UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE FISIOTERAPIA A Eficácia da Fisioterapia no Período Pré-Operatório de Pacientes Obesos Mórbidos com Indicação à Cirurgia Bariátrica Avaliada através da PaO2 CASCAVEL - PR 2004 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 SABRINA FELICIANI RODRIGUES A Eficácia da Fisioterapia no Período Pré-Operatório de Pacientes Obesos Mórbidos com Indicação à Cirurgia Bariátrica Avaliada através da PaO2 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus de Cascavel como requisito parcial para obtenção do título de Graduação em Fisioterapia ORIENTADORA: Profa. Cláudia Rejane Lima de Macedo. CASCAVEL - PR 2004 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 TERMO DE APROVAÇÃO SABRINA FELICIANI RODRIGUES A Eficácia da Fisioterapia no Período Pré-Operatório de Pacientes Obesos Mórbidos com Indicação à Cirurgia Bariátrica Avaliada através da PaO2 Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do Título Graduado em Fisioterapia, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Profa. Joseane Rodrigues Coordenadora Banca Examinadora .................................................................................. Orientadora: Profa. Cláudia Rejane Lima de Macedo Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE ................................................................................... Profa. Érica Fernanda Osaku Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE ................................................................................... Dra. Érika Marini Bruneri Fisioterapeuta Cascavel, 10 de Novembro de 2004. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 Dedico esta grande vitória aos meus pais, Inereu e Lúcia, que estiveram ao meu lado em todos os momentos da minha vida e me deram força para completar mais uma importante etapa. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, a DEUS, por estar ao meu lado em todos os momentos desta caminhada, me dando força para cumprir todas as minhas tarefas, me carregando no colo nos momentos de angústia, tristeza e solidão, me protegendo de dia e de noite e iluminando meu caminho até a grande vitória. Agradeço aos meus pais, Inereu e Lúcia, porque me deram a vida e me ensinaram a vivê-la com dignidade, porque iluminaram meu caminho com afeto e dedicação para que eu o trilhasse sem medo e cheia de esperança, porque se doaram inteiros e renunciaram aos seus sonhos para que eu pudesse realizar os meus, e porque como verdadeiros amigos sempre me deram força e me ajudaram a vencer. Agradeço aos meus irmãos, Melina e Lucas, que, com todo amor e carinho dedicados a mim, me ajudaram a ter energia para continuar sempre. Agradeço ao meu namorado, João Henrique, por muitas vezes ter sido força, paciência e acalento, e por sempre ter sido um grande e verdadeiro companheiro que me acompanhou durante toda esta jornada. Agradeço a minha orientadora Cláudia Rejane Lima de Macedo e a minha coorientadora Érica Fernanda Osaku, pela amizade e carinho, e pela dedicação e experiência dispendidas à este trabalho, que foram fundamentais do início ao término deste. Agradeço a fisioterapeuta, Dra. Carla Ingrid Iavat, por ter disponibilizado sua clínica aos atendimentos e por toda ajuda dispendida. Agradeço a Dra. Érika Marini Bruneri, pelo tempo dedicado à analise do trabalho e de ser uma integrante da banca. Agradeço a todos os professores, por todo conhecimento compartilhado e por ter despertado em mim carinho e admiração, que deixará saudades. E, finalmente agradeço aos meus queridos pacientes, que aceitaram participar e confiaram na minha pesquisa. À todos meu sincero muito obrigada! Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 RESUMO A obesidade mórbida, definida por um Índice de Massa Corpórea (IMC) maior ou igual a 40 kg/m2, tem aumentado, significativamente, nas últimas décadas e se tornou um importante problema de saúde pública com implicações socioeconômicas. Esta desordem está associada a profundas alterações do sistema respiratório, nas quais observam-se grandes anormalidades dos volumes pulmonares e trocas gasosas. Uma importante opção de tratamento para estes pacientes é a cirurgia bariátrica. O presente estudo teve como objetivo principal verificar a eficácia da fisioterapia na melhora da PaO2. Fez parte deste estudo um grupo de tratamento, constituído de 10 pacientes, sendo 9 mulheres e um homem, com idade entre 26 e 45 anos e IMC médio de 42,55 kg/m2, as quais foram submetidas a 30 sessões de fisioterapia, realizada cinco vezes por semana, uma vez ao dia, e com duração de duas horas de tratamento. A PaO2 foi analisada através da gasometria arterial no início e ao término do tratamento. Os resultados obtidos demonstraram um aumento da PaO2 em 100 % dos pacientes, sendo a PaO2 média inicial de 68,81 ± 12,64 mmHg e a média final de 81,7 ± 8,74 mmHg. Conclui-se que a fisioterapia é extremamente importante no período pré-operatório de pacientes com indicação à cirurgia bariátrica, à medida que melhora a PaO2 e, conseqüentemente, proporciona aos pacientes uma diminuição dos riscos peri-operatórios e uma aceleração do período de recuperação. Palavras-chave: Obesidade mórbida; Cirurgia bariátrica e Fisioterapia. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 ABSTRACT The morbid obesity, that’s defined by a Body Mass Index higher or equal than 40 kg/m², has increased in the last decades and it became a very impotent problem of public health with socioeconomic implications. This disarrange is associate to deep changes in breath system where it can see abnormalities on lung volumes and in gas changes. An important treatment option to these patients is the bariatric surgery. This paper had like its main objective verify the physiotherapy’s efficacy in the increasing of PaO2. It was part of this paper a treatment group formed by ten patients, nine women and a man, they was between 26 to 45 years old and median IMC of 42,55 kg/m², who were submitted to 30 physiotherapy sessions, it was realized five times per week, once in each day, it has two hours of treatment. The PaO2 was analyzed by the arterial gasmetery in the beginning and in the end of the treatment. The results show a increase of PaO2 in 100% of the patients, being the average of initial PaO2 of 68,81 ± 12,64 mmHg and the average end of 81,7 ± 8,74 mmHg. It follows that the physiotherapy is extremely important in the pre-operation period of patients with indication to bariatric surgery, as long as PaO2 get better, it provides to patients a decrease of perioperative risks and a faster recuperation period. Key-words: Morbid obesity; Bariatric surgery and Physiotherapy. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES..................................................................................... 10 LISTA DE ABREVIAÇÕES.................................................................................... 11 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 1.1 Justificativa do Trabalho............................................................................... 1.2 Objetivos do Trabalho.................................................................................... 1.2.1 Geral.............................................................................................................. 1.2.2 Específicos.................................................................................................... 12 15 16 16 17 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................... 2.1 Fisiologia da Respiração............................................................................... 2.1.1 Mecânica da Respiração............................................................................... 2.1.1.1 Complacência Pulmonar............................................................................ 2.1.1.2 Complacência da Parede Torácica............................................................ 2.1.2 Troca Gasosa................................................................................................ 2.1.3 Difusão Gasosa............................................................................................. 2.1.4 Transporte de Gases..................................................................................... 2.1.4.1 Oxigênio...................................................................................................... 2.1.4.2 Dióxido de Carbono.................................................................................... 2.2 Obesidade........................................................................................................ 2.2.1 Definição........................................................................................................ 2.2.2 Morfofisiologia................................................................................................ 2.2.3 Etiologia.......................................................................................................... 2.2.3.1 Genética...................................................................................................... 2.2.3.1.1 Gasto Calórico.......................................................................................... 2.2.3.1.2 Adipogênese............................................................................................ 2.2.3.1.3 Oxidação Gordurosa................................................................................ 2.2.3.1.4 Doenças Genéticas e Congênitas............................................................ 2.2.3.1.5 Leptina...................................................................................................... 2.2.3.2 Endócrina.................................................................................................... 2.2.3.3 Fármacos.................................................................................................... 2.2.3.4 Fatores Ambientais..................................................................................... 2.2.3.4.1 Dieta........................................................................................................ 2.2.3.4.2 Tabagismo............................................................................................... 2.2.3.4.3 Etilismo.................................................................................................... 2.2.3.4.4 Atividade física e Sedentarismo............................................................... 2.2.3.4.5 Fatores Psicológicos................................................................................ 2.2.3.4.6 Fatores Étnicos e Sociais........................................................................ 2.2.3.5 Fator Gestacional........................................................................................ 2.2.3.6 Sexo e Estado Civil..................................................................................... 2.2.3.7 Faixa Etária................................................................................................. 2.2.3.8 Outros Fatores............................................................................................ 2.2.4 Diagnóstico.................................................................................................... 18 18 18 20 21 21 22 24 24 25 26 26 28 30 30 31 32 32 33 33 34 35 36 37 38 39 39 40 40 41 42 42 43 44 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 2.2.4.1 Quantitativo................................................................................................. 2.2.4.2 Qualitativo................................................................................................... 2.2.5 Brasil X Obesidade........................................................................................ 2.3 Obesidade Mórbida......................................................................................... 2.3.1 Sistema Respiratório...................................................................................... 2.3.1.1 Consumo de Oxigênio e Produção de Dióxido de Carbono....................... 2.3.1.2 Volumes Pulmonares.................................................................................. 2.3.1.3 Complacência Respiratória......................................................................... 2.4 Cirurgia Bariátrica.......................................................................................... 2.4.1 Equipe Multidisciplinar................................................................................... 2.4.2 Indicações...................................................................................................... 2.4.3 Exames Pré-Operatórios............................................................................... 2.4.4 Balão Intragástrico......................................................................................... 2.4.5 Tipos.............................................................................................................. 2.4.5.1 Gastroplastia Vertical com Bandagem....................................................... 2.4.5.2 Derivação Jejuno-Ileal................................................................................ 2.4.5.3 Derivação em Y de Roux com Anel de Silicone......................................... 2.4.5.4 Derivação Biliopancreática......................................................................... 2.5 Fisioterapia...................................................................................................... 2.5.1 Tratamento.................................................................................................... 2.5.1.1 Aquecimento............................................................................................... 2.5.1.2 Exercícios Aeróbicos.................................................................................. 2.5.1.3 Alongamento Muscular............................................................................... 2.5.1.4 Manobras Reexpansivas............................................................................ 2.5.1.4.1 Respiron.................................................................................................. 2.5.1.4.2 EPAP....................................................................................................... 2.5.1.5 Desaquecimento......................................................................................... 44 45 47 49 50 51 51 53 54 55 57 58 60 61 61 65 66 70 73 74 74 75 76 77 77 77 78 3 METODOLOGIA.................................................................................................. 3.1 Critérios de Inclusão...................................................................................... 3.2 Critérios de Exclusão..................................................................................... 3.3 Materiais e Métodos ...................................................................................... 3.3.1 Material para Avaliação................................................................................. 3.3.2 Material para o Tratamento........................................................................... 3.3.3 Método para Análise da Variável de Interesse.............................................. 3.3.4 Métodos de Tratamento................................................................................ 79 80 80 80 81 81 81 82 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS.......................................................................... 85 5 DISCUSSÃO........................................................................................................ 88 6 CUSTOS OU ORÇAMENTO............................................................................... 90 7 CONCLUSÃO...................................................................................................... 91 BIBLIOGRAFIA...................................................................................................... 92 APÊNDICE A – PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA.............. 98 ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO............. 100 ANEXO B – MODELO DE GASOMETRIA ARTERIAL......................................... 102 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 10 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 - BALÃO INTRAGÁSTRICO............................................................. FIGURA 2 - GASTROPLASTIA VERTICAL COM BANDAGEM....................... FIGURA 3 - GASTROPLASTIA VERTICAL COM BANDAGEM....................... FIGURA 4 - BANDA GÁSTRICA........................................................................ FIGURA 5 - DERIVAÇÃO JEJUNO-ILEAL........................................................ FIGURA 6 - CIRURGIA DE CAPELLA............................................................... FIGURA 7 - OPERAÇÃO DE SCOPINARO....................................................... FIGURA 8 - DUODENAL SWITCH..................................................................... TABELA 1 - RESULTADOS DA ANÁLISE DA PAO2 INICIAL, PAO2 FINAL, AUMENTO EM MMHG E AUMENTO PERCENTUAL DA PAO2 REFERENTES A 10 PACIENTES OBESOS MÓRBIDOS COM INDICAÇÃO À CIRURGIA BARIÁTRICA................................................................................ GRÁFICO 1 - RESULTADO DA PAO2 MÉDIA INICIAL E FINAL, EM PERÍODO DE 30 DIAS DE ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM 10 PACIENTES OBESOS MÓRBIDOS COM INDICAÇÃO À GASTROPLASTIA REDUTORA........................................................................................................ 60 62 62 63 65 66 70 70 87 87 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 LISTA DE ABREVIAÇÕES IMC – Índice de Massa Corpórea; PaO2 – Pressão Parcial Média de Oxigênio no Sangue Arterial; O2 – Oxigênio; CRF – Capacidade Residual Funcional; VRE – Volume de Reserva Expiratório; VR – Volume Residual; VC – Volume Corrente; CO2 – Dióxido de Carbono; FiO2 – Fração Inspirada de Oxigênio; PaCO2 – Pressão Parcial Média de Dióxido de Carbono Alveolar; PEEP – Pressão Positiva Expiratória Final; Hb – Hemoglobina; OMS – Organização Mundial da Saúde; PH – Potêncial Hidrogeniônico; SIDA – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida; CCK – Colecistoquinina; TEP – Tromboembolismo Pulmonar; TVP – Trombose Venosa Profunda; VIC – Válvula Ílio-Cecal; ATP – Adenosina Trifosfato; ALLP – Lípase Lipoprotéica. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 1 INTRODUÇÃO A obesidade tem aumentado significantemente nas últimas décadas, sendo uma das condições mais freqüentes atualmente. É caracterizada por excesso de tecido adiposo no organismo. Sua etiologia é resultado de um balanço energético positivo, o qual pode ocorrer como conseqüência de fatores genéticos e ambientais, entre eles, fatores sócio-culturais, nutricionais, psicossociais e ausência de atividades físicas. A obesidade mórbida, segundo Porto et al (2002), é definida por um Índice de Massa Corpórea (IMC) superior ou igual a 40kg/m2 de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Esta pode levar a diversos distúrbios psicológicos e fisiopatológicos, incluindo nestes, os cardiovasculares, endócrinos, metabólicos e respiratórios. A obesidade mórbida impõe profundas alterações da funcionalidade e da mecânica respiratória. A complacência torácica está diminuída devido ao tecido adiposo estar presente ao redor dos arcos costais e tórax. Ocorre também a redução da complacência pulmonar devido ao aumento do volume sangüíneo pulmonar (AULER, GEANNINI e SARAGIOTTO, 2003). Isso implica em uma redução da complacência respiratória total, e se faz responsável pela baixa capacidade de expansão pulmonar dos referidos pacientes. Fator este que propicia uma redução das trocas gasosas e uma hipoventilação, a qual por sua vez é responsável por causar a hipoxemia e a hipercapnia, com redução da pressão parcial média de oxigênio no sangue arterial (PaO2) e aumento da diferença alvéolo-arterial de oxigênio (O2). Uma condição agravante destas alterações é o volume abdominal de grande porte, o qual é responsável pela elevação do diafragma, e assim pelo Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 14 aumento da pressão intratorácica, pela redução na capacidade pulmonar total e pela redução da capacidade residual funcional (CRF), na qual o volume de reserva expiratório (VRE) está diminuído. A CRF pode estar reduzida de forma tal que poderá ocasionar uma oclusão das pequenas vias aéreas e alterações da ventilação-perfusão ou mesmo shunts com hipoxemia subseqüente. Outro aspecto relevante, e que deve ser considerado como uma complicação respiratória do paciente obeso, é o aumento da atividade metabólica tecidual. O consumo de O2 e a produção de dióxido de carbono (CO2) estão aumentadas no paciente obeso, tanto em repouso quanto durante o exercício físico. Isso é resultado da atividade metabólica do excesso de tecido adiposo e do tecido magro, do aumento de trabalho de carga sobre os tecidos de suporte, pelo maior dispêndio energético para se locomover e pelo alto volume expiratório minuto, que visa manter a normocapnia. Porém, a taxa metabólica basal por área de superfície corpórea é geralmente normal. A combinação do aumento da demanda metabólica da musculatura respiratória, da redução da complacência respiratória e do aumento da pressão mecânica do abdome resulta em ineficiência da musculatura e aumento do trabalho ventilatório, levando a um padrão respiratório rápido e de pequena amplitude (AULER, GEANNINI e SARAGIOTTO, 2003). Um procedimento que pode ser utilizado para a reversão deste quadro é a cirurgia bariátrica, também conhecida como cirurgia para redução do estômago, que consiste em reduzir o reservatório gástrico e assim diminuir a sua capacidade, sendo associada ou não a procedimentos de indução de má absorção. Portanto, tem como objetivo diminuir a ingesta de alimentos (restritivo) com a confecção de uma nova bolsa gástrica que comporta inicialmente de 30 a 45 ml de líquidos e promover um desvio intestinal que proporcione a diminuição da absorção de nutrientes Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 15 (disabsorção). A combinação destes dois princípios leva a uma perda do excesso de peso em um período médio de dois anos, sendo a maior perda nos primeiros seis meses. Essa cirurgia é denominada de gastroplastia vertical com anel de contenção e gastroenteroanastomose em Y de Roux ou simplesmente cirurgia de Capella. Existem ainda outras modalidades de cirurgia bariátrica capazes de oferecer novas perspectivas de vida aos pacientes obesos mórbidos, sendo cada modalidade o melhor procedimento de escolha para cada paciente no determinado momento (ZILBERSTEIN, GALVÃO e RAMOS, 2002). A presença de uma equipe multidisciplinar, na qual estão envolvidos médicos, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, entre outros, se faz necessário no pré e pós-operatório para que se possa estimar o bem estar físico e social do paciente. Cada profissional possui conhecimentos das alterações próprias da obesidade, o que lhes permite julgar a indicação e o momento correto da realização cirúrgica e ainda a prevenção de distúrbios psicológicos, fisiopatológicos e de desnutrição no pós-operatório. No entanto, é também de fundamental importância a conscientização do paciente de que deve se submeter a regras de comportamento antes e após a cirurgia para alcançar o sucesso do procedimento junto à equipe multidisciplinar. Os riscos potenciais de vida no período peri-operatório e a dificuldade de recuperação no pós-operatório tornam de fundamental importância atuação da fisioterapia no pré-operatório destes pacientes. Baseado nisto, este estudo visa obter resultados positivos para a capacitação do paciente frente à cirurgia, prevenindo complicações pulmonares e vasculares, restaurando a capacidade respiratória com ênfase na ventilação alveolar, melhorando a oxigenação pulmonar e assim melhorando o condicionamento cardio-respiratório. Portanto, será avaliada a eficácia da fisioterapia no período pré-operatório de indivíduos obesos mórbidos com Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 16 indicação a cirurgia bariátrica. A análise dos resultados será baseada na (PaO2), verificada através da gasometria arterial. A gasometria, além da análise de outras medidas, consiste na leitura das pressões parciais de O2 e CO2 em uma amostra de sangue. A leitura é obtida pela comparação desses parâmetros na amostra com os padrões internos do gasômetro. Essa amostra pode ser de sangue arterial ou venoso, porém é importante saber qual a natureza da amostra para uma interpretação correta dos resultados. De acordo com Silva (1991), quando se visa avaliar a performance pulmonar, o sangue coletado deve ser arterial, pois esta amostra informará a respeito da hematose e permitirá o cálculo da quantidade de oxigênio que está sendo oferecido aos tecidos. No entanto, se o objetivo for avaliar apenas a parte metabólica, isso pode ser feito através de uma gasometria venosa. Portanto, este estudo buscará identificar, através da gasometria arterial, se a pressão parcial média de oxigênio arterial sofre variações relevantes ou não com a intervenção da fisioterapia. Para que ele se desenvolva de modo satisfatório é necessário que seja feito de maneira organizada, metodológica e cientifica. 1.1 Justificativa do Trabalho Entende-se que abordar profundamente esta temática seja importante, pois, obtendo-se um resultado positivo com relação ao que se esteve buscando verificar estar-se-á permitindo alcançar maiores probabilidades de acerto e sucesso das atividades tanto da equipe multidisciplinar, quanto do próprio paciente, que terá Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 17 maiores chances de recuperação e de preparo para passar pelo plano de tratamento estabelecido. Se o paciente estiver consciente de que o manejo adequado da condição de obesidade depende não somente dos profissionais aos quais ele se submete, mas também de sua colaboração com o plano estabelecido, pode-se conseguir atingir todos os pontos considerados indispensáveis para que uma terapêutica seja eficaz. Neste sentido, julga-se que a realização deste trabalho possa vir a dar uma contribuição significativa com relação ao assunto em pauta. Através da realização deste estudo e da comprovação dos resultados previstos, pode-se então demonstrar de maneira confiável o quão indispensável é a atuação da fisioterapia no período pré-operatório de pacientes obesos mórbidos com indicação à cirurgia bariátrica, à medida que proporciona aos pacientes maiores chances de sucesso no procedimento cirúrgico, com redução dos riscos perioperatórios e aceleração do período de recuperação. Deve-se ainda relatar que a partir deste estudo alcançar-se-á a conscientização do paciente, assim como da equipe que o acompanha, a respeito da fisioterapia na obtenção de um prognóstico mais favorável. 1.2 Objetivos do Trabalho 1.2.1 Geral Comparar a condição respiratória, inicial e final, dos indivíduos obesos Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 18 mórbidos com indicação à cirurgia bariátrica, que realizam fisioterapia no período pré-operatório. 1.2.2 Específicos Analisar a melhora do condicionamento cardiopulmonar; Verificar a melhora da concentração do gás oxigênio presente no sangue arterial. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Fisiologia da Respiração 2.1.1 Mecânica da Respiração O sistema respiratório tem como principal função a manutenção da homeostase, ou seja, promover a troca gasosa de maneira que o oxigênio do sangue arterial, dióxido de carbono e níveis de pH permaneçam dentro dos limites normais em diferentes condições fisiológicas (WEST, 1996). A mecânica da respiração está diretamente relacionada com as forças da musculatura respiratória necessárias para vencer a resistência das vias aéreas, bem como a retração elástica pulmonar e da caixa torácica. Assim, o mecanismo da ventilação está associado com a complacência pulmonar e torácica, ou seja, com a capacidade de expansão pulmonar. Esta capacidade de expansão, portanto, devese ao movimento do diafragma para aumentar ou diminuir a cavidade torácica e da elevação e depressão das costelas para aumentar ou diminuir o diâmetro ânteroposterior da caixa torácica (WEST, 1996). Os principais músculos da inspiração são o diafragma, os intercostais externos e os pequenos músculos do pescoço, responsáveis por tracionarem a parte anterior da caixa torácica para cima. Portanto, os músculos inspiratórios produzem um aumento do volume da caixa torácica através da contração do diafragma, a qual Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 20 permite que o limite inferior da caixa torácica seja puxado para baixo, aumentandose o comprimento longitudinal desta, e através dos intercostais externos e músculos cervicais, que aumentam o diâmetro ântero-posterior ao elevar a parte anterior da caixa torácica (GUYTON, 1988). Os principais músculos da expiração são os abdominais e intercostais internos. Os músculos abdominais tracionam a caixa torácica para baixo e favorece o deslocamento superior do conteúdo abdominal, o que conseqüentemente eleva o diafragma, diminuindo o comprimento longitudinal da caixa torácica. O diâmetro ântero-posterior se torna reduzido pela participação na expiração dos intercostais internos, os quais tracionam as costelas para baixo (GUYTON, 1988). Contudo, durante a respiração normal, a expiração é um fenômeno inteiramente passivo, ou seja, o deslocamento superior do diafragma deve-se ao seu relaxamento e as forças de retração elástica do pulmão, caixa torácica e músculos abdominais. Assim, durante a inspiração, a caixa torácica e os tecidos pulmonares são expandidos, e ao final dela, as forças de contração são removidas e os tecidos retornam a posição de repouso (GUYTON, 1998). De acordo Teckein e Irwin (1994), esta posição é conseguida quando há um equilíbrio das forças elásticas, ou seja, quando as forças elásticas da parede torácica e diafragma se tornam exatamente igual à dos tecidos pulmonares. Esta situação acontece ao final de cada expiração normal, quando há um relaxamento da musculatura expiratória e o volume remanescente pulmonar constitui a capacidade residual funcional. Ao final da expiração não ocorre movimento de ar, pois o ar contido nos pulmões está em equilíbrio com o ar atmosférico e a pressão pleural média está 3 a 5 cm H2O abaixo da pressão atmosférica. Portanto, a expansão pulmonar resulta em Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 21 redução da pressão pleural e quanto maior for essa expansão, mais subatmosférica é a pressão pleural resultante. 2.1.1.1 Complacência Pulmonar A complacência pulmonar é definida como a relação da mudança de volume pulmonar com a mudança na pressão de distensão, ou seja, quando ocorrer uma alteração na pressão intratorácica, o volume corrente se elevará proporcionalmente à complacência pulmonar (TECKEIN e IRWIN, 1994). O pulmão torna-se mais facilmente complacente, distendível, quando ocorre um aumento na complacência pulmonar. Do mesmo modo, torna-se mais rígido e com maior dificuldade à expansão quando ocorre uma diminuição da complacência pulmonar. Devido à sua estrutura anatômica complexa e à tensão superficial da interface ar-líquido existente nos alvéolos, o pulmão não é um órgão perfeitamente elástico. Ele possui alguns componentes teciduais como as células, moléculas da matriz intersticial e das fibras elásticas que são complacentes. Porém, suas fibras colágenas não podem ser facilmente estiradas (BERNE e LEVY, 1996). A expansão pulmonar se torna cada vez mais difícil à medida que o volume pulmonar aumenta, pois as fibras colágenas impedem que o pulmão se distenda mais, tornando-o rígido e fazendo com que o mesmo retorne à posição de repouso. O surfactante, material tensoativo presente nos alvéolos, possui importante função fisiológica ao agir diminuindo a tensão superficial destes, pois promove a Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 22 estabilidade pulmonar, evitando o colabamento e reduz assim a pressão necessária à expansão pulmonar (BERNE e LEVY, 1996). 2.1.1.2 Complacência da Parede Torácica A complacência da parede torácica e as relações volume-pressão devem-se às propriedades elásticas-teciduais da caixa torácica e diafragma. As propriedades elásticas da caixa torácica são atribuídas à elasticidade dos músculos, dos tendões e do tecido conjuntivo do tórax. Assim, na inspiração parte do esforço muscular é destinada a estirar as estruturas elásticas do tórax e pulmão (TECKEIN e IRWIN, 1994). 2.1.2 Troca Gasosa A troca gasosa ocorre nos alvéolos, isto é, o oxigênio se difunde para o sangue a partir do ar alveolar e o dióxido de carbono se difunde para o ar alveolar a partir do sangue através das membranas de todas as porções terminais do pulmão. Essas membranas são chamadas de membrana respiratória ou pulmonar. A rápida troca gasosa entre ar e sangue é possível devido à presença de capilares nas paredes dos alvéolos e a espessura extremamente fina da barreira entre o ar e o sangue (GUYTON, 1977). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 23 Os volumes de troca do oxigênio e dióxido de carbono dependem da atividade metabólica dos tecidos. Durante qualquer atividade física, o consumo de oxigênio e produção de dióxido de carbono pelos tecidos estão muito aumentadas em relação ao repouso. De acordo com esta situação, é necessária uma maior capacidade de difusão, que é conseguida através da abertura de capilares adicionais, dilatação dos capilares pulmonares e estiramento das membranas alveolares, pois aumenta sua área e reduz a espessura (GUYTON, 1977). A concentração ou pressão parcial de oxigênio no ar alveolar é bastante inferior à do ar ambiente, pois embora o ar alveolar seja constantemente renovado através da inspiração, ele está na mesma proporção sendo sempre removido pelo sangue. Ao contrário, há uma quantidade significativa de dióxido de carbono no ar alveolar em relação ao ar ambiente (TECKEIN e IRWIN, 1994). Ao nível do mar, a pressão parcial média de oxigênio no ar alveolar é aproximadamente 100 mmHg e a pressão parcial média de dióxido de carbono alveolar em condições normais é 40 mmHg. Quando ocorre uma hipoventilação, ou seja, uma redução da ventilação alveolar para uma produção constante de dióxido de carbono, há um acúmulo deste, ocasionando um aumento na sua pressão parcial (TECKEIN e IRWIN, 1994). 2.1.3 Difusão Gasosa Difusão é o movimento aleatório das moléculas devido à diferença do Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 24 gradiente de concentração. Assim, segundo Guyton (1977), o oxigênio se difunde dos alvéolos para o sangue capilar pulmonar devido à pressão de oxigênio se maior nos alvéolos que no sangue pulmonar. Do mesmo modo, a difusão ocorre nos tecidos periféricos devido à pressão de oxigênio ser maior no sangue arterial que no tecido celular. Após o oxigênio se difundir para os capilares teciduais, ele passa para as células, as quais metabolizam o oxigênio para a síntese de energia (ATP). A atividade metabólica dos tecidos produz dióxido de carbono, que se difunde das células para os capilares teciduais devido à sua pressão elevada. A partir daí, o dióxido de carbono é transportado para os capilares do pulmão e difundido para o ar alveolar, devido à sua pressão ser menor neste (GUYTON, 1977). A barreira tecidual através da qual ocorre o processo de difusão é extremamente delgada e composta de surfactante alveolar, epitélio alveolar, tecido intersticial e endotélio capilar. A barreira sangüínea é composta de plasma e da membrana do glóbulo vermelho. Assim, o oxigênio difunde-se do ar alveolar através do tecido e plasma para o sangue, onde se combina com a hemoglobina do glóbulo vermelho. E o dióxido de carbono se difunde para fora do glóbulo vermelho através do plasma e barreira tecidual para o ar alveolar (TECKEIN e IRWIN, 1994). Embora o gradiente de oxigênio seja maior que o do dióxido de carbono, este se difunde cerca de 20 vezes mais facilmente que o oxigênio, por ser mais solúvel, e também muito mais rapidamente que o oxigênio. A velocidade normal de trânsito de sangue pelos capilares pulmonares é menos de um segundo e a taxa de difusão dos gases é tão rápida, que ocorre o equilíbrio em menos da metade desse tempo. Mesmo durante atividades físicas, esse equilíbrio pode ser alcançado. (TECKEIN e IRWIN, 1994). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 25 2.1.4 Transporte de Gases 2.1.4.1 Oxigênio O oxigênio possui como principal meio de transporte a hemoglobina, cujas moléculas estão densamente compactadas dentro da célula do glóbulo vermelho. Neste estão contidos também enzimas e agentes, os quais favorecem a rápida descarga de oxigênio nos tecidos. A hemoglobina libera, de acordo com Teckein e Irwin (1994), aproximadamente 25% de seu oxigênio nos capilares teciduais em condições normais. Quando ocorre uma situação na qual os tecidos estão metabolicamente ativos e a demanda de oxigênio é maior, uma quantidade extra de oxigênio é liberada. Essa maior liberação ocorre também pelo aumento de dióxido de carbono, acidose e aumento de temperatura tecidual. Segundo Teckein e Irwin (1994), a molécula de oxigênio forma uma combinação química reversível com a Hb (oxiemoglobina). A Hb possui quatro sítios de ligação para o oxigênio, estando 100% saturada quando se combina com quatro moléculas de oxigênio. Portanto, o volume de oxigênio que se combina com a hemoglobina é determinado pela pressão parcial das moléculas de oxigênio dissolvidas no sangue. Quando a PaO2 do sangue arterial for 100 mmHg, a hemoglobina está cerca de 97% saturada. Os 3% restantes são dissolvidos no plasma. Quando a pressão parcial de oxigênio dissolvido no sangue é elevada, o Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 26 oxigênio se combina com a hemoglobina, é o que ocorre nos capilares pulmonares. Ao contrário, quando a pressão está reduzida, como nos capilares teciduais, o oxigênio é liberado da hemoglobina (TECKEIN e IRWIN, 1994). 2.1.4.2 Dióxido de Carbono O dióxido de carbono pode ser transportado diretamente através da ligação química reversível e fraca com a hemoglobina, sendo o composto formado chamado de carbino-hemoglobina. Esta forma de transporte representa cerca de 25% do total de dióxido de carbono transportado (GUYTON, 1977). O transporte também pode ser com proteínas plasmáticas, da mesma maneira que o faz com a hemoglobina. Porém, este transporte é insignificante devido à pequena quantidade destas proteínas presente no sangue, representando um quarto da quantidade total no sangue. Pode ocorrer também, o transporte do dióxido de carbono na forma dissolvida, atribuindo-se cerca de 7% do total de dióxido de carbono transportado (GUYTON, 1977). Segundo Teckein e Irwin (1994), cerca de 65% do dióxido de carbono é transportado na forma de íon bicarbonato. Ocorre a difusão do dióxido de carbono dos tecidos para o plasma e deste para os glóbulos vermelhos. Nestes, ocorre a reação química do dióxido de carbono com a água, que é catalisada pela enzima anidrase carbônica. Como resultado dessa reação forma-se o ácido carbônico, que rapidamente de dissocia nos íons bicarbonato e hidrogênio. Este é tamponado pela hemoglobina, enquanto o íon bicarbonato é liberado para ser transportado pelo Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 27 plasma. Nos capilares pulmonares o processo químico reverte-se. O íon hidrogênio é liberado da hemoglobina e o íon bicarbonato difunde-se do plasma para o glóbulo vermelho. Ocorre, assim, a reação entre esses dois íons formando o ácido carbônico, o qual é imediatamente desidratado em dióxido de carbono e água. Após isso, o dióxido de carbono difunde-se para os alvéolos (TECKEIN e IRWIN, 1994). 2.2 Obesidade 2.2.1 Definição A obesidade, segundo Francischi et al (2000), apud Blumenkrants (1997), é provavelmente a desordem metabólica mais antiga, devido à existência de relatos deste distúrbio em múmias egípcias e esculturas gregas. Esta desordem é uma condição crônica, que afeta crianças e adultos, sendo definida por um excesso de tecido adiposo no organismo, sendo, atualmente, a desordem nutricional mais importante e que vem adquirindo proporções epidêmicas alarmantes em um caráter universal (MANCINI, 2001). A prevalência da obesidade, portanto, atinge níveis crescentes tanto em países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento e está associada a um risco aumentado de diversas patologias crônicas e cirúrgicas. Considera-se, assim, que a obesidade é uma condição limitante de vida para o individuo, com significativa Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 28 morbidade, diminuição da qualidade e expectativa de vida e que pode levar à morte prematura (MANCINI e HALPERN, 1999). Esse prognóstico está, portanto, associado à uma série de distúrbios fisiopatológicos que a obesidade pode levar. Entre estes pode-se citar distúrbios cardiovasculares (hipertensão arterial sistêmica, hipertrofia ventricular esquerda, com ou sem insuficiência cardíaca, doença cerebrovascular, trombose venosa profunda, entre outros); distúrbios endócrinos (diabetes melitus, dislipidemia, hipotiroidismo, infertilidade e outros); distúrbios respiratórios (apnéia obstrutiva do sono, síndrome da hipoventilação, doença pulmonar restritiva,...); e ainda distúrbios gastrintestinais como hérnia de hiato e colecistite; distúrbios dermatológicos como estrias e papilomas; distúrbios geniturinários como anovulação e problemas gestacionais; distúrbios musculoesqueléticos como osteoartrose e alterações posturais, neoplasias como câncer de mama ou próstata, distúrbios psicossociais como sentimento de inferioridade e isolamento social; e ainda outras implicações como aumento do risco cirúrgico e anestésico e diminuição da agilidade física (MANCINI, 2001). De acordo com esta situação clínica, este distúrbio se tornou um importante problema de saúde pública, notadamente nas três últimas décadas do século passado, principalmente quando se considera as possíveis complicações médicas, que variam de risco aumentado de morte prematura a graves patologias não letais, porém debilitantes, e os custos relacionados ao tratamento (MANCINI, 2001). As complicações médicas e aumento de custos com o tratamento são diretamente proporcionais ao aumento gradativo de peso dos pacientes. Ou seja, quanto maior o Índice de Massa Corpórea (IMC) do individuo, que se define pela divisão do peso expresso em kilogramas pelo quadrado da altura expressa em Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 29 metros quadrado, maior as complicações e custos. Com isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a obesidade de acordo com o IMC e risco de doença. Um IMC menor que 18,5 kg/m2 recebe a classificação de magreza, com obesidade grau zero e risco de doença elevado. Um IMC entre 18,5 e 24,9 kg/m2 recebe a classificação de normalidade, com obesidade grau zero e risco de doença normal. Um IMC entre 25 e 29,9 kg/m2 recebe a classificação de sobrepeso, com obesidade grau um e risco de doença elevado. Um IMC entre 30 e 39,9 kg/m2 recebe a classificação de obesidade, com obesidade grau dois e risco de doença muito elevado. E um IMC maior ou igual a 40 kg/m2 recebe a classificação de obesidade grave, severa ou mórbida, com obesidade grau três e risco de doença muitíssimo elevado (MANCINI e HALPERN, 1999). Assim, de acordo com Francischi et al (2000), apud Monteiro et al (1995), a obesidade possui uma evolução e o seu crescente aumento exige medidas prioritárias e estratégicas de ação de saúde pública, principalmente em relação à prevenção e controle das doenças crônicas, dando ênfase também às ações de educação alimentar e nutrição e as práticas de atividades físicas que alcancem de forma eficaz todas as camadas sociais da população. 2.2.2 Morfofisiologia Na morfofisiologia da obesidade ocorre o armazenamento excessivo de energia sob a forma de triglicerídeos no tecido adiposo. A massa de tecido adiposo de um adulto contém aproximadamente 30 bilhões de adipócitos, cada um deles Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 30 contém aproximadamente 0,5 µg de triglicerídeos, o que perfaz uma quantidade em torno de, aproximadamente, 15 kg de gordura. Esse depósito é suficiente para a manutenção da vida por cerca de 40 a 50 dias de jejum (HALPERM e MANCINI, 2000). A massa de tecido adiposo armazenada nos adipócitos é originada principalmente das lipoproteínas ricas em triglicerídeos. Essas lipoproteínas são hidrolisadas pela lipase lipoprotéica localizada no endotélio dos capilares, o que favorece o acúmulo de triglicerídeos no interior do adipócito. A insulina favorece esse processo, uma vez que facilita a entrada de glicose e aumenta a atividade da lipase lipoprotéica (HALPERM e MANCINI, 2000). O armazenamento de tecido adiposo nos primeiros meses de vida ocorre primariamente por uma hipertrofia, ou seja, por um aumento de tamanho das células gordurosas já existentes. Posteriormente, até o período da adolescência, ocorre uma hiperplasia, ou seja, um aumento do número de células adiposas, que atinge níveis de adulto por volta de 12 a 13 anos (HALPERM e MANCINI, 2000). A obesidade hipertrófica ocorre, portanto, quando há um acúmulo exacerbado de gordura nos adipócitos. Este tipo de obesidade tende a correlacionar-se com uma distribuição truncal ou central de gordura e freqüentemente está associada à patologias metabólicas, como dislipidemia e insuficiência coronariana (GARRIDO, 2002). A obesidade hiperplásica acontece somente em casos de obesidade extrema. Normalmente, esse aumento no número de adipócitos ocorre em indivíduos com índice de massa corpórea superior à 40 kg/m2. Portanto, esse aumento do número de células ocorre quando é atingido o limiar de saturação do adipócito (GARRIDO, 2002). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 31 2.2.3 Etiologia A predisposição genética de um indivíduo associado à exposição de fatores ambientais e comportamentais que estimulam hábitos alimentares incorretos e a falta de atividade física, ou seja, o sedentarismo, pode ser considerado o grande fator causal da obesidade. Porém, esta não é uma desordem singular e sim um grupo heterogênio de condições multifatorial, que em última análise resultam no fenótipo da obesidade. Isto, portanto, torna difícil a identificação isolada de um fator que cause a obesidade (GARRIDO, 2002). O conhecimento da etiologia da obesidade se torna de fundamental importância, à medida que a partir deste pode-se traçar métodos preventivos em relação à esta desordem. 2.2.3.1 Genética A obesidade pode ser influenciada por fatores genéticos primários, estabelecidos como alguns genes e anormalidades cromossômicas e por fatores genéticos secundários, os quais correspondem às doenças congênitas. O caráter genético da condição obesa está associado a uma probabilidade de aquisição de obesidade de 80% e também à maior predisposição a comorbidades intimamente relacionadas a este distúrbio (GARRIDO, 2002). De acordo com Francischi et al (2000), apud Jebb (1997), a influência do Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 32 genótipo na etiologia deste distúrbio pode ser atenuada ou exacerbada por fatores não-genéticos, como os fatores ambientais e interações psicossociais que atuam sobre mediadores fisiológicos de gasto e consumo energético. 2.2.3.1.1 Gasto Calórico O organismo possui um gasto de calorias em um ciclo de 24 horas. Esse gasto corresponde ao metabolismo basal, que é a energia dispendida pelo indivíduo durante o sono; ao metabolismo de repouso, que corresponde à energia dispendida quando o individuo está em repouso, porém, já desperto; ao gasto de calorias induzida por exercícios, seja em uma atividade física espontânea ou programada e ao gasto de calorias dieta-induzida. Esta corresponde ao gasto calórico desde a visualização do alimento até a sua transformação metabólica (GARRIDO, 2002). O metabolismo basal e de repouso, que representam a queima calórica para a manutenção da homeostase do organismo, são dependentes da massa magra do individuo, especialmente do tecido muscular (obesos tem maior metabolismo em relação a pessoas normais), do sexo (mulheres apresentam menor metabolismo), da idade (menor dispêndio em idosos) e 10 a 15% são dependentes de aspectos genéticos (GARRIDO, 2002 e HALPERM e MANCINI, 2000). Assim, alguns indivíduos podem ser predispostos à obesidade devido à sua queima calórica ser deficiente no ciclo de 24 horas. Sendo que o menor dispêndio de energia em indivíduos obesos pode estar presente no metabolismo basal, metabolismo de repouso e no gasto energético durante atividade-induzida ou dieta Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 33 induzida (GARRIDO, 2002). 2.2.3.1.2 Adipogênese A formação da célula adiposa é dependente da ação de uma enzima chamada de lipase lipoprotéica (ALLP). Esta enzima pode estar aumentada em indivíduos obesos ou mesmo em obesos que tenham perdido peso, levando-os a uma tendência de aumento de peso novamente (GARRIDO, 2002). Deve-se ficar claro que a formação da célula adiposa é também dependente de outros fatores complexos, envolvidos desde o inicio até a maturação da célula. 2.2.3.1.3 Oxidação Gordurosa A oxidação de gorduras é outro aspecto importante a ser considerado na maior ou menor deposição de tecido adiposo. Esta oxidação parece ter origem genética, tornando o indivíduo, que tenha uma menor oxidação gordurosa, mais suscetível à obesidade (GARRIDO, 2002). A oxidação pode ser visualizada através do quociente respiratório, o qual é obtido por meio da calorimetria indireta e expresso pela divisão do dióxido de carbono expirado pelo oxigênio inspirado. Um quociente de 0,7 é produzido pela oxidação pura de gordura e um quociente de 1, pela oxidação pura de hidratos de Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 34 carbono. Existe uma maior tendência a ganho de peso (2,5 vezes) em um quociente de aproximadamente 0,87 que um de aproximadamente 0,82 (GARRIDO, 2002). 2.2.3.1.4 Doenças Genéticas e Congênitas Existem várias doenças genéticas que apresentam a obesidade em seu quadro clínico. Entre essas, pode-se citar a síndrome de Prader-Willi, síndrome de Lawrence-Moon-Biedl, síndrome de Bardet-Biedl, síndrome de Cohen e síndrome de Alströn (SILVA, 2002 e HALPERM e MANCINI, 1999). 2.2.3.1.5 Leptina A leptina é um hormônio protéico codificado pelo gene ob e sintetizado pelo tecido adiposo. Este hormônio possui um importante papel na regulação homeostática da gordura corporal. Portanto, age como um sinal endógeno ou adipostato que é capaz de perceber alterações e modular os estoques corporais de gordura. Assim, se ocorre uma queda nos níveis de leptina, o sistema de regulação do peso corporal responde com aumento da massa de tecido adiposo, a fim de restaurar os níveis de leptina (HALPERM e MANCINI, 2000 e RODRIGUES; SUPLICY e RADOMINSKI, 2003). A leptina secretada age sobre o hipotálamo ventromedial, que se caracteriza Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 35 por ser o centro da saciedade. Sua ação sobre o hipotálamo faz com que ocorra uma redução da secreção do neuropeptídio Y, que é um potente estimulante do apetite. Portanto, defeitos na síntese de leptina ou resistência à sua ação resultará no aumento da ingesta nutricional (SILVA et al, 2002). Conclui-se, assim, que os possíveis mecanismos pelos quais a leptina reduz o peso corpóreo estão relacionados à diminuição do apetite e aumento da termogênese. O fato dos níveis séricos de leptina terem um aumento proporcional à gordura corporal pode ser resultado da resistência à ação da leptina ou presença de uma quantia não suficientemente elevada para evitar o ganho de peso nos pacientes obesos (HALPERM e MANCINI, 2000). 2.2.3.2 Endócrina A obesidade pode estar relacionada a várias doenças neuroendócrinas. Entre elas, a síndrome de Cushing e hipercortisolismo, hipotiroidismo, síndrome dos ovários policísticos, oviectomia, hipogonadismo em homens, alterações no eixo hipotálamo-hipofisárias, hiperinsulinização no tratamento de diabetes mellitus, insulinoma e deficiência de hormônio de crescimento (SILVA et al, 2002 e HALPERM e MANCINI, 1999). A lesão do hipotálamo ventromedial é responsável por causar hiperfagia e posteriormente obesidade, porém este tipo de obesidade, chamada de obesidade hipotalâmica é rara. Pode ocorrer secundariamente à destruição por traumas, tumor, cirurgia na fossa posterior, processo infeccioso ou inflamatório do sistema nervoso e Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 36 irradiação ou aumento da pressão intracraniana (GARRIDO, 2002). A obesidade decorrente do hipotiroidismo é devido à redução da atividade metabólica do individuo, o que o predispõe ao acúmulo de tecido adiposo. Este distúrbio endócrino é mais comum em mulheres e o aumento exacerbado de peso não é freqüente (HALPERN e MANCINI, 1999). A síndrome de Cushing resulta em obesidade central progressiva, afetando face, pescoço, tronco, abdome, e, internamente, mesentério e mediastino. Esta síndrome geralmente não envolve as extremidades (GARRIDO, 2002). O déficit do hormônio de crescimento ocasiona um aumento do tecido adiposo e uma redução da massa magra. Com o envelhecimento ocorre uma diminuição na secreção do hormônio com conseqüente aumento da gordura visceral. Contrariamente, na acromegalia, ocorre uma diminuição da gordura corporal, principalmente a visceral. A obesidade também pode ser decorrente da síndrome dos ovários policísticos em mais de 50% das mulheres (GARRIDO, 2002). Segundo Francischi et al (2000), apud Baron (1995) e Jebb (1997), a obesidade decorrente desta síndrome pode estar associada a alterações na função ovariana ou à hipersensibilidade no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. 2.2.3.3 Fármacos O ganho de peso induzido por fármacos, na grande maioria, é insuficiente para o aparecimento da obesidade, ou seja, excetuando-se os pacientes tratados com altas dosagens de corticóide, o ganho de peso causado por outros Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 37 medicamentos, seja por hiperfagia, redução da termogênese ou por outra causa, não é significante. Várias drogas, incluindo agentes psicoativos e hormônios podem levar ao ganho de peso. Algumas drogas podem ser citadas como exemplo desse ganho ponderal, como os antipsicóticos, entre eles, fenotiazinas e butirofenonas, os antidepressivos tricíclicos, que causam ganho de peso por aumentar o apetite e anticonvulsivantes como o valproato de sódio, que causa ganho de peso em mais da metade dos pacientes por agir em circuitos gabaérgicos (GARRIDO, 2002). O antagonista de serotonina cipro-heptadina também está relacionado ao aumento de peso corpóreo. Bem como as drogas antidiabéticas, tanto de fonte exógena, como a insulina, quanto de fonte endógena, como as sulfoniluréias, que são responsáveis por causar a elevação dos níveis plasmáticos de insulina (GARRIDO, 2002). De uma maneira analógica aos pacientes com síndrome de Cushing, os glicocorticóides causam acúmulo de gordura em áreas específicas. O acetato de megestrol, que é um progestágeno, causa também um aumento do apetite, levando ao aumento ponderal, basicamente devido ao acúmulo de gordura em pacientes portadores da síndrome da imunodeficiência adquirida e neoplasia de mama (GARRIDO, 2002). 2.2.3.4 Fatores Ambientais Os fatores ambientais são muito importantes na etiologia da obesidade, podendo assumir um papel primário nesta. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 38 2.2.3.4.1 Dieta A quantidade de energia diária consumida em relação ao gasto de calorias é de suma importância para se caracterizar o balanço energético de um indivíduo, sendo a obesidade desenvolvida por um balanço energético positivo. Deve-se considerar também como uma variável importante na patogênese da obesidade a quantidade, a qualidade e a distribuição das calorias diárias. Segundo Silva et al (2002), apud Coutinho (1998), a proporção adequada da distribuição calórica seria em torno de 50% de carboidratos, 30% de lipídios e 20% de proteínas. Segundo Francischi et al (2000), apud Monteiro et al (1995), existe uma tendência de transição nutricional neste século em diversos países do mundo que convergem para uma dieta mais rica em gorduras, açúcares e alimentos refinados, e mais pobre em carboidratos complexos e fibras. Esta dieta é conhecida como dieta ocidental. Assim, a dieta rica em ácidos graxos é um fator importante no aumento da incidência da obesidade. Portanto, de acordo com Garrido (2002), parece haver uma maior tendência a consumo de alimentos ricos em gordura na população obesa em relação ao restante da população normal. Sendo esta maior ingestão de gorduras acompanhada de um maior consumo de doce e álcool. Caracteriza-se, então, a tríade fundamental para o desenvolvimento da obesidade. Outro fator importante na gênese da obesidade é o hábito alimentar do indivíduo. Este, quando se manifesta de uma maneira compulsiva está intimamente relacionado ao aumento ponderal. O hábito alimentar compulsivo pode estar associado a fatores psíquicos e endócrinos. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 39 A ingesta inadequada de alimentos é também incentivada pelas mudanças da sociedade moderna, cada vez mais desenvolvida e mecanizada, a qual estimula um estilo de vida sedentário com nutrição excessiva. Esta é exercida por meio de divulgações no sentido de um maior consumo de produtos industrializados, com elevada taxa de calorias e baixo valor nutritivo. E o sedentarismo é incentivado através dos mais modernos aparelhos que poupam energia no trabalho e no ambiente doméstico (GARRIDO, 2002). O fator modernidade leva também a um aumento crescente da obesidade na população infantil pela precocidade na interrupção do aleitamento materno e introdução de formas lácteas e outros alimentos de forma errônea. Esse índice elevado de obesidade infantil leva a um maior número de adultos com sobrepeso e obesidade, ocasionando conseqüências sérias para a sociedade (GARRIDO, 2002). 2.2.3.4.2 Tabagismo O aumento ponderal é bastante freqüente em indivíduos que interromperam o hábito de fumar, e o risco relativo de obesidade entre esses indivíduos é de 2 a 2,4 em relação aos não fumantes. Nas primeiras semanas, o ganho é de aproximadamente 1 a 2 kg, seguido por adicionais 2 a 3 kg nos quatro a seis meses seguintes. A justificativa parcial para esse ganho de peso é a abstinência de nicotina (GARRIDO, 2002). Segundo Halperm e Mancini (2000), uma outra explicação para o ganho de peso após a cessação do tabagismo é que o fumo aumenta o metabolismo basal, Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 40 devido à nicotina ser lipolítica. 2.2.3.4.3 Etilismo Embora o efeito do álcool seja pouco conhecido, sabe-se que seu consumo moderado está associado ao aumento do índice de massa corpórea (GARRIDO, 2002). 2.2.3.4.4 Atividade física e Sedentarismo A atividade física tem participação fundamental na manutenção do peso corporal, sendo uma grande fonte de gasto de energia. Portanto, indivíduos que não praticam atividades físicas, ou seja, indivíduos inativos, possuem uma grande propensão ao aumento de peso. Segundo Garrido (2002), o sedentarismo atua como sinergista da dieta hipercalórica e rica em gorduras. Isso também é valido para crianças que estão cada vez mais sedentárias devido a diversões através de jogos de vídeo e televisão. O sedentarismo, concomitantemente às mudanças nos hábitos alimentares, modifica o perfil de morbimortalidade nas sociedades, e destaca-se, assim, o excesso ponderal e a obesidade como doenças fundamentais. Por essas razões, a obesidade tem sido denominada como doença da civilização ou síndrome do novo Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 41 mundo (MARINHO et al, 2003). Essa denominação deve-se, portanto, a atual modernização mundial, a qual ocasiona um estilo de vida mais sedentário e com menor gasto energético. Esta condição pode ser observada através de transportes motorizados e equipamentos mecanizados que exigem menor esforço no ambiente domiciliar e de trabalho. 2.2.3.4.5 Fatores Psicológicos A possível explicação para a influência dos fatores psicológicos no desenvolvimento da obesidade é o mecanismo compensatório de alimentação compulsiva para o suprimento de suas carências emocionais, como ansiedade, separação conjugal, angústias, perda de ente querido e outros (GARRIDO, 2002). 2.2.3.4.6 Fatores Étnicos e Sociais Embora a obesidade esteja atingindo níveis crescentes em países desenvolvidos e em países em desenvolvimento, as classes social média e baixa são as mais atingidas. Contudo, crianças e homens pertencentes a níveis socioeconômicos maiores apresentam uma maior taxa de obesidade. Contrariamente, a mulher pertencente a elevados níveis socioeconômicos é mais magra que as de menor renda, ou seja, o nível socioeconômico é inversamente Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 42 associado a obesidade em mulheres adultas (GARRIDO, 2002). O menor grau de escolaridade também está associado a maiores índices de obesidade. O acesso à educação contribui para a melhora do estado nutricional e de saúde dos indivíduos, permitindo a melhora das condições de vida, de trabalho, de renda e, logo, do ambiente físico domiciliar (ANJOS e ENGSTROM, 1996). Em relação à raça, a obesidade é mais freqüente em mulheres negras. Segundo Garrido (2002), a obesidade incide mais em negras, depois em latinas e posteriormente em brancas, numa proporção respectivamente de 16%, 14,1% e 9,3%. As populações indígenas tornam-se mais suscetíveis a ganho ponderal à medida que abandonam seus hábitos culturais e adotam profissões e hábitos civilizados. 2.2.3.5 Fator Gestacional A gestação pode ser um precursor da obesidade, e é a responsável pelo grande fator desencadeante da doença na maioria das mulheres. Essa probabilidade de desencadear a doença aumenta de acordo com o número de gestações. Segundo Garrido (2002), a cada gestação, a mulher acumula um quilograma, em média. O aumento de peso na gestação pode estar relacionado com o aumento da ingestão calórica, com a redução das atividades físicas e com o aumento de hormônios como estrógeno e prolactina, os quais favorecem o acúmulo de gordura corporal. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 43 2.2.3.6 Sexo e Estado Civil O sexo também exerce influência no desenvolvimento da obesidade, havendo, portanto, uma maior prevalência do excesso ponderal na população do sexo feminino. E quanto maior o grau de excesso de peso, maior a diferença entre os sexos (GARRIDO, 2002). Existem também relatos de que há influência do estado civil na gênese da obesidade, sendo este fenômeno mais freqüentemente observado em homens após o casamento (GARRIDO, 2002). 2.2.3.7 Faixa Etária Em relação à idade, o aumento de peso ocorre de forma gradual, até atingir maior incidência entre a idade de 50 a 60 anos, a partir daí, então, começam a cair suavemente (GARRIDO, 2002). Segundo Francischi et al (2000), apud Grundy (1998), o ganho de peso com o envelhecimento está associado a uma redução da taxa metabólica basal, conseqüente a uma diminuição da massa muscular, aumento do consumo de alimentos e uma menor prática de atividades físicas. Por outro lado, o índice de obesidade na população infantil vem crescendo a níveis alarmantes. Essa situação tem início no período gestacional, e posteriormente se perpetua devido aos hábitos alimentares inadequados e ao sedentarismo Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 44 ocasionado pela sociedade moderna. O estado nutricional materno durante a gestação é de fundamental importância no peso da criança ao nascimento, já que as condições intra-útero adequadas favorecem o desenvolvimento fetal também adequado. De tal modo, há uma probabilidade elevada da criança em ter sobrepeso ou obesidade se a mãe possuir excesso de peso durante o período gestacional (ANJOS e ENGSTRON, 1996). Portanto, atualmente, faz-se necessária a abordagem preventiva da obesidade ao grupo etário infantil, visto que, o processo patológico iniciado na infância pode se perpetuar na vida adulta, dificultando seu controle e tratamento das comorbidades. 2.2.3.8 Outros Fatores Outros fatores podem ainda serem incluídos na etiologia da obesidade, tais como, a puberdade, período favorável ao aparecimento da obesidade, e a menopausa. A obesidade que ocorre na época da puberdade é predominante em mulheres. Uma possível justificativa para o início desta desordem na puberdade é o fenômeno da hiperfagia, decorrente de traumas e angústias, os quais são bastante comuns nesta fase da vida (HALPERM e MANCINI, 2000). O fator psicológico no período pós-menopausa é de fundamental importância no desenvolvimento da obesidade. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 45 2.2.4 Diagnóstico Podem ser estabelecidos basicamente dois tipos de diagnóstico para o paciente obeso. O diagnóstico quantitativo, que se refere à massa corpórea ou de tecido adiposo; e o diagnóstico qualitativo, que se refere a distribuição de gordura corporal. 2.2.4.1 Quantitativo O Índice de Massa Corpórea, também conhecido como Índice de Quetelet, é muito usado por possuir um cálculo simples, rápido e apresentar boa correlação com a adiposidade corporal. Porém, este índice não distingue adiposidade visceral ou central de adiposidade periférica e massa gordurosa de massa magra, podendo, neste, superestimar o grau de obesidade em indivíduos musculosos (HALPERM, MANCINI, 1999). Este índice é, portanto, de fundamental importância na determinação do grau de obesidade e seus fatores de risco associados, ou seja, as comorbidades que acompanham a obesidade. Um paciente é considerado de alto risco quando apresenta um Índice de Massa Corpórea superior a 40 kg/m2. O grau de adiposidade pode ainda ser estabelecido por meio da medida da espessura das pregas cutâneas. Este método inclui a medida individual de diversos locais do tronco e extremidades. Através da somatória da espessura das pregas Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 46 cutâneas pode-se obter uma estimativa confiável de obesidade, assim como de distribuição regional de gordura. No entanto, o método possui algumas desvantagens como, variabilidade intra e interexaminador inaceitáveis, ausência de previsão da quantidade de gordura visceral e também, necessidade da utilização de paquímetros especiais (HALPERM, MANCINI, 2000). A impedância bioelétrica de freqüência única substitui com vantagem a medida da espessura das pregas cutâneas, pois constitui um método altamente preciso na avaliação da massa adiposa, massa magra e água corporal, além de ser de fácil utilização. Os aparelhos de impedância bioelétrica mensuram a resistência e a reactância à passagem de uma corrente elétrica de alta freqüência e baixa voltagem. A partir do cálculo da impedância do objeto condutor obtêm-se o volume e a densidade, e assim calcula-se a quantidade absoluta e relativa de água, massa corpórea magra e massa adiposa (HALPERM e MANCINI, 2000). Segundo Halperm e Mancini (1999), considera-se como valores normais de tecido adiposo uma quantidade inferior a 25% para homens e inferior a 33% para mulheres. 2.2.4.2 Qualitativo Este diagnóstico é de fundamental importância, pois pode-se distinguir através dele a obesidade central da obesidade periférica, as quais constituem Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 47 distúrbios de importância clínica distintas. A obesidade central, ou também chamada de andróide, visceral, abdominal, superior ou em maçã é mais freqüente na população masculina e apresenta maior correlação com alterações metabólicas e distúrbios cardiovasculares. Neste tipo de obesidade ocorre um predomínio de tecido adiposo na região abdominal e associa-se freqüentemente a maior dificuldade no acesso de vias aéreas e ventilação, e também a diabetes melitus tipo 2, hipertensão arterial, doenças cerebrovasculares, dislipidemia, coronariopatia, fibrinólise e aceleração do processo de aterosclerose, o que caracteriza a síndrome plurimetabólica ou síndrome X (GARRIDO, 2002; MARTINS e MARINHO, 2003 e AULER, GEANNINI e SARAGIOTTO, 2003). A obesidade periférica, também chamada de ginóide, inferior, subcutânea, glúteo-femoral ou em pêra é mais freqüente na população feminina e está associada a complicações vasculares periféricas e problemas ortopédicos e estéticos (HALPERM e MANCINI, 1999). Portanto, uma estimativa aproximada, rápida e razoavelmente reprodutível da distribuição regional de tecido adiposo é o cálculo da relação cintura-quadril, que consiste na razão entre o maior perímetro abdominal entre a última costela e a crista ilíaca e o perímetro do quadril, ao nível dos trocânteres femorais, com o paciente posicionado em supino (HALPERM, MANCINI, 1999). Valores superiores a 0,8 para mulheres e superiores a 1 para homens são indicativo de obesidade andróide. Por outro lado, valores inferiores a 0,8 para mulheres e inferiores a 1 para homens são indicativo de obesidade ginóide (HALPERM, MANCINI, 2000). Os métodos de ressonância magnética e tomografia computadorizada são Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 48 medidas mais exatas da adiposidade visceral, podendo ser medida a área de gordura em nível da quarta e quinta vértebra lombar ou por avaliação volumétrica por cortes múltiplos abdominais em tomografia espiral. No entanto, é um método extremamente caro e de difícil acomodação para os pacientes obesos. Outro indicador antropométrico utilizado é a medida da circunferência da cintura, que tem sido eleita como o melhor indicador de obesidade central, por ter melhor reprodutibilidade que a relação cintura-quadril. Está intimamente associada a patologias cardiovasculares ateroscleróticas, enquanto a relação cintura-quadril relaciona-se mais a resistência à insulina. Valores da circunferência da cintura acima de 102 cm para homens e 89 cm em mulheres indicam maior ocorrência de complicações associadas à obesidade (GARRIDO, 2002 e MARTINS e MARINHO, 2003). 2.2.5 Brasil X Obesidade As mudanças demográficas, socioeconômicas e epidemiológicas que ocorreram ao longo do tempo no Brasil permitiram uma transição nos padrões nutricionais, havendo uma redução progressiva no aspecto de desnutrição do país para o excesso de peso, ou seja, o aumento da obesidade. Este fator propicia sérios problemas de saúde pública pelas comorbidades que afetam a qualidade de vida dos pacientes e pelo aumento da probabilidade de morte prematura. A prevalência da obesidade tem aumentado muito na última década, em todos os estratos econômicos da população, porém esta situação é mais alarmante Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 49 nas classes sociais baixa. Contudo, há maior prevalência de obesidade entre homens com maior renda e entre mulheres com menor renda. Segundo Garrido (2002), a taxa de ascensão é de 0,36 pontos percentuais ao ano para a obesidade na população feminina e de 0,20 pontos percentuais ao ano para a obesidade na população masculina. Entre 1974 e 1989, a proporção de pessoas com excesso ponderal sofreu um aumento de 21% para 32%. A região sul apresenta-se com os maiores índices de obesidade do Brasil, possuindo valores semelhantes e até superiores aos países desenvolvidos. A progressão da obesidade nesse período foi significativo para as mulheres, passando de 7% para 12% e duplicou entre os homens, com aumento de 2,4% para 4,8% (GIGANTE et al, 1997). De acordo com Marinho et al (2003), enquanto as regiões sul e sudeste apresentam-se com maior prevalência de obesos, a região nordeste possui os menores índices. Em 1989, traduzindo-se as taxas percentuais em números, foram registrados 27 milhões de pessoas com excesso de peso. Destes 27 milhões, segundo Silva et al (2002), 27% corresponde à população masculina e 38%, a população feminina. A obesidade representa aproximadamente 8% do total de adultos brasileiros, ou seja, cerca de 6,8 milhões de indivíduos obesos. Sendo, deste total, 4,9 milhões representados por mulheres, isto é, mais de 70% do total de obesos são mulheres. De acordo com Repetto, Rizzolli e Bonatto (2003), estima-se que no Brasil exista 0,5 a 1% de obesos mórbidos na população adulta. Portanto, o Brasil está passando da desnutrição para o excesso de peso e obesidade, sendo necessária medidas efetivas para conter este surto. Caso contrário, dentro de 20 anos, o Brasil estará no mesmo patamar dos EUA, no qual a obesidade se constitui no principal Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 50 problema de saúde pública do país. 2.3 Obesidade Mórbida A obesidade mórbida é definida por um Índice de Massa Corpórea superior ou igual a 40 kg/m2. Um outro parâmetro para caracterizar obesidade mórbida são indivíduos que apresentem aumento de 100% acima do peso ideal ou 45-50 kg de excesso ponderal em relação ao peso ideal. Isso inclui um peso superior a 120-130 kg para homens e 100-110 kg para mulheres. Uma definição mais ampla deste distúrbio inclui pacientes que apresentam comorbidades grave diretamente relacionada à obesidade (ZILBERSTEIN, GALVÃO, RAMOS, 2002). Esta desordem tem aumentado, significantemente, de forma rápida e progressiva nas últimas décadas, principalmente em países desenvolvidos e se caracteriza por ser importante causa de complicações médicas precoces e morte prematura, já que está associada a diversas comorbidades graves, que reduzem a qualidade e expectativa de vida e propicia uma condição de vida limitante. Segundo Garrido (2002), a taxa de mortalidade para os pacientes obesos mórbidos é 12 vezes maior, entre homens com 25 a 40 anos, quando comparada a indivíduos que apresentam peso normal. Devido às várias comorbidades associadas e a alta probabilidade de morte prematura, a obesidade mórbida se tornou um importante problema de saúde pública com implicações socioeconômicas. Isso se deve aos gastos com programas de emagrecimento e condicionamento físico, fármacos antiobesidade, pesquisas Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 51 para novas drogas, além do alto custo associado ao tratamento das comorbidades. O tratamento convencional para obesos inclui um plano de reeducação alimentar, com orientação dietética, programas de atividades físicas e uso de agentes antiobesidade. Porém, esses tratamentos menos invasivos estão produzindo resultados insatisfatórios para os obesos mórbidos ou de classe III. Segundo Fandiño e Segal (2002), os resultados do tratamento convencional para esta classe de pacientes são claramente insatisfatórios, com 95% dos pacientes recuperando seu peso inicial em até 2 anos. Assim, como a abordagem clínica nesses pacientes geralmente é ineficaz, a cirurgia bariátrica, cuja indicação vem crescendo nos dias atuais, se impõe como uma importante opção de tratamento. 2.3.1 Sistema Respiratório Como conseqüência do excesso de tecido adiposo na parede torácica e abdominal, a obesidade mórbida está relacionada a profundas alterações no sistema respiratório. Nestas alterações, podem-se observar grandes anormalidades dos volumes pulmonares e das trocas gasosas. Condição que é ainda mais agravada quando o indivíduo adota a posição supina e quando é submetido a um procedimento anestésico (AULER, GIANINI e SARAGIOTTO, 2003). A obesidade mórbida também pode estar associada com as síndromes da apnéia obstrutiva do sono e da hipoventilação, que determinam uma redução dos volumes pulmonares causando hipoxemia e hipercapnia (MANCINI, 2001). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 52 2.3.1.1 Consumo de Oxigênio e Produção de Dióxido de Carbono Os pacientes obesos apresentam um consumo de oxigênio e produção de dióxido de carbono aumentados tanto em condições de repouso quanto durante a realização de atividades físicas. Nestas, ocorre um aumento demasiadamente grande, revelando insuficiência relativa da musculatura respiratória. No entanto, a taxa metabólica basal encontra-se, geralmente, normal, por estar relacionada à superfície corpórea. Este consumo aumentado de oxigênio se justifica pela atividade metabólica do excesso de tecido adiposo e tecido magro, do aumento do trabalho de carga sobre os tecidos de suporte e pelo alto volume expiratório minuto que o indivíduo realiza para conseguir manter a normocapnia. Muitos pacientes obesos conservam uma resposta normal a hipoxemia e a hipercapnia (AULER, GIANNINI e SARAGIOTTO, 2003 e MANCINI, 2001). 2.3.1.2 Volumes Pulmonares A obesidade grave está relacionada com reduções na capacidade residual funcional (CRF), a qual está reduzida como conseqüência da redução do volume de reserva expiratório (VRE). Assim, o outro componente da CRF, ou seja, o volume residual (VR) permanece dentro dos limites normais nesses pacientes. Salvo a exceção de haver coexistência de doença pulmonar obstrutiva, levando ao aumento Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 53 do VR. Esta desordem está associada também a uma redução na capacidade pulmonar total (MANCINI, 2001). A CRF declina exponencialmente à medida que ocorre aumento do IMC. Isso é resultado do efeito de massa e à pressão sobre o diafragma. A CRF pode estar reduzida, de tal forma, no paciente obeso, que pode ocasionar uma oclusão das pequenas vias aéreas, alteração da ventilação-perfusão, e até mesmo shunt intrapulmonar com conseqüente hipoxemia arterial (MANCINI, 2001). Segundo Mancini (2001), a anestesia, relaxamento muscular e a posição supina agravam ainda mais essas alterações, já que ocasionam uma diminuição adicional de 50% da CRF em obesos, comparado a uma redução de 20% em indivíduos não obesos anestesiados. A CRF pode ser elevada pela ventilação com altos volumes correntes (VC), embora a melhora na pressão arterial de oxigênio (PaO2) não seja significante. A adição de pressão positiva expiratória final (PEEP) e/ou pressão inspiratória transpulmonar adequada associada a elevadas frações de oxigênio (FiO2) são recomendados para a melhora da CRF e da PaO2, porém ocorre redução do débito cardíaco (AULER, GIANNINI e SARAGIOTTO, 2003 e MANCINI, 2001). Existem três procedimentos principais com relação ao VC a ser estabelecido durante a anestesia. O primeiro é o volume corrente determinado pelos valores normais de dióxido de carbono expirado. O segundo é o alto volume corrente (15-20 ml.kg-1) ajustado de acordo com o cálculo do peso ideal. E o terceiro é alto valor, porém, não determinado, de volume corrente. Este alto valor não definido pode causar elevação importante da pressão da via aérea, sendo prejudicial ao parênquima pulmonar (AULER, GIANNINI e SARAGIOTTO, 2003). A diminuição da capacidade residual funcional reduz a capacidade do Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 54 paciente obeso de tolerar períodos de apnéia, por apresentar reserva diminuída de oxigênio. Assim, indivíduos obesos possuem uma dessaturação rápida após a indução de anestesia. Segundo Mancini (2001), apesar das alterações no sistema respiratório do obeso, o volume expiratório forçado no primeiro segundo e a capacidade vital forçada estão, na maioria das vezes, dentro da variação esperada, embora melhora de 6-7% tem sido relatada após perda de peso. 2.3.1.3 Complacência Respiratória O paciente obeso possui, além das alterações funcionais, importantes alterações da mecânica ventilatória, ou seja, a complacência respiratória total está alterada nestes pacientes. A redução da complacência respiratória total está diretamente relacionada ao aumento do IMC. De acordo com Mancini (2001), há uma queda de 30% do previsto em casos mais graves. A complacência torácica está diminuída devido ao tecido adiposo estar presente na região interna e na parede torácica, ou seja, ao redor dos arcos costais, tórax, abdome e diafragma. Este está ainda deslocado cranialmente e possui uma menor mobilidade devido ao tecido adiposo presente no abdome. Ocorre também a redução da complacência pulmonar devido ao aumento do volume sangüíneo pulmonar (AULER, GEANNINI e SARAGIOTTO, 2003). Isso resulta em uma redução da complacência respiratória total, e se faz Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 55 responsável pela baixa capacidade de expansão pulmonar dos referidos pacientes. Fator este que propicia uma redução da CRF, das trocas gasosas e uma hipoventilação, a qual por sua vez é responsável por causar a hipoxemia e a hipercapnia, com redução da pressão parcial média de oxigênio no sangue arterial (PaO2) e aumento da diferença alvéolo-arterial de oxigênio (O2). Portanto, a PaO2 encontra-se diminuída no paciente obeso devido a hipoventilação, ou seja, a incapacidade do sistema respiratório de manter uma adequada ventilação alveolar e assim provocar a hipoxemia devido aos baixos índices de ventilação-perfusão. A PaO2 é um indicador sensível, simples e importante na avaliação do comprometimento da hematose, do estado de perfusão tecidual e da percentagem de saturação da hemoglobina (Hb) pelo oxigênio. Segundo Mancini (2001), pacientes obesos apresentam também um aumento da resistência respiratória total, resultante principalmente do aumento da resistência pulmonar. Esse fator associado à diminuição da complacência total leva o paciente a ter um padrão respiratório rápido e de pequena amplitude, aumento do trabalho respiratório e limitação da capacidade ventilatória máxima. Durante a indução anestésica, ocorre um deslocamento cranial do diafragma ainda maior, reduzindo a CRF, a complacência pulmonar e, conseqüentemente, a complacência ventilatória total (AULER, GEANNINI e SARAGIOTTO, 2003). 2.4 Cirurgia Bariátrica A obesidade é uma condição médica crônica de etiologia multifatorial, devido Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 56 a isso, seu tratamento envolve diversos tipos de abordagens. A orientação dietética, a programação de atividade física, o uso de fármacos anti-obesidade e psicoterapia constituem os principais pilares do tratamento. Entretanto, o tratamento convencional para a obesidade mórbida ou grau III permanece ainda com resultados insatisfatórios, com 95% dos pacientes recuperando seu peso inicial em até 2 anos. Devido a esses resultados, surge a necessidade de uma intervenção mais eficaz na condução clínica destes pacientes, que se constitui na indicação cada vez maior de cirúrgias bariátricas (FANDIÑO e SEGAL, 2002). A cirurgia bariátrica, que consiste na redução do tamanho do reservatório gástrico associado ou não a procedimento de indução de má absorção, é um método efetivo de tratamento da obesidade refratária, na medida em que adequa o hábito alimentar do paciente, diminuindo a ingestão maciça e aumentando a duração do processo de mastigação (GARRIDO, 2002). Embora esta cirurgia possua um caráter invasivo, seus resultados têm demonstrado taxa de sucesso consistente na redução ponderal, com uma diminuição de 50% no excesso de peso, e manutenção desta redução a longo prazo (ZILBERSTEIN, GALVÃO e RAMOS, 2002). 2.4.1 Equipe Multidisciplinar A equipe multidisciplinar composta por endocrinologista, cirurgião, nutricionista, fisioterapeuta, psicólogo, psiquiatra, cardiologista, pneumologista, Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 57 anestesista, educador físico, entre outros se faz necessária no pré e pós-operatório para que se possa estimar o bem-estar físico e social do paciente. Dessa forma, o objetivo de cada profissional da equipe é detectar problemas metabólicos, psicológicos, respiratórios, cardiovasculares, além de outras comorbidades e também pesquisar hábitos alimentares viciosos. Assim, a equipe tem um papel importante na mudança dos hábitos alimentares e do modo de vida do paciente. É função da equipe também informar ao paciente, de forma objetiva e direta, sobre o funcionamento do procedimento a que irá ser submetido e as mudanças no seu estilo de vida antes e após a cirurgia. Portanto, a primeira tarefa da equipe na rotina pré-operatória é deixar o paciente ciente de como funciona a operação, a necessidade de adaptação aos novos hábitos, que inclui os alimentares, e a importância de sua participação no processo. Ou seja, o paciente deve saber de suas obrigações para que a cirurgia alcance o sucesso desejado. Dentre estas obrigações está a participação em reuniões pré e pósoperatórias propostas pela equipe e nas avaliações físicas, psicológicas e nutricionais. Também nos retornos ao consultório no pós-operatório imediato e tardio. As reuniões pré-operatórias inclui temas como explicação da cirurgia, riscos e complicações cirúrgicas, risco de mortalidade, resultados, benefícios esperados, conseqüências a longo prazo, responsabilidades esperadas dos pacientes, entre outros (GARRIDO, 2002). Os pacientes, dentre muitas informações, devem também estar ciente da necessidade de suplementos vitamínicos após a cirurgia por todo o mês ou por toda Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 58 a vida. Também devem conscientizar-se do acompanhamento médico por toda a vida e da possível necessidade de outras intervenções cirúrgicas (cirurgias plásticas) após a perda de peso (GARRIDO, 2002). 2.4.2 Indicações A indicação do tratamento cirúrgico deve basear-se em uma análise abrangente dos múltiplos aspectos clínicos do paciente. Portanto, uma avaliação minuciosa do paciente deve ser realizada por todos os membros da equipe multidisciplinar, já que cada profissional possui conhecimentos das alterações próprias da obesidade, o que lhes permite julgar a indicação e o momento correto da realização cirúrgica. Os critérios para seleção de pacientes à cirurgia é decorrente do alto índice de mortalidade no período peri-operatório. Um fator adicional para a conscientização da população em geral de que a cirurgia bariátrica é um método invasivo e que deve ser realizada com o objetivo de melhorar a qualidade e a expectativa de vida dos pacientes. Portanto, a indicação cirúrgica envolve diversos critérios, entre eles, pacientes que não obtiveram sucesso com outros métodos terapêutico conservadores, realizados por profissionais qualificados, no decorrer de um longo período. E pacientes que apresentam um IMC entre 35 e 40kg/m2 associado a comorbidades ou um IMC superior à 40kg/m2, que são os pacientes denominados de alto risco (FANDIÑO e SEGAL, 2002). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 59 A indicação para a cirurgia inclui também pacientes que possuam obesidade com duração de pelo menos cinco anos; obesidade de origem não endócrina; ter entre 18 e 60 anos de idade. E ainda, não ser dependente de álcool ou de drogas; não apresentar distúrbios psiquiátricos; apresentar risco cirúrgico aceitável; estar disposto a uma reeducação alimentar e comprometer-se ao controle clínico pósoperatório (ZILBERSTEIN, GALVÃO e RAMOS, 2002). 2.4.3 Exames Pré-Operatórios A avaliação pré-operatória destes pacientes deve incluir exames como: Hemograma, para excluir possível policitemia; Coagulograma completos; Eletrólitos; Uréia; Creatinina; Glicemia de Jejum; Hemoglobina Glicosilada; Transaminase Glutâmico Oxalacética (TGO); Gama Glutamil Transferase (GGT); Proteínas Totais e Frações (PTF); Ferro; Insulinemia; Hormonio Tireoestimulante (TSH); Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 60 Tiroxina Livre (T4L); Colesterol Total e Frações; Triglicérides; Acido úrico; Sorologia de Hepatite B e C e HIV; Urina Tipo I; Parasitológico de fezes; Gasometria Arterial, para analisar o potencial hidrogeniônico (pH), a concentração de dióxido de carbono no sangue arterial (PaCO2), e principalmente a concentração do gás oxigênio no sangue arterial (PaO2); Oximetria Noturna; Radiografia de Tórax e Prova de Função Pulmonar, para avaliação das vias aéreas, pulmões e sua funcionalidade; Polissonografia em pacientes que possuam sintomas da síndrome da apnéia obstrutiva do sono. Esses pacientes podem combater a obstrução noturna das vias aéreas através da pressão positiva aérea noturna contínua (CPAP) ou bimodal (BiPAP); Ultrassonografia da Tireóide, caso a paciente tenha bócio ou história pregressa de nódulo; Eletrocardiograma e Radiografia de Tórax para avaliação cardíaca; Ultrassonografia do abdome, para pesquisa de colelitíase; Endoscopia Digestiva Alta, para pesquisa de esofagites, gastrite, hérnia de hiato,ulceras e H. pylori; Doppler e Venografia, quando há antecedente de trombose venosa profunda e/ou tromboembolismo pulmonar (GARRIDO, 2002 e MANCINI, 2001). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 61 2.4.4 Balão Intragástrico O balão intragástrico, como demonstrado na figura 1, também pode ser utilizado como um preparo pré-operatório, ou seja, pode ser utilizado em pacientes com indicação cirúrgica que necessitem perder peso para ter condições clínicas de ser submetido ao procedimento cirúrgico. Pode-se citar como exemplo pacientes superobesos, os quais possuem IMC superior a 50 kg/m2. Figura 1: Balão Intragástrico Fonte: http://www.institutogarrido.com.br/trat_cirur.htm Segundo Garrido (2002), o balão consiste em uma prótese de silicone, que em seu estado inicial tem formato cilíndrico, sendo introduzido no paciente por via oral com monitorização endoscópica. O balão possui capacidade de preenchimento variável entre 400 e 700 ml. É um método parcialmente restritivo, que ao ocupar espaço no estômago provoca uma sensação de saciedade, reduzindo, assim, a quantidade de alimentos digeridos. Permanece no indivíduo por um período de 4 a 6 meses e promove uma redução média de 14 a 18 kg (ZILBERSTEIN, GALVÃO e RAMOS, 2002). As contra-indicações absolutas ao uso do balão incluem pacientes que Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 62 apresentem história de cirurgia de ressecção gástrica, dependência de álcool ou de drogas, uso crônico de anticoagulantes, doença do colágeno, doença inflamatória do intestino, hérnia de hiato superior a 5 cm, cirrose hepática, insuficiência renal crônica, gravidez e síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA) (GARRIDO, 2002). 2.4.5 Tipos Existem diversos tipos de cirurgia bariátrica, cada uma com suas características específicas. Dessa maneira, a indicação da cirurgia mais adequada ao paciente depende do perfil individual do obeso, da expectativa da perda de peso, do comportamento alimentar e das preferências do paciente. Bem como, das condições do cirurgião, de material, de ambiente e do pessoal envolvido no procedimento. Os tipos de cirurgia bariátrica são classificadas em restritivas, disabsortivas e mistas, respectivamente, de acordo com a utilização exclusiva da restrição de volume, da disabsorção isolada ou da associação da restrição de volume com a disabsorção. Nesta última, um componente pode ser dominante em relação ao outro. 2.4.5.1 Gastroplastia Vertical com Bandagem Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 63 Esta se constitui em um tipo de cirurgia restritiva, conforme ilustrado nas figuras 2 e 3. Portanto, é um procedimento baseado na restrição mecânica à ingestão de alimentos devido à restrição gástrica anatômica. O método possui complexidade intermediária e baixos custos. Apresenta também alterações metabólicas mínimas e baixos índices de complicações e morbimortalidade. Porém, é menos eficiente em relação à perda de peso (GARRIDO, 2002). Figura 2: Gastroplastia Vertical com Bandagem Fonte: www.aprendendoaemagrecer.com.br/item02.htm - 37k Figura 3: Gastroplastia Vertical com Bandagem Fonte: http://www.institutogarrido.com.br/trat_cirur.htm A gastroplastia vertical com banda surgiu como uma evolução ou aperfeiçoamento de vários procedimentos anteriores, como a gastroplastia horizontal de Mason. Esses procedimentos anteriores foram sendo substituídos por proporcionarem resultados insatisfatórios ao paciente (GARRIDO, 2002). Esta cirurgia consiste na confecção de uma bolsa de volume reduzido, obtida Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 64 por meio da abertura de um orifício através de um grampeador circular e, posteriormente, de grampeamento vertical com grampeador linear. Esta pequena bolsa segue a orientação do esôfago e tem em média 5 cm de extensão, 1,5 cm de diâmetro e volume entre 20 e 40 ml (ZILBERSTEIN, GALVÃO e RAMOS, 2002). O novo reservatório se comunica com o restante do estômago através de um canal ou estoma. Este é formado por um anel (banda gástrica), como ilustrado na figura 4, de 5 cm de polipropileno que delimita extremidade distal da bolsa, formando, então, uma saída estreita da pequena câmara, que retarda o esvaziamento e prolonga a sensação de saciedade (ZILBERSTEIN, GALVÃO e RAMOS, 2002 e GARRIDO, 2002). Figura 4: Banda Gástrica Fonte: http://www.institutogarrido.com.br/trat_cirur.htm A pequena bolsa fica localizada na pequena curvatura do estômago. Esta curvatura foi escolhida devido a possuir camadas musculares mais espessas e, também, menor susceptibilidade às dilatações e acomodações em relação ao fundo gástrico. O funcionamento desta cirurgia baseia-se na restrição puramente mecânica, ou seja, o paciente tem capacidade do reservatório reduzida, o que o leva a consumir uma menor quantidade de alimento e, assim, um volume calórico final menor que o habitual. Essa menor ingesta calórica, por um mecanismo de Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 65 compensação do organismo, ocasiona uma diminuição do gasto energético em repouso (GARRIDO, 2002). Segundo Garrido (2002), o funcionamento da cirurgia restritiva também está relacionado com a distensão das paredes da bolsa gástrica, a qual estimula receptores, que por via neuronal, estimula áreas do centro do apetite no hipotálamo e ativa o trato e o núcleo solitário. Esta distensão também ocasiona a liberação de vários peptídeos, que se fazem responsáveis pela sensação de saciedade do individuo. Um destes peptídeos é a colecistoquinina (CCK), que promove a inibição da ingestão de carboidratos e possui efeitos sacietógenos fisiológicos. Isso, porque quando liberada promove a constrição pilórica e aumenta a distensão gástrica, reduzindo, assim, a velocidade de esvaziamento. O glucagon é outro peptídeo que age na redução da ingesta de alimentos, principalmente de proteínas, e tem efeito fisiológico. Os resultados após 3 a 5 anos demonstram que os pacientes são capazes de ingerir maiores quantidades de alimentos. Porém, se o período de saciedade for prolongado, consegue-se manter estável o peso atingido. Pacientes que utilizam líquidos e pastosos hipercalóricos também recuperam peso após atingir um equilíbrio satisfatório, devido a esses alimentos passarem facilmente pelo obstáculo mecânico representado pelo anel, e, por isso, não devem ser submetidos a cirurgias puramente restritivas (GARRIDO, 2002). As complicações desta cirurgia são raras, porém, elas existem. Deste modo, pode-se citar dentre as complicações, deiscências da linha de sutura, tromboembolismo pulmonar (TEP), sendo a mais freqüente dentre as complicações de maior importância, esplenectomias, atelectasias, seromas, infecção da ferida cirúrgica, trombose venosa profunda (TVP), erosão da banda para o interior da luz Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 66 da bolsa, deiscências do septo gástrico, alargamento e migração da banda (GARRIDO, 2002). 2.4.5.2 Derivação Jejuno-Ileal Esta cirurgia também chamada de bypass jejuno-ileal constitui-se em um método disabsortivo, ou seja, baseia-se na redução da absorção dos alimentos ingeridos. Este tipo de cirurgia, correspondente a ilustração da figura 5, foi a primeira utilizada para o tratamento da obesidade mórbida, e embora muito efetiva na perda de peso, foi abandonada pelas inúmeras complicações causadas aos pacientes. Figura 5: Derivação Jejuno-Ileal Fonte: www.aprendendoaemagrecer.com.br/item02.htm - 37k As complicações estão associadas à perda de proteínas, eletrólitos, cálcio e bile, e depósito de cálcio, levando a doenças renais. Assim, as complicações incluem artrites, déficit de vitaminas, enterite, nefrite intersticial com insuficiência renal, anemia ferropriva, litíase renal, osteoporose e cirrose, com insuficiência hepática por desnutrição e absorção de toxinas produzidas pela parte excluída do intestino delgado (GARRIDO, 2002). Portanto, as complicações persistiram, mesmo após diversas tentativas de se realizar um bypass satisfatório e uma combinação de segmentos intestinais que Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 67 proporcionasse perda de peso adequada, com número aceitável de complicações. A técnica consiste na anastomose do jejuno proximal, a 45 cm do ângulo de Treitz, e do íleo terminal, a 15 cm da válvula ileocecal, na parte terminal lateral. O restante do intestino delgado fica excluído do trânsito alimentar, proporcionando uma diminuição drástica da superfície de absorção (GARRIDO, 2002). Foi proposto também um bypass jejuno-cólico, que consistia na anastomose do jejuno proximal ao colo transverso. Esse procedimento também promovia perda de peso sem necessidade de mudanças dos hábitos alimentares, porém, por excluir a válvula ileocecal, ocasionava diarréia intolerável. Devido a isso e as outras complicações, os pacientes tiveram que ser submetidos a reintervenção cirúrgica (ZILBERSTEIN, GALVÃO e RAMOS, 2002 e GARRIDO, 2002). 2.4.5.3 Derivação em Y de Roux com Anel de Silicone Também chamada de Gastroplastia Vertical em Y de Roux ou ainda Cirurgia de Capella ou Fobi-Capella. É uma cirurgia do tipo mista, como ilustrada na figura 6, ou seja, possui um componente restritivo e disabsortivo, consistindo na redução da capacidade gástrica associada a uma derivação gastroentérica. E caracteriza-se por possuir o componente restritivo dominante em relação ao disabsortivo. Atualmente é considerada o padrão ouro da cirurgia bariátrica (GARRIDO, 2002). Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 68 Figura 6: Cirurgia de Capella Fonte:www.aprendendoaemagrecer.com.br/item02.htm - 37k Esta cirurgia é resultado da evolução de várias técnicas propostas por diversos autores. Foi inicialmente proposta por Mason, passando por inúmeras modificações. Griffen e Miller empregaram a confecção da anastomose gastrojejunal em Y de Roux. E Fobi e Capella adotaram, separadamente, o conceito de um reservatório localizado na pequena curvatura, sendo a saída do canal envolvida por um anel inelástico, de maneira a intensificar a restrição gástrica e aumentar o tempo de saciedade (GARRIDO,2002). Portanto, a evolução teve início com a confecção de uma bolsa de 150 ml no estômago proximal (divisão horizontal). Nesta, a perda de peso e tempo de saciedade eram satisfatórios, porém a anastomose em alça promovia refluxo biliopancreático, com conseqüente gastrite e esofagite. Posteriormente, a bolsa reduziu para no máximo 50 ml e surgiu a anastomose em Y de Roux, que evitava o refluxo biliopancreático (GARRIDO, 2002). Segundo Garrido (2002), Miller começou grampear e dividir o estômago, deixando uma bolsa de 30 a 50 ml. E Torres contribuiu com tal cirurgia no sentido da confecção da bolsa ser realizada na pequena curvatura, devido a menor distensibilidade da musculatura. E, também, formulou a idéia de variar a extensão do segmento do intestino ao se construir o Y de Roux, aumentando ou diminuindo o fenômeno de disabsorção, conforme a necessidade de redução de peso do paciente. Finalmente, Fobi e Capella aperfeiçoaram o método com a introdução do anel Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 69 inelástico e padronizaram a cirurgia como a associação da gastroplastia vertical com bandagem e derivação gastrojejunal em Y de Roux. Portanto, o mecanismo de funcionamento desta cirurgia está baseado na redução do reservatório gástrico com volume variando de 20 a 50 ml, na restrição ao seu esvaziamento pelo anel de contenção, resultando em um orifício menor que 1,5 cm e em um prejuízo na absorção devido à derivação gastrojejunal em Y de Roux (SEGAL e FANDIÑO, 2002). A redução do reservatório gástrico, que consiste no componente restritivo, promove uma diminuição do consumo energético pelo paciente com conseqüente redução ponderal. E o anel de silicone promove um aumento no tempo de esvaziamento e de saciedade, levando o paciente a reduzir a freqüência de alimentação diária. De acordo com Segal e Fandiño (2002) e Garrido (2002), existe ainda, o componente disabsortivo, o qual reduz a absorção e aumenta o consumo energético no repouso. Isso acontece, provavelmente, devido à elevação do enteroglucagon, à síndrome de dumping, que é caracterizada por náuseas, vômitos, rubor, dor epigástrica e sintomas de hipoglicemia e também devido às alterações de peptídeos gastrintestinais. Com este procedimento cirúrgico, a ingestão de carboidratos simples pode provocar a chamada síndrome de dumping. Esta desempenha um importante papel na manutenção da perda de peso pelos pacientes, contudo, ela tende a ser tempolimitada (SEGAL e FANDIÑO, 2002 e ZILBERSTEIN, GALVÃO e RAMOS, 2002). Os procedimentos do método consistem em dividir a câmara gástrica com grampeador linear cortante, criando-se na curvatura menor uma pequena bolsa vertical de 10 cm, junto à cárdia. O restante do estômago, o duodeno e os primeiros Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 70 30 a 50 cm de jejuno permanecem fora do trânsito alimentar. A pequena bolsa é envolvida por um anel de silicone de 6,3 a 6,5 cm de circunferência a 3 cm de sua extremidade distal. E, então, é construída uma alça em Y de Roux de 100 cm por meio de anastomose terminal lateral (GARRIDO, 2002). Existem, portanto, a alça biliopancreática, resultante da exclusão de um segmento do jejuno do trânsito alimentar. A alça alimentar, resultante da exclusão de um segmento do delgado entre o estômago e anastomose jejunojejunal, tendo esta como função, apenas, a passagem do alimento distalmente sem ação do suco digestivo. E a alça comum, após a enteroanastomose, que corresponde à área absortiva, enquanto as duas primeiras correspondem à área disabsortiva (GARRIDO, 2002). Os resultados desta cirurgia são satisfatórios, com uma diminuição progressiva do peso, se caracterizando por uma perda rápida no início e atenuada com o passar dos meses. Essa perda chega a atingir em média 35 a 40% do peso inicial, entre o décimo segundo e o vigésimo quarto mês. Esse resultado se mantem ao longo dos anos, com tendência a uma leve recuperação do peso (SEGAL e FANDIÑO, 2002 e GARRIDO, 2002). Acompanhando os resultados otimistas da redução e manutenção de peso por estes pacientes estão os benefícios em relação à melhora da qualidade e expectativa de vida dos pacientes, devido a grande melhora das comorbidades associadas, e, também, à melhora da auto-estima e do relacionamento social dos pacientes. Embora esta cirurgia seja segura e com índices de baixa morbidade, existem algumas complicações como coleções serosas na incisão cirúrgica, atelectasias, broncopneumonias, lesões esplênicas iatrogênicas, flebite, trombose venosa Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 71 profunda, tromboembolismo pulmonar, deiscências da sutura gástrica ou intestinal, hérnias incisionais, obstrução intestinal por hérnia interna ou aderências, erosão do anel para a luz da bolsa, acompanhada de dor e vômitos, úlceras na anastomose gastrojejunal, entre outras (GARRIDO, 2002). 2.4.5.4 Derivação Biliopancreática Existem duas modalidades cirúrgicas de derivação biliopancreática. Uma corresponde a Derivações Bilioancreáticas com Gastrectomia Distal ou Operação de Scopinaro, ilustrada na figura 7, pois foi proposta por Nicola Scopinaro. E a segunda, corresponde a Gastrectomia Vertical com Preservação do Piloro e do Bulbo Duodenal ou Duodenal Switch, ilustrada na figura 8, proposta por DeMeester e posteriormente por Marceau e Hess (SEGAL e FANDIÑO, 2002 e GARRIDO, 2002). Figura 7: Operação de Scopinaro Fonte: http://www.institutogarrido.com.br/trat_cirur.htm Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 72 Figura 8: Duodenal Switch Fonte: http://www.institutogarrido.com.br/trat_cirur.htm Estas cirurgias se caracterizam por serem operações mistas, e, deste modo, conservam os princípios das derivações intestinais associados aos das gastrectomias. Porém, a restrição volumétrica não representa papel preponderante, ou seja, nestas cirurgias a disabsorção é dominante em relação à restrição. Assim, são, em outras palavras, gastrectomias parciais com gastroileostomias em Y de Roux. A operação de Scopinaro consiste numa gastrectomia parcial horizontal, na qual permanece um coto gástrico proximal de 200 a 400 ml de capacidade com anastomose deste segmento gástrico aos 250 cm do íleo distal (canal alimentar) e a parte proximal do intestino (canal biliopancreático) ao íleo terminal, a 50 cm da válvula ileocecal (canal comum) (GARRIDO, 2002). A cirurgia Duodenal Switch contrariamente a gastrectomia distal de Scopinaro, consiste numa gastrectomia vertical, ou seja, uma gastrectomia tubular com redução do reservatório gástrico e do número de células parietais. Esta medida faz com que diminua o potencial ulcerogênico do procedimento. Nesta operação, a anastomose jejuno-ileal é feita a 100 cm da válvula ileocecal (VIC) (GARRIDO, 2002). Portanto, as cirurgias diferem quanto a ressecção gástrica, distal na Scopinaro e vertical na Duodenal Switch, quanto a capacidade volumétrica do reservatório gástrico, quanto a localização da anastomose, gastroileal na Scopinaro e duodenoileal na Duodenal Switch, e quanto a extensão da alça comum, enteroanastomose em Y de Roux a 50 cm da VIC na técnica de Scopinaro e a 100 Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 73 cm da VIC na técnica Duodenal Switch. O mecanismo de funcionamento de perda de peso é semelhante nas duas técnicas, ou seja, ambas baseiam-se na restrição da ingesta calórica pela capacidade diminuída do reservatório gástrico nos primeiros seis meses. E também na capacidade limitada de absorção de gorduras e carboidratos no canal comum (GARRIDO, 2002). Ocorre redução do apetite e sensação de saciedade precoce, com eventual dor epigástrica e vômitos, devido à estimulação do íleo terminal por alimentos, nos primeiros meses após a cirurgia. Estes sintomas são causados pelo esvaziamento rápido do reservatório gástrico e distensão da alça intestinal pós-anastomótica. Porém, regridem pela adaptação intestinal ao longo do tempo. Em média um ano após a cirurgia a capacidade alimentar e o apetite normalizam-se (GARRIDO, 2002). Assim, após um ano de cirurgia, o paciente é capaz de ingerir quantidades de alimentos muito semelhantes ao período pré-operatório. E isto significa que a partir deste ponto, a perda definitiva e permanente de peso esta relacionada à capacidade limitada de absorção de gorduras e carboidratos no canal comum. Portanto, a perda de peso e sua manutenção permanente possuem uma certa variabilidade entre um paciente e outro. Isso ocorre devido à capacidade de absorção e de adaptação intestinal de cada paciente, também da velocidade peristáltica, ingestão de líquidos, consumo de açúcar e energia por unidade de massa corpórea de cada paciente. Ambas as cirurgias, de acordo com Garrido (2002), possuem a vantagem de manter o peso final estável ao longo do tempo. Existem também evidências de melhora do metabolismo de insulina e lipídeos. A pressão arterial e glicemia diminuem e devido à absorção limitada de gorduras ocorre uma redução dos índices Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 74 de colesterol, LDL e triglicérides e um aumento na taxas de HDL. Ocorre também uma melhora da função e morfologia hepática, com melhora da cirrose, esteatose, entre outras. Estas cirurgias também apresentam complicações como fezes diarréicas e gases de odor pútrido, quando não se evita ingestão de gorduras, devido à digestão incompleta destas e proliferação bacteriana anaeróbica. Isso é menos freqüente na Duodenal Switch. Pode ocorrer também uma desnutrição protéica. Visando a prevenção desta carência nutricional que a alça comum foi aumentada na Duodenal Switch (GARRIDO, 2002). A associação das deficiências de macronutrientes e micronutrientes leva a instalação de anemias pela má absorção de ferro, desmineralização óssea pela má absorção de cálcio, e hipovitaminoses pela má absorção de vitamina B12 e de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) (ZILBERSTEIN, GALVÃO e RAMOS, 2002). Segundo Garrido (2002), a anemia e desmineralização óssea são freqüentes pela absorção de ferro e cálcio ocorrer no duodeno e jejuno proximal, que estão excluídos do transito alimentar destes pacientes. Outras complicações podem estar presentes como fissuras anais, hemorróidas, cegueira noturna, hipoglicemia, artrite, urolitíase, entre outras. 2.5 Fisioterapia Os pacientes com obesidade mórbida apresentam alterações anátomofisiológicas que aumentam os riscos anestésico e cirúrgico. A incidência de Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 75 mortalidade e morbidade pós-anestésica é maior na população obesa. Isso ocorre devido à redução dos volumes e complacência pulmonar e ao aumento do consumo de oxigênio. Portanto, o objetivo da fisioterapia é capacitar o paciente à cirurgia, prevenindo complicações pulmonares e vasculares, restaurando a capacidade respiratória com ênfase na ventilação alveolar, melhorando a oxigenação pulmonar e assim melhorando o condicionamento cardio-respiratório. 2.5.1 Tratamento Em relação ao tratamento utilizado para estes pacientes, deve-se dizer que não há um protocolo fixo, ou seja, cada fisioterapeuta pode aplicar métodos distintos para o tratamento. O protocolo de tratamento para os pacientes deste estudo incluiu atividades de aquecimento, exercícios aeróbicos, alongamentos musculares, manobras reexpansivas e desaquecimento. 2.5.1.1 Aquecimento O aquecimento é a primeira parte de um programa de tratamento e tem como finalidade preparar o indivíduo tanto fisiologicamente quanto psicologicamente para Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 76 a atividade física. Deste modo, ele visa obter o estado físico e psíquico ideal, prevenir lesões, retardar a fadiga, tornar os tecidos menos suscetíveis a danos e criar alterações no organismo para que o protocolo seja realizado de forma satisfatória. Os principais objetivos fisiológicos do aquecimento são obter uma elevação da temperatura corporal, e a preparação do sistema cardiovascular e pulmonar para o desempenho da atividade física. A temperatura deve ser elevada para que as reações fisiológicas importantes para o desempenho motor ocorram nas proporções adequadas para uma determinada atividade (BATISTA, 2004). Portanto, de acordo com Batista (2004), a elevação da temperatura corporal ocasiona um aumento da taxa metabólica e da circulação local, melhora da difusão do oxigênio muscular e da quantidade deste disponível nos músculos, aumento da velocidade de transmissão do impulso nervoso, redução do tempo de relaxamento muscular após contração, aumento da velocidade e da força de contração muscular, melhora na coordenação e aumento da capacidade das articulações ao suporte de carga. As articulações tornam-se mais resistentes à pressão e a força devido a maior produção de líquido sinovial e diminuição da viscosidade deste, conseqüentes do aumento da temperatura corporal. Este aumento da temperatura também ocasiona uma diminuição da resistência elástica e da resistência ao atrito, tornando os músculos, ligamentos e tendões mais elásticos e menos suscetíveis a lesões ou rupturas durante o treinamento (BATISTA, 2004). Devido a todos estes fatores, o aquecimento torna-se parte indispensável de um programa de tratamento, à medida que previne lesões e melhora o desempenho do paciente na terapia. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 77 2.5.1.2 Exercícios Aeróbicos O treinamento aeróbico, realizado neste estudo através da bicicleta e esteira ergométrica, tem por finalidade preparar o paciente para a cirurgia através da melhora do condicionamento cardiopulmonar, das comorbidades e de certo grau de emagrecimento. Portanto, os exercícios aeróbicos visam à diminuição da gordura corporal, a redução dos níveis sanguíneos de colesterol e de triglicérides, a redução da pressão arterial em repouso e durante o exercício físico e a melhora da adaptação ao calor. Os exercícios aeróbicos promovem ainda um aumento da ventilação pulmonar, da eficiência respiratória, dos volumes pulmonares e da capacidade de difusão. Deste modo, ocorre uma melhora da concentração do gás oxigênio no sangue arterial, ou seja, há uma melhora da pressão parcial média de oxigênio no sangue arterial e conseqüente melhora do condicionamento cardiopulmonar. 2.5.1.3 Alongamento Muscular O alongamento muscular tem como objetivo alongar a musculatura envolvida para o exercício, favorecendo a realização das atividades aeróbicas com maior segurança e eficiência. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 78 No presente estudo, o alongamento muscular foi realizado após o período de aquecimento, com a finalidade de reduzir o risco de lesões e câimbras durante as atividades aeróbicas dos pacientes. Após estas atividades, o alongamento muscular foi também realizado com o intuito de se evitar possíveis desconfortos ao paciente, como a sensação de dor e de câimbras, após o esforço realizado pelo paciente durante o tratamento. 2.5.1.4 Manobras Reexpansivas 2.5.1.4.1 Respiron Consiste de um incentivador a fluxo, no qual o paciente deve inspirar no aparelho e expirar fora dele. A inspiração é ativa e forçada e deve ser sustentada por um determinado período de tempo. Essa sustentação da inspiração favorece a distensão dos alvéolos por mais tempo. 2.5.1.4.2 EPAP Consiste em se ofertar uma pressão positiva expiratória final (PEEP). A fase inspiratória é espontânea, sem ajuda externa e sem fluxo adicional e a expiração é realizada contra uma resistência, para que as vias aéreas permaneçam abertas por mais tempo. A resistência oferecida pode ser dependente da gravidade, sendo Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 79 usado para tal um selo de água ou pode ser não dependente da gravidade, quando se usa uma mola. A inspiração é nasal, lenta, suave e uniforme e a expiração é oral, prolongada, uniforme, ao nível da CRF ou VR e em frenolabial. Apresenta como efeitos o aumento da pressão intra-alveolar, aumento da CRF, maior recrutamento alveolar, redistribuição da água extravascular, diminuição do shunt, auxilio na remoção das secreções brônquicas e melhora da pressão parcial média de oxigênio no sangue arterial (PaO2). 2.5.1.5 Desaquecimento O desaquecimento se faz necessário para que o paciente possa retornar, de forma gradual, aos níveis basais de todas as alterações proporcionadas pelo programa de tratamento. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 3 METODOLOGIA O protocolo de estudo foi submetido ao comitê de Ética e Pesquisa do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Unioeste e, para a participação no estudo, as pessoas foram devidamente esclarecidas e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido com os passos do processo. (Anexo A) O presente trabalho foi realizado na Vital Clínica, no período de maio a outubro. O tratamento estabelecido foi feito cinco vezes por semana, uma vez ao dia, perfazendo um total de trinta sessões, com duração duas horas. Para este trabalho foram selecionados 10 pacientes obesos mórbidos, sendo 9 mulheres e um homem, com idade entre 26 e 45 anos. No início do estudo, os participantes foram submetidos à avaliação fisioterapêutica, de acordo com parâmetros previamente estabelecidos, visando verificar as condições fisiológicas em que se encontrava o paciente.(Apêndice A) Os participantes deram entrada seqüencial no estudo, após preencherem os critérios de inclusão e terem assinado o termo de consentimento livre e esclarecido. Os mesmos foram selecionados, a partir da indicação ou não do médico pela realização da fisioterapia no período pré-operatório. Em seguida, foram submetidos à análise da variável de interesse: avaliação da pressão parcial média de oxigênio no sangue arterial (PaO2). Posteriormente, foram submetidos ao protocolo de intervenção fisioterapêutica, atualmente em vigência na Vital Clínica. Ao final do protocolo de intervenção fisioterapêutica, os participantes foram novamente submetidos à avaliação funcional (teste pós-imediato), utilizando para tal Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 81 o mesmo protocolo do pré-teste. Os resultados foram posteriormente comparados com o do próprio sujeito. 3.1 Critérios de Inclusão Indivíduos obesos com comorbidades associadas; Índice de massa corpórea dentro dos padrões considerados mórbidos, de acordo com os índices estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde; Indicação à cirurgia bariátrica; Aceitação, por parte dos pacientes, da rotina de tratamento pré-estabelecida. 3.2 Critérios de Exclusão Presença de patologias respiratórias associadas; Realização de procedimentos associados. 3.3 Materiais e Métodos Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 82 A coleta dos dados referentes aos pacientes, conforme descrito na ficha de avaliação e os atendimentos foram realizados na clínica de fisioterapia Vital Clínica. 3.3.1 Material para Avaliação Ficha de avaliação contendo anamnese e exame físico; Gasometria arterial (Anexo B). 3.3.2 Material para o Tratamento Bastões de PVC (1m); Bolas terapêuticas (250g); Colchonetes (2m de comprimento, 1m de largura, 6cm de espessura); Esteira ergométrica da marca Moviment; Bicicleta ergométrica da marca Moviment; Respiron da marca MCS; EPAP: composto por máscara facial de silicone, clipe nasal, válvula unidirecional, frasco de 5 litros contendo 2 litros de água e tubo para conexão (traquéia) de 45 cm de comprimento. 3.3.3 Método para Análise da Variável de Interesse Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 83 A PaO2 (pressão parcial média de oxigênio no sangue arterial) foi analisada através da coleta do sangue arterial, verificada na gasometria arterial. Sendo que esta foi coletada em laboratório de análise clínica escolhido pelo paciente. A gasometria arterial foi prescrita pelo médico e realizada pelo paciente anteriormente ao início dos atendimentos e posteriormente à última sessão, ou seja, após 30 dias de atendimento. Os resultados da PaO2 inicial e final foram anotados na ficha de avaliação dos respectivos pacientes. 3.3.4 Métodos de Tratamento Aquecimento O aquecimento foi realizado de maneira que envolvesse grandes grupos musculares, portanto, de maneira global, em um período de 5 minutos. Alongamento Muscular O alongamento muscular consistiu de um período de 10 minutos do total da terapia. Foi realizado em três séries de vinte segundos para cada grupo muscular, Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 84 tendo possuído variações durante os atendimentos, de maneira, que estes não se tornassem rotineiros. Esteira Ergométrica A atividade na esteira foi realizada de acordo com a capacidade física individual de cada paciente, a qual foi baseada na freqüência cardíaca de treinamento, obtida pela fórmula: FCT= FCRepouso + 50% x ( FCMáxima – FCRepouso). Ou seja, todos a faziam por um período de 30 minutos, porém, com a velocidade coerente a cada paciente. Novos cálculos foram feitos a cada semana. Bicicleta Ergométrica A atividade na bicicleta foi realizada de acordo com a capacidade física individual de cada paciente, a qual foi baseada na freqüência cardíaca de treinamento, obtida pela fórmula: FCT = FCRepouso + 50% x ( FCMáxima – FCRepouso). Ou seja, todos a faziam por um período de 30 minutos, porém, com a velocidade coerente a cada paciente. Novos cálculos foram feitos a cada semana. Respiron Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 85 Este foi realizado com o paciente sentado com a articulação coxofemoral à um angulo de 90º, com apoio para a coluna e pés em contato com o solo. As atividades reexpansivas com o respiron foram realizadas em um tempo determinado de 20 minutos. Nesse tempo, os pacientes realizavam 10 repetições com intervalo de 2 minutos entre elas. O nível utilizado para tal atividade variou entre 1 a 3, de acordo com a capacidade e a evolução de cada paciente. EPAP Para esse recurso a posição utilizada foi a mesma da conduta descrita anteriormente. Para tal, os pacientes realizavam 10 repetições intervaladas em dois minutos, até que o limite de 20 minutos fosse atingido. O nível de água foi aumentado em 500 ml a cada semana, para que o grau de dificuldade fosse gradualmente elevado. Desaquecimento O desaquecimento foi realizado também de maneira que envolvesse grandes grupos musculares, portanto, de maneira global, em um período de 5 minutos. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS A análise dos resultados obtidos com este estudo será apresentada, de forma descritiva, por meio da verificação dos dados coletados na gasometria arterial. Aceitaram participar deste estudo 10 pacientes obesos mórbidos. Deste modo, foi feita a análise desses 10 pacientes, que participaram do grupo de tratamento, através da comparação dos resultados obtidos na gasometria arterial. Esta foi realizada antes do tratamento fisioterapêutico e após esse tratamento, ou seja, a gasometria foi avaliada antes e após um período de 30 dias. Esses resultados foram comparados, portanto, com o do próprio paciente. A paciente N.R.C., que será identificada como número 1, é do sexo feminino, branca, 42 anos, 150 kg, 1,63 m de altura e IMC igual a 56,46 kg/m2, foi encaminhada pelo médico ao tratamento fisioterapêutico no pré-operatório de cirurgia bariátrica. A paciente M.R.F., que será identificada como número 2, é do sexo feminino, branca, 45 anos, 112 kg, 1,62 m de altura e IMC igual a 42,68 kg/m2, foi encaminhada pelo médico ao tratamento fisioterapêutico no pré-operatório de cirurgia bariátrica. A paciente A.P.S., que será identificada como número 3, é do sexo feminino, branca, 26 anos, 92 kg, 1,55 m de altura e IMC igual a 38,30 kg/m2, foi encaminhada pelo médico ao tratamento fisioterapêutico no pré-operatório de cirurgia bariátrica. A paciente P.C., que será identificada como número 4, é do sexo feminino, branca, 41 anos, 97 kg, 1,59 m de altura e IMC igual a 38,37 kg/m2, foi encaminhada pelo médico ao tratamento fisioterapêutico no pré-operatório de cirurgia bariátrica. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 87 O paciente J.A.P., que será identificado como número 5, é do sexo masculino, branco, 37 anos, 113 kg, 1,65 m de altura e IMC igual a 41,50 kg/m2, foi encaminhado pelo médico ao tratamento fisioterapêutico no pré-operatório de cirurgia bariátrica. A paciente C.S., que será identificada como número 6, é do sexo feminino, branca, 35 anos, 114 kg, 1,69 m de altura e IMC igual a 40 kg/m2, foi encaminhada pelo médico ao tratamento fisioterapêutico no pré-operatório de cirurgia bariátrica. A paciente M.V.S., que será identificada como número 7, é do sexo feminino, branca, 37 anos, 103 kg, 1,67 m de altura e IMC igual a 39,93 kg/m2, foi encaminhada pelo médico ao tratamento fisioterapêutico no pré-operatório de cirurgia bariátrica. A paciente M.F.M., que será identificada como número 8, é do sexo feminino, branca, 38 anos, 130 kg, 1,72 m de altura e IMC igual a 44 kg/m2, foi encaminhada pelo médico ao tratamento fisioterapêutico no pré-operatório de cirurgia bariátrica. A paciente A.C.B., que será identificada como número 9, é do sexo feminino, branca, 28 anos, 111,8 kg, 1,71 m de altura e IMC igual a 38,23 kg/m2, foi encaminhada pelo médico ao tratamento fisioterapêutico no pré-operatório de cirurgia bariátrica. A paciente A.S.F.M., que será identificada como número 10, é do sexo feminino, branca, 29 anos, 112 kg, 1,56 m de altura e IMC igual a 46 kg/m2, foi encaminhada pelo médico ao tratamento fisioterapêutico no pré-operatório de cirurgia bariátrica. Os valores referentes a PaO2 inicial, valor analisado anteriormente a primeira sessão, e a PaO2 final, valor analisado posteriormente a 30 sessões de fisioterapia estão descritos na tabela 1, na qual se relata também o aumento em mmHg e o Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 88 aumento percentual da PaO2 para cada determinado paciente. Tabela 1. Resultados da análise da PaO2 inicial, PaO2 final, aumento em mmHg e aumento percentual da PaO2 referentes a 10 pacientes obesos mórbidos com indicação à cirurgia bariátrica. PaO2 (inicial) (mmHg) PaO2 (final) (mmHg) Aumento (mmHg) Aumento (%) 1 50 75 25 50 2 64,3 85 20,7 32,19 3 55 73,4 18,4 33,45 4 60 77,5 17,5 29,17 5 62,6 65 2,4 3,83 6 68 83 15 22,06 7 82 86 4 4,88 8 80,5 90 9,5 11,8 9 87,9 90,1 2,2 2,5 10 77,8 92 14,2 18,25 Fonte: da autora. Com os resultados obtidos, verifica-se que a PaO2 média inicial foi de 68,81 ± 12,64 mmHg e a PaO2 média final foi de 81,7 ± 8,74 mmHg. Portanto, houve um aumento médio de 12,89 mmHg, o qual equivale a um aumento percentual médio de 18,73%. Esses resultados estão confirmados no gráfico 1: Gráfico 1. Resultado da PaO2 média inicial e final, em período de 30 dias de atendimento fisioterapêutico em 10 pacientes obesos mórbidos com indicação à gastroplastia redutora. 85 80 75 (mmHg) 70 65 60 PaO2 inicial PaO2 final Fonte: da autora. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 5 DISCUSSÃO Este estudo foi realizado a fim de verificar a eficácia da fisioterapia no período pré-operatório de pacientes obesos mórbidos com indicação à cirurgia bariátrica. Os resultados foram baseados análise da PaO2 através da gasometria arterial. A obesidade mórbida, caracterizada como um importante problema de saúde pública, tem aumentado, significantemente, de forma rápida e progressiva nas últimas décadas, principalmente em países desenvolvidos e se caracteriza por ser importante causa de complicações médicas precoces e morte prematura, já que está associada a diversas comorbidades graves, que reduzem a qualidade e expectativa de vida e propicia uma condição de vida limitante. Deste modo, faz-se necessário, à estes pacientes, uma intervenção mais eficaz que os tratamentos convencionais, como a realização da cirurgia bariátrica, cuja indicação vem crescendo nos dias atuais e se impõe como uma importante opção de tratamento. Sudré et al (2004), cita que pacientes com obesidade mórbida apresentam alterações anátomo-fisiológicas que aumentam os riscos anestésico e cirúrgico. A incidência de mortalidade pós-anestésica é 20% maior na população obesa. E a morbidade pós-operatória também é mais elevada. A atuação da fisioterapia no período pré-operatório de cirurgia bariátrica se mostra muito nova e recente, e, portanto, ainda sem a disponibilidade de literatura. Deste modo, faz-se necessária pesquisas sobre o assunto, a fim de divulgá-lo. O propósito central deste estudo foi verificar se a pressão parcial média de oxigênio no sangue arterial (PaO2) e o condicionamento cardiopulmonar dos Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 90 pacientes obesos mórbidos melhoravam através da realização de fisioterapia no período pré-operatório de cirurgia bariátrica, e os resultados evidenciaram que 100% dos pacientes obtiveram resultados satisfatórios em relação à elevação da PaO2 e ao conseqüente condicionamento cardiopulmonar. Fez parte deste estudo um grupo de tratamento, constituído de 10 pacientes, sendo 9 mulheres e um homem, com idade entre 26 e 45 anos e IMC médio de 42,55 kg/m2. Por meio da análise da gasometria arterial antes do tratamento fisioterapêutico e após 30 dias de atendimento, pôde-se demonstrar resultados positivos em relação ao que se buscou verificar, constatando uma PaO2 média inicial de 68,81 ± 12,64 mmHg e uma PaO2 média final de 81,7 ± 8,74 mmHg. Esses resultados demonstram a importância da fisioterapia à estes pacientes, na medida em que melhora a PaO2 e, conseqüentemente, melhora o condicionamento cardiopulmonar, fazendo com que se reduza os riscos perioperatórios e o tempo de recuperação pós-operatória dos pacientes. Embora este trabalho tenha apresentado resultados positivos, observa-se que o estudo deveria possuir um grupo controle para que esses resultados fossem mais fidedignos e pudessem comprovar de maneira mais confiável a importância da fisioterapia dentro de uma equipe multidisciplinar que atenda esse tipo de paciente. Essa maior comprovação dos resultados se daria através da comparação da PaO2 entre um grupo que realiza fisioterapia e um grupo que não pratica atividade alguma. Portanto, o presente trabalho teve a importante função de iniciar uma nova linha de pesquisa dentro da fisioterapia, ficando como sugestão novas pesquisas que apresentem um maior número de pacientes e, também, de sessões, conseguindo-se, assim, maior tempo de tratamento e possível análise de mais variáveis importantes ao paciente pré-cirúrgico, como a perda ponderal. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 6 CUSTOS OU ORÇAMENTO Não se fez necessária a aquisição de nenhum tipo de material para o trabalho, não sendo preciso disponibilizar recursos financeiros. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 7 CONCLUSÃO Os resultados do presente estudo comprovaram a eficácia da fisioterapia no período pré-operatório de pacientes obesos mórbidos, à medida em que se verificou uma elevação da PaO2 em 100 % dos pacientes, proporcionando-lhes melhores condições e perspectivas cirúrgicas. Portanto, a atuação da fisioterapia no período pré-operatório dos pacientes obesos mórbidos faz-se necessária e importante, pois estes pacientes apresentam elevado risco de dificuldade de recuperação pós-operatória, disfunção cardiopulmonar e mortalidade peri-operatória devido à redução do volume pulmonar, da complacência pulmonar e ao aumento do consumo de oxigênio. Estes fatores são responsáveis pela alta incidência de atelectasia e hipoxemia no período peri e pósoperatório. De acordo com estes resultados, espera-se, também, uma maior conscientização da necessidade e importância da inclusão do fisioterapeuta na equipe multidisciplinar referente à esses pacientes, com a finalidade de um prognóstico mais favorável aos mesmos. Deve-se ficar ciente, então, da carência ciêntifica deste novo campo para a fisioterapia e, portanto, da necessidade de muitas outras pesquisas, para que a atuação fisioterapêutica nesta área possa ser mais fundamentada e divulgada. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 BIBLIOGRAFIA ADES, Lia; KERBAUY, R. Rachel. Obesidade: realidades e indagações. Instituto de Psicologia – USP. São Paulo, v. 13, n. 1, 2002. ANJOS, A. Luiz. Índice de massa corporal (massa corporal.estatura-2) como indicador do estado nutricional de adultos: revisão da literatura. Rev. Saúde Pública. São Paulo, v. 26, n. 6, dez. 1992. ANJOS, A. Luiz; ENGSTROM, M. Elyne. 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Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 APÊNDICE A - PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 100 Protocolo de Avaliação Fisioterapêutica ANAMNESE Dados de Identificação Nome:_____________________________________________Idade:____________. Data de Nascimento: ______/______/______. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino. Cor:_________________. Nacionalidade:______________. Estado Civil:_________. Profissão:___________________. Endereço:__________________________________.Telefone:_________________. Antecedente patológico pessoal: _________________________________________ ___________________________________________________________________. Antecedente patológico familiar: ( ) Obesidade ( ) Outros: ___________________. Medicamentos e período de uso: ________________________________________. Tratamentos anteriores: _______________________________________________. Exame Físico Sistema Respiratório: PaO2(inicial) ________________. PaO2(final) ________________. ( ) Dispnéia. Quando:_________________________________________________. Massa corpórea atual: Peso: _____________ IMC: ______________. Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 102 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Nome da Pesquisa: A eficácia da fisioterapia no período pré-operatório de pacientes obesos mórbidos com indicação à cirurgia bariátrica avaliada através da PaO2. Pesquisador Responsável: Cláudia Rejane Lima de Macedo Este trabalho estuda a interferência de um protocolo de tratamento fisioterapêutico no preparo cirúrgico bariátrico em pacientes que apresentam o quadro de obesidade mórbida. Os pacientes selecionados como voluntários para este trabalho sofrerão a interferência da fisioterapia, durante o período pré-operatório, baseado em informações na literatura, que visem promover a melhora da mecânica cardiorespiratória. Será coletado a PaO2 antes de iniciar e após o tratamento fisioterapêutico. O programa de tratamento terá duração de 6 semanas, no total de 30 sessões. Ao término do trabalho, os voluntários serão informados dos resultados por ele obtidos. Sua participação será muito importante para o sucesso desta pesquisa. Assinatura do pesquisador:________________________________________ Tendo recebido as informações anteriores e, esclarecido dos meus direitos relacionados a seguir, declaro estar ciente do exposto e desejar participar da pesquisa. 1. A garantia de receber a resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento a dúvidas sobre os procedimentos, riscos, benefícios e outros relacionados com a pesquisa; 2. A liberdade de retirar meu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo; 3. A segurança de que não serei identificado e que será mantido o caráter confidencial das informações relacionadas com a minha privacidade; 4. Compromisso de me proporcionar informação atualizada durante o estudo, ainda que possa afetar minha vontade de continuar participando. Em seguida, assino meu consentimento. Cascavel, _____ de __________ de 2004. Nome: ________________________________________RG___________________ Assinatura: ______________________________ Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 ANEXO B – MODELO DE GASOMETRIA ARTERIAL Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 104 Modelo de Gasometria Arterial Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265