14 | Compreender a Dislexia Cegueira verbal Em 1877, Adolph Kussmaul propôs a expressão “cegueira verbal”. Apesar de ainda se referir ao produto de uma lesão cerebral, esta terminologia contribuiu para definir a condição que agora conhecemos como dislexia. Essa expressão descreve a situação em que a sensibilidade visual e a fala de um indivíduo estão intactas, assim como a sua capacidade intelectual, mas em que se regista a incapacidade de o paciente reconhecer palavras que já conhece. Em 1892, J. Dejerine afirmou que esta condição se devia a uma lesão na circunvolução angular do cérebro (Richardson, 1989). A circunvolução angular é uma zona do cérebro responsável pela linguagem. Posteriormente, acrescentou que uma tal lesão produziria agrafia. Em 1896, o Dr. W. Pringle Morgan, um médico de Sussex, Inglaterra, diagnosticou pela primeira vez cegueira verbal congénita numa criança. Dislexia O Dr. Rudolf Berlin introduziu pela primeira vez o termo dislexia em 1887 (Richardson, 1989). A dislexia era vista como uma condição adquirida, desenvolvida após o nascimento. No entanto, Berlin sugeriu que esta dificuldade no domínio da leitura se podia dever a uma “doença cerebral”, em vez de a uma lesão cerebral. A dislexia era vista como “característica de um grupo especial de pacientes que sentiam grande dificuldade em ler, devido a uma doença cerebral” (Richardson, 1989, pág. 7). De forma significativa, a análise proposta por Berlin parece constituir o primeiro sinal de reconhecimento de que os padrões de leitura característicos dos disléxicos podem ocorrer sem que se tenha registado um traumatismo craniano grave. O oftalmologista escocês, J. Hinshelwood, no seu livro Cegueira Verbal Congénita (1917), fez notar que, com frequência, uma mesma família registava vários casos de dislexia. Os sintomas assemelhavam-se aos manifestados por adultos que tinham perdido a capacidade de ler, devido a lesões cerebrais (Richardson, 1989). Hinshelwood referiu que a dificuldade manifestada no domínio da leitura poderia resultar do subdesenvolvimento da circunvolução angular, em vez de se ficar a dever meramente a uma lesão. O seu trabalho foi essencialmente conduzido com base em exames realizados no decurso de autópsias, tendo levantado a possibilidade de o subdesenvolvimento cerebral poder ser também o resultado de