicrobianos para o tratamento das doenças infecciosas. 1950 a 1960- Uso indiscriminado das penicilinas para tratar as infecções estafilocócicas desencadeou a resistência, criando-se a organização das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). 1970- CDC promoveu a 1ª Conferência de Infecção Hospitalar, focalizando a vigilância das IH e a manutenção das CCIH. 1970- CDC implantou o Sistema Nacional de Vigilância das Infecções Hospitalares (NNIS) = estudo sistemático e Padronização das IH nos EUA. 1972- Foi criada a APIC (Associação de Profissionais em Controle de Infecções Hospitalares). 1974 a 1983- CDC desenvolveu o projeto SENIC (Estudo da Eficácia do Controle das Infecções Hospitalares) que avaliava a relação custo-benefício e a utilização das ações de vigilância e controle de infecções. 1980- Fundada a SHEA (Sociedade de Epidemiologia em Controle Hospitalar da América). 1983- Publicação do manual intitulado Precauções de Isolamento em Hospitais. 18 1985- Epidemia da AIDS, as práticas de isolamento foram alteradas, com introdução do conceito de precauções universais. 1987- Os Departamentos de Controle de Infecção do Centro Médico Harborview em Seatle, Washington, e da Universidade da Califórnia, em San Diego, estabeleceram um novo sistema de isolamento alternativo ao CDC, chamado de Isolamento de Substâncias Corporais (ISC). 1990- Realizada a 3ª Conferência Internacional de Infecção Nosocomial, onde foram expandidos novos métodos de ajustes das taxas de IH e ações de controle. Na análise dessa cronologia é importante considerar que programas e controles de IH, adequadamente conduzidos, podem diminuir as taxas de infecção, com consequente redução de morbimortalidade e custos. 2.2 Infecções Hospitalares no Brasil No Brasil, os primeiros relatos de Infecções Hospitalares (IH), embora não se utilizasse esse termo, surgiram em 1956 em estudos sobre esterilização de material hospitalar e o uso indiscriminado e inadequado de antibióticos em 1959 (PATRICIO, 2008). Efetivamente surgiu com o processo de industrialização acelerado promovido pelo governo de Juscelino Kubischek, onde as ações voltadas para o controle e prevenção das IH’s foram impulsionadas pelos problemas decorrentes da ocorrência de surtos por estafilococos resistentes a penicilina, enfrentados pelos países com medicina tecnologicamente avançada (MACHADO, 2006). A concepção da ocorrência de IH, ainda é predominantemente ambiental e procedimental, o seu controle continua referindo-se à higiene, antissepsia, desinfecção e esterilização, identificação de áreas de risco, fluxo de pessoal e material. Sendo assim, foi discorrido um breve relato sobre a evolução dos Programas de Controle de Infecção Hospitalar no Brasil, segundo Barbosa (2002), Machado (2006) e Patrício (2008): 1963- Criação da primeira CCIH, no Hospital Emesto Domelles, no Rio Grande do Sul. 1970- Disseminação das CCIH em hospitais públicos e privados. 1983- O MS (Ministério da Saúde) por meio da Portaria nº 196, de 24 de junho, determina a obrigatoriedade de CCIH em todos os hospitais do país, independente da entidade mantenedora. 19 1987- Mediante Portaria nº 140/MS, foi criada a Comissão Nacional de Controle de Infecção Hospitalar, com representatividade de vários estados. 1987- Fundação, em Porto Alegre, da Associação Brasileira de Profissionais em Controle de Infecção Hospitalar. 1988-MS, através da Portaria 232, cria o Programa Nacional de Controle de Infecção Hospitalar (PNCIH). 1990- Transformação do PNCIH em Divisão de Controle de Infecção Hospitalar. 1992- MS expede a Portaria nº 930, a qual define que os hospitais devem constituir uma CCIH e um SCIH (Serviço de Controle de Infecção Hospitalar). 1997- Aprovada a Lei Federal nº 9.431, tornando obrigatória a presença da CCIH e do PNCIH independente do porte do hospital. 1998- MS publica a Portaria 2.616, que institui o Programa de Controle de Infecção Hospitalar, definindo e instituindo a equipe da CCIH, suas atribuições e determinando a carga horária dos executores. No Brasil, embora o poder público e a sociedade brasileira desenvolvam esforços no sentido de controlar e prevenir as IHs, muito ainda há que ser feito, pois se estima uma prevalência média de 15,5% de IH, o que corresponde a mais de duas vezes o preconizado pelo Ministério da Saúde, que é de 6% (MACHADO, R.M; CARVALHO D.V.; OLIVEIRA A.C. de., 2011). As instituições de saúde pública possuem taxa de prevalência mais elevadas, que se explica, em parte, porque os hospitais públicos normalmente atendem casos de maior complexidade enquanto que os privados são responsáveis por casos mais seletivos e de menor complexidade (CARVALHO, et al., 2011). 2.3 Definição e Aspectos Gerais das Infecções Hospitalares Infecção hospitalar (IH) é definida como aquela adquirida após a internação do paciente e que se manifesta durante a internação ou mesmo após a alta quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares. Por convenção, pode ser atribuída aos casos em que a manifestação clínica de infecção ocorre a partir de setenta e duas horas após a admissão, quando desconhecido o período de incubação do microorganismo e não quando não houver evidência clínica e dado laboratorial de infecção no momento da internação (BRASIL, 1998). 20 As infecções hospitalares representam um risco aos indivíduos hospitalizados, em virtude do desequilíbrio dos mecanismos de defesa anti-infecciosa do hospedeiro e sua microbiota normal. A transmissão de diversos tipos de micro-organismos pode ocorrer de pacientes colonizados/infectados para pacientes e profissionais da área da saúde susceptíveis, e ambos podem ser responsáveis por essa disseminação. A presença de comorbidades, neoplasia, neutropenia, uso prévio de antimicrobiano, internação em unidade de terapia intensiva, transferência de outro hospital, intubação traqueal por mais de vinte e quatro horas e estadia prolongada estão associadas com a ocorrência de IH (GARCIA, 2011). Ainda para Garcia (2011) a própria microbiota do paciente é responsável pelo desenvolvimento de aproximadamente dois terços das IH. Tais infecções de origem autógena podem ser tanto comunitária quanto intra-hospitalar, sendo difícil determinar se o paciente trouxe o micro-organismo da comunidade ou se o adquiriu de fonte exógena durante a internação, já que a colonização precede à infecção. Dentre as complicações associadas às IH estão a disseminação de bactérias multirresistentes, elevação do consumo de medicamentos, além do maior tempo de afastamento dos pacientes das atividades normais e, muitas vezes, seu retorno com sequelas. Atualmente, o termo infecção hospitalar tornou-se mais abrangente “infecções relacionadas à assistência a saúde” (IRAS), haja vista a nova tendência da medicina moderna, cujos serviços vão muito além das estruturas hospitalares, mas também realizados em ambulatórios, serviços diagnósticos, clínicas especializadas, assistência domiciliar e serviços de longa permanência. Representam um dos principais entraves na qualidade da assistência médica, sendo considerada uma questão de saúde pública mundial. Tal gravidade se deve à sua importante incidência, letalidade significativa, aumento no tempo de internação, do número de procedimentos invasivos e do consumo de medicamentos (GARCIA, 2011). 2.4 Fatores de Risco à Infecção Hospitalar Diversos estudos publicados na literatura documentam que os pacientes internados na UTI são considerados de alto risco para o desenvolvimento de IH, sendo esta um fenômeno extremamente complexo e multifatorial. Corresponde a um produto da inter- relação entre o hospedeiro, um agente infeccioso e o meio ambiente. 21 As IH podem resultar de agentes infecciosos provenientes da flora endógena (micro-organismos que fazem parte da flora normal da pele, trato gastrointestinal e trato genitourinário do paciente), da flora exógena (micro-organismos transmitidos de um reservatório ambiental ou de outro paciente) ou da reativação de agentes infecciosos latentes (ex.: herpes simples). A maioria destas infecções é causada por patógenos da flora endógena, em torno de 70% (BARBOSA, 2002). Ainda para o mesmo autor, o paciente internado em uma UTI é altamente susceptível à infecção, devido à influência de diversos fatores, como: estresse físico e psicológico, idade, estado nutricional, função imunológica, tempo de permanência, utilização de métodos invasivos, comorbidades associadas, fatores genéticos e principalmente, pelo tipo e gravidade da doença base, que atuam alterando seus mecanismos de defesa. O impacto da gravidade da doença é classificado como risco intrínseco. Os demais fatores que influenciam de forma importante o desenvolvimento da IH constituem o risco extrínseco, que pode ser dividido em três grupos: o meio ambiente, as agressões e os cuidados de equipe hospitalar (Figura 1). Figura 1: Modelo teórico dos fatores de riscos dos pacientes em UTI Fonte: BARBOSA, G. da L.; Infecção Hospitalar de Centro de Tratamento Intensivo Geral de um Hospital Escola da Região Sul do Brasil. Dissertação [Mestrado], Porto Alegre: 2002. 22 2.4.1-Meio Ambiente: Vários componentes correspondem ao meio ambiente hospitalar, como as superfícies inanimadas que cercam o paciente, o ar e a água. A qualidade do meio ambiente está relacionada a rotinas eficientes de esterilização e desinfecção de equipamentos e superfícies, da limpeza do ambiente e de lavanderias hospitalares (BARBOSA, 2002). 2.4.2- Agressões: Constituem-se principalmente dos múltiplos procedimentos invasivos, utilizados no paciente com objetivos terapêuticos, diagnósticos ou para monitorização de sinais (procedimentos cirúrgicos). Estes procedimentos acabam provocando a quebra iatrogênica da integridade das diversas superfícies corporais e com isso diminuem a capacidade destes tecidos resistirem à invasão pelos micro-organismos. O tempo de permanência dos procedimentos invasivos é um dos marcadores importantes do risco de infecção, sendo os mais utilizados e os que têm maiores riscos associados ao seu uso o Cateter Venoso Central (CVC), a Ventilação Mecânica (VM) e a Sonda Vesical de Demora (SVD) (BARBOSA, 2002). 2.4.3- Cuidados da Equipe: Nas UTI’s atuam um grande número de profissionais de saúde, exercendo diversas atividades, sejam nos cuidados da prática de enfermagem, fisioterápicas ou médicas. Tais profissionais executam procedimentos relacionados ao manuseio direto do paciente e de equipamentos necessários à sua terapêutica e monitorização, porém há uma variada adesão aos cuidados fundamentais na prevenção das infecções hospitalares, como por exemplo, a lavagem das mãos, o uso de luvas e de máscaras. Portanto, estas condutas criam condições necessárias para a transmissão, de um paciente para o outro, de patógenos causadores das IH, carreados, principalmente, através das mãos contaminadas dos profissionais de saúde (BARBOSA, 2002). 2.5 Epidemiologia da Infecção Hospitalar O Sistema Nacional de Vigilância das Infecções Hospitalares (NNIS) do Center for Disease Control and Prevention (CDC) considera as infecções hospitalares como 23 expressões do resultado da assistência ou decorrentes de outros processos associados, alcançando a mais ampla aplicação com indicadores de qualidade nessa área. A vigilância epidemiológica é definida como uma contínua e sistemática coleta, análise e interpretação de dados essenciais para o planejamento, implementação e avaliação de práticas de saúde. Deste modo, uma vigilância epidemiológica ativa, permite a determinação do perfil endêmico das instituições, a identificação de eventos inesperados (surtos) e o direcionamento das ações de prevenção e controle (GARCIA, 2011). As variáveis mais importantes que influenciam o patógeno a causar a IH são: gravidade da doença, condições nutricionais do paciente, natureza dos procedimentos diagnósticos ou terapêuticos, tempo de internação, dentre outros aspectos. Os sítios anatômicos das infecções na UTI se distinguem de outros setores do hospital, sendo os principais a Infecção da Corrente Sanguínea (ICS), Pneumonias (PNM) e Infecção do Trato Urinário (ITU). Essa diferença é consequência da maior gravidade dos pacientes internados na UTI e ao uso de cateteres vasculares, ventilação mecânica e cateterização vesical (PADRÃO, et al., 2010). A distribuição dos agentes etiológicos das IH dos pacientes internados nas UTI’s também diferem dos pacientes internados em outros setores do hospital ou ainda quando comparados a pacientes diferentes. Podem ser de duas fontes: endógenas e exógenas. As endógenas representam 70% das IH e são provenientes da própria microbiota do indivíduo. Enquanto que as exógenas representam 30% e resultam da transmissão de microrganismos de outras fontes que não do paciente, como o ambiente inanimado, equipamentos, procedimentos invasivos, diagnósticos ou terapêuticos, sendo assim resultam de falhas técnicas na execução de diversos procedimentos ou rotinas assistenciais (PATRICIO, 2008). Para Arcanjo (2014), na UTI há elevada incidência de bactérias resistentes, com repercussões dentro da unidade e em todo o hospital, já que pacientes advindos desses setores podem manter-se como reservatórios assintomáticos desses germes, disseminando-os intra e inter-institucionalmente. A maior parte dos microrganismos isolados na UTI está agrupada entre os cocos Gram-positivos (Staphylococcus) e os bacilos Gram-negativos (Enterobacter sp., Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumanii). Em estudos analisados por MACHADO et al. (2011), foi possível realizar um paralelo da epidemiologia das IH. Neles ficou evidente que as PNM constituíram a 24 infecção de maior prevalência (28,2%), e 39,35% dos microrganismos isolados: Pseudomonas aeruginosa, Acinectobacter baumannii,Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli,Staphylococcus aureus, e Serratia marcescens, que são apontados como causadores de pneumonias. Em relação a ITU, que corresponderam ao segundo sítio de maior incidência de IH da UTI (45,5%), pôde-se associá-las a 19,3% dos microrganismos isolados: Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii, Klebsiella pneumoniae, Enterococcus sp, Escherichia coli, Cândida sp, Pseudomonas s, apontados como causadores dessas infecções. Já com respeito a ICS, terceiro sítio de maior frequência de IH (14,9%), foi possível correlacioná-las a 57,3% do total de patógenos encontrados 2.6 A Unidade de Terapia Intensiva e a Infecção Hospitalar Desde o estabelecimento dos hospitais como locais de cura e medicalização, o homem tem buscado aperfeiçoar as atividades médico-assistenciais. Novos conhecimentos em relação às etiologias das doenças, novas tecnologias para diagnóstico e terapêutica têm sido buscados continuamente. A crescente velocidade da evolução do conhecimento e das práticas diagnóstico terapêuticas impôs a necessidade de agrupar pacientes graves que requerem cuidados frequentes em unidades. Por isso, no início da década de 1950, foram implantadas as primeiras unidades de tratamento intensivo (UTI) na Europa e nos Estados Unidos. Essas unidades são destinadas ao atendimento de pacientes em uma especialidade médica ou selecionadas por grupos de patologias. Posteriormente, foram sendo associados pacientes gravemente enfermos de diversas especialidades em um mesmo espaço físico, constituindo, assim os CTI Centros de Terapia Intensiva (PAULA, 2008). No Brasil, uma das ações regulamentadoras da definição, constituição e funcionamento das Unidades e Centros de Terapia Intensiva foi instituída pelo Ministério da Saúde. O CTI é, assim, definido como o setor que agrupa, em uma mesma área física, duas ou mais UTIs, com equipamentos e recursos humanos especializados destinados ao atendimento de pacientes graves ou de risco que exijam assistência médica e de enfermagem ininterruptas (BRASIL, 1998b). A existência do CTI, de acordo com a portaria 3.432 do Ministério da Saúde, é obrigatória em hospitais terciários e em secundários com capacidade maior ou igual a 25 100 leitos, bem como nos hospitais especializados que atendem a pacientes graves ou de risco. Em relação ao número de leitos do CTI, esse deve corresponder a no mínimo 6% do total de leitos do hospital. Entretanto, a demanda por esses leitos tem aumentado devido à elevação da expectativa de vida e melhoria dos recursos diagnósticos terapêuticos (BRASIL, 1998c). Em sua origem, as UTI’s visavam à promoção e ao suporte de vida a fim de possibilitar a sobrevida de pacientes com falências orgânicas graves, por meio da monitorização intensiva, permitindo identificar, precocemente, as intercorrências clínicas e estabelecer o tratamento apropriado. Se, por um lado, a UTI aumenta a sobrevida dos pacientes, por outro, concentra uma gama de fatores propícios à ocorrência de infecção hospitalar (PAULA, 2008). Sabe-se que nesses setores a assistência é constantemente desafiada por infecções relacionadas a procedimentos invasivos, que resultam no aumento da morbimortalidade, no tempo de internação, em altos custos e elevados índices de infecção hospitalar, incluindo a ocorrência de micro-organismos multirresistentes. A despeito desta multirresistência microbiana pesquisadores, em âmbito mundial, estão conscientes da problemática que ameaça a sociedade, particularmente a indústria farmacêutica, que se encontra sem resposta terapêutica. O referido setor representa as mais altas taxas de infecção, em torno de 13/1000 pacientes/dia, com taxas de mortalidade de 11% para infecções de sítio cirúrgico, 25% para infecções da corrente sanguínea, sendo a pneumonia a mais frequente (OLIVEIRA et al., 2011) A UTI é um local onde são internados pacientes graves, com risco iminente de morte ou portadores de doenças de gravidade variável. O risco médio de IH é de 5 a 10 vezes maior do que outros setores, atingindo cerca de 10% a 30% dos pacientes internados, contribuindo com uma taxa de mortalidade que varia de 10% a 80%, de acordo com o perfil do paciente internado O tempo de permanência do paciente na UTI e o uso de procedimentos invasivos (ventilação mecânica, acessos vasculares, sondas e drenos) têm sido identificados como fatores importantes de risco de infecção. A tais riscos remetem, adicionalmente, às mãos dos profissionais da saúde como um importante veículo para a disseminação de microrganismos, uma vez que elas, frequentemente, podem estar colonizadas (PAULA, 2008). 26 2.7 Medidas de Precauções Padrão Para Paula (2008) as medidas de Precauções-Padrão (PP) constituem uma barreira física, e visam à redução das IH, a prevenção da disseminação de microrganismos resistentes e das doenças ocupacionais. São recomendadas sempre que se prestam cuidados a qualquer paciente em contato com sangue, secreções e excreções, pele com solução de continuidade e/ ou mucosas. Essas precauções consistem em lavagem das mãos, uso de luvas limpas, máscara, óculos e capote. A descrição destas PP para a mesma autora está pautada nas seguintes considerações. 2.7.1- Lavagem das Mãos Recomenda-se que as mãos devem ser higienizadas com água e sabão e, em seguida, friccionadas com solução antisséptica (álcool a 70%/gel). Na ausência de sujidade visível, pode ser usado apenas álcool a 70% ou em gel. Essa técnica consiste na fricção de 3 a 5 ml dele em todas as faces das mãos por um período de 15 segundos. Entretanto, é importante ressaltar que o álcool não pode substituir a lavagem das mãos com água e sabão quando em presença de sujidade. É indicado que a higienização das mãos seja realizada nas seguintes situações: a) antes e após o contato direto com o paciente; ao realizar procedimentos (sondagens, punções venosas, curativos e etc.); após alimentar-se, usar o banheiro, fumar, pentear os cabelos ou tocar qualquer parte do corpo; ao preparar e manipular materiais e equipamentos; ao realizar procedimentos diferentes no mesmo paciente, devido ao risco de infecção cruzada em diferentes sítios anatômicos; b) após ter contato direto com secreção e excreções, contato indireto com material e superfícies contaminadas; ao terminar o trabalho; c) antes e após o uso de luvas. 2.7.2- Luvas O uso de luvas requer a higienização prévia das mãos e é indicado quando existir possibilidade de contato com sangue, fluidos corpóreos, secreções e excreções, membranas mucosas, pele não íntegra; ou até mesmo quando existir contato com qualquer objeto ou equipamento que possam estar sujos ou contaminados. Devem ser trocadas entre as tarefas e entre os procedimentos em um mesmo paciente. 27 2.7.3- Máscara, protetor de olhos e protetor face Estão recomendados para a proteção da mucosa dos olhos, nariz e boca, durante procedimentos e atividades que tragam risco de contaminação por respingos de sangue, fluidos corpóreos e secreções. 2.7.4- Avental ou capote O uso de avental limpo está indicado para proteger roupas e superfícies corporais sempre que houver possibilidade de ocorrer contaminação por líquidos corporais e sangue. Após qualquer atividade que exija o uso do avental, ele deverá ser retirado imediatamente, seguido da higienização das mãos, visando a reduzir ou a minimizar a transferência de microrganismos para outros pacientes ou ambientes. 28 3. MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com revisão sistemática, realizada no período de agosto a outubro de 2015, sendo possível consolidar os dados referentes ao assunto em pauta. A revisão bibliográfica é considerada um passo inicial para qualquer pesquisa científica. É desenvolvida com base em material já elaborado como livros, artigos e teses e possui caráter exploratório, pois permite maior familiaridade com o problema, aprimoramento de ideias ou descoberta de intuições (GIL, 2008). Para Bereton et al. (2007) uma revisão sistemática permite ao pesquisador uma avaliação rigorosa e confiável das pesquisas realizadas dentro de um tema específico. A Revisão Bibliográfica Sistemática (RBS) é um instrumento para mapear trabalhos publicados no tema de pesquisa específico para que o pesquisador seja capaz de elaborar uma síntese do conhecimento existente sobre o assunto. Para isso é necessário adotar um procedimento, um conjunto de passos, técnicas e ferramentas específicas. (LEVY; ELLIS, 2006). Ainda para os mesmos autores a definição para RBS é o processo de coletar, conhecer, compreender, analisar, sintetizar e avaliar um conjunto de artigos científicos com o propósito de criar um embasamento teórico-científico (estado da arte) sobre um determinado tópico ou assunto pesquisado. A busca abrangeu artigos publicados a partir da base de dados da área da saúde: SCIELO (Scientific Eletronic Library Online) e LILACS (Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde), onde se buscou condensar informações que possibilitasse o alcance dos objetivos propostos, utilizando os seguintes descritores: Infecção Hospitalar, Unidade de Terapia Intensiva e Prevenção & Controle. Foram selecionados 11 trabalhos que continha total ou em parte relação com o tema. Para o aprofundamento teórico, buscou-se o embasamento em fontes complementares como dissertações, teses, livros técnicos, revistas e site na internet e do Ministério da Saúde. Os critérios de inclusão delimitados para a presente revisão foram: estudos primários que abordassem a temática das infecções hospitalares em unidades de terapia intensiva e as medidas de precauções desenvolvidas pela equipe multidisciplinar; estar disponível na íntegra de forma eletrônica e gratuita, e que compreendessem a faixa temporal proposta para o estudo de 2010 a 2014. Como critério de exclusão não se utilizou artigos que abordassem UTIs neonatais ou pediátricas, artigos que se repetissem 29 nas bases de dados, artigos em língua estrangeira, artigos de opinião, artigos de reflexão, editoriais e de revisão, bem como teses e dissertações. A análise e síntese dos estudos foram realizadas através da construção de tabelas e texto na forma descritiva, com estruturação da pesquisa em tópicos, visando alcançar os objetivos e possibilitando ao leitor um resumo dos estudos, enfatizando os principais pontos encontrados. 30 4.RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS 4.1 Descrição e análise dos artigos De acordo com os critérios de inclusão e exclusão pré-estabelecidos no estudo foram encontradas 11 produções. Constatou-se que 2010, 2011 e 2012 foram marcados como os anos de maior produção cientifica sobre Infecção Hospitalar (IH) em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sendo que nos anos de 2010, 2011 e 2014 encontraram-se estudos abordando os dois focos: IH e Medidas de Precações Padrão pela Equipe Multidisciplinar. Já o ano de 2013 foi identificado apenas 01 estudo sobre IH. Quanto ao tipo de metodologia utilizada nas pesquisas, destacam-se a descritiva, retrospectiva. Em relação às publicações indexadas na base de dados, destacou-se a SCIELO com 07 artigos, seguido de LILACS com 04 publicações (Tabela 1). Tabela 1. Distribuição das publicações incluídas no estudo de acordo com ano, metodologia e base de dados da publicação. Teresina, 2015. ARTIGO ANO METODOLOGIA BANCO DE DADOS 1 2010 Descritiva /Retrospectiva /Epidemiológica SCIELO 2 2010 Transversal /Observacional SCIELO 3 2010 Transversal SCIELO 4 2011 Retrospectiva /Exploratória LILACS 5 2011 Descritiva /Epidemiológica /Transversal SCIELO 6 2011 Retrospectiva LILACS 7 2012 Descritiva /Retrospectiva /Quantitativa LILACS 8 2012 Descritiva /Retrospectiva /Epidemiológica /Transversal SCIELO 9 2012 Coorte /Prospectiva SCIELO 10 2013 Descritiva SCIELO 11 2014 Coorte /Histórica LILACS 31 Fonte: Pesquisa direta, 2015. Prosseguindo com a análise dos estudos, buscou-se identificar quais os periódicos foram mais utilizados e pode-se perceber que nas revistas são mais veiculados, com enfoque na Revista Brasileira de Enfermagem. No que tange a região dos estudos é notório que o estado de Minas Gerais ganha destaque nas publicações, seguido do Paraná. Encontram-se também estudos no Rio de Janeiro, Piauí, Ceará e Turquia (Tabela 2). Outra variável analisada foram os títulos das amostras com seus respectivos objetivos. Neles observou-se que as principais temáticas abordadas nos artigos buscam analisar o aspecto epidemiológico e prevalência sobre as infecções em UTI e abordam também as medidas de precações padrão utilizada pelos profissionais de saúde (Tabela 2). Tabela 2. Distribuição das publicações incluídas no estudo de acordo com os autores, ano de publicação, revista, local, titulo e objetivos. Teresina, PI, 2015. AUTORIA/ ANO REVISTA/ LOCAL TÍTULO DO ARTIGO Infecção hospitalar OLIVEIRA, em unidade de A.C.; Rev. Latino tratamento KOVNER, C.T.; Amer. intensivo de um SILVA, R.S Enfermagem hospital MG universitário 2010 brasileiro. PADRÃO et al., 2010 OBJETIVOS Determinar a incidência das infecções hospitalares, sua associação com características clínicas e seus sítios de ocorrência. Identificar os microrganismos mais frequentemente responsáveis pelas infecções hospitalares e seus perfis de resistência. Prevalência de Avaliar a prevalência e o Rev Bras Clin perfil microbiológico das infecções Med/ Campos infecções hospitalares na hospitalares em UTI, bem como a evolução dos Goytacazes, unidade de terapia dos pacientes notificados. RJ. intensiva. Reduzir o índice de infecção hospitalar na UTI. 32 OLIVEIRA, A.C.; CARDOSO, C.S.; MASCARENH AS,D 2010 MACHADO,R .M; CARVALHO, D.V; OLIVEIRA,A. C DE. 2011 CARVALHO, M.M et al., 2011 Precauções de em Rev. esc. contato Unidade de Terapia enferm. USP/ Belo Horizonte, Intensiva: fatores facilitadores e MG. dificultadores para adesão dos profissionais. Aspectos epidemiológicos Rev. Enferm. das infecções Cent. O. hospitalares no Min./HC- MG centro de terapia Intensiva de um hospital universitário. Rev. Interdisciplinar Infecções hospitalares nas UTI em um NOVAFAPI/Ter hospital público. esina, PI Identificar os fatores facilitadores e dificultadores à adesão às precauções de contato por profissionais de um CTI de um hospital geral. Caracterizar os pacientes acometidos por IH; Identificar a ocorrência de IH; Avaliar os fatores de risco relacionados à ocorrência das IHs. Investigar as infecções hospitalares das UTI´s em um hospital público de referência para alta complexidade do Estado do Piauí. Verificar a ocorrência de microorganismos isolados de pacientes hospitalizados Semina: durante as etapas de Controle de infecção Ciências implantação da Comissão de ABEGG, P. T. G. de Infecção M.; SILVA, L. L. Biológicas hospitalar em unidade Controle e da de terapia intensiva: Hospitalar (CCIH) em uma 2011 estudo retrospectivo. Saúde/ Unidade de Terapia Intensiva Toledo, de um hospital privado na PR. cidade de Toledo, Paraná. Avaliar os resultados dos métodos atualmente adotados pela CCIH. GASPAR, M. D.da R.; BUSATO, C.R.; Acta Scientiaru m. Health Sciences/ Ponta Grossa, Prevalência de infecções hospitalares em um hospital geral de alta complexidade no município de Ponta Traçar um perfil das infecções hospitalares de um hospital de alta complexidade, no município de Ponta Grossa, Estado do Paraná, no período de janeiro 33 SEVERO, E. PR. Grossa. 2012 CÂNDIDO, R.B.R et al., 2012 Revista da Universida de Vale do Rio Verde, Três Corações/ Sul de MG. Avaliação das infecções hospitalares em pacientes críticos em um Centro de Terapia Intensiva. Prevalência de microorganismo e Rev Ciênc sensibilidade BARROS, L.M Farm antimicrobiana de et al., Básica infecções hospitalares Aplicada/ em unidade de terapia 2012 Fortaleza, intensiva de hospital CE. público no Brasil. a dezembro de 2007, determinando a prevalência de Infecção Hospitalar nas Unidades de Internação, UTI Adulto e UTI Neonatal; e o perfil de sensibilidade aos antimicrobianos. Determinar a prevalência de infecção hospitalar, no Centro de Tratamento Intensivo; Verificar a distribuição por topografia e por microrganismos e suas sensibilidades microbianas. Identificar a prevalência, o setor, o micro-organismo e a sensibilidade antimicrobiana de infecções hospitalares em UTI de hospital público terciário. DERELI, N et Rev. Bras. Três anos de avaliação al., Anestesiol das taxas de infecção ogia/ nosocomial em UTI. 2013 Ancara, Turquia Analisar e avaliar as IACS, os locais dessas infecções, as taxas de infecção associadas a dispositivos invasivos e os fatores que contribuem para infecções na unidade de terapia intensiva (UTI) do departamento de anestesiologia de nosso hospital entre 2007 e 2010. Impacto de programa multidisci-plinar para redução das densidades PRATES, D. B. Rev Med de incidência de et al., Minas infecção associada à 2014 Gerais assistência na UTI de hospital terciário em Belo Horizonte. Avaliar se medidas de intervenção realizadas pela equipe multidisciplinar do hospital tiveram importância na redução nos principais indicadores de infecção associada à assistência na UTI de Adultos do hospital comparando dados de 2007/2008 e 2011/2012. Fonte: Pesquisa direta, 2015. 34 Seguindo a análise dos trabalhos e de acordo com os relatos dos mesmos puderam-se consolidar as publicações nos aspectos relativos à taxa de IH, topologias das infecções, principais patógenos e procedimentos invasivos predisponíveis para a IH, não sendo incluindo apenas um trabalho que está voltado exclusivamente às medidas de precauções. Faz-se observação também ao fato de que em alguns trabalhos não são mencionados algum desses aspectos, ficando a informação com o termo: SEM RELATO. (Tabela 3). Tabela 3. Distribuição das publicações incluídas no estudo de acordo com a taxa de IH, topologias das infecções, principais patógenos e procedimentos invasivos predisponíveis para a IH. Teresina, PI, 2015. TÍTULO Infecção hospitalar em unidade de tratamento intensivo de um hospital universitário brasileiro. Prevalência de infecções hospitalares em unidade de terapia intensiva. Aspectos epidemiológicos das infecções hospitalares no centro de terapia Intensiva de um hospital universitário. TAXA DE IH TOPOLOGIA PATÓGENOS PROCEDIMENTOS INVASIVOS ITU (37,6%); PNM (25,6%); 20% ICS (15,1%); Acinetobacter baumannii SVD (70%); (35,1%), Pseudomonas aeruginosa (21,6%) VM (49,9%); Klebsiella CVC (49,6%). Sítio Cirúrgico MRSA, pneumonia e Escherichia (14,1%); coli (10,8%). Outros(7,7%) PNM (27,03%); 8,9% ICS (13,12%); Proteus mirabilis; Citrobacter koseri; Enterobacter aerogenes. ITU (8,68%). 15% SVD (59,79%); CVC (64,27%); VM (40,79%). PNM (28,2%); Pseudomonas aeruginosa, (17,1%); ITU (26,5%); Staphylococcus (9,83%); ICS (4,4%). Acinetobacter baumanii (7,42%). VM (31,7%); SVD (18,1%); CVC (13,4%). 35 Infecções hospitalares nas Unidades de Terapia Intensiva em um hospital público. Controle de infecção hospitalar em unidade de terapia intensiva: estudo retrospectivo. Prevalência de infecções hospitalares em um hospital geral de alta complexidade no município de Ponta Grossa. Avaliação das infecções hospitalares em pacientes críticos em um Centro de Terapia Intensiva. UTI1 (64,1%); PNM (59,4%), UTI2 ITU (23,6%); (18,9%) SEM RELATO PNM; ICS; ITU. 27,8% SEM RELATO Pseudomonas aeruginosa (26,4%); Klebisiela sp., (24,5%); Staphylococcus aureus (16,9%); Pseudomonas sp., (15,1%); Escherechia coli 10,5%); Proteus mirabilis e Alcaligenes sp.,(4,8%). Pseudomonas aeruginosa (30,77%); Staphylococcus epidermidis(23,08%); Enterobacter sp. (11,54%); 19,35% ICS; Infecção do sítio cirúrgico; Infecção peritoneal. SEM RELATO Acinetobacter baumanii (18,5%); Staphylococcus aureus (17,0%); Escherichia coli (11,9%); Enterobacter aerogenes (11,1%);Staphylococcus SEM RELATO não produtor de coagulaseSNPC (8,9%); Klebsiella pneumoniae (8,9%); Pseudomonas aeruginosa (6,7%). PNM; ITU; SEM RELATO CVC (41,7%); Staphylococcus sp (45,5%) Acinetobacter sp, Pseudomonas sp e Klebsiella sp (27,3%). SVD (33,3%); VM (33,3%); CIRURGIAS (25%); IOT (25 %); 36 Prevalência de micro-organismo e sensibilidade antimicrobiana de infecções hospitalares em unidade de terapia intensiva de hospital público no Brasil. Três anos de avaliação das taxas de infecção nosocomial em UTI. PNM (65,3%); 28,77% ICS (17,8%); ITU (16,9%). S. aureus (25,2%); Acinetobacter sp., (12,6%); Enterobacter agglomerans (8,6%); Pseudomonas sp.(7,3%); Escherichia coli (4,6%), Klebsiela pneumoniae (4,6%); SEM RELATO Candida sp. (3,3%). 53% (2007); 29,15% (2008) 28,85% (2009) ICS; Infecções da pele e tecido mole. Pseudomonas aerugunosa (14,29%); Estafilococos coagulase negativa (13,71%); VM; Escherichia coli (12,57%); SVD; CVC. Staphylococcus aureus (7,43%); 16,62% (2010) Klebsiela spp (6,86%). Impacto de programa multidisci-plinar para redução das densidades de incidência de infecção associada à assistência na UTI de hospital terciário em Belo Horizonte. PNM (25%); SEM RELATO ITU (21%); SEM RELATO VM (39%); CVC(38%); ICS (17%). SVD(36%). Fonte: Pesquisa direta, 2015. (PNM- Pneumonia; ICS- Infecção da Corrente Sanguínea; SVD- Sonda Vesical de Demora; VM- Ventilação Mecânica; CVC- Cateter Venoso Central; ITU- Infecção do Trato Urinário; TCE- Traumatismo Crânio Encefálico; IAM- Infarto Agudo do Miocárdio; ICC- Insuficiência Cardíaca Congestiva; IOT- Intubação Oro Traqueal; TQT- Traqueostomia). Após leitura e análise do material, tornou-se possível a identificação do consenso na maioria dos autores no que tange o surgimento dos principais patógenos, sua proliferação, sítios de infecção e procedimentos invasivos que predispõem a IH, bem como a importância dos cuidados para impedir a sua veiculação, promovendo a 37 saúde dos pacientes e da equipe interdisciplinar. No que se refere às taxas de IH descritas nos estudos observa-se uma oscilação entre 8,9% a 64,1%, o que representa altas taxas de infecção. Nos hospitais das grandes capitais do Brasil vinculados ao Sistema Único de Saúde, embora o poder público e a sociedade brasileira desenvolvam esforços no sentido de controlar e prevenir as IHs, muito ainda há que ser feito, pois se estima uma prevalência média de 15,5% e uma incidência de 13% de IH (MACHADO, 2011). Tais temas são expressos nos subitens a seguir, correlacionando-se evidências da literatura com a análise dos estudos. 4.2 Prevalência e Epidemiologia das Infecções Hospitalares em Unidades de Terapia Intensiva No Brasil, os dados sobre Infecção Hospitalar são pouco divulgados. Além disso, esses dados não são consolidados por muitos hospitais, o que dificulta o conhecimento da real dimensão do problema. Entretanto, houve um estudo realizado no país, ainda em 1994, avaliando 8.624 pacientes com mais de 24h de internação e tempo médio de permanência de 11,8 dias. Foram identificados 1.129 pacientes com IH, representando uma taxa de 15,5%, com diferenças regionais importantes: Sudeste (16,4%), Nordeste (13,1%), Norte (11,5%), Sul (9,0%) e Centro-Oeste (7,2%). E apesar das lacunas existentes nas informações, as IHs estão entre as quatro principais causas de óbito no Brasil, ao lado das doenças cardiovasculares, neoplasias, doenças respiratórias (NOGUEIRA et al., 2009). Apesar do perfil dos micro-organismos variarem de acordo com cada instituição de saúde (infraestrutura, tipo de patologias atendidas, educação continuada e recursos humanos), destacam-se como principais agentes associados às infecções nas UTI, tanto nos países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento, devido aos múltiplos mecanismos de resistência e aos agentes antimicrobianos as seguintes espécies: Enterococcus faecium, Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae, Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa e Enterobacter spp. (JÚLIO, 2013). Ratifica-se nos trabalhos analisados tal informação no que tange a prevalência dos patógenos, onde 90% dos estudos foram encontrados Pseudomonas aeruginosa; 63,6% Estaphylococcus; 54,5% Acinetobacter e Klebsiela; 45,4% E. coli; 36,3% Enterobacter; 18% Proteus e Cândida; 9% Citrobacter, Alcaligenes e Streptococos. 38 4.3 Topografias das Infecções Hospitalares e Associação aos Procedimentos Invasivos nas Unidades de Terapia Intensiva Os sítios de maior prevalência das IHs nas UTI são: sistema respiratório (pneumonia- PNM), associado à ventilação mecânica; seguido do sistema circulatório (infecções da corrente sanguínea-ICS), associado a cateter venoso central; e sistema urinário (infecção do trato urinário-ITU), associado à sonda vesical de demora, todas com morbimortalidade muito elevada. Também são comumente encontradas infecções em sítios cirúrgicos, úlceras de pressão, virilhas, região nasal e axilar, dentre outros (ARCANJO, 2014). Na apreciação dos estudos concluiu-se que, embora 100% dos estudos tragam a ICS como sítio de IH, em comparação com a infecção respiratória e urinária, ambas com 88,8% de registros, é a PNM que está evidenciada em 77,7% dos estudos como o local de maior prevalência de sítio infeccioso, seguido da ICS e da ITU. Também foram observadas infecções em sítio cirúrgico, infecção peritoneal, pele e tecido mole. Para corroborar com a topologia mais identificada nos estudos- trato respiratório (PNM), o procedimento invasivo mais utilizado pelos profissionais da saúde foi a VM 50%, seguido da SVD 33,3 % e do CVC 16,6%. Ainda foram registrados outros procedimentos como cirurgias, IOT (Intubação Oro Traqueal) e TQT (Traqueostomia). Portanto, é mandatório que a equipe multidisciplinar tenha atenção redobrada nas medidas profiláticas e de controle, sempre observando técnicas assépticas durante os procedimentos, quer sejam invasivos ou não. 4.4 Equipe Interdisciplinar e Medidas de Precações Padrão no Controle das Infecções Hospitalares em Unidades de Terapia Intensiva Os custos de um paciente com infecção são três vezes maiores do que o de um paciente sem infecção. Os índices de infecção permanecem elevados no Brasil, a maior incidência ocorre em hospitais de ensino ou universitários em comparação a outros hospitais, devido à variedade de doenças, à realização de procedimentos de alta complexidade, aos longos períodos de internação e ao contato de pacientes com diversos profissionais da saúde, incluindo-se estudantes. Ressalta-se, ainda, a insuficiente habilidade técnica de estudantes em realizar procedimentos invasivos (MENEZES et al., 2007; MOURA et al., 2007). 39 Algumas IH são consideradas evitáveis e correspondem àquelas em que se pode interferir na cadeia de transmissão do micro-organismo, como as que ocorrem em aproximadamente 30% dos casos. A interrupção dessa cadeia pode ser realizada por meio de medidas de higienização das mãos, processamento de artigos e superfícies, utilização dos equipamentos de proteção individual (avental, gorro, óculos, luvas e máscaras descartáveis) e pela observação das medidas de assepsia. (LÍVIA, 2012). A criação e o funcionamento das CCIH representam um progresso na organização da estrutura hospitalar para a diminuição de múltiplos problemas, como a necessidade de se reduzir e controlar taxas de infecções, o que determina a aplicação de medidas preventivas, educacionais e de controle epidemiológico, que visam, através de um processo de conscientização coletiva, a levar as taxas de infecção para limites aceitáveis (FERRAZ, apud ABEGG, 2011). Foi observado nos estudos que a simples ação da lavagem das mãos pode reduzir significamente as IHs. Portanto, a promoção e a prática da higienização das mãos devem ser incentivadas nos serviços de saúde, pois é um procedimento importante e menos dispendioso para evitar a transmissão das infecções relacionadas à assistência à saúde. Por outro lado, foi identificado em um artigo que profissionais encontram fatores dificultadores para a adesão das precauções padrão no que diz respeito ao uso dos EPI (Equipamentos de Proteção Individual), quer seja a nível individual ou a nível institucional. Outras medidas de controle observadas nos estudos para redução das IHs foram atividades de vigilância, medidas educativas e criação de protocolos em determinados procedimentos. A partir do exposto, estratégias voltadas para a contenção da disseminação da resistência bacteriana têm se pautado, essencialmente, pela utilização adequada de precauções-padrão e de contato, pelas vias de transmissão de micro-organismos, buscando favorecer o controle das infecções e prevenção da disseminação de patógenos entre pacientes, profissionais e ambientes. 40 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio de uma análise do conhecimento teórico científico, esse estudo possibilitou a compreensão de vários enfoques da Infecção Hospitalar (IH) nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), destacando os aspectos epidemiológicos das espécies bacterianas de maior prevalência apontada na literatura, bem como as medidas de precauções realizadas pela equipe interdisciplinar. Por se tratar de uma área de risco biológico, por estar fisicamente debilitado, passarem por constantes procedimentos invasivos e por permanecer por um maior tempo de internação os pacientes internados na UTI estão mais propícios a desenvolver IH. Os patógenos mais comumente envolvidos nas infecções dos pacientes nos estudos analisados são: Pseudomonas aeruginosa, Estaphylococcus, Acinetobacter, Klebsiela, E. coli e Enterobacter, estando cada vez mais resistentes ao tipo de tratamento disponível, com isso aumentando o tempo de internação, exigindo medicamentos de custo mais alto e um aumento na morbimortalidade. Embora as principais causas de IH estejam relacionadas com o doente suscetível à infecção e com os procedimentos, técnicas e terapêuticas utilizadas no tratamento, não se pode deixar de considerar a grande parcela de responsabilidade da equipe interdisciplinar, relacionada aos padrões de assepsia, higiene e as técnicas empregadas na recuperação do paciente na UTI. Ficou evidente que a lavagem das mãos é o procedimento de prevenção mais seguro a ser realizado contra IH, quando realizado de forma correta. Em paralelo a essa medida, os Equipamentos de Proteção Individual são essenciais para que a equipe interdisciplinar não se exponha a riscos, como o de contrair e disseminar infecções entre os pacientes, devido à intensa rotina e sobrecarga de assistência que estes profissionais possuem para com os pacientes. Espera-se que esta revisão de literatura possa contribuir para o aprofundamento dos conhecimentos nos vários aspectos das IHs e, acima de tudo colaborar na divulgação da temática para a população em geral. Seguindo essa linha de pensamento almeja-se também que a equipe interdisciplinar compreenda a IH na UTI, a qual se relaciona com o contexto da assistência a saúde e o bem estar de todos que frequentam o ambiente, sejam como 41 trabalhadores, pacientes ou familiares já que uma infecção repercute na vida pessoal, laboral e institucional, tanto pela morbidade, mortalidade, como por gastos com seu tratamento. Entende-se também a importância da realização de mais pesquisas que dirijam ações quanto às medidas de controle e prevenção da IH e que mostrem que os resultados das ações que estão sendo feitas na área hospitalar, como a educação e aprimoramento dos sujeitos envolvidos no cuidado, constituem uma base sólida na formação dos futuros profissionais da área da saúde. 42 REFERÊNCIAS ABEGG, P. T. G. M.; SILVA, L. L. Controle de infecção hospitalar em unidade de terapia intensiva: estudo retrospectivo. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, v. 32, n. 1, p. 47-58, jan./jun. 2011. 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( ) IDENTIFICAÇÃO DO ESTUDO 1 Título 2 Autor(es) 3 Objetivo(s) 4 Descritores 1 Tipo de estudo METODOLOGIA Qualitativo ( ) Quantitativo ( ) Quali-quanti ( ) Descritivo Experimental ( ) Relato de experiência ( ) Estudo de caso ( ) Outros ( ) _________________________________________ 2 Local/ano 3 Periódico 4 Critérios de Inclusão 5 Critérios de Exclusão 6 Base de dados RESULTADO E DISCUSSÕES CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERENCIAS RECOMENDADAS