Nutrição e fertilização de orquídeas

Propaganda
Núcleo de Pesquisa e Conservação de Orquídeas Universidade Federal de Viçosa (NPCO – UFV)
Nutrição e fertilização de orquídeas
Estudo de caso – Cattleya walkeriana
André Ferreira Santos
Viçosa-MG
Março – 2010
1. Introdução
A produção e o cultivo de orquídeas, visando atender o mercado e a
preservação destas espécies, requerem inúmeros cuidados, tais como irrigação,
adubação, recultivo, controle de pragas e doenças, escolha do vaso e substrato,
desinfestação de ferramentas, toalete, entre outras (Rosa et al., 2009).
Dentre estes fatores a adubação tem grande importância, visto a essencialidade
dos nutrientes às plantas, e tem gerado grande preocupação entre os orquidófilos, visto
que a fertilização das orquídeas tem sido feita de forma empírica pelos colecionadores e
produtores, já que existem poucas informações a respeito da demanda nutricional destas
plantas e que a maioria dos fertilizantes existentes no mercado não foi desenvolvida
especificamente para as orquídeas.
Apesar das orquídeas serem conhecidas e cultivadas há tanto tempo, os
estudos relacionados à nutrição e fertilização dessas são escassos, localizados e com
poucas espécies, excluindo-se um grande número de outras espécies, o que acaba
gerando limitada informação com base científica. Assim, as recomendações de
adubação ficam a cargo da experiência dos orquidófilos e dos fabricantes de
fertilizantes.
Portanto, o objetivo, com este trabalho, é apresentar conhecimentos básicos
em nutrição e avanços em fertilização de orquídeas para que, assim, os orquidófilos
aprimorem as técnicas de cultivo e fertilização de suas orquídeas e a capacidade de
diagnosticar problemas nutricionais em suas plantas, facilitando o caminho entre o
surgimento do problema e a sua resolução.
2. Nutrição
2.1. Conceitos básicos
Existem dois grupos de seres vivos em relação à obtenção de seu alimento, os
heterotróficos e os autotróficos. Os seres vivos heterotróficos são aqueles que não
conseguem produzir seu próprio alimento, como por exemplo, nós, que dependemos de
uma fonte externa de energia para sobrevivermos, a qual adquirimos com os alimentos
que ingerimos. Já as plantas, que são organismos autotróficos, conseguem produzir seu
próprio alimento a partir de minerais, água, CO2 e luz (fotossíntese) (Taiz e Zaiger,
2009).
Cerca de 95 % da matéria seca de uma planta é constituída de carbono (C),
oxigênio (O) e hidrogênio (H). O restante (5 %) é composto pelos chamados nutrientes
minerais, também conhecido como elementos essenciais. Estes nutrientes estão
divididos em dois grupos, aqueles que são exigidos em maiores quantidades,
macronutrientes, e os que são exigidos em menores quantidades, micronutrientes. Os
macronutrientes são: nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio
(Mg) e enxofre (S); e os micronutrientes: ferro (Fe), manganês (Mn), zinco (Zn), cobre
(Cu), boro (B), molibdênio (Mo), cloro (Cl) e níquel (Ni). Estes elementos são
essenciais ao desenvolvimento da planta, ou seja, na ausência de qualquer um deles a
planta não consegue sobreviver (Marschner, 1995).
Os elementos C, O e H são
fornecidos à plantas a partir da água e CO2, não havendo limitação desses nas condições
normais de cultivo (Taiz e Zaiger, 2009).
A limitação de qualquer nutriente resultará em crescimento e desenvolvimento
mais lento, em plantas mais susceptíveis a doenças e pragas e, em casos mais severos de
limitação nutricional, no surgimento de sintomas visuais de deficiência (Marschner,
1995).
2.2. Funções dos nutrientes na planta
Como se viu anteriormente existe nutrientes minerais que são essenciais à
manutenção da vida das plantas, agora será descrito o papel destes nutrientes. Pode-se
comparar a sua atuação com a construção de uma casa, qualquer construção tem
componentes fixos, como paredes e pisos, que não podem ser transferidos de um lugar
para outro, também existem componentes móveis, como lâmpadas, as quais poderão ser
transferidas de um cômodo para outro caso seja necessário, e ainda podemos citar outros
componentes, como: interruptores, torneiras, tubulação, a partir dos quais será permitida
a passagem de energia elétrica, ou água (Rosa et al., 2009).
Comparando uma construção com uma planta, percebe-se que a mesma tem
elementos estruturais os quais dão sustentação a planta e seriam equivalentes aos tijolos
e cimento das paredes e pisos, elementos envolvidos em reações ou energia, seriam
equivalentes a energia elétrica, e outro grupo de elementos seriam aqueles envolvidos
nos processos de ativação, seriam semelhantes a um interruptor ou torneira, ou seja, é
através deles que a corrente elétrica ou a água passam (Rosa et al., 2009).
Principais funções dos nutrientes minerais em plantas:
Nitrogênio (N) – Constituinte de aminoácidos, proteínas e, portanto, de
enzimas; é constituinte, também, de ácidos nucléicos, ATP, alcalóides, clorofila, bem
como de componentes estruturais da parede celular. Sua deficiência tem como maior
problema a limitação na síntese de proteínas e, como conseqüência, a falta de enzimas
com forte efeito negativo sobre o crescimento e desenvolvimento da planta. Sua
deficiência causa clorose ou amarelecimento foliar, em razão da menor síntese de
clorofila.
Fósforo (P) – Envolvido na transferência de energia pela formação de
compostos, como ATP, ricos em energia, e como componente de membranas celulares e
ácidos nucléicos. É o elemento mais envolvido no processo de estocagem e consumo de
energia na planta. Ativador de enzimas-chave no metabolismo.
Potássio (K) – Sua função principal é o controle do balanço hídrico da planta,
ou seja, é responsável pelo turgor da planta por meio do controle da abertura estomática.
Essencial à síntese de proteínas e carboidratos. Ativador de numerosas enzimas.
Cálcio (Ca) – Maior constituinte da parede celular, sendo, portanto, essencial
à formação de novas células (divisão celular) e à estabilidade de membranas celulares.
Ativador de enzimas.
Magnésio (Mg) – Componente da clorofila. Requerido para a síntese de
proteínas e ativador de enzimas.
Enxofre (S) – É constituinte dos aminoácidos cisteína e metionina, o que torna
a síntese de proteínas limitada pela deficiência deste nutriente.
Ferro (Fe) – Componente de reações relacionadas a ganho (fotossíntese) e
perda (respiração) de energia, dada sua função na transferência de elétrons (e-), por
meio dos estados de oxidação reversíveis: Fe3+ + e- ↔ Fe2+ (constituinte da cadeia de
transporte de elétrons).
Manganês (Mn) – Possui propriedades similares às do magnésio em alguns
sistemas enzimáticos. Envolvido na regulação da concentração de auxina1 na planta por
meio da enzima auxina-oxidase. Requerido na fotossíntese para a divisão da molécula
d’água pela luz.
1
A auxina é um hormônio de crescimento da planta. Na sua presença em maiores concentrações há um
alongamento celular, retratado em tecidos com crescimento estiolado, como se a planta estivesse no
escuro.
Cobre (Cu) – À semelhança do ferro, participa de reações relacionadas à
cadeia de transporte de elétrons (Cu2+ + e- ↔ Cu+). Ativador de diversas enzimas.
Zinco (Zn) – Envolvido na síntese de auxina e, portanto, no alongamento
celular: alongamento de entrenós, folha, etc. Constituinte de muitas enzimas.
Boro (B) – Constituinte de membranas e parede celular, sendo, portanto,
essencial à divisão e ao crescimento celular.
Molibdênio (Mo) – Constituinte de duas enzimas essenciais ao metabolismo
do nitrogênio na planta: a nitrato redutase, responsável pela redução do nitrato
absorvido e a conseqüente utilização deste nutriente na síntese de proteína; e a
nitrogenase, envolvida na fixação biológica do nitrogênio atmosférico2. Portanto, é um
elemento envolvido em transporte de elétrons (MoVI+ + e- ↔ Mo V+). A deficiência deste
nutriente na planta causa sintoma semelhante ao provocado pela deficiência de
nitrogênio.
Cloro (Cl) – Envolvido na divisão da molécula da água com evolução de O2
no processo fotossintético. Apesar de sua essencialidade à planta, teoricamente
comprovada em ambiente controlado, sua deficiência não tem sido detectada em
ambientes não-controlados.
Níquel (Ni) – Constituinte enzimática da urease. A urease é essencial à
utilização da uréia como fonte de N pelas plantas. Sem a urease, a aplicação de uréia
causa grande acúmulo deste composto na planta, levando à necrose intensa nas pontas
das folhas. Assim, a toxidez provocada pela uréia pode ocorrer em plantas com baixa
concentração de Ni. A concentração ótima (ideal) de Ni em plantas, de modo geral, está
na faixa de 1 a 10 mg/kg de matéria seca. Não há informações sobre sua concentração
ideal em orquídeas.
Essas e outras funções dos nutrientes minerais foram citadas por Taiz e Zaiger
(2009) e Marschner (1995).
2.3. Sintomas visuais de deficiência nutricional
A deficiência de qualquer um dos nutrientes irá limitar o crescimento e
desenvolvimento da planta e, dependendo da intensidade com a qual essa deficiência
esteja ocorrendo, será possível observar sintomas evidentes dessa deficiência. Também
2
O Azospirillum amazonenses tem sido encontrado em raízes de orquídeas como responsável pela fixação
não-simbiótica de nitrogênio nestas plantas (Lange & Moreira, 2002).
pode ocorrer uma deficiência silenciosa, na qual a planta não manifesta claramente os
sintomas de deficiência nutricional, sendo a redução no crescimento da planta o sintoma
visual mais proeminente dessa deficiência.
Esses sintomas são divididos em dois grupos: sintomas de deficiência relativos
aos nutrientes móveis e sintomas relativos aos nutrientes imóveis, ou seja, existe
diferença no comportamento dos nutrientes dentro da planta. Como já se sabe existem
elementos estruturais, os quais, não poderão ser retirados de uma determinada parte da
planta para satisfazer as necessidades de outra, são os chamados nutrientes imóveis e o
sintoma de sua deficiência se dá em regiões novas como brotos e raízes em formação,
por outro lado existem elementos móveis que podem ser retirados de uma determinada
parte da planta para satisfazer outra, assim, sob condições de deficiência desses
nutrientes, a planta transfere o nutriente de um órgão mais velho e menos ativo, para um
órgão novo e mais ativo que necessita do nutriente, aparecendo, então, os sintomas nas
partes mais velhas (Marschner, 1995). Com isso podemos construir uma chave de
identificação de sintomas visuais de deficiência nutricional (Quadro 1).
3. Fertilização
3.1. Por que adubar?
Acreditou-se durante muito tempo que a adubação de orquídeas seria uma
prática dispensável, porém percebeu-se que a adubação produzia efeitos significativos
no cultivo de orquídeas, produzindo plantas maiores, florescendo com menos tempo e
sem sintomas de deficiência nutricional.
A natureza também aduba suas orquídeas utilizando as fontes que tem:
material em decomposição, água da chuva, poeira, excrementos de animais, bactérias,
algas e liquens. Entretanto, vale ressaltar que existem grandes diferenças entre as
adubações feitas pelo homem e aquelas feitas pela natureza, o homem tem pressa
querendo ver respostas o mais rápido possível, já a natureza se importa apenas com a
resposta não considerando o tempo, com isso não é raro a ocorrência de problemas com
a aplicação em excesso de fertilizantes, levando em muitos casos à morte da planta.
Quadro 1. Chave de identificação de sintomas visuais de deficiências nutricionais em
orquídeas3
Nutrientes móveis (sintomas ocorrem em folhas mais velhas)
N
Amarelecimento uniforme de folhas mais velhas (traseiras), com posterior
perda destas folhas, permanecendo apenas o pseudobulbo no caso daqueles
gêneros que o possuem. Redução do crescimento.
Crescimento reduzido; plantas com folhas com um verde muito escuro e,
P
ou, avermelhadas (manchas avermelhadas pelo acúmulo de antocianina –
pigmento avermelhado).
K
Amarelecimento e necrose (morte de tecido) de folhas mais velhas; plantas
mais suscetíveis a pragas e doenças.
Mg
Folhas velhas com clorose internerval. Pontas das folhas cloróticas
esbranquiçadas, dobradas (enroladas) para dentro.
Nutrientes imóveis (sintomas ocorrem em folhas mais novas e brotações)
Ca
Morte de brotações e raízes novas. Crescimento restrito de raízes.
S
Amarelecimento uniforme, mais intenso nas folhas mais novas.
Morte de brotações e de raízes. Engrossamento de folhas novas e de pontas
B
Mn
e
Fe
de raízes. Nas flores, pétalas, sépalas e labelo não se formam
completamente, deformando-se.
Folhas novas com clorose e possível necrose internerval. No caso de
deficiência de Fe, a clorose tende a ser mais clara, esbranquiçada. Dada a
semelhança do sintoma desses dois nutrientes, a separação entre eles deve
ser feita determinando-se suas concentrações foliares para verificar qual
deles ou os dois é, ou são, limitante(s).
Cu
Folhas novas deformadas, retorcidas.
Zn
Folhas novas anormalmente pequenas, lançamentos ou entrenós curtos.
Limitado crescimento de tecidos mais novos. Brotação intensa de gemas,
com morte subseqüente das brotações.
3.2. Quanto e o que adubar?
Na maioria das vezes fazemos essa pergunta na seqüência invertida (o que e
quanto adubar?), mas é necessário conhecer-se primeiro o quanto deve ser aplicado de
cada nutriente, para que, então, sejam escolhidos os produtos que serão utilizados como
fonte dos nutrientes e, posteriormente, definirmos a dose do produto a ser utilizado.
3
No caso de possível deficiência de níquel (Ni) na planta, há necrose intensa nas pontas das folhas em
plantas que receberam aplicação de uréia.
Para conhecer a quantidade necessária de cada nutriente a ser aplicada é
preciso saber o quanto as orquídeas necessitam desses, esta quantidade é denominada de
demanda nutricional. Essa demanda pode ser calculada a partir dos teores dos nutrientes
nos tecidos das orquídeas e da produção de matéria seca (MS) dessas plantas. Deste
modo, para calcular a demanda de cada nutriente basta multiplicar o teor do nutriente
pela produção de matéria seca esperada, como indica a equação a seguir:
Dj = TNj × MS,
Equação 1
em que, Dj é a demanda nutricional do nutriente “j” (mg/ano ou mg/pseudobulbo do
nutriente “j”); TNj é o teor do nutriente “j” nos tecidos da orquídea (g/kg do nutriente
“j” na MS); e MS é a produção de matéria seca esperada (g/ano ou g/pseudobulbo de
MS). Na obtenção desses valores devem-se utilizar plantas saudáveis, vigorosas e sem
sintomas de deficiência nutricional.
Em trabalhos realizados pelos pesquisadores do NPCO-UFV (Núcleo de
Pesquisa e Conservação de Orquídeas da Univ. Federal de Viçosa), em parceria com a
ACW (Ass. da Cattleya Walkeriana), foram determinados os teores nutricionais e
produção de MS por fitômero (composto por um pseudobulbo e suas folhas, raízes e
rizoma – Figura 1) e estimadas a demanda nutricional de plantas adultas de Cattleya
walkeriana (Quadros 2 e 3).
Folha
Fitômero
Pseudobulbo
+ Rizoma
Raiz
Figura 1. Esquema representativo de um fitômero de C. walkeriana. Neste esquema foi
desconsiderada a inflorescência associada ao fitômero.
Outros trabalhos, desse mesmo grupo de pesquisa, utilizando outras espécies e
híbridos de orquídeas do grupo das catléias, demonstram que existe uma semelhança
entre a demanda nutricional dessas plantas com a da C. walkeriana (dados não
apresentados).
Quadro 2. Produção de matéria seca (MS) e teores dos nutrientes nas folhas (F),
pseudobulbo (P) e raízes (R) do segundo fitômero completamente desenvolvido
contando a partir da frente de crescimento
Produção
MS
N
Teor (macronutriente)
P
K
Ca
Mg
-1
__ g __ ______________ g kg
F
P
R
1,00
1,40
1,50
S
Teor (micronutriente)
Mn
Zn
B
Cu
Fe
-1
______________
_____________ mg kg
9,13 0,98 12,36 22,6 3,22 1,08
4,45 1,33 7,12
6,3 1,44 1,06
6,59 1,44 6,91
5,1 1,39 1,36
83
74
473
61
64
225
327
60
25
Mo
_____________
175 9,8 0,50
101 9,2 0,48
140 22,0 2,18
Após conhecida a demanda nutricional das orquídeas, ou seja, a quantidade de
cada nutriente que essas plantas precisam para ter um crescimento e desenvolvimento
satisfatório, faz-se necessário decidir quais fertilizantes poderão ser utilizados para
suprir tal demanda. Para isso, deve ser levada em conta a composição do fertilizante, ou
da combinação entre fertilizantes, a qual deverá condizer com a demanda nutricional da
orquídea.
Quadro 3. Produção de matéria seca (MS) e conteúdo dos nutrientes nas folhas (F),
pseudobulbo (P), raízes (R) e total do segundo fitômero completamente desenvolvido
contando a partir da frente de crescimento
Produção
MS
F2
P2
RL
Total
N
Conteúdo (macronutriente)
P
K
Ca
Mg
S
Fe
Conteúdo (micronutriente)
Zn
Mn
B
Cu
Mo
__ g __ ______________ mg/órgão ______________
_____________ µg/órgão _____________
1,00
9,13 0,98 12,36 22,64 3,22 1,08
83
61 327 175 9,8 0,50
1,40
6,23 1,86 9,96 8,80 2,01 1,48
103
89
84 141 12,9 0,67
1,50
9,89 2,16 10,37 7,59 2,09 2,05
710 337
38 210 32,9 3,27
3,90
25,24 5,00 32,69 39,03 7,33 4,61
897 487 448 527 55,6 4,44
Considerando que 100 % dos nutrientes dos fertilizantes fossem absorvidos
pelas orquídeas, o fertilizante ideal deveria ter a relação entre os nutrientes igual à
relação entre o conteúdo dos nutrientes na orquídea. No entanto, as taxas de recuperação
pelas orquídeas de cada nutriente não são de 100 % e são diferenciadas entre cada
nutriente. Portanto, a quantidade a ser aplicada de cada nutriente deve ser maior que
aquela exigida pela orquídea para suprir de forma adequada essa exigência. Por
exemplo, se a demanda anual por N e P forem de 25 e 5,0 mg/ano, respectivamente, e as
taxas de recuperação de N e P pelas orquídeas forem de 50 e 80 %, respectivamente, as
quantidades adequadas para suprir essas demandas seriam de 50 e 6,25 mg/ano de N e
P, respectivamente.
Desconsiderando as taxas de recuperação dos nutrientes pelas orquídeas, a
escolha do fertilizante pode ser feita comparando a relação entre os nutrientes no
fertilizante e a relação entre o conteúdo dos nutrientes na orquídea. Uma forma mais
prática de visualizar essa comparação é estabelecendo a quantidade semanal que seria
gasta do fertilizante (ou da solução contendo o fertilizante) para suprir a demanda
isolada de cada nutriente, para isso pode ser utilizada a seguinte equação:
Vj = Dj × 100 / (TNAj × CFS × NSA)
Equação 2
em que, Vj é o volume de solução de fertirrigação que deverá ser aplicado considerando
apenas a demanda do nutriente “j” (mL/semana da solução de fertirrigação); Dj é a
demanda nutricional do nutriente “j” (mg/ano do nutriente “j”); TNAj é o teor do
nutriente “j” no adubo (% do nutriente “j” no adubo); CFS é a concentração do
fertilizante na solução de fertirrigação (g/L do fertilizante); e NSA é o número de
semanas em um ano (52,14 semanas/ano).
Para mostrar a importância dessa análise na escolha do fertilizante,
determinou-se o volume da solução de fertirrigação que deveria ser aplicado por planta,
considerando a demanda isolada de cada nutriente, para três diferentes fertilizantes para
orquídeas disponíveis no mercado (Quadro 4).
Quadro 4. Volumes semanais de soluções de fertirrigação, preparadas com três
diferentes fertilizantes para orquídeas, necessários para suprir a demanda anual de
Cattleya walkeriana por um determinado nutriente
Macronutriente
-1
Micronutriente
Adubo (2g L )
N
P
K
Ca
Mg
S
Fe
Zn
Mn
B
Cu
Mo
_________________________ mL/semana _________________________
®
(1)
1,2
0,6
1,9
-
5,4
2,7
7,3
31,9
7,3
34,5
2,7
0,4
®
(1)
2,5
0,4
1,9
-
5,4
2,7
7,3
31,9
7,3
34,5
2,7
0,4
®(1)
3,1
1,2
5,4
5,1
4,1
1,1
1,6
1,4
2,2
5,8
1,1
0,6
Peters 20-20-20
Peters 10-30-20
B&G Orchideés
(1)
Os teores de cada um dos nutrientes nos fertilizantes Peters® e B&G Orchidées ®, utilizados para
determinar os valores apresentados neste quadro, estão disponíveis nos sites www.jrpeters.com e
www.begflores.com.br. Último acesso, em ambos os sites, foi realizado no dia 23.03.2010.
A variação do volume de solução de fertirrigação necessário para suprir a
demanda de Cattleya walkeriana por cada um dos nutrientes é muito grande para as
duas formulações do fertilizante Peters®, variando de 0,4 a 34,5 mL/semana para Mo e
B, respectivamente, enquanto que, para a solução de fertirrigação contendo 2 g/L de
B&G Orchidées®, essa variação foi muito menor (0,6 a 5,8 mL/semana para Mo e B,
respectivamente). Sendo assim, se for aplicado 34,5 mL/semana da solução de Peters
20-20-20 ou 10-30-20 (2 g/L) será desperdiçado a quantidade de Mo presente em 34,1
mL da solução, já que a orquídea necessitaria apenas de 0,4 mL, caso o contrário
acontecesse, se fosse aplicado apenas 0,4 mL da solução, a orquídea não seria suprida
adequadamente de B. Outro aspecto importante, é que essa duas formulações do
fertilizante Peters® não possuem Ca, sendo, então, necessária a combinação desses
ferlilizantes com outras fórmulas do Peters, ou com outros fertilizantes que contenham
Ca, como o nitrato de cálcio [Ca(NO3)2], a farinha de osso e outros fertilizantes de
origem orgânica que contenha cinzas e farinha de osso.
O fertilizante B&G Orchidées® foi desenvolvido especificamente para
orquídeas e durante seu desenvolvimento foram consideradas as exigências nutricionais
médias de orquídeas de diversos gêneros e espécies e as taxas de recuperação de cada
nutriente pelas plantas, por isso ele apresenta uma discrepância entre os valores do
volume de solução de fertirrigação, necessário para suprir a demanda de Cattleya
walkeriana por cada um dos nutrientes, muito menores que nas formulações do Peters®.
Considerando os teores e a produção de matéria seca anual de diversas
espécies de orquídeas comumente encontradas nos orquidários dos colecionadores
brasileiros, recomenda-se a aplicação de 10 g do fertilizante B&G Orchidées® por
semana para cada 100 plantas. Uma forma de realizar essa aplicação é preparar uma
solução contendo 4 g desse fertilizante em 1 L de água e aplicar 25 ml dessa solução em
cada vaso. Segundo essa recomendação, a quantidade necessária desse fertilizante para
o cultivo de 100 plantas durante um ano seria de, aproximadamente, 525 g.
Outra opção para a fertilização das orquídeas é utilizar uma combinação de
fontes simples de fertilizantes para suprir a demanda nutricional das orquídeas. Para que
isso seja feito o orquidófilo deverá procurar a ajuda de um engenheiro agrônomo ou
florestal para auxiliá-lo a combinar as fontes simples de fertilizantes, de modo que a
proporção entre esses fertilizantes gerem uma proporção de nutrientes compatível com a
exigida pelas orquídeas.
4. Literatura Citada
LANGE, A. & MOREIRA, F.M.S. Detecção de Azospirillum amazonense em
raízes e rizosfera de Orchidaceae e de outras famílias vegetais. R. Bras. Ci. Solo,
26:529-533, 2002.
MARSCHNER H. Mineral nutrition of higher plants. 2.ed. London, Academic
Press, 1995. 889p.
ROSA, G.N.G.P.; NOVAIS, R.F.; SANTOS, A.F.; LOCATELLI, M.V. et al.
Cultivo de orquídeas. 5.ed. Viçosa, 2009. 35p.
TAIZ, L. & ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4.ed. Porto Alegre, Artmed, 2009.
820p.
5. Agradecimentos
À Deus pela equipe de trabalho do NPCO-UFV; pela dedicação e apoio de
minha esposa, Luiza B. F. Santos; pelo apoio da ACW; e pelas orientações, criticas e
sugestões dos professores Victor Hugo Alvarez V., Roberto F. de Novais e Wagner
Campos Otoni.
6. Contatos
E-mail: [email protected]
Telefone: 031 3891-6803; 031 3899-1055
Celular: 031 9216-2803
Download