Benzodiazepinas Bem usar medicamentos em tempo de crise teste saúde 104 agosto/setembro 2013 As condições económicas e sociais desfavoráveis propiciam algumas doenças mentais. As benzodiazepinas são eficazes contra a ansiedade, mas devem ser usadas por períodos curtos, dado o risco de dependência 22 Homem mata companheira e suicida-se. Professora atira o filho do 4.º andar e acaba com a própria vida. Mulher envenena filhos e suicida-se. Estas notícias, cada vez mais frequentes, deixam a poulação em choque mas não surpreendem psicólogos nem psiquiatras. Alguns estudos mostram que o aumento do desemprego faz crescer a taxa de suicídio e os níveis de stresse da população; outros relacionam a diminuição de rendimentos com a subida de distúrbios mentais, como a ansiedade e a depressão. Não sendo devidamente tratados, podem desencadear reações de desespero como as descritas. Apesar de os efeitos da atual crise não estarem bem estudados, há indícios de que as perturbações mentais cresceram e de que a oferta de cuidados públicos de saúde diminuiu, pelo menos, no Norte de Portugal. Segundo o Relatório Primavera 2013, do Observatório de Sistemas de Saúde, o aumento da ansiedade e da depressão tem sido assinalado em vários inquéritos a profissionais de saúde e nos registos clínicos dos médicos. Dados preliminares de um estudo realizado na região Norte e publicados no Relatório Primavera apontam para uma subida de 30% dos casos de depressão entre 2011 e 2012. Há três anos, 17% da população nacional sofria de ansiedade e 8%, de depressão. Portugal era o Intoxicação Procure ajuda imediata Ligue para o Centro de Informação Antivenenos ou para o 112. ´ Se alguém próximo tomou uma dose excessiva de medicamentos, contacte o CIAV (808 250 143) para saber como agir. Se possível, tenha a caixa do medicamento à mão para fornecer os dados que lhe forem solicitados. Não provoque o vómito e dê de beber alguns golos de água ou leite à vítima. ´ país da Europa com mais problemas de saúde mental. De 2011 para 2012, a compra de antidepressivos nas farmácias cresceu cerca de 8% e a de ansiolíticos e hipnóticos, cerca de 2%, tendo a prescrição do último grupo duplicado na população com mais de 65 anos. As benzodiazepinas, como o alprazolam, o diazepam, o bromazepam e o lorazepam, são os medicamentos mais receitados desta categoria, indicada para tratar ansiedade e insónias. Aqueles medicamentos produzem efeito rapidamente (entre 15 e 60 minutos após a toma), são eficazes, mas devem ser usadas durante períodos curtos, dado o risco de habituação e dependência. Analgésicos e descongestionantes Quando o tratamento causa doença O uso excessivo de analgésicos e descongestionantes nasais pode causar, respetivamente, dor de cabeça e congestionamento nasal crónicos. Eficazes a curto prazo Não aos analgésicos em excesso Se tem dores de cabeça com frequência e toma sempre medicamentos, como paracetamol, ibuprofeno ou ácido acetilsalicílico, é possível que o mal seja causado por estes. Em geral, a dor devida a medicamentos permanece durante pelo menos 15 dias mensais (seguidos ou não), num período de três meses, se o paciente tomou medicamentos durante 10 a 15 dias nesse trimestre. Estas dores, muito agressivas e incapacitantes, atingem 1 a 2% da população mundial. O tratamento implica deixar de tomar os analgésicos. Alguns especialistas defendem a retirada imediata, outros julgam mais prudente fazê-lo progressivamente, mas não há estudos a comparar as duas opções. Em qualquer dos casos, deve fazê-lo com acompanhamento médico. Contudo, o mais seguro é prevenir: se tiver dores de cabeça com frequência, consulte o médico, para saber se está a fazer o tratamento adequado ou se a dor é sintoma de outra doença. Descongestionantes nasais Os sprays nasais, como a efedrina e oximetazolina, podem ser muito eficazes quando usados de forma esporádica. No entanto, a sua utilização sistemática leva a que sinta o nariz tapado em permanência. Por precaução, não utilize estes produtos mais de cinco dias seguidos. Para interromper o uso prolongado de descongestionantes, deverá começar por aplicar o spray de forma alternada: num dia, aplica-o numa narina e, na outra, soro fisiológico ou água do mar esterilizada; no dia seguinte, troca. Repita a operação até o nariz destapar. Outra forma de se desabituar é usar o produto diluído em água. prolongamento do sono na atuação do indivíduo durante o dia. Minimizar os riscos ■ Os pacientes tratados com benzodiazepinas podem sofrer de sonolência, fadiga, tonturas, dificuldades de concentração, pro- A prescrição de ansiolíticos a seniores duplicou no último ano blemas de memória e confusão mental. Estes efeitos são mais frequentes em idosos: o medicamento fica mais tempo no organismo, porque a metabolização e a eliminação são mais lentas. ■ As benzodiazepinas podem ainda condicionar a manobra de má- > teste saúde 104 agosto/setembro 2013 ■ Em comprimidos ou injeções, as benzodiazepinas atuam sobre os neurotransmissores, abrandando a circulação das mensagens entre o cérebro e o resto do organismo. Assim, as respostas físicas e emocionais são também mais lentas, pelo que estes medicamentos provocam relaxamento muscular, sonolência, confusão mental e alívio da tensão e da ansiedade. Por vezes, os efeitos são acompanhados de desinibição, agressividade ou isolamento e depressão. ■ Segundo a Agência Europeia do Medicamento (EMA), estes fármacos só estão indicados para casos graves e incapacitantes de ansiedade e insónia que sujeitem o indivíduo a grande desgaste. A duração do tratamento deve ser curta: oito a doze semanas no caso ansiedade e, no máximo, quatro semanas para a insónia. O nosso estudo sobre consumo de ansiolíticos publicado em fevereiro de 2013 (TESTE SAÚDE n.º 101) revelou, contudo, que 43% dos inquiridos consumiam medicamentos destes há mais de um ano. ■ A partir dos dois meses de utilização, as provas de eficácia das benzodiazepinas no tratamento dos sintomas de ansiedade são limitadas. Além disso, há um grande risco de habituação: é necessária uma dose cada vez maior para obter os mesmos efeitos. No estudo de fevereiro, um quarto dos inquiridos confirmou essa necessidade. ■ Quando utilizados para tratar insónias, estes fármacos prolongam o sono, em média, entre 30 minutos e uma hora por noite, mas apenas durante algumas semanas. Os estudos realizados nesta área nada dizem sobre os efeitos do 23 Benzodiazepinas Mau uso de medicamentos: passo a passo da notificação Se se enganou a tomar um medicamento (quantidade, frequência ou duração do tratamento, por exemplo), informe o Sistema de Farmacovigilância do Infarmed. Caso haja mais registos relativamente ao fármaco, as autoridades podem exigir medidas preventivas à indústria. A participação pode ser feita por qualquer pessoa, não sendo necessários dados pessoais da vítima: apenas terá de indicar a idade e o sexo. Pode fazer o registo online, através do portal do Infarmed, ou imprimir o formulário (ou pedi-lo ao médico ou ao farmacêutico), preencher e enviar pelo correio. 1 2 3 www.infarmed.pt Notificar reação Preencher e enviar Procure o portal RAM na zona inferior desta página Selecione este campo, adicione o formulário e descreva pormenorizadamente o erro e as respetivas consequências Após preencher cada um dos campos, clique em "adicionar". Na zona relativa ao notificador, encontra o botão para enviar > teste saúde 104 agosto/setembro 2013 quinas e a condução de veículos. A Direção-Geral da Saúde refere que o uso destes medicamentos pode aumentar o risco de acidentes na estrada. Para minimizar os efeitos, recomenda-se a toma à noite, antes de deitar. ■ Evitar as bebidas alcoólicas durante o tratamento é outro cuidado essencial, já que estas potenciam os efeitos sedativos das benzodiazepinas, podendo diminuir a atividade do sistema respiratório e conduzir ao coma e à morte. Elevam ainda o risco de reações adversas, como irritabilidade, agressividade, pesadelos, agitação e sintomas psicóticos, que podem variar entre a agitação e comportamentos antissociais. 24 Benzodependentes ■ O uso de benzodiazepinas por longos períodos ou em grandes doses é uma causa de possível dependência física e psicológica. Se o doente abandonar o tratamento de forma abrupta, existe uma grande probabilidade de sofrer de sintomas de privação ou abstinência. Esta manifesta-se através do aumento da ansiedade, sobretudo quando não tem o medicamento à mão, problemas de sono, irritabilidade, náuseas, dor de cabeça, tensão muscular, tremores e palpitações. Por outras palavras, voltam os sintomas que levaram à toma inicial dos medicamentos, por vezes até com maior intensidade. Em casos mais graves ocorrem convulsões, confusão mental e perda de consciência da própria personalidade. Hipersensibilidade a estímulos sensoriais, como o ruído e o luz, são outros sintomas. ■ Para evitar estes problemas, é essencial parar o tratamento de forma gradual e progressiva, ou seja, fazer o chamado desmame. Mesmo assim, é possível que nesta fase transpire mais e sinta alguma ansiedade, bem como falta de apetite. Tal não significa que tenha tido uma recaída. Pode querer dizer apenas que o organismo está a adaptar-se à falta de medicação. ■ Para o sucesso da operação, é essencial que o médico acompanhe todo o processo. Não deixe de ir às consultas, siga escrupulosamente as instruções e, sobretudo, nunca abandone o tratamento por inciciativa própria. mais vale prevenir Receita obrigatória e toma regrada ´ Nunca tome benzodiazepinas que não lhe tenham sido receitadas. Mesmo que os sintomas sejam idênticos aos de um amigo ou familiar, a solução pode ser outra. ´ Se o médico lhe prescreveu medicamentos destes, siga à risca as instruções. Leia o folheto informativo e, em caso de dúvida, contacte um profissional de saúde. ´ Evite as bebidas alcoólicas durante o tratamento e preste atenção aos afeitos adversos. Evite conduzir ou manobrar máquinas. ´ Não pare o tratamento por iniciativa própria. Estes medicamentos exigem a retirada progressiva, para evitar os sintomas de privação. ´ Pratique exercício físico regularmente e tente dormir o suficiente (no mínimo, sete horas) para manter o corpo e a mente em equilíbrio. Dossiê sobre medicamentos em www.deco.proteste.pt