TENSÃO E EQUILÍBRIO ----------------------------------Prof. Dr. Julio Almeida ELASTICIDADE LINEAR CLÁSSICA 1 TENSÃO E EQUILÍBRIO Quando uma estrutura é submetida à cargas externas, forças internas são induzidas no interior do elemento em análise. Tais forças são, ainda, distribuídas continuamente ao longo de todo o sólido. Existem duas categorias de forças internas na mecânica do contínuo: forças de corpo (eletromagnéticas, gravitacionais) e forças de superfície (forças de contato). 2 1 FORÇAS DE CORPO As forças de corpo são proporcionais à massa do corpo e normalmente são definidas como forças por unidade de volume, podendo ser descritas na forma: r r FR = ∫ F ( x) dV V 3 FORÇAS DE SUPERFÍCIE As forças de superfície são forças por unidade de área, sendo que a resultante das mesmas ao longo de uma superfície S é função do chamado vetor tração (Tn(x)). r rn FS = ∫ T ( x) dS S 4 2 VETOR TRAÇÃO P3 P2 ∆F n ∆A p P1 (Sectioned Body) (Externally Loaded Body) ∆F = força de superfície resultante atuante em ∆A 5 VETOR TRAÇÃO ∆F n O vetor tração ou tensão é definido por: ∆A (Sectioned Body) rn ∆F T ( x ,n ) = lim ∆A→0 ∆A notar que o vetor tração depende da localização espacial e do vetor unitário normal à superfície em estudo!! 6 3 VETOR TRAÇÃO Supondo agora o caso especial no qual ∆A coincida com cada um dos três planos coordenados e tenha os vetores unitários normais direcionados no sentido positivo dos eixos coordenados, na forma: 7 VETOR TRAÇÃO as componentes normais necessitam de apenas um subscrito, sempre normal à superfície em análise; as componentes tangenciais necessitam de dois subscritos, sendo que o primeiro representa o plano de ação e o segundo representa a direção da 8 tensão. 4 TENSOR TENSÃO DE CAUCHY Supondo agora um tetraedro (tetraedro de Cauchy) na forma: infinitesimal y n Tn x z 9 TENSORES DE TENSÃO: CAUCHY x PIOLA-KIRCHOFF Pela teoria das pequenas deformações, o tensor tensão e o vetor tração podem ser aplicados de forma indiferente à configuração original ou à configuração deformada do elemento Por outro lado, para a teoria das grandes deformações, tal condição não é válida sendo a configuração original a frequentemente utilizada na formulação do problema. 10 5 TRANSFORMAÇÃO DE TENSÃO Por se tratar de um tensor de segunda ordem, valem as mesmas regras anteriormente estabelecidas para a transformação de eixos. Assim: σ ij ' = Qip Q jqσ pq Qij = cos( xi ' , x j ) l1 m1 n1 Qij = l2 m2 n2 l3 m3 n3 11 TRANSFORMAÇÃO DE TENSÃO resultando em: σ ij ' = Qip Q jqσ pq σ 11 ' σ 12 ' σ 13 ' l1 m1 n1 σ 11 σ 12 σ 13 l1 m1 n1 σ 21 ' σ 22 ' σ 23 ' = l2 m2 n2 σ 21 σ 22 σ 23 l2 m2 n2 σ 31 ' σ 32 ' σ 33 ' l3 m3 n3 σ 31 σ 32 σ 33 l3 m3 n3 T 12 6 TRANSFORMAÇÃO DE TENSÃO resultando em: σ x ' = σ x l12 + σ y m12 + σ z n12 + 2(τ xy l1m1 + τ yz m1n1 + τ zx n1l1 ) σ y ' = σ x l2 2 + σ y m2 2 + σ z n2 2 + 2(τ xy l2 m2 + τ yz m2 n2 + τ zx n2l2 ) σ z ' = σ x l3 2 + σ y m3 2 + σ z n3 2 + 2(τ xy l3 m3 + τ yz m3n3 + τ zx n3l3 ) τ xy ' = σ xl1l2 + σ y m1m2 + σ z n1n2 + τ xy (l1m2 + m1l2 ) + τ yz (m1n2 + n1m2 ) + τ zx (n1l2 + l1n2 ) τ yz ' = σ xl2l3 + σ y m2 m3 + σ z n2 n3 + τ xy (l2 m3 + m2l3 ) + τ yz (m2 n3 + n2 m3 ) + τ zx (n2l3 + l2 n3 ) τ zx ' = σ xl3l1 + σ y m3m1 + σ z n3n1 + τ xy (l3m1 + m3l1 ) + τ yz (m3 n1 + n3m1 ) + τ zx (n3l1 + l3 n1 ) 13 TRANSFORMAÇÃO DE TENSÃO Particularizando para 2D: l1 m1 n1 Qij = l2 m2 n2 l3 m3 n3 cosθ Qij = − senθ 0 senθ 0 cosθ 0 0 1 14 7 EXEMPLO 01 Dado o tensor de tensão [σ σ] atuante num ponto P, determinar o vetor tensão passando por P e simultaneamente paralelo ao plano ABC, sendo A (4,0,0), B(0,2,0) e C(0,0,6). 7 [σ ] = − 5 0 −5 0 3 1 1 2 15 TENSÕES PRINCIPAIS Plano no espaço no qual as tensões tangenciais desaparecem, permanecendo apenas tensões normais, as quais, nessas circunstâncias, são designadas por tensões principais. 16 8 TENSÕES PRINCIPAIS Adaptando-se a equação característica: [ ] det σ ij − σδ ij = −σ 3 + I1σ 2 − I 2σ + I 3 = 0 e os invariantes: I1 = σ ii = tr [σ ] = σ 11 + σ 22 + σ 33 I2 = 1 (σ iiσ jj − σ ijσ ji ) = σσ 11 σσ 12 + σσ 22 σσ 23 + σσ 11 σσ 13 2 32 33 31 33 21 22 [ ] I 3 = det σ ij 17 DECOMPOSIÇÃO DO VETOR TRAÇÃO N ∆A n Tn S N = componente normal S = componente tangencial 18 9 DECOMPOSIÇÃO DO VETOR TRAÇÃO S 2 + (N − σ 2 )( N − σ 3 ) ≥ 0 S 2 + (N − σ 3 )( N − σ 1 ) ≥ 0 S 2 + (N − σ 1 )( N − σ 2 ) ≥ 0 S S 2 + ( N − σ 2 )( N − σ 3 ) = 0 N σ3 σ2 σ1 S 2 + ( N − σ1 )( N − σ 2 ) = 0 com : S max = S + ( N − σ 3 )( N − σ1 ) = 0 2 σ1 − σ 3 2 resultados obtidos por Otto Mohr 19 TENSÕES ESFÉRICA E DESVIATÓRIA O tensor esférico ou hidrostático corresponde ao caso em que cada tensão normal é igual a (-p) e as tensões tangenciais correspondentes são nulas. Esse tensor produz assim apenas mudança de volume, sem mudança de forma, no corpo em análise. 1 3 σ hid = σ med = − p = σ ii = I1 3 20 10 TENSÕES ESFÉRICA E DESVIATÓRIA O tensor desviatório é aquele responsável pela mudança de forma, além de ser também o responsável pela plastificação do material. σ D = σ ij − σ hid 21 PLANO OCTAÉDRICO E TENSÕES OCTAÉDRICAS Suponha agora um plano especial cuja normal faz ângulos idênticos com os 3 eixos principais: 22 11 PLANO OCTAÉDRICO E TENSÕES OCTAÉDRICAS ni = ± (1,1,1) 3 23 TENSÃO DE MISES A tensão tangencial octaédrica é diretamente relacionada com a energia de distorção de deformação, critério convencionalmente utilizado como teoria de falha para materiais dúcteis. Tal critério de falha é também conhecido como critério de Mises, cuja tensão efetiva vale: σ '= σ e = 1 2 (σ − σ ) + (σ − σ ) + (σ 2 1 2 2 1 3 −σ3) 2 2 24 12 EXEMPLO 02 Dado o tensor de tensões num ponto genérico, determinar as tensões principais e suas correspondentes direções. 3 1 1 [σ ] = 1 0 2 1 2 0 Verificar, ao final, que a transformação do tensor tensões original resulta nas tensões principais mediante a matriz de transformação dos cossenos diretores principais. 25 EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO Considerando, assim, uma região com uma distribuição geral de forças de superfície e forças de corpo na forma: Tn S V F σ ji , j + Fi = 0 26 13 EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO qualquer campo de tensões elástico deve, obrigatoriamente, atender as relações de equilíbrio no contexto de garantir o equilíbrio estático. 27 SIMETRIA DAS TENSÕES TANGENCIAIS Pelo princípio do momentum angular deve-se garantir que o momento de todas as forças atuantes em qualquer porção do corpo deva ser nulo. Mediante tal condição, pode-se demonstrar que: σ ij = σ ji comprovando-se a simetria do tensor tensões. 28 14 EXEMPLO 03 As tensões principais em um ponto P pertencente a um sólido elástico, referidos a um sistema cartesiano ortogonal Oxyz, são: r r r 50 r σ 1 = (2i + 2 j + k ) 3 r r 30 r r σ 2 = (2i − j − 2k ) ( MPa ) 3 r r 20 r r σ 3 = − (i − 2 j + 2k ) 3 Calcular a tensão correspondente a um plano cuja normal exterior forma ângulos agudos iguais com os semi-eixos positivos do triedro Oxyz. 29 EXEMPLO 04 A matriz de tensões nos pontos de um sólido elástico vale: − 6( x + y + z ) 4x + 3y [T] = − 6( x + y + z ) 10( y − z ) y+z 3x y + z 3 x 5 z com tensões em kgf/mm2 e coordenadas em metros. a) Determinar as forças de volume (N/m3) correspondentes b) Determinar, em forma matricial, as tensões esférica e desviadora no ponto P(0,1,-1) 30 15 EXEMPLO 05 Para o caso de cisalhamento é dada por: 0 τ σ ij = τ 0 0 0 puro, a matriz tensão 0 0 0 Determine as tensões e direções principais e defina as tensões normal e cisalhante no plano octaédrico. 31 BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA Boresi, A. P. & Chong, K. P., Elasticity in Engineering Mechanics, Prentice Hall, Inc. (2000). Saad, M. H., Elasticity – Theory, Applications and Numerics, Elsevier (2005). Prof. Julio Almeida 32 16