A Reta Final - AUGUSTO CATTONI

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Coluna do Cattoni, Agosto 2004
A Reta Final
“Sua vida está melhor do que era há quatro anos atrás?” A pergunta foi feita
por Ronald Reagan aos americanos no debate com Jimmy Carter antes da
eleição presidencial de 1980. Ela foi devastadora para a candidatura do
Democrata, e pode vir a assombrar a do Republicano neste ano.
Em 1980, os Estados Unidos tinham acabado de passar pela revolução xiita do
Aiatolá Rumeini no Irã, a tomada dos reféns americanos e o fracasso da
tentativa de resgate, a alta do preço de petróleo, alto desemprego e
“estagflação” - inflação de dois dígitos, altíssima para padrões americanos, e
concomitante à recessão causada pela alta conseqüente dos juros.
O próprio Presidente Jimmy Carter reconhecera que o país estava passando
por um período de mal estar, um “malaise”, em suas palavras. Sem dúvida,
aquilo não era o desfecho de Watergate contemplado por muitos. Esse malestar da era Carter foi substituído sucessivamente pelos anos da “economia da
oferta” da era Reagan, a recessão de George H. W. Bush, e pela prosperidade
sem precedentes dos anos Bill Clinton, com superávit orçamentário, pleno
emprego, inflação e juros baixíssimos.
Hoje, a situação não é, sem nenhuma dúvida, melhor que há quatro anos atrás.
O Presidente George W. Bush encontrou um país e plena prosperidade
econômica e em paz, e trouxe de volta déficit, desemprego e guerra.
Por causa de sua ideologia teimosa, Bush enfraqueceu a economia do país
com déficits, fiscal e de conta corrente, com um nível de emprego menor do
que quando assumiu - o primeiro presidente desde Herbert Hoover que
termina o mandato com um nível de emprego inferior ao que quando assumiu
– e com aumento do número de pessoas abaixo do nível de pobreza e sem
seguro de saúde.
Para completar o quadro, alta significativa do preço do petróleo e uma guerra
externa feita à base de mentiras e engodo. Por isso, o Iraque lembra o processo
que levou ao Vietnã.
A guerra do Iraque, contrariamente ao que Bush disse, não acabou quando ele
decretou o fim das operações militares. O nível de violência aumentou e as
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baixas, inclusive americanas, são maiores depois do fim dos combates que
durante a guerra. Os abusos dos direitos humanos, que poucos pensavam os
americanos capazes de cometer, chegaram ao mais alto nível do Pentágono; e
levaram à perda de prestígio dos Estados Unidos e à ruptura com os aliados
tradicionais.
Mas, contrariamente a Carter num momento equivalente, Bush permanece o
favorito. Mas só lhe resta a explorar o medo, o patriotismo simplista e a
desinformação dos americanos, e partir para ataques pessoais contra Kerry – o
clã Bush sempre foi adepto de baixarias políticas. Por exemplo, essa acusação
absurda, por parte de antigos veteranos do Vietnã, que sua atuação, como
comandante de um barco ligeiro de ataque no Delta do Mecong, não teve nada
de heróico e que ele mentiu para ganhar as medalhas.
Duas coisas foram comprovadas no cenário político americano. Os anúncios
negativos, embora rejeitados, em teoria, pela a maioria do público, e pelos
próprios candidatos, são muito eficazes, como mostrou a retomada da
liderança de Bush nas pesquisas, mesmo antes do início da convenção
Republicana. Eles funcionam por serem simples e repetitivos, não exigem
muita análise por parte do eleitor.
A única maneira de combatê-los é com outros ataques negativos: lutar o fogo
com a dinamite. A resposta tem de ser rápida e tão dura como quanto o ataque.
Mas, Kerry perdeu um tempo valioso para responder aos ataques, que já
produziram um certo efeito. Talvez pague um alto preço pela a demora.
É muito difícil desfazer uma impressão que já está implantada na cabeça dos
eleitores, sobretudo quando se tem a Rede Fox, e outros veículos de mídia,
como rádios e editoras, que ficam repetindo as mesmas acusações em parar.
Há uma séria possibilidade que, com a vitória de Bush, a América se distancie
ainda mais do resto do mundo, com um redobrado conservadorismo, agora
sem compaixão e sem vergonha. Isso aumentaria o fosso entre a América e a
Europa, e alimentaria o radicalismo islâmico. Com Bush sendo o principal
incentivo ao terrorismo, haveria mais guerra contra o terrorismo e um novo
ciclo de violência.
Para o Brasil, a situação se tornaria mais complicada neste momento que há
indicações de uma transformação em andamento no governo, dos
companheiros de ontem em camaradas do futuro.
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Na véspera da Convenção Nacional Republicana, tudo indica que o principal
concorrente do presidente seja ele próprio, e os erros que cometeu com a
guerra e na economia. Esta eleição é uma combinação da de 1968 com a de
1992: guerra e economia, respectiva e simultaneamente, predominam .
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