Área: CV ( X ) CHSA ( ) ECET ( ) UTILIZAÇÃO DE TÉCNICA ALOMÉTRICA NA ANÁLISE DAS FREQUÊNCIAS CARDÍACA E RESPIRATÓRIA EM DIFERENTES TÁXONS Bruno Carneiro Pinheiro (discente ICV), Marcelo Campos Rodrigues (Orientador, Depto de Biofísica e Fisiologia – CCS, UFPI) Introdução Diversos processos fisiológicos e anatômicos, como tamanhos de órgãos, dispêndio energético em repouso, hábitos alimentares e reprodutivos , exibem íntima relação com a massa corporal, e o estudo do tamanho e massa corporal de organismos e sua relação com fenômenos fisiológicos é denominada alometria (MAHMOOD, 2007). Escalas alométricas interespecíficas são baseadas em semelhanças anatômicas e fisiológicas explicadas e estimadas através de formulações matemáticas. Assim, a extrapolação alométrica pretende comparar matematicamente parâmetros fisiológicos entre animais de espécie e massas corporais diferentes, utilizando-se apenas sua massa corporal e grupo taxonômico à que pertence (SEDGWICK, 1993; PACHALLY, 2007). Na prática veterinária, no âmbito dos animais silvestres, a extrapolação empírica do que é observado em animais domésticos é uma prática rotineira. Porém, pode levar a graves falhas por desconsiderar as particularidades de cada espécie (PACHALLY 2007). A escassez e muitas vezes inviabilidade de estudos aprofundados sobre a fisiologia e farmacologia de animais silvestres torna a extrapolação alométrica uma ferramenta importante ao médico veterinário que pretende trabalhar nesta área do conhecimento (SEDGWICK, 1993; PACHALLY, 2007). A avaliação de parâmetros vitais é de grande importância ao médico veterinário, pois auxiliam no diagnóstico de patologias, monitoramento do stress, avaliação de plano anestésico e outras informações sobre as condições do animal (GUYTON & HALL, 2006; MASSONE, 2004). No entanto, a grande diversidade de espécies com diferenças morfológicas e fisiológicas e seu pequeno tamanho corporal são fatores que dificultam o monitoramento desses pacientes (SILVA, 2007). Pode-se, através da extrapolação alométrica, estimar parâmetros vitais sem a necessidade de contenção física ou aferição direta no animal, minimizando seu stress e riscos ao tratador e médico veterinário (PACHALY, 2007; SEDGWICK, 1993). O objetivo do trabalho foi comparar os parâmetros frequência cardíaca e respiratória obtidos por cálculo por extrapolação alométrico com estes mesmos parâmetros obtidos por aferição direta, em três espécies de grupo taxonômico diferente. Metodologia Foram utilizados dezoito animais, sendo seis cutias (Dasyprocta prymnolopha), seis emas (Rhea americana) e seis jabutis (Chelonoidis sp.), oriundos do NEPPAS – Núcleo de estudo, pesquisa e preservação de animais silvestre, CCA - UFPI e do Centro de Triagem de Animais Silvestres – CETAS, IBAMA/PI. Cada animal foi contido fisicamente com o auxílio do tratador e teve sua massa corporal (em kg) aferida. Em seguida, os animais foram quimicamente contidos para a aferição de frequências cardíaca e respiratória. A contenção química se deu, em emas e cutias, com o uso da associação tiletamina/zolazepam, por via intramuscular, enquanto em jabutis se utilizou cetamina/midazolam, em doses adequadas para cada espécie. A frequência cardíaca (FC) foi aferida com Ecg veterinário DL650 (Deltalife®), e a frequência respiratória (ƒ) por observação do gradil costal e abdome, para em emas e cutias. Nos quelônios, a frequência respiratória foi observada pela movimentação dos membros torácicos. Estes parâmetros foram aferidos em intervalos de 5 minutos, por 30 minutos totais. Foram então calculadas as médias aritméticas, denominadas frequências cardíaca e respiratória médias de cada animal. Os animais tiveram sua recuperação assistida e foram adequadamente devolvidos aos seus recintos, sem dano físico. Esse protocolo foi aplicado duas vezes em cada animal, com espaçamento mínimo de sete dias, totalizando 12 procedimentos de contenção química em cada grupo taxonômico e 36 no total. Conforme formulação matemática disposta na tabela I, as frequências cardíaca e respiratória puderam ser calculadas para cada animal. Estas foram comparadas com as frequências cardíacas e respiratórias médias observadas dentro de cada grupo taxonômico. Tabela 1: Formulações matemáticas para cálculo alométrico de frequências cardíaca e respiratória em repouso, em diferentes táxons, onde M representa a massa corporal (em Kg). Grupo taxonômico Mamíferos Aves Repteis Adaptado de Sedgwick (1993) FC em repouso -0,25 241 x M -0,23 155,8 x M -0,25 33,4 x M FR em repouso -0,26 53,5 x M -0,31 17,2 x M -0,04 15,6 x M Resultados De um modo geral, o método alométrico não apresentou resultados satisfatórios na estimativa de frequências cardíaca e respiratória de emas, cutias e jabutis contidos quimicamente nos 36 protocolos realizados (12 em cada táxon, 2 protocolos em cada animal). Na maioria dos protocolos aplicados, (9/12 emas, 6/12 cutias, 12/12 jabutis), os valores médios obtidos de FC e ƒ foram estatisticamente diferentes dos calculados com grau de cert eza p < 0,01 pelo teste t. Em apenas um protocolo, em uma cutia, tanto frequência cardíaca como respiratória foram adequadamente preditos pelo método alométrico. Houve grande variação individual em todos os grupos. Nas emas, os valores médios para FC, obtidos e calculados, foram respectivamente 127,76 e 74,75 batimentos por minuto, enquanto para ƒ as médias obtidas e calculadas foram 36,89 e 6,39, respectivamente. Apenas uma ema teve sua FC estimada satisfatoriamente. Quanto às cutias, os valores aferidos e calculados para FC foram 181,04 e 194,28 batimentos por minuto, respectivamente, enquanto para ƒ, os valores médios foram 56,14 respirações por minuto para ƒ obtida e 42,72 respirações por minuto para ƒ calculada. As frequências cardíacas obtidas nos jabutis foram em média 38,6 ± 5,4 batimentos por minuto. Em duas aplicações em jabutis não foi possível se aferir a frequência respiratória, pois o animal permaneceu em apneia durante todo o período experimental. Esse comportamento em jabutis é comum, como des crito por Schumacher (2007), na aplicação de drogas anestésicas e sedativas. As possíveis razões para estes resultados são diversas. Fármacos anestésicos frequentemente alteram parâmetros fisiológicos, como frequência cardíaca e respiratória, m esmo fármacos que se considera influenciar pouco nesses parâmetros (LIN, 2013). No entanto, a aferição de parâmetros fisiológicos em animais silvestres sem o uso de fármacos tranquilizantes é difícil, por sua natureza agressiva e baixo grau de domesticidade (PACHALLY, 2007). Grupos amplos, como mamíferos e aves, englobam animais de tamanhos e fisiologias muito diferentes. Portanto, explicar e prever com exatidão fenômenos fisiológicos complexos em uma única fórmula matemática sucinta é extremamente difícil (MAHMOOD, 2007). Observou-se grande variação individual entre cada animal, em ambos os parâmetros estudados, dificultando a adequação de vários indivíduos em uma única fórmula. Desse modo, a extrapolação alométrica segue como uma ferramenta importante em diversas áreas do conhecimento, como medicina veterinária, biologia, física e outras , contribuindo para a compreensão dos mecanismos por trás das relações biológicas na natureza (MAHMOOD, 2007). Conclusão: A aplicação do método de extrapolação alométrica interespecífica para a estimativa de frequências respiratória e cardíaca em emas, cutias e jabutis não promoveu resultados satisfatórios. A diferença entre os dados obtidos e calculados para ambos os parâmetros, nas três espécie s estudadas, indica que as fórmulas descritas na metodologia não são as mais adequadas para a estimativa destes parâmetros. Referências Bibliográficas: GUYTON A.C. & HALL J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 11ª ed. Editora Elsevier, São Paulo. 2006. LIN, H. Anestésicos Dissociativos. In: TRANQUILLI, W. J.; THURMON, J. C.; GRIMM, K. A. Lumb & Jones: Anestesiologia e Analgesia Veterinária. 4ª Ed. São Paulo: Roca, p. 335-384, 2013. MAHMOOD, I. Application of allometric principles for the prediction of pharmacokinetics in human and veterinary drug development. Advanced Drug Delivery Reviews, v.59, n.11, p.1177-1192, 2007. PACHALY, J.R. Terapêutica por extrapolação alométrica. In: CUBAS, Z.S.; SILVA, J.C.R.; CATÃO DIAS, J.L. Tratado de Animais Selvagens. São Paulo: Roca, 2007. Cap. 71, pp. 1215-1223. SCHUMACHER, J. Chelonians (Turtles, tortoise, and terrapins) In: West et al. (Ed.) Zoo Animal & Wildlife Immobilization and Anesthesia, 1ª Ed, Blackwell Publishing, p. 259-266, 2007. SEDGWICK, C.J. Allometric scaling and emergency care: the importance of body size. In: FOWLER, M.E. (Ed.) Zoo and wild animal medicine. 3.ed. Philadelphia: Saunders, p.34-37, 1993. SILVA, A.M.J. Emergências e tratamento de suporte. In: CUBAS, Z.S.; SILVA, J.C.R.; CATÃO -DIAS, J.L. Tratado de Animais Selvagens. São Paulo: Roca, Cap.69, pp. 1154-1201, 2007. Palavras-chave: Extrapolação alométrica. Animais Silvestres. Frequência cardiorrespiratória.