Programa previsional de manutenção em edifícios

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Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
Daniel Nóbrega Tomásio Lopes Soares
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Civil
Júri
Presidente: Doutor Luís Manuel Alves Dias
Orientadora: Doutora Inês dos Santos Flores Barbosa Colen
Orientador:
Doutor José Maria da Cunha Rego Lobo de Carvalho
Vogal: Doutor António José Damas da Costa Lobato Santos
Dezembro 2012
PROGRAMA PREVISIONAL DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS
HISTÓRICOS
RESUMO
A manutenção aplicada a edifícios históricos revela-se um tema pouco aprofundado a nível nacional.
O estudo do património histórico apresenta dificuldades muitas vezes associadas à especificidade
deste tipo de edifícios, que apresentam usualmente características muito particulares.
A presente dissertação tem como objectivo aprofundar este tema, abordando-se os estudos
efectuados em outros países europeus, e efectuando-se a transposição de diversos modelos de
manutenção aplicados a edifícios correntes – área de estudo com bastante crescimento nos últimos
anos, e onde se tem implantado uma filosofia pró-activa – para a temática dos edifícios históricos.
Ao longo deste trabalho foi desenvolvida uma metodologia de manutenção para aplicação em
edifícios históricos, tendo em conta os diversos factores que diferenciam este tipo de construções,
nomeadamente a questão da autenticidade e valor cultural dos diversos elementos. A aplicação desta
metodologia tem como objectivo a criação de planos previsionais de manutenção para aplicação em
património histórico.
A metodologia proposta foi aplicada ao Panteão Nacional, edifício situado na zona histórica de Santa
Clara em Lisboa, e classificado como Monumento Nacional. Foi elaborado um estudo preliminar à
elaboração do plano de forma a compreender a situação actual do edifício, seguido da fase de
inspecções onde se identificaram as principais anomalias e se classificaram os vários critérios
condicionantes neste tipo de edifícios.
Através de uma equação de hierarquização procedeu-se ao escalonamento de acções. Foi elaborado
um plano previsional de manutenção e respectivas previsões de custos para um horizonte temporal
de 10 anos.
Palavras-chave:
Manutenção; Edifícios históricos; Património; Escalonamento de acções; Custos de manutenção;
Planos previsionais.
i
ii
PROVISIONAL PROGRAM OF MAINTENANCE IN HISTORIC
BUILDINGS
ABSTRACT
The maintenance applied to historic buildings proves to be a subject that is still under development in
Portugal. The study of historic heritage presents difficulties often related to the specificity of this type
of buildings, which usually present very particular features.
This dissertation aims to detail this subject, analysing the studies conducted in other european
countries and applying different maintenance models of current buildings (area with ample growth in
recent years, with an increasing proactive approach) on historic buildings.
Throughout this work a maintenance methodology has been developed for application in historic
buildings, taking in account the various factors that distinguish this type of constructions, namely the
criteria of authenticity and cultural value of the different elements. The application of this methodology
aims to create provisional maintenance plans of historic buildings.
The proposed methodology was applied to the National Pantheon, a building located in the historic
district of Santa Clara in Lisbon, and classified as a National Monument. To prepare the maintenance
plan a preliminary study was carried out in order to understand the current situation of the building,
followed by an inspection phase where the main anomalies were identified and the several key criteria
of this type of buildings were classified.
After applying the developed criteria of hierarchy it was possible to prioritize maintenance actions.
Finally, a provisional plan of maintenance and associated costs for a timeline of 10 years was
proposed.
Key-words:
Maintenance; Historic buildings; Heritage; Activities planning; Maintenance costs; Provisonal plans
iii
iv
AGRADECIMENTOS
Esta dissertação resulta de largos meses de trabalho, ao longo deste tempo recebi a colaboração de
várias pessoas que foram fundamentais para a realização do mesmo. Gostaria assim de expressar o
meu sincero agradecimento:
À Professora Inês Flores-Colen, pelo conhecimento e rigor científico transmitido, por sempre acreditar
em mim e no meu trabalho, e, sobretudo, pela atenção e disponibilidade demonstrada para a revisão
de texto e análise de resultados, sem os quais não teria sido possível finalizar correctamente este
trabalho.
Ao Professor José Maria Lobo de Carvalho, por me ter introduzido o tema de forma atractiva, e por
todo o conhecimento transmitido nas várias reuniões que tivemos em Sintra.
À directora do Panteão Nacional Drª.Isabel Melo, e à investigadora Drª. Graça Araújo, pela simpatia
que demonstraram, e pela disponibilização de informação relevante para o conteúdo deste trabalho.
A todos os meus amigos e amigas que me apoiaram nos melhores e nos piores momentos, e a todos
os meus colegas que trabalharam comigo durante longos dias na Alameda e longas noites no Tagus
Park.
A toda a minha família mais próxima, que de algum modo ajudou na realização deste trabalho. À
minha tia Isabel pela correcção de texto, e em especial aos meus pais, por todo o apoio que me
deram ao longo do curso, e pelo amor e compreensão que sempre me souberam dar.
v
vi
Índice geral
Resumo .....................................................................................................................................................i
Abstract.................................................................................................................................................... iii
Agradecimentos ........................................................................................................................................v
1.
2.
Introdução ........................................................................................................................................ 1
1.1.
Motivação e enquadramento ................................................................................................... 1
1.2.
Âmbito e objectivos da investigação ....................................................................................... 2
1.3.
Estrutura da dissertação .......................................................................................................... 3
A manutenção em edifícios históricos ............................................................................................. 5
2.1.
Considerações gerais .............................................................................................................. 5
2.2.
Conceito de edifício histórico................................................................................................... 5
2.3.
Enquadramento da manutenção ............................................................................................. 7
2.4.
Teoria da manutenção em edifícios históricos ...................................................................... 10
2.4.1.
A nível nacional ............................................................................................................. 10
2.4.2.
A nível internacional ...................................................................................................... 14
2.5.
Estratégias de manutenção ................................................................................................... 17
2.6.
Vida útil .................................................................................................................................. 20
2.7.
Preservação da autenticidade ............................................................................................... 23
2.8.
Características de intervenções em edifícios históricos ....................................................... 24
2.8.1.
Decisão de intervenção ................................................................................................. 24
2.8.2.
Prioridade de intervenção .............................................................................................. 25
2.8.3.
Periodicidade de intervenção ........................................................................................ 26
2.9.
3.
Intervenções e tecnologias disponíveis ................................................................................. 27
2.10.
Planos de manutenção em edifícios históricos ................................................................. 29
2.11.
Considerações finais do capítulo....................................................................................... 30
Metodologia de manutenção em edifícios históricos..................................................................... 31
3.1.
Considerações gerais ............................................................................................................ 31
3.2.
Proposta de metodologia de manutenção em edifícios históricos ........................................ 31
3.3.
Descrição das várias fases que constituem o plano previsional de manutenção ................. 35
3.3.1.
Fase preliminar à elaboração do plano ......................................................................... 35
vii
3.3.2.
Fase de inspecções e programa de manutenção ......................................................... 36
3.3.3.
Plano previsional de manutenção ................................................................................. 52
3.3.4.
Decisão – análise económica (3) .................................................................................. 54
3.4.
4.
Considerações finais do capítulo .......................................................................................... 54
Caso de estudo ............................................................................................................................. 57
4.1.
Considerações gerais ............................................................................................................ 57
4.2.
Fase preliminar à elaboração do plano ................................................................................. 57
4.3.
Levantamento de dados e intervenções anteriores (etapa 2.A da metodologia) .................. 60
4.4.
Divisão do edifício em EFM (etapa 2.B da metodologia) ...................................................... 62
4.5.
Avaliação do estado dos EFM existentes (etapa 2.C da metodologia) ................................ 63
4.6.
Elaboração da hierarquia dos EFM (etapa 2.D da metodologia) .......................................... 68
4.7.
Previsão de custos de manutenção (etapa 2.E da metodologia) .......................................... 68
4.8.
Plano previsional de manutenção (etapa 3 da metodologia) ................................................ 69
4.9.
Decisão – análise económica (etapa 4 da metodologia) ...................................................... 74
4.10.
Comparação do caso de estudo com a Igreja dos Olivais ................................................ 75
4.11.
Considerações finais do capítulo....................................................................................... 77
5.
Conclusões e desenvolvimentos futuros ....................................................................................... 79
5.1.
Conclusões finais .................................................................................................................. 79
5.2.
Desenvolvimentos futuros ..................................................................................................... 79
Bibliografia ............................................................................................................................................. 83
Anexo I - Carta de Veneza ..................................................................................................................... III
Anexo II - Fichas de levantamento arquitectónico e funcional, Panteão Nacional ............................... VII
Anexo III - Custos de intervenção de manutenção, Panteão Nacional ...............................................XVII
viii
Índice de figuras
Figura 2.1 – Ciclo de vida das construções (ISO 15686, 2011).................................................................... 8
Figura 2.2 – Esferas representantes das actividades do sector da construção (adaptado de Cóias,
2009)............................................................................................................................................................ 10
Figura 2.3 – O estado de conservação de edifícios em Portugal por idade do edificado - Censos 2001
(adaptado de Ferreira, 2009)....................................................................................................................... 11
Figura 2.4 – Exemplo de ficha-diagnóstico da Carta de Risco [W4] ........................................................... 13
Figura 2.5 – Idade dos edifícios históricos listados no Reino Unido pela BAR (adaptado de [W6]) .......... 15
Figura 2.6 – Inspecção de um edifício histórico realizada pela Monumentenwacth [W7] .......................... 17
Figura 2.7 – Principais fases de um modelo de gestão de manutenção (adaptado de Vilhena, 2006)...... 18
Figura 2.8 - Descasque de revestimento devido à incompatibilidade dos materiais de reparação,
Fachada Norte da Igreja de Santa Maria dos Olivais (fotografia de autor) ................................................. 28
Figura 3.1 – Metodologia proposta para manutenção em edifícios históricos ............................................ 34
Figura 3.2 - Exemplo de ficha de levantamento e identificação da planta de um edifício .......................... 37
Figura 3.3 – Exemplo da codificação de elementos fonte de manutenção ................................................ 38
Figura 3.4 – Exemplo de codificação de EFM na fachada de um edifício histórico.................................... 40
Figura 4.1 – Panteão Nacional, vista do rio Tejo [W1] ................................................................................ 58
Figura 4.2 – Panteão Nacional, vista aérea [W1]........................................................................................ 58
Figura 4.3 e 4.4 – Construção do zimbório e cúpula pela DGEMN, 1964 [W4].......................................... 59
Figura 4.5 - Preparação de concerto pelo Igespar no interior do edifício (fotografia do autor) .................. 60
Figura 4.6 – Ficha de levantamento arquitectónico e funcional do edifício ................................................ 61
Figura 4.7 - Ficha de levantamento de intervenções anteriores ................................................................. 62
Figura 4.8 – Degradação de cantaria da fachada principal ........................................................................ 64
Figura 4.9 – Aglomeração de pombos no estatuário da fachada principal ................................................. 64
ix
Figura 4.10 – Zona de graffiti na fachada Sul ............................................................................................. 65
Figura 4.11 – Acumulação de urina na fachada Norte ................................................................................ 65
Figura 4.12 – Caleira única que contorna toda a cobertura em terraço ..................................................... 65
Figura 4.13 – Caleira cheia de água sendo já visível vegetação parasitária .............................................. 66
Figura 4.14 – Adição da platibanda às fachadas e construção da cúpula, 1964 [W4] ............................... 67
Figura 4.15 – Divisão do edifício em partes distintas .................................................................................. 67
Figura 4.16 – Igreja de Santa Maria dos Olivais (fotografia do autor) ........................................................ 75
Figura 4.17 – Fachada Este da Igreja de Santa Maria dos Olivais (fotografia de autor) ............................ 76
x
Índice de quadros
Quadro 2.1 - Exemplo de listagem de EFM de uma cobertura (adaptado de Rodrigues, 2002 e Lobo
de Carvalho, 2007) ...................................................................................................................................... 18
Quadro 2.2 - - Exemplo de listagem de EFM de uma fachada (adaptado de Rodrigues, 2002 e Lobo
de Carvalho, 2007) ...................................................................................................................................... 19
Quadro 2.3 – Classificação de prioridades para acções de manutenção [ (Johnson, 1999) citado por
Flores-Colen, 2003)] .................................................................................................................................... 26
Quadro 3.1 – Aspectos condicionantes em edifícios históricos e correntes (adaptado de Lobo de
Carvalho, 2007) ........................................................................................................................................... 33
Quadro 3.2 - Ficha de inspecção nº1: levantamento dos EFM em edifícios históricos .............................. 39
Quadro 3.3 – Classificação de anomalias para avaliação do estado de degradação dos elementos
fonte em edifícios históricos ........................................................................................................................ 42
Quadro 3.4 – Ficha de inspecção nº2, avaliação do estado de degradação dos elementos em edifícios
históricos...................................................................................................................................................... 42
Quadro 3.5 – Vantagens e desvantagens da fórmula de Roue´s (adaptado de Cavaco, 2012) ................ 44
Quadro 3.6 – Vantagens e desvantagens do método multi-atributos (adaptado de Cavaco, 2012) .......... 46
Quadro 3.7 – Critérios usados no método PIM-CC (Flores-Colen, 2006) .................................................. 46
Quadro 3.8 – Escalonamento de acções no método PIM-CC (Flores-Colen, 2006) .................................. 47
Quadro 3.9 – Vantagens e desvantagens do método PIM-CC ................................................................... 47
Quadro 3.10 – Critérios a utilizar na equação de priorização de acções desenvolvida ............................. 48
Quadro 3.11 – Explicação dos critérios escolhidos .................................................................................... 49
Quadro 3.12 – Ficha de inspecção nº3: avaliação dos restantes critérios ................................................. 49
Quadro 3.13 – Escalonamento de acções no método utilizado para edifícios históricos ........................... 50
Quadro 3.14 – Ficha de especificação de acções no plano previsional de manutenção para edifícios
históricos...................................................................................................................................................... 53
Quadro 4.1 – Número anual de visitantes no Panteão Nacional (fonte IGESPAR) ................................... 60
xi
Quadro 4.2 – Extracto da ficha de inspecção nº1 ....................................................................................... 63
Quadro 4.3 - Extracto da ficha de inspecção nº2 ........................................................................................ 63
Quadro 4.4 - Extracto da ficha de inspecção nº3 ........................................................................................ 66
Quadro 4.5 – Exemplo de índices de escalonamento da fachada principal ............................................... 68
Quadro 4.6 – Plano previsional de manutenção para fachada principal .................................................... 70
Quadro 4.7 – Plano previsional de manutenção para 10 anos com custos associados, fachada
principal ....................................................................................................................................................... 71
Quadro 4.8 - Plano previsional de manutenção para 10 anos com custos associados, fachada lateral
Sul................................................................................................................................................................ 72
Quadro 4.9 - Plano previsional de manutenção para 10 anos com custos associados, cobertura ............ 73
Quadro 4.10 – Exemplo de índices de escalonamento, Igreja Santa Maria dos Olivais ............................ 76
xii
1. INTRODUÇÃO
1. INTRODUÇÃO
1.1.
Motivação e enquadramento
A manutenção de edifícios históricos constitui um tema ainda pouco divulgado e desenvolvido em
Portugal, carecendo de um trabalho de investigação contínuo, comparativamente a outros países
europeus.
Por sua vez, a manutenção em edifícios correntes tem vindo a ser desenvolvida nos últimos anos,
adoptando-se cada vez mais uma postura pró-activa em relação a problemas existentes, permitindo a
sua detecção e correcção antes que estes afectem de forma gravosa o edifício.
No caso de edifícios históricos, existem preocupações diferentes, relacionadas muitas vezes com a
capacidade do edifício gerar receitas referentes ao turismo, existindo nos últimos anos uma maior
consciência da importância do património histórico e do seu papel na sociedade de consumo.
Uma vez que, não existem muitas vezes utentes moradores permanentes que suscitem reclamações,
são frequentemente ignorados os princípios preventivos da manutenção, conduzindo a resultados
visíveis de degradação, onde se opta recorrentemente por acções de correcção quando o problema
já se encontra instalado (muitas vezes também para demonstrar “obra feita” através de grandes
intervenções), designando-se estas acções por manutenção correctiva.
A manutenção correctiva caracteriza-se por gastos elevados, afectando o funcionamento normal dos
edifícios, uma vez que as intervenções possuem sempre carácter urgente, já que não podem ser
planeadas. O uso recorrente deste tipo de acções não conduz geralmente à resolução total dos
problemas, muitas vezes por não se analisarem as causas prováveis das anomalias observadas.
Nas situações em que não existe qualquer tipo de intervenção em edifícios, após se atingir um
determinado patamar de degradação torna-se inviável a utilização de acções de manutenção para
inverter o processo de degradação, recorrendo-se então a processos de reabilitação. Esta fase
deverá ser evitada ao máximo no caso dos edifícios históricos, onde o objectivo não passa por
substituir os elementos, mas sim preservá-los.
A adopção de acções de manutenção pró-activas permite reduzir as despesas em acções de
manutenção em edifícios, possibilitando a detecção de problemas de forma mais rápida. Devido aos
constrangimentos económicos que o país atravessa, esta será mais uma razão para a implementação
de uma política pró-activa associada à manutenção de edifícios.
É hoje consensual, nos meios culturais e científicos, a opção pela salvaguarda, sempre que possível,
de edifícios históricos existentes, recorrendo à sua conservação, em detrimento da sua renovação,
prática antigamente privilegiada. O avanço da ciência e da técnica, associado à crescente
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
1
1. INTRODUÇÃO
preocupação de salvaguarda de património histórico (devido à sua autenticidade), permite assim
considerar novas metodologias de intervenção em edifícios históricos.
A criação e implementação de planos previsionais de manutenção em edifícios históricos permite a
análise de estados de degradação de elementos (ainda que estes já tenham ultrapassado a sua vida
útil física) através de inspecções programadas, onde é possível analisar as anomalias existentes e as
possíveis causas associadas. Esta análise associada à avaliação de outros critérios permite a
estruturação e planeamento das intervenções, possibilitando a optimização de custos financeiros
associados à manutenção.
Estes planos permitem um acompanhamento contínuo, estruturando, de acordo com intervalos
distintos, todas as acções necessárias à manutenção pró-activa, tais como a inspecção, limpeza,
intervenções preventivas e estruturais, devendo ser revistos e actualizados periodicamente.
É neste contexto que se insere esta dissertação de mestrado e, perante esta problemática, considerase assim importante abordar a temática da manutenção de edifícios históricos, de modo a contribuir
para a implementação de uma correcta política de manutenção pró-activa neste tipo específico de
edifícios.
1.2.
Âmbito e objectivos da investigação
A dissertação apresentada tem como objectivo desenvolver uma metodologia para implementação de
planos previsionais de manutenção associados a edifícios históricos. Pretende-se ao mesmo tempo
sensibilizar os agentes envolvidos para as características singulares que diferenciam este tipo de
construções dos edifícios correntes.
Pretende-se assim privilegiar as acções de manutenção pró-activa em detrimento das acções
correctivas, construindo-se uma proposta para um plano previsional de manutenção ajustado às
características intrínsecas deste tipo de edifícios, e que possa ser aplicado ao património histórico em
geral.
Os objectivos gerais da dissertação são os seguintes:

recolha e organização de informação referente a manutenção aplicada em edifícios históricos,
tanto a nível nacional como internacional;

análise de modelos de manutenção utilizados em edifícios correntes que possam ser
adaptados para edifícios históricos;

proposta de metodologia de manutenção para a criação de planos previsionais de
manutenção aplicados a edifícios históricos seguindo as diferentes fases:
- descrição das várias etapas da metodologia e elaboração de fichas de inspecção;
2
1. INTRODUÇÃO
- desenvolvimento de uma equação para a hierarquização e escalonamento das acções de
manutenção;
- procedimentos para previsão de custos de manutenção/intervenção.

calibração da metodologia criada, através da aplicação da mesma num caso de estudo, com
previsão de custos de manutenção para um horizonte de 10 anos.
Pretende-se assim com este trabalho criar uma metodologia de manutenção adequada para edifícios
históricos, que tenha em conta as suas características singulares, e que respeite as questões
associadas à autenticidade presentes neste tipo de edifícios. As acções de manutenção serão
descritas através de um plano previsional, que se espera que possa vir a ser aplicado no futuro em
vários edifícios.
1.3.
Estrutura da dissertação
A presente dissertação encontra-se dividida em 5 capítulos, bibliografia e anexos, conforme se
descreve seguidamente:
O capítulo 1 introduz o tema, fazendo o enquadramento da manutenção aplicada a edifícios
históricos, e abordando a necessidade actual de elaborar estudos nesta área de conhecimento.
Descrevem-se os objectivos e apresenta-se o resumo de cada um dos capítulos da dissertação.
O capítulo 2 aborda o estado de conhecimento relativo à manutenção, diferenciando este termo de
outros utilizados nesta área tais como conservação e restauro. É definido o conceito de edifício
histórico, onde são apresentadas as características que diferenciam este tipo de edificações, e
realiza-se o levantamento do estado da arte relativamente à temática de manutenção tanto a nível
nacional como internacional. São ainda referidas diferentes estratégias e características de
manutenção, usualmente usadas em edifícios correntes, que poderão ser adaptadas a edifícios
históricos.
No capítulo 3 é apresentada a metodologia de manutenção proposta para edifícios históricos, bem
como a explicação detalhada de todas as fases constituintes que deverão ser aplicadas aquando a
aplicação deste modelo nos edifícios em estudo. São ainda referenciados e comentados os modelos
analisados para a execução da metodologia apresentada. Neste capítulo são ainda desenvolvidos os
procedimentos que permitem a construção de planos previsionais de manutenção, bem como
realização de previsões de custos e fases de decisão associadas à gestão da manutenção.
No capítulo 4 é realizada a implementação prática da metodologia proposta no capítulo anterior, de
modo a avaliar o sistema classificativo de anomalias, de prioridades de intervenção e de
procedimentos propostos. Este capítulo tem ainda como objectivo a criação do plano previsional e
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
3
1. INTRODUÇÃO
previsão de custos associado ao caso de estudo escolhido.
No capítulo 5 são apresentadas as conclusões finais do estudo elaborado, sugerindo-se eventuais
desenvolvimentos futuros nesta área.
Na bibliografia, são apresentadas as referências bibliográficas consultadas durante a realização da
presente dissertação.
Em anexo encontra-se a Carta de Veneza, as fichas de inspecção com a recolha de elementos fonte
de manutenção e avaliação de critérios referentes a edifícios históricos, bem como informação
relativa a custos de acções de intervenção para aplicação no Panteão Nacional.
4
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
2.1.
Considerações gerais
Com este primeiro capítulo pretende-se introduzir o conceito de edifício histórico e manutenção,
efectuando-se simultaneamente o paralelismo entre a manutenção em edifícios correntes e a
manutenção em edifícios históricos. Uma vez que o assunto abordado se encontra pouco enraizado a
nível nacional, será também importante caracterizar o estado da manutenção em edifícios históricos
realizada internacionalmente.
Será feita uma abordagem relativamente à preservação da autenticidade em situações de reparação
e reabilitação, bem como características de intervenções em edifícios históricos e operações e
tecnologias disponíveis para cada situação.
Nos últimos anos tem vindo a ser desenvolvida uma filosofia de manutenção pró-activa aplicada
sobretudo a edifícios correntes, permitindo a detecção de problemas antes de estes afectarem os
utentes do edifício, bem como a redução de despesas em acções de manutenção correctiva ao longo
do tempo de serviço das edificações.
Esta realidade não poderá ser integralmente transposta para o caso de edifícios históricos, mas ajuda
a motivar e desenvolver o processo científico de metodologias de manutenção, a alteração do seu
enquadramento legal e o desenvolvimento de acções de sensibilização e promoção a nível europeu,
por parte de organismos públicos, universidades e associações de património.
Apesar deste interesse recente, a origem da manutenção (no contexto de edifícios históricos)
encontra-se intimamente ligada ao processo de industrialização e, em particular, ao movimento
patrimonialista da segunda metade do século XIX. A ruptura de processos construtivos tradicionais, o
aparecimento de novos materiais e o desenvolvimento de práticas preventivas no contexto da
indústria e da construção, bem como a evolução filosófica em torno da conservação patrimonial, são
antecedentes históricos que ajudam a contextualizar a manutenção contemporânea de edifícios
históricos (Lobo de Carvalho, 2007).
2.2.
Conceito de edifício histórico
Com o início deste trabalho deve ser estabelecido, antes de mais, o que se entende por edifício
histórico e qual a actual integração destes edifícios no parque edificado português. Um edifício
histórico define-se não só pela sua natureza arquitectónica, mas também pelo testemunho histórico
que guarda em si.
No contexto do tema que se desenvolve “histórico” significa: “relativo à História, mencionado pela
História, que recorda acontecimento notável, digno de figurar na História. Por sua vez, a História,
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
5
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
caracteriza-se como a sucessão natural de acontecimentos sociais, culturais, políticos, económicos,
militares, relativos ao Homem” (Moreira Rato, 2002). Estes edifícios constituem, assim, uma herança
comum, sendo cada um deles um objecto único e insubstituível, perpetuador de uma memória, ou,
mais
correctamente,
de
diversas
memórias.
São
mensagens
de
passados
distintos,
consubstanciadas nos elementos arquitectónicos do edifício, que formam o testemunho que nos é
oferecido (Sousa, 2003).
Em Portugal compete por lei ao IGESPAR, através do Decreto-Lei n.º 309/2009, de 23 de Outubro,
em vigor desde Janeiro de 2010, propor a classificação dos bens culturais imóveis, bem como a
definição dos critérios que deverão ser usados neste processo: critérios de carácter geral – históricocultural, estético-social e técnico-científico; e de carácter complementar – integridade, autenticidade e
exemplaridade do bem. Este trabalho é executado fundamentalmente para fixar critérios de
valorização do património imóvel, uma vez que este universo se encontra em permanente
alargamento. Actualmente é assim possível encontrar uma maior incidência de classificação de
objectos e conjuntos arquitectónicos das tipologias mais variadas [W1].
Consoante o seu valor relativo, os bens imóveis de interesse cultural podem ser classificados como
de ''Interesse Nacional'' (com a designação de "Monumento Nacional"), "Interesse Público" ou
"Interesse Municipal" (classificação camarária). A lei procedeu ainda a uma outra diferenciação,
definindo as categorias de "Monumento", "Conjunto" e "Sítio" (segundo as convenções internacionais)
[W1]:

Monumento: obras de arquitectura, composições importantes ou criações mais modestas,
notáveis pelo seu interesse histórico, arqueológico, artístico, científico, técnico ou social,
incluindo as instalações ou elementos decorativos que fazem parte integrante destas obras,
bem como as obras de escultura ou de pintura monumental;

Conjunto: agrupamentos arquitectónicos urbanos ou rurais de suficiente coesão, de modo a
poderem ser delimitados geograficamente;

Sítio: obras do homem ou obras conjuntas do homem e da natureza, espaços suficientemente
característicos e homogéneos, de maneira a poderem ser delimitados geograficamente.
Aos edifícios cujo valor patrimonial possa ser considerado relevante para toda a humanidade, poderá
ser atribuída a classificação de “Património Cultural da Humanidade”, da responsabilidade da
UNESCO. Este “grau último” de reconhecimento exige que o valor patrimonial seja não apenas muito
relevante, mas ainda universal, isto é, que se constitua, dentro do seu tipo cultural, como o melhor
exemplo disponível [W2].
Um edifício histórico será assim um bem cultural imóvel (classificado ou em vias de classificação),
que através da sua tipologia construtiva e arquitectónica conserve em si o testemunho histórico de
6
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
uma região ou local onde está inserido.
2.3.
Enquadramento da manutenção
A manutenção tem-se tornado cada vez mais um elemento decisivo na gestão de edifícios, permitindo
através da programação de intervenções a diminuição de despesas globais. Para uma correcta
aplicação de planos de manutenção em edifícios, que garanta a fiabilidade das estratégias aplicadas,
é necessário efectuar uma análise de parâmetros técnicos. Segundo Flores-Colen e Brito (2003) a
implementação de verdadeiras políticas de manutenção só é possível quando existem metodologias
próprias que identifiquem os principais parâmetros relativos a estratégias de manutenção pró-activa,
uniformizando, deste modo, conceitos e procedimentos. A sistematização destas estratégias
possibilita a gestão racional das intervenções, agindo, atempadamente, no sentido de evitar a
propagação das anomalias existentes, optimizando os recursos e minimizando os custos envolvidos.
A origem da manutenção encontra-se sobretudo ligada ao campo industrial, sendo deste ponto de
vista consideradas um meio para o desenvolvimento técnico, quer de um ponto de vista conceptual,
quer do ponto de vista estratégico ou de gestão, o que virá mais tarde a influenciar a adopção de
metodologias preventivas aplicadas a edifícios. As metodologias de manutenção, embora com um
nascimento comum com as da conservação, só adquirem sistematização através do campo industrial,
após as consequências duma fase inicial de indústria sem manutenção. São as instalações militares
do período pós 2.ª Guerra Mundial que nos Estados Unidos começam a implementar rotinas de
manutenção industrial, em particular nas fábricas de armamento. Por consequência, os edifícios
militares vêem-se também sujeitos a semelhante metodologia que se revelou útil e eficaz conferindo
às instalações um melhor desempenho (Rodrigues, 2002).
No âmbito deste trabalho, será importante distinguir em primeiro lugar as várias intervenções
possíveis em edifícios de modo a melhorar os níveis de desempenho consoante o tipo de trabalhos
envolvidos. Existem assim vários termos (reabilitação, manutenção, reparação, restauro, renovação,
entre outros) que interessa diferenciar em cada análise a efectuar.
Pequenas intervenções e reparações ocasionais com o objectivo de trazer o edifício para níveis de
desempenho adequados incluem-se na manutenção. Focalizando o tema na óptica da engenharia
civil, a definição de manutenção de edifícios associa-se à combinação de todas as acções técnicas e
administrativas de modo a que o edifício e seus elementos desempenhem, durante a sua vida útil, as
funções para os quais foram concebidos (ISO 15686-1, 2000).
Se o estado de degradação aumentar significativamente serão necessárias intervenções mais
profundas, que prolongam o ciclo de vida do edifício/elemento. Neste caso, é mais apropriado a
utilização dos seguintes termos, por ordem crescente do grau de intervenção: reabilitação,
renovação, reconstrução (Manso, 2003).
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
7
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Considerando-se na Figura 2.1 o eixo das ordenadas como o nível de desempenho associado à
construção, o eixo das abcissas como a operacionalidade do edifício ao longo do tempo, e a curva 10
como a degradação do edifício sem que sejam executadas acções preventivas, é possível distinguir
os vários termos associados ao ciclo de vida.
Figura 2.1 – Ciclo de vida das construções (ISO 15686-7, 2006)
A manutenção (5) irá caracterizar-se por pequenas intervenções periódicas com o objectivo de trazer
o edifício para os níveis de desempenho adequados sem que seja afectada a sua funcionalidade; a
reabilitação (7) será a actividade efectuada para repor o desempenho do edifício quando já se
encontra em níveis mais baixos. A renovação (11) permite a melhoria do edifício relativamente à
situação em que este se encontrava aquando a sua construção.
No âmbito dos edifícios históricos são ainda referidos os termos conservação e restauro (Tavares et
al., 2011):
- Conservação poderá definir-se como o primeiro grau de intervenção a ser aplicado ao património
histórico, de forma a que este se mantenha num estado de preservação adequado, e sem que exista
uma degradação profunda nos seus elementos. Tal como referido na Carta de Veneza [anexo I]
(Appleton, 2003), a conservação de um monumento implica a preservação de um enquadramento
8
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
histórico. Sempre que o enquadramento tradicional exista, ele deve ser conservado, não devendo ser
aprovada nenhuma construção nova, demolição ou modificação que vá alterar a relação original do
monumento;
- Restauro refere-se à acção num edifício, ou parte deste, que está degradado, em ruína ou que se
considera que foi inapropriadamente reparado no passado, sendo a sua alteração/acção executada
com o objectivo de colocá-lo de acordo com o desenho ou aparência de uma prévia data específica
reconhecida como tendo o maior valor de autenticidade. Pretende-se recompor o seu ambiente e
lógica arquitectónica, devendo existir um profundo conhecimento da sua técnica construtiva, mas
também da sua inserção nas correntes arquitectónicas ou estéticas da época. Este respeito pelo
passado e as técnicas que exige pressupõe que antes da realização do projecto e escolha de
soluções de intervenção se proceda a um amplo estudo documentando-o, uma investigação e
selecção das soluções mais adequadas para cada caso.
As definições existentes na ISO 15686-1 (2000) encontram-se habitualmente ligadas ao conceito de
ciclo de vida útil do edifício, razão pela qual a sua filosofia e métodos de análise existentes não
poderão ser transportados integralmente para o âmbito dos edifícios históricos, área em que tempo
de vida útil de alguns materiais e elementos será de estudo difícil.
Na tese de doutoramento de Lobo de Carvalho (2007) é introduzido o termo conservação
programada, derivado do termo italiano “conservazione programmata”, desenvolvido em Itália em
1976 (Urbani & Zanardi, 2000), partindo do conceito de restauro preventivo, argumentando que a
conservação se encontrava limitada a reparar danos, não se focando na prevenção dos mesmos, daí
a importância de intervenções regulares destinadas a reduzir o efeito nocivo dos mecanismos de
degradação (Brandi, 2006): “Uma tal técnica, à qual aqui damos o nome de conservação programada,
é de uma necessidade orientada sobretudo, antes de aos bens singulares, ao ambiente que os
contém e do qual provêem todas as possíveis causas da sua deterioração. O seu objectivo é,
portanto, o controle de tais causas, a fim de retardar o quanto possível o ritmo dos processo de
deterioração, intervindo, ao mesmo tempo se necessário, com tratamentos de manutenção
apropriados aos vários tipos de materiais.”
A manutenção de edifícios – quer de edifícios históricos, quer de edifícios correntes – é uma
actividade que em Portugal ainda não se encontra tão desenvolvida como a nível europeu, sendo que
as acções de manutenção e reabilitação de edifícios correspondem ainda a uma pequena fatia (cerca
de 10%) do mercado português (Cóias, 2009).
A construção tem vindo ao longo dos anos a privilegiar a construção nova, dentro desta esfera
(Figura 2.2) existe uma segunda, de importância pequena mas crescente, que corresponde aos
trabalhos de reabilitação das construções existentes. Em Portugal esta esfera tem uma importância
inferior a 10% do total da construção existente, enquanto noutros países europeus ela representa 40
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
9
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
a 50%. Finalmente, a terceira esfera, ocupa-se da conservação e restauro dos monumentos e
edifícios históricos, a parte mais nobre do património construído: imóveis que, além de serem
construções, são, simultaneamente, bens culturais. Esta última esfera abrange menos de 1% da
produção total do sector da construção (Cóias, 2009).
Construção em geral
Reabilitação de edificado
Conservação do património
Figura 2.2 – Esferas representantes das actividades do sector da construção (adaptado de Cóias,
2009)
2.4.
Teoria da manutenção em edifícios históricos
2.4.1.
A nível nacional
O parque edificado português caracteriza-se sobretudo pela sua extensão, envelhecimento e
degradação. A situação portuguesa nesta área difere do panorama europeu fundamentalmente por
duas razões (Lobo de Carvalho, 2007): em primeiro lugar, pelo facto de Portugal não ter participado
na 2ª Guerra Mundial, escapando assim à destruição ocorrida em inúmeros centros históricos
europeus e, em segundo lugar, devido ao congelamento das rendas de prédios urbano (1940) que se
manteve por várias décadas. Com a entrada em vigor da nova lei das rendas é expectável que alguns
casos de degradação extrema, bem como edifícios em deficiente estado de conservação, sejam
modificados.
A degradação de edifícios, com particular incidência nos edifícios arrendados, é uma realidade em
Portugal a necessitar de solução urgente. Conforme consta nos dados do Censos de 2001 [W3] e
como se mostra na Figura 2.3 observa-se um envelhecimento prematuro das edificações em Portugal
ao longo do tempo. Apesar de não existir informação estatística de construções mais antigas verificase uma clara necessidade de intervenção em edifícios anteriores a 1919.
10
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Figura 2.3 – O estado de conservação de edifícios em Portugal por idade do edificado - Censos 2001
(adaptado de Ferreira, 2009)
A legislação existente em Portugal acerca da manutenção encontra-se desactualizada, sendo que o
único regulamento existente é o RGEU (Regulamento Geral de Edificações Urbanas), que foi revisto
e se encontra à espera de aprovação, passando a denominar-se por RGE (Regulamento Geral de
Edificações) (CSOPT, 2004).
A revisão do RGEU mostra-se fundamental uma vez que, este regulamento publicado em 1951, não
cobre matérias como durabilidade e manutenção, qualidade da edificação, segurança da intrusão,
pelo que já não está em conformidade com as normas regulamentares específicas que existem para
as edificações, estando desactualizado nas questões tecnológicas [(Santos, 2006) citado por
(Madureira, 2011)].
Importa referir que a actualização do RGEU não inclui nenhum artigo ou especificidade referente à
manutenção em edifícios históricos. Embora existam várias alterações previstas importantes no
capítulo da Durabilidade e Manutenção (Branco, 2010):
- elaboração do Manual de Inspecção e Manutenção da Edificação (MIME) compreendendo
inspecções correntes e especiais, bem como eventuais trabalhos de manutenção;
- as edificações sem MIME devem ser objecto de inspecções periciais pelo menos uma vez em cada
oito anos;
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
11
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
- os resultados das inspecções devem ser arquivados pelo proprietário das edificações.
As alterações anteriormente descritas revelam-se importantes para garantir uma manutenção mais
correcta e regular do que a habitualmente existente em edifícios correntes, mas será importante
referir que deveria existir uma secção específica onde fosse abordada a manutenção obrigatória para
património histórico.
No final do século XX verificam-se várias alterações governamentais nas organizações responsáveis
pelo património cultural. É criado um novo organismo designado por Instituto Português do Património
Cultural (IPPC, inserido na altura na Secretaria de Estado e Cultura 1980) responsável pela tutela dos
bens culturais. A reorganização do sector em 1992 dá origem à extinção do IPPC e o seu
desmembramento em vários organismos sectoriais na área da cultura entre os quais museus (IPM),
arqueologia (IPA) e património arquitectónico (IPPAR) [W1].
Actualmente existe uma redefinição das competências do IPPAR (agora denominado IGESPAR e de
novo com a tutela da arqueologia). O Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico
é um instituto público integrado na administração indirecta do estado. Este organismo tem por missão
a gestão, a salvaguarda, a conservação e a valorização dos bens que, pelo seu interesse histórico,
artístico, paisagístico, científico, social e técnico, integrem o património cultural arquitectónico e
arqueológico classificado do país [W1]. O IGESPAR enquadra-se assim actualmente como a entidade
responsável pela classificação e conservação de edifícios históricos em Portugal, reservando para si
a responsabilidade de assegurar as intervenções necessárias que assegurem a preservação do
património histórico existente, sob a sua alçada.
Em 1997 surge o modelo português da Carta de Risco do Património Arquitectónico, no âmbito do
Inventário Arquitectónico da DGEMN - Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
actualmente integrada no IRHU - Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana. Este projecto surge
como um módulo de carácter técnico, complementar às fichas de inventário existentes. Foi objectivo
da Carta de Risco constituir-se como uma ferramenta central de planeamento das intervenções,
através da hierarquização dos imóveis considerados prioritários, encaminhando informação técnica
(levantamentos gráficos e fotográficos, descrição dos materiais, tipo de estrutura, anomalias, entre
outras), classificada segundo o grau de degradação e respectiva prioridade de intervenção (Lobo de
Carvalho, 2007). Um exemplo de uma ficha-diagnóstico utilizada na Carta de Risco pode ser
consultado na Figura 2.4, o objectivo principal da recolha de dados seria a avaliação do estado de
conservação de vários edifícios históricos, recorrendo-se a uma lista de anomalias tipo para auxílio do
preenchimento das fichas.
12
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Figura 2.4 – Exemplo de ficha-diagnóstico da Carta de Risco [W4]
Apesar do esforço efectuado para a elaboração de uma ficha-diagnóstico que pudesse ser utilizada
em todos os edifícios históricos, a Carta de Risco do Património Arquitectónico acabou por tomar, a
partir de 2000, uma orientação distinta, servindo essencialmente como resposta aos pedidos externos
de colaboração técnica da antiga DGEMN, quer a nível nacional, quer a nível internacional (Cabo
Verde e Brasil). Ainda assim, revelou-se como uma importante ferramenta na tentativa de criar um
sistema facilmente informatizável, com utilização de fichas de diagnóstico universais, e que permitisse
o levantamento de edifícios mais expedito (através da fotografia métrica rectificada).
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
13
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
2.4.2.
A nível internacional
As mudanças socioeconómicas a nível mundial bem como os efeitos da globalização (aumento do
turismo) e da migração (diminuição de zonas agrícolas com abandono de edifícios históricos nessas
regiões) estão actualmente a ser alvo de atenção, pela influência directa que protagonizam nos
espaços edificados a preservar. Assim, internacionalmente estão em curso trabalhos de avaliação
dos efeitos e resultados atingidos, com os princípios até agora definidos e propostos como
orientações pelo ICOMOS – International Council on Monuments and Sites - para a reabilitação e
manutenção direccionadas para o património edificado mundial [W5].
No início da década de 1970, a recomendação da UNESCO sobre a Protecção do Património Natural
e Cultural (UNESCO, 1972), alertava para as medidas técnicas e científicas a adoptar, na perspectiva
de uma abordagem preventiva às políticas patrimoniais nacionais: “Os Estados membros deverão
efectuar a manutenção cuidadosa e constante do seu património cultural e natural a fim de evitar o
recurso a trabalhos onerosos para fazer face à sua degradação. Para esse efeito, deverão programar
uma fiscalização regular dos bens do património, efectuada através de inspecções periódicas”. A uma
política reactiva face às condições de degradação dos bens culturais, contrapõe-se agora a
necessidade de uma estratégia assente na previsão e preparação antecipada, segundo um novo
modelo conceptual, de carácter preventivo.
i)
Experiência italiana
A experiência italiana conheceu um significativo desenvolvimento ao longo dos últimos 40 anos, esta
foi talvez a mais importante contribuição para a evolução de toda a filosofia de manutenção em
edifícios históricos existente no território europeu. A implantação da manutenção preventiva em
território italiano deu-se através de um modelo de actuação à escala territorial, estabelecendo uma
visão integrada do património cultural que não dissocia cultura e território. Os avanços e resultados
existentes depressa foram estudados e aplicados em outros países europeus.
Giovanni Urbani (1925-1994), director do Istituto Centrale per il Restauro (ICR) entre 1973 e 1983,
compreendeu a importância de desenvolver políticas culturais ao nível do território, contribuindo para
uma diferente abordagem da conservação patrimonial. Para além de uma importante obra de reflexão
teórica sobre aspectos da política cultural italiana como a conservação do património artístico, a tutela
patrimonial, a descentralização ou o estudo de factores ambientais, Urbani deixou um importante
legado sob a forma de uma interessante experiência pioneira, o Piano-pilota per la conservazione
programmata dei beni culturali dell’Umbria (Urbani & Zanardi, 2000). Neste plano para a região da
Umbria, emerge a noção de “risco ambiental”, designando uma característica de natureza territorial
que coloca em perigo o património cultural, evidenciando a relação entre as condições ambientais de
um território específico e a conservação do seu património (Lobo de Carvalho, 2007)
14
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Com este plano, desenvolve-se o modelo de conservação preventiva, aplicando-o a um universo de
bens culturais existentes num mesmo território, nas mesmas condições ambientais e sob a mesma
responsabilidade administrativa. A conservação programada representa esta atitude preventiva,
relativamente ao património cultural, através do estudo rigoroso dos mecanismos de degradação, dos
riscos territoriais e da definição de acções de conservação, em relação a todo o território e não
apenas a um monumento ou a um grupo de monumentos.
Actualmente em Itália, a Lei Merloni obriga à existência de um plano de manutenção em todas as
edificações (Piano di manutenzione dell'opera e delle sue parti). O plano em causa é um documento
complementar ao projecto de execução, que prevê o planeamento e programação de acções de
manutenção, a fim de preservar os recursos, as características de qualidade e a eficiência do edifício.
Este plano de manutenção é constituído pelo manual do utilizador, manual de manutenção e
programação da manutenção (Flores-Colen, 2010).
ii)
Experiência inglesa
Em Inglaterra a English Heritage (EH) é a associação responsável pela definição e execução das
políticas patrimoniais inglesas [W6]. Para além da análise estatística feita aos edifícios históricos
existentes no país, a English Heritage funciona como assessoria ao governo informando quais os
edifícios em maior risco de degradação profunda. Estabelece também ligações com as autoridades
locais, oferece instrução e conhecimento para a correcta manutenção e conservação de edifícios, e
encoraja o investimento privado em edifícios que se encontrem em risco.
No início da década de 1990 surge o projecto Building´s at Risk Register (BAR), com o objectivo de
construir uma base de dados central de edifícios históricos em Inglaterra. Esta ferramenta permitiu
classificar aproximadamente 500.000 imóveis, sendo que 46.000 apresentavam anomalias que
afectavam o normal funcionamento dos edifícios. O BAR permite listar os edifícios históricos
existentes (Figura 2.5), definir a escala do estado de degradação, e estabelecer em que medida
importantes edifícios se encontram em risco.
antes de 1600 - 15%
século XVII - 19%
século XVIII - 31%
século XIX - 32%
1900 a 1944 - 3%
desde 1945 - 0.2%
Figura 2.5 – Idade dos edifícios históricos listados no Reino Unido pela BAR (adaptado de [W6])
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
15
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
O registo de imóveis em risco centra-se na avaliação dos imóveis classificados com os níveis mais
altos de protecção (graus I e II*):
- grau I: edifícios de interesse excepcional, por vezes classificados como internacionalmente
importantes; apenas 2.5% dos edifícios listados pertencem a este grau;
- grau II*: edifícios particularmente importantes e de especial interesse; 5.5% dos edifícios listados
pertencem a este grau;
- grau II: edifícios de interesse nacional; 92% dos edifícios listados pertencem a este grau.
Os critérios de avaliação individual de imóveis do BAR privilegiam a análise exterior e dão particular
importância à ocupação. Certos tipos de edifícios encontram-se particularmente ameaçados devido à
falta de utilização e são sobretudo estes que exigem estratégias de salvaguarda, passando pela sua
reutilização ou conservação e manutenção regular. É importante referir a experiência inglesa na
forma como tem tratado e gerido as suas igrejas e catedrais ao longo do tempo.
Na perspectiva da prevenção, ou seja, evitar o agravamento da condição física dos imóveis, as
categorias de prioridade reflectem sobretudo a evolução da degradação (dinâmica), em detrimento da
condição física (de natureza estática), permitindo uma melhor base de avaliação da situação através
de alterações na percentagem de cada categoria, em vez de um simples indicador como o número
total de edifícios na lista (Drury, 1998).
iii)
Experiência Holandesa
A iniciativa holandesa direccionada para a manutenção de edifícios históricos tornou-se um exemplo
europeu, tendo sido seguida por diversos países tais como Alemanha, Dinamarca, Hungria e Bélgica
– país em que o projecto obteve maior sucesso.
Esta iniciativa nasceu através de uma associação fundada em 1973 com o apoio governamental, que
fornecia serviços de inspecção regular e pequenas reparações a um grupo de 20 proprietários de
edifícios históricos. Actualmente o projecto dá pelo nome de Monumentenwachte possui
representações em 11 províncias, contando com 52 equipas de inspecção e providenciando
anualmente relatórios sobre a manutenção prioritária em cerca de 15.000 imóveis classificados na
Holanda.
Cada equipa é constituída por dois elementos (monumentenwachters) que possuem [W7]:
- preparação teórica: estilos arquitectónicos, sistemas construtivos, anomalias, entre outras;
- preparação prática: carpintaria, canalização, colocação de telhas, segurança, entre outras.
16
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Estas equipas visitam os edifícios históricos em veículos próprios, e possuem equipamento para
acesso a zonas de difícil acesso (Figura 2.6). Os seus serviços consistem na execução de um
diagnóstico do edifício, na elaboração de um relatório detalhado sobre a sua condição física e em
recomendações sobre os trabalhos prioritários a realizar. Durante a inspecção são temporariamente
reparadas pequenas anomalias encontradas no local, e as restantes situações fazem parte do
relatório apresentado ao proprietário, que constitui a base de um plano de manutenção preventiva.
Figura 2.6 – Inspecção de um edifício histórico realizada pela Monumentenwacht [W7]
Os serviços da Monumentenwacht são subscritos através de uma quota anual (em 95% dos casos
voluntariamente) e, nalguns casos, a possibilidade de um subsídio governamental para os trabalhos
de manutenção encontra-se dependente dessa subscrição. Após uma primeira visita ao imóvel, este
passa a ser inspeccionado anualmente ou de dois em dois anos, de acordo com a sua dimensão e
características construtivas (Dann et al., 1999).
Em 2003, a Monumentenwacht celebrou o seu 30º aniversário e foi distinguida com o Prémio Europa
Nostra. Apesar de não fornecer um plano de manutenção completo, esta iniciativa demonstra de que
forma podem ser diminuídos os custos de intervenções de restauro, mantendo os custos de
conservação baixos através de uma manutenção regular e preventiva do património construído.
2.5.
Estratégias de manutenção
A aplicação de estratégias de manutenção, no âmbito de uma gestão integrada, deve contemplar os
aspectos relacionados com a decisão, a prioridade e periodicidade das intervenções e as
características das operações de manutenção (limpeza, inspecção e reparação/substituição local).
Qualquer que seja a decisão, é sempre na decisão final o contexto económico e social que preside a
cada análise, por vezes à revelia de parâmetros técnicos.
Em situações de urgência, a decisão pode ser tomada em função da prioridade da intervenção. Este
último conceito permite diferenciar as intervenções e actuar, de forma rápida, nos casos mais críticos
(prioridade máxima), quando estão em risco a saúde e a segurança das pessoas. Os restantes graus
de prioridade têm uma relação directa com os estados de deterioração dos elementos e
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
17
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
correspondem aos estados de muito a pouco degradado (Flores & Brito, 2003).
Para implementar de forma eficiente uma estratégia de manutenção, é necessário construir um
modelo de gestão de manutenção adequado (Figura 2.7), o qual deve conter as seguintes principais
fases: recolha de informação; modelação; e planeamento.
Política de
manutenção
Recolha de
informação
Modelação
Planeamento
• Avaliação do
estado de
conservação
• Modelo do
ciclo de vida
• Priorização
• Orçamento
• Especificações
• Opções
• Estratégias de
manutenção
• Risco
• Contigências
Acção
Análise
Figura 2.7 – Principais fases de um modelo de gestão de manutenção (adaptado de Vilhena, 2006)
A avaliação do estado de conservação assenta essencialmente em inspecções visuais. Com o intuito
de facilitar a inspecção e consequente recolha de dados, é necessário dividir o edifício em elementos,
aos quais se convencionou chamar ”Elementos Fontes de Manutenção” – EFM (Rodrigues, 1989). A
resposta do edifício aos estímulos patológicos não é feita individualmente por elementos ou
componentes, mas decorre da interacção conjunta de elementos que são envolvidas na cadeia de
causas e efeitos. Esta divisão tem a vantagem de ter sido desenvolvida segundo uma lógica de
comportamento em uso, que se revela útil para o estudo que se pretende realizar. Assume-se que
face à degradação, um edifício é constituído por um conjunto de elementos fonte de manutenção
(Quadros 2.1 e 2.2), cada um com mecanismos próprios de degradação.
Quadro 2.1 - Exemplo de listagem de EFM de uma cobertura (adaptado de Rodrigues, 2002 e Lobo de
Carvalho, 2007)
Área
Grupo
cod.
Classe
(ÁGu)
Águas
(ESt)
Estrutura
(Pav)
Pavimento
(Dre)
Drenagens
Telhado
Cobertura
Terraço
18
cod.
(Te)
(Be)
(Cu)
(Ri)
(Va)
(Ma)
(As)
(Rm)
(Pa)
(La)
(Ju)
(Ca)
(Pq)
Elemento
Telhas
Beirado
Cumeeira
Ripado
Varas
Madres
Asnas
Reforços metálicos
Passadiços
Lagedo
Juntas
Caleiras
Pontos de queda
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Quadro 2.2 - - Exemplo de listagem de EFM de uma fachada (adaptado de Rodrigues, 2002 e Lobo de
Carvalho, 2007)
Área
Grupo
cod.
(PAe)
(DNv)
Fachada
Classe
Parede exterior
Drenagens verticais
Estrutura Vertical
(Vao)
Vãos
cod.
Elemento
(Cs)
Cantaria Simples
(Ca)
Cantaria artística
(Ar)
Alvenaria Rebocada
(Tr)
Tirantes metálicos
(Ap)
Alvenaria pedra
(Ga)
Gárgulas
(Go)
Goteiras
(Tq)
Tubos de queda
(Al)
Alvenaria
(Vd)
Vitral decorativo
(Vs)
Vidro simples
(Es)
Estrutura suporte
(Gr)
Gradeamento
(Cl)
Coluna
(Cs)
Cantaria simples
A caracterização de cada EFM será mais fácil e expedita se existir um código que caracterize
individualmente cada elemento, localizando-o facilmente no plano de manutenção (Rodrigues, 1989).
Para situações em que existam vários elementos seguidos iguais (por exemplo janelas alinhadas na
mesma fachada) poderá ser utilizado um código numérico mais completo. Este tipo de identificação
poderá também facilitar o processo de informatização dos dados referentes a cada edifício.
A principal diferença de um modelo de gestão de manutenção especificamente aplicado a edifícios
históricos será a aplicação de modelos de ciclo de vida, existindo muitas vezes impossibilidade de
substituição de elementos devido a questões de autenticidade e de valor histórico.
A última etapa do planeamento visa com os resultados obtidos nas fases anteriores, traçar cenários
de manutenção, que englobam nomeadamente escalonamento de acções de acordo com a sua
criticidade e estratégias de manutenção tendo em conta os orçamentos disponíveis.
Conclui-se desta forma que uma recolha eficaz de dados é essencial para a implementação e
planeamento da manutenção, originando uma política de gestão e intervenção adequada ao imóvel,
qualquer que seja a sua natureza.
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
19
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
2.6.
Vida útil
Apesar de serem geralmente considerados bens de grande longevidade, todos os edifícios iniciam
um processo contínuo de degradação a partir do momento em que são construídos – uma evolução
normalmente lenta e quase imperceptível no início, mas que acelera ao longo do tempo.
Este processo pode ser entendido como um ciclo de vida e traduz-se em grandes valores de
investimento contínuo em manutenção e gestão, bem como na reparação e substituição de
componentes e sistemas. O somatório de todos estes investimentos tem um tal peso económico que
mesmo uma pequena redução de recursos se traduz numa elevada poupança geral, com expressão
directa na economia e no ambiente, duas variáveis cujo equilíbrio assegura a sustentabilidade das
sociedades actuais (Gaspar, 2003).
De acordo com a ISO 15686-1 (2000) a vida útil é o período de tempo durante o qual as propriedades
do edifício respondem ou excedem os níveis mínimos aceitáveis para o seu funcionamento – de
ordem intrínseca ao elemento, normativa ou subjectiva – numa situação de manutenção corrente. No
estudo de diferentes tipos de construção verifica-se que a vida útil é, antes de mais, um conceito
relativo que depende da definição de níveis mínimos aceitáveis de desempenho para o edifício
considerado, bem como do respectivo contexto social, económico, político, estético, ambiental ou
normativo que se enquadra a sua avaliação. Existe assim uma diferenciação da vida útil (Gaspar,
2003) em vários tipos (física, funcional e económica):
i)
Vida útil física
Todos os objectos e construções se degradam desde o dia em que são concluídos. No caso das
edificações, este processo de “envelhecimento” é geralmente lento (decorrendo muitas vezes ao
longo de várias gerações), o que dificulta o estudo do fenómeno, sobretudo numa sociedade virada
quase exclusivamente para o presente. No entanto, a compreensão da vida útil física das construções
é cada vez mais importante, num contexto de recursos cada vez mais escassos, para um vasto
parque construído e a envelhecer. Talvez por isso, esta é a dimensão do estudo da vida útil das
construções que maior desenvolvimento tem conhecido.
A vida útil física corresponde ao período de tempo durante o qual o edifício ou parte dele se mantém
num nível requerido de adequação às exigências que lhe são colocadas ou que lhe permita acolher e
responder a novos usos, sem sofrer desgaste físico irreversível para além de uma manutenção
corrente ou de investimentos equivalentes ao custo de reposição do elemento (Brand, 1997). O fim da
vida útil física de um material ou componente corresponde ao limite teórico da respectiva durabilidade
por motivos de degradação física, devido ao desgaste decorrente do uso, das acções ambientais
(num cenário de manutenção corrente) ou por degradação por negligência (em cenários de ausência
de manutenção).
20
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Para a aplicação deste tema é necessário contextualizar a análise, pois à semelhança das exigências
funcionais das construções, também as exigências de higiene, segurança, estanqueidade, isolamento
(genericamente consideradas exigências de desempenho) sofrem evoluções, conforme aumentam as
expectativas dos utentes as exigências da sociedade – através de normas e regulamentos.
Na prática, a estimativa da vida útil física das construções fornece um valor indicativo equivalente à
determinação do limite máximo do seu período de serviço, necessário para qualquer análise
relacionada com a vida útil económica do edifício, servindo de base para toda a planificação de
optimização do investimento e para a escolha, planificação, programação e optimização das acções
de manutenção.
Dividindo o edifício em elementos fonte de manutenção, é feito para cada um deles a previsão da
vida útil de referência, a partir do conhecimento do material e do seu grau de deterioração no tempo,
de acordo com determinadas propriedades mensuráveis escolhidas como indicadores de
degradação. De entre os métodos existentes distinguem-se geralmente duas abordagens principais
(Brito, 2001):

Métodos determinísticos, de acordo com os quais a vida útil de um elemento é função de uma
durabilidade de referência (por exemplo, indicações do fabricante), posteriormente modificada
através de factores ou formulas matemáticas, de acordo com as condições de serviço
expectáveis, obtendo-se um valor absoluto da durabilidade do elemento estudado. São
exemplo o Regulamento Japonês desenvolvido pela Architectural Institute of Japan [W8] bem
como o método factorial indicado na ISO 15686-1 (2000).

Métodos probabilísticos, que procuram traduzir a incerteza relacionada com a degradação de
um elemento e a própria imprevisibilidade das condições reais de utilização, através de
funções probabilísticas (normalmente baseadas em valores estatísticos ou num cálculo
probabilístico) que definem a probabilidade de uma mudança de estado (de conservação) do
elemento estudado.
No estudo da vida útil física associada a edifícios históricos, poderá dar-se como exemplo uma porta
decorativa de um edifício do séc. XIX, que atingiu o seu limite teórico de durabilidade por motivos de
degradação física associados ao desgaste. No caso de um edifício corrente a filosofia associada ao
estudo da vida útil indicaria que esse elemento deveria ser substituído; no caso de um edifício
histórico, se se tratar de um elemento único de elevado valor cultural, não se deverá pensar na sua
imediata substituição, devendo-se ao invés conservar esse elemento da melhor forma possível.
Outro exemplo poderá ser a substituição de telhas em coberturas inclinadas. Na análise de um
edifício histórico que não possua registo de intervenções anteriores, os elementos telha da cobertura
deverão ser analisados de forma a se compreender qual a sua vida útil restante à data da inspecção.
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
21
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Poderá assim planear-se as próximas intervenções de forma pró-activa, ou, no caso de esse
elemento se encontrar muito degradado, substitui-lo de forma a não existirem futuros problemas de
infiltrações que possam prejudicar os vários elementos do edifício.
ii)
Vida útil funcional
A vida útil funcional (ou serviceability, na literatura anglo-saxónica) corresponde ao período de tempo
durante o qual uma construção permite a sua utilização, independentemente do fim para que foi
concebida, sem obrigar a alterações generalizadas.
Este conceito ultrapassa uma natureza meramente programática (do tipo “a forma segue a função”),
dado que actualmente se entende a adequação ao uso como resposta global às expectativas dos
utentes, incluindo a funcionalidade estrita, mas também dimensões de conforto, de moda ou de
significado de arquitectura, o que explica, por exemplo, a existência e preservação de determinados
edifícios históricos (Gaspar, 2003).
Desta definição, constata-se imediatamente a enorme dificuldade associada ao estudo da vida útil
funcional, uma vez que, mesmo que uma construção se mantivesse num nível constante de resposta
a determinadas exigências, a própria noção do que é mais adequado ou desejável num dado
momento e local está em constante mutação. Mesmo para intervalos de tempo relativamente
reduzidos (de anos, por exemplo), as expectativas dos utentes do que é viver bem estão em
constante evolução, na aspiração de viver com mais espaço, com mais conforto, ou mais “à moda”
(Gaspar, 2003).
Tendo como exemplo a envolvente exterior das edificações (fachadas, vãos exteriores e coberturas),
considera-se que estas necessitam de sofrer intervenções a cada 20 anos (Manso, 2003), prazo que
é muito mais dilatado no caso de edifícios habitacionais (normalmente sujeitos a uma maior inércia de
transformação e com maiores restrições financeiras) do que nos edifícios de serviços, cujas
mudanças decorrem geralmente de necessidades de mudança de imagem ou de obsolescência
tecnológica.
Relativamente a edifícios históricos não existirá o problema de obsolescência tecnológica nem
questões associadas à estética, dependentes dos critérios (subjectivos) de cada pessoa. Neste tipo
de edifícios interessará a sua conservação, obedecendo a características de intervenção que possam
preservar a autenticidade do mesmo.
iii)
Vida útil económica
Entendendo-se os edifícios como bens, estes podem assim ser considerados como investimentos
passíveis de gerar ganhos (financeiros ou de bem-estar social). Contudo, torna-se igualmente
necessário considerar os custos associados à manutenção, que adiem a obsolescência técnica e
22
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
funcional dos seus componentes e sistemas. Quando tal não acontece, os edifícios (ou zonas
urbanas onde se inserem) podem entrar numa espiral de decadência e abandono, com sérias
implicações do ponto de vista social (Gaspar, 2003).
Este processo nem sempre tem um sentido descendente e verifica-se que edifícios com uma
construção suficientemente durável e com qualidades formais e simbólicas especiais conseguem, por
vezes, sobreviver a este ciclo descendente. Pode dar-se então uma sequência inversa que conduza
inclusivamente à reabilitação dessas áreas: tornam-se focos de interesse urbano, que eventualmente
começam a atrair novos usos, dando início a um novo ciclo económico.
A vida útil económica de uma construção pode, pois, definir-se como o período de tempo que decorre
até que esta seja substituída do seu propósito inicial por outra construção ou actividade mais rentável,
ou enquanto mantiver uma relação custo/benefício anual inferior às alternativas. Como ferramenta de
apoio à decisão, num contexto de alternativas disponíveis que diferem entre si em termos de custo
inicial e em custos expectáveis, poderá utilizar-se o LCC - Life Cicle Cost (Ruegg & Marshall, 1990).
Esta ferramenta económica permite comparar opções fornecendo um valor que traduz os custos
globais de um investimento para o momento presente. A aplicação desta ferramenta depende de um
período de referência para a vida útil (o LCC considera normalmente períodos de análise de cerca de
25 anos), para o qual se estimam e somam os custos de determinada opção, descontados para o
momento actual, de acordo com taxas de actualização e inflação (Gaspar, 2003).
No caso de edifícios históricos, o tema do ciclo de vida não será introduzido da mesma forma. Neste
caso as acções de intervenção serão aplicadas de forma diferente, orientadas para a conservação do
bem; será ainda assim importante abordar o horizonte temporal a que todos os elementos estão
sujeitos. Tendo em conta que se pretende elaborar planos previsionais de manutenção, as
intervenções deverão basear-se num modelo de gestão de manutenção, onde as acções preventivas
para os vários valores de periodicidade devem ser integradas num programa financeiro anual a
preços correntes e, posteriormente, transformados numa anuidade (valor constante) para um
horizonte temporal estabelecido.
2.7.
Preservação da autenticidade
Em todas as acções de intervenção de património histórico edificado deve estar presente um conjunto
de acções que permita diminuir o grau de alteração dos materiais e elementos construtivos utilizados.
Procura-se assim preservar o testemunho cultural, prolongando tanto quanto possível a sua
viabilidade construtiva e funcional.
Deve-se ter presente a existência de diferentes níveis de intervenção, sendo que a conservação deve
ser encarada como a menos intrusiva para os edifícios, devendo sempre que possível ser privilegiada
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
23
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
relativamente às demais (reabilitação, substituição, entre outras).
Após a contribuição italiana na área da manutenção de edifícios históricos, foi dado um dos passos
mais significativos nestas áreas: a Carta de Veneza [anexo I], de 1964. O seu significado reside não
só no seu conteúdo concreto – conciso e generalista -, mas antes nos conceitos que introduz, à luz
da aceitação de diversos países, assumindo uma dimensão comum, pelo menos a nível europeu. A
Carta de Veneza deve ser encarada como portadora de orientações e não dogmas, referenciais e não
limites(Sousa, 2003).
A conservação de edifícios históricos é caracterizada por um conjunto de especificidades que a
tornam uma actividade muito particular. Trata de objectos únicos e de grande valor cultural; depende
de áreas do conhecimento muito diversas (podem nomear-se, entre outras, a história; a história de
arte; a arqueologia; a arquitectura; a engenharia; a química; a geologia e a mineralogia); deve
considerar os factores ambientais que condicionam o edifício; não podendo estar dissociada de
aspectos sociais, económicos e políticos – a nível local, regional e nacional - extravasa o domínio
técnico e científico. Neste contexto, cada acção de conservação deve enquadrar as particularidades
de determinado edifício num conjunto de orientações que garanta uma abordagem correcta a todas
as questões que se colocam. Note-se que a abordagem em causa será absolutamente distinta da que
norteia qualquer outra actividade relacionada com a construção (Moreira Rato, 2002).
Na fase antecedente à intervenção dever-se-á ter em conta as operações e tecnologias existentes
que mais se adequam ao edifício em estudo. O conhecimento das técnicas de construção tradicional
tem de ser encarado segundo dois princípios essenciais: é necessário conhecer o objecto de
intervenção antes de estudar e realizar essa intervenção, de modo a adequar os materiais e métodos
a aplicar às características desse objecto. Em segundo lugar, o conhecimento das técnicas
tradicionais interessa, na medida em que essas mesmas técnicas serão, com frequência, as soluções
mais recomendáveis para as intervenções efectuadas (Appleton, 2003).
2.8.
Características de intervenções em edifícios históricos
2.8.1.
Decisão de intervenção
Em termos de decisão de intervenção em edifícios é utilizada historicamente a manutenção reactiva
(também denominada resolutiva, curativa ou correctiva) situação em que se deixa operar o
mecanismo de degradação do elemento e só depois se actua na acção de reparação das anomalias.
Embora esta metodologia pareça menos onerosa a curto prazo, com o tempo vai introduzir custos
mais elevados. Esta situação pode ser minimizada pela implementação de procedimentos técnicos,
apoiados em fichas de diagnóstico que permitam obter respostas rápidas de solução para as
anomalias dos elementos (Weaver, 1997).
É urgente a constituição de um banco de dados para a divulgação destes procedimentos-tipo, que
24
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
fomente a nível nacional uma cultura de actuação rápida e atempada perante o estado de
degradação do parque habitacional, favorecendo, ao mesmo tempo, uma acção consertada de
actuação,
enquadrada
nas
seguintes
acções:
detecção
dos
sintomasrealização
do
diagnósticoeliminação das causas -> execução das acções correctivas monitorização (Flores &
Brito, 2002).
Tem vindo a ser desenvolvida nos últimos anos uma política pró-activa assente na previsão
antecipada, tendo como objectivo o planeamento de intervenções antes da ocorrência de anomalias,
reduzindo a probabilidade de determinado elemento apresentar deteriorações que conduzem o seu
desempenho abaixo das exigências estabelecidas. Esta metodologia assenta essencialmente na
manutenção predictiva e preventiva (Flores & Brito, 2002):
- A manutenção preventiva consiste na execução de actividades de manutenção, baseadas num
planeamento e em periodicidades fixas, permitindo uma redução de trabalhos extraordinários e uma
menor interferência com a normal utilização do edifício;
- A manutenção predictiva consiste na execução de actividades de manutenção, em função da
análise do estado dos diversos elementos, planeando as inspecções e não as actividades a executar.
Este tipo de abordagem pró-activa trata-se um modus-operandi difícil de implementar, uma vez que a
intervenção (reactiva) de grande visibilidade continua a parecer mais válida que a adopção de uma
metodologia preventiva, cuja eficiência apenas se comprova com o tempo. Trata-se de uma
metodologia “silenciosa” e, por isso mesmo, pouco atractiva aos olhos de quem pretende mostrar
obra feita (Lobo de Carvalho, 2007).
Os critérios de decisão não deverão limitar-se aos aspectos puramente técnicos. São também
importantes os aspectos económicos, funcionais, contextuais, ambientais, psicológicos, estéticos e
culturais. Com base nas evidências encontradas (tipo de manifestação patológica, extensão do
problema), na sua projecção de evolução (prognóstico) e na presença de riscos para os utentes, é
tomada a decisão mais acertada. Como apoio a esta decisão, pode recorrer-se a matrizes que
contemplem vários critérios que facilitem a escolha entre várias acções de correcção (Campante et al,
2001).
2.8.2.
Prioridade de intervenção
Existem vários factores que podem condicionar o planeamento de acções de manutenção, tais como
o carácter de urgência, o funcionamento do edifício, o estado de degradação dos elementos, o efeito
negativo nos utentes e as implicações nos custos de manutenção (Madureira, 2011).
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
25
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Quadro 2.3 – Classificação de prioridades para acções de manutenção [ (Johnson, 1999) citado por
Flores-Colen, 2003)]
Classificação/
Grupo
Prioridades dos
trabalhos, em termos de
urgência
Sub-classes de
manutenção
Efeitos se a acção não
ocorrer
Efeitos nos utilizadores
do edifício
Código prioridade/
Sub-classes
Descrição
Prioridade 1
Trabalhos inevitáveis
Prioridade 2
Trabalhos essenciais
Prioridade 3
Trabalhos urgentes
Prioridade 4
Trabalhos desejáveis
A
Respeitar as obrigações legais
B
Respeitar as exigências de segurança e
saúde
C
Evitar sérias perturbações na utilização
D
Prevenir grave deterioração física
E
Evitar perturbações na utilização
1
Rápidos custos e incómodos na utilização
2
Efeitos muito significativos (rotura)
3
Efeitos do atraso mínimos
4
Efeitos de atraso sem significado
X
Grandes perturbações nos utilizadores
Y
Pequenas perturbações nos utilizadores
Z
Efeitos mínimos sem significado
Na elaboração de planos de manutenção poderão ser definidos critérios para definir a prioridade de
cada intervenção. No Quadro 2.3 são identificados alguns critérios para escalonar acções de
manutenção, em termos de prioridade de intervenção (por exemplo: classificação 2D1Z = trabalho
essencial / previne a deterioração física / se não for executado origina custos imediatos / a sua
execução não perturba os utilizadores do edifício).
2.8.3.
Periodicidade de intervenção
Para se estabelecer a periodicidade de acções é necessário possuir dados de suporte válidos acerca
do comportamento dos elementos do edifício em estudo, caso contrário, corre-se o risco das acções
definidas não serem realistas (comportamentos previstos diferentes dos verificados em serviço), esta
situação será mais provável em soluções construtivas cuja falta de experiência adquirida aconselha
uma atitude mais conservativa.
O estabelecimento de uma periodicidade das acções de manutenção permite a racionalização das
intervenções, relacionando o tipo de intervenção, o nível exigido de qualidade e o grau de
deterioração. A periodicidade legal de 8 anos estabelecida pelo Decreto-Lei nº177/2001 (já indicada
anteriormente no RGEU) para obras correntes de manutenção, nem sempre é cumprida e, em certos
26
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
casos, é mesmo inadequada. De forma a ser implementado um plano de manutenção adequado a
periodicidade atribuída a cada acção depende, naturalmente, do tipo de edifício – nomeadamente, da
sua arquitectura, dimensão, tipologia construtiva e materiais existentes – bem como dos fenómenos
de degradação diagnosticados e das condicionantes ao seu desenvolvimento. O seguinte exemplo
comparativo é demonstrativo destas condições (Moreira Rato, 2002): o claustro do Mosteiro dos
Jerónimos e a Torre de Belém são dois edifícios construídos na mesma época, com materiais e
processos construtivos semelhantes e situados na proximidade um do outro; contudo, estão sujeitos a
micro-climas distintos, o que se deve ao facto de o claustro ser um espaço exterior fechado sobre simesmo e a Torre de Belém estar sobre a foz do rio Tejo. Deste modo, ainda que assumindo o mesmo
ponto de partida quanto ao estado de conservação, o plano de manutenção de um teria de ser
diferente do do outro, quer ao nível do tipo de acções, quer ao nível da sua periodicidade.
O plano de manutenção deverá ainda ter em conta a chamada manutenção de oportunidade (Lobo de
Carvalho, 2007). Este deverá sistematizar um conjunto de intervenções a executar, garantindo a
qualidade técnica das equipas, a escolha dos materiais e das técnicas a aplicar, tendo em conta as
questões de segurança, de facilidade de execução e de durabilidade. Na prática, as acções são
agrupadas como forma de garantir uma economia de meios, sem colocar em causa a funcionalidade
e a segurança do edifício. Esta junção implica, inevitavelmente, o adiamento de algumas acções e a
antecipação de outras, para que possam coincidir no momento de uma execução simultânea. Haverá
que ponderar as eventuais consequências de tal facto, nomeadamente ao nível das acções que são
adiadas, garantindo que o risco inerente a este adiamento seja aceitável (Flores-Colen, 2003).
2.9.
Intervenções e tecnologias disponíveis
Grande parte dos problemas existentes na manutenção e substituição de elementos fonte em
edifícios antigos prende-se com a incompatibilidade dos materiais utilizados. Nos últimos anos têm
vindo a ser desenvolvidos vários estudos acerca dos materiais utilizados originalmente em edifícios
históricos. Muitas vezes têm sido adaptadas técnicas e normas referentes a materiais recentes, esta
situação demonstra a crescente preocupação para com a conservação de materiais tradicionais,
investindo-se mais na sua manutenção e preservação, e menos na sua substituição (Weaver, 1997).
No caso específico das fachadas as maiores dificuldades centram-se na aplicação de argamassas,
muitas vezes originando anomalias devido à incorrecta aplicação de materiais de reparação (Figura
2.8). Com o surgimento dos produtos cimentícios as argamassas tradicionais caíram em desuso
(Appleton, 2003), ainda assim tem existido nos últimos anos uma crescente procura por soluções de
reabilitação mais “fracas” que permitam uma redução do uso do cimento nos rebocos de reparação.
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
27
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Figura 2.8 - Descasque de revestimento devido à incompatibilidade dos materiais de reparação, Fachada
Norte da Igreja de Santa Maria dos Olivais (fotografia de autor)
Pelo seu valor histórico e estético, é hoje consensual, nos meios culturais e científicos, a opção pela
salvaguarda, sempre que possível, das superfícies arquitectónicas e dos revestimentos existentes,
recorrendo à sua reparação e consolidação, em detrimento da sua renovação, prática até há pouco
privilegiada. O avanço da ciência e da técnica, associado ao aumento do valor patrimonial dos
próprios revestimentos (pela sua cada vez maior raridade e pelo enfoque na autenticidade nas
contemporâneas teorias da conservação), permite hoje reconsiderar a metodologia de intervenções
em edifícios históricos (Veiga et al., 2004).
É assim claro, que a decisão sobre o tipo de intervenções a realizar não pode basear-se apenas nos
resultados da avaliação de estados de degradação, é também fundamental ter em conta outros
factores, tais como o valor do edifício, a sua importância histórica e o seu contributo estético, assim
como o grau de raridade de uma construção, parede, revestimento ou acabamento. Tal como refere
Veiga (2004): “Podemos hoje recorrer a técnicas muito sofisticadas para desenvolver análises de
revestimentos mas, no nosso entender, nada pode substituir neste domínio o contacto directo e não
intermediado entre o estudioso e o edifício histórico que pretendemos estudar”.
Hoje dispõem-se tanto da possibilidade de recorrer aos antigos saberes como novas possibilidades
tecnológicas no que se refere à conservação e restauro de revestimentos históricos. A engenharia da
conservação disponibilizou novos produtos de síntese, assim como procedeu, nos últimos anos, à
reavaliação do contributo fulcral de técnicas ancestrais que estavam praticamente perdidas. Algo de
similar se passou com o desenvolvimento de produtos de limpeza e de combate ao ataque biológico
(Veiga et al., 2004).
28
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
É assim preferencial, adoptar uma escala de opções de intervenção que proteja o mais possível os
elementos históricos, dando-se prioridade a acções de manutenção preventiva, recorrendo-se a
substituições apenas em último caso.
2.10. Planos de manutenção em edifícios históricos
Cada plano de manutenção deve ser encarado como um instrumento susceptível de sofrer alterações
e adaptações. A adequabilidade das acções definidas apenas poderá ser confirmada com o passar
do tempo, mas reforça-se como condições essenciais para a aplicação de manutenção em edifícios
históricos:

a necessidade de todas as acções definidas no plano de manutenção estarem de acordo com
os princípios éticos até aqui referidos;

antes de se definirem periocidades e acções de intervenção, devem ser considerados alguns
requisitos tais como a caracterização geral do edifício - de forma a conhecer-se os diversos
elementos construtivos presentes e os materiais usados - e a utilização de mão-de-obra
qualificada que compreenda a responsabilidade de intervir num edifício de elevado valor
histórico (Moreira Rato, 2002);

a criação de um “manual de intervenção” que registe pormenorizadamente todas as acções
executadas acompanhadas por meios fotográficos e elementos escritos, esta operação tem
em vista a melhoria de intervenções futuras e a constituição de uma base de dados cada vez
mais completa;

por fim, deve-se assegurar que existem condições de segurança adequadas a todos os
trabalhos de manutenção.
Para a correcta aplicação de planos de manutenção, deverá existir em cada edifício um responsável
pela sua conservação e que se encarregue da gestão do plano de manutenção, garantindo a sua
execução, acompanhando todas as acções e elaborando os respectivos registos e relatórios. Nesta
actividade de gestão, deve incluir-se a coordenação de todos os meios humanos e técnicos e o
controlo financeiro. A cada plano de manutenção tem de corresponder um orçamento devidamente
preparado e aprovado pela entidade tutelar. A gestão financeira contempla não só a execução
quotidiana, como também a avaliação permanente da estimativa inicial face aos custos reais,
devendo permitir a elaboração de dados estatísticos que possam fundamentar a atribuição de
recursos anual e a previsão das necessidades para o futuro (Moreira Rato, 2002).
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
29
2. A MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
2.11. Considerações finais do capítulo
Devido à ainda pequena divulgação deste tema, foi importante definir numa primeira fase deste
trabalho o que se entende por manutenção em edifícios históricos, efectuando sempre que possível a
respectiva comparação com os trabalhos elaborados no âmbito dos edifícios correntes – área essa
que tem vindo a crescer bastante nos últimos anos. Este capítulo estabelece também a diferenciação
de diversos termos muitas vezes confundidos na área do património histórico, desta forma é feita a
distinção de manutenção, reabilitação, conservação entre outros.
Os princípios aqui descritos referentes à manutenção, não devem ser entendidos como regras
absolutas - uma vez que o tipo de edifícios aqui estudados se diferenciam bastante entre - devem ser
entendidos sim como formas de actuação gerais, podendo ser sujeitas a alterações quando
conveniente.
Para além da manutenção de edifícios históricos em Portugal, foi importante analisar o que foi feito
em outros países, desta forma foram descritos os seguintes casos:

a experiência italiana, que devido ao seu pioneirismo e modelo de conservação aplicado ao
território foi a que mais contribuiu a nível europeu para o desenvolvimento do tema;

a experiência inglesa, importante sobretudo devido ao seu pragmatismo face aos problemas
encontrados na conservação de monumentos, bem como a sua experiência na
implementação de estratégias preventivas e pró-activas nas suas igrejas e catedrais o que
tem vindo a fornecer boas indicações quanto à pertinência financeira deste tipo de
abordagens;

a iniciativa holandesa, que se revelou um caso de sucesso ao nível de aplicação e vantagens
financeiras, o que faz com que tenha vindo a ser seguida por diversos países.
Para além de estratégias de manutenção utilizadas, bem como a discussão da preservação da
autenticidade em edifícios sujeitos a intervenções, foi também introduzido neste capítulo
características de intervenções em edifícios históricos – abordando-se essencialmente as questões
de decisão, prioridade e periodicidade de intervenções e inspecções.
Actualmente, a informação nesta área encontra-se muito dispersa e pouco desenvolvida, pelo que a
sua recolha e sistematização constituem incrementos importantes. A organização destes dados será
importante para no futuro existir um acesso mais fácil a planos de manutenção diferenciados,
contribuindo-se assim para a melhoria contínua do tema.
No próximo capítulo será apresentada uma metodologia que apoiará a elaboração de planos
previsionais de manutenção aplicados a edifícios históricos.
30
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
3. PROPOSTA DE METODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
3.1.
Considerações gerais
Este capítulo tem como objectivo a apresentação de uma metodologia de manutenção que possa ser
aplicada em edifícios históricos, pretendendo-se assim explicitar todas as fases a executar de forma a
se atingir um plano de manutenção para edifícios deste tipo.
É objectivo final desta fase do trabalho a proposta de um plano de manutenção que seja um
instrumento de gestão, orientado para a conservação contínua do monumento, através do estudo das
suas características construtivas e respectivas necessidades de manutenção.
Ao longo da aplicação desta metodologia devem ser tidas em conta as características que
diferenciam este tipo de monumentos, tais como:

grande heterogeneidade deste tipo de edifícios, com diferentes épocas de construção e
diferentes técnicas construtivas;

valorização cultural para a zona em que estão envolvidos;

autenticidade de elementos únicos, onde o objectivo não é substituir mas sim conservar;

edifícios muitas vezes sujeitos a visitas turísticas diárias.
A metodologia exposta poderá ser aplicada em qualquer edifício histórico, tendo em conta que
poderão ser efectuadas alterações nas formulações apresentadas, dependendo de cada caso de
estudo.
3.2.
Fundamentos da proposta de metodologia de manutenção em edifícios históricos
Um plano de manutenção elaborado especificamente para edificações históricas introduz o conceito
de conservação preventiva, ou seja, será necessário existir um especial cuidado em todas as
intervenções efectuadas, substituindo apenas o que é essencial e preservando o que é histórico e o
que é único. Pretende-se assim monitorizar o comportamento do edifício, evitando o aparecimento ou
agravamento de anomalias identificadas ou previsíveis. A gestão eficiente destas rotinas, organizada
tecnicamente sobre a forma de um plano, possibilita não só uma maior longevidade dos elementos
estudados, como um melhor funcionamento quotidiano, para todos aqueles que o utilizam ou visitam.
Este documento possibilita através da gestão de manutenção, a identificação das acções a realizar,
quem as executa e qual a sua periodicidade. Para além disso, servirá como uma importante
ferramenta de monitorização do edifício, permitindo controlar os custos associados à manutenção. O
plano de manutenção assume assim um carácter simultaneamente técnico (instrumento operativo) e
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
31
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
económico, sendo possível através da programação de acções estimar as necessidades financeiras.
A organização genérica de um plano de manutenção baseia-se em dois sistemas inter-relacionados,
a inspecção periódica (funcionando de acordo com o estado de conservação dos elementos
construtivos) e a intervenção programada (da qual depende a manutenção preventiva, baseada na
previsão do fim de vida útil desses elementos). É aliás neste contexto, que alguns autores propõem a
designação de Plano de Inspecção e Manutenção, aconselhando a adopção de uma metodologia
mista (Flores & Brito, 2003).
Para avaliar o estado de degradação de um edifício, serão analisados os vários elementos fonte que
o constituem. O desempenho de um elemento construtivo refere-se às suas características físicas e
funcionais, o que pressupõe um determinado comportamento face às funções pretendidas durante o
seu ciclo de vida esperado.
A análise da vida útil estará assim mais enquadrada no caso de um elemento construtivo novo. Como
exemplo, pode referenciar-se um elemento fonte telha de cobertura, cujas propriedades mecânicas
vão diminuindo durante um período estimado de 25 a 30 anos (Manso, 2004) findo o qual se torna
eventualmente necessária a sua substituição, de forma a não existirem problemas de estanqueidade
que prejudiquem o resto do edifício, ou seja repor o elemento num nível aceitável/desejável.
O fim da vida útil não servirá para justificar a substituição de elementos originais constituintes de
edifícios históricos, isto é, a substituição de um elemento construtivo original é (por princípio) contrária
ao próprio conceito de conservação e ao esforço colocado na preservação da sua autenticidade
histórica. A ocorrer, a substituição de um elemento original deve-se a imperativos de ordem estrutural,
de segurança para os utilizadores ou de risco para a demais estrutura, e não de critérios como o seu
desempenho, durabilidade ou vida útil. Acresce que em edifícios correntes, existem outros critérios
para a substituição ou modificação de elementos construtivos, decorrentes da satisfação de
exigências regulamentares de conforto, higiene ou segurança, bem como aspectos relacionados com
a obsolescência funcional de instalações e equipamentos. Mais uma vez, nestes casos, a sua
aplicação a edifícios antigos obedece a uma maior atenção à estrutura original e seu conteúdo, na
perspectiva da salvaguarda de valores culturais (Lobo de Carvalho, 2007).
Torna-se assim importante diferenciar os principais aspectos condicionantes existentes em edifícios
históricos e correntes (Quadro 3.1). Aspectos referidos anteriormente tais como o ciclo de vida útil
dos materiais e a regulamentação construtiva, bem como a valorização comercial, encontram-se
associados a edifícios correntes. Por sua vez, a autenticidade dos materiais existentes e a
valorização cultural dos edifícios e da zona em que se inserem serão aspectos exclusivamente
condicionantes em edifícios históricos.
32
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Quadro 3.1 – Aspectos condicionantes em edifícios históricos e correntes (adaptado de Lobo de
Carvalho, 2007)
Aspectos condicionantes
Edifício corrente
Edifício histórico
Tipologia
x
x
Dimensão
x
x
Características espaciais
x
x
Material e sistemas construtivos
x
x
Estado de conservação
x
x
Ciclo de vida útil dos materiais
x
Conservação de referência (standard)
x
Regulamentos construtivos
x
Parecer da entidade reguladora
x
Autenticidade material
x
Valorização cultural
x
Valorização comercial
x
Atendendo à diferenciação existente, e tendo em conta as diversas fases constituintes de planos de
manutenção para edifícios correntes (mencionadas no capítulo 2), elaborou-se uma metodologia
direccionada para edifícios históricos.
Como base para a sua constituição foram analisados vários documentos referentes a conservação
preventiva, tais como o Management and Maintenance Plan (2008) incentivado em Inglaterra pela
Heritage Lottery Fund como bases para aplicação de manutenção em edifícios históricos. Da
bibliografia já mencionada destaca-se o Conserving Buildings de Martin Weaver (1997), e como
exemplo nacional o plano de conservação elaborado para o Mosteiro dos Jerónimos apresentado na
tese de doutoramento do Prof. Lobo de Carvalho (2007).
A metodologia desenvolvida é apresentada na Figura 3.1 e encontra-se repartida por várias fases. De
início será apresentada a fase preliminar, orientada para o estudo das características intrínsecas do
edifício em estudo e à envolvente que o rodeia; de seguida será realizada a fase de inspecções, onde
através de vários levantamentos se poderá dividir o edifício em elementos fonte, estudando o estado
de degradação de cada um deles e escalonando as acções de manutenção. Por fim, será elaborado
o plano de manutenção, etapa acompanhada pelos critérios de decisão, baseados em racionalização
e oportunidade.
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
33
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
A - Compreensão do edifício
- Descrição do edifício histórico
- Alterações efectuadas ao património histórico ao
longo do tempo
- Importância do edifício para a região
B - Situação actual do edifício
- Caracterização das entidades responsáveis pela
gestão e manutenção
- Qual a manutenção efectuada e com que recursos
- Qual a condição actual do edifício
1 - Fase preliminar
à elaboração do
plano
C - Estudo do ambiente e potenciais riscos
D - Gestão interna do edifício
A - Levantamento de dados
- Verficar material de manutenção existente
- Verificar percursos de emergência existentes
- Recolher informação relativa a visitas
- Plantas
- Fotografias
- Acessibilidades
- Intervenções anteriores
Fichas de
levantamento
- Divisão do edifício em elementos fonte
Fichas de
inspecção nº 1
- Condição física
- Estado de degradação
- Anomalias observadas
Fichas de
inspecçao nº 2
D - Acções de manutenção
- Periodicidade
- Critérios de prioridade
- Descrição dos trabalhos
Fichas de
inspecção nº 3
(critérios)
E - Custos de manutenção
- Material
- Equipamento
- Mão-de-obra
B - Organização da informação
2 - Fase de
inspecções e
programa de
manutenção
- Estudo das condições ambientais da região
- Factores de risco humanos
- Possíveis problemas de financiamento
C - Estudo dos materiais
Plano previsional de manutenção
3 - Decisão - Análise económica
- Cenários diversos
- Racionalização/sinergia de meios
- Factores de oportunidade
Figura 3.1 – Metodologia proposta para formulação de plano de manutenção em edifícios históricos
34
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
3.3. Descrição das várias fases que constituem o plano previsional de manutenção
3.3.1.
Fase preliminar à elaboração do plano
Na metodologia prevista para a elaboração de um plano de manutenção irão existir diversas fases
distintas até se atingir o documento final pretendido. A primeira dessas fases prende-se com a
caracterização e compreensão do edifício e do ambiente que o rodeia. O património histórico de cada
região caracteriza-se frequentemente pela heterogeneidade de edifícios existentes, bem como a
diferença de ambientes em que se encontram. Será assim fundamental efectuar um estudo preliminar
a cada edifício, estudando-o e entendendo-o da melhor forma possível.
Esta primeira fase será caracterizada pelas seguintes etapas seguidamente descritas:
(1.A)
Compreensão do edifício – de início será importante realizar uma pequena descrição do
edifício histórico em estudo, bem como uma pesquisa referente às grandes modificações
efectuadas na área ao longo dos anos. No caso de o edifício possuir uma forte actividade
turística será relevante quantificar a geração de receitas para a zona histórica em que se
encontra, deste modo a importância da sua conservação assentará não só no seu valor
enquanto património histórico, mas também na receita económica que representa para a
região.
(1.B)
Situação actual do edifício – uma vez que o técnico responsável pela elaboração do plano de
manutenção é muitas vezes um agente exterior à gestão do edifício, esta etapa poderá ser
realizada recorrendo a inquéritos no local, tentando-se desta forma caracterizar as entidades
responsáveis pela gestão e manutenção, efectuando-se perguntas tais como: qual a
manutenção regular realizada? Com que recursos é feita? Existe alguma calendarização
definida? Quem é o responsável pela manutenção?
Este tipo de inquérito pretende, por um lado, conhecer as actividades de rotina do
monumento e respectivas condições de funcionamento (serviços técnicos, equipamento,
pessoal, material, produtos utilizados, calendário, rotinas, entre outros) e, por outro, identificar
as lacunas existentes na acção de conservação/manutenção e respectivas dificuldades
técnicas, financeiras ou outras. Pretende-se ainda perceber qual a imagem interna do edifício,
através da percepção individual do pessoal encarregado de zelar pelo património histórico,
quanto às condições de trabalho, valorização ou afectividade pelo imóvel, relação com
turistas, entre outros (Lobo de Carvalho, 2007).
(1.C)
Estudo do ambiente e potenciais riscos – tal como a experiência italiana demonstra (capítulo
2) o estado de degradação dos elementos está intimamente ligado ao ambiente em que se
inserem, devendo o edifício ser entendido como parte da região onde se encontra e não como
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
35
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
objecto único e isolado. O caso da Torre de Belém e do Mosteiro dos Jerónimos (Moreira
Rato, 2002) descrito no capítulo anterior ilustra bem esta hipótese. Deve-se assim numa fase
preliminar realizar um pequeno estudo das condições climáticas da região, bem como a
orientação e posição espacial dos diversos elementos do edifício.
(1.D)
Gestão interna do edifício – com este último passo pretende-se conhecer que tipo de
equipamento existe no edifício, se existe material específico adequado a operações de
manutenção (tal como andaimes ou pequenas gruas), verificando-se simultaneamente os
acessos que podem ser utilizados. Conjuntamente, deve ser verificada a presença de
percursos de emergência activos (de acordo com a regulamentação existente). Se o edifício
estudado apresentar elevada presença de visitantes, deverão ser analisados os percursos
utilizados para visitas.
3.3.2.
Fase de inspecções e programa de manutenção
Para a elaboração de uma fase de inspecções referente a um plano de manutenção, será sempre
necessário a prévia organização de informação relativa ao imóvel em análise, nomeadamente a sua
descrição tipológica e construtiva.
O processo de estudo de um edifício histórico pode ir desde uma breve inspecção até ao estudo
detalhado do mesmo. Deve-se entender que as inspecções realizadas devem ser práticas e
assegurar apenas a informação necessária para o estudo de manutenção e conservação do edifício,
é interessante analisar que a colecta de grande quantidade de informação se torna desnecessária e
anti-económica, utilizando-se nesta fase fundos que iriam ser necessários para garantir acções de
manutenção essenciais no futuro (Weaver, 1997).
3.3.2.1. Levantamento de dados (2.A)
No levantamento de informação gráfica dever-se-á começar com a procura de documentos existentes
e disponíveis tais como plantas, alçados e isometrias executados em diferentes épocas, percebendose assim também as várias intervenções realizadas ao longo do tempo. Levantamentos fotográficos
actuais (de preferência recolhidos com tecnologia fotométrica) ajudarão a complementar os
documentos já existentes. O uso da fotogrametria tem vindo a ser adoptado nos últimos anos, e é
aconselhado o seu uso pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios – ICOMOS (Weaver,
1997). Este levantamento de dados será particularmente importante para a obtenção de uma rigorosa
base de trabalho, nomeadamente do ponto de vista métrico, particularmente útil para a medição e
quantificação de áreas e materiais.
Para além da recolha de dados actuais através de fichas de levantamento (Figura 3.2), será
importante conhecer a evolução física do monumento em anos passados, nomeadamente ao nível
das intervenções realizadas (localização, natureza, extensão, custo) bem como anomalias
36
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
recorrentes e ritmos de degradação. Esta informação será bastante útil, especialmente ao nível de
estabelecimento de prioridades e preparação de rotinas, sabendo-se assim de antemão as áreas
mais críticas a ter em conta.
TESE DE MESTRADO - PLANO PREVISIONAL DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
FICHAS DE LEVANTAMENTO
LEVANTAMENTO ARQUITECTÓNICO E FUNCIONAL
Planta zona 1 - Palácio da Pena - Identificação espacial
Daniel Nóbrega Tomásio Lopes Soares
001 - Fachada Norte
002 - Mirante
003 - Fachada Este
004 - Fachada Sul
005 - Fachada cilíndrica
006 - Fachada Sul
007 - Fachada cilíndrica
008 - Fachada Oeste
Desenho:
1
esc: 1/200
009 - Fachada Norte
010 - Fachada Oeste
011 - Fachada Este (cozinha)
012 - Fachada Norte (bar)
013 - Fachada Este (bar)
014 - Fachada cilíndrica (superior)
015 - Fachada cilíndrica (superior
016 - Fachada cilíndrica (superior)
Figura 3.2 - Exemplo de ficha de levantamento
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
37
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
3.3.2.2. Organização da informação (2.B)
A divisão do edifício em elementos fonte de manutenção já referenciada, tem como principal objectivo
o desenvolvimento de um sistema de identificação individual e clara de cada elemento, tendo em
vista a sua localização, função e relação com os restantes elementos construtivos.
A identificação de cada elemento fonte de manutenção do ponto de vista espacial e funcional deve
ser realizada de forma a não existirem equívocos no seu reconhecimento. Por exemplo quando se
refere uma cantaria de uma janela na fachada oeste, não se poderá confundir o piso, a fachada (no
caso de existirem mais que uma fachada) e a janela (poderão existir várias janelas iguais na mesma
fachada). Este tipo de identificação é também importante do ponto de vista funcional, podendo-se por
exemplo distinguir dentro de um mesmo vão o vidro da estrutura de suporte.
Este tipo de abordagem ao sistema construtivo de um edifício provém da Teoria Geral dos Sistemas
(Minati, 2004). Trata-se de uma abordagem teórica e conceptual do conhecimento, válida para
qualquer ramo da ciência, que consiste (simplificadamente) numa análise das relações complexas
resultantes de um conjunto de componentes individuais, formando um sistema (tal como o conjunto
de elementos construtivos que existem um edifício). Este tipo de identificação adquire também
elevada importância para uma futura informatização de todos os elementos fonte de manutenção.
De forma a ser possível implantar este sistema em planos de manutenção de edifícios históricos
procedeu-se à adaptação da norma italiana (Carlini, 2003) sobre a manutenção do edificado, que
consiste num código alfanumérico, composto por duas partes: a identificação do elemento no
contexto do sistema construtivo (em caracteres de texto) e a sua localização funcional e numeração
sequencial (em numeração árabe).
Figura 3.3 – Exemplo da codificação de elementos fonte de manutenção
No exemplo da Figura 3.3 a codificação do elemento fonte é feita pela especificação da sua classe e
elemento (em caracteres textuais), seguidos da sua localização espacial e numeração sequencial (em
38
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
numeração árabe), neste exemplo refere-se o elemento Vidro simples (Vs) da classe Vãos (VAo),
localizado na fachada 026, na janela número 2.
De modo a ser possível identificar de forma correcta e inequívoca os vários elementos fonte que
constituem o edifício, deverá ser seguida a seguinte hierarquia de níveis:
i)
Área: posição do elemento face ao envelope construtivo (exterior ou interior), por exemplo, a
cobertura.
ii)
Grupo: posição do elemento no contexto de unidades construtivas ou tipológicas, por
exemplo, a torre.
iii)
Classe/Centro de custo: posição do elemento segundo o seu agrupamento técnico ou
funcional, que coincide também com a definição dos centros de custo, importantes para a
gestão financeira da manutenção, por exemplo, as drenagens pluviais.
iv)
Elemento: identificação do tipo de elemento construtivo, importante para a racionalização dos
trabalhos de manutenção (materiais, tipos de trabalho, mão-de-obra específica, entre outros),
por exemplo, as caleiras (Lobo de Carvalho, 2007).
Esta decomposição serve também para estruturar o planeamento financeiro que será necessário
realizar posteriormente, fazendo corresponder o código de cada classe a centros de custo, ou seja
permite que no final seja feito uma contabilização por classes de elementos. O recurso aos referidos
parâmetros de avaliação permite individualizar os custos por zona ou elemento, auxiliando na análise
estratégica e apoio à decisão. Por exemplo, para definir a manutenção periódica associada à limpeza
de cantarias será analisada apenas essa classe de elementos, somando-se as áreas afectas a essa
operação de limpeza, permitindo também perceber a quantidade, complexidade e custo dos trabalhos
em causa.
A informação descrita no Quadro 3.2 e na Figura 3.3 deverá ser recolhida através de uma primeira
fase de inspecções:
Quadro 3.2 - Ficha de inspecção nº1: levantamento dos EFM em edifícios históricos
Centro de custo
Área
Grupo
cod.
Classe
cod.
Elemento
Quantidade
(un/m/m2)
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
Data
Código
completo
elemento
39
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Figura 3.4 – Exemplo de codificação de EFM na fachada de um edifício histórico
3.3.2.3. Estudo dos materiais (2.C)
Nos últimos anos têm vindo a ser desenvolvidos vários métodos de avaliação de elementos com base
em estados de degradação. O método de avaliação do estado de conservação de edifícios (MAEC)
foi desenvolvido pelo Laboratório Nacional de engenharia Civil (LNEC) a pedido do Gabinete do
Secretário de Estado Adjunto e da Administração Local, do XVII Governo Constitucional (no quadro
do Regime de Arrendamento Urbano, Lei nº06/2006, de 27 de Fevereiro). A metodologia
desenvolvida tem como objectivo estabelecer um conjunto de procedimentos que permitam avaliar
com rigor, objectividade e transparência o estado de conservação de edifícios, habitacionais e não
habitacionais, numa escala de vários níveis (Paiva & Pedro, 2005). O resultado da avaliação da
edificação teria como finalidade determinar o valor máximo de actualização da renda.
Os critérios de avaliação adoptados permitem relacionar, para cada elemento funcional, as
características do edifício ou do locado vistoriado com um nível de escala de anomalias, sendo cada
40
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
elemento funcional classificado em dois níveis (Paiva & Pedro, 2005):
- a gravidade da anomalia, numa escala de 1 a 5, onde 1 significa anomalia muito grave e 5
a ausência de anomalia;
- a importância do elemento funcional para a construção, onde é atribuído a cada elemento
funcional uma ponderação numa escala de 1 a 6;
O método referido sofreu sempre uma avaliação positiva desde que foi implementado, tendo
cumprido com bastante eficiência o objectivo para o qual foi criado (determinação do valor máximo da
actualização da renda). Em forma de crítica este método apresenta algumas restrições, as quais são
apresentadas resumidamente em seguida (Paiva & Pedro, 2005):

a avaliação centra-se principalmente no impacto que o estado de conservação do locado tem
nas condições de habitabilidade, desprezando completamente as causa da anomalia, que
seriam importantes para futuras obras de reparação;

durante a inspecção, existe a oportunidade de avaliar a qualidade dos locados ou verificar a
existência de condições de segurança ou saúde segundo as exigências actuais, aspectos
que também não são verificados na aplicação do MAEC;

a avaliação do estado de conservação é realizada com base numa inspecção visual do
locado, não se recorrendo à consulta de projectos, à análise do historial de obras ou à
realização de ensaios ou sondagens, atitudes que poderiam fornecer informações
importantes para uma avaliação com mais rigor.
Todos os pontos anteriormente mencionados trariam informações importantes sobre o estado de
conservação de um locado, mas, deve-se também ter em conta que tornariam as inspecções mais
longas e dispendiosas, sem vantagens para os objectivos do MAEC. No entanto estes pontos são
muito importantes porque reflectem melhorias a efectuar ao método, caso se pretenda utilizar este
com outros objectivos.
As instruções de aplicação deste método, incluem apenas critérios gerais de avaliação e exemplos de
sintomas de anomalias frequentes, não existindo informações que expliquem como interpretar os
sinais de anomalia bem como identificar as prováveis causas (Paiva & Pedro, 2005). Com vista a
apoiar o planeamento de intervenções de manutenção e conservação em edifícios históricos, irá
utilizar-se como base este método, inserindo-se algumas modificações à sua estrutura, de forma a
adaptá-lo ao tema de estudo.
Outro projecto que serve de referência à metodologia apresentada neste capítulo é a Carta de Risco
do Património Arquitectónico, criada em 1997 pela DGEMN (capítulo 2), que deu origem a fichasdiagnóstico de carácter global que tinham como objectivo a constituição de uma ferramenta central de
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
41
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
planeamento de intervenções, através da hierarquização dos imóveis considerados prioritários,
classificando-os através do seu grau de degradação e respectiva prioridade de intervenção. Uma vez
que estas fichas fazem referência a anomalias e causas prováveis (ao contrário do MAEC), estas
servirão também como base para a criação de fichas de inspecção elaboradas neste trabalho.
Com base nos métodos anteriormente descritos foi desenvolvida uma classificação de anomalias
(Quadro 3.3) para utilização neste trabalho. As anomalias serão analisadas através de inspecções no
local, recolhendo-se sempre que possível informação fotográfica, e analisando-se simultaneamente
as possíveis causas prováveis das mesmas.
Quadro 3.3 – Classificação de anomalias para avaliação do estado de degradação dos elementos fonte
em edifícios históricos
Critério
Classificações
Estado de degradação
dos elementos
(ED)
Descrição
Sem anomalias
(SA)
1
Ausência de
significado
anomalias
ou
anomalias
sem
Razoável
(RA)
2
Anomalias que requerem trabalhos de limpeza,
substituição e reparação de fácil execução.
Mau
(MA)
3
Anomalias que requerem trabalhos de limpeza,
substituição e reparação de difícil execução.
Ruína
(RU)
Anomalias que envolvem risco de colapso
4 estrutural, perda cultural e perigo para os utentes;
substituição total.
O estado de degradação de cada EFM será recolhido com auxílio da ficha de inspecção nº2 (uadro
3.4), bem como as anomalias observadas e possíveis causas para as mesmas.
Quadro 3.4 – Ficha de inspecção nº2, avaliação do estado de degradação dos elementos em edifícios
históricos
Código do
elemento
Designação do
elemento
Estado de degradação
do elemento
SA
R
M
Anomalias
observadas
R
Legenda: SA=Sem anomalias; RA=Razoável; MA=Mau; RU=Ruína
42
Possíveis causas
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
3.3.2.4. Acções da manutenção (2.D)
Depois de terem sido identificados os elementos fonte de manutenção do edifício, bem como
quantificado o seu estado de degradação (associado às anomalias encontradas aquando a
inspecção), importa agora definir prioridades e periodicidades para as acções de manutenção que se
pretende implementar.
Desta forma, é necessário definir em primeiro lugar os critérios utilizados para a quantificação da
necessidade de manutenção de cada elemento. É importante nesta fase analisar critérios utilizados
em trabalhos realizados anteriormente, nomeadamente os aplicados em edifícios correntes,
corrigindo e adaptando metodologias de forma a ser possível e coerente a sua aplicação em edifícios
históricos. A apreciação do critério “valor cultural” revela-se de especial importância, associando-se a
características como a importância artística, autenticidade histórica ou valor estético do elemento,
constituindo-se assim o factor diferenciador da manutenção de edifícios históricos face a outros
imóveis.
São de seguida apresentados alguns métodos actualmente utilizados na caracterização de
periodicidade e escalonamento de acções de acordo com os níveis de degradação apresentados
pelos elementos analisados. Estes métodos baseiam-se em inspecções previamente realizadas ao
edifício, e destinam-se a traçar estratégias de intervenção no domínio da manutenção/reabilitação.
i)
Fórmula de Roue´s
Esta fórmula surge no regulamento japonês de manutenção, onde apresenta um processo de
priorização das intervenções em edifícios, fornecendo um índice de prioridade de intervenção (P)
determinado na Equação 3.1 (Rodrigues, 1989)
[(
)
(
)
(
)]
(3.1)
Onde:
a = Probabilidade de falha
b = Importância do elemento
c = Efeito de eventual falha
d = Facilidade em actuar
e = Importância para a segurança
f = Efeito a longo prazo
Aplicando a Equação 3.1 aos elementos fonte manutenção consegue-se assim obter uma hierarquia
de prioridades, estabelecendo-se um critério de intervenção em três fases, incluindo na primeira 50%
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
43
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
dos elementos, na segunda 30% e na terceira 20%.
Esta equação permite assim determinar num edifício em serviço, quais as necessidades de
intervenção (tendo em conta factores de prioridade), realizando-se assim um escalonamento das
acções em função da sua prioridade de intervenção. É ainda de referir que a aplicação deste método
é rápida e intuitiva, embora a probabilidade de falha não seja muito fácil de determinar. Uma síntese
das vantagens e desvantagens desta fórmula é apresentado no quadro 3.5.
Quadro 3.5 – Vantagens e desvantagens da fórmula de Roue´s (adaptado de Cavaco, 2012)
Vantagens
Aplicação rápida e intuitiva. Possui uma grande quantidade de critérios para
avaliar os vários elementos. O critério "Importância para a segurança" revela-se o
mais importante da lista, situação perfeitamente aceitável de forma a não por em
causa a integridade dos utentes do edifício.
Não executa uma classificação directa do estado de degradação dos elementos,
Desvantagens analisando ao invés a probabilidade de falha, para a determinação desta
probabilidade é necessário a consulta de todos os registos de intervenções
anteriores, o que se revela uma tarefa muito difícil de executar.
ii)
Método multi-atributos
O método multi-atributos foi aplicado ao domínio da manutenção de edifícios devido a um trabalho
desenvolvido pelo professor Allan Spedding, autor do método da matriz de prioridade (Spedding et
al., 1994). Possivelmente devido a estar envolvido no desenvolvimento dos dois métodos, estes
apresentam grandes semelhanças nomeadamente em algumas partes da sua metodologia (Cavaco,
2012)
A metodologia da matriz de prioridade permite hierarquizar necessidades de intervenção em edifícios
ou conjunto de edifícios. É estabelecido um quadro onde se identificam e ponderam as necessidades
de manutenção para uma lista de elementos da construção proposta pelo autor do método. Na
inspecção visual a realizar ao edifício, cada elemento é avaliado de 1 (pior) a 3 (melhor) segundo os
seguintes quatro critérios (Rodrigues, 1989).
C1 – Estado de conservação;
C2 – Importância do edifício (idêntico para o mesmo edifício);
C3 – Importância do factor utente;
C4 – Qualidade da solução construída.
Após a avaliação, é realizada a soma dos critérios para cada elemento, sendo os que possuem os
resultados mais baixos os mais prioritários, podendo assim ser construída uma hierarquia de
44
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
necessidades de manutenção.
Em conclusão, este método é de muito fácil de aplicar mas no entanto é pouco preciso devido ao
pequeno número de patamares de avaliação que possui. Devido à reduzida escala de classificação
que fornece, leva o técnico de manutenção a classificar a maioria dos elementos com nota 2
(Rodrigues, 1989).
O método multi-atributos que surge da evolução da matriz de prioridade, trata-se também de um
processo de hierarquização de intervenções, suportado por uma equação de ponderação de
diferentes factores, aplicada a cada elemento da construção segundo a Equação 3.2 (Rodrigues,
1989).
∑
(
)
(3.2)
Onde:
SJ = Índice global
SJi= Ponderação segundo o critério i
W i= Peso do critério i
Face aos quatro critérios definidos para a metodologia da matriz de prioridade, são agora
apresentados seis, onde cada um deles é ponderado entre 1 (menos urgente) a 5 (mais urgente). Os
critérios são:
C1 - importância do edifício (idêntico para o mesmo edifício);
C2 - condição física;
C3 - importância da utilização;
C4 - efeito nos utentes;
C5 - efeito na construção;
C6 - efeito na disponibilidade das utilizações.
Com os critérios definidos, à semelhança da metodologia da matriz de prioridades, é necessário
avaliar cada elemento do edifício e proceder à aplicação da Equação 3.2 de forma a obter resultados.
Com os índices calculados para cada elemento é possível elaborar uma hierarquia de intervenção,
onde se selecciona para uma primeira fase de intervenção 20% dos elementos mais pontuados, para
uma segunda 30% e para a terceira 50% (Rodrigues, 1989).
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
45
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Quadro 3.6 – Vantagens e desvantagens do método multi-atributos (adaptado de Cavaco, 2012)
iii)
Vantagens
Método completo de rápida aplicação. Novos factores de
avaliação introduzidos, com escala de classificação de 5
patamares (matriz de prioridade apenas apresentava 3).
Desvantagens
Alguns critérios não precisavam de uma escala tão alargada,
como por exemplo a "Importância do edifício" e "Efeito nos
utentes".
Método do PIM-CC
Outro método de escalonamento de acções a ser abordado neste trabalho é o utilizado em (FloresColen & Brito, 2006) e (Flores-Colen, 2006), que é uma metodologia desenvolvida para aplicação em
edifícios escolares. Este método baseia-se em classificação das anomalias com base em três
critérios, os quais estão indicados no Quadro 3.7.
Quadro 3.7 – Critérios usados no método PIM-CC (Flores-Colen, 2006)
Critério
Classificação máxima
Classificação mínima
Severidade das anomalias
7
1
Extensão das anomalias
3
1
Criticidade do elemento
5
1
Cada elemento é avaliado segundo os critérios do Quadro 3.7 e os resultados são introduzidos na
Equação 3.3 de forma a calcular o “Indicador de escalonamento”.
(3.3)
Com os resultados da Equação 3.3, determina-se o “Indicador de escalonamento relativo” que traduz
a posição relativa dos vários elementos fonte de manutenção em relação ao elemento com maior
pontuação, através da Equação 3.4:
(
)
(3.4)
Com base nos dados fornecidos pela Equação3.4, é possível realizar um escalonamento das acções
correctivas e de beneficiação, de acordo com os critérios presentes no Quadro 3.8.
46
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Quadro 3.8 – Escalonamento de acções no método PIM-CC (Flores-Colen, 2006)
Tipo de acções
Máximo de tempo até intervenção
≥ 0.80
Imediatas
Curto prazo
0.50 ≤
Longo prazo
< 0.80
< 0.50
Imediato
Dois anos
De dois a cinco anos
Quadro 3.9 – Vantagens e desvantagens do método PIM-CC
Vantagens
Os factores escolhidos na atribuição de cada classificação
encontram-se bem definidos e podem ser actualizados. Este
método estabelece períodos temporais para a intervenção em
elementos, ao invés de apenas definir fases de intervenção
Desvantagens Os critérios e classificações definidos neste modelo podem não ser
os mais adequados para edifícios que não sejam escolares.
iv)
Método proposto para edifícios históricos
Para efectuar a caracterização de periodicidade e escalonamento de acções de intervenção em
edifícios históricos, foi desenvolvida uma fórmula baseada nas anteriores, sendo que se procurou dar
um maior ênfase aos critérios até aqui considerados de maior relevância para o tema em estudo.
Para a recolha de dados necessários para avaliação de critérios, deve-se proceder a inspecções
cuidadosas, constituindo esta fase uma boa oportunidade para se conhecer com mais detalhe as
características espaciais e construtivas do imóvel em análise.
Os critérios a utilizar na equação de priorização de acções desenvolvida (Equação 3.5) estão
descritos nos Quadros 3.10 e 3.11.
(3.5)
Onde:
ED = Estado de degradação
VC = Valor cultural
CR = Condição em relação à restante estrutura e elementos
AC = Acessibilidade para manutenção
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
47
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Quadro 3.10 – Critérios a utilizar na equação de priorização de acções desenvolvida
Critério
Estado de degradação
dos elementos (ED)
Valor Cultural (VC)
Classificações
Sem anomalias
(SA)
Razoável
(R)
Mau
(M)
Ruína
(R)
Sem valor
(SV)
Baixo
(B)
Relativo
(R)
Significativo
(S)
Condição em relação à
restante estrutura e
elementos (CR)
Nada
importante
(NI)
Pouco
importante
(PI)
1 Ausência de anomalias ou anomalias sem significado
Anomalias que requerem trabalhos de limpeza, substituição e
reparação de fácil execução.
Anomalias que requerem trabalhos de limpeza, substituição e
3
reparação de difícil execução.
Anomalias que envolvem risco de colapso estrutural, perda
4
cultural e perigo para os utentes; substituição total.
2
1 Elemento decorativo sem valor histórico, artístico ou estético.
2
Elemento de acompanhamento, sem significativa associação
histórica ou valor decorativo.
Elemento resultante de alterações posteriores, associados a
3 importantes campanhas de obras, de autor reconhecido ou
com relativo valor decorativo.
Elemento de fábrica original, associado a importantes factos
4 ou personalidades históricas, executado por autor reconhecido
ou com elevado valor decorativo.
1
A sua condição não afecta a restante estrutura ou elementos
próximos.
2
A sua condição afecta parcialmente a restante estrutura ou
elementos próximos
Importante
(I)
A sua condição pode afectar em grande extensão a restante
3 estrutura ou elementos próximos (Ex: falha elementos de
impermeabilização).
Muito
importante
(MI)
4
Total
(T)
Fácil
(F)
Acessibilidade para
manutenção (AC)
Descrição
Mediana
(M)
Difícil
(D)
A sua condição compromete gravemente a restante estrutura
ou elementos próximos (Ex: danos estruturais).
Elemento com boa acessibilidade, não necessita de meios
1 exteriores para resolver a situação, e não causa
constrangimentos no funcionamento do edifício.
Elemento cuja acessibilidade implica utilização de meios
2 específicos, mas não implica constrangimentos no
funcionamento do edifício.
Elemento cuja acessibilidade implica utilização de meios
específicos, a execução dos trabalhos obriga a especiais
3
medidas de segurança, e causa alguns constrangimentos no
funcionamento do edifício.
Elemento com difícil ou nenhuma acessibilidade, a execução
dos trabalhos induz riscos para a integridade física, necessita
4 de meios exteriores para resolver a situação (difícil acesso),
pode necessitar de técnicos especializados e causa grandes
constrangimentos no funcionamento do edifício.
Os critérios apresentados foram escolhidos como os de maior relevância para a priorização de
48
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
acções de manutenção em edifícios históricos, o Quadro 3.11 descreve os motivos que levaram à sua
adopção.
Quadro 3.11 – Explicação dos critérios escolhidos
Critério
Motivo de escolha
Estado de degradação
dos elementos
É importante avaliar o estado de degradação dos elementos fonte de
manutenção, avaliando a propagação das anomalias existentes.
Valor cultural
Uma vez que a aplicação da metodologia será em edifícios históricos,
este critério será o principal diferenciador da manutenção efectuada
em edifícios correntes. Pretende-se assim dar importância à
conservação de elementos, ao invés da sua substituição.
Condição em relação à
restante estrutura e
elementos
Este critério prende-se com a possibilidade de anomalias presentes em
certo EFM se possam alastrar ao resto da estrutura do edifício, ou a
elementos próximos.
Acessibilidade para a
manutenção
A acessibilidade determinará a facilidade de intervenção sobre o
elemento.
A classificação do estado de degradação dos elementos será feita através da ficha de inspecção nº2
(Quadro 3.4) já apresentada anteriormente. As classificações referentes aos restantes critérios serão
feitas na ficha de inspecção nº3 apresentada no Quadro 3.12.
Quadro 3.12 – Ficha de inspecção nº3: avaliação dos restantes critérios
Código do
elemento
Condição em relação à
restante estrutura e
restantes elementos
Valor Cultural
Designação do
elemento
SV
B
R
S
NI
PI
I
MI
Acessibilidade para a
manutenção
T
F
M
D
Legenda: SV=Sem valor; B=Baixo; R=Relativo; S=Significativo; NI=Nada Importante; PI=Pouco importante;
I=Importante; MI=Muito Importante; T=Total; F=Fácil; M=Mediana; D=Difícil
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
49
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Uma vez classificados os EFM de acordo com os critérios referidos, serão introduzidos na Equação
3.5 de forma a ser calculado o índice de escalonamento ponderado para cada elemento.
Depois de calculado o Iponderado de cada elemento, este será inserido na Equação 3.6 de forma a ser
possível determinar-se, para cada elemento do edifício,o máximo tempo até à próxima intervenção de
acordo com os intervalos de tempo definidos no Quadro 3.13.
(
(3.6)
)
Quadro 3.13 – Escalonamento de acções no método utilizado para edifícios históricos
Tipo de acções
Máximo de tempo até intervenção
≥ 0.90
Imediatas
Curto prazo
0.40 ≤
Longo prazo
Imediato
< 0.90
< 0.40
5 anos
De 5 a 10 anos
A equação definida neste método será calibrada através da sua aplicação no caso de estudo
desenvolvido no capítulo 4.
3.3.2.5. Custos de manutenção (2.E)
O método do Custo Global de um edifício, conhecido pela sigla anglo-saxónica LCC – Life Cycle
Costs visa obter o custo total de um edifício, tendo em vista os custos de aquisição, operação,
manutenção, substituição ou revisão, energéticos e demolição ou valor residual. Tendo em conta o
caso de estudo analisado apenas importa analisar os gastos relativos a manutenção, sendo que será
necessário aplicar algumas modificações ao método, nomeadamente em relação aos custos de
manutenção e substituição de elementos pertencentes a edifícios históricos.
Inicia-se então com valores de manutenção no ano 0, para cada elemento fonte de manutenção. Com
base neste conhecimento, efectuam-se somatórios de estimativas de custos anuais actualizados dos
elementos durante um período de tempo a determinar, ocorrendo em cada elemento, capitalizações
anuais de acordo com o índice de preços de consumidor (Cavaco, 2012).
Para o cálculo dos respectivos valores anuais capitalizados por elemento utiliza-se a Equação 3.7
(Flores, 2006).
50
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
(
)
(3.7)
Onde:
Vcapitalizado = Valor capitalizado anual no ano t;
Ce = Custo de manutenção ou substituição no ano 0;
tc = Taxa de crescimento (índice preços de consumidor + taxa diferencial de preços);
t = Ano de cálculo.
Após o cálculo dos valores capitalizados, procede-se ao somatório por ano dos custos de cada
elemento, de forma a obter os valores a preços correntes por ano de acordo com a Equação 3.8.
∑
(3.8)
Onde:
Ct = Valores a preços correntes para o ano t;
N = Número de elementos em estudo;
Vcapitalizado = Valor capitalizado anual no ano t de cada elemento.
Procede-se assim ao cálculo do Valor Actual, actualizando os preços de acordo com a Equação 3.9
(Flores-Colen & Brito, 2010)
∑
(
)
(3.9)
Onde:
VA = Valor actual;
Ct = Valores a preços correntes para o ano t;
t = Número de anos no período de estudo,
d = Taxa de actualização nominal com risco (taxa de iliquidez + taxa de risco + taxa de inflação + taxa
nominal sem risco) (Flores, 2006).
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
51
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
3.3.3.
Plano previsional de manutenção
O tipo de manutenção prevista que se pretende aplicar a edifícios históriccos resulta de um conjunto
de acções ou rotinas de manutenção, com o objectivo de responder ao dia-a-dia do monumento, e
decorre sobretudo de uma actuação preventiva, relativamente a aspectos simples da manutenção
corrente. Estas acções incluem acções de manutenção corrente tais como:
- Limpeza regular (ex: drenagens pluviais, limpeza de caleiras);
- Substituição de bens consumíveis (ex: lâmpadas);
- Monitorização de sistemas instalados (ex: rede eléctrica, dissuasão de pombos);
- Acções realizadas no contexto de manutenção reactiva (ex: vidro partido, telha deslocada).
Outro dos aspectos que poderá ser previamente introduzido na definição de um plano de manutenção
será a realização de inspecções. Com este procedimento é possível acompanhar a evolução de
anomalias nos monumentos, e ajustar o escalonamento de acções definido sempre que assim seja
necessário. A experiência holandesa demonstra que a execução de novas inspecções em intervalos
de 12 ou 24 meses é vital para uma abordagem de manutenção pró-activa (Dann et al., 1999).
Espera-se, com a realização de inspecções, reduzir o aparecimento de anomalias imprevistas e de
situações de emergência, devido ao seu caracter de imprevisibilidade, de resolução rápida, e
provocam perturbações inesperadas no funcionamento do edifício. Estas acções, particularmente as
inspecções anuais e pequenos trabalhos de manutenção, deverão ser realizadas pelo pessoal técnico
interino ao edifício, para minimização dos custos, desde que este possua qualificações mínimas para
o efeito (Flores-Colen & Brito, 2006).
Outros aspectos a considerar na definição de um plano previsional de manutenção, incluem o
respectivo financiamento, isto é, o montante disponível anualmente para a sua execução, a utilização
de equipas internas ou o recurso a contratos externos, o nível de manutenção pretendido (que varia
conforme a importância e tipo de utilização do imóvel), a acessibilidade geral do imóvel, bem como a
legislação respeitante à segurança e higiene no trabalho (Lobo de Carvalho, 2007). Todos estes
factores influenciam a estrutura e organização do plano, um exemplo de planeamento de acções de
um plano previsional de manutenção é apresentado no Quadro 3.14.
52
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
Quadro 3.14 – Ficha de especificação de acções no plano previsional de manutenção para edifícios históricos
Codificação dos EFM
Área Grupo Classe (centro de custo) Elemento
Rotinas
Tipo
Periodicidade
Pontual Mensal Trimestral Semestral Anual Bianual Quinquenal
Meios necessários
Pessoal Equipamento Serviços
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
Custos
Quant. Duração Custo
Orçamento anual
Pessoal Material Total
53
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
3.3.4.
Decisão – análise económica (3)
Depois de concluída a fase de planeamento de acções é importante programar a sua
execução, tendo em conta factores que não sejam baseados apenas na degradação de
elementos e condição física. É importante analisar o plano previsional de manutenção e
conseguir programar agrupamentos de acções, ajustando trabalhos de natureza semelhante ou
que possam ser realizados na mesma altura.
Esta fase de programação pode ser bastante importante do ponto de vista económico, em
situações em que se trate de um monumento de grande adesão turística deve-se evitar as
acções de manutenção no mês de maior afluência, ou tratando-se de um edifício religioso,
dever-se-á ter em conta os horários de celebrações efectuadas.
Grande parte das decisões de manutenção terão em conta aspectos de natureza económica,
assim o gestor do monumento ou responsável pela manutenção, deverá ter em conta os
recursos que possui em cada momento e tentar planear com antecedência acções que
permitam uma manutenção eficiente e o mais abrangente possível.
3.4.
Considerações finais do capítulo
No início deste capítulo foi apresentada uma metodologia de manutenção para aplicação em
edifícios históricos. O modelo desenvolvido pode ser utilizado em diferentes edifícios,
procedendo a adaptações quando necessário.
A metodologia foi dividida em várias partes. De início são definidos os passos a efectuar numa
fase preliminar à elaboração do plano, tais como a compreensão e situação actual do edifício, e
estudo da região onde este se insere.
De seguida foram definidos os vários procedimentos a efectuar na fase de inspecções. Nesta
fase foi descrita a identificação e organização de elementos fontes de manutenção, sendo
posteriormente analisado o seu estado de degradação e critérios de priorização através de
fichas de inspecção desenvolvidas para o efeito.
Foi também desenvolvida uma fórmula destinada à hierarquização de acções de manutenção
em edifícios históricos; esta equação baseia-se em procedimentos já existentes e tem como
objectivo especificar um escalonamento de acções de acordo com as necessidades de
manutenção de cada edifício.
Por último, foram analisadas fórmulas de actualização de custos referentes às acções de
manutenção especificadas no plano de manutenção, tendo em conta que se pretende calcular
54
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
custos para um horizonte no mínimo de 10 anos, e que estas acções de manutenção poderão
ser reprogramadas tendo em conta factores de oportunidade e racionalização de recursos.
No próximo capítulo, a metodologia descrita será aplicada ao Panteão Nacional, servindo este
monumento como caso de estudo.
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
55
3. M ETODOLOGIA DE MANUTENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS
56
4. CASO DE ESTUDO
4. CASO DE ESTUDO
4.1.
Considerações gerais
Neste capítulo, pretende-se aplicar a metodologia de manutenção apresentada no capítulo anterior a
um edifício histórico. Como caso de estudo será utilizado o Panteão Nacional, edifício situado na
zona histórica de Lisboa, e classificado com Monumento Nacional.
De início será feita a descrição do edifício e da sua envolvente, seguindo-se o levantamento de dados
e intervenções anteriores, o que permitirá dividir o edifício em elementos fonte de manutenção e dar
início à campanha de inspecções.
A aplicação da metodologia desenvolvida terá como principais objectivos:
- caracterização das principais anomalias existentes no edifício;
- calibração da equação apresentada referente a priorização de intervenções;
- realização das previsões de custos de manutenção associadas às calendarizações das acções de
manutenção;
- elaboração de um plano previsional de manutenção para os próximos 10 anos do edifício.
A aplicação da primeira parte da metodologia (fase preliminar à elaboração do plano de manutenção)
será resumida apenas num sub-capítulo, onde será feita uma breve descrição do edifício histórico e
da actual situação do mesmo.
No âmbito desta dissertação, considera-se apenas a envolvente exterior do edifício – fachadas e
coberturas – para aplicação do plano previsional de manutenção.
4.2.
i)
Fase preliminar à elaboração do plano
Compreensão e situação actual do edifício (etapas 1.A e 1.B da metodologia)
O Panteão Nacional, situado na zona histórica de Santa Clara (freguesia de São Vicente de Fora,
Lisboa), ocupa o edifício originalmente destinado para igreja de Santa Engrácia, acolhendo os
túmulos de grandes vultos da história portuguesa. A actual tutela do edifício pertence ao IGESPAR.
O actual templo situa-se no local de uma primitiva igreja, erguida em 1568 por determinação da
Infanta D. Maria, filha de Manuel I de Portugal, por ocasião da criação da antiga freguesia de Santa
Engrácia [W8].
Essa antiga Igreja, severamente danificada por um temporal em 1681, foi totalmente reconstruída
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
57
4. CASO DE ESTUDO
pelo arquitecto João Antunes. As obras perduraram tanto tempo que deram azo à expressão popular
"obras de Santa Engrácia" para designar algo que demora muito tempo a acabar. A morte do
Arquitecto Régio, em 1712, implicou o quase abandono da obra, preterida por D. João V. Após a
extinção das ordens religiosas em 1834, a Igreja serviu de depósito de material de guerra e fábrica de
roupa e calçado.
Em 1910 foi classificado como Monumento Nacional, sendo o actual edifício apenas concluído em
1966 pelos arquitectos e engenheiros da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Foi
assim necessário esperar pela política de recuperação dos monumentos nacionais empreendida pelo
Estado Novo para que Santa Engrácia tivesse, por fim, a sua cúpula.
Embora nunca chegasse a abrir ao culto, conserva, sob a cúpula moderna, o espaço majestoso da
nave, animada pela decoração de mármores coloridos, característica da arquitectura barroca
portuguesa, sendo o edifício coroado com um zimbório de grandes dimensões (Melo et al., 2010).
Este edifício constitui um elemento referencial no perfil da cidade (Figuras 4.1 e 4.2), oferecendo
pontos de vista privilegiados sobre a zona histórica da cidade e sobre o rio Tejo, estando classificado
como Monumento Nacional.
Figura 4.1 – Panteão Nacional, vista do
rio Tejo [W1]
Figura 4.2 – Panteão Nacional, vista aérea [W1]
Foi-lhe atribuída a designação de Panteão Nacional em 1916, sendo que em Agosto de 2003 o
Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra recebe também este estatuto por albergar no seu interior os
túmulos de D. Afonso Henriques e D. Sancho I.
Trata-se de um edifício com arquitectura de maneirismo clássico assimilado ao barroco, com planta
em cruz grega, três capelas absidadas, espaço central quadrangular e quatro torres nos ângulos. O
exterior é marcado pela ondulação dos alçados, com curvas e contracurvas e alternância das formas
clássicas, o que acentua o dinamismo exterior da massa arquitectónica. O barroco do portal decorre
essencialmente dos elementos esculturais que o ornamentam. Os elementos arquitectónicos
58
4. CASO DE ESTUDO
testemunham o barroco italianizante (Melo et al., 2012).
Em altura o edifício divide-se em piso térreo; primeiro piso onde se situam os serviços administrativos
do monumento; segundo piso que contém uma galeria interna; terceiro piso com serviços educativos;
e cobertura em terraço de grandes dimensões, onde se situa o zimbório. A estrutura caracteriza-se
por possuir paredes resistentes de cantaria aparelhada. O zimbório, de construção recente (1966)
caracteriza-se por uma tipologia construtiva totalmente diferente, sendo a sua estrutura de betão
armado revestido com pedra como se pode observar pelas Figuras 4.3 e 4.4.
Figura 4.1 e 4.2 – Construção do zimbório e cúpula pela DGEMN, 1964 [W4]
Os trabalhos de manutenção realizados no monumento são efectuados por empresas exteriores às
entidades que tutelam o monumento (funcionamento em outsourcing).
Devido à falta de existência de um responsável directo pela manutenção do edifício é perceptível que
grande parte das intervenções não ocorra de forma planeada, adoptando-se uma postura reactiva
relativamente a anomalias que ocorram no edifício. Desta forma não é possível a análise de planos
de manutenção elaborados de forma preventiva com o orçamentos previstos para anos futuros.
ii)
Condições ambientais da região em que se insere o edifício (etapa 1.C da metodologia):
Este monumento insere-se numa zona histórica da cidade de Lisboa, encontrando-se a cerca de 500
metros a Oeste de um outro edifício histórico, o Mosteiro de São Vicente de Fora. Na zona adjacente
ao Panteão, no Campo de Santa Clara, realiza-se aos sábados e terças-feiras a Feira da Ladra de
Lisboa. A fachada Sul do edifício está directamente virada para o Rio Tejo, e a fachada Norte
encontra-se bastante próxima do edifício adjacente.
iii)
Gestão interna e receitas do edifício (etapa 1.D da metodologia):
O edifício está aberto ao público de 3ª feira a domingo, e o custo de entrada normal é de 3 euros.
Pontualmente são organizados concertos ou eventos de homenagem promovidos pelo IGESPAR,
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
59
4. CASO DE ESTUDO
alguns destes com entrada gratuita (Figura 4.5).
Figura 4.3 - Preparação de concerto pelo Igespar no interior do edifício (fotografia do autor)
As informações relativas a visitantes anuais do edifício foram disponibilizadas pela Direcção do
monumento e encontram-se descritas no Quadro 4.1.
Quadro 4.1 – Número anual de visitantes no Panteão Nacional (fonte IGESPAR)
Tipo de visitante
Nacional
Estrangeiro
2007
21103
28892
2008
24526
26404
2009
37985
22115
2010
21958
2011
23198
33426
36616
2012
21313
40040
(até 30 de Novembro)
Através da informação disponibilizada é possível verificar uma maior afluência de turistas
estrangeiros, tendo este número vindo a subir bastante ao longo dos anos. A afluência do turistas
nacionais tem-se mantido constante e sempre abaixo do público estrangeiro (sendo o ano de 2009
uma excepção). Considerando o preço médio por bilhete vendido de 2.5 euros (devido aos vários
descontos possíveis), verifica-se que em 2012 o monumento registou uma receita de bilheteira de
aproximadamente 150.000€.
4.3.
Levantamento de dados e intervenções anteriores (etapa 2.A da metodologia)
As antigas intervenções efectuadas no monumento foram acompanhadas pela antiga Direcção Geral
dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), sendo que os documentos existentes foram
passados para o Sistema de Informação para o Património Arquitectónico (SIPA). Efectuando-se uma
pesquisa nesta plataforma [W4] encontraram-se algumas plantas antigas do edifício e um alçado,
esta informação foi completada e transposta para formato digital (Figura 4.6) de forma a ser possível
60
4. CASO DE ESTUDO
ter-se um levantamento arquitectónico e funcional do edifício de fácil utilização, e que possibilita-se a
medição de elementos de forma expedita.
A informação antiga encontrada foi completada com um levantamento fotográfico actual das fachadas
e coberturas do edifício.
Figura 4.4 – Ficha de levantamento arquitectónico e funcional do edifício
Através de contactos efectuados com a Direcção do monumento foi possível recolher algumas
informações relativas a intervenções anteriores. Não foi contudo possível ter acesso a custos
referentes a manutenção, duração dos trabalhos efectuados e orçamentos futuros para manutenção.
Na Figura 4.7 apresenta-se a ficha de levantamento com as intervenções efectuadas no edifício nos
últimos anos.
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
61
4. CASO DE ESTUDO
Figura 4.5 - Ficha de levantamento de intervenções anteriores
4.4.
Divisão do edifício em EFM (etapa 2.B da metodologia)
Como foi descrito na apresentação da metodologia no capítulo 3, deverá ser criada uma lista
completa com a identificação de todos os elementos fonte de manutenção existentes no edifício
histórico em estudo.
Foram identificadas para a envolvente do edifício as áreas, grupos e centros de custo a que cada
EFM irá pertencer. Como identificação espacial foram numeradas as fachadas existentes com a
metodologia anteriormente descrita, sendo que a fachada circular do zimbório foi dividida em duas
(Norte e Sul), ao nível da cobertura foi também diferenciada a zona de terraço da zona de telhado em
cúpula.
62
4. CASO DE ESTUDO
Após se verificar a compatibilidade das informações recolhidas com o código apresentado iniciou-se a
fase de levantamento através da ficha de inspecção nº1 (extracto no Quadro 4.2 e ficha completa em
anexo). A informação aqui apresentada é apenas um exemplo, uma vez que foram levantados cerca
de 500 elementos fonte de manutenção ao longo de todas as fachadas e coberturas do monumento.
Quadro 4.2 – Extracto da ficha de inspecção nº1
Centro de custo
cod.
Classe
cod.
Elemento
Quantidade
(un/m/m2)
Fachada Est. Vertical
(PAe)
Parede exterior
(Ap)
Alvenaria pedra
816,0 m
Fachada Est. Vertical
(PAe)
Parede exterior
(Cs)
Fachada Est. Vertical
(PAe)
Parede exterior
(Cs)
Área
Grupo
Cantaria
simples
Cantaria
simples
2
Data
19.11.12
21,5 m
2
19.11.12
91,0 m
2
19.11.12
Código
completo
elemento
PAeAp
001-1
PAeCs
001-1
PAeCs
001-2
Com os dados recolhidos, passou-se para o passo seguinte do modelo criado, nomeadamente a
avaliação do estado de degradação apresentado pelos elementos fonte de manutenção existentes.
4.5.
Avaliação do estado dos EFM existentes (etapa 2.C da metodologia)
Com base na informação recolhida na ficha de inspecção nº1, é possível preencher as duas primeiras
colunas da ficha de inspecção nº2 (extracto da ficha no Quadro 4.3) com o “código do elemento” e
“designação do elemento”.
Através da segunda inspecção ao monumento verificou-se que o edifício se apresenta de uma forma
geral bem conservado, não existindo nenhum EFM em que o estado de degradação esteja
classificado como ruína.
Quadro 4.3 - Extracto da ficha de inspecção nº2
Código do
elemento
Designação do
elemento
Estado de
degradação do
elemento
SA
PAeAp 001-1
Alvenaria pedra
PAeCs 001-1
Cantaria pedra
RA
MA
x
x
Anomalias
observadas
Possíveis causas
Sujidade
Falta de limpeza
Manchas negras
Sujidade acumulada, falta de
limpeza
RU
Legenda: SA=Sem anomalias; RA=Razoável; M=Mau; RU=Ruína
A fachada principal foi classificada como razoável, sendo que a última campanha de limpeza e
recuperação se deu em 1999/2000 esta não apresenta ainda sintomas de anomalias graves.
Em alguns elementos de cantaria, tal como o PaCs 001-1, são já observáveis sinais de degradação
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
63
4. CASO DE ESTUDO
mais profunda, denotando-se manchas negras em toda a sua área e zonas de degradação do
material (Figura 4.8).
Figura 4.6 – Degradação de cantaria da fachada principal
As anomalias mais graves observadas nesta fachada estão associadas à desagregação de cantarias,
devido à ausência de protecções anti-pombo. Esta fachada possui três estatuários de pedra (por
oposição às outras fachadas que não apresentam nenhum), que servem de local de agregação de
pombos, factor que acelera a degradação nestas zonas (Figura 4.9).
Figura 4.7 – Aglomeração de pombos no estatuário da fachada principal
Esta situação deveria ser corrigida o mais rapidamente possível, pois são já visíveis as zonas de
bicadas e unhadas de pombos, bem como os excrementos existentes no local que actuam como
factor de agressividade química. Seria aconselhável a colocação de redes anti-pombo nas zonas do
estatuário, e um sistema de chapa de agulhas na zona superior das cantarias.
É de assinalar que, apesar da simetria do edifício e aparente semelhança entre todas as fachadas,
elas apresentam anomalias diferentes entre si.
Devido ao enquadramento geográfico do edifício e ambiente circundante, as fachadas laterais
apresentam anomalias relacionadas com a presença humana. A fachada Sul apresenta bastantes
graffiti, situação que encarece bastante a limpeza da pedra (Figura 4.10). A fachada Norte encontrase junto ao Campo de Santa Clara, local onde se realiza a feira da ladra duas vezes por semana; esta
64
4. CASO DE ESTUDO
fachada é correntemente usada como casa de banho pública (Figura 4.11), situação que provoca
várias anomalias relacionadas com a urina em contacto com a pedra constituinte da fachada.
Figura 4.10 – Zona de graffiti na fachada Sul
Figura 4.11 – Acumulação de urina na fachada
Norte
Devido à especificidade deste local, seria aconselhável limitar o acesso a esta zona do monumento,
instalando por exemplo uma vedação que diminuísse o acesso a este lugar.
Na zona da cobertura as principais anomalias estão associadas às drenagens pluviais existentes. Na
zona de terraço existe uma caleira única que contorna todo o edifício (Figura 4.12), e ao longo do
qual descarrega em vários tubos de queda. Através das inspecções efectuadas verifica-se que a
maior parte dos tubos de queda se encontram obstruídos (sendo que muitos deles não possuem ralos
de pinha), razão pela qual a água se mantém na cobertura como se observa na Figura 4.13.
Figura 4.8 – Caleira única que contorna toda a cobertura em terraço
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
65
4. CASO DE ESTUDO
Figura 4.9 – Caleira cheia de água sendo já visível vegetação parasitária
Os sistemas de drenagem pluvial existentes no terraço deveriam assim sofrer intervenções de
limpeza num curto espaço de tempo, de forma a não se verificar a evolução das anomalias até aqui
observadas.
Finalizada a fase de análise do estado de degradação, é necessário proceder ao preenchimento da
ficha de inspecção nº 3, ficando-se assim com todos os dados necessários à aplicação da equação
da hierarquização. Um extracto dessa ficha é apresentado no Quadro 4.4.
Quadro 4.4 - Extracto da ficha de inspecção nº3
Código do
elemento
SV
PAeAp 001-1
Alvenaria pedra
PAeCs 001-1
Cantaria pedra
PAeCs 001-2
Cantaria pedra
Condição em relação à
restante estrutura e
restantes elementos
Valor Cultural
Designação do
elemento
B
R
x
x
x
S
NI
PI
x
x
x
I
MI
Acessibilidade para a
manutenção
T
F
M
D
x
x
x
VaoVs 001-1
Vidro
x
x
x
Legenda: SV=Sem valor; B=Baixo; R=Relativo; S=Significativo; NI=Nada Importante; PI=Pouco Importante;
I=Importante; MI=Muito Importante; T=Total; F=Fácil; M=Mediana; D=Difícil
É de salientar neste caso de estudo que o “Valor Cultural” (principal critério de diferenciação entre
edifícios históricos e edifícios correntes) irá apresentar em alguns elementos do edifício valores
baixos. Este facto deve-se a que, apesar de se tratar um edifício do séc. XVII, as várias
reconstruções e prolongamento das obras fizeram com que grande parte do edifício seja de
construção mais recente.
Por exemplo a platibanda existente com os vários balaustres, apenas foi construída e adicionada ao
edifício em 1964 (Figura 4.14), tendo sido classificada neste trabalho como de “Valor Cultural”
relativo/baixo, ao contrário das cantarias existentes nas fachadas inferiores, classificadas como de
66
4. CASO DE ESTUDO
“Valor Cultural” significativo.
Figura 4.10 – Adição da platibanda às fachadas e construção da cúpula, 1964 [W4]
Assim, para aplicação do critério “Valor Cultural”, o edifício poderá ser dividido em duas partes
distintas (Figura 4.15).
Figura 4.11 – Divisão do edifício em partes distintas
A parte inferior do monumento apresenta construção do séc. XVII, enquanto a parte superior foi
apenas construída em 1964, factor que origina a diferença de valorização. Apesar desta divisão
poderão existir EFM com diferentes classificações, por exemplo o vidro dos vãos foi considerado sem
valor cultural, e a cruz metálica do topo da cúpula classificada com valor cultural relativo.
Terminada a fase de recolha de elementos fonte de manutenção e avaliação do estado dos mesmos
segundo os quatro critérios descritos na metodologia seguida, prossegue-se para a aplicação da
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
67
4. CASO DE ESTUDO
equação desenvolvida para obtenção dos índices de necessidade de manutenção, de forma a ser
possível realizar um escalonamento previsional de acções.
4.6.
Elaboração da hierarquia dos EFM (etapa 2.D da metodologia)
Utilizando os dados recolhidos nas três fichas de inspecção, aplicou-se a Equação 3.5 a cada um dos
elementos fonte de manutenção. Desta forma é possível elaborar-se um escalonamento de acções
de manutenção, analisando-se o índice de escalonamento relativo de cada elemento, e inserindo num
dos intervalos de tempo definidos no Quadro 3.13.
De acordo com as equações apresentadas realizou-se o cálculo do índice de escalonamento relativo
para todos os EFM existentes no edifício, apresenta-se como exemplo um excerto do dos elementos
da fachada principal no Quadro 4.5 (ficha completa de índices de escalonamento em anexo).
Quadro 4.5 – Exemplo de índices de escalonamento da fachada principal
Código
completo
elemento
ED
VC
CR
AC
Índice
ponderado
Índice
relativo
Centro de
custos
PAeAp 001-1
2
3
2
3
38
0,78
Fachada
PAeCs 001-1
3
3
1
3
41
0,84
Fachada
PAeCs 001-2
3
3
1
3
41
0,84
Fachada
VaoVs 001-1
1
1
2
1
17
0,35
Vão
Legenda: ED=Estado de degradação; VC=Valor Cultural; CR=Condição em relação aos restantes
elementos; AC=Acessibilidade para manutenção
Tendo como exemplo a fachada principal, verifica-se que depois de serem calculados todos os
índices de escalonamento relativo, os EFM pertencentes à classe “parede exterior” (Alvenaria de
pedra) irão necessitar de intervenções num espaço de tempo mais curto quando comparados com os
EFM pertencentes à classe “vãos” (cantarias de janelas e estruturas de suporte em madeira).
Este tipo de escalonamento de acções será bastante importante para a próxima fase da metodologia,
que consiste na elaboração do plano previsional de manutenção.
4.7.
Previsão de custos de manutenção (etapa 2.E da metodologia)
Com a identificação de todas as acções de intervenção, é possível elaborar um plano financeiro de
custos para os próximos 10 anos. Estes custos deverão ser transformados em custos anuais
associados a um montante único e constante (anuidade) para um período de 10 anos, de 2013 a
2022. O ano de 2012 foi excluído uma vez que o orçamento para este ano do edifício já se encontrará
definido.
A informação relativa a custos de intervenções foi recolhida através de fichas de rendimento, software
68
4. CASO DE ESTUDO
relativo ao tema (programa CYPE), e através de profissionais ligados à área de manutenção e
reabilitação de edifícios históricos.
Para actualização dos custos referentes a futuras acções de manutenção deverá ter-se em conta a
taxa de actualização nominal, para este caso de estudo foi utilizado o valor de 3% tendo em conta o
índice preços de consumidor previsto e a taxa diferencial de preços.
A partir do Quadro 4.7 apresentado mais à frente, serão descritos os custos de manutenção
associados a cada classe de elementos fonte de manutenção.
4.8.
Plano previsional de manutenção (etapa 3 da metodologia)
Nesta fase do trabalho, para além do escalonamento de acções já calculado, será importante
conhecer os intervalos de tempo que devem ser definidos entre cada tipo de intervenção. Esta
informação foi recolhida através de catálogos técnicos, profissionais com experiência em manutenção
e bibliografia técnica direccionada para edifícios históricos, tal como (Moreira Rato, 2002).
O monumento em estudo não possui equipa própria de manutenção, sendo que estará o IGESPAR
incumbindo de contratar empresas em outsourcing de forma a satisfazer as exigências de
manutenção. Desta forma o plano de manutenção não será elaborado tendo em conta material e
profissionais que façam parte da gestão interna do edifício.
Depois de recolhida toda a informação necessária foi possível construir o programa previsional das
acções de manutenção para o Panteão Nacional em Lisboa. No Quadro 4.6 encontra-se
representada a ficha representativa do plano previsional de manutenção da fachada principal.
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
69
4. CASO DE ESTUDO
Quadro 4.6 – Plano previsional de manutenção para fachada principal
Codificação dos EFM
Rotinas
Área
Grupo
Classe (centro de
custo)
Elemento
Código completo
Tipo
Fachada
Est. Vertical
Parede exterior
Alvenaria de
pedra
PAeAp 001-1
Fachada
Est. Vertical
Parede exterior
Cantaria Simples
Fachada
Est. Vertical
Vão
Vidro
Fachada
Fachada
Fachada
Fachada
Fachada
Fachada
Est. Vertical
Est. Vertical
Est. Vertical
Portal
Portal
Portal
Vão
Vão
Vão
Cantaria
Cantaria
Vão
Est. suporte
Cantaria Simples
Gradeamento
Estatuário
Coluna
Cantaria artística
Periodicidade
Pessoal
Equipamento
Quant.
Limpeza
x
2 operários
Eq. jacto água
951,0
m
2
14,76
€/m
PAeCs 001-1/2
Limpeza
x
2 operários
Eq. manual
escovas
112,5
m2
14,98
€/m2
VaoVs 001-1/22
Substituição
1 operário
Vidro
6,0
m
2
36,05
€/m
2
216,3 €
m
2
€/m
2
978,6 €
m
2
€/m
2
1.687,1 €
m
2
€/m
2
10,1 €
m
2
€/m
2
126,7 €
m
2
€/m
2
1.447,5 €
m
2
€/m
2
7.206,9 €
2
14,76
€/m
2
1.992,6 €
14,98
€/m2
16,89
€/m
2
8,4 €
€/m
2
8,4 €
€/m
2
59,1 €
€/m
2
206,8 €
€/m
2
267,0 €
VaoCs 001-1/22
VaoGd 001-1/2
CNtEs 001-1/3
CNtCl 001-1/4
VaoCa 001-1/3
Mensal
Anual
Quinquenal
Custos
Decenal
VaoEs 001-1/22
Pontual
Meios necessários
x
Pintura
x
Limpeza
x
Tratamento
x
Limpeza
x
Limpeza
Eq. Pintura
2 operários
Eq. manual
escovas
1 operário
x
Limpeza
2 operários
x
2 operários
2 operários
2 operários
Eq. Pintura
Eq. manual
escovas
Eq. manual
escovas
Eq. manual
escovas
84,0
114,3
0,6
7,5
85,7
481,1
Preço
Fachada
Coroamento
Platibanda
Platibanda pedra
PLtAp 001-1
Limpeza
x
2 operários
Eq. jacto água
135,0
m
Fachada
Est. Vertical
Drenagens
Verticais
Goteira
DNvGo 001-1/8
Limpeza
x
2 operários
Eq. manual
escovas
2.6
m2
0,5
m
2
m
2
m
2
m
2
Fachada
Fachada
Fachada
Fachada
Fachada
70
Sistemas
Sistemas
Sistemas
Sistemas
Sistemas
Sist. Informação
Sist. Informação
Acesso
Anti-pombo
Anti-pombo
Letras metálicas
Suporte metálico
Rampa metálica
Rede
Chapa agulhas
SIsLe 001-1
SIsSu 001-1
ACsRa 001-1
SIsRe 001-1
SIsCh 001-2
Tratamento
x
Tratamento
x
Tratamento
Instalação
Instalação
x
x
x
1 operário
1 operário
1 operário
1 operário
1 operário
Eq. Pintura
Eq. Pintura
Eq. Pintura
Rede
Chapa agulhas
0,5
3,5
8,4
10,4
m
11,65
14,76
16,89
16,89
16,89
14,98
16,89
16,89
24,62
25,62
Custo total
2
14.036,8 €
1.685,3 €
143.8 €
4. CASO DE ESTUDO
Quadro 4.7 – Plano previsional de manutenção para 10 anos com custos associados, fachada principal
10 anos
2013
2014
2015
2016
2017
Fachada
17.695,2 €
Vãos
1.378,7 €
Cantarias
8.150,9 €
Sistemas
2019
2020
2021
2022
2023
1.598,3 €
420 € (a)
Andaimes
Total anual:
2018
12.657,5 €
420,0 €
0,0 €
0,0 €
0,0 €
39.882,4 €
0,0 €
(a) Sistema anti-pombos
0,0 €
0,0 €
0,0 €
1.598,3 €
Média gastos anuais fachada principal:
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
0,0 €
3.809,2 €
71
4. CASO DE ESTUDO
Quadro 4.8 - Plano previsional de manutenção para 10 anos com custos associados, fachada lateral Sul
10 anos
2013
2014
2015
2016
2017
Fachada
20.319,7 €
Vãos
1000,1 €
Cantarias
912,1 €
Andaimes
12.656,9 €
Total anual:
0,0 €
0,0 €
0,0 €
0,0 €
34.888,8 €
2018
2019
2020
2021
2022
1.159,4 €
0,0 €
0,0 €
0,0 €
0,0 €
1.159,4 €
Média gastos anuais cobertura:
72
2023
0,0 €
3.277,1 €
4. CASO DE ESTUDO
Quadro 4.9 - Plano previsional de manutenção para 10 anos com custos associados, cobertura
Cobertura
10 anos
2013
Pavimento
Terraço
2014
2015
18.540,0 €
2016
2017
10.927,3 €
2018
2019
11.592,7 €
2020
2021
12.298,7 €
2022
2023
23.485,9 €
Revestimento
Cupula
7.306,7 €
Andaimes
14.743,9 €
Drenagens
400,0 €
412,0 €
424,4 €
437,1 €
450,2 €
463,7 €
477,6 €
491,9 €
506,7 €
521,9 €
537,6 €
Iluminação
20,0 €
20,6 €
21,2 €
21,9 €
22,5 €
23,2 €
23,9 €
24,6 €
25,3 €
26,1 €
26,9 €
Pára-raios
500,0 €
746,8 €
530,5 €
546,4 €
562,8 €
579,6 €
597,0 €
614,9 €
633,4 €
652,4 €
672,0 €
Sistemas
50,0 €
51,5 €
53,0 €
54,6 €
56,3 €
58,0 €
59,7 €
61,5 €
63,3 €
65,2 €
67,2 €
Total anual:
970,0 €
19.770,9 €
1.029,1 €
11.987,2 €
1.091,7 €
12.717,2 €
1.228,8 €
46.802,2 €
1.303,6 €
1.158,2 € 13.491,7 €
Média gastos anuais cobertura:
10.141,0 €
O cálculo de custos de acções de intervenção encontra-se apresentado em anexo.
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
73
4. CASO DE ESTUDO
4.9.
Decisão – análise económica (etapa 4 da metodologia)
Posteriormente à elaboração do plano de manutenção deverá existir uma fase de análise
económica, de forma a serem estudados diversos cenários de intervenção possíveis. Será
importante nesta fase do trabalho existir uma racionalização/sinergia de meios disponíveis,
procurando-se sempre efectuar uma manutenção baseada na oportunidade (por exemplo
associada ao elevado custo da montagem de andaimes nas fachadas).
Nesta fase será importante a comparação de preços entre diversas opções possíveis de
intervenção, por exemplo o aluguer de uma plataforma elevatória para a intervenção em
elementos da fachada, em comparação com a montagem e aluguer de andaimes.
Comparando os custos de manutenção de todas as fachadas é possível verificar que as que
possuem intervenções mais onerosas (Figura 4.16) serão a fachada principal (média anual de
3.911,2€) – devido às anomalias observadas e à grande quantidade de cantarias artísticas que
necessitam de maiores trabalhos de limpeza, bem como de instalação de um sistema antipombos – e a fachada lateral Sul (média anual de 2.898,8 €) – devido à presença de graffitis
que encarecem a limpeza da pedra (os custos de intervenções noutras fachadas encontram-se
em anexo).
Neste caso a periodicidade de acções irá constituir um ponto de análise importante, podendose intervencionar elementos de vãos destas fachadas - que apresentam maior exposição solar
e degradação mais acelerada - em intervalos de tempo mais curtos (por exemplo de 4 em 4
anos, sendo as restantes intervencionadas de 6 em 6 anos, permitindo que existam anos que
se juntem os trabalhos).
Fachada
principal
Fachada
Sul
Figura 4.12 – Identificação de fachadas, Panteão Nacional [W8]
No caso de edifícios que contenham uma forte componente turística, será importante analisar
diferentes critérios de decisão, definindo-se por exemplo as fachadas
que serão
intervencionadas simultaneamente. No caso do Panteão Nacional que possui 4 fachadas
74
4. CASO DE ESTUDO
semelhantes, em que existe apenas uma entrada para visitantes, deverá planear-se a sua
manutenção para que o edifício não perdatotalmente a sua atractividade visual, nem que seja
necessário encerrá-lo totalmente ao público.
Nos últimos anos tem vindo a ser desenvolvida uma filosofia de maior abertura ao público em
diversos edifícios históricos em fase de manutenção. Este conceito foi implementado nos vários
edifícios da empresa Parques de Sintra (Lobo de Carvalho, 2007) designando-se a iniciativa
como “Aberto para Obras”, permitindo assim um fluxo normal de visitantes em épocas de
intervenções de manutenção e restauro, sendo assim possível visitar os edifícios e
acompanhar as obras de conservação que se encontram em execução. Este tipo de decisão
poderá prevenir importantes percas financeiras associadas ao turismo.
Na fase de decisão associada à manutenção, será sempre necessária a estreita colaboração
entre quem elabora o plano previsional e a Direcção do monumento, planeando-se
intervenções futuras tendo em conta orçamentos anuais disponíveis, que podem variar
bastante de ano para ano.
4.10. Comparação do caso de estudo com a Igreja dos Olivais
Para se proceder à calibração da equação de hierarquização de intervenções, foi
inspeccionada a Igreja de Santa Maria dos Olivais. A avaliação deste segundo edifício não teve
como objectivo a elaboração de um plano previsional de manutenção, mas sim testar os
critérios até aqui utilizados para caracterização de edifícios históricos.
Esta Igreja do séc. XVII (Figura 4.17) caracteriza-se pela construção de alvenaria de pedra,
com revestimentos de fachadas em reboco e tinta, apresentando uma cobertura em telhado.
Figura 4.13 – Igreja de Santa Maria dos Olivais (fotografia do autor)
Seguindo-se a metodologia anteriormente utilizada foram recolhidos os elementos fonte de
manutenção e caracterizados de acordo com as fichas de inspecção já referidas. As principais
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
75
4. CASO DE ESTUDO
anomalias do edifício estão relacionadas com as fachadas, sendo que o revestimento em
reboco e tinta foi classificado como “Ruína” (Figura 4.18).
Figura 4.14 – Fachada Este da Igreja de Santa Maria dos Olivais (fotografia de autor)
Depois de recolhidos todos os dados necessários à equação (Quadro 4.10) foram calculados
os índices de escalonamento de acordo com a Equação 3.5.
Quadro 4.10 – Exemplo de índices de escalonamento, Igreja Santa Maria dos Olivais
Código completo
elemento
ED
VC
CR
AC
PAeAr 002-1
4
2
3
3
Índice
ponderado
45
Índice
relativo
0,94
3
3
2
3
43
0,90
PAeAz 002-3
2
4
1
2
38
0,79
VaoVs 002-1
1
1
3
1
19
0,40
Legenda: ED=Estado de degradação; VC=Valor Cultural; CR= Condição em relação aos restantes
elementos; AC= Acessibilidade para manutenção
PAeCs 002-1
Analisando os índices de escalonamento obtidos para todas as fachadas e cobertura, observase que os elementos prioritários para intervenção serão os revestimentos das fachadas (reboco
e tinta), estes apesar de não terem valor cultural muito elevado apresentam um estado de
degradação avançado, devendo ser os primeiros a sofrer intervenções.
Em comparação com o Panteão Nacional constata-se que na Igreja de Santa Maria o elemento
com maior índice de escalonamento relativo é a alvenaria rebocada, apresentando um estado
de degradação de ruína, não sendo este elemento o de maior valor cultural (no caso desta
Igreja os azulejos foram classificados com o valor cultural mais alto).
No caso do Panteão Nacional os elementos com maior índice de escalonamento relativo
seriam os estatuários situados na entrada da fachada principal, que coincidiam também como
os elementos classificados com valor cultural mais alto. Os resultados alcançados neste
escalonamento de acções são coerentes quando comparados com as datas de campanhas de
intervenções anteriores realizadas. Foi possível verificar na fase de levantamentos que as
fachadas exteriores do Panteão Nacional foram alvo de recuperação e limpeza em 1999/2000,
76
4. CASO DE ESTUDO
enquanto que os vãos de portas e janelas sofreram obras de beneficiação em 2009/2010,
razão pela qual não irão necessitar de intervenções num curto espaço de tempo.
É interessante analisar que no caso da Igreja dos Olivais os elementos com maior valor cultural
não coincidem com os primeiros na hierarquia de escalonamento, esta situação está associada
ao estado de degradação avançado do revestimento da fachada, que através da Equação 3.5
obtém um índice relativo de escalonamento de 0.94 (devendo sofrer intervenções de imediato).
Na análise feita ao Panteão Nacional nenhum dos elementos obteve um índice relativo superior
a 0.90, situação que confirma o bom estado de conservação do edifício.
Confirma-se assim a necessidade de apresentar na equação de escalonamento um peso
elevado para o “Estado de degradação”, apresentando este critério uma importância
semelhante ao valor cultural dos elementos para o futuro escalonamento de acções. Apesar de
a equação apenas ter sido testada em dois edifícios, conclui-se que o critério “Estado de
degradação” deverá ter um peso semelhante ao critério “Valor cultural”, ainda assim deveria
existir uma maior amostra de edifícios testados para calibrar devidamente esta equação.
4.11. Considerações finais do capítulo
Neste capítulo procedeu-se à aplicação da metodologia de manutenção apresentada no
capítulo 3. Como caso de estudo foi utilizado o Panteão Nacional, edifício histórico situado na
cidade de Lisboa.
Numa primeira fase foi feita uma descrição do edifício, tentando-se assim compreender a sua
situação actual, e qual o seu enquadramento e importância para a zona onde se encontra.
Todos estes aspectos serão importantes para a elaboração do seu plano previsional de
manutenção.
De seguida foi feito o levantamento de dados através de fichas de levantamento do edifício,
dividindo-se todas as fachadas e coberturas em elementos fonte de manutenção. Foi assim
iniciada a campanha de inspecções onde se procedeu à avaliação do estado de degradação e
anomalias encontradas, bem como a avaliação dos vários elementos através dos critérios
especificados na metodologia anteriormente descrita.
Depois de definido o escalonamento de acções e sua periodicidade, foi organizado um plano
previsional de manutenção com base em custos de intervenções. Esta parte do trabalho seria
mais interessante se fosse possível comparar o plano financeiro de manutenção preventiva
para 10 anos, com valores de intervenções reactivas aplicados no passado ao mesmo edifício.
Por último foram usados critérios de oportunidade para a organização de intervenções no
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
77
4. CASO DE ESTUDO
edifício, tentando-se assim racionalizar custos e diminuir despesas de manutenção.
Este tipo de planos previsionais deverá ter um acompanhamento futuro, realizando-se várias
inspecções ao longo do temo, de forma a avaliar a evolução das anomalias observadas,
planeando-se assim futuras intervenções de forma mais eficiente.
78
5. CONCLUSÕES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS
5. CONCLUSÕES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS
5.1.
Conclusões finais
Através da elaboração deste trabalho constata-se que a manutenção de edifícios históricos se
revela ainda como um tema a necessitar de estudo aprofundado e aplicação contínua em
diversos edifícios. A manutenção reactiva usualmente aplicada à maior parte dos monumentos
existentes deverá ser evitada, procurando-se solução preventivas segundo uma lógica de
prevenção e antecipação face ao desgaste natural próprio de edifícios históricos. A
manutenção planificada irá permitir não só um melhor controlo sobre a evolução física do
imóvel, evitando degradações acentuadas, como também uma planificação financeira mais
eficiente das intervenções.
Esta área de estudo revela-se mais desenvolvida e implantada em outros países europeus.
Torna-se assim interessante abordar as estratégias seguidas, analisando-se os casos com
maior sucesso de forma a poder integrá-los no contexto nacional.
Nos últimos anos tem existido uma maior consciencialização da sociedade em relação à
importância do património histórico. Este tipo de edifícios tem a capacidade de desenvolver as
regiões em que estão presentes, conseguindo gerar receitas referentes ao turismo.
Para se proceder à transposição de processos de manutenção de edifícios correntes (tema que
tem vindo a sofrer grandes desenvolvimentos nos últimos anos) é necessário ter em conta as
especificidades associadas ao património histórico, nomeadamente os diferentes atributos de
cada edifício – cada monumento apresenta geralmente características únicas – bem como as
questões associadas à autenticidade, prática que no passado não era privilegiada.
As acções de manutenção aplicadas a este tipo de edifícios devem-se enquadrar nas
particularidades do mesmo. Tratando-se de objectos únicos e bens de grande valor cultural, a
abordagem aos mesmos deverá ter em conta os factores ambientais que rodeiam o edifício,
não podendo ser ignorados aspectos sociais, económicos e políticos; ultrapassando-se assim
muitas vezes o domínio científico.
Nesta dissertação pretendeu-se elaborar uma metodologia de manutenção que pudesse ser
aplicada a qualquer edifício histórico, o objectivo final passa pela elaboração de um plano
previsional de acções de manutenção e previsões de custo para cada edifício analisado.
Para a metodologia desenvolvida foram analisados os vários critérios considerados mais
importantes para análise de património histórico. Foi ainda desenvolvida uma equação de
hierarquização que permite determinar o escalonamento de acções que deve ser seguido em
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
79
5. CONCLUSÕES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS
cada edifício.
A referida metodologia foi aplicada ao Panteão Nacional, tendo servido este edifício
(classificado como Monumento Nacional) como caso de estudo para o desenvolvimento deste
trabalho. De início foi desenvolvida a fase preliminar à elaboração do plano previsional de
manutenção, desta forma foi feito um estudo de compreensão do edifício. As várias etapas
descritas na metodologia não foram totalmente aprofundadas, mas foi feita a descrição do
edifício bem como a análise à sua história e alterações efectuadas ao longo do tempo. O
estudo do ambiente exterior e a gestão de manutenção do monumento foram também
abordados, tendo ainda sido possível recolher informações relativas a visitas situação que
revela a importância do edifício histórico para a região em que está inserido.
Procedeu-se de seguida à fase de inspecções, onde foram utilizadas fichas de levantamento e
as três fichas de inspecções desenvolvidas para o tema. Através da primeira ficha foram
recolhidos cerca de 500 elementos fonte de manutenção, sendo de seguida estudadas as
anomalias presentes em cada um (utilizando a segunda ficha de inspecção), verificou-se que
apesar de não existir um plano previsional de manutenção relativo ao edifício este se encontra,
de forma geral, num bom estado de conservação, muito por culpa das últimas intervenções
terem sido efectuadas há pouco tempo (aproximadamente dois anos).
Através das inspecções efectuadas é possível compreender a diferença de anomalias
observadas entre as diversas fachadas. Apesar de se tratar de um edifício simétrico, com
aparente semelhança entre todas as fachadas, existe uma diferenciação clara de anomalias
entre todas as paredes exteriores, esta situação pode ser explicada em grande parte pela
envolvente ambiental do monumento. As situações mais graves observadas estão relacionadas
com acções animais (agregação de pombos) e humanas, estando as origens destas anomalias
directamente relacionadas com o ambiente em que o edifício histórico se insere.
Utilizando-se a última ficha de inspecção foram avaliados os diversos EFM, de acordo com os
critérios que se definiram na metodologia como os mais importantes na análise a este tipo de
edifícios. Através dos resultados obtidos foi elaborado o escalonamento de acções de
manutenção, sendo assim possível desenvolver um plano previsional de manutenção para o
futuro.
Nesta fase foi proposta uma equação que permite definir o escalonamento de acções de
manutenção a elaborar em cada plano. Esta equação tem em conta os critérios: estado de
degradação dos elementos, valor cultural, condição em relação à restante estrutura e
elementos, e acessibilidade para manutenção; tendo sido estes os critérios escolhidos como
mais condicionantes para análise de intervenções de manutenção em edifícios históricos.
Foi importante fazer a análise dos critérios de manutenção definidos num outro edifício, a Igreja
80
5. CONCLUSÕES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS
de Santa Maria nos Olivais, de forma a se compararem resultados, e para a compreensão do
peso dos critérios definidos como estado de degradação e valor cultural dos elementos,
calibrando-se assim a equação de escalonamento de acções para se obterem resultados
adequados na definição de tempos máximos de intervenção.
Numa última fase foram descritos e actualizados os custos referentes à manutenção para um
horizonte temporal de 10 anos, apenas assim foi possível discutir diversos cenários de
manutenção, assim como a racionalização e sinergia de meios disponíveis, procurando-se
sempre factores de oportunidade que beneficiassem a gestão financeira associada à
manutenção.
Foi possível compreender que a criação de planos previsionais de manutenção deveria ser
(através de legislação própria) de aplicação obrigatória em edifícios deste tipo. A planificação
atempada de acções de manutenção iria permitir um acompanhamento aprofundado das
anomalias observadas, bem como uma poupança económica de grandes proporções, podendo
ser discutidos orçamentos futuros com base em planos previsionais e em acções de
intervenção já efectuadas.
Devido à extensão do modelo proposto, não foi possível aprofundar todos os procedimentos
descritos ao caso de estudo analisado. Ainda assim, a metodologia foi aplicada seguindo-se
todas as fases que a integram, por conseguinte, pode-se concluir que os objectivos propostos
nesta dissertação foram atingidos.
5.2.
Desenvolvimentos futuros
Para desenvolvimentos futuros, existem diversos aspectos desta dissertação que podem ser
aprofundados, tornando a execução dos programas previsionais para edifícios históricos mais
rápidos e expeditos.

Criação de uma base de dados referente a edifícios históricos cada vez maior a nível
nacional, procedendo-se à caracterização de anomalias e critérios de priorização de
uma forma universal;

Desenvolvimento de software onde fosse possível codificar, de forma fácil e expedita,
os diversos elementos fonte de manutenção habitualmente existentes em edifícios
deste tipo;

Aplicação da equação de escalonamento de acções de intervenção a uma maior
amostra de edifícios, de forma a ser possível melhorá-la e validá-la;
Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
81
5. CONCLUSÕES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS

Aplicação real de um plano previsional de manutenção elaborado para edifícios
históricos, de forma a ser possível a comparação do funcionamento do edifício ao
longo dos anos, bem como a análise financeira comparativamente às acções reactivas
anteriormente utilizadas.
82
6. BIBLIOGRAFIA
BIBLIOGRAFIA
Appleton, J. (2003). Reabilitação de Edifícios Antigos - Patologias e tecnologias de intervenção.
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Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
83
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6. BIBLIOGRAFIA
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2º
Simpósio
internacional
sobre
patologia,
durabilidade
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Programa previsional de manutenção em edifícios históricos
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[W2] INE (http://www.ine.pt), consultado a 03/08/2012.
[W4] DGEMN (http://www.monumentos.pt), consultado a 07/08/2012.
[W5] ICOMOS (http://www.icomos.org), consultado a 07/08/2012.
[W6] EH (http://www.english-heritage.org.uk), consultado a 11/08/2012.
[W7] Monumentenwacht (http://www.monumentenwacht.nl), consultado a 20/10/2012.
[W8] Google earth (http://maps.google.pt), consultado a 30/11/2012.
Legislação relativa ao tema:
[L1] Decreto-Lei n.º 309/2009, de 23 de Outubro, em vigor desde Janeiro de 2010 –
Classificação de património histórico.
[L2] Decreto-Lei nº177/2001, de 4 de Junho de 2001 – alteração ao Regulamento Geral das
Edificações Urbanas.
[L3] Lei nº06/2006, de 27 de Fevereiro – Novo Regime do Arrendamento Urbano.
86
Anexos
II
ANEXO I
Carta de Veneza
III
IV
Carta de Veneza - Tradução pelo Eng.º António de Borja Araújo
O IIº Congresso Internacional dos Arquitectos e dos Técnicos de Monumentos Históricos, que reuniu em Veneza
desde 25 até 31 de Maio de 1964, aprovou o seguinte texto:
DEFINIÇÕES
Artigo 1.
O conceito de monumento histórico abrange não só os trabalhos de simples arquitectura, mas também o
enquadramento urbano ou rural onde se encontram as evidências de uma civilização em particular, um
desenvolvimento significativo ou um acontecimento histórico. Isto aplica-se não só às grandes obras de arte, mas
também a obras mais modestas do passado que adquirem significado cultural com a passagem do tempo.
Artigo 2.
A conservação e o restauro dos monumentos deve recorrer a todas as ciências e a todas as técnicas que
possam contribuir para o estudo e para a salvaguarda do património arquitectónico.
Artigo 3.
O objectivo de se conservarem e de se restaurarem os monumentos é salvaguardá-los não apenas como obras
de arte, mas também como evidências históricas.
CONSERVAÇÃO
Artigo 4.
É essencial para a conservação dos monumentos que eles sejam mantidos numa base permanente.
Artigo 5.
A conservação dos monumentos antigos é sempre facilitada se os fizermos utilizáveis para qualquer finalidade
socialmente útil. Tal utilização é, portanto, desejável mas não deve alterar a disposição interna ou a decoração
do edifício. É dentro destes limites que as modificações necessárias para a alteração de funções devem ser
encaradas e podem ser permitidas.
Artigo 6.
A conservação de um monumento implica a preservação de um enquadramento que não esteja fora de escala.
Sempre que o enquadramento tradicional exista, ele deve ser conservado. Não deve ser aprovada nenhuma
construção nova, demolição ou modificação que vá alterar a relação de massas e de cores.
Artigo 7.
Um monumento é inseparável da sua história, da qual ele é testemunha, e do enquadramento em que existe.
Não pode ser permitida a movimentação de todo ou de partes de um monumento, excepto quando a salvaguarda
desse monumento o exija, ou quando isso for justificado por interesses nacionais ou internacionais de
importância excepcional.
Artigo 8.
Os artigos de escultura, pintura ou decoração que formem parte integrante de um monumento só podem ser
removidos deste se isso for o único meio de se garantir a sua preservação.
RESTAURO
Artigo 9.
O processo de restauro é uma operação altamente especializada. O seu objectivo é preservar e revelar o valor
estético e o valor histórico do monumento, e baseia-se no respeito pelo material original e por documentos
autênticos. O restauro deve deter-se no ponto onde começarem as conjecturas, e ainda mais no caso de
qualquer obra extra que seja indispensável executar, esta deve ser distinguível da composição arquitectónica e
V
deve arvorar uma marca da sua contemporaneidade. Em qualquer caso, o restauro deve ser precedido e
acompanhado por um estudo arqueológico e histórico do monumento
Artigo 10.
Quando as técnicas tradicionais demonstrarem serem inadequadas, a consolidação de um monumento pode ser
conseguida pelo emprego de qualquer técnica moderna para a conservação e construção, cuja eficácia tenha
sido demonstrada por dados científicos e comprovada pela experiência.
Artigo 11.
Devem ser respeitadas as contribuições válidas de todos os períodos feitas ao edifício ou monumento, uma vez
que o objectivo do restauro não é a unidade de estilo. Quando um edifício inclui obras sobrepostas de diferentes
períodos, a revelação do estado subjacente só pode ser justificada em circunstâncias excepcionais e quando o
que for removido tiver pouco interesse e o material que for posto a descoberto for de grande valor histórico,
arqueológico ou estético, e o seu estado de preservação suficientemente bom para justificar esta acção. A
avaliação da importância dos elementos envolvidos e a decisão sobre o que pode ser destruído não podem ser
apenas da competência do indivíduo responsável pela obra.
Artigo 12.
As substituições de partes em falta devem-se integrar harmoniosamente no conjunto mas, ao mesmo tempo,
devem ser distinguíveis do original, para que o restauro não falsifique a evidência artística ou histórica.
Artigo 13.
Não podem ser autorizadas adições, excepto até ao ponto em que não desfigurem as partes interessantes do
edifício, a sua envolvente tradicional, o equilíbrio da sua composição e a sua relação com as suas proximidades.
SÍTIOS HISTÓRICOS
Artigo 14.
Os sítios dos monumentos devem ser objecto de especiais cuidados para se salvaguardar a sua integridade e
para se garantir que eles são desobstruídos e apresentados de uma forma harmoniosa. As obras de
conservação e restauro executadas em tais sítios devem ser inspiradas por princípios assentes nos artigos
seguintes
ESCAVAÇÕES
Artigo 15.
As escavações devem ser executadas de acordo com normas científicas e com as recomendações que definem
os princípios internacionais a serem aplicados no caso de escavações arqueológicas, adoptadas pela UNESCO
em 1956.
As ruínas devem ser mantidas e devem ser tomadas as medidas necessárias para a conservação e para a
protecção permanente dos elementos arquitectónicos e dos objectos descobertos. Além disso, devem ser
adoptados todos os meios que facilitem a compreensão do monumento e a sua revelação, sem nunca se
distorcer o seu significado.
No entanto, devem ser excluídos “a priori” todos os trabalhos de reconstrução. Só pode ser permitida a
anastilose, ou seja, a remontagem de partes existentes mas desmembradas. O material usado para a integração
deve ser sempre reconhecível e o seu uso deve ser o mínimo que garanta a conservação do monumento e o
restabelecimento da sua forma.
PUBLICAÇÃO
Artigo 16.
Em todos os trabalhos de preservação, restauro ou escavação, deve existir sempre documentação exacta sob a
forma de relatórios analíticos e críticos, ilustrados com desenhos e fotografias. Devem ser incluídas todas as
fases dos trabalhos de limpeza, consolidação, arrumação e integração, assim como os elementos técnicos e
formais identificados durante o decurso dos trabalhos. Este registo deve ser guardado em arquivos, numa
instituição pública, e postos à disposição dos profissionais da investigação. Recomenda-se que o relatório seja
publicado
VI
ANEXO II
Fichas de levantamento arquitectónico e funcional
Panteão Nacional
VII
VIII
Figura A.1 – Ficha de levantamento, dimensões de referência da cobertura
IX
Figura A.2 - Ficha de levantamento, áreas de referência da fachada principal
X
Figura A.3 - Ficha de levantamento, áreas de referência da fachada lateral
XI
Figura A.4 – Ficha de levantamento, EFM da fachada principal
XII
Figura A.5 - Ficha de levantamento, EFM da fachada lateral
XIII
Figura A.6 – Ficha de levantamento, EFM da fachada superior circular
XIV
Figura A.7 – Ficha de levantamento, EFM da cobertura
XV
XVI
ANEXO III
Fichas de inspecção – Levantamento EFM
Panteão Nacional
XVII
XVIII
Quadro A.1 – Ficha de inspecção nº1 levantamento EFM fachada principal (1/3)
Centro de
custo
cod.
Elemento
Quantidade
(un/m/m2)
Data
Código
completo
elemento
(PAe) Parede exterior
(Ap)
Alvenaria pedra
816,0 m2
19.11.12
PAeAp 001-1
Est. Vertical
(PAe) Parede exterior
(Cs)
Cantaria simples
21,5 m2
19.11.12
PAeCs 001-1
Fachada
Est. Vertical
(PAe) Parede exterior
(Cs)
Cantaria simples
91,0 m2
19.11.12
PAeCs 001-2
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12
VaoVs 001-1
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12
VaoVs 001-2
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12
VaoVs 001-3
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12
VaoVs 001-4
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12
VaoVs 001-5
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12
VaoVs 001-6
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12
VaoVs 001-7
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12
VaoVs 001-8
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12
VaoVs 001-9
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12 VaoVs 001-10
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12 VaoVs 001-11
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12 VaoVs 001-12
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12 VaoVs 001-13
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12 VaoVs 001-14
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12 VaoVs 001-15
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12 VaoVs 001-16
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12 VaoVs 001-17
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12 VaoVs 001-18
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12 VaoVs 001-19
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12 VaoVs 001-20
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12 VaoVs 001-21
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Vs)
Vidro simples
1 un
19.11.12 VaoVs 001-22
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12
VaoEs 001-1
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12
VaoEs 001-2
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12
VaoEs 001-3
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12
VaoEs 001-4
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12
VaoEs 001-5
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12
VaoEs 001-6
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12
VaoEs 001-7
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12
VaoEs 001-8
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12
VaoEs 001-9
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12 VaoEs 001-10
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12 VaoEs 001-11
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12 VaoEs 001-12
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12 VaoEs 001-13
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12 VaoEs 001-14
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12 VaoEs 001-15
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12 VaoEs 001-16
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12 VaoEs 001-17
Área
Grupo
Fachada
Est. Vertical
Fachada
cod.
Classe
XIX
Quadro A.2 – Ficha de inspecção nº1 levantamento EFM fachada principal (2/3)
Centro de
custo
Área
Grupo
cod.
Classe
cod.
Elemento
Quantidade
(un/m/m2)
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
Código
completo
elemento
19.11.12 VaoEs 001-19
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12 VaoEs 001-20
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12 VaoEs 001-21
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Es)
Est. Suporte
1 un
19.11.12 VaoEs 001-22
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
1,8 m2
19.11.12
VaoCs 001-1
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
1,8 m2
19.11.12
VaoCs 001-2
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
1,8 m2
19.11.12
VaoCs 001-3
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
1,8 m2
19.11.12
VaoCs 001-4
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
6,7 m2
19.11.12
VaoCs 001-5
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
2,2 m2
19.11.12
VaoCs 001-6
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
2,2 m2
19.11.12
VaoCs 001-7
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
6,7 m2
19.11.12
VaoCs 001-8
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
0,6 m2
19.11.12
VaoCs 001-9
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
0,6 m2
19.11.12 VaoCs 001-10
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
5,4 m2
19.11.12 VaoCs 001-11
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
1,9 m2
19.11.12 VaoCs 001-12
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
18,4 m2
19.11.12 VaoCs 001-13
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
18,4 m2
19.11.12 VaoCs 001-14
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
18,4 m2
19.11.12 VaoCs 001-15
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
1,9 m2
19.11.12 VaoCs 001-16
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
5,4 m2
19.11.12 VaoCs 001-17
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
1,9 m2
19.11.12 VaoCs 001-18
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
2,4 m2
19.11.12 VaoCs 001-19
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
2,4 m2
19.11.12 VaoCs 001-20
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
2,4 m2
19.11.12 VaoCs 001-21
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Cs)
Cantaria simples
9,2 m2
19.11.12 VaoCs 001-22
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Gd)
Gradeamento
0,3 m2
19.11.12
VaoGd 001-1
Fachada
Est. Vertical
(Vao)
Vão
(Gd)
Gradeamento
0,3 m2
19.11.12
VaoGd 001-2
Fachada
Portal
(CNt)
Cantaria
(Cs)
Cantaria simples
7,6 m2
19.11.12
CNtCs 001-1
Fachada
Portal
(CNt)
Cantaria
(Cs)
Cantaria simples
7,6 m2
19.11.12
CNtCs 001-2
Fachada
Portal
(CNt)
Cantaria
(Cs)
Cantaria simples
7,6 m2
19.11.12
CNtCs 001-3
Fachada
Portal
(CNt)
Cantaria
(Es)
Estatuário
3,5 m2
19.11.12
CNtEs 001-1
Fachada
Portal
(CNt)
Cantaria
(Es)
Estatuário
3,5 m2
19.11.12
CNtEs 001-2
Fachada
Portal
(CNt)
Cantaria
(Es)
Estatuário
3,5 m2
19.11.12
CNtEs 001-3
Fachada
Portal
(CNt)
Cantaria
(Cl)
Coluna
85,7 m2
19.11.12
CNtCl 001-1
Fachada
Portal
(CNt)
Cantaria
(Cl)
Coluna
85,7 m2
19.11.12
CNtCl 001-2
Fachada
Portal
(CNt)
Cantaria
(Cl)
Coluna
85,7 m2
19.11.12
CNtCl 001-3
Fachada
Portal
(CNt)
Cantaria
(Cl)
Coluna
85,7 m2
19.11.12
CNtCl 001-4
Fachada
Portal
(Vao)
Vão
(Ca)
Cantaria artística
35,0 m2
19.11.12
VaoCa 001-1
Fachada
Portal
(Vao)
Vão
(Ca)
Cantaria artística
35,0 m2
19.11.12
VaoCa 001-2
Fachada
Portal
(Vao)
Vão
(Ca)
35,0 m2
19.11.12
VaoCa 001-3
Fachada
Coroamento
(PLt)
Platibanda
(Ap)
Cantaria artística
Alvenaria de
pedra
135,0 m2
19.11.12
PLtAp 001-1
XX
Data
Quadro A.3 - Ficha de inspecção nº1 levantamento EFM fachada principal (3/3)
Centro de custo
Área
Grupo
cod.
Fachada
Est. Vertical (DNv)
Fachada
Est. Vertical (DNv)
Fachada
Est. Vertical (DNv)
Fachada
Est. Vertical (DNv)
Fachada
Est. Vertical (DNv)
Fachada
Est. Vertical (DNv)
Fachada
Est. Vertical (DNv)
Fachada
Est. Vertical (DNv)
Classe
Drenagens
Verticais
Drenagens
Verticais
Drenagens
Verticais
Drenagens
Verticais
Drenagens
Verticais
Drenagens
Verticais
Drenagens
Verticais
Drenagens
Verticais
cod.
Elemento
Quantidade
(un/m/m2)
Data
Código
completo
elemento
(Go)
Goteira
0,3 m2
19.11.12
DNvGo 001-1
(Go)
Goteira
0,3 m2
19.11.12
DNvGo 001-2
(Go)
Goteira
0,3 m2
19.11.12
DNvGo 001-3
(Go)
Goteira
0,3 m2
19.11.12
DNvGo 001-4
(Go)
Goteira
0,3 m2
19.11.12
DNvGo 001-5
(Go)
Goteira
0,3 m2
19.11.12
DNvGo 001-6
(Go)
Goteira
0,3 m2
19.11.12
DNvGo 001-7
(Ga)
Goteira
0,3 m2
19.11.12
DNvGo 001-8
Fachada
Sistemas
(INf)
Sist. Informação
(Le)
Letras metálicas
0,5 m2
19.11.12
INfLe 001-1
Fachada
Sistemas
(INf)
Sist. Informação
(Su) Suporte metálico
0,5 m2
19.11.12
INfSu 001-1
Fachada
Sistemas
(ACs)
Acessos
(Ra)
3,5 m2
19.11.12
ACsRa 001-1
Rampa metálica
XXI
Quadro A.4 – Avaliação de critérios e índices de escalonamento, fachada principal (1/3)
Código completo
elemento
ED
VC
CR
AC
Índice
ponderado
Índice
relativo
Centro de
custos
2
3
2
3
38
0,78
Fachada
3
3
1
3
41
0,84
Fachada
PAeCs 001-2
3
3
1
3
41
0,84
Fachada
VaoVs 001-1
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-2
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-3
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-4
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-5
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-6
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-7
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-8
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-9
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-10
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-11
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-12
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-13
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-14
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-15
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-16
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-17
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-18
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-19
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-20
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-21
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoVs 001-22
1
1
2
1
17
0,35
Vão
VaoEs 001-1
1
2
2
1
22
0,45
Vão
VaoEs 001-2
1
2
2
1
22
0,45
Vão
VaoEs 001-3
1
2
2
1
22
0,45
Vão
VaoEs 001-4
1
2
2
1
22
0,45
Vão
VaoEs 001-5
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoEs 001-6
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoEs 001-7
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoEs 001-8
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoEs 001-9
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoEs 001-10
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoEs 001-11
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoEs 001-12
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoEs 001-13
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoEs 001-14
1
2
2
3
28
0,57
Vão
Legenda: ED=Estado de degradação; VC=Valor Cultural; CR=Condição em relação aos restantes
elementos; AC=Acessibilidade para manutenção
PAeAp 001-1
PAeCs 001-1
XXII
Quadro A.5 – Avaliação de critérios e índices de escalonamento, fachada principal (2/3)
Código
completo
elemento
ED
VC
CR
AC
Índice
ponderado
Índice
relativo
Centro de
custos
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoEs 001-16
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoEs 001-17
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoEs 001-19
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoEs 001-20
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoEs 001-21
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoEs 001-22
1
2
2
3
28
0,57
Vão
VaoCs 001-1
2
3
1
1
30
0,61
Vão
VaoCs 001-2
2
3
1
1
30
0,61
Vão
VaoCs 001-3
2
3
1
1
30
0,61
Vão
VaoCs 001-4
2
3
1
1
30
0,61
Vão
VaoCs 001-5
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-6
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-7
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-8
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-9
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-10
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-11
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-12
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-13
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-14
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-15
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-16
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-17
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-18
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-19
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-20
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-21
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoCs 001-22
2
3
1
3
36
0,73
Vão
VaoGd 001-1
2
2
3
1
29
0,59
Vão
VaoGd 001-2
2
2
3
1
29
0,59
Vão
CNtCs 001-1
2
3
2
3
38
0,78
Cantaria
CNtCs 001-2
2
3
2
3
38
0,78
Cantaria
CNtCs 001-3
2
3
2
3
38
0,78
Cantaria
CNtEs 001-1
3
4
1
4
49
1,00
Cantaria
CNtEs 001-2
3
4
1
4
49
1,00
Cantaria
CNtEs 001-3
3
4
1
4
49
1,00
Cantaria
CNtCl 001-1
2
3
2
2
35
0,71
Cantaria
CNtCl 001-2
2
3
2
2
35
0,71
Cantaria
CNtCl 001-3
2
3
2
2
35
0,71
Cantaria
Legenda: ED=Estado de degradação; VC=Valor Cultural; CR=Condição em relação aos restantes
elementos; AC=Acessibilidade para manutenção
VaoEs 001-15
XXIII
Quadro A.6 – Avaliação de critérios e índices de escalonamento, fachada principal (3/3)
Código
completo
elemento
ED
VC
CR
AC
Índice
ponderado
Índice
relativo
Centro de
custos
2
3
2
2
35
0,71
Cantaria
VaoCa 001-1
3
3
2
2
40
0,82
Vão
VaoCa 001-2
3
3
2
2
40
0,82
Vão
VaoCa 001-3
3
3
2
2
40
0,82
Vão
PLtAp 001-1
2
2
2
2
30
0,61
Fachada
DNvGo 001-1
2
3
2
3
38
0,78
Drenagens
DNvGo 001-2
2
3
2
3
38
0,78
Drenagens
DNvGo 001-3
2
3
2
3
38
0,78
Drenagens
DNvGo 001-4
2
3
2
3
38
0,78
Drenagens
DNvGo 001-5
2
3
2
3
38
0,78
Drenagens
DNvGo 001-6
2
3
2
3
38
0,78
Drenagens
DNvGo 001-7
2
3
2
3
38
0,78
Drenagens
DNvGo 001-8
2
3
2
3
38
0,78
Drenagens
INfLe 001-1
1
1
3
1
19
0,39
Sistemas
INfSu 001-1
1
1
3
3
25
0,51
Sistemas
ACsRa 001-1
1
1
2
1
17
0,35
Sistemas
Legenda: ED=Estado de degradação; VC=Valor Cultural; CR=Condição em relação aos restantes
elementos; AC=Acessibilidade para manutenção
CNtCl 001-4
XXIV
ANEXO III
Custos de intervenções de manutenção
Panteão Nacional
XXV
XXVI
Quadro A.7 – Custos de intervenções de manutenção, fachada principal
Centro de custo
Elementos/Material
Revestimento pedra
Actividade
Limpeza a jacto
Limpeza manual
Periodicidade
10 em 10 anos
Preço
14,76
14,98
Custo (€)
Quantidade
2
(€/m )
2
(€/m )
951,0
112,5
2
14.036,8
2
(m )
1.685,3
Total:
15.722,0 €
2
978,6
2
10,1
2
216,3
(m )
2
84,0
(m )
2
0,6
(m )
2
6,0
(m )
2
1,0
(m )
2
20,3
Total:
1.225,3 €
(dias)
922,7
Janelas madeira
Pintura
5 em 5 anos
11,65
(€/m )
Elementos metálicos
Pintura
5 em 5 anos
16,89
(€/m )
Vidros
Substituição
Pontual
36,05
(€/m )
Elementos metálicos
Anti-corrosivo
5 em 5 anos
20,25
(€/m )
Fachada
Fachada principal (1)
Aluguer
Montagem
Andaimes
Cantarias artísticas
Cantarias
Sistemas
30
Goteiras pedra
Anti-pombo
Limpeza manual
Limpeza manual
10.322,8
10 em 10 anos
10 em 10 anos
14,98
14,98
2
(€/m )
2
(€/m )
481,1
2,4
Total:
11.245,5 €
2
7.206,9
2
(m )
36,0
Total:
7.242,8 €
(m )
Rede anti-pombos
estátuas
Imediato
24,62
(€/m )
8,4
(m )
2
206,8
Chapa agulhas
Imediato
10,42
(€/m)
20,0
(m)
208,4
Total:
415,2 €
2
Total fachada (1)
35.850,8 €
Quadro A.8 – Custos de intervenções de manutenção, fachada lateral Norte
Centro de Custo
Elementos/Material
Actividade
Periodicidade
Limpeza a jacto
Limpeza manual
14,76
10 em 10 anos
Anti-graffiti
Fachada
Elementos metálicos
Vãos
14,98
16,0
Quantidade
2
(€/m )
2
(€/m )
2
(€/m )
Vidros
Elementos metálicos
Limpeza antigraffiti
Anual
41,96
(€/m )
112,5
130,0
Pintura
5 em 5 anos
11,65
(€/m )
Pintura
Substituição
Anti-corrosivo
5 em 5 anos
Pontual
5 em 5 anos
16,89
36,05
20,25
Andaimes
14.036,8
2
1.685,3
(m )
(m )
2
(m )
2.080,0
Total:
17.802,0 €
2,0
(m )
2
55,1
(m )
2
(€/m )
2
(€/m )
2
(€/m )
0,6
6,0
1,0
30
2
83,9
Total:
17.885,9 €
2
641,9
2
10,1
2
216,3
2
20,3
Total:
888,6 €
(m )
(m )
(m )
(dias)
Montagem
Cantarias artísticas
Goteiras pedra
Limpeza manual
Limpeza manual
922,7
10.322,8
10 em 10 anos
10 em 10 anos
14,98
14,98
2
(€/m )
2
(€/m )
51,7
2,4
Total:
11.245,5 €
2
774,5
2
36,0
Total:
810,4 €
(m )
(m )
Total fachada (2)
XXVIII
Custo (€)
2
2
Aluguer
Cantarias
951,0
Revestimento pedra
Janelas madeira
Fachada lateral (2) Norte
Preço
30.830,4 €
Quadro A.9 – Custos de intervenções de manutenção, fachada traseira Este
Centro de Custo
Elementos/Material
Actividade
Limpeza a jacto
Fachada
Revestimento pedra
Janelas madeira
Elementos metálicos
Vãos
Fachada traseira (3) Este
Vidros
Elementos metálicos
Limpeza manual
Pintura
Pintura
Substituição
Anti-corrosivo
Periodicidade
10 em 10 anos
5 em 5 anos
5 em 5 anos
Pontual
5 em 5 anos
Preço
14,76
14,98
8,6
16,89
36,05
20,25
Quantidade
2
(€/m )
2
(€/m )
2
(€/m )
2
(€/m )
2
(€/m )
2
(€/m )
Aluguer
Andaimes
38,6
55,1
0,6
6,0
1,0
30
14.770,3
2
578,2
Total:
15.348,6 €
2
473,9
2
10,1
2
216,3
(m )
(m )
(m )
(m )
(m )
2
20,3
Total:
720,5 €
(m )
(dias)
Montagem
Cantarias artísticas
Cantarias
1000,7
Goteiras pedra
Limpeza manual
Limpeza manual
Custo (€)
2
922,7
10.322,8
10 em 10 anos
10 em 10 anos
14,98
14,98
2
(€/m )
2
(€/m )
16,8
2,4
Total:
11.245,5 €
2
251,7
2
36,0
Total:
287,6 €
(m )
(m )
Total fachada (3)
27.602,2 €
XXIX
Quadro A.10 – Custos de intervenções de manutenção, fachada lateral Sul
Centro de custo
Elementos/Material
Actividade
Periodicidade
Limpeza a jacto
Limpeza manual
10 em 10 anos
Anti-graffiti
Preço
Quantidade
2
951,0
(m )
2
112,5
(m )
14,76
(€/m )
14,98
(€/m )
16,0
2
(€/m )
130,0
Revestimento pedra
Limpeza antigraffiti
Fachada
Janelas madeira
Elementos metálicos
Fachada lateral (4) Sul
Vidros
Elementos metálicos
Pintura
Pintura
Substituição
Anti-corrosivo
Anual
5 em 5 anos
5 em 5 anos
Pontual
5 em 5 anos
41,96
11,65
16,89
36,05
20,25
2
(€/m )
2
(€/m )
2
(€/m )
2
(€/m )
2
(€/m )
Aluguer
Andaimes
55,1
0,6
6,0
14.036,8
2
1.685,3
2
(m )
2.080,0
Total:
17.802,0
2
251,8
Total:
18.053,8 €
2
641,9
2
10,1
2
216,3
2
20,3
Total:
888,6 €
(m )
(m )
(m )
(m )
1,0
(m )
30
(dias)
Montagem
Cantarias artísticas
Cantarias
6,0
Goteiras pedra
Limpeza manual
Limpeza manual
922,7
10.322,8
10 em 10 anos
10 em 10 anos
14,98
14,98
2
(€/m )
2
(€/m )
51,7
2,4
Total:
11.245,5 €
2
774,5
2
36,0
Total:
810,4 €
(m )
(m )
Total fachada (4)
XXX
Custo (€)
2
30.998,3 €
Quadro A.11 – Custos de intervenções de manutenção, cobertura
Centro de Custo
Pavimento Terraço
Zimbório Cupula
Elementos
Revestimento pedra
Revestimento pedra
Periodicidade
Preço
Limpeza a jacto
Limpeza manual
Bianual
8,2
14,98
(€/m )
2
(€/m )
Impermeabilizante
8 em 8 anos
20
(€/m )
10 em 10 anos
14,76
14,98
(€/m )
2
(€/m )
Limpeza a jacto
Limpeza manual
Custo (€)
Quantidade
2
2
2
Aluguer
Montagem
Andaimes
Cobertura
Actividade
1000
100
2
(m )
2
(m )
Total:
22000
1100
354,6
24
Total:
2
(m )
2
(m )
22.000,0 €
5233,896
359,52
30
Total:
(dias)
5.593,4 €
922,73
10322,75
11.245,5 €
378,8
16
394,8 €
20
60
Drenagens
Caleiras
Tubos de queda
Limpeza
Limpeza
6 em 6 meses
6 em 6 meses
2
2
(€/m)
(€/un)
189,4
8
Substituição
Substituição
Substituição
Anual
15 em 15 anos
Pontual
10
5
100
(€/un)
(€/m)
(€/un)
2
12
Iluminação
Lâmpadas
Cabos
Holofotes
Anti-corrosivo
Substituição
Substituição
Verificação
5 em 5 anos
Pontual
Pontual
Anual
20,25
10
200
500
(€/m)
(€/m)
(€/un)
(€)
12,6
Total:
(m)
(un)
Total:
(un)
(m)
Total:
Cabos
Pára-raios
Antena
Telescópio
Verificação
Anual
50
80,0 €
255,15
Total:
Sistemas
8200
1498
9698
(€)
Total:
Total cobertura
500
500,0 €
50
50,0 €
39.568,8 €
XXXI
XXXII
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