2010 ABRANGÊNCIA FUNCIONAL DA FAUNA EDÁFICA EM UM ECOSSISTEMA DE FLORESTA ATLÂNTICA COM OCORRÊNCIA DE ARTOCARPUS HETEROPHYLLUS L. (JAQUEIRA) ILHA GRANDE, RJ Machado, D.L.1*; Pereira, G.H.A.1; Pereira, M.G.1 ; Santos, L.L.1 1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). *E-mail: [email protected] Palavra-Chave: Espécies exóticas INTRODUÇÃO Nos ecossistemas naturais, as espécies exóticas apresentam sistemas de reprodução e dispersão eficientes, o que, provavelmente, representa uma maior capacidade competitiva em relação às espécies nativas. Em consequência possivelmente, ocorrem modificações na estrutura da vegetação e ao longo de toda a cadeia trófica que, segundo BAKER (1995), podem levar à homogeneização de espécies, acarretando, desta forma, em perda da diversidade local. A composição e a estrutura das comunidades de organismos da serapilheira são influenciadas por condições ambientais tais como o tipo de formação vegetal, a massa e espessura do material formador de serapilheira e a umidade (MENEZES, 2008). Desta forma, a comunidade da fauna edáfica bem como a presença de determinados grupos podem ser usados como indicadores da qualidade ambiental, uma vez que os organismos são muito sensíveis às modificações do meio (DIAS et al., 2007). Nesse sentido, o presente trabalho objetivou caracterizar a abrangência funcional da fauna edáfica associada à serapilheira em uma área de floresta atlântica com ocorrência de jaqueiras (Artocarpus heterophyllus) na Ilha Grande, RJ. Página RESULTADOS E DISCUSSÃO Quantificou-se um total de 4822 ind m-2 distribuídos entre 21 grupos taxonômicos. Deste total, 3344 ind m-2 associaram-se à serapilheira correspondente à área de mata, abrangendo 20 grupos taxonômicos, e os 1478 ind m-2 restantes foram observados na área de jaqueira, representando apenas 15 grupos. Com relação à diversidade funcional, 84 MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado em uma floresta secundária (Floresta Ombrófila Densa) na Vila de Dois Rios-Ilha Grande, município de Angra dos Reis – RJ (23º19’92,3’’S e 44º12’04,0’’W). Para avaliar a influência da ocorrência das jaqueiras na composição e abrangência funcional da fauna edáfica, foram utilizados dois tratamentos: a serapilheira depositada sob a copa das jaqueiras (A. heterophyllus) (área de jaqueira) e a serapilheira depositada sob a copa de espécies nativas (área de mata) situada a cerca de 20 metros da área de jaqueira. Para a coleta da serapilheira, realizada em outubro de 2009 (inverno), utilizou-se um gabarito de 30 cm de lado (0,09 m2). Foram tomadas, em cada uma das áreas, nove amostras aleatórias, cuja macrofauna foi manualmente coletada e, com auxílio de lupa binocular, os organismos foram separados em grandes grupos taxonômicos. Em função de características ao uso do habitat e à principal forma de utilização do recurso alimentar, como sugerido por COSTA (2002), os organismos foram reunidos em grupos funcionais, sendo estes: saprófagos, predadores, saprófagospredadores e outros (sem funcionalidade conhecida). 2010 na área de mata, os grupos mais expressivos foram saprófago-predadores e saprófagos abrangendo 47,5% e 44,8%, respectivamente, sugerindo um equilíbrio ecológico da fauna. A maior abrangência do grupo funcional saprófago-predador pode ser atribuída à maior quantidade de grupos taxonômicos (sete grupos) dos quais Isoptera (20,6%) e Formicidae (15,9%) foram abundantes. Estes grupos são considerados os principais agentes na fragmentação da serapilheira e na incorporação da matéria orgânica no solo (POGGIANI & MONTEIRO JUNIOR, 1990). Para os saprófagos, os maiores valores percentuais corresponderam ao grupo taxonômico Isopoda (31,5%), um grupo que contribui de maneira significativa para a fragmentação da serapilheira e incremento da colonização microbiana (CASEIRO et al., 2000). Na área de jaqueira, foi observado padrão contrário, verificando-se uma maior abrangência dos saprófagos (65,4%), com a predominância de Isopoda, em detrimento dos saprófago-predadores (24,1%). Estes resultados indicam que a área com ocorrência de jaqueira apresenta um sistema decompositor pronunciado, se comparada às áreas de mata nativa. Página REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAKER, H.G. 1965. Characterization and modes of origin of weeds . In: H. G. Baker e G. L. Stebbins Genectics of Colonizing Species. Academic Press New York. COSTA, P. 2002. Fauna do solo em plantios experimentais de Eucalyptus grandis Maiden, Pseudosamanea guachapele Dugand e Acacia mangium Wild. Dissertação de Mestrado, Instituto de Agronomia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, RJ, 93p. CASEIRO, I.; SANTOS, S.; SOUSA, J.P.; NOGUEIRA, A.J.A.; SOARES, A.M.V.M. 2000. Optimization of culture conditions of Porcellio dilatatus (Crustaceae, Isopoda) for laboratory teste development. Ecotoxicology and Environmental Safety, v. 47, p.285-291. DIAS, P.; SOUTO, S.M.; CORREIA, M.E.F.; RODRIGUES, K. DE M.; FRANCO, A.A. 2007. Efeito de leguminosas arbóreas sobre a macrofauna do solo em pastagem de Brachiaria brizantha cv. Marandu. Pesquisa Agropecuária Trop., Vol.37: 38-44. MENEZES, C.E.G. 2008. Integridade de Paisagem, Manejo e Atributos do Solo no Médio Vale do Paraíba do Sul, Pinheiral-RJ. Tese de Doutorado, Instituto de Agronomia, UFRRJ, Seropédica, RJ. 172 p. POGGIANI, F. & MONTEIRO JUNIOR, E. S. 1990. Deposição de folhedo e retorno de nutrientes ao solo numa floresta estacional semidecídua, em Piracicaba (Estado de SP). In: CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO, 6. 1990, Campos do Jordão. Anais... Campos do Jordão: SBS/SBEF, p. 596-602. 85 CONCLUSÕES A ocorrência de jaqueira em áreas de mata nativa provoca efeitos negativos tanto na densidade de organismos quanto na riqueza de grupos taxonômicos. Com relação ao papel dos organismos no ecossistema, a ocorrência de jaqueiras provocou uma inversão da estrutura funcional da comunidade de invertebrados edáficos, passando a ter um sistema decompositor pronunciado em detrimento do equilíbrio ecológico das populações.