Departamento de Geografia e Meio Ambiente HISTÓRIA AMBIENTAL DA JAQUEIRA (ARTOCARPUS HETEROPHYLLUS LAM.) NO MACIÇO DA TIJUCA: INTRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E PRODUÇÃO DE NOVOS ECOSSISTEMAS Alunas: Victória B.S. Ferreira e Isabel Ávila Orientador: Alexandro Solórzano Introdução Depois de devastado para a plantação comercial de uma espécie africana, o Maciço da Tijuca foi restaurado, como ecossistema florestal, com a ajuda de outras espécies exóticas, dentre elas a jaqueira (Artocarpus heterophyllus Lam.). Nativa da região que engloba o sulsudeste asiático e a Oceania [1], a jaqueira participou de um plano de experimentação agrícola com que a Coroa portuguesa, em uma época de baixa dos preços internacionais do açúcar, tentou reformular a sua economia imperial. Lançado em 1680, o plano visava introduzir na América do Sul espécies asiáticas com potencial valor comercial no mercado europeu. Capital da outrora extensa rede de feitorias que os portugueses mantinham, parcialmente, no final do século XVII, no sul e sudeste asiáticos, a cidade de Goa foi a mediadora na transferência de espécimes e conhecimento técnico para Salvador, na Bahia, que atuou como agente redistribuidor. Não se sabe exatamente quando a jaqueira foi introduzida no Rio de Janeiro, mas há fortes indícios de que isso tenha acontecido nos anos 1780. Gomes Archer, o diretor do programa de reflorestamento da Tijuca, forneceu muitas mudas da sua propriedade – a Fazenda da Independência –, localizada no sopé do Morro do Cabuçu, um esporão ocidental do Maciço da Pedra Branca. Outra fonte de material genético foi, provavelmente, o Jardim Botânico, instituição criada pelo príncipe regente, em 1808, com a missão de aclimatar espécies exóticas úteis ao país. É praticamente impossível precisarmos quando ou se a jaqueira tornou-se uma espécie invasora, na Tijuca. Para isso, precisaríamos de registros de monitoramento fitossociológico de longa duração, dados que ainda não existem, Para os antigos gestores de parques e áreas protegidas, a propagação de espécies exóticas não constituía, em geral, um problema. Além disso, alguns desses gestores tendiam a ver as florestas protegidas essencialmente como áreas de recreação e apreciação estética e não prestavam muita atenção à dimensão conservacionista. Assim, a invasibilidade (i.e. a capacidade de uma espécie invadir um espaço novo, suprimindo a biodiversidade nativa) da jaqueira ainda precisa ser mais bem estudada e verificada através de experimentos no campo. Além disso, como a espécie tem uma longa história de uso humano, tendo sido incorporada no projeto de restauração da Floresta da Tijuca, são questionáveis as práticas de gestão que têm sido adoptadas, como a derrubada e o anelamento. Sob o ponto de vista complementar à visão tradicional da biologia da conservação, que já sacramentou a jaqueira como invasora [2], estas áreas dominadas por espécie exótica, constituem um ecossistema emergente, com uma potencialidade grande de prover serviços ecológicos importantes. Além do mais esta espécie representa um importante indicador da interação da sociedade carioca com a floresta, na medida em que foi introduzida sendo considerada uma espécie útil e ornamental. A sua presença na Floresta da Tijuca hoje é um bom indicador da presença do homem na floresta, tanto no passado como no presente. As primeiras investigações desta relação foram feitas no âmbito deste projeto e o levantamento Departamento de Geografia e Meio Ambiente da distribuição espacial é fundamental para a compreensão do seu papel na floresta e caso necessário para delinear futuras medidas de manejo. Metodologia No presente trabalho foi realizado o mapeamento da distribuição dosecossistemas emergentes (p. ex. a partir do mapeamento das jaqueiras), das ruínas, das carvoarias e das espécies de valor cultural. Por meio de diversos trabalhos de campo nas áreas de estudos serão marcadas estes vestígios humanos (biológicos, físicos e culturais) encontradas no interior das florestas. Uma segunda etapa deste projeto foi avaliar o grau de modificação destes ecossistemas emergentes a partir do estudo da estrutura, composição florística e diversidade do estrato arbóreo da vegetação. Assim, usamos o método de transectos de 10 x 50 m, onde foi medido o diâmetro e altura dos indivíduos arbóreos e arbustivos com DAP (diâmetro à altura do peito) maior do que 5 cm. Resultados De um total de 54 pontos de verificação na Serra da Carioca, no Maciço da Tijuca, apenas 18 pontos apresentaram uma cobertura maior do que 50% de jaqueira, assim constituindo um padrão de dominância desta espécie, e podendo ser classificado como ecossistema emergente. O restante apresenta uma cobertura de até 50%, constituindo uma comunidade híbrida, com a coexistência de espécies nativas com a jaqueira. Nestes primeiros resultados, o que chama mais atenção é um padrão espacial agregado com grandes concentrações de jaqueira na borda da floresta com a malha urbana e na borda da floresta com estradas e trilhas que cortam a floresta. Porém, junto com estas populações desvendamos uma riqueza de dados referente à história de uso e ocupação da atual cobertura florestal. Foram encontradas 13 antigas carvoarias, seis ruinas de antigas construções dos séculos XIX-XX e nove figueiras centenárias remanescentes de outra época e indicativo de uma relação cultural de poupar esta espécie do corte. Estes resultados preliminares revelam que existe uma riqueza de dados e informação sobre a história ambiental (especificamente da relação da sociedade carioca com a floresta) a serem levantados. Assim, propõe-se a continuidade do presente projeto por mais dois anos visando aprofundar o levantamento de dados históricos e ecológicos do Maciço da Tijuca. Referências Bibliográficas [1] ZEREGA, N.J.C.; NUR SUPARDI, M.N. & MOTLEY, T.J. Phylogeny and Recircunscription of Artocarpeae (Moraceae) with a Focus on Artocarpus. Systematic Botany v.35, n.4, p. 766-782. 2010 [2] ABREU, R.C.R. & RODRIGUES, P.J.F.P. Exotic tree Artocarpus heterophyllus (Moraceae) invades the Brazilian Atlantic Rainforest. Rodriguésia. V.61, n.4, p. 677-688. 2010