ADESÃO DE PACIENTES AOS GRUPOS DE REEDUCAÇÃO ALIMENTAR ATENDIDOS EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE EM BELO HORIZONTE, MG. Natália Pires Miranda; Adriana Márcia Silveira. Faculdade de Minas – FAMINAS-BH; Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. RESUMO – O aumento na incidência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) ocorridas nas últimas décadas em todo o mundo fez com que houvesse uma mudança no perfil epidemiológico, causando aumento da morbimortalidade e redução da qualidade de vida. O atual estudo analisou a adesão ao tratamento nutricional em grupos de reeducação alimentar de pacientes atendidos em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) durante o ano de 2016. Foram analisados todos os pacientes adultos que iniciaram tratamento nutricional em grupos nessa UBS. Foi verificado alto índice de abandono ao tratamento (52,1%), porém dos pacientes que continuaram o tratamento nutricional dentro dos encontros propostos, houve redução ponderal para a maioria deles (51,5%). É importante que haja estímulo constante aos pacientes com DCNT para que se obtenha maior adesão aos tratamentos propostos e consequentemente haja melhoria na qualidade de vida. PALAVRAS-CHAVE: obesidade; grupos de reeducação alimentar; não adesão ao tratamento; doenças crônicas; educação em saúde. INTRODUÇÃO As transformações sociais, econômicas e culturais ocorridas no mundo ao longo dos últimos anos causaram modificações nas características populacionais, como o aumento da obesidade e outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), causando aumento da morbidade e mortalidade de forma geral e perda de qualidade de vida (REINERS, et al, 2008). Os tratamentos que visam o controle das DCNT’s têm como objetivo a redução da morbimortalidade e promoção da qualidade de vida, com dados científicos demonstrando melhora do quadro clínico com tratamento eficiente e apoio regular. Porém nem sempre esse tratamento regular ocorre, já que há altos índices de não adesão aos tratamentos de DCNT’s (REINERS, et al, 2008). A Organização Mundial de Saúde (2003), em seu relatório mundial, estimula que o tratamento de doenças crônicas envolvam intervenções de custo relativamente baixo, especialmente com a prática de ações preventivas relacionadas à dieta, fumo e ao estilo de vida. Os trabalhos em grupos na atenção primária à saúde, especialmente as práticas de educação alimentar e nutricional, são alternativas eficientes para as práticas assistenciais, sendo uma possibilidade criativa de intervir no processo III Congresso Nacional de Alimentos e Nutrição | VI Congresso Nacional de Alimentação e Nutrição Ouro Preto, MG | 27 a 31 de março de 2017 | ISSN 2236-2495 saúde/doença, além de possibilitar maior interação entre profissionais e pacientes, gerando transformações de atitudes, e ganhos de conhecimento e habilidades para que os pacientes possam lidar com os problemas crônicos de saúde. Tem portanto boa resolutividade com melhor custo efetivo (SANTOS, 2012; DIAS et al, 2009). A falta de adesão dos pacientes ao tratamento de doença crônicas podem ser advindos de muitos fatores, relacionados ao próprio paciente na maioria das vezes, e também à relação do profissional com o paciente ou ao esquema terapêutico proposto. Essa falta de adesão pode levar à não obtenção dos benefícios desejados, aumento dos custos do tratamento ao sistema público de saúde e deterioração da relação profissional-paciente (VALLE, et al, 2000). O objetivo desse trabalho foi verificar o percentual de adesão dos pacientes aos grupos de reeducação alimentar de uma Unidade Básica de Saúde (UBS). MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de estudo transversal descritivo, realizado em uma UBS no município de Belo Horizonte, MG. Foram avaliados todos os pacientes que estiveram em tratamento nutricional nos grupos de reeducação alimentar durante o ano de 2016. Os resultados foram analisados pelo método de análise quantitativa, e descrito pelo critério estatístico de porcentagem para a avaliação dos pacientes em relação à adesão ao tratamento. Os grupos de reeducação alimentar são realizados pelo nutricionista do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). Os agendamentos são realizados conforme encaminhamentos médicos e são divididos em grupos de reeducação alimentar para tratamento da obesidade, dislipidemia e hipertensão arterial (O/D/HAS) e grupos de reeducação alimentar para controle do diabetes mellitus (DM). Os grupos consistem em 6 encontros mensais, com temas voltados ao controle alimentar nas patologias específicas. Para avaliar a adesão aos grupos de reeducação alimentar e nutricional foram considerados como frequentes os que foram a três ou mais encontros mensais. E foi considerado como abandono de tratamento os que foram a menos de 3 encontros. III Congresso Nacional de Alimentos e Nutrição | VI Congresso Nacional de Alimentação e Nutrição Ouro Preto, MG | 27 a 31 de março de 2017 | ISSN 2236-2495 Foi considerado avaliação do estado nutricional através do Índice de Massa Corporal (IMC). A avaliação antropométrica era realizada em cada um dos encontros mensais. O peso e estatura dos pacientes foram aferidos numa balança, marca Welmy®, com capacidade total de 150Kg, com subdivisão de 100g. O estadiômetro tem subdivisão de 0,5cm. Foi orientado aos pacientes a retirarem os calçados e subirem de costas para a balança, com olhar para o horizonte ao serem pesados e medidos. Foi calculado IMC através da relação do peso dividido pela altura ao quadrado e classificado segundo os critérios da Organização Mundial de Saúde (WHO, 1995). Para o atual trabalho considerou-se o IMC inicial e ao final dos encontros propostos, para avaliar a efetividade dos mesmos, com relação à antropometria. Foram considerados apenas grupos de reeducação alimentar realizados com adultos (>18 anos e < 60 anos), não sendo considerados grupos de idosos e crianças ou adolescentes. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram realizados 6 grupos ano longo do ano de 2016 nessa UBS, sendo 4 (66,7%) grupos para tratamento nutricional de O/D/HAS e dois grupos de tratamento nutricional para DM (33,3%). A idade média dos participantes foi de 48,3±8,50 anos para ambos os grupos. O número médio de participantes por grupo foi de 13,3 participantes, com IMC inicial médio de 32,2 kg/m2 e 29,1kg/m2 para os grupos de O/D/HAS e diabetes, respectivamente, caracterizando quadro inicial de obesidade grau I e sobrepeso. O percentual de abandono ao tratamento foi de 57,4% e 46,7% nos grupos de O/D/HAS e diabetes, respectivamente. Reiners e colaboradores (2008) afirmam que a maior carga de responsabilidade de adesão/não adesão ao tratamento proposto é conferida ao paciente, e que é necessário que os profissionais e serviços de saúde sejam corresponsáveis nesse processo. Embora o percentual de abandono ao tratamento tenha sido alto (52,1%) ainda está melhor do que o relato da literatura que descreve que apenas um terço dos pacientes conseguem boa adesão ao tratamento de doenças crônicas (VALLE, et al, 2000). III Congresso Nacional de Alimentos e Nutrição | VI Congresso Nacional de Alimentação e Nutrição Ouro Preto, MG | 27 a 31 de março de 2017 | ISSN 2236-2495 Dos pacientes que mantiveram o tratamento com boa adesão, 59,7% e 43,3% conseguiram redução no IMC ao final dos 6 encontros, nos grupos de O/D/HAS e diabetes, respectivamente. Embora tenha sido encontrado um alto percentual de abandono ao tratamento nutricional proposto, pode-se observar que para os que permaneceram, a maioria 51,5% conseguiram reduzir o IMC, comparado com o estado nutricional inicial. CONCLUSÃO Observou-se alto índice de abandono ao tratamento nutricional, porém com resultados positivos para a maioria dos participantes que conseguiu concluir a proposta de tratamento nos grupos. Isso demostra a importância do incentivo constante aos pacientes para que persistam no tratamento nutricional, promovendo perda de peso e também modificações permanentes nos hábitos alimentares, resultando em melhoria na qualidade de vida desses indivíduos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DIAS, V.P.; SILVEIRA, D.T.; WITT, R.R. Educação em Saúde: o trabalho de grupos em atenção primária. Revista APS. v. 12, n.2, p.221-227, 2009. DUARTE, A.C.G. Avaliação Nutricional – Aspectos Clínicos e Laboratoriais. São Paulo: Atheneu, 2009. REINERS, A.A.O.; AZEVEDO, R.C.S.; VIEIRA, M.A.; ARRUDA, A.L.G. Produção bibliográfica sobre adesão/não-adesão de pessoas ao tratamento de saúde. Ciência e Saúde Coletiva. v.13, n.2, p. 2299-2306, 2008. Organização Mundial de Saúde - OMS. Cuidados Inovadores para condições crônicas: componentes estruturais de ação: Relatório Mundial. Brasília. Organização Mundial de Saúde, 2003. SANTOS, L.A.S. O fazer educação alimentar e nutricional: algumas contribuições para reflexão. Ciência & Saúde Coletiva. v.17, n. 2, p.453-462, 2012. VALLE, E.A.; VIEGAS, E.C.; CASTRO, C.A.C. TOLEDO Jr, A.C. A adesão ao tratamento. Revista Brasileira de Clínica Terapêutica. v.26, n.3, p.83-86, 2000. WAITZBERG, D.L. Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica. 4 ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2009. III Congresso Nacional de Alimentos e Nutrição | VI Congresso Nacional de Alimentação e Nutrição Ouro Preto, MG | 27 a 31 de março de 2017 | ISSN 2236-2495