NEUROANATOMIA DA DISLEXIA ATRAVÉS DA LENTE DA

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NEUROANATOMIA DA DISLEXIA
ATRAVÉS DA LENTE DA DIVERSIDADE CEREBRAL
A Importância de Diferentes Pensadores em Nosso Meio
Gordon F. Sherman, Ph.D. e Carolyn D. Cowen, Ed.M.
O cérebro de uma pessoa disléxica é diferente do cérebro de pessoas
não-disléxicas?
Numa resposta curta, sim!
Antes de aprofundar os dados dentro de uma resposta longa, vamos
estender nosso exame através das estruturas de um trabalho
evolucionário, permitindo-nos retratar um quadro de variação
neuroanatômica, dentro da mais ampla perspectiva que se faça
possível.
Nessa perspectiva de visão, tentamos apreender os mistérios do
cérebro disléxico e, ainda, submeter a exame que a diferença
cerebral é um recurso da espécie humana.
Apesar de, primeiro, estabelecermos um contexto para esses enigmas,
viajamos no tempo para contemplar um dos maiores mistérios: o
começo da vida na terra.
Evolução: Escultora do Cérebro Humano
Há alguns 3.8 bilhões de anos, moléculas quebraram a barreira da
inércia para a vida da matéria; um pequeno evento com um ressoante
boom , quase como a explossão do Big Bang em si mesma: Vida!
Há cerca de 3.5 bilhões de anos, colônias de microorganismos
primevos já haviam se estabelecido em lugares rasos com grandes
quantidades de água, criando estruturas de lodo e minerais
remanescentes de formações de coral. Agora, numa rápida regressão
em diversos milhões de anos, vamos encontrar primatas andando em
savana africana, em uma postura ereta. Também, encontramos uma
rica diversidade de outros tipos de vida, a partir de minúsculos
microorganismos à baleias gigantes, todos lutando pela sobrevivência,
competindo, e reproduzindo.
A Seleção Natural Aciona a Evolução
O que aconteceu durante esses 3.8 bilhões de anos? Como a vida
evoluiu a partir de simples microorganismos, dentro de suas diversas
formas, incluída aquela da complexidade neural do Homo Sapiens?
Como nos tornamos em quem nós somos?
Estudos e debates têm sido direcionados para essas questões, desde o
despertar da consciência humana, dando origem às disciplinas da
teologia à ciência.
Aqui, nós nos restringimos, antes de tudo, ao domínio da ciência, a
qual tem acumulado volumes de informação e de debates sobre a
evolução informação que sintetizamos na seguinte declaração:
Em face das mudanças ambientais, no arranjo de mudanças
hereditárias fortuitas dos organismos, melhoram ambos:
adaptabilidade e potencial para sobrevivência, e evidências de
adaptação hostil (ou relevante). Esta é a seleção natural em ação
(a.k.a.(?): sobrevivência do mais forte .
São agentes da evolução: diversidade, adaptabilidade e mudança do
meio-ambiente. Quando o mecanismo de seleção natural opera na
diversidade da característica hereditária individual, conduzindo uma
população de organismos à adaptabilidade de mudanças no meioambiente, a evolução acontece.
O meio-ambiente terreno tem fornecido grande incentivo à
adaptabilidade. Considerando que esse meio ambiente sempre muda
com freqüência, de maneira extrema, violenta e oscilante a
perseverança da vida é tão extraordinária como o é a sua origem. Esta
é a realidade, enquanto na terra proliferam, hoje, dois milhões de
espécies 99.9% das espécies que já existiram estão extintas; aquelas
que se adaptaram ao meio-ambiente estão aqui. Por enquanto.
Acontecimentos Inesperados Afetam a Evolução
Há um mito acerca da evolução que merece ser esclarecido. Ao
contrário de uma visão romântica, a evolução não tem agenda para
avançar, através das mais altas e complexas transformações. A
evolução é uma força cega. O cérebro humano se desenvolveu na
savana africana, com toda sua complexidade, não porque a evolução
é progressiva, mas por causa da sucessão fortuita da conexão de
milhares de eventos. Um desses eventos foi a colisão da terra com
uma série de massivos objetos extraterrestres, extinguindo os
dinossauros e preservando mamíferos, incluídos nossos roedores
ancestrais, expandindo-se.
Nosso grande cérebro é um produto desse e de outros eventos
inesperados, e de uma dinâmica interativa entre:
1- a herança de um programa geneticamente determinado pela
seleção natural;
2- nossas experiências no meio-ambiente incluído nosso mundo
social, construído por nossos cérebros, coletivamente;
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Com a evolução do cérebro humano em mente, nós nos deslocamos,
velozmente, para o futuro, através do tempo, outra vez alcançando,
rapidamente, as últimas poucas décadas, para rever descobertas da
pesquisa anatômica de cérebros individuais com dislexia.
O período começa com o estudo de registros microscópicos de
cérebros, após a morte, os quais trouxeram a primeira evidência de
uma base cerebral em dislexia; e se constituem em registros de neuroimagens, as quais são retratadas pela primeira vez.
Descobertas Anatômicas: Cérebros Disléxicos são Diferentes
Os cérebros de pessoas com dislexia do desenvolvimento são
sutilmente diferentes, porém, em formas diferenciadas. Cientistas têm
descoberto diferenças anatômicas grossas, tanto quanto diferenças
celular e de conexão, em cérebros que foram submetidos à autópsias.
Essas diferenças estruturais correspondem a diferenças funcionais,
encontradas em estudos de neuro-imagens(conforme Eden), tanto
quanto a diferenças de aprendizado encontradas em estudos
cognitivos e educacionais.
Cientistas suspeitam que diferenças estruturais em cérebros
disléxicos começam antes do nascimento, com uma dinâmica de
interação gene-cérebro-meio ambiente, as quais iniciam com as
mudanças no desenvolvimento do sistema nervoso. Essas são
conclusões alinhadas a outros fatos, por exemplo, que dislexia se
repete em membros das mesmas famílias, que é hereditária, e que
está ligada a um número de cromossomos(v.Gilger).
Observemos algumas dessas diferenças estruturais.
Diferenças Anatômicas Grossas
Simetrias
Começamos com o planum temporale. Essa área corre dentro da
fissura de Sylvian, do córtex cerebral na parte exterior da sextacamada do cérebro, envolvida no alto-nível de processamento,
incluindo a análise sensória e motora, trabalho da memória, da
atenção e linguagem. O planum temporale está envolvido com o
processamento auditivo e ligado com a função da linguagem.
Normalmente, nas pessoas que são destras, o planum temporale é
maior no lado esquerdo do cérebro; as pessoas canhestras mostram
mais variações, incluindo um lado direito maior ou simétrico nesse
planum. Estudos iniciais revelaram que o planum temporale é igual em
tamanho(simétrico) em ambos os lados dos cérebros de disléxicos.
Alguns estudos subseqüentes confirmaram tais descobertas, enquanto
outros demonstraram assimetrias (vs. simetria) somente reduzidas, ou
não constataram diferenças. Discrepâncias que podem estar
relacionadas às técnicas de medidas, em critério usado para
identificação das bordas do plano temporal, ou a variações em
cérebros de disléxicos.
Cientistas têm identificado outras diferenças não habituais, em simetria
relacionada às diferenças em dislexia. No córtex, incluem, sobretudo,
volume cerebral aumentado no lado direito, matéria cinza diminuída no
lobo temporal esquerdo no interior do planum, duplicação do Gyrus
de Heschl no lado esquerdo, e simetria no lobo parietal esquerdo. No
cerebelo, uma grande estrutura na parte posterior do cérebro, a qual
está envolvida com a função já-está-entendido na produção da
linguagem, estudos encontraram um lobo anterior esquerdo maior e
simétrico na massa cinzenta.
Diferenças Celulares
Neurônios Menores
Estudos também têm revelado mais células nervosas menores
(neurônios) em certos grupos de células (núcleo) do thalamus. O
thalamus, um caminho-estação localizado no centro do cérebro, é a
maior parada para a informação transmitida por nossos órgãos
sensórios (p.ex. olhos e ouvidos), que alcança o mais alto nível de
processamento no córtex cerebral. Os dois núcleos envolvidos se
referem à visão e audição.
Embora os cientistas não saibam, exatamente, como relacionar o
tamanho à função, neurônios menores, nessas duas áreas, podem
alterar a regulação precisa de tempo que é requerida para a
transmissão eficiente da informação, através do trabalho reticular das
redes cerebrais.
Diferenças nas Conexões
Sistema Nervoso Diferente
Cientistas descobriram uma outra surpreendente anomalia celular no
córtex cerebral de indivíduos com dislexia uma disposição incomum
de células nervosas chamadas ectopias, um termo derivado da palavra
ectopic, significando posição anormal. Ectopias são grupos de
neurônios com feixes irregulares de fibras nervosas (axônios). Sua
imagem microscópica tem a semelhança de uma água viva com
tentáculos entrelaçados, para ter-se alguma idéia da aparência das
ectopias.
Uma outra característica distinta é sua localização dentro da primeira
camada das áreas corticais responsáveis pela linguagem, onde grupos
de células nervosas, normalmente, estão ausentes.
Como as ectopias foram parar nessa região?
As ectopias são o resultado de desvio na migração neuronal, na
jornada de nascimento de novos neurônios, os quais se submetem aos
seus destinos finais no cérebro. Algumas células recém-nascidas
esquecem de suas paradas, viajam através de fendas em uma
membrana que, normalmente, bloqueia a passagem, e se alojam em
locais estranhos no córtex. Esses neurônios se tornam alterados nesse
processo, e se conectam através de caminhos atípicos com o resto do
cérebro. Cientistas desconhecem qual seja a causa das fissuras
permitirem que os neurônios atravessem, de um lado ao outro, a
camada da parte superior do cérebro; como eles também não sabem
como as ectopias, comumente, se apresentam disseminadas através
de uma superfície extensa, em dislexia; qual sua influência nos
diferentes sexos, em sua prevalência e localização, ou, precisamente,
qual o papel que as ectopias desempenham.
Desde que os neurônios atingem sua posição adulta pelo sexto mês de
gestação, os cientistas sabem que as ectopias acontecem no
desenvolvimento do cérebro do feto, antes do sexto mês de gestação.
Como as ectopias aparecem, precocemente, no desenvolvimento fetal,
e porque dislexia, com freqüência, se repete nas mesmas famílias,
cientistas suspeitam que diferenças genéticas afetam,
prematuramente, o desenvolvimento do cérebro, causando as
ectopias.
O fato de parecer que as ectopias se conectam de forma diferente com
neurônios, em outras partes do cérebro, é significante. A maioria das
ectopias estão nas redes da linguagem, e na parte frontal do cérebro
ligada à memória verbal. Talvez a conexão ectópica afete o complexo
processo do aprendizado da leitura e escrita.
Há uma outra diferença de conexão, a qual apresenta uma conotação
significativa. O corpo caloso, um importante feixe de fibras nervosas
que liga os hemisférios direito-esquerdo, também parece ser diferente:
menor em sua porção anterior, e menor e mais curto em sua parte
posterior, indicando diferenças na conexão e na comunicação interhemisférica cerebral.
Sumário das Descobertas
Não há dois cérebros humanos exatamente iguais. Cérebros humanos
variam, como diferentes são todas as fisionomias humanas. De fato,
encontramos variações entre os cérebros de indivíduos disléxicos.
Entretanto, em geral, cérebros de disléxicos têm refinadas
propriedades definíveis, que são como que bases características de
diferenças encontradas em neuro-imagens e em estudos cognitivos.
Exames microscópicos em autópsias cerebrais, realizados em duas
décadas de pesquisas, revelam diferenças estruturais a nível celular
(no neurônio, a unidade funcional fundamental do cérebro); a nível de
conexão (com neurônios, redes neurais e regiões cerebrais de conexão
e comunicação); e a nível anatômico grosso (organização e esquemas
de áreas e regiões cerebrais).
(Para revisões posteriores, veja as referências selecionadas no final
deste artigo).
O resultado é um cérebro organizado de maneira atípica, processando
a informação através de caminhos únicos. Essa organização única é
independente da inteligência , que é encontrada em grande variação
em dislexia, como acontece com a população em geral.
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Como membros das espécies humanas que residem no planeta terra
há cerca de 4.5 bilhões de anos, e vivendo no início do século vinte e
um, em um ambiente social confusamente complexo, como nos faz
sentido o que conhecemos acerca da evolução e dos cérebros das
pessoas com dislexia do desenvolvimento?
Essa questão fundamenta o próximo segmento de nossa abordagem.
Diversidade Cerebral Através de um Novo Modelo
Avanços na teoria da evolução, nas neurociências e em disciplinas
correlacionadas, oferecem-nos lentes mais poderosas para a visão de
fenômenos como a dislexia, como aconteceu quando Samuel Kirk
sugeriu, pela primeira vez, o termo dificuldade de aprendizado (LD),
em 1962?
Poderemos enriquecer nosso entendimento acerca da dislexia, pela
visão dessa condição e através de lentes mais poderosas, abarcando
mais amplas extensões biológicas e representações sociológicas?
A Diversidade Cerebral é um Recurso Pessoal
Talvez a visão mais ampla seja aquela da alternativa de arranjos
cerebrais que produzam dificuldades específicas de aprendizado (p.ex.,
dislexia) a qual reflete a diversidade cerebral um termo que
sugerimos como referência à heterogeneidade neural coletiva dos
seres humanos, tanto quanto de perfis neurocognitivos pessoais de
capacidades e dificuldades. A partir de uma perspectiva evolucionária,
a diversidade cerebral é um recurso de nossas espécies, uma
conseqüência da adaptabilidade da seleção natural, tanto quanto uma
faceta através da qual o mecanismo de seleção natural pode operar.
Construído no pensamento de Stephen Jay Gould (1995), poderíamos
considerar dislexia, com sua concomitante dificuldade em leitura, como
um tímpano de arco, um sub-produto da diversidade cerebral. Um
espandrel (tímpano) termo arquitetural para o espaço entre a curva
de um arco, e um delimite retangular ou modelador é um subproduto involuntário do projeto de uma estrutura secundária em
origem, a qual pode, contudo, vir a ser a base da essência daquela
estrutura. Talvez, agora, cada sub-produto, então construído pela
diversidade cerebral isto é, dislexia, pode não servir aos propósitos
de uma aparente adaptabilidade. Contudo, o modelo neural delineado
pode abranger, ainda, maravilhosas possibilidades fundamentais.
Nós sugerimos o termo diversidade cerebral como um veículo para
expandir o pensamento e a discussão sobre dislexia, para além do
modelo dificuldades , e como um degrau para um modelo de maior
compreensão do cérebro e variação do aprendizado. Enquanto que a
perspectiva de DA oferece uma importante lente para a visão da
dislexia, ela limita nossa avaliação de diversidade neural, inibindo
nossa habilidade de visão desse fenômeno em seu contexto maior, e
da percepção de seus mecanismos essenciais, e em suas implicações
mais amplas. A perspectiva das D.A. oferece uma lente. Porém, uma
simples lente não pode capturar a multiplicidade desse complexo
fenômeno.
Além do Paradigma da Inabilidade
Como começamos a compreender a intrincada relação entre sistemas
de desenvolvimento neural e o meio-ambiente, e a estabelecer a
ligação entre diferenças cerebrais e comportamentos de aprendizado,
constatamos a falta de um modelo conceitual para sintetizar essa nova
informação, e para a assimilar dentro do contexto educacional dos dias
de hoje. No início de descobertas e percepções que podem produzir
importantes idéias acerca de projetos muito favoráveis para ambientes
de aprendizado do amanhã, essa deficiência fundamental restringe
nossa visão, como cegos sobre um cavalo de raça.
O chamamento para um novo modelo conceitual é de uma importância
especialmente delicada, e requer esclarecimento.
Primeiro, sem dúvida, cérebros disléxicos , com freqüência, estão em
desvantagem no meio-ambiente social de hoje;
Segundo, nosso meio-ambiente educacional não assiste bem às
crianças com dislexia e, com freqüência, classifica-as como inábeis ;
Terceiro, o modelo de inabilidade tem contribuído, de forma
imperativa, como um foco que tem alimentado a pesquisa e programas
de educação e serviços, promovendo o conhecimento e melhorando
vidas. Enquanto o meio-ambiente educacional se rende à capacidade,
como à vulnerabilidade das crianças com DA, mexendo com arriscados
programas e práticas esquematizados para ajudar às crianças sob
risco. Porém, aceitando um status quo da educação pública, tem sido
comprovado um benefício marginal em quase toda avaliação de uma
exposição a risco, condição que não pode ser favorecida.
Para avaliar, com precisão, dificuldades de aprendizado como a
dislexia, entendendo, de fato, todo o aprendizado, temos de
compreender a dinâmica cérebro-meio-ambiente. Especificamente,
precisamos entender a complexa interação entre arranjos cerebrais
únicos e variáveis ambientais, resultando em diferenças no
aprendizado. Entretanto, falta-nos um modelo para guiar a verificação
dessa interconexão, e de suas implicações educacionais. Exceto
daquela inserida no paradigma inabilidade , a qual, pelo mérito e
política dessa pretensão, de qualquer maneira bem proposta, restringe
o escopo de nossa visão e, então, limita nossa capacidade de
conquistar objetivos para além daqueles que estamos alcançando.
O Importante é Ensinar
Como um exemplo, em nosso entusiasmo em excluir códigos sociais
prejudiciais, como em determinar e estabelecer genuínas D.A. em si
mesmas e em sua abrangência, nós ignoramos a contribuição
circunscrita à mente na vida real, particularmente na instrução precoce
da leitura. Essa perspectiva contribuiu para as defi nições de
exclusão (exclusionary defi nitions), e modelos de discrepância
entre capacidade-realização , agora, amplamente considerada como
expressão imprópria (ver Lyon,1995; Dickman,2001).
Faltando uma base teórica para a investigação, ou considerando a
influência do meio-ambiente precoce em dificuldades de aprendizado,
o campo ganhou atenção insuficiente, uma perda que limitou o
entendimento da relação D.A.-meio-ambiente e, então, das D.A. Esta
falta de entendimento atrasou a apreciação dos elementos da
instrução bem planejada de leitura, em salas de aula da educação em
geral, para aprendizes com todos os tipos de risco talvez, até
mesmo, para a maioria dos estudantes, retardando o reconhecimento
da posição de uma prática inadequada de instrução, e do fracasso na
identificação de crianças com dificuldades de aprendizado. Esta
conseqüência foi incorporada a uma cascata dentro dos catalogados
problemas gerais da educação especial, tendo, provavelmente,
contaminado as pesquisas das D.A., com sua prevalência estimada,
particularmente, na dislexia do desenvolvimento.
Assim, chama a atenção para a necessidade de um modelo conceitual
mais amplo, que inclua as variáveis ambientais como a instrução, não
como uma preocupação teórica esotérica. Em verdade, marés que
guiam ondas de consenso, aumentam sua relação com o ensino nas
D.A., particularmente quanto à posição efetiva da instrução precoce da
leitura, na prevenção das dificuldades de aprendizado.
Uma instrução inadequada penaliza todas as crianças. Porém, as
crianças vulneráveis sofrem as conseqüências mais cruéis. A
Associação Internacional de Dislexia, recentemente, chamou a
atenção para a consideração dessa questão, através da inclusão das
palavras-chave: - provisão de instrução efetiva em sala de aula , na
última definição de dislexia. (Para a definição completa, veja Dickman).
O que importa é ensinar!
Esta afirmação é tão evidente por si mesma, e para a complexidade de
uma dinâmica cérebro-meio-ambiente, que mascara a complexidade
da dinâmica cérebro-meio-ambiente, sendo elucidada através do
avanço da neurociência.
O Sistema de Circuito Neural reflete ambos: composição biológica e
influência ambiental por exemplo, na instrução precoce em leitura;
no desenvolvimento de sistemas neurais desdobrados para funções
cognitivas específicas, através da interação cérebro-meio-ambiente.
Enquanto dificuldades específicas do aprendizado, como na dislexia do
desenvolvimento, tem uma base neurológica, o meio-ambiente
educacional regula uma posição social vital.
Boas novas: isso é alguma coisa que nós podemos mudar, embora,
saibamos que não será fácil.
A dinâmica da mudança da escola, e as dificuldades inerentes em
compartilhar a indispensável capacidade do professor, propõem o
formidável desafio traduzido na mais precisa posição de orientação da
pesquisa, aprimorada na prática.
Tão importante quanto adequar as mudanças que irão determinar o
sucesso de iniciativas como aquelas do Programa No Child Left Behind,
Reading First(Nenhuma Criança Deixada para Trás, Primeiro a Leitura),
ou do Multi-Level Intervention Model (Modelo de Intervenção MultiNivelado). (Veja mais sobre esse modelo em Fletcher e Fuchs).
A ANALOGIA DA LENTE É APROPRIADA
A necessidade de um modelo de perspectiva mais ampla, não significa
substituir o modelo de dificuldade . A analogia da lente é eficiente.
Objetivos diferentes oferecem perspectivas diferentes. Um microscópio
é ferramenta vital para uma análise microscópica, porém seria inútil
para escanear o horizonte, ao estudar-se galáxias ou imagens de
cérebros vivos; microscópios binoculares, telescópios e dispositivos de
neuro-imagens, todos, executam funções vitais, em contextos
diferentes. Não desvalorizamos ou desaprovamos ninguém, quando
precisamos do outro.
O conceito D.A. é convincente em muitos aspectos e, infelizmente,
permanece válido na maioria dos contextos. Como o microscópio, o
conceito de DA oferece esclarecimentos inavaliáveis, focando nossa
atenção nos problemas de diversos estudantes, nas escolas. Porém,
uma observação mais aprofundada da dislexia, requer um princípio
mais amplo de visão que nos permita uma percepção semelhante
àquela da diversidade cerebral, em seu mais amplo contexto biológico
e sociológico. Uma lente mais ampla, que nos permita observar a
posição do meio-ambiente educacional, constituído de:
1. um componente ausente no contexto de entendimento da
etiologia da dislexia;
2. confusão quanto à prevalência de variáveis, na identificação e
avaliação das D. A. (o que contribui para uma posição de
ineficiência à falência no aprendizado da leitura, resultando em
dificuldades de aprendizado para muitas crianças);
3. agente na causa e no efeito da dislexia (sua base cerebral é
influenciada pelo meio-ambiente; suas incapacidades
conseqüentes, são definidas socialmente).
Diversidade: Mais do Que Politicamente Correta
Nosso ponto final revisita temas de evolução, implicações de foco e
possibilidades de diversidade neural. Como abordado, nossos
cérebros são produtos de arranjos genéticos, herdados de nossos
ancestrais e de uma dinâmica de interação cérebro-meio-ambiente.
Considerando todas as variáveis, podemos esperar variações. Quais
as possibilidades que decorrem dessa variação?
O modelo de incapacidade , aqui, também inibe a visão. Dislexia
não impede capacidades e habilidades excepcionais. De fato,
pessoas com dislexia, com freqüência, se sobressaem em vários
campos. Elas, realmente, alcançam níveis notáveis de conquistas,
apesar da dislexia, ou por causa dela? Será um esquema cerebral
que prédispõe ao desenvolvimento de dificuldades em leitura e,
algumas vezes, de talentos singulares? Trata-se de uma forma
particular de habilidades, especialmente representadas na população
disléxica?
Evidência científica para uma conexão dislexia-talento tem provado
que essa relação é evasiva, com poucas e intrigantes exceções.
Baterias de testes aplicadas para revelar capacidades espaciais,
voltadas à dislexia, não revelaram um controle melhor, mostrandose, com freqüência, em uma pior forma, exceto em uma tarefa: - o
Impossible Figures Test (veja von Karolyi,2003). Crianças
disléxicas realizaram essa tarefa, não somente de maneira tão
acurada como outras crianças não disléxicas, porém, de forma
significativamente mais rápida. Por que?
Talvez esse controle em alta performance de disléxicos, seja por
seus cérebros serem capazes de processar a informação mais
globalmente, uma estratégia mais efetiva para o processamento das
relações espaciais, do que através de uma abordagem de seqüência
linear.
A sociedade de hoje, vale-se dos benefícios de pensadores que
processam a informação mais globalmente, ou daqueles cujas
habilidades, com freqüência, estão associadas com a dislexia? por
exemplo: aptidão mecânica, resolução criativa de problemas,
habilidade para conectar registros díspares, expressão artística,
visualização?
O que esperar acerca do futuro das sociedades?
No último século, ainda nas últimas décadas, ficou demonstrado o
quão rapidamente nós reconstruímos o nosso meio-ambiente.
Dislexia existe como uma dificuldade , somente no contexto da
sociedade de hoje, um momento transitório no tempo geológico. De
fato, humanos têm sido iliteratos por um tempo mais longo do que
aquele no qual têm sido literatos.
O ponto é: nós não sabemos que tipos de mentes humanas poderão
ser necessários num futuro próximo e distante. Conquistados os
desafios com os quais nos defrontamos em nosso instável meioambiente natural e social, a alternativa de arranjos cerebrais podem
tornar-se recursos importantes, talvez, basicamente essenciais.
Conclusão: Dislexia Reflete a Diversidade Cerebral
Delineadas a partir das Neurociências e da Teoria da Evolução,
esboçamos um quadro com as variáveis da dislexia em sua estrutura
cerebral, em extensos movimentos rítmicos, na mais ampla tela
possível, numa amplitude de 3.8 bilhões de anos. Também,
interpretamos detalhes de aspectos microscópicos, representando
diferenças anatômicas, celulares e de conexões cerebrais. Enquanto
traçávamos esse esboço, a partir da ciência, também imprimíamos nele
uma interpretação artística, configurando os seguintes temas:
as dificuldades características da leitura, em dislexia do
desenvolvimento, têm uma base neuro-anatômica. Esse traçado neural
atípico reflete a diversidade cerebral (cerebrodiversity) um termo que
sugerimos como referência a nossa heterogeneidade neural coletiva,
tanto quanto a nossos modelos neurocognitivos individuais, em
capacidades e vulnerabilidades. Diversidade cerebral é uma vantagem
de adaptação para humanos. Nós especulamos que, enquanto a
dislexia e sua concomitante dificuldade em leitura se constitui num
contexto negativo no meio-ambiente de hoje, esse esboço neural pode
envolver possibilidades positivas para a sociedade, e pode representar
um recurso evolucionário para humanos.
Essa especulação está a um passo dos parâmetros aparentes do
modelo de Dificuldades de Aprendizado.
Ainda, se no contorno neural da dislexia do desenvolvimento existem
atributos positivos, leitura e escrita poderão permanecer como
condição vital à felicidade de algum indivíduo, em futuro próximo. Por
esta razão, temos de assegurar que, crianças vulneráveis como as
disléxicas, também recebam instrução básica, comprovadamente
fundamentada, para o desenvolvimento de todas as suas capacidades,
particularmente em leitura.
A partir do que foi abordado, poderemos ser beneficiados ao
considerar o enigma da dislexia e de outras formas de aprendizado
diferencial, não somente através de microscópios e da alta tecnologia
das neurociências. Mas, também, através do ângulo mais amplo da
lente da evolução, um cristalino mais abrangente que nos ajuda a
vislumbrar um modelo mais expansivo da diversidade neural, e a
assimilar a informação nascente acerca do aprendizado e do cérebro,
particularmente como ela é descrita no meio-ambiente educacional.
Uma perspectiva evolucionária oferece uma outra vantagem.
Entendendo que a diversidade representa uma espécie de adaptação
ao meio-ambiente em mudança, inspira-nos a olhar para além da
realidade fugaz do aqui e agora, e a considerar o valor da cérebrodiversidade a importância de haver pensadores diferentes em nosso
meio. Permitirmo-nos complexos desafios, isso pode ser vital.
Nota do autor: determinado o escopo desse trabalho, nosso desejo de
adequar este artigo para um amplo número de pessoas, num espaço
restrito, limitamos a inclusão de inteligíveis pesquisas científicas e, em
alguns casos, simplificamos e omitimos detalhes. Alguma imperfeição
não será intencional.
Nossos agradecimentos a Rosemary Bowler por sua assistência neste
manuscrito.
Gordon F. Sherman, Ph.D., é Diretor Executivo da Escola Newgrange e
Educacional Outreach em Princeton, NJ, e ex-Presidente da Associação
Internacional de Dislexia.
Carolyn D. Cowen, E.M., Conferencista, Escritora e Consultora em
tópicos relacionados à leitura, D.A., comunicação, e líder em atividades
e planejamentos não lucrativos. Mais recentemente, ela foi Diretora
Executiva/Fundadora da Rede de Dificuldades de Aprendizado em
Marshfield, MA.
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