NEUROANATOMIA DA DISLEXIA ATRAVÉS DA LENTE DA DIVERSIDADE CEREBRAL A Importância de Diferentes Pensadores em Nosso Meio Gordon F. Sherman, Ph.D. e Carolyn D. Cowen, Ed.M. O cérebro de uma pessoa disléxica é diferente do cérebro de pessoas não-disléxicas? Numa resposta curta, sim! Antes de aprofundar os dados dentro de uma resposta longa, vamos estender nosso exame através das estruturas de um trabalho evolucionário, permitindo-nos retratar um quadro de variação neuroanatômica, dentro da mais ampla perspectiva que se faça possível. Nessa perspectiva de visão, tentamos apreender os mistérios do cérebro disléxico e, ainda, submeter a exame que a diferença cerebral é um recurso da espécie humana. Apesar de, primeiro, estabelecermos um contexto para esses enigmas, viajamos no tempo para contemplar um dos maiores mistérios: o começo da vida na terra. Evolução: Escultora do Cérebro Humano Há alguns 3.8 bilhões de anos, moléculas quebraram a barreira da inércia para a vida da matéria; um pequeno evento com um ressoante boom , quase como a explossão do Big Bang em si mesma: Vida! Há cerca de 3.5 bilhões de anos, colônias de microorganismos primevos já haviam se estabelecido em lugares rasos com grandes quantidades de água, criando estruturas de lodo e minerais remanescentes de formações de coral. Agora, numa rápida regressão em diversos milhões de anos, vamos encontrar primatas andando em savana africana, em uma postura ereta. Também, encontramos uma rica diversidade de outros tipos de vida, a partir de minúsculos microorganismos à baleias gigantes, todos lutando pela sobrevivência, competindo, e reproduzindo. A Seleção Natural Aciona a Evolução O que aconteceu durante esses 3.8 bilhões de anos? Como a vida evoluiu a partir de simples microorganismos, dentro de suas diversas formas, incluída aquela da complexidade neural do Homo Sapiens? Como nos tornamos em quem nós somos? Estudos e debates têm sido direcionados para essas questões, desde o despertar da consciência humana, dando origem às disciplinas da teologia à ciência. Aqui, nós nos restringimos, antes de tudo, ao domínio da ciência, a qual tem acumulado volumes de informação e de debates sobre a evolução informação que sintetizamos na seguinte declaração: Em face das mudanças ambientais, no arranjo de mudanças hereditárias fortuitas dos organismos, melhoram ambos: adaptabilidade e potencial para sobrevivência, e evidências de adaptação hostil (ou relevante). Esta é a seleção natural em ação (a.k.a.(?): sobrevivência do mais forte . São agentes da evolução: diversidade, adaptabilidade e mudança do meio-ambiente. Quando o mecanismo de seleção natural opera na diversidade da característica hereditária individual, conduzindo uma população de organismos à adaptabilidade de mudanças no meioambiente, a evolução acontece. O meio-ambiente terreno tem fornecido grande incentivo à adaptabilidade. Considerando que esse meio ambiente sempre muda com freqüência, de maneira extrema, violenta e oscilante a perseverança da vida é tão extraordinária como o é a sua origem. Esta é a realidade, enquanto na terra proliferam, hoje, dois milhões de espécies 99.9% das espécies que já existiram estão extintas; aquelas que se adaptaram ao meio-ambiente estão aqui. Por enquanto. Acontecimentos Inesperados Afetam a Evolução Há um mito acerca da evolução que merece ser esclarecido. Ao contrário de uma visão romântica, a evolução não tem agenda para avançar, através das mais altas e complexas transformações. A evolução é uma força cega. O cérebro humano se desenvolveu na savana africana, com toda sua complexidade, não porque a evolução é progressiva, mas por causa da sucessão fortuita da conexão de milhares de eventos. Um desses eventos foi a colisão da terra com uma série de massivos objetos extraterrestres, extinguindo os dinossauros e preservando mamíferos, incluídos nossos roedores ancestrais, expandindo-se. Nosso grande cérebro é um produto desse e de outros eventos inesperados, e de uma dinâmica interativa entre: 1- a herança de um programa geneticamente determinado pela seleção natural; 2- nossas experiências no meio-ambiente incluído nosso mundo social, construído por nossos cérebros, coletivamente; * * * * * Com a evolução do cérebro humano em mente, nós nos deslocamos, velozmente, para o futuro, através do tempo, outra vez alcançando, rapidamente, as últimas poucas décadas, para rever descobertas da pesquisa anatômica de cérebros individuais com dislexia. O período começa com o estudo de registros microscópicos de cérebros, após a morte, os quais trouxeram a primeira evidência de uma base cerebral em dislexia; e se constituem em registros de neuroimagens, as quais são retratadas pela primeira vez. Descobertas Anatômicas: Cérebros Disléxicos são Diferentes Os cérebros de pessoas com dislexia do desenvolvimento são sutilmente diferentes, porém, em formas diferenciadas. Cientistas têm descoberto diferenças anatômicas grossas, tanto quanto diferenças celular e de conexão, em cérebros que foram submetidos à autópsias. Essas diferenças estruturais correspondem a diferenças funcionais, encontradas em estudos de neuro-imagens(conforme Eden), tanto quanto a diferenças de aprendizado encontradas em estudos cognitivos e educacionais. Cientistas suspeitam que diferenças estruturais em cérebros disléxicos começam antes do nascimento, com uma dinâmica de interação gene-cérebro-meio ambiente, as quais iniciam com as mudanças no desenvolvimento do sistema nervoso. Essas são conclusões alinhadas a outros fatos, por exemplo, que dislexia se repete em membros das mesmas famílias, que é hereditária, e que está ligada a um número de cromossomos(v.Gilger). Observemos algumas dessas diferenças estruturais. Diferenças Anatômicas Grossas Simetrias Começamos com o planum temporale. Essa área corre dentro da fissura de Sylvian, do córtex cerebral na parte exterior da sextacamada do cérebro, envolvida no alto-nível de processamento, incluindo a análise sensória e motora, trabalho da memória, da atenção e linguagem. O planum temporale está envolvido com o processamento auditivo e ligado com a função da linguagem. Normalmente, nas pessoas que são destras, o planum temporale é maior no lado esquerdo do cérebro; as pessoas canhestras mostram mais variações, incluindo um lado direito maior ou simétrico nesse planum. Estudos iniciais revelaram que o planum temporale é igual em tamanho(simétrico) em ambos os lados dos cérebros de disléxicos. Alguns estudos subseqüentes confirmaram tais descobertas, enquanto outros demonstraram assimetrias (vs. simetria) somente reduzidas, ou não constataram diferenças. Discrepâncias que podem estar relacionadas às técnicas de medidas, em critério usado para identificação das bordas do plano temporal, ou a variações em cérebros de disléxicos. Cientistas têm identificado outras diferenças não habituais, em simetria relacionada às diferenças em dislexia. No córtex, incluem, sobretudo, volume cerebral aumentado no lado direito, matéria cinza diminuída no lobo temporal esquerdo no interior do planum, duplicação do Gyrus de Heschl no lado esquerdo, e simetria no lobo parietal esquerdo. No cerebelo, uma grande estrutura na parte posterior do cérebro, a qual está envolvida com a função já-está-entendido na produção da linguagem, estudos encontraram um lobo anterior esquerdo maior e simétrico na massa cinzenta. Diferenças Celulares Neurônios Menores Estudos também têm revelado mais células nervosas menores (neurônios) em certos grupos de células (núcleo) do thalamus. O thalamus, um caminho-estação localizado no centro do cérebro, é a maior parada para a informação transmitida por nossos órgãos sensórios (p.ex. olhos e ouvidos), que alcança o mais alto nível de processamento no córtex cerebral. Os dois núcleos envolvidos se referem à visão e audição. Embora os cientistas não saibam, exatamente, como relacionar o tamanho à função, neurônios menores, nessas duas áreas, podem alterar a regulação precisa de tempo que é requerida para a transmissão eficiente da informação, através do trabalho reticular das redes cerebrais. Diferenças nas Conexões Sistema Nervoso Diferente Cientistas descobriram uma outra surpreendente anomalia celular no córtex cerebral de indivíduos com dislexia uma disposição incomum de células nervosas chamadas ectopias, um termo derivado da palavra ectopic, significando posição anormal. Ectopias são grupos de neurônios com feixes irregulares de fibras nervosas (axônios). Sua imagem microscópica tem a semelhança de uma água viva com tentáculos entrelaçados, para ter-se alguma idéia da aparência das ectopias. Uma outra característica distinta é sua localização dentro da primeira camada das áreas corticais responsáveis pela linguagem, onde grupos de células nervosas, normalmente, estão ausentes. Como as ectopias foram parar nessa região? As ectopias são o resultado de desvio na migração neuronal, na jornada de nascimento de novos neurônios, os quais se submetem aos seus destinos finais no cérebro. Algumas células recém-nascidas esquecem de suas paradas, viajam através de fendas em uma membrana que, normalmente, bloqueia a passagem, e se alojam em locais estranhos no córtex. Esses neurônios se tornam alterados nesse processo, e se conectam através de caminhos atípicos com o resto do cérebro. Cientistas desconhecem qual seja a causa das fissuras permitirem que os neurônios atravessem, de um lado ao outro, a camada da parte superior do cérebro; como eles também não sabem como as ectopias, comumente, se apresentam disseminadas através de uma superfície extensa, em dislexia; qual sua influência nos diferentes sexos, em sua prevalência e localização, ou, precisamente, qual o papel que as ectopias desempenham. Desde que os neurônios atingem sua posição adulta pelo sexto mês de gestação, os cientistas sabem que as ectopias acontecem no desenvolvimento do cérebro do feto, antes do sexto mês de gestação. Como as ectopias aparecem, precocemente, no desenvolvimento fetal, e porque dislexia, com freqüência, se repete nas mesmas famílias, cientistas suspeitam que diferenças genéticas afetam, prematuramente, o desenvolvimento do cérebro, causando as ectopias. O fato de parecer que as ectopias se conectam de forma diferente com neurônios, em outras partes do cérebro, é significante. A maioria das ectopias estão nas redes da linguagem, e na parte frontal do cérebro ligada à memória verbal. Talvez a conexão ectópica afete o complexo processo do aprendizado da leitura e escrita. Há uma outra diferença de conexão, a qual apresenta uma conotação significativa. O corpo caloso, um importante feixe de fibras nervosas que liga os hemisférios direito-esquerdo, também parece ser diferente: menor em sua porção anterior, e menor e mais curto em sua parte posterior, indicando diferenças na conexão e na comunicação interhemisférica cerebral. Sumário das Descobertas Não há dois cérebros humanos exatamente iguais. Cérebros humanos variam, como diferentes são todas as fisionomias humanas. De fato, encontramos variações entre os cérebros de indivíduos disléxicos. Entretanto, em geral, cérebros de disléxicos têm refinadas propriedades definíveis, que são como que bases características de diferenças encontradas em neuro-imagens e em estudos cognitivos. Exames microscópicos em autópsias cerebrais, realizados em duas décadas de pesquisas, revelam diferenças estruturais a nível celular (no neurônio, a unidade funcional fundamental do cérebro); a nível de conexão (com neurônios, redes neurais e regiões cerebrais de conexão e comunicação); e a nível anatômico grosso (organização e esquemas de áreas e regiões cerebrais). (Para revisões posteriores, veja as referências selecionadas no final deste artigo). O resultado é um cérebro organizado de maneira atípica, processando a informação através de caminhos únicos. Essa organização única é independente da inteligência , que é encontrada em grande variação em dislexia, como acontece com a população em geral. * * * * * Como membros das espécies humanas que residem no planeta terra há cerca de 4.5 bilhões de anos, e vivendo no início do século vinte e um, em um ambiente social confusamente complexo, como nos faz sentido o que conhecemos acerca da evolução e dos cérebros das pessoas com dislexia do desenvolvimento? Essa questão fundamenta o próximo segmento de nossa abordagem. Diversidade Cerebral Através de um Novo Modelo Avanços na teoria da evolução, nas neurociências e em disciplinas correlacionadas, oferecem-nos lentes mais poderosas para a visão de fenômenos como a dislexia, como aconteceu quando Samuel Kirk sugeriu, pela primeira vez, o termo dificuldade de aprendizado (LD), em 1962? Poderemos enriquecer nosso entendimento acerca da dislexia, pela visão dessa condição e através de lentes mais poderosas, abarcando mais amplas extensões biológicas e representações sociológicas? A Diversidade Cerebral é um Recurso Pessoal Talvez a visão mais ampla seja aquela da alternativa de arranjos cerebrais que produzam dificuldades específicas de aprendizado (p.ex., dislexia) a qual reflete a diversidade cerebral um termo que sugerimos como referência à heterogeneidade neural coletiva dos seres humanos, tanto quanto de perfis neurocognitivos pessoais de capacidades e dificuldades. A partir de uma perspectiva evolucionária, a diversidade cerebral é um recurso de nossas espécies, uma conseqüência da adaptabilidade da seleção natural, tanto quanto uma faceta através da qual o mecanismo de seleção natural pode operar. Construído no pensamento de Stephen Jay Gould (1995), poderíamos considerar dislexia, com sua concomitante dificuldade em leitura, como um tímpano de arco, um sub-produto da diversidade cerebral. Um espandrel (tímpano) termo arquitetural para o espaço entre a curva de um arco, e um delimite retangular ou modelador é um subproduto involuntário do projeto de uma estrutura secundária em origem, a qual pode, contudo, vir a ser a base da essência daquela estrutura. Talvez, agora, cada sub-produto, então construído pela diversidade cerebral isto é, dislexia, pode não servir aos propósitos de uma aparente adaptabilidade. Contudo, o modelo neural delineado pode abranger, ainda, maravilhosas possibilidades fundamentais. Nós sugerimos o termo diversidade cerebral como um veículo para expandir o pensamento e a discussão sobre dislexia, para além do modelo dificuldades , e como um degrau para um modelo de maior compreensão do cérebro e variação do aprendizado. Enquanto que a perspectiva de DA oferece uma importante lente para a visão da dislexia, ela limita nossa avaliação de diversidade neural, inibindo nossa habilidade de visão desse fenômeno em seu contexto maior, e da percepção de seus mecanismos essenciais, e em suas implicações mais amplas. A perspectiva das D.A. oferece uma lente. Porém, uma simples lente não pode capturar a multiplicidade desse complexo fenômeno. Além do Paradigma da Inabilidade Como começamos a compreender a intrincada relação entre sistemas de desenvolvimento neural e o meio-ambiente, e a estabelecer a ligação entre diferenças cerebrais e comportamentos de aprendizado, constatamos a falta de um modelo conceitual para sintetizar essa nova informação, e para a assimilar dentro do contexto educacional dos dias de hoje. No início de descobertas e percepções que podem produzir importantes idéias acerca de projetos muito favoráveis para ambientes de aprendizado do amanhã, essa deficiência fundamental restringe nossa visão, como cegos sobre um cavalo de raça. O chamamento para um novo modelo conceitual é de uma importância especialmente delicada, e requer esclarecimento. Primeiro, sem dúvida, cérebros disléxicos , com freqüência, estão em desvantagem no meio-ambiente social de hoje; Segundo, nosso meio-ambiente educacional não assiste bem às crianças com dislexia e, com freqüência, classifica-as como inábeis ; Terceiro, o modelo de inabilidade tem contribuído, de forma imperativa, como um foco que tem alimentado a pesquisa e programas de educação e serviços, promovendo o conhecimento e melhorando vidas. Enquanto o meio-ambiente educacional se rende à capacidade, como à vulnerabilidade das crianças com DA, mexendo com arriscados programas e práticas esquematizados para ajudar às crianças sob risco. Porém, aceitando um status quo da educação pública, tem sido comprovado um benefício marginal em quase toda avaliação de uma exposição a risco, condição que não pode ser favorecida. Para avaliar, com precisão, dificuldades de aprendizado como a dislexia, entendendo, de fato, todo o aprendizado, temos de compreender a dinâmica cérebro-meio-ambiente. Especificamente, precisamos entender a complexa interação entre arranjos cerebrais únicos e variáveis ambientais, resultando em diferenças no aprendizado. Entretanto, falta-nos um modelo para guiar a verificação dessa interconexão, e de suas implicações educacionais. Exceto daquela inserida no paradigma inabilidade , a qual, pelo mérito e política dessa pretensão, de qualquer maneira bem proposta, restringe o escopo de nossa visão e, então, limita nossa capacidade de conquistar objetivos para além daqueles que estamos alcançando. O Importante é Ensinar Como um exemplo, em nosso entusiasmo em excluir códigos sociais prejudiciais, como em determinar e estabelecer genuínas D.A. em si mesmas e em sua abrangência, nós ignoramos a contribuição circunscrita à mente na vida real, particularmente na instrução precoce da leitura. Essa perspectiva contribuiu para as defi nições de exclusão (exclusionary defi nitions), e modelos de discrepância entre capacidade-realização , agora, amplamente considerada como expressão imprópria (ver Lyon,1995; Dickman,2001). Faltando uma base teórica para a investigação, ou considerando a influência do meio-ambiente precoce em dificuldades de aprendizado, o campo ganhou atenção insuficiente, uma perda que limitou o entendimento da relação D.A.-meio-ambiente e, então, das D.A. Esta falta de entendimento atrasou a apreciação dos elementos da instrução bem planejada de leitura, em salas de aula da educação em geral, para aprendizes com todos os tipos de risco talvez, até mesmo, para a maioria dos estudantes, retardando o reconhecimento da posição de uma prática inadequada de instrução, e do fracasso na identificação de crianças com dificuldades de aprendizado. Esta conseqüência foi incorporada a uma cascata dentro dos catalogados problemas gerais da educação especial, tendo, provavelmente, contaminado as pesquisas das D.A., com sua prevalência estimada, particularmente, na dislexia do desenvolvimento. Assim, chama a atenção para a necessidade de um modelo conceitual mais amplo, que inclua as variáveis ambientais como a instrução, não como uma preocupação teórica esotérica. Em verdade, marés que guiam ondas de consenso, aumentam sua relação com o ensino nas D.A., particularmente quanto à posição efetiva da instrução precoce da leitura, na prevenção das dificuldades de aprendizado. Uma instrução inadequada penaliza todas as crianças. Porém, as crianças vulneráveis sofrem as conseqüências mais cruéis. A Associação Internacional de Dislexia, recentemente, chamou a atenção para a consideração dessa questão, através da inclusão das palavras-chave: - provisão de instrução efetiva em sala de aula , na última definição de dislexia. (Para a definição completa, veja Dickman). O que importa é ensinar! Esta afirmação é tão evidente por si mesma, e para a complexidade de uma dinâmica cérebro-meio-ambiente, que mascara a complexidade da dinâmica cérebro-meio-ambiente, sendo elucidada através do avanço da neurociência. O Sistema de Circuito Neural reflete ambos: composição biológica e influência ambiental por exemplo, na instrução precoce em leitura; no desenvolvimento de sistemas neurais desdobrados para funções cognitivas específicas, através da interação cérebro-meio-ambiente. Enquanto dificuldades específicas do aprendizado, como na dislexia do desenvolvimento, tem uma base neurológica, o meio-ambiente educacional regula uma posição social vital. Boas novas: isso é alguma coisa que nós podemos mudar, embora, saibamos que não será fácil. A dinâmica da mudança da escola, e as dificuldades inerentes em compartilhar a indispensável capacidade do professor, propõem o formidável desafio traduzido na mais precisa posição de orientação da pesquisa, aprimorada na prática. Tão importante quanto adequar as mudanças que irão determinar o sucesso de iniciativas como aquelas do Programa No Child Left Behind, Reading First(Nenhuma Criança Deixada para Trás, Primeiro a Leitura), ou do Multi-Level Intervention Model (Modelo de Intervenção MultiNivelado). (Veja mais sobre esse modelo em Fletcher e Fuchs). A ANALOGIA DA LENTE É APROPRIADA A necessidade de um modelo de perspectiva mais ampla, não significa substituir o modelo de dificuldade . A analogia da lente é eficiente. Objetivos diferentes oferecem perspectivas diferentes. Um microscópio é ferramenta vital para uma análise microscópica, porém seria inútil para escanear o horizonte, ao estudar-se galáxias ou imagens de cérebros vivos; microscópios binoculares, telescópios e dispositivos de neuro-imagens, todos, executam funções vitais, em contextos diferentes. Não desvalorizamos ou desaprovamos ninguém, quando precisamos do outro. O conceito D.A. é convincente em muitos aspectos e, infelizmente, permanece válido na maioria dos contextos. Como o microscópio, o conceito de DA oferece esclarecimentos inavaliáveis, focando nossa atenção nos problemas de diversos estudantes, nas escolas. Porém, uma observação mais aprofundada da dislexia, requer um princípio mais amplo de visão que nos permita uma percepção semelhante àquela da diversidade cerebral, em seu mais amplo contexto biológico e sociológico. Uma lente mais ampla, que nos permita observar a posição do meio-ambiente educacional, constituído de: 1. um componente ausente no contexto de entendimento da etiologia da dislexia; 2. confusão quanto à prevalência de variáveis, na identificação e avaliação das D. A. (o que contribui para uma posição de ineficiência à falência no aprendizado da leitura, resultando em dificuldades de aprendizado para muitas crianças); 3. agente na causa e no efeito da dislexia (sua base cerebral é influenciada pelo meio-ambiente; suas incapacidades conseqüentes, são definidas socialmente). Diversidade: Mais do Que Politicamente Correta Nosso ponto final revisita temas de evolução, implicações de foco e possibilidades de diversidade neural. Como abordado, nossos cérebros são produtos de arranjos genéticos, herdados de nossos ancestrais e de uma dinâmica de interação cérebro-meio-ambiente. Considerando todas as variáveis, podemos esperar variações. Quais as possibilidades que decorrem dessa variação? O modelo de incapacidade , aqui, também inibe a visão. Dislexia não impede capacidades e habilidades excepcionais. De fato, pessoas com dislexia, com freqüência, se sobressaem em vários campos. Elas, realmente, alcançam níveis notáveis de conquistas, apesar da dislexia, ou por causa dela? Será um esquema cerebral que prédispõe ao desenvolvimento de dificuldades em leitura e, algumas vezes, de talentos singulares? Trata-se de uma forma particular de habilidades, especialmente representadas na população disléxica? Evidência científica para uma conexão dislexia-talento tem provado que essa relação é evasiva, com poucas e intrigantes exceções. Baterias de testes aplicadas para revelar capacidades espaciais, voltadas à dislexia, não revelaram um controle melhor, mostrandose, com freqüência, em uma pior forma, exceto em uma tarefa: - o Impossible Figures Test (veja von Karolyi,2003). Crianças disléxicas realizaram essa tarefa, não somente de maneira tão acurada como outras crianças não disléxicas, porém, de forma significativamente mais rápida. Por que? Talvez esse controle em alta performance de disléxicos, seja por seus cérebros serem capazes de processar a informação mais globalmente, uma estratégia mais efetiva para o processamento das relações espaciais, do que através de uma abordagem de seqüência linear. A sociedade de hoje, vale-se dos benefícios de pensadores que processam a informação mais globalmente, ou daqueles cujas habilidades, com freqüência, estão associadas com a dislexia? por exemplo: aptidão mecânica, resolução criativa de problemas, habilidade para conectar registros díspares, expressão artística, visualização? O que esperar acerca do futuro das sociedades? No último século, ainda nas últimas décadas, ficou demonstrado o quão rapidamente nós reconstruímos o nosso meio-ambiente. Dislexia existe como uma dificuldade , somente no contexto da sociedade de hoje, um momento transitório no tempo geológico. De fato, humanos têm sido iliteratos por um tempo mais longo do que aquele no qual têm sido literatos. O ponto é: nós não sabemos que tipos de mentes humanas poderão ser necessários num futuro próximo e distante. Conquistados os desafios com os quais nos defrontamos em nosso instável meioambiente natural e social, a alternativa de arranjos cerebrais podem tornar-se recursos importantes, talvez, basicamente essenciais. Conclusão: Dislexia Reflete a Diversidade Cerebral Delineadas a partir das Neurociências e da Teoria da Evolução, esboçamos um quadro com as variáveis da dislexia em sua estrutura cerebral, em extensos movimentos rítmicos, na mais ampla tela possível, numa amplitude de 3.8 bilhões de anos. Também, interpretamos detalhes de aspectos microscópicos, representando diferenças anatômicas, celulares e de conexões cerebrais. Enquanto traçávamos esse esboço, a partir da ciência, também imprimíamos nele uma interpretação artística, configurando os seguintes temas: as dificuldades características da leitura, em dislexia do desenvolvimento, têm uma base neuro-anatômica. Esse traçado neural atípico reflete a diversidade cerebral (cerebrodiversity) um termo que sugerimos como referência a nossa heterogeneidade neural coletiva, tanto quanto a nossos modelos neurocognitivos individuais, em capacidades e vulnerabilidades. Diversidade cerebral é uma vantagem de adaptação para humanos. Nós especulamos que, enquanto a dislexia e sua concomitante dificuldade em leitura se constitui num contexto negativo no meio-ambiente de hoje, esse esboço neural pode envolver possibilidades positivas para a sociedade, e pode representar um recurso evolucionário para humanos. Essa especulação está a um passo dos parâmetros aparentes do modelo de Dificuldades de Aprendizado. Ainda, se no contorno neural da dislexia do desenvolvimento existem atributos positivos, leitura e escrita poderão permanecer como condição vital à felicidade de algum indivíduo, em futuro próximo. Por esta razão, temos de assegurar que, crianças vulneráveis como as disléxicas, também recebam instrução básica, comprovadamente fundamentada, para o desenvolvimento de todas as suas capacidades, particularmente em leitura. A partir do que foi abordado, poderemos ser beneficiados ao considerar o enigma da dislexia e de outras formas de aprendizado diferencial, não somente através de microscópios e da alta tecnologia das neurociências. Mas, também, através do ângulo mais amplo da lente da evolução, um cristalino mais abrangente que nos ajuda a vislumbrar um modelo mais expansivo da diversidade neural, e a assimilar a informação nascente acerca do aprendizado e do cérebro, particularmente como ela é descrita no meio-ambiente educacional. Uma perspectiva evolucionária oferece uma outra vantagem. Entendendo que a diversidade representa uma espécie de adaptação ao meio-ambiente em mudança, inspira-nos a olhar para além da realidade fugaz do aqui e agora, e a considerar o valor da cérebrodiversidade a importância de haver pensadores diferentes em nosso meio. Permitirmo-nos complexos desafios, isso pode ser vital. Nota do autor: determinado o escopo desse trabalho, nosso desejo de adequar este artigo para um amplo número de pessoas, num espaço restrito, limitamos a inclusão de inteligíveis pesquisas científicas e, em alguns casos, simplificamos e omitimos detalhes. Alguma imperfeição não será intencional. Nossos agradecimentos a Rosemary Bowler por sua assistência neste manuscrito. Gordon F. Sherman, Ph.D., é Diretor Executivo da Escola Newgrange e Educacional Outreach em Princeton, NJ, e ex-Presidente da Associação Internacional de Dislexia. Carolyn D. Cowen, E.M., Conferencista, Escritora e Consultora em tópicos relacionados à leitura, D.A., comunicação, e líder em atividades e planejamentos não lucrativos. Mais recentemente, ela foi Diretora Executiva/Fundadora da Rede de Dificuldades de Aprendizado em Marshfield, MA. This document was created with Win2PDF available at http://www.daneprairie.com. The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only.