ANÁLISE DO USO E COBERTURA DO SOLO DA MICROBACIA DO CÓRREGO DOS MACACOS NOS MUNICÍPIOS DE TEREZÓPOLIS DE GOIÁS E GOIANÁPOLIS – GOIÁS. Lauis de Oliveira e Silva Junior 1; Karine do Prado Silva 2; Katia Kopp 3* ; Nilson Clementino Ferreira4 Resumo – O presente trabalho teve como objetivo analisar o uso e cobertura do solo na microbacia do Córrego dos Macacos para identificar os conflitos com a legislação ambiental do Estado de Goiás. Com base nas imagens de alta resolução do Satélite GeoEye realizou-se, com a utilização do software livre Quantum GIS (versão 2.4.0), o processamento dos dados espaciais, mapeando manualmente o uso e cobertura do solo. Os resultados mostraram que as Áreas de Proteção Permanentes (APPs) ocupam 2,45 Km², o que equivale a 7,08% da área total da microbacia, e que 44,80% estão preservadas e 55,14% estão em conflito com a legislação ambiental. Os resultados mostram maior necessidade de atenção dos agentes responsáveis pelo gerenciamento da microbacia. Palavras-Chave – uso e cobertura do solo, política florestal de Goiás, gestão de bacias hidrográficas. ANALYSIS OF USE AND LAND COVER FROM CÓRREGOS DOS MACACOS BASIN IN THE MUNICIPALITIES OF TEREZÓPOLIS DE GOIÁS E GOIANÁPOLIS, GOIÁS. Abstract – The present work aimed to analyze the use and land cover in Córrego dos Macacos watershed to identify conflicts with environmental laws of the State of Goiás. Based on highresolution GeoEye Satellite images took place, using the free Quantum GIS software (version 2.4.0), the processing of spatial data, manually mapping the use and land cover. The results showed that the Permanent Protection Areas (PPAs) occupy 2.45 Km², which is equivalent to 7.08% of the total area of the watershed, and 44.80% are preserved and 55.14% are in conflict with environmental legislation. The results show increased need for attention of officials responsible for managing the watershed. Keywords – use and land cover, forest policy of Goiás, watershed management. Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Estruturas e Construção Civil – PPG – GECON. Escola de Engenharia Civil - Universidade Federal de Goiás, Avenida Universitária, nº 1488, Qd 86, Lt Área, Setor Leste Universitário. Goiânia – GO. [email protected] 2 Graduada em Engenharia Ambiental e Sanitária, Universidade Federal de Goiás. [email protected] 3,4 Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental e Sanitária – PPGEAS. Escola de Engenharia Civil - Universidade Federal de Goiás, Avenida Universitária, nº 1488, Qd 86, Setor Leste Universitário. Goiânia – GO. [email protected]*; [email protected] 1 XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1 INTRODUÇÃO Com o aumento, nos últimos trinta anos, da pressão sobre os recursos hídricos em função do crescimento demográfico e econômico houve progressiva degradação da qualidade das águas dos rios em virtude da intensificação das atividades industriais, agropecuárias e de mineração. Para reverter essa situação e garantir a disponibilidade de água aos diferentes usos para a população atual e futura é necessária uma gestão adequada dos recursos hídricos (ANA, 2012). A lei Nº 9.433 de 8 de janeiro de 1997 define a bacia hidrográfica como unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e atuação do Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Incorpora princípios e normas para a gestão de recursos hídricos adotando a definição de bacia hidrográfica como unidade de estudo e gestão. O novo modelo descentralizado é em nível de bacias hidrográficas, envolvendo todos os interessados no processo decisório e tratando a água como um bem de valor econômico, e não mais como uma dádiva inesgotável da natureza (Abers e Jorge, 2005). A Lei nº 13.123, de 16 de julho de 1997, posterior à PNRH, estabelece as normas de orientação à Política Estadual de Recursos Hídricos (PERH) para o Estado de Goiás, bem como ao Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Ainda não há um Plano Estadual de Recursos Hídricos em Goiás, o qual deveria ter sido aprovado no ano de 1997 segundo a Lei 13.123. Entretanto já foram instalados alguns Comitês de Bacias, como a da bacia hidrográfica do Rio Vermelho, dos Rios Turvo e dos Bois e do Meia Ponte. O estudo do uso e ocupação do solo em uma bacia hidrográfica favorece a análise sobre a interferência das ações humanas no meio ambiente do local (Luz, 2009). A análise do uso e ocupação do solo destaca-se como um fator primordial na avaliação ambiental, pois as condições atuais das características do meio físico são, em parte, resultantes das diferentes formas de uso e ocupação dada ao meio e das interferências antrópicas nos processos ambientais (Romão e Souza, 2011). O uso de Sistemas de Informações Geográficas (SIG), ultimamente, têm sido imprescindíveis no detalhamento e mapeamento de diversos conflitos decorrentes das transformações do espaço geográfico (Cardoso e Aquino, 2013). Dessa forma, partindo do princípio que a análise do uso e ocupação do solo, é de primordial importância para a gestão de bacias hidrográficas, o objetivo desse trabalho foi analisar o uso e cobertura do solo da microbacia do Córrego dos Macacos, para identificar os conflitos com a legislação ambiental (Lei nº 18.104 de 18 de julho de 2013). XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2 MATERIAL E MÉTODOS Caracterização da área de estudo A microbacia do Córrego dos Macacos está localizada dentro dos limites dos municípios de Terezópolis de Goiás e de Goianápolis (Figura 1), entre as latitudes 16º28’53,04’’ e 16º33’25,2’’ Sul e os meridianos 49º1’3,36’’ e 49º5’38,04’’ Oeste. Abrange uma área de 34,66 km², fazendo parte da Bacia Hidrográfica do Ribeirão João Leite, localizada na região Central do Estado de Goiás, a qual envolve outros cinco municípios: Ouro Verde de Goiás, Campo Limpo de Goiás, Anápolis, Nerópolis e Goiânia. Figura 1 - Localização da microbacia do Córrego dos Macacos. (Fonte: Base de dados da SIEG, adaptado pelo autor). O município de Terezópolis de Goiás se encontra às margens da BR 153 a 25 km de Goiânia, capital do estado, e a 173 km do Distrito Federal. A microbacia está completamente inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) do Ribeirão João Leite, o que obrigaria os produtores rurais a efetuarem a prática de produção orgânica (sem agrotóxicos) (PREFEITURA DE TEREZÓPOLIS DE GOIÁS, 2014). O bioma local é o Cerrado e em relação aos aspectos demográficos o município de Terezópolis de Goiás possui 6.561 habitantes, sendo 885 destes (13,49%) residentes na zona rural. Já Goianápolis possui 10.695 habitantes, dos quais 1.004 (9,39%) residem em áreas rurais (IBGE Cidades@, 2010). Mapa de uso e cobertura do solo Para a elaboração do mapa de uso e cobertura do solo da microbacia do Córrego dos Macacos foram utilizadas imagens de alta resolução do Satélite GeoEye, de 5 de outubro de 2013, disponibilizadas gratuitamente no sítio Google Earth. Em seguida, a partir do software livre Quantum GIS (versão 2.4.0), realizou-se o processamento dos dados espaciais, mapeando manualmente o uso e cobertura do solo conforme metodologia aplicada por Cardoso e Aquino XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3 (2013). O arquivo contendo a bacia de drenagem de estudo georreferenciada no sistema de referência WGS 84 foi disponibilizada para a pesquisa tendo sido levantada anteriormente por um trabalho em que se desenvolveu o mapeamento geomorfométrico da bacia hidrográfica do João Leite (GO) utilizando software livre. As classes de uso e cobertura para a análise foram: vegetação remanescente, solo exposto, agricultura, reflorestamento, edificação urbana e rural, rede de drenagem e elementos de interesse como malha viária e ponto de captação de água para abastecimento. Cada classe, com base nas imagens e reconhecimento da área de estudo, foi separada por meio da vetorização com polígonos e criou-se posteriormente o mapa de uso e cobertura do solo. A delimitação das APPs baseou-se no Art. 9º do Código Florestal do Estado de Goiás (Lei nº 18.104 de 18 de julho de 2013). As Áreas de Preservação Permanente dos rios e nascentes foram mapeadas por meio de análise de proximidade a partir de suas faixas marginais até a distância exigida pela legislação, sendo 30 m para rios de até 10 m (caso da microbacia dos Macacos) e um raio de 50 m para as nascentes. Os pontos de conflito foram então facilmente identificados com a sobreposição dessas com os usos e coberturas do solo mapeados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando a metodologia utilizada, foi possível identificar as classes de uso e cobertura do solo na microbacia do córrego dos Macacos, conforme a Figura 2. Figura 2 - Mapa de uso e cobertura do solo da microbacia do Córrego dos Macacos. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4 As áreas de cada classe são quantificadas na Tabela 1 em m², km² e em porcentagem, sendo a maior a das áreas de pastagem, representando 80,97% da área total da microbacia. A segunda maior porcentagem é a das áreas de vegetação remanescente, onde a vegetação nativa ainda está intacta, que somaram apenas 15,10% do total. A parcela da zona urbana da cidade de Goianápolis (GO) a qual está dentro dos limites da microbacia, soma 2,05%. O solo exposto, que em sua maioria se constitui de terra arada, representa 1,27%. O reflorestamento, onde é cultivado principalmente eucalipto (Eucalyptus spp.), se constitui de 0,30%. A agricultura, que em sua maior parte tem como finalidade o consumo do próprio produtor, soma 0,21%, e as edificações rurais figuram 0,01% do total da área da microbacia. Tabela 1 - Quantificação dos usos e coberturas do solo na Microbacia do Córrego dos Macacos. Classes de uso e cobertura do solo Pastagem Vegetação Remanescente Zona Urbana Solo Exposto Reflorestamento Agricultura Edificação Rural Área (m²) 28.060.027,50 5.235.766,12 712.474,46 440.421,97 103.562,34 73.119,76 34.627,85 Área (Km²) 28,060 5,235 0,712 0,440 0,104 0,073 0,034 Área (%) 80,97 15,10 2,05 1,27 0,30 0,21 0,01 Com esses dados pode-se perceber o quanto as atividades antrópicas pressionam os componentes do meio físico, provocando a redução das áreas de vegetação remanescente pela sua ocupação. A alta percentagem de áreas de pastagens se dá pelo fato de a produção da região se basear predominantemente do gado leiteiro e de corte. A agricultura, não sendo atividade preponderante, é realizada por pequenos produtores, sendo que os maiores cultivam milho para elaboração da ração para o gado. Luz (2009) enfatiza que o uso do solo por atividades agropecuárias em bacias hidrográficas provoca uma série de impactos ambientais, no qual se destacam a modificação da paisagem, supressão da vegetação e o lançamento de agrotóxicos e fertilizantes no solo e na água, cenário percebido na microbacia em estudo. O mapeamento das APPs permitiu identificar uma área de 2,45 Km², o que equivale a 7,08% da área total da microbacia (Figura 3). XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5 Figura 3 - Mapa de uso e cobertura do solo da microbacia do córrego dos Macacos com APP delimitada em 30 metros das margens e 50 metros das nascentes. A Tabela 2 e Figura 4 destacam as regiões preservadas dentro das Áreas de Preservação Permanente. As APPs das margens (2,32 Km²) somaram ao todo 94,82% da totalidade das áreas de preservação, sendo a maior em termos quantitativos. No entanto, dessa parcela somente 1,01 Km² estão cobertas com vegetação nativa preservada, o que corresponde a 41,26% dessa dimensão. Em relação à área total de APPs 44,80% estão preservadas, ou seja, possuem vegetação remanescente, e 55,14% estão em conflito com a legislação ambiental (Tabela 2). Tabela 2 - Áreas de APPs preservadas e em desacordo com a legislação ambiental. APPs Área Total de APP APP das margens Vegetação Preservada em APP das margens APP das nascentes Vegetação Preservada em APP de nascentes Total de APP Preservada Em desacordo com a legislação ambiental XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos Área (m²) 2.452.949,31 2.323.725,45 1.014.550,98 Área (Km²) 2,450 2,323 1,014 Área (%) 100,00 94,82 41,36 129.223,86 84.432,96 0,129 0,084 5,18 3,44 1.098.983,99 1.353.965,45 1,099 1,353 44,80 55,14 6 Figura 4 - Mapa de uso e cobertura do solo da microbacia do córrego dos Macacos com APP delimitada em 30 metros das margens e 50 metros das nascentes destacando a vegetação remanescente em seu interior. As Áreas de Preservação Permanente das nascentes ocupam 0,129 Km², sendo que 0,084 Km² da vegetação está mantida, o equivalente a 3,44% do total e 65,12% das APPs em regiões de nascente. Esta situação é bastante alarmante, posto que se trata de localidades que recarregam a microbacia, sendo, portanto, muito sensíveis às alterações do meio físico e importantes para a bacia como um todo. As propriedades do local ainda não estão registradas no CAR GOIÁS, como obriga a Lei nº 18.104 de 2013, sendo que muitos dos moradores sequer possuem conhecimento desta necessidade. O registro é importante para o monitoramento das áreas, principalmente as de Reserva Legal. Os conflitos em relação à legislação e as APPs da microbacia se dão em grande parte pela ocupação das pastagens e a porcentagem de 55,14% é um número alarmante, já que representa mais que o dobro obtido por Cardoso e Aquino (2013), os quais obtiveram em seu estudo 27,90% da área em conflito com a legislação e consideraram a situação da microbacia “confortável” em relação aos índices de degradação em todo país. Dessa forma, observa-se que a microbacia do Córrego dos Macacos se encontra em elevado estado de degradação. Cerca de 80,9% da área total da microbacia é formada por pastagens e apenas 15,1% é composta por vegetação remanescente. Outro fator bastante relevante é que, da área total ocupada pelas APPs, apenas 44,8% estão conservadas e as demais 55,1% estão em conflito com a legislação ambiental, além da baixa percentagem de vegetação nativa preservada em cada propriedade. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7 Tal cenário demonstra maior necessidade de atenção dos agentes responsáveis pelo gerenciamento da microbacia, os quais deveriam não somente exigir o cadastro das áreas no CAR GOIÁS (Cadastro Ambiental Rural Goiás) como também atuar em um esforço para a educação ambiental dos moradores, para que sejam capazes de compreender os problemas relativos à degradação da microbacia e que conheçam maneiras mais sustentáveis para exploração da região. Os dados da pesquisa realizada podem servir como base para ações relativas ao gerenciamento integrado da microbacia do Córrego dos Macacos, auxiliando na tomada de decisões baseadas na análise ambiental executada. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPQ (Processo nº 477857/2012-4) e à FAPEG (Processo nº 201210267001192) pelo financiamento do projeto. REFERÊNCIAS ABERS, R.; JORGE, K. D. (2008). Descentralização da Gestão da Água: Por que os comitês de bacia estão sendo criados. Ambiente & Sociedade 3(2), pp.1-26. ANA. (2012). Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil - Informe 2012. In Agência Nacional das Águas - Brasília: ANA. 2012. 216p. Disponível em: <http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sge/ CEDOC/Catalogo/2012/Conjuntura_2012_Livro.pdf>. Acesso em: 24 de maio de 2014. CARDOSO, J. A.; AQUINO, C. M. S. (2013). Mapeamento dos conflitos de uso nas áreas de preservação permanente (APPs) da microbacia do riacho do Roncador, Timon (MA). Boletim Goiano de Geografia 33(3), pp. 477-492. GOIÁS. (16 de julho de 1997). Lei nº13.123. Estabelece normas de orientação à política estadual de recursos hídricos, bem como ao sistema integrado de gerenciamento de recursos hídricos e dá outras providências. Goiânia, GO. GOIÁS. (18 de julho de 2013). Lei nº 18.104. Institui a nova Política Florestal do Estado de Goiás. Goiânia, GO. IBGE. Cidades 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em <http://www.ibge.gov.br> Acesso em: 24 de maio de 2014. LUZ, C. N. (2009). Uso e ocupação do solo e os impactos na qualidade dos recursos hídricos superficiais da bacia do rio Ipitanga. 131 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental Urbana, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, Salvador. PREFEITURA DE TEREZÓPOLIS DE GOIÁS. Terezópolis de Goiás: O município sustentável. [s/d]. Disponível em: <http://terezopolisdegoias.webnode.com.br/terezopolis-de-goias/>. Acesso em 19 de junho de 2014. ROMÃO, A. C. B. C.; SOUZA, M. L. (2011). Análise do uso e ocupação do solo na bacia do ribeirão São Tomé, noroeste do Paraná –PR (1985 e 2008). Raega 21, pp. 337-364. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 8