A Filosofia e o conhecimento

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A Filosofia e o conhecimento
A
ntônio era um cara pensativo. Às vezes, saía com os amigos e, no meio do papo na mesa da
lanchonete, começava a pensar em certas coisas e se esquecia do restante. “Puxa, o que é que
estou fazendo aqui? Qual é o sentido de tudo isso?” Não que essas questões – e muitas outras
– tirassem o seu sono (Antônio era um cara “desencanado”), mas ele se divertia pensando nelas, pois
nunca conseguia chegar a uma conclusão. Pensar nelas era uma diversão para ele, como conversar
com amigos ou, como para alguns é divertido jogar
paciência ou montar um quebra-cabeça. Os amigos,
às vezes, se incomodavam um pouco com isso, mas
curtiam demais o Antônio para implicar com ele. Ficava tudo na brincadeira. Um dia, quando estava lá,
pensativo e distraído, Carlos lhe disse: “Pô, cara! Fica
aí no mundo da lua, até parece que está filosofando!”
Antônio pensou “Mas será que isso que eu faço, ficar
pensando com calma nas coisas, é filosofia?”
A primeira idéia que nos vem à cabeça quando
tentamos definir a filosofia é a de buscar uma razão
histórica para sua existência. E como não temos a
intenção de defini-la, nem de localizar precisamente
sua origem, preferimos admitir a filosofia como “ato
de filosofar” e, com base nisso, compreender o homem como um ser situado numa época em que ele
se sente perplexo com a realidade vivida e começa a
interrogar-se sobre tal realidade, buscando uma razão fundamental para tudo o que existe.
O melhor meio de que podemos nos valer para
nos aproximarmos da filosofia são as perguntas. Só
que não são perguntas-questão, e sim, perguntasproblema que, por sua vez, são de caráter reflexivo,
ou seja, o pensamento dentro de uma ação humana que permite uma tomada de atitude dos homens
diante dos acontecimentos da vida.
Reflexão vem do termo latino reflectere, que
significa “voltar atrás”, ou seja, um repensar detidamente, prestar atenção, analisar com cuidado e interrogar-se sempre a respeito das opiniões, impressões
e conhecimentos técnico-científicos e do próprio
sentido da filosofia.
É difícil precisar o instante exato em que se iniciou a atividade filosófica na História ou quando as
perguntas-problema começaram a ser propostas pelas
pessoas em suas respectivas épocas. Para isso, preciEste material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
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Filosofia
saríamos saber em que momento o homem começou a se questionar sobre si mesmo,
sobre os outros homens, sobre o mundo em que vive. Em suma, teríamos de determinar quando e por que os homens começaram a pensar mais seriamente e profundamente sobre determinados fenômenos que perturbavam sua existência. É claro que
muitas explicações foram criadas para os fenômenos naturais que os incomodavam,
mas, em certo momento, alguns começaram a duvidar dessas explicações.
A partir da dúvida, o ato de filosofar ganhou proporções importantes pois,
percebendo as contradições existentes nas diversas explicações dos acontecimentos do mundo, o homem passou a questioná-las e colocá-las em xeque, buscando
respostas mais coerentes e concretas para suas interrogações.
A primeira experiência do ato de filosofar de que temos conhecimento deuse na Grécia antiga. Com o nascimento da pólis, as cidades-estado gregas passaram a expandir seu poder político, econômico e cultural para outras civilizações.
Tal expansão permitiu o desenvolvimento de aspectos importantes da cultura,
das formas de governo, da participação popular, influenciando o desenvolvimento
intelectual e provocando o surgimento de problemas reais sobre a existência do
cosmo (os gregos chamavam o mundo de kósmos, que significa “ordem, beleza,
harmonia”, em oposição ao caos, a desordem de quando ainda não havia sido criado o mundo). Nesse momento aparece a figura do filósofo, ou seja, um “amante
da sabedoria”, alguém cujo objetivo é chegar à sabedoria. Por isso, o pesquisador
Jean-Pierre Vernant afirmou que “a filosofia é filha da cidade”.
Dizem que a palavra filósofo foi inventada por Pitágoras no século V a.C.
Ele era reverenciado como um sábio (sophós, em grego), mas, como era um tanto modesto, dizia-se, quando muito, um amigo do saber (de philos, que significa
“amigo, amante” e sophía, “sabedoria, saber”), formando assim a palavra filosofia, para designar a atividade daqueles que se caracterizavam como filósofos.
O filósofo procura desvendar o saber. Não um saber pronto e acabado, mas um
saber que experiencia o não-saber, que faz o movimento da ignorância para o saber;
aquele que busca conhecer algo, que está sempre à procura de respostas e da constante
superação delas, pois a resposta que chega o pensador suscita inúmeras outras perguntas,
por isso, se definiu anteriormente a pergunta filosófica como uma pergunta-problema.
O ato de filosofar começou a surtir efeito naquelas comunidades primitivas
que freqüentemente recorriam a mitos para explicar os fenômenos não compreendidos. O mito, em geral, era – e é até hoje – uma explicação que utiliza elementos
simbólicos e sobrenaturais para nos levar a entender o mundo e dar sentido à
vida, respondendo satisfatoriamente à nossa curiosidade. Muitos acreditavam e
acreditam em certas explicações mitológicas sem a fundamentação lógica de um
saber racional e sem colocar em dúvida aspectos dessas crenças. O mito não coloca em dúvida as explicações dadas – são verdades absolutas a serem cegamente
seguidas. Já a filosofia caracteriza-se por sempre buscar algo a mais, por não se
contentar com a primeira explicação disponível.
A filosofia nasceu e nasce da nossa aspiração de estar em toda parte e, em
qualquer circunstância. É como o ar que respiramos e que nos coloca diante de
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questões que exigem “atitudes” para a tomada de certas decisões que preencham
nossas aspirações. É por isso que a filosofia provavelmente jamais terá fim, embora, em muitos momentos da história, filósofos tiveram a pretensão de haver
alcançado a sabedoria, isto é, o fim da própria atividade filosófica. Mas tais idéias
foram logo questionadas e essa pretensão terminou, seguindo a filosofia, seu caminho de busca de um saber cada vez mais aprimorado.
Você está percebendo que a filosofia é uma atividade em constante transformação: ela depende da cenografia de cada época e dos atores que sobem ao palco (os
filósofos) para tentar compreender a cena em que vivem. Desse modo, é muito difícil
definir o que é filosofia, pois ela assume diferentes feições. Para melhor compreensão
do assunto, falaremos um pouco de três grandes figuras do período clássico grego
que viveram entre os séculos V e III a.C. e de como viveram a atividade filosófica.
Sócrates
Sócrates foi a figura de maior destaque da filosofia grega clássica. Ele nada
escreveu, mas andava pelas ruas de Atenas conversando com as pessoas. Gostava
de interrogá-las sobre suas crenças, levando-as a perceber o quão transitórias essas verdades eram.
Platão
Platão foi discípulo de Sócrates e também cidadão ateniense. Era uma pessoa inteligente, de família rica, culta e produziu discursos e várias obras filosóficas. Suas reflexões sobre a pena de morte vigente em Atenas destacaram-se após
a publicação do discurso que fez em defesa de Sócrates, que havia bebido o cálice
de cicuta.
Platão inventou a forma de fazer filosofia: pegou emprestado de Sócrates o
método da conversação, do diálogo, para expressar suas idéias. Mas, diferentemente
de seu mestre, não ficava pelas ruas conversando com as pessoas, ele pensava e tentava chegar a idéias cada vez mais perfeitas. Para comunicar essas idéias aos outros,
escrevia-as na forma de diálogo, com vários personagens conversando entre si e
defendendo idéias diferentes. Na maioria de suas obras, Sócrates era o personagem
principal, na boca de quem Platão colocava as idéias que pretendia demonstrar.
Aristóteles
Aristóteles pertenceu à academia de Platão. Não era ateniense, mas da cidade de Estagira, sendo filho de um médico-cientista. Sua formação e seu interesse
pela natureza fizeram-no divergir do mestre Platão (que não se preocupou muito
com o mundo dos sentidos), procurando ser também um estudioso da natureza
viva e de seus processos de mudanças e evoluções.
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Filosofia
Aristóteles é considerado como aquele que, na cultura grega, organizou,
sistematizou e ordenou as várias ciências.
Para Aristóteles, existem três formas puras de governar o Estado: a monarquia (ou governo de um só), a aristocracia (ou governo dos “melhores”) e
a democracia (ou governo realizado por um grande número de cidadãos). Segundo ele, essas três formas serão válidas e justas somente se encontrarem um
verdadeiro sentido de organização dos cidadãos, em que necessidades básicas,
como alimentação, trabalho, educação e família, sejam colocadas no plano de
convívio humano e de satisfação das nossas necessidades vitais de existência,
visando à promoção do bem de todos.
Diferentemente de Platão, Aristóteles escrevia na forma dissertativa,
procurando argumentar segundo as leis da lógica, inaugurando a forma pela
qual a escrita filosófica seria conhecida ao longo dos séculos.
1.
Organizar com a turma um debate sobre um tema polêmico (de preferência, escolhido após
uma pesquisa em periódicos), que reproduza a estrutura de um diálogo de Platão, aplicando o
método socrático de investigação.
2.
Fazer uma pesquisa nos livros de História Antiga sobre a Grécia no período de surgimento da
filosofia (século VII a.C.) e dos filósofos estudados nesta aula. Procure perceber as suas características sociais, políticas e culturais.
Sugere-se a leitura dos seguintes livros:
GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das letras, 1995.
PEREIRA, Jorge Cláudio. Platão: ousar a utopia. São Paulo: FTD, [1988].
RIBEIRO, Otaviano José. Aristóteles: o equilíbrio do ser. São Paulo: Moderna, [s.d.].
E as seguintes músicas:
Roda viva, de Chico Buarque;
Pensamento, de Cidade Negra;
Como uma onda, de Lulu Santos;
Maluco beleza, de Raul Seixas.
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