Coluna do Cattoni Os Rumos da Campanha de Kerry Uma mensagem esta emergindo da campanha de John Kerry para o confronto eleitoral de novembro: ela une idéias tradicionais a outras decorrentes da nova realidade estratégica do início deste século. Ela retoma alguns dos temas definidos por Clinton, como a reduzir o déficit, incentivar o crescimento econômico, ajudar a classe média com o custo do seguro de saúde e da educação. A isso, Kerry incluiu outros pontos que refletem a nova realidade do pós-11/09, das guerras do Afeganistão e Iraque, e da polarização política resultante. O candidato adotou a expressão "Deixar a América voltar a ser a América", uma frase de um poema de Langston Hughes, que invoca a idéia de restauração - dos sonhos da classe média, da economia, do código fiscal que se tornou muito injusto favorecendo os muito ricos, e, talvez o mais importante, da relação dos Estados Unidos com o mundo. Contrariamente a Clinton, Kerry põe mais ênfase na política externa e segurança nacional, um tema que lembra mais os anos da Guerra Fria que os anos 90 de prosperidade, espírito de paz e paz de espírito. Kerry se sente confortável com esses temas, sendo filho de diplomata, tendo servido no Vietnã duas vezes e participado por 20 anos da comissão das relações exteriores do Senado. Ele se sente muito à vontade fazendo campanha prometendo um país mais seguro e mais respeitado por seus aliados. Se ele invoca Clinton quando fala de economia, ele se refere a John Kennedy, Harry Truman e Franklin Roosevelt quando fala do papel dos EUA no mundo - um internacionalismo capaz de usar a força se e quando necessário. Ele gosta de dizer que os EUA sempre irão à guerra por obrigação, mas nunca por escolha, como Bush fez com a do Iraque. Ele promete acabar com o unilateralismo e fortalecer o sistema de alianças, que torna a o país mais forte, não mais fraco como aconteceu depois da adoção da estratégia de preempção. 1 Apesar de querer defender os princípios tradicionais do partido Democrata, Kerry diz ser necessário se manter aberto a novas idéias, como ocorreu na reforma da assistência social, passada pelos os Republicanos com seu apoio, e sancionada por Clinton em 1996. Kerry propõe uma reforma da saúde, mas contrariamente à de Clinton, não tentaria reinventar o sistema de saúde, mas faria com que o governo pagasse pelos os casos mais caros e catastróficos, o que, diz ele, baixaria os prêmios dos seguros para a grande maioria, com muito poucos custos e envolvimento do governo. Para ilustrar sua ida rumo ao centro, Kerry fala cada vez mais de valores, defesa da classe média e determinação no campo doméstico e externo, temas, em geral associados ao Partido Republicano. A escolha de John Edwards foi acertada porque, como já tinha escrito no início de março, ela simboliza a união dos Democratas, e ele provou ser bom de votos, em particular em áreas rurais e industriais do interior, e complementa assim as áreas onde Kerry é mais fortes, as costas e grandes cidades. Por fim, ele é do sul – apesar de nascido na Carolina do Sul, é Senador pela a Carolina do Norte. Embora o Sul seja uma região predominantemente Republicana, nada está decidido ainda lá, e ele poderia equilibrar a luta com os Republicanos. Além disso, Edwards é o "queridinho" atual da mídia, que o declarou o melhor orador da política contemporânea americana, fotogênico, carismático e charmoso - tudo que Kerry não é. Ele pode representar o pontapé que a campanha de Kerry precisava. O candidato Democrata vinha pagando um alto preço pelos anúncios Republicanos que o pintaram como um político pouco confiável, que sempre muda de idéia e diz o que os eleitores querem escutar. Mas a escolha de Edwards já é refletida nas pesquisas e, se Nader não estiver incluído, a chapa "John-John" teria 53% contra 43% para a de Bush-Cheney. Mas, as eleições permanecem muito apertadas e as campanhas só começam para valer depois do feriado do Dia do Trabalho (americano) na primeira segunda-feira de setembro. 2